Pronunciamento do Senhor Deputado Junior Betão (PL/AC), Água patrimônio estratégico. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados. Entre os objetivos do milênio estabelecidos pela ONU, no ítem número sete, referente à sustentabilidade ambiental, está a perspectiva de redução à metade do número de pessoas sem acesso sustentável à água potável. Este é, embora pouco disseminado na mídia, um dos principais problemas da humanidade. Podemos perceber fortes indícios de que já neste início de século poderemos enfrentar guerras por causa de água, devido à escassez cada vez mais acentuada que diversos países têm por este recurso natural indispensável à existência da vida. As estatísticas e prognósticos indicam uma calamidade iminente. Um terço da população mundial vive em zonas que sofrem de stress hídrico, onde o consumo supera o fornecimento. Até 2025, se as atuais tendências não tiverem sido revertidas, pelo mesmo dois terços da população mundial sofrerá graves conseqüência. Para se ter uma idéia, hoje, um quinto da população do planeta não tem acesso à água potável. Seis mil pessoas, principalmente crianças e, na sua maioria, habitantes de países em desenvolvimento, morrem diariamente devido à utilização de água suja e poluída. A poluição dos rios e mares pelos esgotos leva a uma situação de crise na área da saúde de proporções difíceis de se calcular. Cerca de metade dos rios do mundo estão seriamente poluídos ou com suas reservas naturais esgotadas. Algumas das zonas de terras úmidas ou águas interiores mais importantes do mundo, incluindo o Mar de Aral ou os pântanos da Mesopotâmia, foram-se reduzindo, provocando calamidades ambientais que afetaram as populações e a fauna. Dois bilhões de pessoas, cerca de um terço da população mundial, dependem das reservas de água subterrâneas. Em alguns países, como algumas zonas da Índia, a China, a Ásia Ocidental, incluindo a Península Arábica, e a zona oeste dos Estados Unidos da América, o nível das águas está diminuindo devido ao consumo excessivo. Na Europa Ocidental e nos Estados Unidos da América estão cada vez mais poluídas por produtos químicos usados na agricultura. Apesar do quadro alarmante, além do nosso otimismo pessoal, temos motivos para crer que podemos encontrar formas para solucionar a questão. Uma pesquisa apresentada no Terceiro Fórum Mundial da Água, em Quioto, no Japão, analisou os acordos sobre a água doce cobrindo os últimos 4500 anos. O estudo indicou que, ao longo dos últimos séculos, a cooperação, mais do que os conflitos, tem sido a norma no que refere à gestão dos rios e das suas bacias hidrográficas. O trabalho nos mostra que, as nações e as comunidades, quase sempre, optam pelo caminho da paz e pela partilha e não pela posse exclusiva, quer se trate de água para beber, para proteger a fauna e a flora selvagens ou, como mais recentemente acontece, para a produção de alimentos ou energia elétrica. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Parlamentares, Existem outras razões para nos sentirmos otimista. Até a metade do século passado, muitos dos rios em Continentes como a América do Norte e a Europa, principalmente os que atravessam as grandes áreas industriais, estavam com suas águas tão poluídos que poucos acreditavam ser possível sua recuperação. Hoje, depois de muitos trabalhos e com a criação e o cumprimento das leis ambientais para o tratamento das águas e resíduos industriais, os peixes estão novamente se reproduzindo e imigrando para as bacias fluviais através de estuários e afluentes, agora relativamente mais limpos. O rio Tâmisa, no Reino Unido, foi oficialmente declarado como rio morto há cerca de meio século. Hoje podem ser encontradas neste rio cerca de 120 espécies, incluindo o salmão migratório. Se a história pode nos mostrar que a cooperação em relação aos recursos hídricos tem sido a norma, também nos ensina que a complacência não é uma boa opção. Existem mais de 150 bacias hidrográficas que são objeto de acordos de cooperação inadequados. Muitas destas situações podem se transformar em potenciais pontos de conflito. Por tudo isso, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, como cidadão brasileiro, representante de uma região privilegiada na disponibilidade deste recurso, a cada dia me sinto mais responsável pela criação de políticas e estratégias que possam garantir a sustentabilidade do seu uso. Estou certo de que a Amazônia, além de toda sua biodiversidade, desempenhará no futuro um importante papel como supridora mundial deste recurso. Desde já quero estar atento e preparado para compreender e participar deste desafio. Muito obrigado.