UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
DENISE MARIA SAPELLI
INDICADORES DE CAPITAL SOCIAL NUMA ORGANIZAÇÃO DE TERCEIRO
SETOR
Biguaçu
2006
DENISE MARIA SAPELLI
INDICADORES DE CAPITAL SOCIAL NUMA ORGANIZAÇÃO DE TERCEIRO
SETOR
Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Administração no Mestrado
Acadêmico
em
Administração
da
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Educação Biguaçu.
Orientadora: Profa. Dra. Lucila Maria de
Souza Campos
Biguaçu
2006
DENISE MARIA SAPELLI
CAPITAL SOCIAL: UM ESTUDO APLICADO EM ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO
SETOR DA CIDADE DE BLUMENAU – SC
Esta dissertação foi julgada e aprovada para obtenção do título de Mestre em
Administração no Mestrado Acadêmico em Administração, da Universidade do Vale
do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.
Biguaçu, __ de agosto de 2006.
______________________________________________________
Profa. Dra. Lucila Maria de Souza Campos
UNIVALI – CE Biguaçu
Orientadora
______________________________________________________
Prof. Dr. Miguel Angel Verdinelli
UNIVALI – CE Biguaçu
Membro
______________________________________________________
Profa. Dra. Christiane Kleinübing Godoi
UNIVALI – CE Biguaçu
Membro
______________________________________________________
Prof. Dr. Hans Michael van Bellen
UFSC
Membro
RESUMO
Capital Social pode ser entendido como elos de solidariedade e de confiança que
compõem as relações e os compromissos de cidadãos, tanto profissonais quanto
voluntários, a uma causa social. Através dele, uma relação sinérgica entre o Estado
e a sociedade civil, pode ser construída. As organizações que compõem o Terceiro
Setor auxiliam a criação e manutenção dos vínculos de confiança e reciprocidade
que são a base para o funcionamento da sociedade democrática e a economia de
mercado. O aumento do tamanho do Terceiro Setor e, com ele, automaticamente, o
nível de relacionamento de confiança, tem fomentado a produção de estudos e
pesquisas que pretendem compreender este fenômeno sociocultural. Desta forma, a
execução de pesquisas sobre capital social se tornou necessária. Portanto, este
estudo tem por objetivo geral analisar como se manifestam os indicadores de Capital
Social de uma organização do Terceiro Setor, localizada na cidade de Blumenau,
estado de Santa Catarina, sob a ótica de seus públicos: interno (dirigentes e
funcionários) e externo (voluntários, doadores e beneficiados). Para tanto, foi
desenvolvido uma pesquisa quantitativa com sua metodologia focada em estudo de
caso. O instrumento de coleta foi embasado no questionário desenvolvido por
Grootaert et al (2004) para o Banco Mundial, com base em várias pesquisas sobre
capital social, desenvolvidas pelo mundo, e a ferramenta utilizada para análise dos
dados foi a análise multivariada de clusters. Foi realizada uma pesquisa exploratória,
com o universo de 64 questionários, distribuídos entre o público interno e externo. A
análise multivariada de clusters foi executada por meio de dendrogramas e tabelas
de distribuição dos agrupamentos. Os resultados obtidos atestaram a presença dos
indicadores de capital social dentro da organização pesquisada, tanto no público
interno quanto no público externo. Esses resultados poderão auxiliar a organização
a gerar estratégias para utilizar os recursos disponíveis de capital social no
desenvolvimento de ações visando parcerias no setor, como também captação de
doações e de voluntariado.
Palavras-chave: Capital social, terceiro setor, indicadores.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Sínteses de algumas definições, ênfases, benefícios e variáveis do capital
social .........................................................................................................................26
Quadro 2: Definições de capital social, objeto, método e variáveis de acordo com
Organizações e Programas Internacionais................................................................35
Quadro 3: Seis indicadores do capital social.............................................................56
Quadro 4: Indicadores e seções do questionário ......................................................57
Quadro 5: Sexo dos pesquisados .............................................................................67
Quadro 6: Faixa etária dos pesquisados...................................................................67
Quadro 7: Estado civil ...............................................................................................68
Quadro 8: Escolaridade.............................................................................................68
Quadro 9: Escala de concordância/discordância de 6 pontos...................................72
Quadro 10: Escala de concordância/discordância de 5 pontos.................................74
Quadro 11: Escala de concordância/discordância de 6 pontos.................................84
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Formas de capital e definições ..................................................................20
Tabela 2: Dimensões do capital social estrutural e cognitivo ....................................27
Tabela 3: Formas primárias e secundárias do capital social estrutural e cognitivo ...29
Tabela 4: Medidas de capital social no nível comunitário..........................................32
Tabela 5: Abordagens do capital social, idéias principais e contribuições relevantes
..................................................................................................................................37
Tabela 6: Tripé Estado-Sociedade-Mercado .............................................................39
Tabela 7: Estratos pesquisados ................................................................................54
Tabela 8: Siglas dos públicos....................................................................................69
Tabela 9: Representação Público Interno – Seção A – Grupo e Rede de
Relacionamentos.......................................................................................................71
Tabela 10: Representação Público Interno – Seção B..............................................73
Tabela 11: Representação Público Interno – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação
..................................................................................................................................76
Tabela 12: Representação Público Interno – Seção D – Comunicação e Informação
..................................................................................................................................78
Tabela 13: Representação Público Interno – Seção E – Coesão social e Inclusão ..79
Tabela 14: Representação Público Interno – Seção F – Acréscimo de Força e Ação
Política.......................................................................................................................81
Tabela 15: Representação Público Externo – Seção A – Grupo Rede de
Relacionamentos.......................................................................................................84
Tabela 16: Representação Público Externo – Seção B.............................................86
Tabela 17: Representação Público Externo – Seção C – Ação Coletiva e
Cooperação...............................................................................................................89
Tabela 18: Representação Público Externo – Seção D – Comunicação e Informação
..................................................................................................................................91
Tabela 19: Representação Público Externo – Seção E – Coesão social e Inclusão .93
Tabela 20: Representação Público Externo – Seção F – Acréscimo de Força e Ação
Política.......................................................................................................................95
Tabela 21: Cruzamento Públicos – Seção A – Grupo e Rede de Relacionamentos.96
Tabela 22: Cruzamento Públicos – Seção B – Confiança e Solidariedade ...............98
Tabela 23: Cruzamento Públicos – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação ...........99
Tabela 24: Cruzamento Públicos – Seção D – Comunicação e Informação ...........101
Tabela 25: Cruzamento Públicos – Seção E – Coesão social e Inclusão ...............102
Tabela 26: Cruzamento Públicos – Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
................................................................................................................................104
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Dendrograma Público Interno – Seção A – Grupo e Rede de
Relacionamentos.......................................................................................................70
Figura 2: Dendrograma Público Interno – Seção B – Confiança e Solidariedade .....72
Figura 3: Dendrograma Público Interno – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação .74
Figura 4: Dendrograma Público Interno – Seção D – Informação e comunicação ....76
Figura 5: Dendrograma Público Interno – Seção E – Coesão social e inclusão........78
Figura 6: Dendrograma Público Interno – Seção F – Acréscimo de Força e Ação
Política.......................................................................................................................79
Figura 7: Dendrograma Público Externo – Seção A..................................................82
Figura 8: Dendrograma Público Externo – Seção B – Confiança e Solidariedade ....85
Figura 9: Dendrograma Público Externo – Seção C – Ação coletiva e cooperação..87
Figura 10: Dendrograma Público Externo – Seção D – Informação e Comunicação 90
Figura 11: Dendrograma Público Externo – Seção E – Coesão social e inclusão ....92
Figura 12: Dendrograma Público Externo – Seção F – Acréscimo de Força e Ação
Política.......................................................................................................................94
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Gráfico Público Interno – Seção D – Informação e Comunicação ............77
Gráfico 2: Comunicação e Informação – Grupo D – Público Externo........................91
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11
1.1 Contextualização...............................................................................................11
1.2 Objetivo geral ....................................................................................................15
1.3 Objetivos específicos........................................................................................15
1.4 Justificativa........................................................................................................15
1.5 Estrutura da dissertação ..................................................................................18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................19
2.1 Capital social .....................................................................................................19
2.1.1 Formas de capital........................................................Error! Bookmark not defined.
2.1.2 Gênese do conceito Capital Social........................................................................... 21
2.1.3 Conceitos gerais de Capital Social .............................Error! Bookmark not defined.
2.1.4 Formas de Capital Social.......................................................................................... 27
2.1.5 Medição dos aspectos estruturais e cognitivos do Capital Social... Error! Bookmark
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2.2 Terceiro Setor ....................................................................................................38
2.2.1 Um resgate das origens do termo Terceiro Setor..................................................... 40
2.2.2 Dificuldades para conceituar o Terceiro Setor e as organizações que o compõem 43
2.2.3 Desafios comuns às organizações que compõem o Terceiro Setor........................ 45
2.2.4 A produção acadêmica sobre o Terceiro Setor ........................................................ 49
3 METODOLOGIA ....................................................................................................51
3.1 Coleta de dados.................................................................................................53
3.2 Estrutura do instrumento de coleta de dados ................................................54
3.2.1 Aplicação do questionário......................................................................................... 58
3.3 Análise e interpretação dos dados ..................................................................59
3.3.1 Tratamento e análise dos dados............................................................................... 60
4 RESULTADOS DA PESQUISA .............................................................................63
4.1 Estudo de caso – ONG......................................................................................63
4.2 Caracterização do universo pesquisado.........................................................66
4.3 Público interno ..................................................................................................69
4.3.1 Grupo e rede de relacionamentos – seção A – público interno................................ 69
4.3.2 Confiança e solidariedade – seção B – público interno............................................ 71
4.3.3 Ação coletiva e cooperação – seção C – público interno......................................... 73
4.3.4 Comunicação e informação – seção D – público interno ......................................... 76
4.3.5 Coesão social e inclusão – seção E – público interno.............................................. 78
4.3.6 Acréscimo de força e ação política – seção F – público interno............................... 79
4.4 Público Externo .................................................................................................81
4.4.1 Grupo e rede de relacionamentos – seção A – público externo............................... 81
4.4.2 Confiança e solidariedade – seção B – público externo........................................... 84
4.4.3 Ação coletiva e cooperação – seção C – público externo........................................ 87
4.4.4 Comunicação e informação – seção D – público externo ........................................ 89
4.4.5 Coesão social e inclusão – seção E – público externo............................................. 91
4.4.6 Acréscimo de força e ação política – seção F – público externo.............................. 93
4.5 Cruzamento dos públicos.................................................................................95
4.5.1 Grupo e rede de relacionamentos – seção A ........................................................... 95
4.5.2 Confiança e solidariedade – seção B ....................................................................... 98
4.5.3 Ação coletiva e cooperação – seção C .................................................................... 99
4.5.4 Comunicação e informação – seção D................................................................... 101
4.5.5 Coesão social e inclusão – seção E ....................................................................... 102
4.5.6 Acréscimo de força e ação política – seção F ........................................................ 103
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ...........................................105
5.1 Considerações finais ......................................................................................105
5.2 Limitações........................................................................................................108
5.3 Recomendações para pesquisas futuras......................................................109
REFERÊNCIAS.......................................................................................................110
APÊNDICE A – Questionário ................................................................................116
APÊNDICE B – Carta .............................................................................................120
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do tema
Embora o conceito de capital social não seja novo, ele ganhou “notoriedade a
partir do livro de Robert Putnam publicado em 1993, Making Democracy Work: Civic
Traditions in Modern Italy – Comunidade e democracia: a experiência da Itália
Moderna.” (D’ ARAÚJO, 2003, p. 11). E o conceito de capital social, mesmo sendo
antigo, agora aparece renovado por alguns pesquisadores, ao mesmo tempo em
que é criticado por outros. (FERRAREZI, 2003).
A relação de capital social e sociedade surge no texto de Evans (apud
ABRAMOVAY, 1998), que descreve as características pré-existentes de capital
social como recursos valiosos para construir uma relação sinérgica entre o Estado e
a sociedade civil, mas que não podem ser consideradas como o fator único de
decisão. Para Evans as comunidades que desfrutam os benefícios da sinergia não
desfrutam e nem sempre apresentam índices prévios excepcionais de capital social.
O capital social de uma organização é algo de inegável valor. São os elos de
solidariedade e confiança que permeiam de forma espontânea as relações e os
compromissos de cidadãos, tantos profissionais quanto voluntários, a uma causa
social.
Segundo Ferrarezi (2003), desde a década de 90, autores como Putnam têm
destacado a existência de determinadas características sociais num dado território,
como a confiança generalizada nos demais, a atuação em associações, a noção do
capital social que popularizou o argumento de que a dimensão social é um
componente central na explicação do desenvolvimento econômico. Pesquisa
efetuada por Putnam (1995) detectou que o capital social está declinando na
América do Norte, pois as pessoas estão desenvolvendo suas atividades
isoladamente. O declínio do voluntarismo e das atividades associativas, descritas
pelo autor, foram ponto de partida para um debate em torno do tema, para políticas
e debates acadêmicos. (HUTCHINSON; VIDAL, 2004).
12
O termo Terceiro Setor surgiu para conceituar as organizações da sociedade
civil, sem fins lucrativos, criadas e mantidas com ênfase na participação voluntária,
que têm como foco a atuação na área social visando à solução dos problemas
sociais. (IOSCHPE, 2000).
Entende-se que a expansão do Terceiro Setor, como tem se apresentado nas
últimas décadas no Brasil, possibilitou uma grande diversificação das organizações
que o compõem, tanto por causa do campo de ação quanto pelas formas de atuação
dessas organizações. Para Cardoso (1997), na década de 80, foram as ONGs que
articularam recursos e experiências na sociedade, ganhando visibilidade e novos
espaços de participação cidadã. A autora ressalta que hoje essas organizações são
compostas por instituições filantrópicas, organizações voltadas para a defesa dos
direitos de grupos específicos, trabalho voluntário e o fenômeno crescente da
filantropia empresarial.
Em função disto, o que se pode observar é um crescente consenso sobre as
limitações do papel do Estado como agente de desenvolvimento e dos pontos
positivos do envolvimento das instituições do Terceiro Setor para suprir essa
deficiência. (SALAMON, 1994, 1998).
Entretanto, as organizações do Terceiro Setor enfrentam uma série de
problemas, dentre os quais, o extenso tratamento jurídico, a falta de definição
conceitual, as listagens oficiais incompletas e a imperfeição de tratamento nas
estatísticas. (SALAMON, 1998). Esses dados imprecisos nas estatísticas são
percebidos quando se procura os números do Terceiro Setor no Brasil.
Estudo realizado pela Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos, em
parceria com o Instituto de Estudos da Religião do Rio de Janeiro, e publicado pela
Revista Veja, em edição especial de 26 de dezembro de 2001, constatou que no
Brasil existiam até aquele ano cerca de 220.000 entidades voltadas para questões
de cidadania. Só no Conselho Nacional de Assistência Social, que é o órgão
responsável pela fiscalização do setor, existiam mais de 14.000 instituições sem fins
lucrativos cadastradas até 2001. Neste cadastro, encontravam-se grandes
instituições, tais quais a Pastoral da Criança, composta por 15.000 voluntários que
atendem 1,5 milhão de pessoas, distribuídas em 27 estados brasileiros e que, no
ano de 2001, teve um orçamento de 17,2 milhões de reais. Este número denota que
cresce o espírito de cidadania e solidariedade, o que torna este setor tão importante
13
para o desenvolvimento social do país, porque quanto maior é o número de
voluntários, maior será a assistência fornecida e menor a demanda social não
atendida pelas políticas sociais do governo. (FRANCO; PEREIRA; SARTORI, 2003).
Segundo o site da Rits – Rede de Informações para o Terceiro Setor –
existem cerca de 250 mil Organizações da Sociedade Civil (OSCs) no Brasil que
empregam cerca de 1,5 milhão de pessoas. (RITS, 2005). O que elas fazem? Uma
variedade de atividades de interesse público: assistência social, educação, saúde,
esportes e lazer, meio ambiente, geração de emprego e renda, artes e cultura,
ciência e tecnologia, comunicação, segurança pública etc. Os tipos mais antigos são
os de assistência social, ligados à igreja católica, como os orfanatos criados nos
tempos coloniais. As ONGs fazem parte dos tipos mais recentes, que se proliferaram
nos anos 1980, na defesa dos direitos humanos e em projetos de desenvolvimento
social. Há, também, as ONGs que defendem os interesses das mulheres, de
minorias e do meio ambiente. De acordo com a Rits, as maiores são as voltadas à
educação e a área da saúde.
Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão vinculado ao
Ministério do Planejamento, o Brasil registra mais de 250 mil organizações nãogovernamentais – mesmo número encontrado no Rits –, que movimentam
anualmente cerca de R$ 12 bilhões e empregam cerca de 1,2 milhão de pessoas. A
participação do Terceiro Setor na economia brasileira representa 1,5% no PIB
nacional. (ROSA; COSTA, 2003).
Essa falta de clareza conceitual e de composição das organizações gera
vários desafios para as organizações do Terceiro Setor suplantarem. Tenório (1999)
destaca quatro grandes desafios, como: expansão das ações sociais para além das
áreas em que a organização trabalha; a necessidade de sair da clandestinidade e
divulgar seu trabalho, suas atividades, mostrando o que são, qual o motivo da luta e
o que se propõem, para aumentar o número de adeptos; parar de lutar contra o
Estado e promover parcerias com o setor público e privado, e; obter financiamentos,
uma vez que órgãos internacionais direcionam os esforços econômicos para regiões
como a África e Leste europeu, que vivem em condições precárias.
Desta forma, o terceiro setor contribui para a sociedade de várias maneiras,
explora soluções para os problemas cívicos e providencia atendimento para aqueles
que necessitam, identificam problemas sociais e tentam mobilizar um suporte público
14
amplo para solucionar estes problemas. São essas organizações que criam e
sustentam os vínculos de confiança e reciprocidade que são pivôs para o
funcionamento da sociedade democrática e a economia de mercado. (HALPERN,
1996).
A crescente expansão do terceiro setor tem estimulado a produção de
estudos e pesquisas que visam compreender este fenômeno sócio-cultural, que
surge como possibilidade de ser um reflexo de um conjunto de tendências interrelacionadas e complexas, tal qual a adoção do discurso de cidadania empresarial e
responsabilidade social por parte das empresas privadas.
Para Eikenberry e Kluver (2004), as organizações do terceiro setor também
são importantes, pois reforçam a sociedade civil através de seus papéis de guardiãs
de valores, provedoras de serviços e construtoras de capital social.
Desta forma, parece oportuno refletir sobre a seguinte questão: existe
congruência entre a percepção dos públicos/grupos envolvidos em uma organização
do terceiro setor sobre a manifestação dos indicadores de capital social?
Para tanto, optou-se por restringir a abrangência desta pesquisa em uma
organização do Terceiro Setor sediada em Blumenau, estado de Santa Catarina. A
partir da pergunta de pesquisa, foram gerados o objetivo geral e os objetivos
específicos que nortearam o desenvolvimento deste estudo teórico-empírico.
15
1.2 Objetivo geral
O objetivo geral deste estudo é analisar como se manifestam os indicadores
de Capital Social de uma organização do Terceiro Setor, localizada na cidade de
Blumenau, estado de Santa Catarina, sob a ótica de seus públicos: interno
(dirigentes e funcionários) e externo (voluntários, doadores e beneficiados).
1.3 Objetivos específicos
•
Definir um conjunto de indicadores de Capital Social a ser pesquisado na
organização de terceiro setor.
•
Mensurar a percepção de cada público sobre os indicadores de Capital Social.
•
Comparar a percepção do público interno e do público externo da organização
pesquisada sobre os indicadores de capital social definidos.
Espera-se que os resultados obtidos contribuam não somente para a
organização estudada, mas também para aqueles interessados no estudo
acadêmico do Capital Social, em especial, em organizações do Terceiro Setor.
1.4 Justificativa
Neste trabalho são analisados os indicadores de capital social de uma
organização do Terceiro Setor na percepção do seu público interno e externo. A
importância desta discussão está embasada na idéia de Putnam (1996) de que o
estudo do tema capital social é importante para o desenvolvimento de uma
sociedade onde as associações civis contribuem para a eficácia e a estabilidade dos
governos democráticos, em decorrência das externalidades positivas, produzidas
sobre o indivíduo e sobre a sociedade.
16
Assim, contribuições no sentido de identificar os indicadores de capital social
são importantes para as organizações que compõem o Terceiro Setor, uma vez que
seus efeitos são interessantes para o relacionamento com outras esferas (pública e
privada).
De acordo com Falconer (1999, p. 4), “o estudo do terceiro setor, ou das
organizações sem fins lucrativos, é, atualmente, um dos temas que mais desperta
interesse nas escolas e faculdades de Administração no Brasil”, pois reflete a
atenção pública que este setor vem recebendo nos últimos anos. Para o autor, o
Estado, as empresas privadas, a mídia e a própria sociedade, estão, neste
momento, olhando com mais seriedade as organizações que fazem parte do terceiro
setor, e a universidade é demandada para produzir o conhecimento que possibilite
compreender este fenômeno, apoiando seu desenvolvimento. (FALCONER, 1999).
Outro fator que auxilia na justificativa encontra base na pesquisa
desenvolvida por Iizuka e Sano (2004), publicada nos Anais do Enanpad de 2004,
em que estes pesquisadores estudaram as produções acadêmicas referentes ao
Terceiro Setor, de 1990 até 2003, publicadas nos Anais do EnANPAD.
Este estudo detectou que de 3.360 artigos publicados durante os 14 anos de
análise, apenas 37 eram sobre o Terceiro Setor, o que representou, em
porcentagem, 1,1% da produção científica total. Além disto, quando analisado o
referencial teórico utilizado para o desenvolvimento de cada artigo, não aparece
nenhum artigo tendo o capital social como fundamentação teórica, apenas um artigo
surge contendo uma fundamentação embasada em redes. (IIZUKA; SANO, 2004).
Dos
temas
pesquisados nos
Anais do EnANPAD, a conceitualização do
Terceiro Setor foi o tema mais estudado, com 07 ocorrências. Gestão Pública foi tema
presente em 05 artigos, exclusão digital, governança e marco legal apareceram como
foco em 03 artigos cada. Captação de recursos foi pesquisado duas vezes, o mesmo
número que representou cidadania e, também, o tema voluntariado. (IIZUKA; SANO,
2004).
Quando pesquisado em periódicos internacionais, de acordo com Bueno et al
(2004), há algumas abordagens sobre capital social: (a) ligado a teorias do
desenvolvimento econômico, estudadas por Putnam (1994), Knack e Keefer (1997),
Stiglitz (1998), Chloupkova et al (2003) e Onyx e Bullen (2000); (b) responsabilidade
social e ética, pesquisadas por Coleman (1990); Newton (1997); Chang (1997);
Kawachi et al (1997), Bullen e Onyx (1998); Joseph (1998); Cortina (2000); Baron
17
(2001); (c) Governança Corporativa, pesquisada por Baas (1997); Sen (1997);
Zingales (2000); Rajan e Zingales (2000); (d) Capital Intelectual, estudado por
Nahapiet e Ghoshal (1996); Koening (1998), Prusak (1998); Lesser e Prusak (1999);
Lesser (2000), Cohen e Prusak (2001); Kenmore (2001); Lesser e Cothrel (2001);
McElroy (2001).
Os indicadores de capital social pesquisados na literatura apresentam
características peculiares ao conceito de terceiro setor: solidariedade, confiança,
rede de relacionamentos. A abordagem do mais conhecido autor sobre o tema,
Robert Putnam, refere-se à natureza e extensão do envolvimento de um indivíduo
em redes informais e associações formais. Para Putnam (1996), nas associações é
que se torna possível aos indivíduos aprenderem hábitos de cooperação,
solidariedade e espírito público, construindo confiança social, consciência e
participação política. Ou seja, confiança, normas e redes poderiam melhorar a
eficiência da sociedade ao facilitar ações coordenadas. (FERRAREZI, 2003).
Internamente, o que se pode observar é que “as associações incutem em
seus membros hábitos de cooperação, solidariedade, senso de responsabilidade
comum em relação a empreendimentos coletivos” (FERNANDES, 2002, p. 385).
Mas, cabe aqui uma ressalva no sentido de que nem toda e qualquer
associação que seja dotada internamente de capital social necessariamente venha a
contribuir para o acréscimo de civismo do todo social, ou seja, para o
desenvolvimento do capital social em uma sociedade. (FERNANDES, 2002).
Desta forma, mesmo que haja um aumento no número de iniciativas,
detectadas em diversos setores da sociedade, refletindo-se, também, na ampliação
do número de pesquisas realizadas, isso, ainda, não significa que se tenha chegado
a algum consenso nesta temática, principalmente, por não haver uma clareza na
própria utilização dos conceitos de Terceiro Setor e Capital Social.
Ao mesmo tempo em que alguns autores tentam definir esses conceitos, outros
lançam questionamentos, muitas vezes, com grande vigor, sobre as origens, os
interesses e as intenções das pessoas em querer disseminar uma nova temática,
apresentando-a como uma maneira de enfrentar os problemas sociais e econômicos.
Desta forma, há poucos consensos e muitas discordâncias sobre as temáticas do
Terceiro Setor e Capital Social, sendo este um dos motivos para se efetuar mais e
melhores pesquisas, associanda-os aos estudos prévios sobre o assunto.
18
Neste contexto, busca-se com este trabalho colaborar na evolução das
produções de cunho acadêmico relacionadas ao Terceiro Setor e ao Capital Social,
frente ao interesse tanto profissional quanto acadêmico em torno deste tema, uma
vez que os desafios enfrentados pelo Terceiro Setor encontram no capital social
uma forma de resolução, haja vista que este tipo de capital permite a integração dos
componentes ao processo no qual as organizações estão inseridas, e levando-se
em consideração, também, que a execução de suas atividades depende de doações
e da ampliação das suas fontes de recursos tanto materiais quanto de capital social.
1.5 Estrutura da dissertação
Para atender os objetivos da pesquisa, este trabalho está organizado em
cinco capítulos. O primeiro capítulo introduz e contextualiza o tema, apresenta os
objetivos e a justificativa para realização da pesquisa.
O segundo capítulo apresenta as bases teóricas sobre os temas Capital
Social e Terceiro Setor. A construção deste capítulo foi baseada em leituras de
periódicos nacionais e internacionais, anais de eventos, livros e informativos via
internet. Além da definição destes conceitos, são discutidos os diversos indicadores
apresentados na literatura para mensuração do capital social. A discussão teórica
realizada neste capítulo justifica a definição dos indicadores utilizados na construção
do instrumento de pesquisa.
No capítulo três é apresentada a escolha metodológica que norteou a
pesquisa caracterizada como estudo de caso. Neste capítulo, também, está
detalhado o instrumento de coleta dos dados.
Os resultados das análises deste estudo são apresentados e discutidos no
quarto capítulo, iniciando pela descrição da ONG pesquisada, a visão do público
interno, seguido da análise do público externo e, posteriormente, cruzando os dados
obtidos dos dois públicos da organização.
O capítulo cinco conclui o estudo, destacando os principais resultados obtidos
e as considerações finais sobre o problema discutido. Além disso, o capítulo contém
discussões sobre as limitações da pesquisa e sugestões de futuros trabalhos.
19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, o objetivo principal foi pesquisar o referencial teórico sobre os
temas Capital Social e Terceiro Setor, a fim de proporcionar um maior
esclarecimento sobre esses assuntos. Esta seção do trabalho está estruturada da
seguinte maneira: inicialmente é apresentada a revisão sobre o tema Capital Social
e finaliza-se com o análise do tema Terceiro Setor, em que são descritas as origens,
as organizações que fazem parte deste setor e os desafios por elas enfrentados.
2.1 Formas de Capital: uma discussão preliminar
Economistas do século XIX, incluindo Karl Marx, falavam apenas de dois tipos
de capital: físico e financeiro. Mas, sendo a palavra capital definida como suprimento
de valores que facilitam ações, possivelmente, outras formas de capital podem ser
inseridas neste contexto. Desta maneira, para estudar capital social torna-se
necessário que este seja situado em um contexto que inclua outros tipos de capital.
(HUTCHINSON; VIDAL, 2004).
Esses outros tipos de capital podem ser classificados como: humano
(HUTCHINSON; VIDAL, 2004; ARIZPE, 1998), financeiro (HUTCHINSON; VIDAL,
2004), físico (HUTCHINSON; VIDAL, 2004; ARIZPE, 1998), social (HUTCHINSON;
VIDAL, 2004; ARIZPE, 1998), cultural (HUTCHINSON; VIDAL, 2004) e intelectual
(BUENO et al, 2004). E, de acordo com Hutchinson e Vidal (2004), foi Bourdieu que em
1986 adicionou as três novas formas de capital já citadas: humano, cultural e social.
Os economistas do Banco Mundial determinam que o capital natural também
é parte integrante desse contexto. Através de estudos, passaram a distinguir quatro
formas básicas de capital na avaliação de projetos de desenvolvimento: natural,
físico, humano e social. O capital natural é constituído pelos recursos naturais
aproveitáveis em cada espaço geográfico-ecológico; o capital físico é construído
pela sociedade, tal como a infra-estrutura, as máquinas e equipamentos, o sistema
financeiro; o capital humano é resultado do nível de educação, saúde e acesso à
informação da população, e o capital social – conceito inovador nas análises e
20
propostas de desenvolvimento, expressa a capacidade de uma sociedade
estabelecer laços de confiança interpessoal e redes de cooperação com a intenção
de produzir bens coletivos. Ao tentar desvendar as causas da dinâmica de expansão
do sistema de produção capitalista, nas últimas décadas, privilegia-se a contribuição
do capital social e humano para o desenvolvimento tecnológico, o aumento da
produtividade e o próprio crescimento da economia. (ARIZPE, 1998; D’ARAÚJO,
2003). Bueno et al (2004) conceituam o capital intelectual como uma expressão que
se agrega nos bens intangíveis que a organização possui. Esses bens advêm de
processos de conhecimento e de atividades intangíveis que venham a adicionar
valor ao financeiro e ao capital tangível da organização. A Tabela 1 apresenta as
formas de capital com suas definições resumidas.
Tabela 1: Formas de capital e definições
Formas de Capital
Definições
Financeiro
Físico
Humano
Cultural
Social
Natural
Intelectual
Dinheiro disponível para investimento.
Patrimônio real, equipamentos, e/ou infra-estrutura.
Treinamento que incrementa a produtividade no trabalho.
Alto conhecimento cultural que pode ser transformado em vantagem sócioeconômica própria.
Relacionamentos de confiança embutidos em redes sociais.
Recursos naturais aproveitáveis em cada espaço geográfico-ecológico.
Bens intangíveis que a organização possui, que vêm de processos de
conhecimento e de atividades intangíveis e adicionam valor financeiro ao
capital tangível da organização.
Fonte: Adaptado de Hutchinson e Vidal (2004); Bueno et al (2004)
Todas as formas de capital podem ser entendidas de maneira independente,
mas, de acordo com Hutchinson e Vidal (2004), são melhor entendidas quando
analisadas através de suas reciprocidades e interdependências. Os autores
salientam, também, que para o melhor entendimento do conceito capital social é
necessário compreender os conceitos de capital humano e cultural. Rattner (2003)
relata, ainda, que enquanto o capital humano é fruto das ações dos indivíduos em
busca de aprendizado e aperfeiçoamento, o capital social é fundamentado nas
relações entre os atores sociais que estabelecem entre si expectativas e obrigações
mútuas, para, desta maneira, estimular a confiabilidade nas relações sociais e
agilizar o fluxo de informações, tanto internas quanto externas. Contrariamente à
formação de capital humano que estimula o individualismo, a construção de capital
social atinge favoravelmente a coesão da família, da comunidade e da sociedade. A
cultura, por sua vez, constitui o campo de ação onde a sociedade gera seus valores
21
e os passa de geração a geração. São esses valores positivos que têm o potencial
de atrair voluntários e militantes em ONGs e movimentos sociais. E ressalta que as
predominâncias de valores que são contrários à solidariedade e cooperação ajudam
a expandir as redes de corrupção e delinqüência em quaisquer que sejam os níveis
da sociedade.
Mesmo pensamento possui Fernandes (2001, apud PUTNAM, 1993),
ressaltando que não é o fato de ser dotado internamente de capital social que fará com
que se acumule civismo ou se desenvolva capital social em uma determinada
sociedade. Como exemplo, cita a máfia, que é uma organização associativa que
trabalha o conceito de proteção contra a violência em troca de poder violar a lei. Do
ponto de vista do capital social, ela é dotada internamente dos elementos que o
compõem, como as normas de reciprocidade, laços de confiança, fidelidade e redes
entre as famílias. Mas, olhando do ponto de vista externo, a máfia é uma organização
que aniquila as instituições públicas através de práticas não tão aceitas pela sociedade,
como: corrupção, aliciamento, coação física através de violência contra servidores
públicos e cidadãos ou mesmo de concorrentes de mercado, para assegurar seu poder.
Portanto, a criação de capital social, de acordo com Fukuyama (2003), não é
tão diferente quanto à criação de capital humano para a organização, pois isso só se
consegue através do investimento em educação e, por isso, faz-se necessária a
capacitação e uma infra-estrutura organizacional que permita o desenvolvimento
destes capitais. A diferença, segundo o autor, é que o capital humano é passado
através da transmissão de certas atitudes e conhecimentos específicos e o capital
social necessita incutir normas e valores compartilhados e isto só se consegue
mediante hábito, experiência compartilhada e através de um exemplo de liderança.
2.2 Capital Social: origem e definições
O Capital Social consiste no potencial de relacionamento e na capacidade de
interação dos indivíduos. Sabe-se que para a criação de projetos coletivos há a
necessidade do engajamento de muitos na ação e, para tanto, é de suma importância a
confiança, a interação e o bom relacionamento entre os indivíduos das comunidades.
22
O conceito de capital social não é novo (PORTES, 1998; D’ARAÚJO, 2003),
pois, de acordo com Paldam e Svendsen (1999), as idéias que o perpassam vêm de
um longo caminho dentro das ciências sociais. A importância dos valores e do
contrato social já havia sido citada por Rousseau, em 1762. Max Weber, em 1904,
enfatizou a importância do aspecto cultural para a acumulação do capital através do
valor ao trabalho, à economia e à honestidade. (PALDAM; SVENDSEN, 1999).
Para Putnam (1995), Jane Jacobs teria sido a primeira pessoa a utilizar o
termo capital social com o teor que se conhece atualmente. Este pensamento é
corroborado por Franco (2001, p. 85), quando esclarece que depois de Tocqueville,
a autora teria sido a primeira a explorar, em 1961, a “intimidade sociológica do
fenômeno que se quer captar com o conceito de Capital Social”. No seu livro Morte e
Vida das Grandes Cidades Americanas, datado de 1961, a autora usa a expressão
Capital Social para falar das redes de relações do bairro: “essas redes são o capital
social urbano insubstituível”. (JACOBS, 1961, p. 151). Mas, Franco (2001, p. 506)
fala sobre um certo ‘disse-que-disse’ generalizado entre os estudiosos sobre as
fontes que introduziram o conceito. Para justificar esta crítica, Franco (2001)
descreve as várias citações feitas do ponto de vista dos teóricos mais famosos.
Fukuyama, em 1995, também fez o registro como sendo Jacobs a precursora, mas,
em 1999, o autor diz que a expressão capital social foi usada inicialmente por Lyda
Judson Hanifan, no ano de 1916, para descrever os centros comunitários das
escolas rurais. Franco (2001) continua sua argumentação, salientando que Putnam
também se contradiz quando descreve uma citação de James Coleman, designando
Glen Loury, em 1977, a introdutora do conceito.
Mas, numa análise mais aprofundada, Franco (2001, p. 90) deixa claro que
Jane Jacobs não somente usou a expressão Capital Social. Para ele, a autora
“desenvolveu este conceito, aportando contribuições novas e substantivas para
desvendar o processo de sua formação em comunidade”.
Desta forma, percebe-se que não há, ainda, uma definição factual sobre a
gênese do conceito de capital social e a maioria dos autores recorre a definições
relacionadas com suas funções, ressaltando em determinados momentos os
aspectos da estrutura social ou o uso desse recurso por indivíduos.
23
Capital Social é um conceito que demanda do campo sociológico. (MELÉ,
2003). Recebe várias atribuições, como sendo focado para comunidades (PUTNAM,
1996), redes sociais (ADLER; KWON, 2002) e nações (FUKUYAMA, 2004).
Na definição de Milani (2003), capital social refere-se à associação, isto é, o
capital pertence a uma coletividade ou a uma comunidade; ele é compartilhado e
não pertence somente a indivíduos. Para o autor, capital social não se gasta com o
uso; pelo contrário, é a sua utilização que o faz crescer. Nesse sentido, a noção de
capital social indica que os recursos são compartilhados no nível de um grupo e
sociedade, além dos níveis do indivíduo e da família. Significa que o capital social
existe e cresce a partir de relações de confiança e cooperação e não de relações
baseadas no antagonismo. Para o mesmo autor, capital social é capital porque,
utilizando a linguagem dos economistas, ele se acumula, podendo produzir
benefícios, tendo estoques e uma série de valores. O capital social refere-se a
recursos que são acumulados e que podem ser utilizados e mantidos para uso
futuro. Não se trata, porém, de um bem ou serviço de troca. Pode ser um dos
elementos estratégicos fundamentais para avaliar a sustentabilidade de projetos e
políticas.
Para Putnam (1993, p. 2),
[...] capital social refere-se a aspectos da organização social, tais como
redes, normas e laços de confiança que facilitam a coordenação e
cooperação para benefícios mútuos. Capital social aumenta os benefícios
de investimento em capital físico e humano.
De acordo com Costa (2004), o capital social de uma comunidade pode ser
entendido como a capacidade de interação dos indivíduos com os que estão ao seu
redor, sendo que quanto mais o indivíduo interage com os outros, mais ele está apto
a reconhecer comportamentos, intenções, valores, competências e conhecimentos
que compõem seu meio. E o inverso também se aplica, pois quanto menos alguém
interage, menos esse indivíduo tenderá a desenvolver plenamente essa habilidade
que é a percepção do outro.
Para compreender as definições dadas a capital social por vários autores, o
quadro 1 foi adaptado de Milani (2003), de maneira a ressaltar a ênfase na qual a
definição do conceito foi concentrada, quais os benefícios e os indicadores do capital
social na visão desses pesquisadores. É possível observar que há uma variação nas
24
definições de capital social, pois Milani (2003) expõe que o capital social pode ser
compreendido dentro de uma relação de causa e efeito. Tem impacto numa série de
comportamentos humanos e atividades sociais, uma vez que está fundamentado em
relações sociais.
Ocampo (2003) expõe que a base para a construção do capital social é
encontrada em todas as sociedades, com particularidades próprias de cada cultura,
e as pessoas acabam por usá-la, buscando atingir suas metas quanto à satisfação
de suas necessidades de ordem econômica, social e afetiva.
Definição
Conjunto de recursos reais ou
potenciais resultantes do fato de
pertencer de modo mais ou menos
institucionalizado, a redes de
conhecimento e reconhecimento
mútuos.
Mark
Granovetter
As ações econômicas dos agentes
estão inseridas em redes de
relações
sociais,
que
são
potencialmente criadoras de capital
social,
podendo
contribuir
na
redução
de
comportamentos
oportunistas e na promoção da
confiança mútua entre os agentes
econômicos.
O capital social é definido pela sua
função. É uma variedade de
entidades tendo duas características
em comum: estrutural social e
facilita ações dos indivíduos que se
encontram dentro desta estrutura
social.
Robert Putnam Refere-se
a
aspectos
da
organização social, tais como redes,
normas e confiança, que facilitam a
coordenação e a cooperação para
benefício mútuo.
James
Coleman
Autor
Pierre
Bourdieu
Sistemas de apoio familiar.
Sistemas escolares (católicos) na
constituição do capital social nos
EUA.
Organizações horizontais e verticais.
Indicadores
• Durabilidade e o tamanho da rede
de relações.
• Conexões que a rede pode
efetivamente mobilizar.
Intensidade da vida associativa
(associações horizontais).
Leitura dos meios de comunicação.
Número de votantes.
Quantidade de membros de corais e
clubes de futebol.
Confiança nas instituições públicas.
Relevância do voluntariado.
Critica as duas visões do O capital social seria um Duração das relações (consideradas
comportamento econômico: visão bem público e um bem positivas e simétricas).
neoclássica (sub-socializada), pois privado,
ao
mesmo Intimidade.
percebe os indivíduos apenas tempo.
Intensidade emocional.
como
forma
atomizada,
Serviços recíprocos prestados.
desconectado
das
relações
sociais; e a estruturalista e
marxista (super-socializada), onde
os indivíduos são considerados
dependentes total de seus grupos
sociais e do sistema social a que
pertencem.
Resultam da simpatia
de uma pessoa ou
grupo social e do
sentido de obrigação
com relação à outra
pessoa ou grupo social.
Benefícios
Individuais e para a
classe social a que
pertencem os indivíduos
beneficiados.
A dimensão política se sobrepõe à Individuais e coletivos.
dimensão econômica: as tradições
cívicas permitem-nos prever o
grau de desenvolvimento e não o
contrário.
A
“performance
institucional” está condicionada
pela comunidade cívica.
Ênfase
Parte do princípio de que o capital
e suas diversas expressões
(econômico, histórico, simbólico,
cultural,
social)
podem
ser
projetados a diferentes aspectos
da sociedade capitalista, desde
que seja considerado social e
historicamente
limitados
às
circunstâncias que os produzem.
Adepto da teoria da escolha
racional (e de sua aplicação na
sociologia), acreditava que os
intercâmbios sociais seriam a
soma de interações individuais.
25
Conjunto de recursos acessíveis a
indivíduos ou grupos enquanto são
de uma rede de conhecimento
mútuo. Esta rede é uma estrutura
social e tem aspectos (relações,
normas e confiança) que ajudam a
desenvolver a coordenação, a
cooperação e a produzir benefícios
comuns.
David
Robinson
Benefícios comuns (que
satisfaçam, ao mesmo
tempo, o indivíduo e a
coletividade, por meio
de negociação).
e
Grupos e redes de relacionamento.
Confiança e solidariedade.
Ação coletiva e cooperação.
Informação e Comunicação.
Coesão social e inclusão.
Acréscimo de força e política de
ação.
Relações de confiança.
Oportunidades de interação
lugares de encontro.
Obrigações recíprocas
Acesso ao conhecimento.
Benefícios
Indicadores
De individual a social Confiança.
(de acordo com a Reciprocidade.
tipologia
de
capital Cooperação.
social).
Parte do princípio que capital Benfícios comuns.
social não é uma entidade única,
mas é melhor definido como
sendo multidimensional.
Ênfase
Capital social refere-se a condutas
e estratégias. Capital cultura diz
respeito a valores, princípios,
normas e visões de mundo.
Tipologia
do
capital
social:
individual, grupal, comunitário, de
ponte, de escada e da sociedade
como um todo.
O capital social é cumulativo e
pode aumentar em função de:
ambiente legal e político, termos
do compromisso (são os valores
que dominam no sistema social),
regras do compromisso (formas
assumidas pelas relações sociais
e transparência das informações),
processos
de
interação
(deliberação).
Quadro 1: Sínteses de algumas definições, ênfases, benefícios e variáveis do capital social
Fonte: Adaptado de Milani (2003, p. 18-19).
Grootaert et al Definido em termos de grupos,
(2004)
redes, normas e confiança que as
pessoas têm entre elas para
propósitos produtivos.
Definição
Corresponde ao conteúdo de certas
relações sociais – aquelas que
combinam atitudes de confiança
com condutas de reciprocidade e
cooperação – que proporciona
maiores benefícios àqueles que o
possuem.
Autor
John Durston
26
27
2.3 Formas e medição dos aspectos estruturais e cognitivos do Capital Social
Há dois tipos distintos de capital social – o estrutural e o cognitivo. O capital
social estrutural facilita o fluxo da informação, as ações coletivas e as decisões que
necessitam ser tomadas através da determinação de funções, redes sociais ou
outras estruturas sociais suplementadas por regras, procedimentos e precedentes. É
relativamente uma construção externa. Já o capital social cognitivo refere-se ao
partilhar das normas, valores, confiança, atitudes e crenças. Essas formas não são
necessariamente complementares. Como exemplo, uma associação comunitária não
atesta uma conexão forte entre as pessoas desta comunidade, às vezes, pela
associação não ser voluntária ou, também, por outros fatores externos utilizados
para a criação da associação. (KRISHNA; UPHOFF, 1999). Uma definição de Uphoff
(1999 apud WALLIS et al, 2003) é ilustrada na Tabela abaixo, onde o autor
apresenta a separação entre várias dimensões do capital social estrutural e
cognitivo.
Tabela 2: Dimensões do capital social estrutural e cognitivo
Estrutural
Cognitivo
Origens e manifestações
Papéis e regras
Normas
Redes e outras formas de Valores
relacionamento interpessoal
Atitudes
Procedimentos e precedentes
Crenças
Domínios
Organização social
Cultura cívica
Fatores Dinâmicos
Conexões horizontais
Confiança,
solidariedade,
Conexões verticais
cooperação, generosidade
Elementos Comuns
Expectativas que conduzem ao comportamento cooperativo que,
em troca, produzem benefícios mútuos
Fonte: (UPHOFF, 1999, apud WALLIS et al, 2003, p. 5).
Em pesquisa posterior, Krishna e Uphoff (1999) dividem as formas de capital
social de duas maneiras, como formas primárias e secundárias. Para o capital social
estrutural, as formas primárias são aquelas relativamente objetivas e observáveis,
tais quais os papéis e regras, e os relacionamentos pessoais. Como forma
secundária, encontram-se os procedimentos e precedentes, pois os processos
anteriores para se chegar às formas primárias, como sendo ações que estabelecem
a validade e o valor de certos papéis e regras. As normas, valores, atitudes e
crenças, que compõem o capital social cognitivo criam e reforçam uma
28
interdependência positiva das funções de utilidade e que suportam ações coletivas
de benefícios mútuos.
De maneira simples, esses dois componentes poderiam ser caracterizados
respectivamente como o que as pessoas fazem e o que as pessoas sentem em
termos de relações sociais. (HARPMAN; GRANT; THOMAS, 2002).
Krishna e Uphoff (1999) dividem, também, o capital social cognitivo em duas
formas principais: primárias e secundárias. A forma primária está dividida em: a)
orientação para com os outros – como pensam e agem com os outros e; b)
orientação para ação, quanto cada um está disposto a agir. A orientação para com
os outros (a) inclui as variáveis confiança/reciprocidade – como meios para se
relacionar com os outros; e solidariedade – como os fins para se relacionar com as
outras pessoas. A orientação para ação (b) é composta pelas variáveis cooperação
– meios e, pela generosidade – que é a finalidade desta ação para com os outros.
Para ilustrar as diferenças entre as formas primárias e secundárias do capital social
estrutural e cognitivo, a Tabela abaixo foi proposta, com base no trabalho de Krishna
e Uphoff (1999).
a) Procedimentos
b) Precedentes
Honestidade, participação, governo democrático, preocupação pelo futuro.
Fonte: Proposto pela autora, adaptado de Krishna e Uphoff (1999).
Formas Secundárias
• Generosidade (fins)
Normas – de comportamento altruístico, contribuindo para os outros em vez só de si
próprio.
Valores – agir generosamente, reconhecimento que isto (se houver reciprocidade) irá
beneficiar ao mesmo tempo em que irá criar satisfação para o bem-estar dos outros.
Atitudes – que sendo generoso é bom, natural e benéfico, que ações generosas serão
boas para todos, inclusive para si mesmo.
Crenças – que os outros irão agir generosamente e não irão tirar vantagem da
generosidade dos outros além de algum limite razoável.
• Cooperação (meios)
Normas – de cooperação, trabalho mais em grupo que separado.
Valores – sendo cooperativo, trabalhando com os outros para o bem-comum.
Atitudes – de cooperação, estando disposto a obrigar, acomodar-se e aceitar tarefas e
indicações para o bem comum.
Crenças – que os outros vão cooperar e que esta cooperação irá levar ao sucesso.
b) Orientação para ação:
Tabela 3: Formas primárias e secundárias do capital social estrutural e cognitivo
Estrutural
Cognitivo
Formas Primárias
a) Papéis (formais e informais) e Regras a) Orientação para os outros:
(explícitas e implícitas)
• Confiança/Reciprocidade (meios)
Normas – de reciprocidade.
• Decisões a serem tomadas (metas) Valores – pessoa confiável.
• Mobilização de recursos e gestão
Atitudes – de confiança.
• Comunicação e coordenação
Crenças – que os outros vão retribuir.
• Resolução dos conflitos
• Solidariedade (fins)
Normas – de ajuda ao próximo.
b) Relações Sociais
Valores – que mantém solidariedade entre as pessoas mesmo em um grupo grande.
Atitudes – de benevolência e lealdade entre os que estão no grande grupo.
Crenças – que os outros irão manter as normas de solidariedade e estar disposto a fazer
alguns sacrifícios para ajudar os outros.
29
30
Um dos aspectos essenciais para a consolidação de projetos coletivos que
necessitam do engajamento de muitas pessoas em ações específicas é o
sentimento de confiança mútua que precisa existir em maior ou menor escala entre
as pessoas que estão interagindo. Construir confiança está ligado de forma direta à
capacidade de relacionamento com os outros, percebendo-os e incluindo-os em seu
universo de referência. Esse tipo de inclusão diz respeito à atitude tão simples e, por
vezes, tão esquecida que é justamente a de reconhecer no outro, suas habilidades,
competências, conhecimentos, hábitos etc. É essa reciprocidade que rege as
relações informais e formais na comunidade, sendo a base das relações e
instituições de capital social. (FERRAREZI, 2003).
Confiança pode ser importante para a economia crescer, pois se as pessoas
que estão participando da transação confiam uma nas outras, o custo das
transações é mais baixo. Quando o fator confiança encontra-se presente, o número
das transações pode ser reforçado e, com isso, o custo diminui e pode, também,
incrementar a produção em sociedade. (PALDAM; SVENDSEN, 1999). Para Putnam
(1993) a confiança garante que ninguém irá levar vantagem sobre outro. No geral,
ela é mais fácil de ser estabelecida em um grupo pequeno do que no grande grupo,
principalmente, por causa da relação direta que há entre os participantes de um
grupo reduzido. (PALDAM; SVENDSEN, 1999). E é neste aspecto que entram as
redes sociais, pois fomentam a confiança, através da ligação entre os grupos, pois
se há confiança na relação com um determinado grupo, este grupo também irá
transmitir isso a outro e assim sucessivamente.
Capital social pode ser melhor entendido, de acordo com Hutchinson e Vidal
(2004, p. 158), como uma coleção de constructos que os sociólogos e estudiosos de
comunidades têm falado por um longo tempo: comprometimento dos cidadãos,
confiança interpessoal e ação coletiva efetiva, pois “é a ligação entre esses
conceitos que faz a idéia de capital social nova e importante”.
O Saguaro Seminar on Civic Engagement in America, da Universidade
Harvard Kennedy School of Government, coordenado por Robert Putnam, apresenta
três importantes razões para que se meça o índice de capital social. São elas:
tangibilização do capital social, incremento no investimento em capital social,
construção de mais capital social.
31
1. Tangibilização: a medição ajuda a transformar o conceito de capital social em
algo mais tangível para as pessoas que o consideram difícil ou abstrato;
2. Aumento do próprio investimento em capital social, alocando seus recursos, uma
vez que as comunidades começam a ver seus resultados;
3. Ajuda fundações e organizações comunitárias a construir mais capital social, pois
todas as atividades que envolvem pessoas podem auxiliar na criação de capital
social.
Para Hutchinson e Vidal (2004) qualquer medição do capital social em
comunidades
precisa
avaliar
quatro
indicadores
chaves.
Primeiro,
o
comprometimento da comunidade, depois as características das redes sociais, em
terceiro, o nível de confiança e, por último, a infra-estrutura organizacional da
comunidade. De acordo com os autores, uma aproximação rigorosa para medir
capital social envolve uma combinação de pesquisas com a comunidade e com a
organização que se pretende estudar, através de entrevistas qualitativas com os
atores das organizações. A Tabela 4 contém os itens básicos para o
desenvolvimento de uma pesquisa com foco na determinação do capital social de
uma comunidade, proposta por Hutchinson e Vidal (2004).
32
Tabela 4: Medidas de capital social no nível comunitário
Medidas de Capital Social no Nível Comunitário
Compromisso
Horizontal
Interação entre os vizinhos (quantidade e qualidade)
Atividade voluntária na vizinhança
Participação em organizações baseadas na vizinhança
Uso das facilidades da vizinhança
Compromisso
Vertical
Interação informal fora da vizinhança
Atividade voluntária fora da vizinhança
Participação em organizações fora da vizinhança
Uso das facilidades fora da vizinhança
Redes Sociais
Tamanho da Rede (quantas pessoas?)
Diversidade da Rede (Quanto diverso é em rendimento, raça, etnicidade, idade, contexto
social?)
Local da Rede (Os membros da rede residem dentro ou fora da vizinhança?)
Proximidade da rede (Quão próximos são?)
Uso da Rede (Para que eles usam suas redes?)
Confiança
Confiança em outros residentes
Confiança nas organizações da vizinhança
Confiança nas organizações do Terceiro Setor
Confiança em agências da cidade
Infra-estrutura organizacional
Número, tipo e tamanho das organizações
Número de associados
Parcela de participação
Diversidade dos associados
Distinção da efetividade das organizações
Distinção do status da organização fora da vizinhança
Fonte: (HUTCHINSON; VIDAL, 2004, p. 160)
Estudiosos como Grootaert e Van Bastelaer (2001) expõem que o desafio
para o pesquisador é conseguir dar um conteúdo significativo à noção de capital
social em cada contexto que for pesquisado, para que, dessa forma, possa definir os
indicadores satisfatórios.
Sendo assim, pode-se fazer uma relação das propriedades dos indicadores,
conforme apresentado por Grootaert (1998 apud LIMA, 2003):
33
– ser desenvolvido de acordo com premissas conceituais e operacionais;
– ser definido claramente e de fácil entendimento;
– permitir a agregação (por exemplo, de comunidade para estado, de
estado para nação, etc);
– ser objetivo (deve ser independente de quem coleta os dados);
– solicitar informações razoáveis, isto é, dados disponíveis ou dados que
podem ser coletados a um custo limitado e dentro da capacidade de
processamento estatístico do país; e,
– ser limitado em número.
Os indicadores de capital social podem se distinguir tanto geograficamente
quanto setorialmente. Como exemplo, as medidas de afiliação a associações foram
consideradas um fator relevante no estudo desenvolvido na Indonésia, Quênia e em
países da região andina. Mas o mesmo não aconteceu em países como Rússia e
Índia, onde os relacionamentos informais são considerados mais importantes. Deste
modo, esta escolha nos estudos de casos deve considerar as manifestações
específicas de capital social na área de estudo ou em canais específicos, como
associações, redes de relacionamentos etc. (LIMA, 2003).
Neste sentido, como a pesquisa tem enfoque exploratório, optou-se por
estudar os indicadores propostos por Grootaert et al (2004): grupo e rede de
relacionamentos;
confiança
e
solidariedade;
ação
coletiva
e
cooperação;
comunicação e informação; coesão social e inclusão; acréscimo de força e ação
política.
Para Grootaert et al (2004) estes indicadores devem ser estudados
observando algumas informações, já adaptadas para este estudo específico em
organização do Terceiro Setor:
1. Grupo e rede de relacionamentos: como é a categoria que é mais comumente
associada ao capital social, as questões precisam considerar a natureza e a
extensão da participação das pessoas nas organizações sociais, suas contribuições
e como consideram a diversidade dos membros do grupo, entre outras.
2. Confiança e Solidariedade: questões sobre confiança nos membros do grupo e
comunidade e as percepções do respondenten quanto a solidariedade dos
integrantes do grupo.
3. Ação Coletiva e Cooperação: explorar se os membros tem participado com os
outros na organização em projetos coletivos.
34
4. Informação e Comunicação: acesso aos meios de comunicação e recebimento
de informações sobre atividades da organização.
5. Coesão Social e Inclusão: como as pessoas que fazem parte da organização se
sentem em relação aos outros participantes e como é o nível de violência dentro
da ONG.
6. Acréscimo de Força e Ação Política: as questões desta seção devem explorar
a noção de felicidade dos membros, a capacidade deles em influenciar o local
onde estão e a participação política da organização.
Cabe ressaltar que o interesse pelo estudo do capital social também é
detectado pelas instituições internacionais que desenvolvem programas com este
foco. Destacam-se como organizações: o Banco Mundial Social Capital Initiative, a
FAO (Food and Agricultura Organisation), o CEPAL (Comissão Econômica para a
América Latina) e a OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e
Desenvolvimento). O quadro 2 expõe a conceitualização de capital social, seus
objetos, métodos e indicadores de acordo com as definições de organizações
internacionais, adaptado de Milani (2003).
Seu foco principal dá-se nas
relações do capital social com
pobreza
urbana,
políticas
públicas,
gênero
e
sustentabilidade ambiental rural.
Capacidade efetiva de mobilizar,
produtivamente em prol de grupo
social, recursos associativos que se
encontram em redes sociais às
quais têm acesso indivíduos desse
grupo.
CEPAL: Divisão de
Desenvolvimento
Social
Referências
• Coesão social, ação coletiva;
• Identificação comum com as
instituições e com o grupo (formas
de governar, expressão cultura e
comportamento
social,
participação institucional);
• Cooperação,
colaboração,
empoderamento,
participação,
consciência;
• Ligações entre grupos;
• Acumulação de capital social
(mobilização de recursos, forças,
pessoas e conhecimento).
• Estabilidade das relações sociais
(normas de comportamento e
trocas);
• Coesão social;
• Capacidade de participação na
vida econômica e social;
• Interesses coletivos;
• Criação de sinergias e de
lideranças.
Não foram definidas.
Robert
São referencias importantes: John
Durston e Lindon Robison.
Publicação inicial Tof the he WellBeing the Nations: The Role of
Homan and Social Capital, em que
são referências principais: Coleman,
Putnam e Fukuyama.
A principal referência é feita a
Douglas North.
• Forma estrutural (funções, regras, Os autores citados são
redes sociais, procedimentos e Putnam, Narayan e Portes.
precedentes);
• Forma cognitiva (normas, valores,
atitudes,
crenças,
confiança/
reciprocidade,
solidariedade,
cooperação, generosidade).
Variáveis
Quadro 2: Definições de capital social, objeto, método e variáveis de acordo com Organizações e Programas Internacionais.
Fonte: Adaptado de Milani (2003, p. 27)
O
método
é
dividido
em
seminários com formuladores de
políticas públicas e projetos de
medição do capital social. A
comparabilidade dos instrumentos
de medida é uma preocupação
importante para a OCDE.
Redes e normas, valores e
convicções comuns que facilitam a
cooperação dentro de e entre
grupos sociais.
OCDE: Centro de
Pesquisa em
Educação e
Inovação
Dois objetos: as fontes de capital
social (família, sociedade civil,
comunidades, etnia, setor público,
gênero) e as relações possíveis
entre capital social e várias
questões de desenvolvimento.
Medida do capital social é
essencial para compreender o
papel desta ‘externalidade’ no
desenvolvimento econômico e
social.
Viés
do
desenvolvimento
institucional e dos mecanismos de
participação:
emponderamento,
participação nos processos de
tomadas de decisão e o fomento
de redes sociais, sobretudo,
cooperativas de meio rural. São
trabalhadas
metodologias
de
avaliação, de montagem e de
gestão de projetos.
Refere-se a instituições, relações e
normas que consubstanciam a
qualidade e a quantidade de
interações
sociais
em
uma
sociedade. Não é somente o
somatório das instituições que
constituem uma sociedade, mas é a
cola que as mantém unidas.
Refere-se ao conjunto composto de
coesão social, identificação comum
a
normas
de
governança,
expressão
cultural
e
comportamento social, os quais
tornam a sociedade algo mais do
que o somatório dos indivíduos.
Objeto e Método
Definição
FAO: Programa
relativo a Instituições
Organizações e
Programas
Banco Mundial:
Social Capital
Initiative.
35
36
Estudos sobre capital social têm sido feitos em várias partes do mundo e com
enfoques variados. Regiões como Bavária e Inglaterra (SPENCE et al, 2003a,
2003b), sudeste da Ásia e Caribe (ADGER, 2003), Estados Unidos e Austrália
(NICHOLSON et al, 2004), Inglaterra (BROOK, 2005), Pernambuco (SILVA;
OLIVEIRA, 2004); Espanha (BUENO et al, 2004); Dinamarca e Polônia
(CHLOUPKOVA et al, 2003), Austrália (ONYX; BULLEN, 2000) já foram objetos de
estudo do tema.
Os estudos analisados apresentaram objetivos diferenciados, dentre os quais se
destaca um artigo focado em pesquisa qualitativa comparativa de Spence et al (2003a,
2003b), com foco na avaliação do capital social em pequenas e médias empresas.
Chloupkova et al (2003) fizeram uma pesquisa comparativa entre Dinamarca e Polônia,
comparando movimentos cooperativos de agricultores nestes países. O resultado
apontou que o capital social desses movimentos foi construído durante o século
XIX,
através de um longo processo, mas encontra-se significativamente mais alto na
Dinamarca do que na Polônia, pois, para os autores, o regime comunista da Polônia
destruiu a acumulação original de capital social. (CHLOUPKOVA et al, 2003).
Bueno et al (2004) expõem que podem ser distinguidas quatro abordagens
teóricas principais sobre o estudo do capital social: a) aquela que é derivada das
teorias do desenvolvimento econômico; b) a que tem uma aproximação através da
ética e responsabilidade social; c) governança corporativa e; d) a abordagem através
do capital intelectual. Essas abordagens estão caracterizadas na Tabela 5 a seguir.
37
Tabela 5: Abordagens do capital social, idéias principais e contribuições relevantes
Abordagens do Capital Social Idéias Centrais
Contribuições Relevantes
Teorias do desenvolvimento
Confiança,
comportamento Putnam (1994); Knack e Keefer
econômico
cívico
e
associativismo (1997);
Stiglitz
(1998);
fortalecem as redes sociais, Chloupkova et al (2003); Onyx
contribuindo
para
o e Bullen (2000).
desenvolvimento
econômico
sustentável.
Responsabilidade social e ética Capital social expressa o grau Coleman
(1990);
Newton
de
integração
social
e (1997); Chang (1997); Kawachi
responsabilidade em respeito à et al (1997), Bullen e Onyx
sociedade como um todo e aos (1998); Joseph (1998); Cortina
agentes e grupos. É baseado (2000); Baron (2001).
em valores e atitudes, como
confiança,
cooperação,
segurança, princípios éticos,
compromisso e ética.
Governança Corporativa
Códigos de ética e governança Baas (1997); Sen (1997);
corporativa tem um impacto Zingales (2000); Rajan e
positivo na criação de capital Zingales (2000).
social,
estimulando
a
solidariedade e OVERCOMING
imperfeições do mercado.
Capital Intelectual
Capital social é um componente Nahapiet e Ghoshal (1996);
do
capital
intelectual.
É Koening (1998); Prusak (1998);
baseado em uma série de Lesser e Prusak (1999); Lesser
valores e indicadores como (2000); Cohen e Prusak (2001);
confiança,
lealdade, Kenmore (2001); Lesser e
sinceridade,
compromisso, Cothrel (2001); McElroy (2001).
transparência,
solidariedade,
responsabilidade, honestidade
e ética.
Fonte: Adaptado de Bueno et al (2004, p. 560).
Milani (2003) aponta em sua pesquisa alguns estudos econômicos sobre
capital social, dentre os quais, os estudos feitos a partir da Pesquisa Mundial sobre
Valores por Inglehart; pesquisas sobre capital social e pobreza, efetuadas na
Tanzânia por Naryan, que apresentaram como resultado a relação de quanto maior
o nível de capital social menor o nível de pobreza. Cita, também, os estudos
comparativos desenvolvidos por Putnam (1993) sobre o norte e o sul da Itália e os
Estados Unidos (1995, 1998). Portes (1998) é outro pesquisador citado, que estudou
em 1995 comunidades de grupos coreanos e mexicanos nos EUA, cujo resultado foi
a conclusão de que os coreanos possuem uma estrutura social mais articulada, o
que acaba por facilitar o desenvolvimento das comunidades as quais estão
inseridos.
Pesquisa para medir o capital social em cinco comunidades australianas foi
desenvolvida por Onyx e Bullen (2000). Um questionário com 68 itens foi aplicado
em cerca de 1200 adultos nas cinco comunidades, sendo duas rurais, duas situadas
38
em áreas metropolitanas e outra localizada numa cidade próxima a Sidney. As
respostas foram subjetivas e foram analisadas através de estatística, envolvendo
valores analíticos. No resultado, três dos fatores específicos – participação da
comunidade, redes sociais e confiança – apresentaram resultados significantemente
diferentes nas cinco comunidades. As duas comunidades localizadas nas áreas
rurais apresentaram maior nível de capital social do que as outras três. Foi detectado
através da pesquisa, nestes locais, maior nível de participação na comunidade e nas
redes de relações com a vizinhança. Além disto, os níveis de sentimento de
segurança e confiança também se apresentaram em números mais elevados. Em
contrapartida, nas áreas urbanas, os níveis mais altos apareceram para Agência
Social, pró-atividade no contexto social e, também, para tolerância a diversidade.
Os autores relacionam os resultados com o conceito de Colemann (1988), que
afirma que o capital social é maior em comunidades pequenas e, portanto, mais
fechadas. Os resultados também apresentaram a falta de relação do capital social com
as variáveis como idade, sexo, níveis de trabalho, salário ou qualificação. Os únicos
resultados relevantes neste tópico, de acordo com os pesquisadores, foram que as
mulheres se sentem menos seguras que os homens; que as pessoas que têm mais
filhos participam mais na comunidade e que quanto mais tempo moram na comunidade,
mais fortes são os laços de vizinhança. Mas salientam que, fora essas exceções, o
capital social é evidenciado igualmente por ricos e pobres, homens e mulheres, de
todas as idades e de todos os níveis educacionais. (ONYX; BULLEN, 2000).
Finalizando, capital social pode se referir às conexões entre os indivíduos,
que aumentam a produção do capital físico e humano. E para Fernandes (2002, p.
377), analisando por este ponto, o capital social está fortemente ligado ao que
muitos conceituam como virtude cívica, mas para o autor o diferencial é que capital
social atrai a atenção para o fato de que “virtude cívica é mais poderosa quando
inserida numa densa rede de relações sociais recíprocas”.
2.4 Terceiro Setor: contextualização histórica
As organizações que fazem parte do Terceiro Setor surgem para preencher
uma lacuna deixada pelo Estado, em função da crescente demanda por programas
39
sociais. A falta de eficiência de setores como educação, programas de saúde,
enfraquecimento da estrutura familiar, corroboram para as ações dessas
organizações no sentido de minar conseqüências negativas para a sociedade, em
função dessas deficiências que o Primeiro Setor já não consegue suprir. Para Iizuka
e Sano (2004), foi frente ao crescimento das desigualdades sociais, que estão
inseridas em um contexto de exclusão social, e diante da pressão conseqüente por
parte dos cidadãos no sentido de pedir por soluções para as diferentes realidades,
que o Terceiro Setor emergiu como uma alternativa aos problemas sociais e, de
maneira progressiva, tem ocupado alguns espaços, tidos antes, como exclusivos do
Estado.
Esse cenário tem se configurado com base em alguns fatores como: a
transferência crescente das políticas sociais para o poder local; a própria articulação
da sociedade civil em torno de organizações que venham a representar seus
anseios e interesses; a institucionalização de alguns movimentos sociais; e o
investimento vindo dos organismos internacionais em projetos e iniciativas
promovidas na sociedade civil.
Diferentemente do Primeiro Setor, que é o Governo e do segundo,
representado pelas empresas privadas, o Terceiro Setor é um paralelo entre esses
dois, formado por iniciativas privadas e por voluntários, onde a ênfase está no social
e não no comercial, no fim público e não no privado, onde as pessoas que fazem
parte entendem que a participação delas ajudará a fomentar a mudança necessária.
A Tabela 6 tomada de Brandão et al. (1998, p. 11) sintetiza as diferenças entre
Estado, Mercado e Terceiro Setor.
Tabela 6: Tripé Estado-Sociedade-Mercado
o
o
o
Ambiente
1 Setor (Estado)
2 Setor (Mercado)
3 Setor (Sociedade
Organizada)
Agente
Governo e poderes
públicos
Empresas
Organizações nãolucrativas, nãogovernamentais
Finalidade precípua
Regulação
Lucro
Emancipação e Justiça
Social
Iniciativas
Públicas com fins
públicos
Privadas com fins
privados
Privadas com fins
públicos
Fonte: (BRANDÃO; SILVA; GUADGNIN, 1998, p. 11)
40
O Terceiro Setor se destaca com a criação de associações, fundações e
instituições cada vez mais presentes na sociedade. Mas os seus princípios, valores
e atributos são antigos, tais como a caridade e a filantropia. Há quem diga, também,
que as ações filantrópicas e associativas partiram da democracia, marcada pela
igualdade dos indivíduos, onde o mais fraco nada podia fazer por si mesmo, assim
sendo, os membros dessas sociedades uniam-se aumentando o seu poder.
Figueiró (2001, p. 74), quando descreve a política adotada pelo Terceiro
Setor, relata que esta política começa a partir da “integração entre o setor
econômico, político e entidades civis sem fins lucrativos” e através dela é “possível
criar condições efetivas para superação dos problemas sociais que atingem grande
parte da sociedade”.
Já Falconer (1999) reforça a idéia de que as organizações que compõem o
terceiro setor evidentemente não são novas, sendo nova a maneira de olhá-las
como parte de um setor que busca igualdade em relação ao Estado e ao Mercado.
Muitas discussões ainda devem ser geradas por causa das polêmicas que
envolvem as diferentes conceituações do fenômeno associativo. Da mesma maneira
que as críticas ao desenvolvimento do terceiro setor devem aumentar na mesma
proporção em que este setor ganha vulto. (TEIXEIRA, 2004).
2.5 Um resgate das origens do termo Terceiro Setor
De acordo com Smith (1991), o termo ‘Terceiro Setor’ originou-se nos EUA,
nos anos 70, para identificar, na sociedade, o setor em que atuavam as
organizações sem fins lucrativos, voltados para produção e/ou distribuição de bens e
serviços públicos. Para Tenório (1999), o Terceiro Setor é uma expressão inglesa,
adaptada no Brasil a partir dos anos 80 para reunir, em um mesmo conceito,
entidades de diversas naturezas, com uma mesma ideologia. Da Europa continental,
segundo Fernandes (1997), vem o predomínio da expressão ‘Organizações Não
Governamentais’ (ONGs). Já na América Latina, inclusive no Brasil, é mais usual
falar-se de ‘sociedade civil’ e suas organizações.
Para Salamon (1998), nos EUA houve a proliferação de grupos com raízes no
Terceiro Setor em função da queda, da participação da população na política, nas
41
eleições, na filiação partidária e associação sindical. O crescimento desses grupos
foi pautado na crise de confiança no Estado e, também, nas mudanças sociais e
tecnológicas.
Crises estas, que são para Salamon (1994, 1998) e Falconer (1999) de nível
mundial e mudanças revolucionárias, citadas pelos autores, acabaram por limitar o
poder do Estado e abrir espaço para o aumento das ações voluntárias organizadas.
Para estes autores, são quatro as crises encontradas na literatura: a) a crise do
moderno welfare-state (SALAMON, 1994, 1998; FALCONER, 1999), por causa de
um governo super carregado e burocratizado que não estava mais suprindo as
diversas tarefas sociais que lhe estavam sendo designadas; b) crise de
desenvolvimento (SALAMON, 1994, 1998), principalmente nos países em
desenvolvimento, o que praticamente impossibilitou o financiamento de atividades
em prol do crescimento por parte do Estado; c) crise ambiental global (SALAMON,
1994, 1998; FALCONER, 1999), por causa da pobreza nos países do Terceiro
Mundo, muitas iniciativas foram tomadas para resolver o problema de forma
imediata, destruindo o meio ambiente e os recursos naturais, o que fez com que os
cidadãos se tornassem frustrados com as atitudes do governo e passassem a
organizar suas próprias iniciativas, e; d) a crise do sistema socialista (SALAMON,
1994, 1998; FALCONER, 1999), que apresentou ao mundo as falhas daquele
modelo de planejamento focado exclusivamente no estado para a gestão da
economia.
Duas mudanças revolucionárias foram citadas por Salamon (1994, 1998)
como sendo revolução das comunicações, a partir dos anos 70 e 80, que veio a
favorecer o acesso às regiões mais remotas do mundo, através da tecnologia que
possibilitou um incremento nas taxas de alfabetização e educação; gerando o
crescimento econômico da classe média urbana, fazendo com que as
populações urbanas crescessem e se unissem em projetos coletivos, o que foi
essencial para a emergência de organizações privadas sem fins lucrativos, criando,
desta maneira, uma revolução associativa global. Essa revolução, nas últimas
décadas, mobilizou homens e mulheres das mais variadas classes sociais para
juntos promoverem causas como a preservação do meio ambiente, a defesa dos
direitos humanos e, também, a ajuda aos necessitados onde quer que eles se
encontrassem, nas localidades próximas ou em países de outras nacionalidades.
42
Para Salamon (1994, 1998), entender este processo de revolução associativa
que parece estar em nível mundial, será fundamental para, num primeiro momento,
compreender o processo dramático que está em curso e o que representa sob a
forma de novos e imensos desafios. O autor expõe a importância deste fenômeno
para o século XX, fazendo uma analogia com o que representou a emergência do
Estado-nação para o fim do século XIX, caracterizando o Terceiro Setor como uma
imponente rede de organizações privadas autônomas. Mas Falconer (1999, p. 8)
caracteriza esta afirmação de Salamon como ambiciosa, justificando que em função
da ampliação “do número e do papel das organizações da sociedade civil [...] tem
atraído a atenção de estudiosos e leva-os a fazer afirmações ambiciosas, como esta
frase de Lester Salamon”.
Para Alves (2002a), foi da revolução associativa de Salamon, que nasceu o
termo Terceiro Setor – que considera guarda-chuva – no qual estão inseridas muitas
modalidades de ação e formas de organização, sendo este termo recuperado da
literatura dos anos 70, para ser usado como uma ponta, que explica em termos
globais, a emergência das organizações não-lucrativas.
No Brasil pouco se sabe sobre o início do Terceiro Setor, é reconhecida
apenas a importância da Igreja e mesmo do Estado centralizador para o surgimento
dessas
instituições.
Recentemente,
abre-se
espaço
para
a
criação
e
o
desenvolvimento das ONGs, oriundas de movimentos sociais, mas, ainda, sem uma
definição conceitual sucinta. Além disto, estas organizações ainda sofrem com
alguns problemas, como a suspeita que a comunidade tem sobre as atividades não
lucrativas. (TEIXEIRA, 2004). Os primeiros estudos sobre Terceiro Setor no Brasil
foram efetuados sobre a crise dos movimentos sociais, do protagonismo das ONGs
nos anos 80 e com a “institucionalização do associativismo civil”, trazendo para o
centro do debate a idéia de uma nova maneira de associativismo nos anos 90
(FIGUEIRÓ, 2001, p. 74).
No Brasil, a partir de 1992, em função da conferência Rio-92, a expressão
ONG – Organização Não-Governamental passou a ser utilizada diariamente nos
meios de comunicação. A expressão foi incorporada ao vocabulário, ao lado de
conceitos como desenvolvimento sustentável, biodiversidade e outros, que, de uma
forma ou de outra, estavam relacionados a movimentos de preservação ambiental, à
defesa de direitos e à preocupação em organizar a participação da população em
torno da temática do desenvolvimento. É Leilah Landim quem utiliza a primeira
43
referência acadêmica do tema, em 1988, na publicação do trabalho realizado pelo
ISER: Sem Fins Lucrativos – As Organizações Não-Governamentais no Brasil.
(FALCONER, 1999).
Ressaltando-se entre diversos exemplos e práticas, no Brasil, a Campanha
contra a Fome e a Miséria, promovida pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a
partir do início dos anos 90, que mobilizou universidades, empresas e cidadãos em
torno de uma das questões que mais assolam a população mais pobre, a fome.
Essa iniciativa merece destaque, não só pela temática, e sim pela capacidade de
mobilização da população brasileira, assim como, também, pelos resultados que
obteve. (ILZUKA; SANO, 2004).
2.6 Dificuldades para conceituar o Terceiro Setor e as organizações que o compõem
Na tentativa de conceituar Terceiro Setor vários autores fizeram suas
definições calcadas em negativas do tipo não visa lucro, não é mercado e não é
governamental. (CARDOSO, 1997). Essa indefinição conceitual é perceptível
através das leituras dos vários conceitos encontrados na literatura. Desta forma,
analisar o Terceiro Setor não é de todo fácil, uma vez que ONG’s são extremamente
diversificadas e com conceitualizações ainda obscuras. Pensamento análogo
possuem Alves e Koga (2003), pois, para os autores, a definição não é feita somente
por um corpo teórico exclusivo; e sim pelo oposto, pois representa um esforço
teórico de diferentes autores, de diferentes épocas e linhas. Em função das várias
denominações dadas às organizações pertencentes ao Terceiro Setor, Coelho
(2000) expõe a multiplicidade de denominações apenas para demonstrar a falta de
precisão conceitual, o que acaba por revelar a dificuldade de colocar em parâmetros
comuns toda a diversidade de organizações que compõem o terceiro setor. Salamon
(1998) destaca que além da falta de definição conceitual há outro fator agravante, a
variação do tratamento jurídico nas estruturas legais de cada nação.
Portanto, para Salamon (1994, p. 5; 1998, p. 109) Terceiro Setor é “uma
imponente rede de organizações privadas autônomas, não voltadas à distribuição de
lucros para acionistas ou diretores, atendendo propósitos públicos, embora
localizada à margem do aparelho formal do Estado”. O autor vai além e caracteriza
44
as atividades do Terceiro Setor como sendo as pessoas que estão formando
associações, fundações e/ou instituições similares para que possam prestar
serviços, defender seus direitos, promover o desenvolvimento da economia local,
impedir a degradação ambiental e procurar realizar objetivos diversos da sociedade,
que ainda não foram atendidos ou deixados sob responsabilidade do Estado.
Para Fernandes (1997), o conceito de terceiro setor é resumido como o
composto de organizações não governamentais e sem fins lucrativos, criadas e
mantidas por voluntários comprometidos com as práticas da caridade, da filantropia
e do mecenato. Ou seja, é um conjunto de iniciativas particulares com um sentido
público.
Criar um conceito para o setor é, de acordo com Rosa (2003, p. 24),
“essencial para a construção de sua própria identidade”, para que haja
fortalecimento e que seja “capaz de melhor lidar com os problemas da sociedade
civil em que se insere”. Complementa Cardoso (1997, p. 7) quando descreve que “o
próprio conceito de Terceiro Setor, seu perfil e seus contornos ainda não estão
claros nem sequer para muitos atores que o estão compondo”.
A expansão do terceiro setor, da maneira como aconteceu nas últimas
décadas no Brasil, acarretou um leque diversificado das organizações que o
compõem, no que se refere à temática e às formas de atuação.
Para a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais –
ABONG – as organizações são agrupadas com particularidades distintas, como as
chamadas Sociedades Civis Não Lucrativas, as Associações, as Entidades
Filantrópicas e Beneficentes ou de Caridade, as Fundações e as Organizações Não
Governamentais. (CARRION, 2000).
A categoria das Organizações de Sociedade Civil compreende, também,
Igrejas Evangélicas, Hospitais, Universidades e Colégios Privados, que realizam
atividades de caráter social e, não raro, visam o lucro. Deste modo, são
organizações que pouco agregam para o equacionamento dos problemas sociais.
Para Carrion (2000), as Associações correspondem ao grupo de pessoas reunidas
em defesa de seus próprios interesses e pode-se citar, como exemplo, o clube de
mães, grupo de fãs, grupos comunitários, sindicados e cooperativas. Quanto às
Entidades Filantrópicas e Beneficentes sua ação se limita à doação de roupas, à
distribuição de alimentos ou à manutenção de abrigos, conforme o princípio da
caridade cristã.
45
As Fundações desenvolvem um tipo de atividade específico e são obrigadas
a prestar contas periodicamente. Em alguns casos, grandes empresas se valem das
Fundações para utilizarem como instrumento de marketing e promover a sua
imagem.
Uma das mais significativas contribuições para a caracterização dos limites
do Terceiro Setor e, conseqüentemente, a delimitação das organizações
que podem ser assim classificadas foi promulgada pelo Executivo na Lei
nº 9.970/70, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito
privado sem fins lucrativos, como Organizações de Sociedade Civil de
Interesse Público, institui e disciplina o termo parceria e dá outras
providências. (CARRION, 2000, p. 3).
As OSCIPs são o reconhecimento oficial e legal do que se entende
modernamente
como
ONG,
pois
são
marcadas
por
uma
transparência
administrativa. Desta forma, pode-se dizer que OSCIPs são ONGs, mas criadas por
iniciativa privada, que obtêm um certificado emitido pelo Poder Público Federal
quando comprovam o cumprimento de certos requisitos, especialmente, os que são
derivados de normas de transparência administrativas, conforme disposto pela Lei
nº 9.790/99. (ROSA, 2003).
Para Rosa (2003, p. 38), “instituto é um nome, uma designação, não uma
figura jurídica”, porque não existem na lei requisitos para se constituir um instituto.
Este nome pode ser utilizado livremente, como sendo nome ‘fantasia’, para alguma
associação civil.
2.7 Desafios comuns às organizações que compõem o Terceiro Setor
Salamon (1998) relata uma série de problemas que as organizações do
Terceiro Setor enfrentam, dentre os quais, indefinição conceitual, variado tratamento
jurídico, listagens oficiais incompletas, imperfeição de tratamento nas estatísticas
econômicas nacionais, existência de barreiras ideológicas que torna obscura a
identificação do papel e do tamanho do Terceiro Setor e welfare state.
A falta de clareza na conceituação colabora para apresentar uma série de
desafios ao Terceiro Setor. Salamon (1997) apresenta 04 desafios que classifica
como:
46
a) Desafio da legitimidade: para superar este problema, o autor sugere que sejam
disseminadas informações básicas ao conjunto de organizações que compõem o
Terceiro Setor. Também salienta a importância da educação pública, para
conscientizar a população sobre o que é Terceiro Setor e o que ele é capaz de
fornecer para a comunidade. Apresenta, também, a necessidade que o processo
de legitimidade tem de assumir forma legal. E, por último, a transparência
contábil como parte desse processo.
b) Desafio da eficiência: necessidade de mostrar a capacidade e a competência
deste setor. Pois, sendo organizações, elas acabam por enfrentar desafios de
ordem administrativa e de controle institucionais. Para mudar essa visão,
Salamon (1997) apresenta duas idéias, a utilização de mão-de-obra profissional e
a criação de instituições de infra-estrutura que possibilitarão garantir a eficiência
dessas organizações do Terceiro Setor em longo prazo.
c) O terceiro grande desafio é o da sustentabilidade, que está focada tanto em
ordem financeira como de capital humano.
d) O desafio da colaboração apresenta-se como o quarto desafio, que possui três
campos diferentes: colaboração com o Estado, colaboração com o setor
empresarial e colaboração em suas próprias fileiras.
Tenório (1999) também aponta outros quatro grandes desafios, sendo: a)
expansão das ações sociais para além das áreas em que a organização trabalha; b)
sair da clandestinidade e divulgar seu trabalho, suas atividades, mostrando o que
são, qual o motivo da luta e o que se propõem, podendo, com isso, aumentar o
número de adeptos; c) parar de lutar contra o Estado e promover parcerias com o
setor público e privado; d) obtenção de financiamentos, uma vez que órgãos
internacionais direcionam os esforços econômicos para regiões como a África e
Leste europeu, que vivem em condições precárias. Já para Drucker (1997), os
desafios são resumidos em dois tópicos: transformar doadores em contribuintes, e; a
criação de objetivos e identidade comuns com a finalidade de tornar cada pessoa
um membro atuante e dinâmico perante a sociedade e a organização.
Esses desafios podem encontrar no capital social uma fonte de resolução,
uma vez que o capital social possibilita a integração dos componentes ao processo
47
que as organizações estão inseridas. E uma vez que a execução de suas atividades
depende de doações e da ampliação das suas fontes de recursos tanto materiais
quanto de capital social.
Mas, independentemente dos problemas que integram essas organizações,
vários motivos se apresentam para deflagrar o crescimento do Terceiro Setor, os
quais, segundo Salamon (1998), são caracterizados como três formas de pressão:
pressões de baixo, de fora e de cima.
As pressões de baixo são exercidas na forma de movimentos populares; as
pressões de fora ou externas são exercidas através de ações de instituições
privadas e/ou públicas e, as pressões de cima, através de políticas de governo como
uma estratégia de redução do gasto social governamental, tal qual fizeram Reagan,
nos EUA e Tatcher na Inglaterra (SALAMON, 1998). Alves e Koga (2003) abordam
ameaça externa como legislação tributária e imagem e atribui a este fator a
necessidade que muitas organizações sentiram em associarem-se a outras no
sentido de defenderem-se dessas ameaças.
Meirelles e El-Aouar (2002, p. 6) também retratam essa perspectiva orientada
para o mercado, através de mudanças no aparelho estatal, para enfatizar a redução
de aplicações de recursos públicos em ‘despesas’ sociais, o que reforça e até vem a
aprofundar “as desigualdades sociais, em favor do aumento da eficiência
governamental no contexto global”.
Várias percepções errôneas são atribuídas ao terceiro setor, limitando, desta
forma, a capacidade do setor em lidar de maneira efetiva com seus verdadeiros
desafios. Essas organizações só poderão evoluir na medida em compreendam
melhor os mitos que foram gerados a seu respeito – virtude pura – como tendo a
capacidade previamente suposta de mudar a vida das pessoas; voluntarismo – que
as organizações dependem quase que exclusivamente da ação de empresas
voluntárias e de filantropolia; puro voluntarismo – acreditar que a atividade
voluntária só acontece de forma espontânea; e imaculada concepção – a idéia de
que as organizações sem fins lucrativos são novas na maior parte do mundo,
embora tendo raízes históricas profundas; e aprendam a lidar melhor com os
compromissos e com a reação das outras organizações. (SALAMON, 1994, p. 9;
1998, p. 118).
O Terceiro Setor passará a ter credibilidade quando acreditar em si mesmo e
perceber as diferenças entre voluntarismo e profissionalismo, informalidade e
48
institucionalização. Deve, também, dar atenção ao treinamento e assistência técnica,
para que os voluntários deixem de ser voluntários apenas como um fator para deixar
a consciência limpa, e sim acreditando nessa função como um suporte institucional
em longo prazo. E observar a relação com o Governo, para “encontrar um modus
vivendi“ que possibilite suportes legal e financeiro suficientes, garantindo certo grau
de independência e autonomia. (SALAMON, 1998, p. 11).
Há, ainda, um incipiente processo de ‘profissionalização’ no Terceiro Setor,
principalmente, com a formação de profissionais ‘especialistas’ no assunto, tais como
administradores, advogados e, principalmente, de captadores de recursos, que são
pessoas especializadas em levantar fundos para organizações sem fins lucrativos.
O início da profissionalização do Terceiro Setor está pautado em todas as
áreas, principalmente, na área de gestão. Grandes organizações nacionais já têm
desenvolvido projetos para melhorar seu quadro de voluntários e colaboradores.
De acordo com Salamon (1998, p. 9), “apesar de sua tão propalada
flexibilidade, organizações sem fins lucrativos continuam sendo organizações”. E
conforme aumentam em escala e complexidade “são vulneráveis a todas as
limitações que afligem outras instituições burocráticas”. E acrescenta Fernandes
(2002, p. 385), que, internamente, as associações incutem em seus membros
participantes hábitos de cooperação, de solidariedade, “senso de responsabilidade
comum em relação a empreendimentos coletivos, bem como espírito público” , que
são indicadores atribuídos aos estudos de capital social.
Cabe ressaltar que a inovação e a transformação organizacional são
problemáticas diariamente vividas pela organização, na medida em que esta vive
num mercado extremamente competitivo, com informações acessíveis facilmente e
com recursos e mão-de-obra escassos.
Mas as organizações do terceiro setor vêm para mostrar que o perfil da nossa
sociedade começa a mudar, restaurando e aprendendo valores como solidariedade,
busca do bem comum e responsabilidade pelos próprios atos.
Portanto, não importa o tamanho, a área de atuação e o ambiente onde a
organização do Terceiro Setor esteja inserida, e sim o que realmente motivou sua
abertura, ou seja, os valores básicos que dão sustentação para o seu
desenvolvimento.
Esses
valores,
acrescidos
ao
profissionalismo,
credibilidade que as organizações necessitam nos locais onde atuam.
darão
a
49
2.8 A produção acadêmica sobre o Terceiro Setor
O campo de estudos do Terceiro Setor é uma das áreas novas e
consideradas multidisciplinares das Ciências Sociais, pois tem unido pesquisadores
das disciplinas de Economia, Sociologia, Ciência Política e outras áreas da
academia, como Serviço Social, Saúde Pública e Administração. É uma área nova
tanto no Brasil quanto em outros países. No Brasil, o Terceiro Setor não é um tema
pesquisado extensivamente, existindo, ainda, poucos estudos com enfoque
organizacional. Mesmo nos Estados Unidos, com a tradição do nonprofit sector já
fortemente enraizada, os primeiros estudos datam da década de sessenta e, mesmo
assim, com pouca produção antes do início da década de oitenta, sendo que a maior
parte advém da década de noventa. Em 1977, a Columbia University lançou o
primeiro instituto e programa acadêmico em nonprofit management, sendo seguido
por outras universidades, chegando, em 1997, a somar 49 programas nos Estados
Unidos, um no Canadá, um na Inglaterra, um na Austrália e contabilizando 433
disciplinas sendo oferecidas em mais de 100 universidades. (FALCONER, 1999).
No Brasil, algumas instituições de ensino superior, nesta última década,
criaram centros de estudo sobre o Terceiro Setor. Dentre estes, podem ser citados,
o
Centro
de
Estudos
do
Terceiro
Setor
(CETS-FGV/EAESP),
o
Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos sobre Terceiro Setor (NIPETS-UFRGS), o
Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATSFEA/USP), o Núcleo de Estudos em Administração do Terceiro Setor (NEATSPUC/SP), os quais vêm realizando pesquisas nesta área.
Em 2001, o CEATS-FEA/USP, conforme Alves (2002b) fez o primeiro
levantamento da produção acadêmica brasileira sobre o Terceiro Setor. Nesta
pesquisa, segundo o autor, verificou-se que de um total de 35 instituições, 12 eram
centros de estudo voltados exclusivamente ao Terceiro Setor. Além disso, a
distribuição por Estado destas instituições era a seguinte: São Paulo (17), Rio de
Janeiro (4), Pernambuco (3), Minas Gerais (3), Rio Grande do Sul (2), Paraná (2),
Bahia (2), Distrito Federal (1) e Espírito Santo (1).
Em relação à publicação em Anais de eventos, Alves (2002b, p. 244) diz que
“percebe-se nitidamente que a área de administração é largamente dominante com
43,8% dos registros (no sistema PROSSIGA do CNPQ), seguida pela Ciência
50
Política com 13,2% e pela Sociologia com 12,4%”. Esse autor faz uma comparação
entre as produções acadêmicas brasileiras e internacionais, destacando que a área
de administração, no caso brasileiro, é a principal em termos do número de
produções, enquanto que no exterior as pesquisas são conduzidas por pessoas
ligadas às seguintes áreas do conhecimento: Sociologia, Ciência Política, História e
Economia. (ALVES, 2002b).
Iizuka e Sano (2004) realizaram um estudo dos artigos públicos nos Anais do
Enanpad, que teve como objetivo apresentar a relação entre o número de artigos na
temática Terceiro Setor e o total de artigos apresentados; classificar as áreas
temáticas, pré-definidas pela ANPAD, nas quais foram apresentados os artigos
sobre o Terceiro Setor; verificar o referencial bibliográfico utilizado, as obras mais
utilizadas pelos autores, a fundamentação e a metodologia utilizada nesses artigos.
Nesse trabalho, os autores consideraram que uma parcela significativa dos seus
autores está interessada na chamada profissionalização do Terceiro Setor.
Nenhum dos artigos nacionais publicados fazem referência ao capital social
do Terceiro Setor, mas para Grotaert e Van Bastelaer (2001) essa relação é
importante, pois onde há a possibilidade de se trabalhar com a existência de capital
social, especialmente em associações de pessoas e organizações, que é o caso do
Terceiro Setor, o resultado da sinergia melhora a criação e desenvolvimento de
projetos, gerando um potencial acréscimo da parcela de pessoas beneficiadas,
reduzindo o custo dos projetos, aumentando a sustentabilidade e, desta forma,
fortalecendo a sociedade civil através do fortalecimento dessas organizações.
Considerando o referencial teórico exposto, pretende-se identificar quais são
os indicadores de capital social que se apresentam em uma organização do Terceiro
Setor, na cidade de Blumenau – SC, através das variáveis estruturais e cognitivas
de capital social, em suas formas primárias. Os procedimentos metodológicos serão
descritos no próximo capítulo.
51
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa pretendeu analisar como se manifestam os indicadores de
Capital Social de uma organização do Terceiro Setor, localizada na cidade de
Blumenau, estado de Santa Catarina, sob a ótica de seus públicos: interno
(dirigentes e funcionários) e externo (voluntários, doadores e beneficiados).
Quanto à forma de abordagem da pesquisa pode-se identificar como
quantitativa pois verifica informações quantificáveis o que significa traduzir em
números opiniões e dados possíveis de classificação e análise. Requer o uso de
recursos e de técnicas estatísticas. (ALVES-MAZZOTTI; GEEWANDSZNAJDER,
1999).
Foi relevante o uso estatístico para quantificar as informações prestadas pelo
público interno e externo das organizações do Terceiro Setor de Blumenau.
Referente aos objetivos, a pesquisa é exploratória, pois busca um maior
conhecimento sobre o tema de pesquisa, que é analisar como os públicos de uma
organização de Terceiro Setor percebem os indicadores de capital social. Este
esforço tem como meta tornar um problema complexo mais explícito. Geralmente, a
pesquisa exploratória é realizada em área na qual se tem pouco conhecimento
acumulado e sistematizado.
A pesquisa exploratória é usada em casos nos quais é necessário definir o
problema com maior precisão e identificar cursos relevantes de ação ou obter dados
adicionais antes que se possa desenvolver uma abordagem. Como o nome sugere,
a pesquisa exploratória procura explorar um problema ou uma situação para prover
critérios e compreensão. A pesquisa exploratória utiliza métodos bastante amplos e
versáteis. Os métodos empregados compreendem: levantamentos em fontes
secundárias (bibliográficas, documentais e outras), levantamentos de experiência,
estudos de casos selecionados e observação informal. (RICHARDSON, 1999).
Para possibilitar a concretização deste trabalho, a pesquisa exploratória foi de
corte transversal único, pois as informações serão coletadas somente uma vez,
permitindo amostras únicas ou múltiplas. (MALHOTRA, 2002; AAKER et al, 2001).
O estudo de caso é apresentado como uma das estratégias de pesquisa,
quanto a sua tipologia, pois tem caráter de aprofundamento e detalhamento. Neste
caso, referente a uma única unidade de análise (Organização do Terceiro Setor –
52
Blumenau, apresentada no capítulo 4 – Resultados da Pesquisa). Os dados foram
coletados por diversos meios, sendo observado em seu ambiente natural.
O estudo de caso é usado em várias áreas, abrangendo: ciência política e
pesquisa de administração pública; psicologia e sociologia; organizações e estudos
de administração; cidade e pesquisa de planejamento regional, como estudos de
planos, bairros ou agências públicas. (YIN, 2001).
Visando aprofundar os conhecimentos e identificar as características do público
da organização estudada, o estudo de caso apresenta-se como uma estratégia ideal,
pois se restringe a um único ambiente de estudo, com temas e acontecimentos
contemporâneos e compreensão de fenômenos individuais, organizacionais, sociais e
políticos, plenamente relacionados à pesquisa em questão.
[...] o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as
características holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais
como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e
administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações
internacionais e a maturação de alguns setores. (YIN, 2001, p. 21).
Esta forma de pesquisa, geralmente, utiliza, além de pesquisa bibliográfica,
técnicas de coleta de dados como levantamento documental, histórico, entrevistas
ou questionários e observação direta.
Quanto aos procedimentos técnicos foi realizada pesquisa bibliográfica,
obtendo o maior número de informações sobre o problema e tema, visando o
alcance dos objetivos, através da seleção, leitura e análise de textos relevantes ao
tema do projeto, seguido de um relato escrito de livros, teses, dissertações, artigos
científicos de periódicos nacionais e internacionais.
Segundo Rampazzo (2001, p. 57) “a pesquisa bibliográfica procura explicar
um problema a partir de referências teóricas publicadas (em livros, revistas, etc)”.
A pesquisa documental foi utilizada para acompanhar os indicadores de
capital social da organização do Terceiro Setor com relação ao seu público,
anteriormente citado, assim como verificar registros de participação e atendimento
dentre outros dados que a própria organização mantém em seus arquivos.
Semelhante a bibliográfica, a pesquisa documental utiliza-se de materiais que
não receberam tratamento analítico. Já a pesquisa bibliográfica utiliza-se
fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado
53
assunto. As fontes de pesquisa documental são mais diversificadas e dispersas do
que as da pesquisa bibliográfica. (DEMO, 2000).
3.1 Coleta de dados
A estratégia de estudo de caso baseou-se no desenvolvimento feito
previamente de proposições teóricas para, desta forma, conduzir a coleta dos dados
e posterior análise. A estratégia de estudo de caso tem por exigência a utilização de
múltiplas fontes de evidências. Neste trabalho, especificamente, as fontes de
evidências utilizadas foram: pesquisa documental com consulta ao site da
organização, relatório de atividades 2005 e informativo on-line da ONG; e
questionário encaminhado via e-mail, correio e aplicado na própria ONG.
Assim, por meio da análise documental, foi possível identificar a importância
das atividades desenvolvidas pela organização, dentre outras.
Foram pesquisados 45 beneficiados, 12 funcionários, 05 dirigentes, 05
doadores e 02 voluntários, perfazendo o total de 69 questionários, sendo que 17
caracterizados como público interno e 52 como público externo. Deste montante, 06
foram inutilizados, pois estavam com dados inconsistentes, o que totalizou 63
questionários válidos, no geral, correspondendo a 46% do universo pretendido.
O questionário foi estruturado com perguntas fechadas e semi-abertas,
específicas
ao
problema,
utilizado
para coletar informações dos estratos
determinados da organização do Terceiro Setor, detectando os indicadores de
capital social para cada público.
Neste estudo, a amostra foi determinada através da estratificação aleatória,
pois a população estava dividida em subgrupos, que são denominados de estratos
(BARBETTA, 2001). Os estratos foram compostos por: funcionários, dirigentes,
voluntários, doadores e beneficiados. Os funcionários e dirigentes formam o público
interno e os demais, voluntários, doadores e beneficiados formam o público externo.
Como o objetivo foi obter informações de cada estrato, foi utilizado o censo
em vez de amostra. O censo foi utilizado, pois a população era pequena, sendo não
só viável como conveniente, uma vez que se apresenta neste contexto uma elevada
variância de características a serem medidas e pequenos tamanhos populacionais.
54
(MALHOTRA, 2002).
A Tabela abaixo apresenta a quantidade de pessoas pesquisadas para cada
público.
Tabela 7: Estratos pesquisados
ONG
Público Interno
Público Externo
Funcionários Dirigentes Beneficiados Doadores Voluntários
Total
Pesquisa Final
Total Público
24
12
9
5
52
39
17
50
6
47
2
2
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
A pesquisa com o público interno (funcionários e dirigentes) foi efetuada
através de questionários, deixados pela pesquisadora na ONG. A pesquisa com o
público externo, voluntários e doadores foi feita através de envio de questionário via
correio postal e/ou eletrônico. A pesquisa com os beneficiados foi efetuada
diretamente pela pesquisadora na sede da organização.
3.2 Estrutura do instrumento de coleta de dados
A confecção do instrumento de pesquisa – questionário – teve por finalidade
atender os objetivos do presente estudo quanto ao capital social da ONG
pesquisada que foi analisar os indicadores de capital social sob a ótica dos públicos
interno e externo.
O questionário proposto foi composto através da análise bibliográfica do tema
e, principalmente, do material proposto por Grootaert et al (2004), para pesquisas
desenvolvidas pelo Banco Mundial, fundamentado nas informações tiradas de quatro
estudos desenvolvidos e pesquisados pelo autor, conforme cronologia a seguir:
•
The Tanzânia Social Capital Survey – coleta de dados de membros de
associações e confiança, e relacionando isto ao acesso a serviços e tecnologia
para agricultura. (NARAYAN; PRITCHETT, 1999).
55
•
The Local Level Institutions Study – foram coletados dados comparados do
capital social estrutural na Bolívia, Burkina Faso e Indonésia. As análises foram
focadas no papel do capital social em dar forma ao bem-estar do lar e pobreza,
acesso ao crédito e ação coletiva. (GROOTAERT; VAN BASTELAER, 2001).
•
The Social Capital Initiative – patrocinou 12 estudos sobre o papel do capital
social em projetos setoriais e no processo de criação e destruição do capital
social. (GROOTAERT; VAN BASTALAER, 2002a, 2002b).
•
The Social Capital Survey em Ghana e Uganda – coletou dados de grupos e
redes, bem-estar, engajamento político, sociabilidade, atividades comunitárias,
violência e crime e comunicação. (IBÁÑEZ; LINDERT; WOOLCOCK, 2002).
O objetivo do questionário proposto por Grootaert et al (2004) foi prover um
núcleo central de questões de pesquisa para todos os interessados em gerar dados
quantitativos das várias dimensões do capital social como parte de uma ampla
pesquisa. Cada questão incluída no documento foi desenhada a partir dos trabalhos
de pesquisa descritos no parágrafo acima. Algumas questões foram adaptadas pela
autora, para o estudo em organizações, uma vez que o questionário original foi
desenhado para a pesquisa em comunidades.
Após esta etapa chegou-se ao questionário localizado no apêndice A,
utilizado para coleta dos dados dos estratos determinados da organização do
Terceiro Setor. O instrumento continha perguntas semi-abertas e fechadas, sendo
estruturado com perguntas norteadoras da investigação.
De acordo com Grootaert et al (2004), os acadêmicos concordam que capital
social não é uma entidade única, mas é melhor definido como sendo
multidimensional. O questionário teve como base o conceito de capital social como
freqüentemente definido em termos de grupos, redes, normas e confiança que as
pessoas têm entre eles para propósitos produtivos. Por isso, o instrumento foi
desenhado para capturar esta multidimensionalidade, explorando se e como as
pessoas participam da ONG, através dos (a) grupos e redes, a natureza e a
extensão de suas contribuições com outros membros da ONG. A pesquisa também
explora (b) as percepções dos respondentes sobre confiança em outras pessoas e
organização que fazem parte das suas vidas, como também as normas de
cooperação e reciprocidade que permeiam o trabalho em grupo para a solução dos
problemas. Essa diferença entre (a) e (b) refere-se, respectivamente, ao capital
56
social estrutural e cognitivo.
O questionário foi desenvolvido com base em seis seções, de acordo com
Grootaert et al (2004), sendo divididas em: (1) grupos e redes; (2) confiança e
solidariedade; (3) ação coletiva e cooperação; (4) informação e comunicação; (5)
coesão social e inclusão e, (6) acréscimo de força e ação política, conforme quadro
abaixo:
SEÇÃO
A
VARIÁVEIS
GRUPO E REDE DE RELACIONAMENTO
Grupo
PERGUNTAS RELACIONADAS
Q1 – Q8
Q1 – Q4
B
Rede de Relacionamento
CONFIANÇA E SOLIDARIEDADE
Confiança
Q5 – Q8
Q09 – Q11
Q0901 – Q0902 – Q0904,
Q1001 – Q1011
C
Solidariedade
AÇÃO COLETIVA E COOPERAÇÃO
Ação Coletiva
Q0903 e Q11
Q12 – Q15
Q12 e Q13
D
E
Cooperação
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
COESÃO SOCIAL E INCLUSÃO
Coesão Social
Q14 e Q15
Q16
Q17 – Q18
Q17
F
G
Inclusão
ACRÉSCIMO DE
POLÍTICA
Acréscimo de Força
FORÇA
Ação Política
INFORMAÇÕES PESSOAIS
E
Q18
AÇÃO Q19 – Q22
Q19 e Q20
Q21 e Q22
Q23 – Q26
Quadro 3: Seis indicadores do capital social
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Cada indicador foi pesquisado através de questões que foram agrupadas por
melhor definirem, de acordo com a literatura, as variáveis de pesquisa, expostas no
quadro abaixo.
Seção A – Grupo e Rede de Relacionamentos
Quantas vezes nos últimos 12 meses qualquer membro da sua família participou de atividades na organização.
Ex.: encarregando-se de reuniões ou fazendo grupos de trabalho?
Como você se tornou parte desta organização?
Quantos dias de trabalho você doou a organização nos últimos 6 meses?
Qual é o principal benefício de se juntar a esse grupo?
Pense sobre os membros dessa organização, eles são em maioria do mesmo (a)... Responda 1 para Sim e 2
para Não
Essa organização interage ou trabalha com outros grupos com objetivos similares, na cidade/vizinhança?
Essa organização interage ou trabalha com outros grupos com objetivos similares, de fora da cidade/
vizinhança?
57
Essa organização interage ou trabalha com outros grupos com objetivos diferentes, na cidade/vizinhança?
Seção B – Confiança e Solidariedade
A maioria dos colaboradores que estão na organização podem ser confiáveis.
Nesta organização, tem que ficar alerta com os outros pois é provável que querem tirar vantagem de você.
A maioria das pessoas desta organização estão dispostas a ajudar se você precisar.
Nesta organização, as pessoas geralmente não confiam uma nas outras para emprestar ou pedir dinheiro
emprestado.
Pessoas da sua etnia (raça) ou que falam a mesma língua, pertençam a mesma classe social, mesma religião.
Pessoas de outras etnias (raças) ou que falam outras línguas, ou que fazem parte de outra classe social, mesma
religião.
Lojistas.
Funcionários da prefeitura.
Funcionários do governo estadual/federal.
Polícia.
Professores.
Enfermeiras e Médicos.
Funcionários da organização.
Psicólogos.
Terapeutas pastorais.
As pessoas na sua organização ajudaram as outras pessoas no último mês?
Seção C – Ação Coletiva e Cooperação
Nos últimos 6 meses, você trabalhou com outros membros desta organização para algo que traria benefícios
para todos, na organização?
Quais foram as últimas atividades que você fez nos últimos 06 meses? Sua participação foi voluntária ou
convocada?
Qual a proporção de pessoas na organização que contribuem com tempo ou dinheiro em torno de um objetivo
comum da organização. (Exemplo: encontro de famílias).
Suponha que aconteça algo não muito bom para alguém na organização, como uma doença séria, ou a morte de
um parente. Qual a probabilidade de algumas pessoas do próprio cerne se unirem e ajudarem?
Seção D – Informação e Comunicação
Por onde você recebe informações sobre os trabalhos desenvolvidos por esta ONG?
Seção E – Coesão Social e Inclusão
O quanto forte é o sentimento de ficar junto ou próximo às pessoas dentro da sua organização? Assinale com X
uma única resposta.
Na sua opinião, esta organização geralmente é pacífica ou marcada por violência?
Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
O quão feliz você se considera dentro da organização?
O quanto de controle você acha que tem para tomar decisões que afetam as suas atividades diárias dentro da
organização? Você se sente...
Nos últimos 12 meses, quantas vezes as pessoas dessa organização se juntaram para fazer pedidos ao governo
ou aos líderes políticos em benefício da organização?
Algum desses pedidos teve sucesso?
Seção G – Dados Pessoais
Escolaridade
Estado Civil
Faixa Etária
Sexo
Quadro 4: Indicadores e seções do questionário
O questionário proposto reflete as percepções dos membros do grupo –
estrutural – e as percepções subjetivas de confiança e normas – cognitivo – que
compõem a dimensão do capital social e são abordadas nas seções dos grupos A e
B. A forma como o capital social opera está contida nas seções C e D, e as seções E
e F referem-se às áreas maiores de aplicação ou resultados. O Grupo G retrata os
dados pessoais dos pesquisados.
58
3.2.1 Aplicação do questionário
A aplicação do questionário foi iniciada em novembro de 2005, através do
pré-teste, em 10% da população de outra organização, pois de acordo com Barbetta
(2001, p. 33) foi um procedimento necessário “para detectar possíveis falhas que
tenham passado despercebidas na elaboração”. Além disso, o pré-teste possibilitou
também detectar perguntas ambíguas, respostas não previstas, falta de variabilidade
de respostas em alguma pergunta etc. Foi utilizado, também, para estimar o tempo
de aplicação do questionário. O pré-teste serviu para possibilitar as modificações
nas questões, quando se fez necessário, e ajustar as questões para cada categoria
(BARBETTA, 2001).
Após a aplicação do pré-teste, as alterações foram efetuadas e foi marcada
uma reunião com os responsáveis pela ONG. Nesta reunião foi apresentada uma
cópia do questionário para que pudesse ser avaliado. Desta reunião, algumas
informações foram alteradas para que internamente o questionário tivesse um
perfeito entendimento. Após as alterações solicitadas, uma cópia do questionário foi
enviada por e-mail para aprovação final. Cada grupo de respondentes teve um
procedimento diferenciado de coleta dos dados. No caso dos beneficiados, foi
aplicado internamente na própria ONG. Para os funcionários e voluntários foi
enviado via e-mail e via correio. Os doadores receberam por e-mail, assim como os
dirigentes.
Na etapa seguinte, foi agendado um dia para a aplicação com os beneficiados
para que fosse aplicado com todos, na mesma data e local, uma vez que eles
possuem atividades externas e de horários diferenciados. Essa aplicação ocorreu
em janeiro de 2006, na sede da ONG, em Blumenau, durante uma manhã.
Os questionários dos funcionários foram enviados por e-mail, no início de
fevereiro, por solicitação da direção, uma vez que eles poderiam preenchê-los em
horários mais convenientes e sem a necessidade de parar a organização num
período específico para aplicação. Na primeira aplicação, alguns funcionários não
responderam os e-mails, segundo seus relatos por estarem de férias ou por
esquecimento. Novamente entrou-se em contato com a direção que permitiu que
59
fossem enviados questionários via correio para que os funcionários que não
participaram da primeira remessa pudessem responder também a pesquisa. Esse
envio aconteceu na segunda quinzena de março e os questionários preenchidos
foram coletados na própria ONG, pela pesquisadora, na primeira quinzena de abril.
A direção da ONG também disponibilizou a relação dos doadores e dos
voluntários para que fosse desenvolvida a pesquisa com esses públicos. A listagem
fornecida contemplava 50 doadores entre pessoas jurídicas e físicas e 02
voluntários.
Os questionários dos doadores foram enviados via e-mail e dos voluntários
foram deixados na própria ONG, uma vez que os dois doadores possuíam horários
diferenciados de voluntariado na organização.
O envio do instrumento para os doadores obedeceu algumas etapas. Na
primeira etapa, ligou-se para toda a relação e o público foi informado sobre a
pesquisa que seria desenvolvida e seus objetivos. Após o telefone, o instrumento foi
enviado anexado em um e-mail que também continha uma carta que reforçava a
importância da resposta para o desenvolvimento do estudo, conforme apêndice B.
Após o envio, foram aguardados 15 dias para o retorno do questionário, o que não
aconteceu. Mais uma vez fora enviado o instrumento e a carta via e-mail e não
houve nenhum retorno. Ligou-se mais uma vez para todos os doadores e foi
enviado, pela terceira vez, o e-mail com o anexo e a carta. Na terceira tentativa
houve 03 respostas, sendo 01 questionário preenchido e 02 respostas negativas,
salientando que não iriam participar da pesquisa por falta de conhecimento da ONG.
Na quarta tentativa, 02 doadores enviaram o questionário preenchido. E, na última
tentativa, de número cinco, mais 03 doadores responderam. O que finalizou 06
respondentes do grupo doadores após 05 tentativas durante 03 meses da aplicação
do instrumento.
A relação dos dirigentes foi fornecida também pela ONG e os questionários
foram enviados por e-mail, após ligação inicial da ONG e da pesquisadora,
informando sobre a pesquisa que seria desenvolvida. Foram necessários 03
tentativas para se obter retorno.
3.3 Análise e interpretação dos dados
60
Por se tratar de uma pesquisa quantitativa, os resultados quantitativos foram
analisados com o uso de estatística de análise multivariada de clusters.
Já as respostas semi-abertas do questionário foram interpretadas e
comentadas dentro de um contexto global, considerando as demais informações
disponíveis.
3.3.1 Tratamento e análise dos dados
Os respondentes foram divididos em 02 públicos, interno e externo. O público
interno foi constituído pelos funcionários e dirigentes. O público externo foi composto
pelos beneficiados, voluntários e doadores.
Para realizar a análise estatística, primeiramente, foi estruturada uma base de
dados com a utilização de planilha eletrônica. Na etapa seguinte, os dados
estatísticos foram devidamente tratados e tabulados mediante a utilização do
programa Statistica, da Statsoft, através da análise multivariada de clusters, que
permitiu a geração de Tabelas e gráficos para uma melhor visualização dos
resultados, através de percentuais e interpretação dos dados.
A análise multivariada de clusters é uma série de procedimentos estatísticos
usados para classificar objetos e pessoas através da observação das semelhanças
entre elas, sem a definição prévia de critérios de inclusão em qualquer agrupamento.
“Os métodos de análise de clusters são procedimentos de estatística multivariada
que tentam organizar um conjunto de indivíduos, para os quais é conhecida
informação detalhada, em grupos relativamente homogêneos (clusters).” (REIS,
1997, p. 287).
Neste tipo de análise é fundamental ter cuidado na seleção das variáveis
iniciais que vão caracterizar cada indivíduo ou caso e que possam determinar, em
última instância, qual grupo em que deve ser inscrito. Nesta análise não há qualquer
tipo de dependência entre as variáveis, isto é, os grupos são configurados por si
mesmos sem a necessidade de definição de uma relação casual entre as variáveis
utilizadas. A idéia é que os grupos apresentem coerência e que se diferenciem
significativamente uns dos outros. (REIS, 1997).
61
Para a autora, os métodos são, sobretudo, exploratórios e a idéia é a geração
de hipóteses, mais do que o teste de hipóteses, pelo qual é necessária a validação
posterior dos resultados encontrados, através da aplicação de outros métodos
estatísticos. Contudo, o que se pretende é que os grupos sejam coerentes e que se
distingam de maneira significativa uns dos outros. (REIS, 1997).
A mesma analogia é feita por Johnson e Wirchern (apud RODRIGUES, 2002)
cujos autores descrevem a análise de clusters, correspondendo a uma importante
técnica exploratória que busca identificar uma estrutura de agrupamentos visando
avaliar a dimensionalidade dos dados e fornecer hipóteses acerca de associações,
usada, sobretudo, para agrupar indicadores.
Reis (1997, p. 290-291) descreve cinco etapas genéricas para a análise de
clusters:
1. A seleção de indivíduos ou de uma amostra de indivíduos a serem
agrupados;
2. A definição de um conjunto de variáveis a partir das quais será obtida a
informação necessária ao agrupamento dos indivíduos;
3. A definição de uma medida de semelhança ou distância entre cada dois
indivíduos;
4. A escolha de um critério de agregação ou desagregação dos indivíduos,
isto é, a definição de um algoritmo de partição/classificação;
5. Por último a validação dos resultados encontrados.
Neste estudo, estas etapas se configuraram da seguinte maneira:
1. A seleção dos indivíduos a serem agrupados obedeceu ao critério inicial da
divisão em dois públicos chamados de interno e externo. Como já mencionado, o
público interno foi composto pelos funcionários e dirigentes e o público externo
pelos voluntários, beneficiados e doadores.
2. A definição do conjunto de variáveis foi embasada na literatura estudada e
contemplou 06 indicadores de análise agrupados em: (a) grupos e redes; (b)
confiança e solidariedade; (c) ação coletiva e cooperação; (d) informação e
comunicação; (e) coesão social e inclusão e, (f) acréscimo de força e
política de ação.
3. A medida de semelhança ou distância entre cada dois indivíduos foi expressa
através de valores numéricos para cada questionamento do grupo das variáveis,
através da distância euclidiana.
62
4. O critério de agregação escolhido foi o critério de Ward. Este critério, segundo
(REIS, 1997, p. 321), “é baseado na perda de informação resultante do
agrupamento dos indivíduos e medida através da soma dos quadrados dos
desvios das observações individuais relativamente às médias dos grupos em que
são classificadas”. Pode ser resumidamente explicado nos seguintes passos:
Primeiro são calculadas as médias das variáveis para cada grupo; em
seguida, é calculado o quadrado da distância Euclideana entre essas
médias e os valores das variáveis para cada individuo; somam-se as
distancias para todos os indivíduos; por último, pretende-se otimizar a
variância mínima dentro dos grupos.
A função objetiva que se pretende minimizar é também chamada soma dos
quadrados dos erros (ESS) ou soma dos quadrados dentro dos grupos
(WSS). (REIS, 1997, p. 321-322).
5. A validação dos resultados encontrados deverá ser feita através de uma análise
confirmatória, diferente da proposta deste estudo que é exploratória. Portanto,
essa etapa será apresentada como sugestão de projeto futuro de pesquisa sobre
o tema.
Desta forma, buscou-se seguir os preceitos e o rigor científico necessário em
documentos técnico-científicos, visando colaborar na evolução das produções de
cunho acadêmico relacionadas ao estudo do Capital Social e Terceiro Setor, frente
ao interesse em torno destes temas. Portanto, apresentam-se no próximo capítulo os
resultados encontrados durante o desenvolvimento da pesquisa.
63
4 RESULTADOS DA PESQUISA
Neste capítulo são apresentados e analisados os resultados do estudo de
caso, através da descrição dos procedimentos realizados para análise e
interpretação dos dados coletados, seguido de discussão e comentário destes,
através dos gráficos gerados pelo programa Statistica. A pesquisa buscou descrever
como esses indicadores são percebidos pelos públicos da organização estudada.
Desta forma, o primeiro item deste capítulo apresenta uma caracterização do
universo pesquisado, seguido por uma descrição dos dados coletados referentes
aos indicadores de capital social e, posteriormente, as análises comparativas dos
dados coletados.
4.1 Estudo de caso – ONG
De acordo com o relatório de atividades 2005 (ROSSA; GÄRTNER, 2006),
fornecido para estudo pela organização, a ONG estudada caracteriza-se como uma
associação civil, portadora do CEAS – Certificado de Entidade Beneficente de
Assistência Social1, de caráter privado, sem fins lucrativos, que atua como
comunidade terapêutica. Tem como missão: “atuar na prevenção da dependência de
álcool e outras drogas, e no tratamento do dependente e seus familiares, a partir de
uma visão cristã de ser humano integral, buscando a reinserção social e uma melhor
qualidade de vida”.
Os trabalhos da organização foram iniciados no dia 04 de maio de 1989, na
cidade de Blumenau, em Santa Catarina, a partir da Missão Evangélica União Cristã
(MEUC), entidade religiosa, civil, sem fins lucrativos, inserida no contexto da IECLB2.
Muitos dependentes começaram a procurar as igrejas, inicialmente, para buscar
alimentos. Desta forma, os missionários da MEUC, além de fornecer a alimentação,
começaram a tentar resolver o problema de dependência química. A partir do
1
O CEAS – é um certificado concedido às entidades que prestam atendimento social gratuito, total ou
parcialmente nas áreas de Assistência Social, Saúde e Educação.
2
IECLB – Igreja de Confissão Luterana no Brasil.
64
entendimento de um grupo de pessoas, de que não poderiam ficar alheios ao
problema da dependência em álcool e outras drogas, decidiram expressar sua fé
além do discurso, na vida prática, auxiliando no tratamento e reabilitação de
dependentes químicos (álcool e outras drogas), com uma visão do ser humano
completo.
Inicialmente, o primeiro beneficiado morou com a família do primeiro
colaborador, numa casa de madeira na área rural da cidade de Blumenau. Em
seguida, um rancho foi transformado em alojamento, cozinha e refeitório.
Com o tempo, houve um constante aumento na demanda para internamento
e, com o apoio da MEUC, da Cruz Azul3 da Alemanha, da Gnadauer Brasilien
Mission4, da Hilfe für Brüder5, da Prefeitura Municipal de Blumenau, do Governo do
Estado de Santa Catarina e de inúmeras pessoas e de amigos da comunidade, foi
possível ampliar o trabalho.
A ONG é filiada à Cruz Azul, que está presente em mais de 50 países. Para a
Cruz Azul a dependência química é vista como uma doença, chegando a esta
conclusão muito antes da OMS – Organização Mundial da Saúde, e o dependente,
como um doente que precisa de acompanhamento médico, psicológico, social,
conforme Relatório de Atividades 2005.
Hoje, a ONG possui quatro unidades de tratamento situadas em Blumenau,
Palhoça, São Bento do Sul, em Santa Catarina, e Lapa, no Paraná. Juntas estas têm
a capacidade de atendimento de 131 dependentes, sendo 124 no programa de
tratamento e 14 na Reinserção Social, possui, ainda, em seu quadro profissional o
total de 56 colaboradores nas diversas áreas profissionais.
A organização oferece 05 programas que têm como foco as mudanças
comportamentais e a qualidade de vida dos dependentes e seus familiares, através
da assistência aos recuperandos com acompanhamento médico, laborterapia,
atividades de lazer, esportivas, educacionais, palestras, terapia em grupo, terapia
individual, aconselhamentos e a espiritualidade com base na Palavra de Deus,
atendendo pessoas de todas as regiões do Brasil. Os programas são: (a) Programa
3
CRUZ AZUL é uma Federação que congrega Comunidades Terapêuticas, bem como, outras
pessoas físicas e jurídicas que atuam na área da dependência química, mantendo relacionamento
com a Federação Internacional da Cruz Azul, com sede em Berna, na Suíça.
4
Entidade Alemã, a qual a MEUC é vinculada.
5
ONG Alemã, que tem dado apoio para vários projetos apresentados.
65
de Internamento; (b) Programa de Prevenção; (c) Programa de Reinserção Social;
(d) Programa de Atendimento Dia; (e) Programa de Atendimento Social.
De acordo com o Estatuto da ONG (Rossa e Gärtner, 2006), no art. 4o, o
objetivo social da organização é:
ART. 4 – A entidade tem por objetivo a reabilitação física, espiritual e
psíquica de dependentes do álcool, de drogas e congêneres, visando tornálos livres, felizes, capazes, úteis, e readaptá-los à sociedade, auxiliando-os
na readaptação e reintegração à sociedade. § 1 – A entidade objetiva não
só atuar no trabalho de recuperação, mas também na área de prevenção
das dependências acima enumeradas, podendo para isso utilizar todos os
meios e formas disponíveis para consecução deste objetivo, desde que não
contrariem os princípios expressos neste estatuto. § 2 – Além do trabalho de
recuperação e prevenção nas áreas acima mencionadas, a entidade se
propõe a atuar também através de grupos de apoio, tanto a dependentes
como seus familiares, pessoas ligadas e/ou de seu relacionamento que,
como atingidos, necessitam de auxílio ou cujo envolvimento se torne
imprescindível para o sucesso do tratamento e/ou acompanhamento. § 3 –
Constitui também objetivo, sempre que possível, atuar no enfrentamento da
pobreza e na assistência às famílias, tanto para com pessoas ligadas ou
afetadas às pessoas dependentes, como da sociedade em geral, em
especial visando à proteção da família, da maternidade, da infância, da
adolescência e da velhice, bem como promover a integração ao mercado de
trabalho. § 4 – Para atingir os objetivos acima, poderá atuar em conjunto ou
não com entidades profissionais, entidades públicas ou privadas,
associações e/ou igrejas.
O foco é um trabalho cristão diacônico e seu serviço de assistência social,
destina-se a todas as pessoas, sem distinção de cor, raça, sexo, nacionalidade,
estado civil, profissão, credo religioso ou político, conforme Rossa e Gärtner (2006),
nos artigos 6o e 7o:
ART. 6 – O trabalho de recuperação destina-se a todas as pessoas que
desejam ser curadas e libertadas do álcool e das drogas, sem distinção de
cor, raça, sexo, nacionalidade, estado civil, profissão, credo religioso ou
político. ART. 7. Os interessados na recuperação deverão estar cientes e se
submeter ao Regimento Interno.
Sua finalidade é ajudar dependentes do álcool, drogas e congêneres, seus
familiares e pessoas afetadas e/ou ligadas às pessoas dependentes. Busca prevenir
contra o abuso do álcool e de outras drogas através de publicações, trabalho público
em palestras e divulgação de material de informação e de trabalho que visam ajudar
pessoas dependentes. A ONG objetiva a manutenção de Entidades e Centros para
Recuperação e/ou Comunidades Terapêuticas de dependências e dos provenientes
de dependência e que sirvam para aconselhamento, tratamento ambulatorial,
médico ou de enfermagem, tratamento e reabilitação. Fornece orientação e
66
treinamento aos seus colaboradores e voluntários, através de publicações e cursos
de Capacitação em Dependência Química realizados por pessoal especializado.
Conforme o relatório de atividades de 2005, a organização recebeu ao longo
de sua história vários prêmios em nível local e nacional, entre eles: (a) destaque
como umas das 12 entidades brasileiras que merecem a sua contribuição, divulgado
pela Revista Seleções em 2004; (b) destaque como uma das 430 entidades no
Brasil que merecem a sua contribuição, divulgado pela Revista Veja em 2001; (c)
Prêmio Bem Eficiente em 2002 e 2003; (d) Prêmio Destaque da Lapa, em 2001; (e)
Prêmio de Qualidade Empresarial e Profissional de 2000 e 2005, para a unidade de
Blumenau, pela qualidade dos serviços prestados.
4.2 Caracterização do universo pesquisado
A pesquisa foi aplicada com o público interno (funcionários e dirigentes) e
com o público externo (beneficiados, voluntários e doadores), na sede administrativa
da organização, na cidade de Blumenau. A pesquisa precisou ser feita em várias
etapas, uma vez que em função das atividades administrativas internas, muitos
funcionários não se encontravam diariamente na sede. Além disto, a direção é
composta por membros externos, o que dificultou a devolução dos instrumentos
preenchidos.
Dos 63 questionários válidos, pode-se observar no quadro a seguir, que os
respondentes são, em sua maioria, homens. Vale ressaltar que a predominância
masculina no grupo dos beneficiados deve-se ao fato de que a organização só
atende pessoas do sexo masculino, para receber o tratamento, em função disto, o
universo feminino contempla somente os grupos de doadores, funcionários e
dirigentes.
67
PÚBLICOS
TOTAL
GERAL
% em relação
SEXO
Funcionários Dirigentes Beneficiados Doadores Voluntários Total
ao total
Feminino
5
1
0
1
0
7
~11%
% em relação
ao público
~42%
20%
20%
Masculino
7
4
39
4
2
56
~89%
% em relação
ao público
~58%
80%
100%
80%
100%
Total
12
5
39
5
2
63
100%
% em relação
ao público %
100%
100%
100%
100%
100%
INTERNO
EXTERNO
Quadro 5: Sexo dos pesquisados
Fonte: Dados empíricos
Na seqüência, pode-se observar a divisão dos públicos por faixas-etárias,
demonstrada no quadro 6. No geral, as faixas etárias com maior participação são as
de 15 a 25 anos, com cerca de 30% dos respondentes, e a de 26 a 36 anos, com
cerca de 32%. Quando analisados por públicos, o público interno é composto em
sua maioria (~41%) por pessoas de 26 a 35 anos e por pessoas de 36 a 45 anos
(~35%). Já o público externo é composto por pessoas de 15 a 25 anos, em 40% dos
casos, seguidos em 30% das respostas por pessoas de 26-35 anos.
FAIXA
ETÁRIA
15-25
PÚBLICOS
INTERNO
TOTAL
EXTERNO
Funcionários Dirigentes Beneficiados Doadores Voluntários Total
% em relação
ao total
1
1
15
0
1
18
~30%
~8%
3
20%
4
~45%
9
3
50%
0
19
~32%
25%
6
80%
0
~27%
5
60%
2
1
14
28%
50%
2
0
~15%
2
40%
0
50%
0
4
7%
~17%
0
0
6%
2
0
0
2
~3%
Total
0
12
5
6%
33
5
2
57*
100%
%
100%
100%
99%
100%
100%
% em relação
ao público
26-35
% em relação
ao público
36-45
% em relação
ao público
46-55
% em relação
ao público
56-65
% em relação
ao público
(*) Não respondidos 07
Quadro 6: Faixa etária dos pesquisados
Fonte: Dados empíricos
68
Em relação ao item estado civil, pode-se observar que 46% dos respondentes
são casados e 39% solteiros. O público interno é composto, em sua maioria, por
pessoas casadas, o que difere do público externo, pois a maioria dos integrantes é
composta por solteiros.
PÚBLICOS
Estado Civil
INTERNO
Total Geral
EXTERNO
Funcionários
Dirigentes
Beneficiados
Doadores
Voluntários
Total
%
Casado(a)
9
4
10
4
1
29
~ 46%
%
75%
80%
~26%
80%
50%
Viúvo(a)
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
4
~ 6%
0
0
6
~ 9%
24
~ 39%
63*
100%
%
Divorciado(a)
2
%
~17%
Separado(a)
0
~5%
0
6
%
~15%
Solteiro(a)
1
1
21
1
1
%
~8%
20%
~54%
20%
50%
Total
12
5
39
5
2
%
100%
1005
100%
100%
100%
(*) Não respondidos 01
Quadro 7: Estado civil
Fonte: Dados empíricos
Através da pesquisa, foi possível detectar diferenças no nível de escolaridade
dos públicos questionados. O público interno é, em sua maioria, graduado. O que
não ocorre com o público externo, onde os pesquisados dividem-se em nível
fundamental e médio, conforme demonstrado no quadro 8 abaixo.
PÚBLICOS
Escolaridade
INTERNO
Total Geral
EXTERNO
Funcionários Dirigentes Beneficiados Doadores Voluntários
Fundamental
0
0
Médio
3
0
%
15
0
~42%
%
15
25%
0
19
~ 32%
0
19
~ 31%
0
7
~ 11%
60*
100%
100%
13
1
%
25%
~36%
20%
Graduação
9
2
7
1
%
75%
40%
~19%
20%
Pós-Grad.
0
3
1
3
60%
~3%
60%
%
Total
2
Total
12
5
36
5
2
%
100%
100%
100%
100%
100%
(*) Não respondidos 04
Quadro 8: Escolaridade
Fonte: Dados empíricos
69
Na seqüência, os dados foram analisados e interpretados de duas maneiras.
Num primeiro instante foi feita a análise separada por públicos (interno e externo),
através das respostas das seções do questionário, que detectaram os indicadores
de capital social da ONG. Para isto, foram utilizadas as ferramentas de modelo
estatístico e análise dos gráficos gerados pelo programa Statistica. Em uma segunda
análise, foi feito o cruzamento das respostas do público interno e externo, a fim de
processar e detectar os indicadores coletados na pesquisa, comparando a visão dos
dois públicos.
Os questionários respondidos receberam siglas referentes ao tipo de público
e ordem de recebimento do instrumento, conforme demonstrado na Tabela abaixo:
Tabela 8: Siglas dos públicos
Público
Beneficiado
Dirigentes
Voluntários
Doadores
Funcionários
Sigla
B
Dir
V
D
F
Exemplo
B1
Dir1
V1
D1
F1
4.3 Público interno
Nos próximos itens do estudo, os resultados coletados serão expostos e
analisados, de acordo com cada seção de perguntas do instrumento, inicialmente,
pelo público interno e, posteriormente, pelo público externo.
4.3.1 Grupo e rede de relacionamentos – seção A – público interno
A figura 1 apresenta os grupos que se formaram ao considerar as respostas
dos funcionários e dirigentes, isto é, do público interno. Na distância de corte
escolhida para análise, diferenciam-se dois grupos. No primeiro grupo (A) estão
inclusos 06 respondentes, do F11 até Dir5 e; no segundo, (B) encontram-se 11
entrevistados, de F14 até Dir 1.
70
Dendograma do Público Interno
Seção A
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
12
A
Legendas dos Grupos:
Grupo A: Família não
participa, não doação de
dias
de
trabalho.
Participam porque a
ONG
beneficia
a
comunidade.
Relacionamento
da
ONG com outras ONGS.
Grupo B: Família não
participa, doação de 2
dias
de
trabalho.
Participam por causa da
espiritualidade
e
benefício
próprio.
Relacionamento
da
ONG com outras ONGS.
B
10
8
6
Distância de Junção
4
2
0
F11
F7
F6
F9
F1
F14
Dir 5
F13
F12
F10
F8
F2
F3
Dir 2
Dir 3
Dir 1
Dir 4
Figura 1: Dendrograma Público Interno – Seção A – Grupo e Rede de Relacionamentos
Fonte: Software Estatístico Statistica
Para esta seção grupo e rede de relacionamentos, as questões foram
avaliadas individualmente, com valores diferenciados para cada uma das respostas.
A análise permitiu detectar, através das respostas, a participação dos respondentes
e de sua família na ONG, o benefício de fazer parte da organização, a percepção
quanto aos membros da organização, e se, para os respondentes, a organização
interage ou trabalha com outros grupos/organizações.
Na descrição das respostas, o grupo A é composto por pessoas que foram
convidadas a participar da ONG (50%) e que nunca tiveram um membro da família
participando de atividades na organização (~67%). Este grupo também nunca doou
nenhum dia de trabalho para a ONG (~84%). Para eles, beneficiar a comunidade
(50%) é citado como o principal benefício de se juntar a esta organização. Os
respondentes deste primeiro grupo (A) assinalaram em cerca de 58% das
alternativas que os membros da ONG não fazem parte de grupos homogêneos,
71
como vizinhança, familiares etc. E, cerca de 58%, acredita que a organização
interage ou trabalha com outros grupos, de objetivos similares ou não ao da ONG.
O segundo grupo (B) é formado por 100% de pessoas convidadas a participar
da ONG (50%) e que nunca tiveram um membro da família participando de
atividades na organização (~55%). Este grupo doou dois dias de trabalho, nos
últimos 06 meses, para a ONG (~36%). Fazem parte da organização porque em
cerca de 36% das respostas acreditam que o maiores benefícios são espiritualidade,
status social e auto-estima. Para cerca de 62% dos respondentes deste grupo (B) os
membros da ONG não fazem parte de grupos homogêneos, como vizinhança,
familiares etc. E acreditam que a organização interage ou trabalha com outros
grupos, de objetivos similares ou não ao da ONG, em 65% das alternativas
assinaladas.
Na análise final destas variáveis, através das respostas do público interno, foi
possível detectar dois grupos representados na seguinte Tabela:
Tabela 9: Representação Público Interno – Seção A – Grupo e Rede de Relacionamentos
Público
Interno
(grupos)
Participação
da Família
na ONG
Grupo A
Não (~67%)
Grupo B
Não (~55%)
Como se
tornou
parte da
ONG
Convite
(50%)
Doação
Dias
Trabalho
ONG
Nenhum
(~84%)
Convite
(100%)
2 dias
(~36%)
Benefício de
estar na ONG
Beneficia a
comunidade
(50%)
Espiritualidade
/ status social /
auto estima
(~36%)
Homogeneida
de dos
membros da
ONG
Não (~58%)
Interação da
ONG com outras
organizações
Não (~62%)
Sim, às vezes
(~65%)
Sim, às vezes
(~58%)
Fonte: Dados empíricos
4.3.2 Confiança e solidariedade – seção B – público interno
Na análise seguinte da seção confiança e solidariedade, as questões que
receberam valores 1, 2 ou 3 expressam baixa confiança e solidariedade por parte
dos entrevistados, no entanto, sendo iguais ou superiores a 4 significam alta
confiança e solidariedade.
72
Dendrograma Público Interno
Seção B
Método de Junção: Ward
Medida de Parecencia: Distância Euclidiana
Legendas dos Grupos:
Grupo A: baixa confiança,
alta solidariedade.
16
Grupo B: alta confiança,
alta solidariedade.
14
12
A
B
10
8
Distância de Junção
6
4
2
0
F1
F13
F12
Dir 4
F14
F3
F10
F8
F9
F6
Dir 3
F7
Dir 5
Dir 2
F2
Dir 1
Figura 2: Dendrograma Público Interno – Seção B – Confiança e Solidariedade
Fonte: Software Estatístico Statistica
Para medir a confiança e a solidariedade do público interno, cujas assertivas
relacionam-se com a percepção deste público referente às pessoas que fazem parte
da organização e às pessoas externas à organização, foi utilizada a escala de
concordância/discordância de 06 pontos, que foi adaptada com a inserção de
conceitos, visando facilitar a análise dos dados, conforme quadro abaixo.
Escala de Concordância/Discordância de 6 pontos
1 (Discordância Total)
2
3
4
5
6 (Concordância Total)
Conceitos correspondentes
Baixo
Médio
Alto
Quadro 9: Escala de concordância/discordância de 6 pontos
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Continuando a descrição dos dados, na figura 2 estão representados os
indicadores confiança e solidariedade, através das respostas do público interno,
73
composto pelos funcionários e dirigentes da ONG pesquisada. A análise deste
gráfico permite visualizar 02 grupos aproximados pela distância euclidiana. O grupo
A tem como integrantes os respondentes de F1 a Dir4. No grupo B encontram-se 12
pessoas, do F14 a Dir1.
Na avaliação das respostas do Grupo A, percebe-se baixa confiança, pois
somente cerca de 37% dos pesquisados atribuíram valores iguais ou superiores a 4
para as alternativas questionadas. Para este grupo, somente os terapeutas pastorais
receberam valores elevados para confiança. Na variável solidariedade, representada
pelas questões Q0903 (a maioria das pessoas desta organização estão dispostas a
ajudar) e Q11 (as pessoas costumam ajudar as outras), as respostas foram altas,
com 75% dos itens assinalados com valores entre 1 e 2. Deste modo, a percepção
deste grupo A se caracteriza por baixo grau de confiança (~63%) e alto grau de
solidariedade (75%).
Já o grupo B possui um nível de confiança e solidariedade alto, pois as
respostas indicaram esta afirmativa. Este grupo, em sua maioria (~76%), assinalou
itens de alta confiança. Quando questionados sobre solidariedade, 100% dos
respondentes acreditam que as pessoas na organização estão dispostas a ajudar,
quando necessário.
Na descrição final das variáveis confiança e solidariedade, na visão do público
interno, foi possível detectar os 02 grupos representados na seguinte disposição,
conforme Tabela a seguir:
Tabela 10: Representação Público Interno – Seção B
Público Interno (grupos)
Confiança
Solidariedade
Grupo A
Baixa (~63%)
Alta (75%)
Grupo B
Alta(~76%)
Alta (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.3.3 Ação coletiva e cooperação – seção C – público interno
Da mesma forma que foram utilizados conceitos para medir a confiança e a
solidariedade do público interno, a escala de concordância/discordância foi adaptada
com a inserção de conceitos, para facilitar as respostas dos pesquisados, quanto ao
indicador cooperação, conforme observa-se no quadro a seguir:
74
Escala de Concordância/Discordância de 5 pontos
1 (Concordância Total)
2
3
4
5 (Discordância Total)
Conceitos correspondentes
Alto
Médio
Baixo
Quadro 10: Escala de concordância/discordância de 5 pontos
Fonte: elaborado pela autora, 2006
Continuando a análise dos indicadores ação coletiva e cooperação,
referente à seção C do questionário, a figura 3 apresenta os grupos formados
através da distância de corte escolhida para análise, em função das respostas
fornecidas pelos participantes. Desta maneira, foi possível detectar 02 grupos com
características distintas. O grupo A é composto por 05 integrantes, do Dir3 ao F2. O
grupo B possui 12 participantes, do Dir4 ao F1.
Dendrograma Público Interno
Seção C
Método de Pesquisa: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
Legendas dos Grupos:
Grupo A: Ação Coletiva:
média. Cooperação: alta.
10
Grupo B: Ação Coletiva
e cooperação: altas.
8
A
B
6
4
Distância de Junção
2
0
Dir 3
Dir 5
F13
F2
Dir 1
Dir 2
Dir 4
F7
F14
F11
F12
F9
F10
F6
F8
Figura 3: Dendrograma Público Interno – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação
Fonte: Software Estatístico Statistica, 2006
F1
F3
75
O primeiro grupo (A) é formado por pessoas que trabalharam, juntamente
com outros membros da ONG, nos últimos 06 meses para algo que traria benefícios
para todos (80%). Este grupo, em 60% das respostas, acredita que menos da
metade das pessoas, na organização, contribuem com tempo ou dinheiro em torno
de um objetivo comum. Mas são unânimes em afirmar que seria muito provável que
as pessoas da ONG se unissem e ajudassem outra pessoa que esteja passando por
um momento difícil. Na ponderação das respostas, na visão deste grupo, a ação
coletiva é mediana (70%) e a solidariedade é elevada (100%).
Dos participantes deste grupo (A) que responderam que desenvolveram
ações junto com outros membros nos últimos 06 meses, 75% detalharam como
participaram dessas atividades, que foram feitas voluntariamente (50%) e por
convocação (50%). Ajuda na tesouraria, mutirão em prol de outra unidade da ONG,
pedágio e representar a entidade junto a outras organizações, foram atividades
desenvolvidas voluntariamente pelos membros deste grupo. Por convocação, os
participantes dirigiram e participaram de reuniões, tanto da própria ONG quanto da
Cruz Azul, bem como aconselharam e resolveram conflitos.
O segundo grupo (B) é formado por pessoas que trabalharam em conjunto
com outros membros da ONG em algo que traria benefícios para todos (~92%). Os
respondentes deste grupo acreditam que mais da metade das pessoas na
organização contribuem com tempo ou dinheiro em torno de um objetivo comum
(~67%). E são unânimes em afirmar que seria muito provável que as pessoas da
ONG se unissem e ajudassem outra pessoa que esteja passando por um momento
difícil. Na ponderação das respostas deste grupo, os dois indicadores são
considerados altos.
As atividades em conjunto com outros membros da ONG, desenvolvidas
pelos integrantes do Grupo B, foram feitas em sua maioria por vontade própria.
Foram elas: reuniões da diretoria, apoio na captação de recursos, encontro de
famílias dependentes, apoio na corrida rústica, recreação dos beneficiados e
atendimento aos familiares. Somente uma atividade foi desenvolvida pelo membro
através de convocação: ajuda na terapia individual/grupo e palestra.
Na Tabela 11 é possível observar a visão do público interno quanto aos
indicadores de ação coletiva e cooperação.
76
Tabela 11: Representação Público Interno – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação
Público Interno (grupos)
Ação Coletiva
Cooperação
Grupo A
Média (70%)
Alta (100%)
Grupo B
Alta (~80%)
Alta (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.3.4 Comunicação e informação – seção D – público interno
Esta descrição trata dos indicadores pertencentes à seção D, sobre
informação e comunicação, para detectar por quais meios de comunicação os
respondentes do público interno recebiam informações sobre os trabalhos
desenvolvidos pela ONG estudada. As respostas dos entrevistados contemplavam
até 03 alternativas.
Dendrograma do Público Interno
Seção D
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
4,0
3,5
Legendas dos Grupos:
Grupo A: informativo da
ONG; funcionários; internet.
Grupo B: parentes, amigos
e vizinhos; rádio; jornal
comunitário
ou
local,
televisão e funcionários.
B
A
3,0
2,5
2,0
Distância de Junção
1,5
1,0
0,5
0,0
Dir4
F7
F3
Dir2
F9
Dir5
Dir3
F6
Dir1
F2
Figura 4: Dendrograma Público Interno – Seção D – Informação e comunicação
Fonte: Software Estatístico Statistica, 2006
Dir6
F1
77
Na análise deste indicador, a Figura 4 apresenta os grupos formados através
da distância de corte escolhida para análise, com base nas respostas dos
pesquisados. Sendo assim, detectou-se 2 grupos com características diferentes. O
grupo A é composto por 10 integrantes, do Dir4 ao F2. O grupo B possui 2
participantes, Dir6 e F1.
Os respondentes do grupo A recebem informações pelo informativo da ONG
(100%), funcionários da organização (60%) e pela internet (60%). E o grupo B
recebe informações através de parentes, amigos e vizinhos (100%), rádio (100%) e
jornal comunitário ou local, televisão e funcionários da organização (50%) cada.
Em uma análise geral, com todos os integrantes inclusos, as três alternativas
mais assinaladas pelo público interno foram: informativo da ONG (~29%),
funcionários da ONG (~20%) e internet (~17%), conforme ilustrado no gráfico 1.
Internet (6)
Outras ONGS
(0)
Funcionários
da ONG (7)
Líderes
comunitários
(0)
Associações
políticas (0)
TV (1)
Rádio (2)
Jornal
comunitário
ou local (4)
Informativo
ONG (10)
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Parentes,
amigos e
vizinhos (5)
Porcentagem
Bloco D - Informação e Comunicação - Público Interno
Tipos e Frequência
Gráfico 1: Gráfico Público Interno – Seção D – Informação e Comunicação
Fonte: Elaborado pela autora em programa Excel, 2006
A Tabela 12 descreve os meios pelos quais cada grupo, do público interno,
recebe as informações sobre a ONG pesquisada.
78
Tabela 12: Representação Público Interno – Seção D – Comunicação e Informação
Público Externo (grupos)
Comunicação
Informativo da ONG (100%)
Grupo A
Funcionários da própria ONG (60%)
Internet (60%)
Parentes, amigos e vizinhos (100%)
Rádio (100%)
Jornal comunitário ou local (50%)
Televisão (50%)
Funcionários da ONG (50%)
Grupo B
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.3.5 Coesão social e inclusão – seção E – público interno
Na figura 5 estão representados os indicadores coesão social e inclusão,
através das respostas do público interno. A análise permite visualizar 02 grupos
aproximados pelas distâncias euclidianas. O grupo A é formado pelos respondentes
F1 a Dir6. O grupo B é composto pelos respondentes F7 a Dir1.
A questão 17 (Q17) abordava o quão forte é o sentimento de ficar junto ou
próximo às pessoas dentro da ONG pesquisada. Já a questão Q18, questionava se
a organização é geralmente pacífica ou marcada por violência.
Dendrograma Público Interno
Seção E
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
30
Legendas dos Grupos:
Grupo A: em branco.
Grupo B: Alta coesão, alta
inclusão.
25
20
15
Distância de Junção
10
A
B
5
0
F1
F4
F5
F7
Dir 6
F8
F3
Dir 5
F14
F12
F13
F10
F11
F6
F9
Dir 4
F2
Figura 5: Dendrograma Público Interno – Seção E – Coesão social e inclusão
Fonte: Software Estatístico Statistica, 2006
Dir 2
Dir 3
Dir 1
79
O agrupamento A deixou em branco a questão sobre coesão social (100%) e
a questão sobre inclusão em 75% das respostas.
O Grupo B respondeu, em sua totalidade, que é muito forte o sentimento de
estar próximo às pessoas dentro da organização (Q17) e que a ONG é pacífica (Q18).
Portanto, do total pesquisado destes indicadores, composto pelos grupos A e
B, 80% dos entrevistados consideram que a organização é pacífica e que é muito
forte o sentimento de estarem juntos. Mas é importante frisar que 20% dos
respondentes deixaram em branco a questão sobre coesão e 15% também não
responderam sobre o grau de violência dentro da organização. Abaixo está a Tabela
ilustrativa dos grupos destas variáveis.
Tabela 13: Representação Público Interno – Seção E – Coesão social e Inclusão
Público Externo (grupos)
Coesão
Inclusão
Grupo A
Em branco (100%)
Em branco (75%)
Grupo B
Alta (100%)
Alta (100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.3.6 Acréscimo de força e ação política – seção F – público interno
Dendrograma Público Interno
Bloco F
Método de Junção: Ward
Medida da Parecença: Distância Euclidiana
6
A
5
B
Legendas dos Grupos:
Grupo A: Acréscimo de
força: médio. Alta ação
política.
Grupo B: Acréscimo de
força e ação política:
altos.
4
3
Distância de Junção
2
1
0
Dir 5
F9
F14
F2
F6
F3
F12
F11
F1
F10
Dir 4
F7
F8
F13
Dir 2
Dir 1
Dir 3
Figura 6: Dendrograma Público Interno – Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
Fonte: Software Estatístico Statistica
80
A seção F do questionário trata dos indicadores acréscimo de força e ação
política, sendo composta por quatro questões. As duas questões iniciais
reproduzem a variável acréscimo de força (Q19 e Q20) e as outras duas (Q21-22)
ação política. A questão Q19 aborda o quanto feliz o respondente se considera
dentro da organização. A Q20 pergunta o quanto de controle o respondente acha
que tem para tomar decisões que afetam as suas atividades diárias dentro da
organização. Na Q21, detecta-se quantas vezes, nos últimos 12 meses, as pessoas
da ONG se juntaram para fazer pedidos ao governo ou aos líderes políticos em
benefício da própria organização. E, por fim, a Q22 aborda se alguns desses
pedidos teve sucesso.
Para a questão Q19 as respostas 1 e 2 significavam muito feliz e
moderadamente feliz. Para a Q20 as alternativas 3, 4 e 5 indicavam controle sobre
as decisões, em menor e maior grau. Na Q21, as respostas 3 e 4 indicavam que as
pessoas da ONG se juntaram para fazer pedidos ao governo ou líderes, poucas
vezes e muitas vezes, sucessivamente. Na questão Q22, as respostas 1 e 2
indicavam que os pedidos feitos foram bem sucedidos.
A figura 6 mostra as respostas dos pesquisados que foram agrupadas pelo
software em 3 grupos distintos, separados pela distância euclidiana. O respondente
Dir5 foi agregado ao grupo A, para fins de análise, uma vez que apresentava como
único diferencial a Q21, que foi deixada em branco.
As respostas do Grupo A demonstram que o indicador acréscimo de força tem
uma participação de 50% (média) dentro deste grupo através das respostas dos
seus integrantes. Na descrição do indicador ação política, este grupo é unânime em
afirmar que, muitas vezes, nos últimos doze meses, as pessoas da ONG se juntaram
para fazer pedidos ao governo ou aos líderes políticos em benefício da organização.
Mas somente 62,5% dos respondentes acham que a maioria dos pedidos foram bem
sucedidos. Na análise geral deste indicador (ação política), cerca de 81% dos
respondentes do grupo A acreditam que os participantes são engajados nas causas
da ONG.
Dos pesquisados do grupo B, cerca de 67% responderam que são muito
felizes dentro da organização. Quando questionados sobre o quanto de controle
achavam que tinham para tomar decisões que afetam as atividades dentro da
organização, 100% dos respondentes afirmaram que têm controle sobre a maioria
81
das decisões. Para cerca de 89% dos respondentes deste grupo as pessoas da
ONG se juntaram muitas vezes – mais que 05 – para fazer pedidos ao governo ou
aos líderes políticos em benefício da organização. E para aproximadamente 56%
destes respondentes a maioria dos pedidos foi mal sucedida. Na análise geral deste
grupo B, os respondentes acreditam que são altos os indicadores acréscimo de força
(~94%) e ação política (~62%).
A representação dos dois grupos internos (A e B) destes indicadores, está
abaixo, na Tabela 14.
Tabela 14: Representação Público Interno – Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
Público Interno (grupos)
Acréscimo de Força
Ação Política
Grupo A
Médio (50%)
Alta (~81%)
Grupo B
Alta (~94%)
Alta (~62%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.4 Público Externo
Continuando a descrição dos resultados, nesta parte do trabalho são
analisadas as respostas fornecidas pelo público externo, seguindo as seções do
instrumento de coleta.
4.4.1 Grupo e rede de relacionamentos – seção A – público externo
Os grupos representados na figura 7 foram constituídos através das respostas
do público externo, composto pelos beneficiados, voluntários e doadores. Na distância
de corte escolhida para análise, diferenciam-se quatro grupos. No primeiro grupo (A)
estão inclusos 06 respondentes, do V1 a B13. O segundo grupo (B) possui 14
participantes, do B40 a B2. Do terceiro grupo (C) fazem parte os respondentes de B32
a B8; e, por fim, no quarto grupo (D) encontram-se 16 entrevistados, do D4 até B1.
Esta seção teve suas questões avaliadas individualmente, com valores
diferenciados para cada uma das respostas. A análise permitiu detectar, através das
respostas, a participação dos respondentes e de sua família na ONG, o benefício de
82
fazer parte da organização, a percepção quanto aos membros da organização e se a
organização interage ou trabalha com outros grupos/organizações.
Dendograma do Público Externo
Seção A
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
25
20
15
A
B
10
Legendas dos Grupos:
Grupo A: Família não participa, não
doação de dias de trabalho. Participam
porque a ONG beneficia a comunidade.
Relacionamento da ONG com outras
ONGS.
Grupo B: Família não participa,
doação de 7 dias de trabalho.
Participam por causa da espiritualidade
e benefício próprio. Relacionamento da
ONG com outras ONGS.
Grupo C: Família não participa, nunca
doaram dia de trabalho. Participam por
causa
do
tratamento
próprio.
A ONG não se relaciona com outras
ONGS.
Grupo D: Família não participa, nunca
doaram dia de trabalho. Participam por
causa
do
tratamento
próprio.
A ONG se relaciona com outras ONGS.
C
B
Distância de Junção
D
B
5
0
V1 D2 D1 B30 B40 B37 B6 B43 B34 B7 B22 B32 B14 B8 B17 B31 V2 B24 B29 B27 B42 B1
D6 D3 D5 B13 B35 B9 B4 B28 B19 B18 B2 B11 B23 D4 B36 B16 B38 B39 B15 B25 B33
Figura 7: Dendrograma Público Externo – Seção A
Fonte: Software Estatístico Statistica
Na análise dos grupos, o primeiro grupo (A) é composto por pessoas que
nunca tiveram um membro da família participando de atividades na organização
(~57%) e que foram convidadas a participar da ONG (43%). Quando questionados
sobre a doação de dias de trabalho na ONG, este grupo deixou em branco a
resposta (~72%) e o restante respondeu que nunca doou um dia. Para eles, o
principal benefício de fazer parte deste grupo é o benefício proporcionado pela ONG
à comunidade (~71%). Os respondentes deste primeiro grupo (A) assinalaram em
cerca de 72% das alternativas que os membros da ONG não fazem parte de grupos
homogêneos, como vizinhança, família etc. E cerca de 81% acredita que a
organização interage ou trabalha com outros grupos, de objetivos similares ou não
ao da ONG.
83
O segundo grupo (B) é formado, em sua maioria, por pessoas que
escolheram voluntariamente participar da ONG (~79%) e que a família não participa
de atividades na organização (~64%). Nos últimos 06 meses, este grupo doou sete
dias de trabalho para a ONG (~43%). Fazem parte da organização porque em 50%
das respostas acreditam que os maiores benefícios são espiritualidade, status social
e auto-estima. Para cerca de 62% dos respondentes deste grupo (B), os membros
da ONG não fazem parte de grupos homogêneos, como vizinhança, família etc. E
cerca de 74% dos respondentes acreditam que a organização interage ou trabalha
com outros grupos, de objetivos similares ou não ao da ONG.
O grupo C é formado pelos respondentes que, em 80% dos casos, não teve
participação da família na ONG e que escolheram voluntariamente participar da
organização (60%). Todos os participantes deste grupo não doaram nenhum dia de
trabalho para a ONG nos últimos 06 meses. Pensando em seu tratamento e
recuperação, 80% dos respondentes decidiram fazer parte desta ONG. Para cerca
de 54% dos respondentes deste grupo (C), os membros da ONG não fazem parte de
grupos homogêneos, como vizinhança, família etc. E, para cerca de 54% dos
respondentes, a organização não interage ou trabalha com outros grupos de
objetivos similares ou não.
Os respondentes que formam o último grupo (D) são, em sua maioria,
pessoas que escolheram voluntariamente participar da ONG (75%) e que a família
não participa de atividades na organização (~69%). Nos últimos 06 meses este
grupo não doou nenhum dia de trabalho para a ONG (~69%). Fazem parte da
organização porque, para eles, o maior benefício é cuidar de si, do seu tratamento e
recuperação (~56%). 64% dos respondentes deste grupo (D) responderam que os
membros da ONG não fazem parte de grupos homogêneos, como vizinhança,
família etc. E todos os participantes deste grupo acreditam que a organização
interage ou trabalha com outros grupos de objetivos similares ou não ao da ONG.
Através das respostas do público externo foi possível detectar os quatro
grupos, representados conforme a seguinte Tabela:
84
Tabela 15: Representação Público Externo – Seção A – Grupo Rede de Relacionamentos
Público
Participação Como se
Doação
Benefício de
Homogenie
Interação da
Externo
da Família
tornou
Dias
estar na ONG
dade dos
ONG com
(grupos)
na ONG
parte da
Trabalho
membros
outras
ONG
ONG
da ONG
organizações
Grupo A
Não (~57%)
Convite
(43%)
Grupo B
Não (~64%)
Escolha
Voluntária
(~79%)
Grupo C
Não (80%)
Grupo D
Não (~69%)
Escolha
Voluntária
(60%)
Escolha
Voluntária
(75%)
Branco
(~72%)
Não
(~29%)
7 dias
(~43%)
Nenhum
(100%)
Nenhum
(~69%)
Beneficia a
comunidade
(~71%)
Não
(~72%)
Sim, às vezes
(~81%)
Espiritualidade/
status social /
auto estima
(50%)
Tratamento/
Recuperação
Própria (80%)
Tratamento/
Recuperação
Própria (~56%)
Não (~62%)
Sim, às vezes
(~45%)
Sim GERAL
(~74%)
Não
(~54%)
Não (~54%)
Não (~64%)
Sim,
freqüentemente
(~58%)
Sim GERAL
(100%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.4.2 Confiança e solidariedade – seção B – público externo
Na análise seguinte, para a seção confiança e solidariedade, as questões
que receberam valores 1, 2 ou 3 expressam baixa confiança por parte dos
entrevistados, no entanto, sendo iguais ou superiores a 4 significam alta confiança.
Para medir a confiança e a solidariedade do público externo foi utilizado o
mesmo procedimento adotado para o público interno. As assertivas relacionam-se
com a percepção deste público referente às pessoas que fazem parte da
organização e às pessoas externas à organização e foi utilizada a escala de
concordância/discordância de 06 pontos, adaptada com a inserção de conceitos,
visando facilitar a análise dos dados, conforme quadro abaixo.
Escala de Concordância/Discordância de 6 pontos
1 - Discordância Total
2
3
4
5
6 - Concordância Total
Quadro 11: Escala de concordância/discordância de 6 pontos
Fonte: Elaborado pela autora, 2006.
Conceitos correspondentes
Baixo
Médio
Alto
85
Retomando a análise, a figura 8 mostra os agrupamentos que ocorrem ao
considerar as respostas dos beneficiados, voluntários e doadores, isto é, do público
externo. Nela e na distância de corte escolhida para análise diferenciam-se três
grupos. No primeiro grupo (A) se incluem os respondentes B30 até B2; no segundo
(B) encontram-se treze entrevistados, de B20 até B6; e, no terceiro (C) há dezessete
respondentes, de B31 a B1.
Dendrograma do Público Externo
Seção B
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
Legenda dos Grupos:
Grupo A: baixa confiança
e alta soliedariedade.
50
Grupo B: alta confiança
alta solidariedade.
40
Grupo C: Confiança:
baixa (pessoas externas à
ONG) e alta confiança
(pessoas
da
ONG).
Solidariedade alta.
30
20
A
B
C
B
Distância de Junção
10
0
B1
B25
B42
B4
B10
B9
B16
B11
B17
B21
B23
B39
B37
B13
B14
B29
B31
B6
B15
B27
B38
D2
D6
V2
D3
D5
D4
B12
B24
B20
B2
B36
B8
B33
B28
B43
B7
B22
B35
B40
V1
B18
B19
B34
B30
Figura 8: Dendrograma Público Externo – Seção B – Confiança e Solidariedade
Fonte: Software Estatístico Statistica, 2006
Na avaliação das respostas dadas às questões que compõem esta seção, o
grupo A demonstra uma baixa confiança generalizada, pois quase 78% dos
respondentes afirmam não confiar nos itens pesquisados e, quando se trata da
confiança depositada no público interno, professores, funcionários, psicólogos e
terapeutas pastorais, apenas houve respostas altas para os professores.
Para a variável solidariedade, representada pelas questões Q903 (a maioria
das pessoas desta organização está disposta a ajudar) e Q11 (as pessoas
costumam ajudar as outras), as respostas foram altas, com cerca de 57% dos itens
86
assinalados com valores entre 1 e 2. Assim sendo, a percepção deste grupo A se
caracteriza por baixo grau de confiança (~78%) e alto grau de solidariedade (~57%).
Já o grupo B possui um nível de confiança e solidariedade alto, pois as
respostas apontaram para esta direção. Este grupo, em sua maioria (~85%),
assinalou itens de alta confiança. Quando questionados sobre solidariedade, 73%
dos respondentes tem alta confiança nos itens pesquisados e 7% deixaram em
branco alguns itens dessa variável.
No grupo C também há uma baixa confiança, pois cerca de 64% dos
pesquisados afirmaram não confiar nas pessoas e situações questionadas. Este
grupo apresentou somente alta confiança para as questões sobre professores,
enfermeiros/médicos, funcionários da ONG, psicólogos e terapeutas, com 87% de
confiança nesses itens, quando analisados isoladamente. Deste modo, é possível
afirmar que, segundo as respostas, os respondentes não confiam nas pessoas
externas à organização, mas confiam nas pessoas que fazem parte da ONG, como
os funcionários, psicólogos e terapeutas pastorais. Na análise destes indicadores,
pode-se observar, claramente, a distinção de dois sub-grupos, os que não confiam
nas pessoas externas à ONG e os que confiam nas pessoas que colaboram com a
organização.
Quando questionados sobre o indicador solidariedade cerca de 82% dos
participantes do grupo C acreditam que as pessoas costumam ajudar as outras
sempre ou na maior parte do tempo.
Na análise final destes indicadores na visão do público externo, tornou-se
possível detectar os 03 grupos representados na seguinte disposição, conforme
Tabela abaixo:
Tabela 16: Representação Público Externo – Seção B
Público Externo (grupos)
Confiança
Grupo A
Baixa (~78%)
Grupo B
Alta (~85%)
Grupo C
Alta (64%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Solidariedade
Alta (~57%)
Alta (73%)
Baixa (82%)
87
4.4.3 Ação coletiva e cooperação – seção C – público externo
Na descrição dos indicadores de ação coletiva e cooperação é possível
observar a existência de 04 grupos (vide Figura 9), formados através das respostas
fornecidas e da distância de corte escolhida para análise.
O primeiro grupo (A) foi composto por 08 integrantes, dos respondentes B39
ao B9. O segundo grupo (B) teve 16 componentes, do D2 a B4. Na seqüência, o
grupo C foi constituído pelos integrantes B43 e B5. Por último, o grupo D é composto
por 23 pesquisados, do B18 ao B1.
Dendrograma Público Externo
Seção C
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
Legendas dos Grupos:
Grupo A: Ação Coletiva:
alta. Cooperação: alta.
Grupo B: Ação Coletiva:
média. Cooperação: média.
Grupo C: Ação Coletiva:
média. Cooperação: baixo.
Grupo D: Ação Coletiva:
média. Cooperação: média.
30
25
20
15
Distância de Junção
10
A
B
C
D
5
0
B39 B31 B25 B14 D2 B23 B13 B28 D1 B10 D6 B29 B43 B18 B40 B8 B35 B7 D5 B33 B34 B22 B36 B15 B1
B37 B27 B16 B9 B42 V1 B38 B12 B21 V2 B24 B4 B5 D4 B19 D3 B17 B6 B32 B3 B30 B11 B20 B2
Figura 9: Dendrograma Público Externo – Seção C – Ação coletiva e cooperação
Fonte: Software Estatístico Statistica, 2006
É possível observar, na descrição do grupo A, que todos os componentes são
unânimes em todas as suas respostas. 100% dos respondentes trabalharam com
outros membros da ONG em algo que trouxe benefícios para todos e a mesma
porcentagem acredita que mais da metade das pessoas na ONG contribuem de
alguma forma em torno de um objetivo comum. No indicador cooperação, 100%
88
também é unânime em afirmar que seria muito provável receberem ajuda dos
membros da organização, caso ocorresse algum fator desagradável.
De todos os que responderam que trabalham com outros membros da ONG,
apenas cerca de 63% detalharam quais foram as atividades que desenvolveram,
segundo suas respostas, todas voluntariamente. Os serviços prestados foram:
limpeza do campo, lavação de ônibus/carros/piso, louvor a Deus, apoio para
captação de recursos, serviços gerais e limpeza da lagoa.
O grupo B é composto por pessoas que não trabalharam pela ONG, nos
últimos 06 meses (~63%), mas que, embora não participando, acreditam que mais
da metade das pessoas na organização contribuem com tempo ou dinheiro em torno
de um objetivo comum (50%). E a mesma proporção (50%) respondeu que é muito
provável que possam ser ajudados pelas pessoas que fazem parte da organização,
caso algum problema pessoal venha a ocorrer.
Embora com baixa participação nas atividades, dos que assinalaram que
participam, cerca de 67% responderam que ajudaram a ONG de diversas maneiras,
tanto
por
convocação
quanto
voluntariamente.
Os
serviços desenvolvidos
voluntariamente pelos integrantes desse grupo foram: serviços gerais, retirada do
lixo (orgânico, reciclado e de comida), participação no Dia da Família e a ajuda na
cozinha. As tarefas executadas por convocação foram: cuidado da estrebaria,
serviços de marcenaria, ajuda na cozinha, palestra e serviço de terapeuta.
O terceiro grupo (C) tem suas opiniões divididas igualmente entre os
participantes. Metade não trabalhou na ONG e metade trabalhou. Da mesma forma
que metade acredita que todo mundo na organização contribui com tempo ou
dinheiro e a outra metade acredita que é mais da metade que contribui. Mas são
unânimes em afirmar que seria muito improvável que as pessoas dentro da ONG se
unissem para ajudar, caso ocorra algum problema pessoal. Este grupo não detalhou
as atividades que desenvolveu na ONG.
Cerca de 57% dos participantes do último grupo (D) não trabalharam com
outros membros na ONG. Dos respondentes, cerca de 52% acredita que mais da
metade das pessoas contribuem com tempo ou dinheiro em torno de algum objetivo
comum, mas para cerca de 57% deste grupo, é mais ou menos provável que
possam ser ajudados em algum problema pessoal.
Neste agrupamento (D), dos que responderam positivamente a ajuda na
ONG, cerca de 67% detalhou de que tipo foi esta ajuda/trabalho. Somente uma
89
atividade foi desenvolvida por convocação; o auxílio ao curso da Cruz Azul. As
demais atividades, produção de uma Tabela para o jogo de basquete, lavar roupas
da cozinha, trabalho de laborterapia, retirada do lixo, ajuda na cozinha, levar
crianças para a igreja e corte de grama, foram feitas voluntariamente pelos que
desenvolveram algum trabalho na ONG.
Desta forma, tornou-se possível configurar a Tabela seguinte, descrevendo,
sucintamente, as características de cada grupo, do público externo, sobre a visão
dos indicadores ação coletiva e cooperação.
Tabela 17: Representação Público Externo – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação
Público Externo (grupos)
Ação Coletiva
Cooperação
Grupo A
Alta (100%)
Alta (100%)
Grupo B
Média (~57%)
Média (50%)
Grupo C
Média (50%)
Baixa (100%)
Grupo D
Média (~55%)
Média (~57%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.4.4 Comunicação e informação – seção D – público externo
Esta descrição refere-se à seção D do questionário, dos indicadores
comunicação e informação, para detectar por qual meio os respondentes do
público externo recebem informações sobre os trabalhos desenvolvidos pela ONG
estudada. Nesta seção os respondentes puderam assinalar até 03 alternativas.
Na descrição destes indicadores é possível observar a existência de 04
grupos, conforme figura 10, formados através das respostas fornecidas e da
distância de corte escolhida para análise. O grupo A é formado por 09 respondentes,
do D6 ao B9. O grupo B, por sua vez, foi composto por 10 integrantes, do B23 ao
B8. Os respondentes de V1 a B5, totalizando 10 pessoas, compuseram o grupo C. O
Grupo D teve 19 participantes, do D3 ao B1.
O informativo e os funcionários da própria ONG foram citados em 100% das
respostas do grupo A, como os meios pelos quais recebem informações da
organização.
Para o grupo B, os canais de comunicação mais assinalados foram os
funcionários da organização (70%) e internet (60%).
90
Dendrograma do Público Externo
Seção D
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
12
10
Legendas dos Grupos:
Grupo A: Informativo da
ONG;
funcionários
da
própria ONG.
Grupo B: Funcionários da
ONG e internet.
Grupo C: Informativo da
ONG; líderes comunitários e
internet.
Grupo D: parentes, amigos
e
vizinhos;
líderes
comunitários e internet.
8
6
A
B
C
D
Distância de Junção
4
2
0
D6 B35 V2 B21 B9 B14 B32 B33 B15 B8 D4 B42 B20 D1 B5 B36 B17 B7 B11 B31 B37 B43 B25 B2
B40 B16 B22 B10 B23 B13 B12 B27 B34 V1 B24 B30 B19 B18 D3 D2 B38 B39 B4 B29 B3 B28 B6 B1
Figura 10: Dendrograma Público Externo – Seção D – Informação e Comunicação
Fonte: Software Estatístico Statistica, 2006
Informativo da organização (80%), líderes comunitários (70%) e internet
(30%) foram os itens mais votados no grupo C.
Para o grupo D, parentes, amigos e vizinhos é o canal por onde recebem
informações da ONG (100%), seguido por líderes comunitários (~37%) e internet
(~37%).
Analisando todos os respondentes juntos, as alternativas mais assinaladas
pelo público externo foram: parentes, amigos e vizinhos, e; informativo da própria
ONG, com cerca de 17% cada, seguido de funcionários da organização (~17%) e
líderes comunitários (~16%), conforme demonstrado no gráfico a seguir:
91
20%
15%
10%
Internet (17)
Outras ONGS
(5)
Funcionários
da ONG (19)
Líderes
comunitários
(18)
Associações
políticas (1)
TV (6)
Rádio (4)
Jornal
comunitário
ou local (5)
0%
Informativo
ONG (20)
5%
Parentes,
amigos e
vizinhos (20)
Porcentagem
Bloco D - Informação e Comunicação - Público Externo
Tipos e Frequência
Gráfico 2: Comunicação e Informação – Grupo D – Público Externo
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
A Tabela 18 descreve os meios pelos quais, cada grupo do público externo,
recebe as informações da ONG pesquisada.
Tabela 18: Representação Público Externo – Seção D – Comunicação e Informação
Público Externo (grupos)
Comunicação
Grupo A
Informativo da ONG (100%)
Funcionários da própria ONG (100%)
Grupo B
Funcionários da ONG (70%)
Internet (60%)
Grupo C
Informativo da ONG (80%)
Líderes comunitários (70%)
Internet (30%)
Grupo D
Parentes, amigos e vizinhos (100%)
Líderes comunitários (~37%)
Internet (~37%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
4.4.5 Coesão social e inclusão – seção E – público externo
Nesta análise, na seção de respostas sobre os indicadores coesão social e
inclusão foram feitas duas perguntas sobre o tema. A questão Q17 abordava o quão
forte é o sentimento de ficar junto ou próximo as pessoas dentro da ONG e as
respostas, sendo iguais ou superiores a 4, representavam um sentimento forte. A
92
questão Q18 perguntava se a organização é pacífica ou marcada por violência, onde
as respostas 1 e 2 indicavam que a organização era pacífica.
As respostas possibilitaram agrupar os respondentes em 4 grupos distintos,
conforme figura 11. O grupo A foi formado pelos respondentes B45 até B6, com 11
integrantes. O grupo B teve 12 participantes, de V1 a B3. Quatorze integrantes estão
no agrupamento C, dos respondentes B35 a B5. Por sua vez, os beneficiários B14 a
B1 compõem o grupo D, com 16 integrantes.
Dendograma Público Externo
Seção E
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
60
50
Legendas dos Grupos:
Grupo A: coesão, não
respondida.
Inclusão:
pacífica.
Grupo B: fraca coesão,
alta inclusão.
Grupo C: forte coesão,
alta inclusão.
Grupo D: nem forte nem
fraca
coesão,
alta
inclusão.
40
30
Distância de Junção
20
10
A
B
C
D
0
B1
B2
B30
B33
B10
B17
B20
B28
B40
B43
B9
B25
B37
B11
B13
B14
B5
B16
B21
B22
B27
B32
B39
V2
B8
B12
B38
B23
B42
B35
B3
B7
B34
B4
D4
B18
B24
B19
B29
B31
B36
V1
B6
B15
D1
D2
D3
D5
D6
B26
B41
B44
B45
Figura 11: Dendrograma Público Externo – Seção E – Coesão social e inclusão
Fonte: Software Estatístico Statistica
Todos os integrantes do grupo A deixaram a questão sobre coesão em
branco e cerca de 64% responderam que a organização é muito pacífica. O restante
deixou, também, a resposta desta questão em branco.
O grupo B foi formado por respondentes que em cerca de 83% das
alternativas assinaladas acreditam que a coesão é fraca, mas a organização é
pacífica.
93
No grupo C, 100% dos respondentes deste agrupamento responderam que
acham forte o sentimento de estar juntos na ONG. Já, 87% das indicações
apontaram para o item a organização é pacífica.
Por fim, o agrupamento D respondeu que não é nem forte nem fraco o
sentimento de estar próximo às pessoas (~63%) e que a organização é pacífica
(~87%).
Tabela 19: Representação Público Externo – Seção E – Coesão social e Inclusão
Público Externo (grupos)
Coesão
Inclusão
Grupo A
Em branco (100%)
Alta (~64%)
Grupo B
Fraca (~83%)
Alta (~83%)
Grupo C
Forte ( 100%)
Alta ( ~87%)
Grupo D
Nem forte nem fraca
Alta (87%)
(~63%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Numa análise geral de todos os respondentes do público externo, analisados
como um grande grupo, é possível observar que 32% dos pesquisados responderam
o indicador coesão como sendo alto e cerca de 25% deixaram esta questão em
branco, assim como a mesma porcentagem (25%) assinalou que a coesão é fraca
dentro da organização. E cerca de 79% assinalaram que consideram a organização
pacífica.
4.4.6 Acréscimo de força e ação política – seção F – público externo
Na continuação da apresentação dos dados, a seção F trata dos indicadores
acréscimo de força e ação política, sendo composta por quatro questões. As duas
questões iniciais tratam do indicador acréscimo de força (Q19 e Q20) e as outras
duas (Q21-22) de ação política. A questão Q19 aborda o quão feliz o respondente se
considera dentro da organização. A Q20 pergunta o quanto de controle o
respondente acha que tem para tomar decisões que afetam as suas atividades
diárias dentro da organização. Na Q21, quantas vezes, nos últimos 12 meses, as
pessoas da ONG se juntaram para fazer pedidos ao governo ou aos líderes políticos
em benefício da organização. E, por fim, a Q22 aborda se alguns desses pedidos
teve sucesso.
94
Para a questão Q19, as respostas 1 e 2 significavam muito feliz e
moderadamente feliz. Para a Q20, as alternativas 3, 4 e 5 indicavam
sucessivamente controle sobre algumas decisões, controle sobre a maioria das
decisões e controle sobre todas as decisões. Na Q21, a resposta 3 indicava que as
pessoas da organização se juntaram poucas vezes (menos que 5 vezes) para fazer
pedidos ao governo ou líderes, e a alternativa 4 (mais que 5 vezes). E, para a Q22, a
resposta 1 e 2 afirmavam que os pedidos feitos foram em sua totalidade ou maioria
bem sucedidos.
A Figura 12 mostra as respostas dos entrevistados, agrupadas pelo método
em 3 grupos divididos pela distância euclidiana. O agrupamento A foi composto por
10 respondentes, do B38 a B16. O grupo B teve como integrantes 15 respondentes,
do B34 a B2. O último grupo C foi composto por 11 pessoas, do B20 ao B1.
Na descrição dos agrupamentos observa-se que as questões Q22 (pedidos
ao governo ou líderes) e Q23 (se os pedidos tiveram sucesso) não foram
respondidas por 2 grupos, o grupo A e o grupo B, o que demonstra falta de
conhecimento sobre o assunto questionado.
Dendograma Público Externo
Seção F
Método de Junção: Ward
Medida de Parecença: Distância Euclidiana
30
Legendas dos Grupos:
Grupo
A:
Acréscimo
Força: alto. Ação Política:
em branco.
Grupo B: Acréscimo de
Força: baixo. Ação Política:
em branco.
25
Grupo C: Acréscimo de
Força:
médio.
Ação
política: médio.
20
15
A
Distância de Junção
10
B
C
5
0
B38 B33 B27 B40 B21 B34 B42 B31 B18 B15 B11 B35 B2 B37 B22 B13 B5
B3
B36 B39 B17 B25 B16 B43 B28 B29 B32 V1
B7
B8 B20 V2 B14 B30 B12 B1
Figura 12: Dendrograma Público Externo – Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
Fonte: Software Estatístico Statistica
95
No grupo A, os respondentes consideram-se felizes (80%) dentro da
organização. A maioria (90%) dos respondentes deste grupo considera que tem
controle sobre suas decisões, dentro da ONG. As questões sobre ação política (Q21
e Q22) foram deixadas em branco pelos respondentes.
No agrupamento B, os respondentes se consideram moderadamente infelizes
dentro da ONG (~54%) e sem controle para tomar decisões que afetem suas
atividades diárias na organização (~73%). Há, também, neste grupo, um total
desconhecimento sobre o indicador ação política, pois cerca de 83% dos
respondentes deixaram as questões referentes ao indicador em branco.
Para os respondentes do grupo C, a maioria (~55%) acredita que é feliz na
organização, mas que possui pouco controle sobre suas decisões dentro da ONG
(~64%). Para o indicador ação política, cerca de 55% dos participantes deste grupo
responderam que poucas vezes (menos que 5) as pessoas da ONG se juntaram
para fazer pedidos ao governou ou líderes políticos, mas que acreditam que esses
pedidos foram bem sucedidos (~64%).
Tabela 20: Representação Público Externo – Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
Público Externo (grupos)
Acréscimo de Força
Ação Política
Grupo A
Alto (85%)
Em branco (~100%)
Grupo B
Baixo (~64%)
Em branco (~83%)
Grupo C
Médio (~60%)
Médio (~60%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006.
O próximo passo da análise dos resultados foi cruzar os dados coletados do
público interno com o público externo. Os resultados destes cruzamentos
encontram-se descritos na seqüência.
4.5 Cruzamento dos públicos
4.5.1 Grupo e rede de relacionamentos – seção A
O cruzamento dos públicos, relacionado aos indicadores grupo e rede de
relacionamento, permitiu detectar semelhanças e discordâncias entre eles, como
mostra a Tabela 21.
96
Tabela 21: Cruzamento Públicos – Seção A – Grupo e Rede de Relacionamentos
Público
Participação
da Família
na ONG
Como se
tornou parte
da ONG
Doação
Dias
Trabalho
ONG
Interno
Não (A/B)*
Convite
(A/B)
Nenhum
(A)
2 dias (B)
Benefício de
estar na ONG
Beneficia a
comunidade (A)
Espiritualidade/
status social /
auto estima (B)
Externo Não(A/B/C/ Voluntariam 7 dias (B)
Beneficia a
D)
ente (B/C/D) Nenhum comunidade (A)
Convite (A)
(A/C/D)
Espiritualidade/
status social /
auto estima (B)
Tratamento/
recuperação
própria (C/D)
* Referem-se aos grupos formados pela análise de clusters
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Homogeniedade
dos membros da
ONG
Interação da
ONG com
outras
organizações
Não (A/B)
Sim, às
vezes (A/B)
Não (A/B/C/D)
Sim (A/B/D)
Não (C)
Conforme pode ser observado na Tabela acima, os membros da família dos
respondentes, tanto do público interno quanto externo, não participam de atividades
desenvolvidas pela ONG. O que é contraditório se comparado ao que foi estudado
na literatura, uma vez que várias análises sobre o tema apresentam o capital social
auxiliando as transações e auxílios. Conforme reforça McGrath Jr e Sparks (2005),
amigos e famílias participam mais e de diferentes formas das atividades do que
quando estão separados ou se forem trabalhar com pessoas estranhas. E é
corroborado por Rattner (2003), pois, para o autor, a construção de capital social
atinge, favoravelmente, a coesão da família, da comunidade e da sociedade.
Quando questionados sobre a forma como se tornaram parte da organização,
foi possível observar que o público interno se tornou parte da ONG por convite,
enquanto que o público externo, em sua maioria, fez parte voluntariamente da
organização. Como o público externo contempla os voluntários, doadores e
beneficiados, a opção voluntária pode ser traduzida como confiança depositada na
organização, uma vez que buscam na ONG tratamento e recuperação própria ou
cuidado com a espiritualidade e auto-estima.
Mesmo participando voluntariamente (público externo), quando questionados
sobre a quantidade de dias que doaram para a organização, 03 grupos deste público
disseram que nunca doaram nenhum dia para a ONG. Igual informação é
encontrada no público interno, onde 1 grupo também nunca doou nenhum dia. Mas
há grupos representantes nos dois públicos que já participaram da organização
97
doando dias de trabalho. No público interno, um grupo doou 02 dias e no público
externo, a quantidade foi maior, ficando em 07 dias doados para a organização nos
últimos 06 meses.
Vale salientar que a visão do público interno e do público externo é a mesma
quanto aos integrantes da organização. Quando questionados sobre os membros da
ONG, se na opinião deles faziam parte da mesma vizinhança, eram parentes, tinham
a
mesma
crença
religiosa,
pertenciam
ao
mesmo
gênero,
entre
outras
características, os dois públicos responderam que não, o que demonstra que, na
visão dos dois públicos, a organização é composta por vários tipos de pessoas.
Cabe salientar que, para Cohen e Prusak (2001), organizações não devem fechar as
portas somente para membros de algum grupo específico, como de uma etnia
específica ou religião, pois a miscigenação de um grupo propicia esforços de
cooperação. Deste modo, percebe-se o contrário do visto quanto ao capital social
negativo, como exemplo a máfia (PUTNAM, 1994) e o nazismo do Hitler (COHEN;
PRUSAK, 2001).
No último tópico da análise destes indicadores, no item interação da ONG
com outras organizações (rede), ambos assinalaram acreditar que a organização
tem interagido com outras organizações. Somente um grupo do público externo
assinalou o contrário. Esse relacionamento da organização com outras é importante,
pois permite a criação de novas oportunidades e de fluxo do capital social, uma vez
que “significariam incremento das probabilidades de realização, já que oferecem
possibilidades de relacionamentos.” (FERRAREZI, 2003, p. 7). Isso só é possível
exatamente por causa das relações entre os elementos participantes.
Para Putnam (1993) o trabalho em rede é como um fomentar de confiança,
pois, para o autor, através da ligação entre os grupos, quando há confiança, ela é
transmitida a outro grupo e, assim, sucessivamente. Pensamento análogo possui
Ferrarezi (2003), que sugere o investimento na criação de redes sociais, pois através
delas se obtém um aumento da confiança, que repercute, desta maneira, em
desenvolvimento. (FERRAREZI, 2003).
Desta forma, o trabalho segue analisando os indicadores confiança e
solidariedade na visão dos públicos.
98
4.5.2 Confiança e solidariedade – seção B
O passo seguinte foi cruzar as informações sobre os indicadores confiança e
solidariedade entre os dois públicos estudados. Os resultados desse cruzamento
encontram-se na Tabela 22.
Tabela 22: Cruzamento Públicos – Seção B – Confiança e Solidariedade
Públicos
Confiança
Solidariedade
Interno
Baixa (A)*
Alta (A/B)
Alta (B)
Externo
Alta (B/C)
Alta (A/B)
Baixa (A)
Baixa (C)
* Referem-se aos grupos formados pela análise de clusters
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Observando a Tabela acima é possível visualizar que a percepção dos dois
públicos são conflitantes tanto para o indicador confiança quanto para solidariedade.
Não há concordância dos públicos quanto a esses indicadores. Desta forma, o
público interno divide-se entre baixa e alta confiança. Já o público externo tem 02
grupos que atribuem valores de alta confiança e um grupo de baixa confiança.
Observa-se, de acordo com Cohen e Prusack (2001) e Putnam (1993), que a
organização apresenta índices de confiança que possibilitam os outros indicadores
de capital social se expressarem, como a cooperação.
Sendo uma organização de terceiro setor, vale ressaltar que a possibilidade
de consolidar projetos coletivos vem do engajamento de muitas pessoas em ações
específicas, e que isso é possível graças ao sentimento de confiança mútua que
precisa existir em maior ou menor escala entre as pessoas que estão interagindo.
(FERRAREZI, 2003). São esses valores positivos que possuem o potencial de atrair
voluntários e militantes em ONGs e movimentos sociais. (RATTNER, 2003).
“O capital social depende de confiança” (COHEN; PRUSAK, 2001, p. 29). E
complementam, salientando que os relacionamentos, comunidades, cooperação e
comprometimento mútuo que caracterizam o capital social não conseguem existir
sem um mínimo de confiança.
Acrescendo o pensamento de Putnam (1993) a confiança garante que ninguém
irá levar vantagem sobre o outro. No geral, ela é mais fácil de ser estabelecida em um
grupo pequeno do que no grande grupo, principalmente, por causa da relação direta
99
que há entre os participantes de um grupo reduzido (PALDAM; SVENDSEN, 1999),
como pode se caracterizar a organização pesquisada.
Para o indicador solidariedade, o público interno percebe a organização com
alto índice de solidariedade, enquanto que o público externo divide-se em dois
grupos que assinalaram alta solidariedade e um grupo baixa solidariedade.
Mantém-se, deste modo, a análise desenvolvida para o indicador confiança.
Por apresentar índices elevados de confiança, a solidariedade foi percebida da
mesma maneira. O que confirma o pensamento de Ferrarezi (2003) que quanto mais
elevado for o nível de confiança, maior a probabilidade de haver cooperação e
solidariedade, o que realimenta a confiança.
Sendo assim, Fernandes (2002) expõe que a produção de confiança facilita a
cooperação social, possibilitando o aumento do desempenho e a responsabilidade
dos governos e das instituições ditas democráticas. E, ressaltando que, para Putnam
(1993), confiança, normas e rede de relacionamento podem fomentar a eficiência de
uma sociedade e facilitar a ação coletiva.
Como a ONG é vista como confiável e solidária pela maioria dos grupos de
cada público, pode-se perceber que a ação coletiva e cooperação, como citados
pelos autores, também mantêm os mesmos níveis.
4.5.3 Ação coletiva e cooperação – seção C
Neste bloco de indicadores, ação coletiva e cooperação destaca-se o
indicador cooperação, por ser o único que foi unânime para um mesmo público, no
caso, o público interno, cujos respondentes dos grupos A e B responderam que é
alto o índice de cooperação dentro da organização estudada, o que encontra-se
evidenciado na Tabela 23.
Tabela 23: Cruzamento Públicos – Seção C – Ação Coletiva e Cooperação
Públicos
Ação Coletiva
Cooperação
Interno
Média (A)*
Alta (A/B)
Alta(B)
Externo
Alta (A)
Alta (A)
Média (B/C/D)
Média (B/D)
Baixa (C)
* Referem-se aos grupos formados pela análise de clusters
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
100
A Tabela 23 mostra, ainda, que o público interno está dividido em alto e
médio quanto ao indicador ação coletiva. Já, no público externo, a maior incidência
de ação coletiva é de nível médio, pois os 03 grupos que o compõem assinalaram
alternativas que levaram a esta afirmativa. Detalhando melhor o indicador
cooperação, percebe-se que enquanto o público interno acredita que esta variável é
alta dentro da ONG, o público externo está dividido entre alta, média e baixa
cooperação na organização, sendo o nível médio escolhido por dois grupos deste
público (B/D).
Isso pode ser observado na análise. Como os públicos apresentaram grupos
com percepções diferentes sobre confiança, esta percepção disforme manteve-se
nos indicadores ação coletiva e cooperação. Mas nos indicadores confiança e
solidariedade os grupos de cada público ficaram divididos entre alta e baixa. E nos
indicadores ação coletiva e cooperação os grupos dos públicos se dividiram entre
média e alta, em sua maioria. Ressaltando, conforme Franco (2001), quanto maior
for o nível de confiança existente em uma comunidade, maior as chances de haver
cooperação. E é esta própria cooperação que gera confiança. E, para Spence et al
(2003a, 2003b), é o valor do relacionamento entre confiança, solidariedade e das
relações informais um dos componentes do capital social.
Esses
indicadores
podem
ser
considerados
importantes
para
uma
organização, principalmente, do terceiro setor, uma vez que possibilitam o trabalho
em conjunto e “a disponibilidade de cooperar para obter objetivo comum é uma
vantagem competitiva e um recurso para o crescimento”. (FERRAREZI, 2003, p. 13).
E, para Fernandes (2002, p. 379), o capital social de uma associação “amplia sua
capacidade de ação coletiva e facilita a cooperação mútua necessária para
otimização do uso de recursos materiais humanos disponíveis”.
Para Rattner (2004), sendo o capital social fundamentado nas relações entre
atores sociais que estabelecem entre si expectativas e obrigações mútuas,
estimulando, desta maneira, a confiabilidade nas relações sociais e agilizando o
fluxo de informações, tanto internas quanto externas, a análise dos cruzamentos
segue apresentando os indicadores comunicação e informação.
101
4.5.4 Comunicação e informação – seção D
Pode-se visualizar na Tabela 24 que os públicos recebem as informações
sobre a ONG em diferentes canais de comunicação. O informativo da organização
e os funcionários da ONG foram citados pelos dois públicos. Desta maneira, para o
público interno, o informativo/funcionários da ONG e a internet são os 3 meios mais
citados para consultar sobre a organização. Já o público externo tem mais acesso às
informações referentes à organização, através de parentes, amigos e vizinhos;
informativo da própria ONG, através dos funcionários da organização e de líderes
comunitários.
Tabela 24: Cruzamento Públicos – Seção D – Comunicação e Informação
Públicos
Comunicação e Informação
Interno
Informativo da ONG (~29%)
Funcionários da ONG (~20%)
Internet (~17%)
Externo
Parentes, amigos e vizinhos (~17%)
Informativo da própria ONG (~17%)
Funcionários da ONG (~17%)
Líderes Comunitários (~16%)
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Vale salientar que como o público externo é formado em sua maioria pelos
beneficiados e que, enquanto estiverem em tratamento têm acesso restrito aos
meios de comunicação, os três primeiros meios mais citados por este público
retratam redes informais de comunicação, no caso, os parentes, amigos, vizinhos e
os funcionários da ONG.
De acordo com Cohen e Prusak (2001), as notícias, dentro das organizações,
geralmente partem das pessoas que são mais próximas, talvez fisicamente ou
porque trabalham em áreas afins. O que pode ser observado nos dois públicos. No
público interno, os funcionários da organização aparecem como sendo o segundo
meio pelo qual eles mais recebem informações sobre a organização. O que se
repete no público externo, onde as fontes mais citadas foram parentes, amigos,
vizinhos e funcionários da ONG. Esse fluxo de informação é favorecido pela rede
que promove informações que podem ser cruciais para o trabalho. (COHEN;
PRUSAK, 2001).
102
O uso do capital social favorece os indivíduos para acessar informações
sobre mercado de trabalho, ampliar leque de oportunidades, acessar qualificação e
receber informação, neste caso específico, sobre os trabalhos da organização que
fazem parte. Segundo Ferrarezi (2003, p. 13), “as políticas públicas poderiam, além
da qualificação, possibilitar que os indivíduos façam parte de redes que permitam
agilizar esse processo”.
Como exemplo, Cohen e Prusak (2001), destacam que uma vez que o
processo de comunicação e ajuda mútua das redes começa a ser estabelecido, uma
cooperação entre essas redes ocorre, também, como exemplo, os autores citam o
caso de quando os economistas do Banco Mundial na Arábia Saudita enviaram um
requerimento ao Bank’s Environmental and Socially Sustainable Development
(ESSD) solicitando ajuda para informações sobre treinamento relacionado a
estações que monitoram a qualidade do ar. O departamento de ajuda imediatamente
contatou um empregado que buscou informações com uma empresa deste perfil na
região sul da África e enviou catálogos sobre o assunto ao Banco Mundial.
Putnam (1993) também argumenta que confiança, normas e rede de
relacionamento podem fomentar a eficiência de uma sociedade e facilitar a ação
coletiva.
4.5.5 Coesão social e inclusão – seção E
Os dados obtidos com base nos questionários aplicados denotam que as
percepções em relação ao indicador coesão social encontram-se divididas, ou seja,
não é claro para esses grupos o quanto forte é o sentimento de ficar junto ou
próximo as pessoas dentro da organização, principalmente, no público externo,
conforme detalhado na Tabela 25. Em contrapartida, os dois públicos (interno e
externo) enxergam a ONG como uma organização pacífica, por isso, o índice alto
para o indicador inclusão.
Tabela 25: Cruzamento Públicos – Seção E – Coesão social e Inclusão
Públicos
Coesão
Inclusão
Interno
Em branco (A)*
Alta (A/B)
Alta (B)
Externo
Em branco (A)
Alta (A/B/C/D)
Fraca (B)
Forte (C)
103
Nem fraca nem forte (D)
* Referem-se aos grupos formados pela análise de clusters
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
O indicador inclusão, que trata do sentimento de segurança, também foi
detectado alto no estudo desenvolvido por Onyx e Bullen (2000). Os autores, através
de pesquisa, chegaram a conclusão que das 05 comunidades australianas
pesquisadas, as duas comunidades localizadas na área rural apresentaram, no
resultado, maior índice de capital social que as demais. E que os níveis de
sentimento de segurança e confiança também se apresentaram em números mais
elevados nestas duas comunidades. Em contrapartida, nas áreas urbanas, os níveis
mais altos de coesão social apareceram nas áreas urbanas. (ONYX; BULLEN,
2000). Os autores relacionaram os resultados com o conceito de Colemann (1988),
que afirma que o capital social é maior em comunidades pequenas e, portanto, mais
fechadas. O que pode ser transportado para a pesquisa que aqui se apresenta.
4.5.6 Acréscimo de força e ação política – seção F
Pode-se verificar, através da Tabela 26, uma clara divisão dos agrupamentos
dentro dos públicos pesquisados, principalmente, no indicador acréscimo de força.
Neste item, os dois públicos se dividem em médio e alto (interno/externo) e, ainda,
baixo acréscimo de força também foi o conceito do grupo B (externo) para esse
indicador. Da mesma forma, acontece diferença de percepção quanto ao indicador
ação política pelos dois públicos. Para o público interno, esse indicador pode ser
considerado alto, pelos dois grupos que o compõem. Mas, em compensação, há um
desconhecimento pela maioria dos integrantes do público externo quanto à
quantidade de vezes que as pessoas da organização se uniram para fazer pedidos
ao governo/líderes políticos e se algum desses pedidos obteve resultado positivo,
questões que englobam o indicador ação política. Conforme detectado na Tabela
abaixo, 02 agrupamentos pertencentes a este público deixaram estas questões sem
respostas. Somente o grupo C, do público externo, atribuiu valor médio a este
indicador.
104
Tabela 26: Cruzamento Públicos – Seção F – Acréscimo de Força e Ação Política
Públicos
Acréscimo de Força
Ação Política
Interno
Médio (A)
Alta (A/B)
Alto (B)
Externo
Alto (A)
Em branco (A/B)
Baixo (B)
Médio (C)
Médio (C)
* Referem-se aos grupos formados pela análise de clusters
Fonte: Elaborado pela autora, 2006
Talvez o fato de o indicador confiança se apresentar confuso para os dois
públicos, os indicadores acréscimo de força e ação política acabaram sendo
deixados sem responder por alguns grupos do público externo pesquisado, que não
sabiam responder se os pedidos feitos pela ONG tiveram resultados. Ferrarezi
(2003) expõe que um dos aspectos essenciais para a consolidação de projetos
coletivos, que necessitam do engajamento de muitas pessoas em ações específicas,
é, sem dúvida, o sentimento de confiança mútua que precisa existir em maior ou
menor escala entre as pessoas que estão interagindo. O que se percebe é que
mesmo confiando (em menor ou maior grau), ainda, para alguns grupos do público
externo, o indicador ação política se torna uma informação que não chega até eles.
105
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
O intuito principal deste último capítulo é desenvolver a conclusão do
trabalho, de maneira a atender os objetivos iniciais da pesquisa e delinear
recomendações para futuros estudos sobre o tema.
5.1 Considerações finais
Este trabalho teve por objetivo principal analisar os indicadores de capital
social do ponto de vista dos públicos interno (funcionários e dirigentes) e externo
(doadores, beneficiados e voluntários) de uma organização do terceiro setor, da
cidade de Blumenau.
Os indicadores analisados, de acordo com Grootaert et al (2004), foram (a)
grupos e redes; (b) confiança e solidariedade; (c) ação coletiva e cooperação; (d)
informação e comunicação; (e) coesão social e inclusão e, (f) acréscimo de força e
política de ação, respondendo ao objetivo específico que foi a definição de um
conjunto de indicadores a ser pesquisado na organização de terceiro setor.
Os resultados da pesquisa foram apresentados em três etapas. Inicialmente
foram apresentados os resultados referentes ao público interno e ao público externo
em separado. Isto possibilitou responder ao segundo objetivo específico que foi o de
identificar como os indicadores de capital social se apresentam em cada público e
em seguida, cruzar as respostas obtidas.
As respostas a este objetivo possibilitaram descobrir informações relevantes
para o entendimento da presença de capital social através das percepções do
público interno e externo.
Pode-se escrever sobre os efeitos positivos que o capital social apresenta no
desenvolvimento de uma comunidade, pois tem base nos indicadores de
associativismo, civismo, confiança (PUTNAM, 1996), que facilitam transações de
ordem econômica, porque permitem o acesso a essas transações e que esses custos
diminuam, além de prover crescimento através do desenvolvimento econômico. A
importância da confiança pode permitir com que uma comunidade supere, de modo
106
mais fácil, o que é denominado pelos economistas de oportunismo, de um modo em
que os interesses comuns não prevaleçam. Portanto, decorre deste ponto que “quanto
mais elevado o nível de confiança numa comunidade, maior a probabilidade de haver
cooperação, o que realimentaria a confiança.” (FERRAREZI, 2003, p. 8).
A presença do capital social, através dos indicadores estudados, foi percebida
de diversas maneiras pelos públicos envolvidos nesta pesquisa. Nos indicadores
grupo e rede de relacionamentos, as respostas dos dois públicos foram
semelhantes, pois tanto público interno quanto externo não possuem membros da
família participando de atividades da ONG; se tornam parte da ONG de maneira
voluntária; não doam dias de trabalho para a organização a qual fazem parte;
acreditam que a organização é composta por vários tipos de pessoas e, por fim; que
a organização tem um bom relacionamento com outras ONGS.
Na análise dos indicadores confiança e solidariedade as respostas dos
públicos pesquisados apresentaram diferenças. Para o público interno, o indicador
confiança foi percebido de duas maneiras contrastantes, para um grupo deste
público, conceito de confiança é baixo e para o outro grupo é alto. Para o público
externo, o indicador confiança foi percebido, assim como no público interno, de
duas maneiras, como sendo alto (por 2 grupos) e baixo (1 grupo). Mas o indicador
solidariedade é tido como alto pelo público interno, na percepção dos dois grupos
que o compõe. Para o público externo, o indicador solidariedade foi percebido
como sendo alto (por 2 grupos) e baixo (1 grupo).
Cabe salientar que construir confiança está ligado de forma direta à
capacidade de relacionamento com os outros, percebendo-os e incluindo-os em seu
universo de referência. Esse tipo de inclusão diz respeito à atitude tão simples e por
vezes tão esquecida que é justamente a de reconhecer, no outro, suas habilidades,
competências, conhecimentos, hábitos, etc. É essa reciprocidade, que rege as
relações informais e formais na comunidade, sendo a base das relações e
instituições de capital social. (FERRAREZI, 2003).
Na seqüência, na análise dos indicadores ação coletiva e cooperação, o
público interno percebe que na organização as pessoas cooperam, mas se dividem
quanto ao indicador ação coletiva, em médio e alto. O que difere do público externo,
pois a maioria dos grupos acredita que a ação coletiva e a cooperação possuem o
conceito médio.
107
Os públicos recebem as informações sobre a ONG em diferentes canais de
comunicação, sendo o informativo e os funcionários da organização citados pelos
dois públicos.
O indicador coesão social foi o que mais apresentou respostas diferentes
quanto ao tema, principalmente pelo público externo, não chegando a uma resposta
que pudesse ser categorizada como maioria por este público. No público interno, um
grupo deixou em branco suas respostas, o que reflete um desconhecimento sobre o
sentimento de ficar junto ou próximo as pessoas dentro da organização. Mas, cabe
salientar que o indicador inclusão, é tido como alto por todos os grupos integrantes
dos públicos interno e externo.
Quanto ao indicador acréscimo de força, os dois públicos percebem com
conceito médio e alto, em sua maioria. Já o indicador ação política é tido como alto
pelo público interno, mas é desconhecido pela maioria do público externo.
Pode-se, desta maneira, concluir que existe a presença dos indicadores de
capital social dentro da organização, percebido pelos públicos interno e externo, mas
sem que fosse possível explicar as origens ou o comportamento desses indicadores
ao longo do tempo. O que se pode observar com base nos indicadores utilizados na
pesquisa é que alguns indicadores são percebidos de maneiras diferentes pelos
públicos, e outros são percebidos da mesma forma. Mas mesmo assim, nada, além
disto, pode ser concluído, nem mesmo qual a relação de causalidade entre estes
indicadores. Para Fernandes (2002, p. 394) “no que tange à questão da mudança e
desempenho institucional, chega-se à constatação de que a existência de capital
social pode aumentar o desempenho das instituições, tornando-as mais eficientes e
responsáveis”.
Capital social faz uma organização, ou um grupo cooperativo mais do que um
coletivo de indivíduos com objetivos próprios. O capital social une os espaços entre
as pessoas. Os elementos característicos e indicadores incluem alto nível de
confiança, redes pessoais fortes e comunidades vibrantes, conhecimentos
compartilhados, e um senso de participação igualitária – todas as coisas que
desenham os indivíduos dentro de um grupo. Este tipo de conexão suporta
colaboração, comprometimento, acesso ao conhecimento e talento, e um
comportamento organizacional coerente. Esta descrição de capital social sugere
investimentos organizacionais apropriados – isto é, dando espaço pessoal e tempo
para conexão, demonstrando confiança, efetivamente comunicando objetivos e
108
crenças, e oferecendo oportunidades igualitárias e recompensas que incentivem
participação genuína, mais do que presença física. (COHEN; PRUSAK, 2001).
Mas, cabe salientar que as organizações podem dar certo ou não por várias
razões, e seria insensato atribuir ao capital social o papel de vilão ou herói desta
estória. “Capital social não é a chave para o sucesso organizacional.” (COHEN;
PRUSAK, 2001, p. 11). Para o autor, as organizações são complicadas e operam em
ambientes complicados. E capital social não é uma estratégia de negócio ou um
plano
de
marketing
ou
um
substituto para
ambos.
Vale
ressaltar
que,
necessariamente por ser dotada internamente de capital social, uma associação
venha a contribuir para o “acúmulo de civismo do todo social, ou seja, para o
desenvolvimento do capital social numa sociedade.” (FERNANDES, 2002, p. 385-6).
Desta maneira, as conclusões deste estudo devem ser encaradas como um
novo caminho que pode ser trilhado, seja para futuras pesquisas sobre o tema, seja
para ações da organização no sentindo de incrementar a presença de alguns
indicadores pelos públicos envolvidos, seja para fomentar parcerias com outras
esferas, uma vez que “estado e sociedade juntos podem produzir civismo ou capital
social.” (FERNANDES, 2002, p. 394).
5.2 Limitações
Apesar dos esforços da pesquisa, algumas questões precisam ser
salientadas, pois talvez possam ter enviesado o estudo desenvolvido, com o objetivo
de incentivar a realização de pesquisas futuras.
Ao escolher a aproximação do tema capital social ligado ao terceiro setor,
este estudo contou com dificuldades de ordem práticas, no que se referiu,
principalmente, ao foco do estudo, uma organização do terceiro setor, na dificuldade
de devolução dos instrumentos, principalmente por parte dos dirigentes e dos
doadores. Como observado no capítulo 3, de 50 doadores, apenas 5 devolveram o
instrumento para estudo, o que pode mostrar falta dos indicadores de capital social
por parte deste grupo, pertencente ao público externo. Da mesma forma, no público
interno, o grupo de dirigentes não participou efetivamente, o que pode fomentar um
estudo posterior.
109
5.3 Recomendações para pesquisas futuras
Sugere-se, para futuros estudos que a validação dos resultados encontrados
seja feita através de uma análise confirmatória, diferente da proposta deste estudo
que é exploratória. Outra sugestão é o desenvolvimento de estudos utilizando outros
tipos de indicadores de capital social, ou, utilizando os mesmos indicadores, mas em
outras organizações de Terceiro Setor.
Pesquisar os indicadores de capital social em organizações privadas e
públicas e comparar os dados encontrados com este estudo também poderia trazer
contribuições. Outro aspecto que pode ser pesquisado é o da baixa participação dos
doadores e dirigentes desta organização em específico.
Através de pesquisa também pode ser descoberto ações que possam ser
desenvolvidas pela ONG para que se atinga a coesão das famílias dos públicos
envolvidos, na participação de atividades da organização.
Pesquisar quais foram os motivos que levaram o público pesquisado a
participar voluntariamente da organização estudada, no sentido de desenvolver
ações futuras para captação de novos voluntários e doadores.
110
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116
APÊNDICE A – Questionário
QUESTIONÁRIO
ASSINALAR COM X A OPÇÃO QUE VOCÊ SE ENCAIXA:
a) (
) doador
b) (
) funcionário
c) (
) voluntário
e) (
) residente em tratamento
d) (
) dirigente
01. QUANTAS VEZES NOS ÚLTIMOS 12 MESES QUALQUER MEMBRO DA SUA FAMÍLIA
PARTICIPOU DE ATIVIDADES NA ORGANIZAÇÃO. EX. ENCARREGANDO-SE DE REUNIÕES OU
FAZENDO GRUPOS DE TRABALHO?
0101 (
) 1 a 2 vezes
0102 (
) 2 a 3 VEZES
0103 (
) outra. Especificar: ______________________________
02. COMO VOCÊ SE TORNOU PARTE DESTA ORGANIZAÇÃO?
0201 (
) Foi convidado a participar
0202 (
) Escolha voluntária
(especificar) ____________________________________________
0203 (
) outros
03. QUANTOS DIAS DE TRABALHO VOCÊ DOOU A ORGANIZAÇÃO NOS ÚLTIMOS 6 MESES?
0301 (
) nenhum 0302 (
) 1 dia 0303 (
) 2 dias 0304 (
) 7 dias 0305 (
) outro.
Especificar: _______________________________________________
04. QUAL É O PRINCIPAL BENEFÍCIO DE SE JUNTAR A ESSE GRUPO?
0401 (
) contribui para minha família com ajuda no sustento ou acesso a serviços
0402 (
) beneficia a comunidade
0403 (
) recreação/por prazer
0404 (
) espiritualidade, status social, auto-estima
0405 (
) tratamento/recuperação própria
0406 (
) outros (especificar)______________________________
05. PENSE SOBRE OS MEMBROS DESSA ORGANIZAÇÃO, ELES SÃO EM MAIORIA DO
MESMO(A)... RESPONDA 1 PARA SIM E 2 PARA NÃO:
0501 Vizinhança/povoado
0502 Familiares ou parentes
0503 Religião
0504 Sexo
0505 Idade
0506 Grupo étnico ou que falam a mesma língua/classe social
06. ESSA ORGANIZAÇÃO INTERAGE OU TRABALHA COM OUTROS GRUPOS COM OBJETIVOS
SIMILARES, NA CIDADE/VIZINHANÇA?
0601 (
) Não
0602 (
) Sim, às vezes
0603 (
) Sim, freqüentemente
07. ESSA ORGANIZAÇÃO INTERAGE OU TRABALHA COM OUTROS GRUPOS COM OBJETIVOS
SIMILARES, DE FORA DA CIDADE/VIZINHANÇA?
0701 (
) Não
0702 (
) Sim, às vezes
0703 (
) Sim, freqüentemente
08. ESSA ORGANIZAÇÃO INTERAGE OU TRABALHA COM OUTROS GRUPOS COM OBJETIVOS
DIFERENTES, NA CIDADE/VIZINHANÇA?
0801 (
) Não
0802 (
) Sim, às vezes
0803 (
) Sim, freqüentemente
117
09. NO GERAL, VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA DAS AFIRMATIVAS ABAIXO. COLOQUE O
NÚMERO CONFORME ESCALA A SEGUIR, ONDE:
1. Concordo totalmente
2. Concordo parcialmente
3. Nem concordo nem discordo
4. Discordo parcialmente
5. Discordo totalmente
0901 (
) A maioria dos colaboradores que estão na organização podem ser confiáveis.
0902 (
) Nesta organização, tem que ficar alerta com os outros pois é provável que querem tirar
vantagem de você.
0903 (
) A maioria das pessoas desta organização estão dispostas a ajudar se você precisar.
0904 (
) Nesta organização, as pessoas geralmente não confiam uma nas outras para emprestar
ou pedir dinheiro emprestado.
1
Grau muito
grande de
confiança.
Afirmativas
Grau muito
pequeno de
confiança.
10. AGORA, EU QUERO PERGUNTAR PRA VOCÊ QUANTO VOCÊ CONFIA NOS DIFERENTES
TIPOS DE PESSOAS. NUMA ESCALA DE 1 A 6, ONDE 1 QUER DIZER EM GRAU MUITO
PEQUENO E 6 SIGNIFICA NUM GRAU MUITO GRANDE, QUANTO VOCÊ CONFIA NAS PESSOAS
DE CADA CATEGORIA? RESPONDA COM UM NÚMERO PARA CADA AFIRMATIVA:
Variação da
confiança
2
3
4
5
6
1001. Pessoas da sua etnia (raça) ou que falam a mesma língua, pertençam a
mesma classe social, mesma religião.
1002. Pessoas de outras etnias (raças) ou que falam outras línguas, ou que fazem
parte de outra classe social, mesma religião.
1003. Lojistas.
1004. Funcionários da prefeitura.
1005. Funcionários do governo estadual/federal.
1006. Polícia.
1007. Professores.
1008. Enfermeiras e Médicos.
1009. Funcionários da Organização.
1010. Psicólogos.
1011. Terapeutas pastorais.
11. AS PESSOAS NA SUA ORGANIZAÇÃO AJUDARAM AS OUTRAS PESSOAS NO ÚLTIMO MÊS?
MARQUE COM UM X.
1101 (
) Sempre ajudam.
1102 (
) Ajudam na maior parte do tempo.
1103 (
) Ajudam algumas vezes.
1104 (
) Raramente ajudam.
1105 (
) Nunca ajudam.
12. NOS ÚLTIMOS 6 MESES, VOCÊ TRABALHOU COM OUTROS MEMBROS DO CERENE PARA
ALGO QUE TRARIA BENEFÍCIOS PARA TODOS, NA ORGANIZAÇÃO?
1201 (
) Sim
1202 (
) Não  vá para a pergunta 14
13. QUAIS FORAM AS ÚLTIMAS ATIVIDADES QUE VOCÊ FEZ NOS ÚLTIMOS 06 MESES? SUA
PARTICIPAÇÃO FOI VOLUNTÁRIA OU CONVOCADA?
Atividades
Voluntário Convocado
118
14. QUAL A PROPORÇÃO DE PESSOAS NA ORGANIZAÇÃO QUE CONTRIBUEM COM TEMPO
OU DINHEIRO EM TORNO DE UM OBJETIVO COMUM DA ORGANIZAÇÃO. (Exemplo: encontro de
famílias).
1401 (
) Todo mundo
1402 (
) Mais da metade
1403 (
) Talvez metade
1404 (
) Menos da metade
1405 (
) Ninguém
15. SUPONHA QUE ACONTEÇA ALGO NÃO MUITO BOM PARA ALGUÉM NA ORGANIZAÇÃO,
COMO UMA DOENÇA SÉRIA, OU A MORTE DE UM PARENTE. QUAL A PROBABILIDADE DE
ALGUMAS PESSOAS DA PRÓPRIA ONG SE UNIREM E AJUDAREM?
1501 (
) Muito provável
1502 (
) Mais ou menos provável
1503 (
) Nem provável nem improvável
1504 (
) Pouco improvável
1505 (
) Muito improvável
16. POR ONDE VOCÊ RECEBE INFORMACOES SOBRE OS TRABALHOS DESENVOLVIDOS
PELA ORGANIZAÇÃO? ASSINALE 3 ALTERNATIVAS.
1601 (
) Parentes, amigos e vizinhos
1602 (
) Informativo da organização
1603 (
) Jornal comunitário ou local
1604 (
) Rádio
1605 (
) Televisão
1606 (
) Associações políticas
1607 (
) Lideres comunitários
1608 (
) Funcionário da organização
1609 (
) Através de outras ONGS
1610 (
) Internet
17. O QUANTO FORTE É O SENTIMENTO DE FICAR JUNTO OU PRÓXIMO AS PESSOAS
DENTRO DA SUA ORGANIZAÇÃO? ASSINALE COM X UMA ÚNICA RESPOSTA.
1701 (
) Muito fraco
1702 (
) Um pouco fraco
1703 (
) Nem fraco nem forte
1704 (
) Um pouco forte
1705 (
) Muito forte
18. NA SUA OPINIÃO, ESTA ORGANIZAÇÃO GERALMENTE É PACÍFICA OU MARCADA POR
VIOLÊNCIA?
1801 (
) Muito pacífica
1802 (
) Moderadamente pacífica
1803 (
) Nem pacífica nem violenta
1804 (
) Moderadamente violenta
1805 (
) Muito violenta
19. O QUÃO FELIZ VOCÊ SE CONSIDERA DENTRO DA ORGANIZAÇÃO?
1901 (
) Muito feliz
1902 (
) Moderadamente feliz
1903 (
) Nem feliz nem triste
1904 (
) Moderadamente infeliz
1905 (
) Muito infeliz
119
20. O QUANTO DE CONTROLE VOCÊ ACHA QUE TEM PARA TOMAR DECISÕES QUE AFETAM
AS SUAS ATIVIDADES DIÁRIAS DENTRO DA ORGANIZACAO? VOCÊ SE SENTE…
2001 (
) Sem controle
2002 (
) Controlo muito pouco as decisões
2003 (
) Controle sobre algumas decisões
2004 (
) Controle sobre a maioria das decisões
2005 (
) Controle sobre todas as decisões
21. NOS ÚLTIMOS 12 MESES, QUANTAS VEZES AS PESSOAS DESSA ORGANIZAÇÃO SE
JUNTARAM PARA FAZER PEDIDOS AO GOVERNO OU AOS LÍDERES POLÍTICOS EM BENEFÍCIO
DA ORGANIZAÇÃO?
2101 (
) Nunca
2102 (
) Uma vez
2103 (
) Poucas vezes (menos que 5)
2104 (
) Muitas vezes (mais que 5)
22. ALGUM DESSES PEDIDOS TEVE SUCESSO?
2201 (
) Sim, todos foram bem sucedidos
2202 (
) A maioria foi bem sucedido
2203 (
) A maioria foi mal sucedido
2204 (
) Nenhum foi bem sucedido
23. ESCOLARIDADE:
2301 (
) Primário
2302 (
) Secundário
2303 (
) Terceiro Grau
2304 (
) Graduação
2305 (
) Pós-Graduação
24. ESTADO CIVIL
2401 (
) Casado(a)
2402 (
) Viúvo(a)
2403 (
) Divorciado (a)
2404 (
) Separado(a)
2405 (
) Solteiro(a) (nunca casou)
25. FAIXA ETÁRIA
2501 (
) 15-25 anos
2502 (
) 25-35 anos
2503 (
) 35-45 anos
2504 (
) 45-55 anos
2505 (
) 55-65 anos
26. SEXO:
2601 (
) feminino
2602 (
) masculino
120
APÊNDICE B – Carta
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ DENISE MARIA