0 UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA BRINQUEDOTECA: ESPAÇO LÚDICO E POTENCIALIZADOR DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL DENISE MARIA GROTH Ijuí – RS 2013 1 DENISE MARIA GROTH BRINQUEDOTECA: ESPAÇO LÚDICO E POTENCIALIZADOR DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia, sob orientação da Profª Eulalia Beschorner Marin (Mestre). Ijuí – RS 2013 2 DENISE MARIA GROTH BRINQUEDOTECA: ESPAÇO LÚDICO E POTENCIALIZADOR DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM INFANTIL Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia. Banca Examinadora: _________________________________________ Profª Eulalia Beschorner Marin (Mestre) Orientadora _________________________________________ Profª Marta Estela Borgmann (Mestre) Parecerista Ijuí, dezembro de 2013 3 APRESENTAÇÃO A monografia está formatada de acordo com as Normas Atualizadas da ABNT, apresentadas por Furasté (2013) (ANEXO A). 4 DEDICATÓRIA A minha amada família que sempre será a base de todas as minhas conquistas. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que foi meu alento em momentos de turbulências. A minha amada mãe Louri que é meu maior exemplo de garra e determinação, me apoiando em todos os momentos. Ao meu amado pai Jacob que com seus ensinamentos nunca deixou com que eu me perdesse pelo caminho. A minha amada irmã Dinara que sempre esteve presente para me auxiliar em vários momentos de fragilidade. A minha equipe de trabalho que se mostrou flexível em relação aos meus horários, em especial as minhas colegas Elisane e Leoni que com suas palavras de amizade me incentivaram na caminhada. A minha professora orientadora Eulalia, carinhosamente Lala, que com seus conhecimentos e busca me fez acreditar em meus propósitos e me sentir entusiasmada a leituras e escritas. A todos os meus verdadeiros amigos que estiveram comigo compartilhando momentos. E finalmente ao curso de Pedagogia que me proporcionou um grande conhecimento e inúmeros momentos de troca de experiências e vivencias. A todos, meu Muito Obrigado de coração, pois só cheguei até aqui porque vocês também acreditaram em mim! 6 Ensinarás a voar... Mas não voarão o teu voo. Ensinarás a sonhar... Mas não sonharão o teu sonho. Ensinarás a viver... Mas não viverão a tua vida. Ensinarás a cantar... Mas não cantarão a tua canção. Ensinarás a pensar... Mas não pensarão como tu. Porém, saberás que cada vez que voem, sonhem, vivam, cantem e pensem... Estará a semente do caminho ensinado e aprendido! (Madre Teresa de Calcutá) 7 RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso relata a minha trajetória enquanto acadêmica do curso de Pedagogia em e seu desdobramento com o estudo mais aprofundado do tema em questão, BRINQUEDOTECA: Espaço lúdico e potencializador do processo de aprendizagem infantil. Busquei analisar alguns conceitos importantes bem como outros aspectos relacionados ao tema, para posteriormente estar realizando uma pesquisa de campo para compreender melhor o espaço da Brinquedoteca. Como principais autores que embasaram esta escrita, destaco: BROUGÈRE e WAJSKOP (1997), CUNHA (2007 – 2010), VYGOTSKY (1991 – 1998), entre outros também referenciados. Palavras-chave: Brinquedoteca, aprendizagem, lúdico, espaço. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9 1 REFLETINDO TEORICAMENTE ALGUNS CONCEITOS...................................... 11 1.1 BRINQUEDO, BRINCADEIRA, JOGO E BRINQUEDOTECA, DEFININDO CONCEITOS .............................................................................................................. 11 1.2 O QUE É E COMO SURGIRAM AS BRINQUEDOTECAS? ................................ 13 1.3 A IMPORTÂNCIA DA BRINQUEDOTECA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM....................................................................................................... 15 1.4 TIPOS DE BRINQUEDOTECAS .......................................................................... 18 1.5 BRINQUEDOTECAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ......................... 19 1.6 CAIXAS TEMÁTICAS NA BRINQUEDOTECA UMA OPÇÃO DIVERSIFICADA DE BRINCAR E APRENDER ..................................................................................... 21 2 COMPREENDENDO O ESPAÇO DA BRINQUEDOTECA .................................... 24 2.1 PESQUISA DE CAMPO NA UNIBRINC: BRINQUEDOTECA DA UNIVERSIDADE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS................................................. 24 2.2 RODA DE CONVERSA COM A COORDENADORA DA UNIBRIC, DRA. MARITA MARTINS REDIN......................................................................................... 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 32 ANEXO ...................................................................................................................... 34 9 INTRODUÇÃO Desenvolver o trabalho de conclusão de curso sobre a brinquedoteca é uma ideia que vem me acompanhando praticamente durante todo o curso de Pedagogia, pois trabalho durante o dia em uma brinquedoteca, no entanto esta é de cunho social, visando atender as crianças de 3 a 6 anos juntamente com suas mães ou responsáveis que se encontram em vulnerabilidade social no município de Santo Augusto - RS. Neste sentido, busquei compreender através desta monografia a importância da brinquedoteca no âmbito educacional. Neste trabalho constam conceitos iniciais sobre brinquedo, brincadeira, jogo e brinquedoteca, pois estes conceitos de uma forma ou de outra estão entrelaçados visando influenciar significativamente no brincar e no processo de aprendizagem das crianças. Em seguida abordo o surgimento da brinquedoteca, sua importância para a aprendizagem, os tipos de brinquedotecas, as brinquedotecas do Rio Grande do Sul e uma nova possibilidade para as brinquedotecas que são as caixas temáticas. Para compreender melhor o espaço da brinquedoteca fui a campo realizando uma pesquisa empírica na brinquedoteca da Unisinos, a Unibrinc, que possibilitou um aprofundamento do tema em questão. Durante a produção da escrita deste trabalho busquei embasar-me teoricamente nos autores BENJAMIN, BROUGÈRE, CAILLOIS, CUNHA, FRIEDMANN, FREIRE, MARÍN, NEGRINE, PENÓN, SANTOS, SILVA, TEIXEIRA, VYGOTSKY e WAJSKOP. Concluo enfatizando após leituras e pesquisas, que a brinquedoteca voltada à educação, poderá ser sempre um espaço lúdico de aprendizagem, desde que a instituição de ensino, juntamente com os professores também acredite nisso e 10 organizem o espaço adequado para que a mesma possa fazer parte da vida educacional dos alunos. 11 1 REFLETINDO TEORICAMENTE ALGUNS CONCEITOS 1.1 BRINQUEDO, BRINCADEIRA, JOGO E BRINQUEDOTECA, DEFININDO CONCEITOS O brincar tem sido nos últimos tempos fonte de inúmeras pesquisas tanto na área pedagógica como na área psicológica, devido a sua influencia no desenvolvimento infantil e a na motivação que a atividade causa nos sujeitos. O brincar, tão característico da infância, traz contribuições importantíssimas para a constituição da criança, influenciando no seu desenvolvimento. Neste sentido, tornase necessário compreendermos mais conceitualmente este brincar, a brincadeira, o brinquedo, o jogo e a brinquedoteca, para que possamos visualizar sua influencia no processo de aprendizagem infantil. Kishimoto (1994) conceitua o brinquedo como o objeto suporte da brincadeira. Brougère; Wajskop (1997) vão um pouco mais além, quando consideram o brinquedo um objeto cultural e de representações. Esses significados e representações podem ser diferentes, de acordo com a cultura, o contexto e a época no qual estão inseridos os objetos. Em relação à função do brinquedo, Brougère e Wajskop (1997) esclarecem que ele tem um valor simbólico que domina a função do objeto, ou seja, o simbólico torna-se a função do próprio objeto. Um cabo de vassoura pode mudar seu significado nas mãos de uma criança que, simbolicamente, o transforma em um cavalo. Sendo assim, a função do brinquedo é a brincadeira. A criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança; pelo contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. O primeiro paradoxo contido no brinquedo é que a criança opera com um significado alienado numa situação real. O segundo é que, no brinquedo, a criança segue o caminho do menor esforço – ela faz o que mais gosta de fazer, porque o brinquedo está unido ao prazer – e ao mesmo tempo, aprende a seguir os caminhos mais difíceis, subordinando-se a regras e, por conseguinte renunciando ao que ela quer, uma vez que a sujeição a regras e a renúncia a ação impulsiva constitui o caminho para o prazer do brinquedo (VYGOTSKY, 1998, p. 130). O brinquedo vai estimular a brincadeira e convidar a criança para esta atividade. A brincadeira é definida como uma atividade livre, que não pode ser delimitada. Conforme Vygotsky (1998, p. 126), “é no brinquedo que a criança 12 aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não pelo dos incentivos fornecidos pelos objetos externos”. O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. É como se fosse um caminho de amadurecimento das suas funções, ou seja, o que hoje a criança faz com o auxilio de outra pessoa, amanhã ela realizará sozinha. Quanto à brincadeira infantil Vygotsky (1991) afirma que esta é uma situação imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer desejos até então impossíveis para a sua realidade. Para Vygotsky (1991) a brincadeira nasce da necessidade de um desejo frustrado pela realidade. Ainda para Vygotsky (1998), o brincar é uma atividade específica da infância em que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. É uma atividade na qual a imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão, de ação pelas crianças, possibilitando o surgimento de relações sociais com seus pares. Pensando sobre a diferença entre brincadeira e jogo, Brougère e Wajskop (1997) afirmam que a brincadeira é simbólica e o jogo funcional, ou seja, a brincadeira tem a característica de ser livre e o jogo inclui um objetivo final, a vitória, fazendo com que apareçam as regras. Estas regras geralmente já chegam prontas às mãos da criança o que em alguns jogos poderiam ser construídas com as próprias crianças. No momento em que a criança compreende o jogo e sinta prazer em jogá-lo, ela não pensa mais somente na vitória, mas joga pelo simples fato de gostar de jogar, ou seja, não importa o final, mas sim o processo vivido. “Os jogos têm um papel vital na história da auto-afirmação da criança e na formação da sua personalidade” (Callois, 1990:15). A brincadeira cria para as crianças uma "zona de desenvolvimento proximal" que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz (VYGOTSKY, 1989, apud WAJSKOP, 2000, p. 35). Um dos espaços essencial para o brincar é a brinquedoteca. Ela proporciona através de atividades lúdicas, um espaço para construção do ser social, histórico, 13 onde as crianças expõem suas ideias, expressando sua cultura, interagindo com os sujeitos e com os próprios brinquedos. Entende-se que a brinquedoteca: É um espaço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. Quando uma criança entra na brinquedoteca deve ser tocada pela expressividade da decoração, porque a alegria, o afeto e a magia devem ser palpáveis. Se a atmosfera não for encantadora não será uma brinquedoteca. Uma sala cheia de estantes com brinquedos pode ser fria, como são algumas bibliotecas. Sendo um ambiente para estimular a criatividade, deve ser preparado de forma criativa, com espaços que incentivem a brincadeira de "faz de conta", a dramatização, a construção, a solução de problemas, a sociabilização e a vontade de inventar: um camarim com fantasias e maquilagem, os bichinhos, jogos de montar, local para os quebra-cabeças e os jogos (CUNHA, 2010, p. 36-37). É nesse espaço de ludicidade que a criança encontra brinquedos, brinca e brincando ela constrói sua aprendizagem. A brincadeira facilita o aprendizado e ativa à criatividade, influenciando diretamente com a construção do conhecimento. É uma fonte que estimula a criatividade e o desenvolvimento das diferentes linguagens. A brinquedoteca é um espaço para brincar e, por isso, independentemente do nível escolar, esse será sempre seu maior objetivo. É importante valorizar a ação da criança que brinca, e para isso, é necessário que haja profissionais conscientes para interagirem e organizarem o espaço de modo que favoreça a essa ação (TEIXEIRA, 2011, p.76). Toda brinquedoteca necessita ser um espaço acolhedor e aconchegante que estimule a criança a se envolver no brincar. Para tanto é importante que tenha profissionais capacitados a fim de fazer com que a brinquedoteca seja planejada com brinquedos e jogos adequados, um ambiente alegre iluminado, arejado, com diferentes espaços temáticos e significativos para a criança, onde o brincar se torne um momento enriquecedor e não um simples passa tempo. 1.2 O QUE É E COMO SURGIRAM AS BRINQUEDOTECAS? Para compreender como as brinquedotecas influenciam no processo de aprendizagem, é importante saber o que é uma brinquedoteca e como/aonde as mesmas surgiram. Para responder essa pergunta Santos (1997, p. 13) afirma que: 14 A Brinquedoteca é uma nova instituição que nasceu neste século para garantir à criança um espaço destinado a facilitar o ato de brincar. É um espaço que caracteriza por possuir um conjunto de brinquedos, jogos e brincadeiras, sendo um ambiente agradável, alegre e colorido, onde mais importante que os brinquedos é a ludicidade que estes proporcionam. A Brinquedoteca, ainda segundo Santos, (1997) surgiu em meados de1934, em Los Angeles, a partir de uma tentativa de diminuir o roubo de brinquedos de uma loja localizada perto de uma escola. A loja começou a emprestar os brinquedos para as crianças para que elas deixassem de roubar os mesmos, com isso, iniciou-se então um serviço de empréstimo de brinquedos para as crianças método a que denominaram de toyloam, que existe até hoje nos EUA. Em 1963, surgiu em Estocolmo/Suécia, a primeira Ludoteca, que além de emprestar brinquedos para crianças especiais, prestava um serviço de orientação para os pais das mesmas. Em seguida no ano de 1967 na Inglaterra, surgiram as Toy Libraries (bibliotecas de brinquedos) e a partir de 1976, em Londres, após um congresso sobre o assunto, a brinquedoteca ganha outras funções, se expandindo para vários países. Posterior a esse movimento, surgiu no Brasil a Ludoteca da APAE, que fazia rodízio de brinquedos entre as crianças especiais. A primeira brinquedoteca brasileira surgiu em Indianápolis, em 1981, e tinha uma proposta diferente das Toy Libraries Americanas, pois ao contrario delas, não tem como finalidade principal o empréstimo de brinquedos e seu objetivo é o de criar um espaço onde à criança possa se sentir estimulada e brincar livremente. Em 1984, criou-se a Associação Brasileira de Brinquedotecas com o objetivo de divulgar, incentivar e orientar as pessoas e instituições surgindo assim, brinquedotecas em todos os estados brasileiros. A BRINQUEDOTECA brasileira diferencia-se das Ludotecas e das TOY LIBRARIES porque aquelas têm seu trabalho direcionando para o empréstimo de brinquedos, enquanto que, na BRINQUEDOTECA brasileira, o trabalho está focado no brincar propriamente dito (CUNHA, 2007, p.14). Segundo Santos (1997, p. 84), como o surgimento da brinquedoteca que se espalhou rapidamente, as mesmas foram ampliando seu atendimento e incorporando outros serviços o que levou a diversificação de sua dinâmica, mas sempre preservando o aspecto lúdico e o direito de brincar. Como já vimos a brinquedoteca através do brincar, influencia também no pensamento infantil. 15 O pensamento da criança evolui a partir de suas ações, razão pela qual as atividades são tão importantes para o desenvolvimento do pensamento infantil. Mesmo que conheça determinados objetos ou que já tenha vivido determinadas situações, a compreensão das experiências fica mais clara quando as representa em seu faz-de-conta. Neste tipo de brincadeira tem também a oportunidade de expressar e elaborar, de forma simbólica, desejos, conflitos e frustrações. (CUNHA, 2007, p.23). As brinquedotecas brasileiras enfrentaram a algumas ainda enfrentam dificuldades de recursos para manterem seu espaço de maneira adequada. Não são somente recursos materiais e financeiros, mas também recursos humanos (brinquedistas). De acordo com o contexto social brasileiro, pode-se dizer houve crescimento do número de brinquedoteca no âmbito escolar, que hoje configuram aspecto de mudança do ponto de vista educacional. A criação da brinquedoteca foi um marco importantíssimo no desenvolvimento do brincar para a criança. Neste espaço a criança aprende de maneira mais prazerosa, podendo manifestar suas potencialidades e habilidades. Por isso, a importância de ter um espaço físico adequado e quantidade de brinquedos suficientes e que os mesmos estejam disponíveis ao acesso da criança, a fim de estimulá-las a brincarem. A brinquedoteca pode até existir sem os brinquedos, desde que sejam proporcionados outras atividades lúdicas, isso é claro depende do publico ao qual a mesma é destinada. 1.3 A IMPORTÂNCIA DA BRINQUEDOTECA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Para falar sobre a brinquedoteca, é importante conhecermos mais sobre a construção do ser criança. Um dos elementos fundamentais nesta construção é a família. Ela desempenha papel primordial no desenvolvimento da criança, é nela que a criança vai aprender as primeiras palavras, começa a entender o mundo tendo como referencia sua família e pessoas próximas. Por isso, a comunicação entre os pais e os filhos é importante para o desenvolvimento do modo de falar fluente ou não. Depois da família, outro elemento importante é a escola, sendo peça fundamental no desenvolvimento da aprendizagem da criança. Em um primeiro momento este novo espaço é encarado com estranhamento pelas crianças, é tudo 16 diferente do âmbito familiar, são diferentes culturas interagindo num mesmo local. Por isso, é importante que o professor facilite a inserção da criança neste “novo mundo”. Até o século XIX a criança não era reconhecida como um sujeito inteligente e pensante, os adultos as educavam da forma que achassem mais conveniente formá-las. Tanto que nesta época as bonecas eram apreciadas apenas em trajes adultos, diferente dos bebês que encontramos hoje no mercado de brinquedos. Segundo Walter Benjamin (2002), o mundo da percepção infantil está impregnado em toda parte pelos vestígios da geração mais velha, com os quais as crianças se defrontam. O brinquedo, mesmo quando não imita os instrumentos dos adultos, é confronto, e, na verdade não tanto da criança com o adulto, mas deste com a criança. Pois quem senão o adulto fornece primeiramente a criança os seus brinquedos? E embora reste a ela uma certa liberdade em aceitar ou recusar as coisas, não poucos dos mais antigos brinquedos (bola, arco, roda de penas, pipa) terão sido de certa forma impostos a criança como objetos de culto, os quais só mais tarde, e certamente graças a força da imaginação infantil, transformaram-se em brinquedos. (BENJANIN, 2002, p. 96) Neste sentido, o brincar é tão necessário para a criança como o alimento que ingerimos todos os dias. Proporcionar momentos diários em que o brincar esteja presente é fundamental para o processo de aprendizagem. Como escrevem Imma Marín e Silvia Penón (2003/2004, p. 30), especialistas em brinquedo e educação. Brincar é a principal atividade da infância. Responde à necessidade de meninos e meninas de olhar, tocar, satisfazer a curiosidade, experimentar, descobrir, expressar, comunicar, sonhar... Brincar é uma necessidade, um impulso primário e gratuito que nos impele desde pequenos a descobrir, conhecer, dominar e amar o mundo e a vida. Por meio da brincadeira de faz-de-conta a criança interpreta vários papéis, representa, incorpora e vive o personagem com intensidade. Cria e recria situações, resolve conflitos, faz descobertas e supera desafios. Ao observar uma criança brincando podemos compreender seu processo de socialização. 17 Brincando, a criança entra no mundo imaginário onde ela é autora do seu script. Quando diz: “Faz de conta que eu sou o motorista”, ela passa a ser o motorista naquele momento. Ela pode entrar na fantasia, experimentar outros papéis, criar outros temas e cenários. Mas ela sabe que ela é uma criança e não um motorista. Na hora em que ela acabar a brincadeira, ela volta à realidade. (ROSSETTI-FERREIRA et al, 2007, p. 101) Nesse sentido é importante que o professor, mediador deste processo, estimule as crianças a brincar, afinal, o brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da autonomia e da identidade da criança. Para Vygotsky (1991) o brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois os processos de simbolização e de representação a levam ao pensamento abstrato. Pensando na brinquedoteca como mediadora do brincar, compreendemos que ela não pode mais ser vista como apenas um espaço para passar o tempo, mas sim como espaço significativo para o processo do brincar, onde a brincadeira é planejada (mesmo sendo livre) com o objetivo de desenvolver todo o intelecto da criança. A brinquedoteca junto com os educadores deve ter o intuito de valorizar o ato de brincar, com suas desmistificações, preconceitos e tabus. Deixando claro que o brincar é direito da criança e no brincar a criança também está construindo conhecimentos importantes para o seu desenvolvimento. Vale ressaltar, os processos de mudança que vem influenciando de várias maneiras o brincar de hoje. As crianças sempre brincaram e hão de fazê-lo sempre, no entanto, com o passar dos anos as tecnologias foram avançando, a mídia com suas propagandas foram adentrando as casas e a urbanização desenfreada das cidades acabou ocupando os espaços de brincar. Fazer essa comparação do brincar de ontem com o de hoje é importante para compreendermos e resgatarmos brincadeiras. Tanto os jogos e brincadeiras assim como os brinquedos, foram modificando-se ao longo dos tempos, nas suas mais variadas formas. O espaço da brinquedoteca pode ser um aliado na construção do processo de aprendizagem, pois como já vimos o brincar é fundamental para a criança, ‘‘a brinquedoteca é o espaço criado com o objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar livremente’’ (Cunha,1997, p. 13). Tendo em vista também que os espaços para o brincar estão ficando cada vez mais escassos, é que a brinquedoteca pode se apropriar destas mudanças para enriquecer ainda mais seu 18 repertório de brincadeiras. Outro aspecto relevante é a mediação que acontece na brinquedoteca. Geralmente, o trabalho realizado é mediado por uma brinquedista. É este profissional que irá auxiliar o desenvolvimento das atividades, intervindo quando necessário, propondo ações, mediando o conhecimento, através do brincar. Trata-se de um profissional cuja formação não é específica, isto é, oriundo da Educação Física, da Pedagogia, das Artes, da Psicologia, da Terapia Ocupacional, da Enfermagem, do Serviço Social, da Dança e do Teatro, ou até mesmo, ser uma pessoa sem formação profissional específica, mas que tenha recebido capacitação para trabalhar com crianças nestes locais. Que ‘‘Seja uma pessoa com sensibilidade, entusiasmo, determinação, dinamismo, que chora, que ri, que canta e que brinca’’ (Santos, 1997, p.100). Segundo Negrine (2000) é fundamental que este profissional possua três tipos de formação: a primeira é a “teórica’’ (conhecer e refletir sobre os conceitos teóricos); a segunda é a ‘‘pedagógica’’ 3 (saber intervir na prática) e a terceira é a ‘‘pessoal’’ (“gostar de brincar” e ter vivido experiências nesta área). Neste sentido, o brinquedista precisa estabelecer uma conexão com o brincar, mediando este processo, tomando cuidado para não alterar completamente a maneira da criança brincar. Cunha, (2001), ressalta a importância da brinquedoteca ser constituída com brinquedos e jogos de qualidades e de diversos tipos, além de possuir vários cantinhos diferenciados como, por exemplo: o canto do faz-de-conta, com mobílias, bonecas, roupas, diversos tipos de fantasia; o cantinho da leitura com livros, almofadas, tapetes, para que a crianças se sinta à vontade e bem acomodada para o manuseio de livros; o cantinho das sucatotecas, lugar propício para materiais recicláveis, para que a criança possa ser livre para criar brinquedos; cantinho destinado para teatros, deixando de fácil acesso fantoches para o manuseio da criança na criação de histórias; canto com jogos de regras, como: dama, xadrez, dominó, quebra-cabeça, entre outros. 1.4 TIPOS DE BRINQUEDOTECAS Os tipos de brinquedotecas existente atualmente são: adoleteca, circulante, reabilitacional, hospitalar e escolar. 19 A brinquedoteca adoleteca é voltada para adolescentes e adultos, possui um acervo em nível mais avançado com metodologias voltadas a pintura, desenho, musicalização, entre outros recursos expressivos e jogos de regras. A brinquedoteca circulante é uma espécie de carrinho que vai circulando por toda a instituição, seja ela de ensino, hospitalar, etc. Assim, ela permite que todos tenham acesso a brinquedoteca, nela são oferecidos brinquedos e atividades que estão contidos em kits de atividades, possuindo um acervo adequado para cada situação e ambiente. A brinquedoteca reabilitacional é um acervo de apoio à estimulação psicomotora, sensorial e o desenvolvimento cognitivo e emocional. Favorece a ambientação facilitadora das experiências motoras, sensoriais e afetivas fisiológicas que a patologia interrompeu. Esta brinquedoteca tem como objetivo que a criança passe a conhecer seu corpo deseje se movimentar e se relacionar com os outros. A brinquedoteca hospitalar, como o próprio nome já diz, atende os diversos contextos e situações hospitalares, como: leitos, UTI’s, salas de recreação, pronto-atendimento. Esta brinquedoteca funciona dentro do hospital, atendendo os objetivos da instituição e perfil das pessoas internadas. Os brinquedos devem ser de fácil assepsia, resistentes e adaptados às limitações do paciente. Na brinquedoteca hospitalar é interessante que sejam realizadas atividades em grupos para que os familiares e outros visitantes do paciente possam envolver-se. E finalmente o objetivo deste estudo, a brinquedoteca escolar. Esta já vinha sendo mencionada anteriormente, é o tipo de brinquedoteca mais encontrada, sendo um espaço específico para suporte pedagógico, localizada é claro, nas escolas e universidades. Possui brinquedos que estimulem o processo de aprendizagem, servindo de apoio para o desenvolvimento de raciocínio lógicomatemático, alfabetização, leitura e escrita, motricidade e noções/conceitos de conhecimento gerais. 1.5 BRINQUEDOTECAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL O LABRIMP (Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos) que se destina ao fortalecimento do vínculo entre teoria e prática pedagógica e o conhecimento da realidade brasileira na área de brinquedos e materiais pedagógicos (http://www.labrimp.fe.usp.br), traz o nome das Brinquedotecas brasileiras 20 cadastradas no seu site. No Rio Grande do Sul, de acordo com o LABRIMP encontramos as seguintes brinquedotecas: - Brinquedoteca - Projeto Brincando Com a Turma do Ique; - Brinquedoteca Brincando se Aprende; - Brinquedoteca da Escola de Música Josélia J. Ferla; - Brinquedoteca da UFRGS; - Brinquedoteca da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); - Brinquedoteca do Centro de Convivência Turma do Ique; - Brinquedoteca do Colégio Marista Pio XII; - Brinquedoteca do Hospital das Clínicas de Porto Alegre; - Brinquedoteca do Instituo Milenia Agrociências S/A; - Brinquedoteca do Instituo Milenia Agrociências S/A; - Brinquedoteca do Parque Ramiro Souto; - Brinquedoteca Hospital de Caridade de Ijuí; - Brinquedoteca Joana D'arc; - Brinquedoteca Lar Miriam e Lar da Mãe Celita; - Brinquedoteca Municipal Brincar Mais; - Brinquedoteca Municipal de Alvorada; - Brinquedoteca Universitária do Programa de Extensão Universitária; - Brinquedoteca Universitária do Programa de Extensão Universitária Quem Quer Brincar? - Brinquedoteca Veda Lucinda – URCAMP; - Casa de Brinquedo - Pro-Kids Empreendimentos Ltda; - E. O. P. Assis Brasil; - Espaço Brinkar & Cia; - Espaço Lúdico Criativo de Aprendizagem - ELCA; - Espaço Ludopedagógico; - Estação Criança; - Grupo de Estudos em Educação Infantil - GEIN; - Grupo De Pesquisa Em Educação E Arte – GEARTE; - Hospital Vera Cruz; - Instituto Estadual de Educação Nossa Senhora Imaculada; - Laboratório de Ensino Brinquedoteca UNIVATES; - Laboratório de Ensino/Aprendizagem e Brinquedoteca – LEAB; 21 - Programa Brincalhão - Brinquedoteca Itinerante. Outro local que também aborda as questões sobre a brinquedoteca é a ABBri – Associação Brasileira de Brinquedotecas é uma associação filantrópica de caráter cultural e educacional, filiada à Associação Internacional de Brinquedotecas, ITLA, fornece cursos e assessorias de implantação e operacionalização de brinquedotecas, de formação de brinquedistas, entre outros. Mantém contato com universidades que promovem estudos, pesquisas e publicações sobre o tema. Publica o informativo “O Brinquedista”. No seu site (http://brinquedoteca.net.br/) também divulga o nome das brinquedotecas do Rio Grande do Sul cadastradas no mesmo, sendo elas: - APAE Passo Fundo Brinquedoteca; - Aprender Brincando – ULBRA Gravataí; - Brinquedoteca Dia Feliz; - Brinquedoteca do Centro Universitário UNIVATES; - Brinquedoteca Municipal - Espaço Fênix; - Brinquedoteca Municipal - Recanto dos Sonhos; - Brinquedoteca: Um Mergulho no Brincar; - Cantinho da Magia; - Centro da Cidadania – Projeto Pé Quente; - Céu da Infância Brinquedoteca Comércio Ltda. Estes dados sobre o número de brinquedotecas no estado do Rio Grande do Sul são importantes para percebermos o enfoque que está sendo dado para esses espaços lúdicos. Certamente há outras brinquedotecas que não estão cadastradas nesses sites. 1.6 CAIXAS TEMÁTICAS NA BRINQUEDOTECA UMA OPÇÃO DIVERSIFICADA DE BRINCAR E APRENDER Uma opção interessante, diversificada e que vem adentrando os cursos de educação são as caixas temáticas. Com o objetivo de auxiliar nas atividades pedagógicas a caixa temática já é uma ferramenta importante nas aulas da Educação Infantil, e está sendo um diferencial proposto para a brinquedoteca, visto que a mesma pode ser utilizada para brincar e aprender ao mesmo tempo. 22 Além de ser uma maneira inovadora de aprender e despertar a curiosidade das crianças, a caixa temática também possibilita transportar os objetos que vão ser trabalhados de um local para outro, visto a escassez de espaços das instituições de ensino, tornando-se assim uma forma prática de auxilio ao professor. No componente curricular de Fundamentos e metodologia do ensino de ciências da natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do curso de Pedagogia da UNIJUI, as acadêmicas realizaram um trabalho de confecção a partir de projetos e estudos sobre as caixas temáticas referentes ao componente curricular. Vejamos algumas delas: Caixa temática “Pintinhos” Caixa temática “Dinossauros” Caixa temática “Tartarugas” Caixa temática “ Explorando o jardim” 23 Caixa temática “Lesmas” Caixa temática “Luz e cor” Caixa temática “Equilíbrio” Caixa temática “girassóis” Estas caixas temáticas servem não apenas para falar sobre um conteúdo em especial, mas muito mais que isso, instiga o aluno a querer saber o que tem na caixa e ao descobrir se questiona de que maneira aqueles matérias podem ser utilizados, é como se fosse um campo de pesquisa dentro de uma caixa. Trazendo estas caixas para a brinquedoteca, poderiam ser utilizadas em um cantinho relacionado à natureza, meio ambiente, entre outros, sendo um riquíssimo subsidio para o aprendizado de maneira lúdica. 24 2 COMPREENDENDO O ESPAÇO DA BRINQUEDOTECA 2.1 PESQUISA DE CAMPO NA UNIBRINC: BRINQUEDOTECA DA UNIVERSIDADE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS “Se der tempo a gente brinca?!” “E então, a gente brinca...” (Euclides Redin) Para aprofundar os conhecimentos sobre o espaço da brinquedoteca e as suas implicações no processo de aprendizagem, fui a campo e realizei uma pesquisa empírica na UNIBRINC – Brinquedoteca da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Na oportunidade além de observar os diferentes ambientes e materiais temáticos, conversei com a coordenadora da Brinquedoteca, professora Dra. Marita Martins Redin, a qual concedeu uma entrevista, relatando vários assuntos referentes aquele espaço. Pensando que em um curso de Pedagogia, que forma profissionais para atuar junto à Educação Infantil e Anos Iniciais, é fundamental a compreensão da importância do brinquedo e do brincar na formação humana. Bem como dos tempos, espaços e materiais que favorecem o desenvolvimento de uma cultura lúdica. Neste sentido, a Brinquedoteca da Unisinos desenvolve ações com crianças, professores e acadêmicos, qualificando práticas pedagógicas. A proposta da UNIBRINC é ser um espaço de experimentação, pesquisa e utilização de brinquedos e brincadeiras que definem a imaginação, a ação e a inovação, estimulando a possibilidade de lidar com ideias novas; desenvolver pesquisas por novas formas do lúdico, num mundo imerso nas informações e comunicações padronizadas pelas novas tecnologias; incentivar a animação cultural, valorizando atividades lúdicas em diferentes idades e culturas; dar oportunidade aos educadores de interagir com grupos de crianças em atividade planejadas, servindo de campo para práticas pedagógicas; e fomentar grupos de educadores para estudo e pesquisa sobre as culturas lúdicas. Como atividades oferece oficinas, palestras, cursos, sarau de Coisas de Crianças, visitas agendadas, práticas de estágio e grupos de pesquisa. A brinquedoteca da Unisinos está dividida em dois espaços: 25 1. Sala Lúdica: Brinquedos diversos – Casa de bonecas com mobiliário, fantasias e acessórios, jogos de mesa, blocos de madeira para construção... Era uma vez... Local para contar histórias, poesias, olhar livros, gravuras, manusear fantoches e bonecos 26 Ateliê de artes – Local para trabalhar com artes plásticas/visuais, envolvendo pintura, recorte, colagem, desenho, com os mais diferentes materiais Museu de brinquedos “Brinquedo e Cultura” – Espaço para exposição que demonstrem a história e as culturas do brinquedo e do brincar 27 2. Sala de aula, Ateliê Ambiente: Local para desenvolvimento de oficinas, encontros, aulas, palestras, cursos. Espaço para experimentação, pesquisa e circulação de materiais produzidos pelas/os alunas/os. Acervo bibliográfico, com trabalhos e pesquisas temáticas; banco de dados de jogos e brincadeiras Santos (1997) afirma que a brinquedoteca é o espaço para brincar, não sendo necessário atribuir mais nenhum objetivo a sua definição. Contudo, é preciso valorizar a criança que brinca, pois se as relações entre os brinquedos e as crianças forem corretas tiverem a dimensão que devem ter as transformações ocorrerão espontaneamente. Segundo Cunha (1994), a brinquedoteca é um espaço para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. 28 2.2 RODA DE CONVERSA COM A COORDENADORA DA UNIBRIC, DRA. MARITA MARTINS REDIN Após observação dos espaços, a coordenadora da brinquedoteca Dra. Marita Martins Redin relatou sobre os projetos que são desenvolvidos na UNIBRINC, como a mesma surgiu e como ocorrem atualmente os trabalhos neste local. O projeto brinquedoteca começou há muito tempo em uma sala de aula. Quando surgiu a ideia da brinquedoteca, por exigência do MEC a gente conseguiu o espaço. Bom, isso levou mais alguns anos para operacionalizar o projeto, pois faziam o projeto e quando mandavam fazer o orçamento ficava muito caro, então optaram por pegar somente mesas, cadeiras, um armário, uma casinha de boneca, poucas coisas, para poder começar a funcionar. Hoje existe o espaço e cada vez ele vai se solidificando mais. A brinquedoteca é utilizada para as aulas da graduação, para cursos de formação e extensão, para receber grupos de professores de escolas, também para fazer reuniões pedagógicas para mudar de ambiente e discutir algumas questões do brincar, das brincadeiras, dos materiais. Recebem grupos de crianças com agendamento prévio. Fora isso, constantemente tem crianças que vem brincar, acompanhada de um adulto, pois não há recursos humanos disponível para tanto, são 8 horas que a coordenador fica e mais uma monitora de 8 horas, ou seja, é pouca gente para muita demanda. No espaço da UNIBRINC, encontram-se diversos trabalhos (banners, pipas, colchas...) vinculados com um projeto de pesquisa coordenado pela professora Marita há mais de dez anos sobre Memórias da Infância, onde as acadêmicas realizam narrativas, trabalho com fotografias e vão construindo a história da infância. Como diz FREIRE (1997) “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro.” Em seguida dividem-se em grupos escolhendo uma temática comum no grupo para confecção de algum material. Esse projeto além de resgatar as memórias da infância, vem para discutir a resistência dos professores em trabalhar com diferentes materiais (argila, tinta, tecido, linha...) e o tempo necessário pra realizar essas atividades. O que se destacou nesta visita a UNIBRINC e na conversa com a coordenadora, é o trabalho com materiais da natureza, vários ambientes retratando isso, com brinquedos de madeira, tecido... Confeccionados no decorrer dos projetos 29 pelas acadêmicas, produzindo subsídios teóricos e práticos para os estágios. Grande parte dos trabalhos são efêmeros, criam, fotografam e desmancham. Em relação aos materiais existe a interferência de visitas realizadas pela professora Marita a Itália na região de Regian Milian, observando como eles realizam e valorizam a questão da literatura, dos espaços e da pedagogia Waldorf, que trabalha na perspectiva dos materiais primitivos que é a lã, a madeira o tecido, brinquedos de madeira, pois as crianças estão muito acostumadas só com os brinquedos eletrônicos. E a outra perspectiva do brincar abordada é a partir da ideia do brincar criativo, do brincar heurístico, o brincar da descoberta, aonde você vai inventando alguns brinquedos (que a professora Marita chama de brinquedos abertos: cesto dos tesouros, com materiais da natureza, reaproveitamento de materiais, inclusive com frutas, pois nas creches geralmente as crianças recebem as frutas descascadas e picadas não tendo essa noção da fruta inteira), "Um bom brinquedo é aquele que convida a criança a brincar. (CUNHA 2007)". Considerando o as concepções elencadas até então sobre esse universo lúdico, onde a criança utiliza-se do brinquedo e da brincadeira para no faz de conta satisfazer desejos até então impossíveis para ela no mundo real, o brincar “é imaginação em ação” (FRIEDMANN, 1996). O trabalho realizado pela brinquedoteca da Unisinos vem ao encontro dos anseios e necessidades principalmente dos acadêmicos e professores de diferentes áreas do conhecimento (com ênfase na Educação Infantil), em realizar o brincar de diferentes maneiras e com diferentes materiais. Percebe-se que a brinquedoteca torna-se um local mais aconchegante e com variedades de opções. 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando alguém chega a uma BRINQUEDOTECA deve se sentir tocado e atingido pela magia do local; precisa sentir que chegou a um lugar muito especial, pois ali se respeita o ser humano criança e o mistério do seu vir a ser (CUNHA, 2010, p. 16). O que moveu este trabalho foi o inquietante interesse em saber como a brinquedoteca poderia estar contribuindo no processo de aprendizagem. Durante as leituras, pesquisa de campo, conversas, analise reflexões, compreende-se que a brinquedoteca pode e deve ser um local que instiga a curiosidade e a vontade de brincar, criar e reinventar da criança, o que contribui significativamente na sua aprendizagem. O espaço oferecido pelas brinquedotecas deve ser pensado seriamente, com propostas que venham ao encontro das necessidades do público que se pretende atender. O brincar não pode continuar sendo interpretado de maneira errônea, principalmente pelos docentes, que acarretam muitas vezes a brincadeira um sentido muito vago, distante do ensino, não se educa um olhar sensível que consegue visualizar, o momento do brincar sendo único e verdadeiro. A brinquedoteca proporciona o espaço para o brincar da criança, pois a criança que brinca descobre novos lugares, se torna um sujeito autônomo, consegue estabelecer relações tanto individuais como em grupo, transforma as brincadeiras e os brinquedos no seu faz de contas, e neste momento ela está inteiramente ali, criando relações com o real e o imaginário, construindo conceitos, conhecimento e consequentemente aprendendo. 31 E como vimos durante o trabalho, o profissional que está na brinquedoteca para mediar esta aprendizagem precisa estar preparado para compreender este processo, não basta deixar a criança brincar livremente é necessário estar presente antes, durante e depois da brincadeira, se envolvendo ou mesmo observando e criando laços. Sendo assim, a brinquedoteca para se manter viva precisa ter projetos que a sustentem, pessoas que acreditam no verdadeiro sentido do brincar e que sonhem junto com as crianças, que percebam o que está faltando, o que pode ser mudado, melhorado, que procurem recursos para que o espaço não seja apenas um depósito de prateleiras cheias de brinquedos e jogos. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2002. BROUGÈRE, G.; WAJSKOP, G. Brinquedo e cultura. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1997. CAILLOIS, Roger (1990), Os Jogos e os Homens, Lisboa, Editora Cotovia. CUNHA, N, H. S. A brinquedoteca brasileira. In: Santos, S.M.P. dos (org). Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997, p.1322. CUNHA, N, H. S. Brinquedoteca: definição histórico no Brasil e no mundo. In A. Friedmann et alli O direito de brincar. 4ª ed., São Paulo, Casa do Psicólogo, 1998. CUNHA, N, H. S. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. 4. ed. São Paulo: Aquariana, 2010. CUNHA, N, H. S. Brinquedoteca-Um mergulho no Brincar. 4ªed. São Paulo: Aquariana, 2007. FREIRE, Paulo (1997). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. FRIEDMANN, A. O direito de brincar: a brinquedoteca. 4ª ed. São Paulo: Abrinq, 1996. FURASTÉ, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. 16. ed. Porto Alegre: Dáctilo Plus, 2013. MARÍN, I.; PENÓN, S. Que brinquedo escolher? Revista Pátio Educação Infantil, ano I, n. 3, p. 29-31, dez. 2003/mar. 2004. 33 NEGRINE, A. Brinquedoteca: teoria e pratica. Dilemas da formação do brinquedista. In: SANTOS, S.M.P. dos (org.) Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 83-94. SANTOS, S.M.P. dos (org.) Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997. SILVA, A. H. A. O poder de um avental. In: ROSSETTI-FERREIRA, M. C. et al. (Org.). 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