Esta entrevista foi gentilmente concedida pela Professora Denise Maria Oliveira Zoghbi, que
possui Doutorado em Letras e Linguística pela Universidade Federal da Bahia, instituição na
qual atua como docente adjunto do Instituto de Letras e do Programa de Pós-Graduação em
Língua e Cultura. Possui experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística
Aplicada, atuando principalmente nos seguintes campos: Linguística Aplicada Crítica, Língua
Estrangeira, Letras - Linguística, Linguagem e Língua portuguesa e Análise do Discurso
Crítica. Atualmente, concluiu o Projeto de pesquisa intitulado “(Re)construção de identidades
no discurso inclusivo da Educação” (2009), e iniciou um novo trabalho, sob o título
provisório “Identidades e relações desiguais de poder”. Esta entrevista se deu mediante
contatos pelo correio eletrônico, entre os meses de abril e junho de 2013. As perguntas foram
elaboradas pelos membros da Comissão Executiva da 12ª edição da Revista Inventário.
O Currículo Lattes da professora Denise Zoghbi está disponível no seguinte endereço:
http://lattes.cnpq.br/3655096920905445
IDENTIDADE E DISCURSO INCLUSIVO: UM OLHAR SOBRE OS CURSOS DE
LETRAS
RI1: Fale-nos um pouco sobre a pesquisa que a senhora desenvolve.
DZ2: Desde 2008, desenvolvo na Universidade Federal da Bahia a pesquisa intitulada (Re)
Construção de identidades no discurso inclusivo da Educação. Esta pesquisa insere-se na
esfera da Linguística Aplicada Crítica que investiga, entre outros aspectos, questões de
identidade e inclusão social de um sujeito sócio-historicamente situado, ativo e diverso.
Com a contribuição de vários pesquisadores de Iniciação Científica e de Pós-Graduação,
diagnosticamos, em parte, a realidade de algumas escolas em Salvador em relação à inclusão
de pessoas com necessidades educacionais especiais. Questionamos a formação inclusiva e
crítica do professor, a preparação da escola para atender estes sujeitos, a adaptação de
currículo e a construção do conhecimento do aluno.
Atualmente, está sendo elaborado um novo Projeto de pesquisa sob o título provisório
Identidades e relações desiguais de poder que continuará a discutir as identidades de sujeitos
discursivos ainda excluídos e discriminados socialmente, não somente em relação às
necessidades educacionais especiais, mas também negros, índios, idosos, homossexuais,
mulheres e tantas outras vozes silenciadas.
RI: A Educação Inclusiva se configura como uma discussão pouco comum no contexto de
Letras. O que te motivou a pesquisar essa temática considerando esse contexto? Há alguma
relação com a sua formação e/ou experiências da prática docente?
DZ: Realmente, a discussão sobre Educação Inclusiva em Letras ainda é muito incipiente. Um
dos motivos que me leva a pesquisar essa temática de identidade e inclusão é justamente a
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Abreviação para Revista Inventário.
Abreviação para Denise Zoghbi
Denise Maria Oliveira Zoghbi
carência de estudos no âmbito de Letras. Outro fator que também me motiva é o interesse
pelos Estudos Críticos do Discurso que vem crescendo cada vez e mais. De certa forma, há
uma relação com a minha formação em língua estrangeira. O tempo em que trabalhei como
professora de inglês no Ensino Médio e minha formação em Linguística Aplicada fizeram
com que eu desenvolvesse o interesse por questões de cultura, do discurso e do sujeito sóciohistoricamente situado.
RI: Qual o campo teórico que embasa o seu trabalho? Isso, de alguma forma, motivou a
sua opção pela temática que discute em sua pesquisa?
DZ: Como disse anteriormente, o meu trabalho apóia-se na esfera da Linguística Aplicada
Crítica ou Contemporânea e também na Análise do Discurso Crítica e nos Estudos Culturais,
tendo como apoio teórico estudiosos como Moita Lopes, Kanavillil Rajagopalan, Teun van
Dijk e Stuart Hall. Estes e outros estudiosos que discutem questões de identidade, discurso e
cultura me incentivam, cada vez mais a trabalhar com as vozes silenciadas, buscando, com a
pesquisa, contribuir para que estes sujeitos se sintam incluídos e ouvidos.
RI: Após o Reuni3 houve alguma orientação da IES para recepcionar os alunos oriundos
desse tipo de ingresso na academia e, considerando a sua pesquisa, como a senhora
percebe essa questão?
DZ: Como sabemos, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades (REUNI) prevê, entre outras coisas, a ampliação de vagas, a abertura de cursos
noturnos e no interior e a flexibilização de currículos. A Universidade vem buscando cumprir
estas metas, reorganizando a estrutura acadêmica e a dos cursos de graduação e promovendo
políticas de inclusão, como cotas para estudantes negros oriundos da escola pública, os novos
cursos noturnos e as novas IES nas cidades do interior. Considerando os temas explorados em
nossa pesquisa, verifica-se a necessidade de formar professores capazes mais atentos às
diferenças e a urgência de uma reformulação curricular que contemple as necessidades desse
novo público que está entrando na Universidade.
RI: Em relação às ressonâncias do seu projeto no âmbito acadêmico, quais as possíveis
estratégias que vêm sendo empreendidas, no sentido de disseminar os conhecimentos
vinculados às questões abordadas? Há um meio virtual ou outra ferramenta que exerça tal
função? Existe alguma dificuldade/impedimento nesse sentido?
DZ: Procuramos divulgar os resultados de nossas pesquisas em Eventos Acadêmicos sempre
que possível. Mas, ainda é preciso desenvolver outras ferramentas para que estas discussões
sobre Educação Inclusiva alcancem novos espaços e para que os frutos dessas reflexões sejam
colhidos. Coordenei, em 2010, o XI Seminário de Linguística Aplicada e VII Seminário de
Tradução, na Universidade Federal da Bahia, cujo tema foi “Cultura, Identidade, Diferença e
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Em 2007 a Universidade Federal da Bahia adotou o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (Reuni), que visa um acesso mais democrático ao ensino superior, aumentando
também o número de alunos de classes populares ingressos na universidade.
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Revista Inventário - 12ª edição – jan-julho. 2013- www.inventario.ufba.br. ISSN 1679-1347
IDENTIDADE E DISCURSO INCLUSIVO: UM OLHAR SOBRE OS CURSOS DE LETRAS
Acessibilidade”. Após este evento, observei que cada vez mais os estudantes passaram a se
interessar por questões de identidade e de inclusão.
RI: Considerando o período que iniciou sua pesquisa até o momento atual, a senhora pôde
notar alguma mudança que tenha interferido significativamente na problemática
observada em seu trabalho?
DZ: Sim. Os alunos mostram-se mais interessados nestas questões e procuram se engajar na
pesquisa e participar de eventos que discutem temas como cultura, identidade, inclusão,
preconceitos, entre outros. Além de participarem, tanto na graduação quanto na pósgraduação, de discussões geradas no âmbito de sala aula de componentes curriculares ligados
à Linguística Aplicada.
RI: Há cerca de duas décadas, notamos vários movimentos em favor de mudanças e
atualizações nos currículos dos cursos de Letras, no âmbito das IES Federais. A pesquisa
que a senhora desenvolve, destacando uma questão pouco discutida nesse cenário, que é a
Educação inclusiva, pretende gerar impacto no que tange ao currículo desse curso e, por
consequência, atingir a formação de professores que, a médio prazo, estarão atuando como
profissionais na área da educação?
DZ: No caso especificamente dos cursos de Letras, a intenção é justamente essa: promover
mudanças e atualizações nos currículos, visando formar profissionais reflexivos e críticos,
capazes de lidar com questões de diferença, inclusão e desconstrução de preconceitos sociais.
Um exemplo desta renovação, é a criação, com a Reforma Curricular de 2005, no âmbito já da
graduação, do componente curricular LET B74 - Introdução à Linguística Aplicada. Nele,
estas questões são trazidas para sala de aula. Queremos começar a preparar o futuro professor
para lidar com esta problemática. É claro que um único componente curricular não dará conta
desta formação, por isso, é necessário insistir que outros componentes sejam criados e aqueles
já existentes também abordem estes temas.
RI: Considerando o estágio de conclusão de sua pesquisa, quais os resultados alcançados,
que julga serem mais significativos, e como eles podem contribuir para ações sócioeducacionais, bem como, para a formação do futuro professor de línguas?
DZ: A pesquisa que está sendo concluída nos mostra a necessidade de se investir muito mais
na formação crítico-reflexiva do futuro professor de línguas, principalmente por detectarmos
que grande parte dos professores que já atuam na Educação Básica não sabem lidar com as
diferenças nem com a inclusão social propriamente dita. Eles se mostram favoráveis a estas
questões, mas não se sentem preparados para atuarem dentro desta perspectiva. Por isso,
considero imprescindível que outras pesquisas sejam feitas e que mais discussões em sala de
aula sejam realizadas para sensibilizar e preparar novos profissionais para aturem nesta
perspectiva inclusiva. A continuidade da discussão sobre Inclusão, identidade e discriminação
ainda se dará nas próximas pesquisas que estaremos propondo em breve.
Revista Inventário - 12ª edição – Jan-Julho. 2013- www.inventario.ufba.br. ISSN 1679-1347
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