2 CONCLUSÕES DO 4.º CONGRESSO INTERNACIONAL DOS HOSPITAIS - “ENVELHECIMENTO E SAÚDE: DESAFIOS EM TEMPOS DE MUDANÇA” A Associação Portuguesa para o desenvolvimento Hospitalar (APDH) é uma organização nãogovernamental portuguesa, constituída por profissionais e instituições de saúde, com a missão de promover relações interinstitucionais de âmbito nacional, de participar no intercâmbio internacional ao nível europeu, através da Federação Europeia dos Hospitais (HOPE), e mundial, através da Federação Internacional dos Hospitais (FIH), com o objectivo de reforçar a cooperação nacional e internacional no âmbito hospitalar e dos cuidados de saúde. A realização do 4º Congresso internacional dos hospitais, que tem lugar de dois em dois anos, é precisamente uma de muitas oportunidades de concretização desta política de participação, associação e cooperação, e que conta com intervenientes institucionais e profissionais portugueses e estrangeiros dos mais diversos campos de atuação: prestação dos cuidados de saúde, administração de serviços de saúde, academias de ensino das profissões de saúde, centros de investigação em saúde e consultadoria em gestão da saúde. Tivemos presente no início dos trabalhos o Senhor Secretário de Estado da Saúde, Dr. Manuel Teixeira, em representação do Ministério da Saúde, que muito nos honrou e ao qual manifestámos o quanto nos sentimos estimulados para corresponder à confiança, que deposita na APDH para esta levar a cabo as ações de representação dos estabelecimentos hospitalares e de cuidados de saúde nas respectivas organizações europeia (HOPE) e mundial (FIH), bem como de outras tarefas que haja por bem de nos incumbir. Afirmámos, igualmente, a honra em ter presentes o Senhor Diretor Geral da Saúde, Dr. Francisco George, a Dra. Sara Pupato-Ferrari, Vice-presidente da HOPE e o Senhor Prof. Doutor Carlos Pereira Alves, membro da Direção da APDH, mas que esteve neste momento em representação da FIH. Este evento não teria sido possível sem muita imaginação, engenho e arte, salientando-se a colaboração do INFARMED na cedência do espaço, do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, na pessoa da sua Presidente, Dra. Isabel Paixão, da ESTAMO, na cedência do espaço para a exposição de fotografia e vídeo “Hospital”, dos nossos patrocinadores, designadamente a Pfizer, Novartis, Abbott, Amgen, AstraZeneca, Merck Sharp & Dohme, 3 Bristol-Myers Squibb, Continente, Ecolub, Epson, GS1, Hama, Herdade dos Grous, Hixcos, Monte Novo e Figueirinha, OKI, Schulke, Tecno-hospital e Grupo Espírito Santo. Foi ainda muito reconfortante a participação permanente da Federação Europeia dos Hospitais (HOPE), na qual a APDH representa os hospitais portugueses, pelo protocolo subscrito com o Ministério da Saúde, na pessoa da Dr.ª Sara Pupato-Ferrari, sua VicePresidente, com importantes participações em mesas de trabalho. Relevamos como muito importante, também, a participação do Dr. Boi Ruiz, Conselheiro para a Saúde da Catalunha, com cuja associação congénere detemos um protocolo de cooperação, que já vem tendo lugar em alguns domínios e desde há algum tempo atrás. Este 4º Congresso Internacional dos Hospitais contou com 285 inscritos de uma larga diversidade de instituições hospitalares e de cuidados de saúde do país, designadamente dirigentes, gestores profissionais, médicos, enfermeiros, técnicos superiores e outros profissionais de saúde envolvidos em responsabilidades de gestão, com uma parte significativa de profissionais e instituições associadas da APDH, cuja audiência correspondeu de forma elevada à proposta de interação com os conferencistas e palestrantes, ao longo de todos os trabalhos. O programa científico destes dois dias de conferência contou com interessantíssimas participações, de peritos em diversas áreas, designadamente, de organismos centrais de âmbito nacional do Ministério da Saúde, de Regiões de Saúde e de diversos operadores da prestação de cuidados de saúde dos sectores público, privado e social. Todos tiveram e produziram pontos altos de trabalho e de contribuição. Também se verificou uma boa adesão ao desafio de apresentação de posters, contando-se para além de projetos nacionais, com um interessante projeto do Brasil, responsável por três posters. É ainda de sublinhar que este ano as apresentações foram todas de elevadíssima qualidade e demonstraram preparação prévia e cuidado na mensagem e no conteúdo. Este ano o congresso iniciou-se, no dia 7 de novembro, com a realização de um dia de précongresso, em simultâneo com o 6º Encontro do Prémio de Boas Práticas em Saúde, que incluiu uma conferência do especialista na área da Qualidade em Saúde, o Professor Pedro Saturno, da Universidade de Múrcia, centrada no tema da medição da qualidade em saúde em cuidados ligados ao processo do envelhecimento. 4 Neste dia, decorreram cursos, nomeadamente sobre Estratégias de Mediação e Técnicas de Negociação em Saúde, inferindo-se que a aplicação destas técnicas constituem instrumentos que podem trazer benefícios ao nível do relacionamento das equipas, desempenho, auxílio na procura de opções e na adopção de soluções eficientes. Tivemos, também, acesos debates sobre a gestão da doença onde foi realçado que num contexto de transformação epidemiológica da doença crónica e de reconhecimento do comportamento individual enquanto agente mediador dos resultados em saúde, investir em estratégias de intervenção que garantam ações efetivas na mudança estruturada e sustentada do comportamento representam uma linha de acção ajustada na qualidade de vida dos indivíduos e na efetividade da afetação dos recursos em saúde. Dos seminários, retiraram-se ideias sobre o papel determinante da evolução tecnológica ao nível dos meios de diagnóstico e terapêutica, proporcionando a introdução de novas técnicas de avaliação e tratamento na prática clínica, que vieram modificar a prestação de cuidados neste âmbito, melhorando de forma muito considerável os resultados obtidos e a qualidade de vida dos doentes. Mas, foi igualmente importante olharmos a proposta da GS1, que nos mostrou que através de standards se pode promover a eficiência, a traceabilidade e a segurança na cadeia de valor da saúde. No workshop centrado nas respostas ao Fenómeno do Envelhecimento Humano nos Cuidados de Saúde, tema central do nosso congresso, que contou entre outros especialistas com a presença do senhor conselheiro da saúde da Catalunha, foi reconhecido que o envelhecimento é uma das maiores conquistas da humanidade, mas que é fundamental delinear políticas ajustadas para um envelhecer são, autónomo, ativo e plenamente integrado. Os sistemas de saúde dos países estão pouco preparados para responder a este fenómeno, pelo que parece necessário: adaptar o modelo de cuidado às necessidades/resoluções e risco; passar da fragmentação de cuidados aos cuidados integrados; tornar os hospitais mais flexíveis, aproximando os serviços a outros níveis de cuidados; potenciar a utilização de novas tecnologias, encontrar alternativas ao internamento convencional e reforçar o papel da medicina interna. 5 A inauguração da exposição de fotografia e vídeo “Hospital”, comissariada pelo Dr. Luís Campos, que se encontra patente até 2 de Fevereiro, no Hospital Miguel Bombarda constituiu um momento marcante deste 4º congresso internacional dos hospitais. Do dia 8 destacamos a conferência inicial, da qual registámos o desafio deixado pelo conferencista Professor Doutor Constantino Sakellarides, que em seu entender exigem-se novas políticas públicas prospetivas (antecipatórias e contingenciais - n/deterministas), interativas (vistas em conjunto, numa negociação horizontal), adaptativas, com retroações automáticas e novas deliberações, participativas (privilegiando factos, literacia e envolvimento argumentativo) e sustentáveis. No debate sobre sustentabilidade, retivemos três mensagens: (1) É preciso que a saúde passe a ser uma preocupação de cada português, valorizando a capacidade individual de autogestão, mais do que de recurso a entidades prestadoras e é necessário aumentar a educação e a literacia em saúde no sentido da sua proteção. É um salto cultural, difícil, mas temos de ser criativos e inovadores; (2) Na gestão interna das instituições, é necessário existirem verdadeiros contratos internos, com objetivos, envolvendo e responsabilizando os diretores de serviço e as equipas, pelos resultados; (3) A (in)sustentabilidade do SNS depende sobretudo do que suceder ao nível do financiamento (proveitos) do SNS, já que a contenção adicional dos custos não parece sustentável a médio prazo (mantendo-se a compreensividade e universalidade do sistema como a conhecemos). Sobre o tema dos profissionais de saúde, retivemos a emergência de revisão dos curricula de formação, ajustados à demografia e à doença crónica prevalente, com maior ênfase nos cuidados preventivos e na promoção da literacia e do autocuidado. Retivemos também a emergência de inclusão de novas profissões, indutoras de mudança para comportamentos saudáveis e aderentes às propostas terapêuticas na doença crónica e, no redesenho das respostas para os profissionais de maior proximidade. Relativamente à questão do papel do hospital na comunidade, foi reiterada uma tónica acentuada na deshospitalização de muitos atos, nas vantagens dos tratamentos efetuados na comunidade, na oportuna continuidade de cuidados entre as redes hospitalar, primária e de cuidados continuados. A mensagem centrou-se assim, na indispensabilidade duma verdadeira integração, centrada nos processos e nos resultados. 6 Sobre o tema da qualidade e segurança do doente, destacou-se a ideia de que é fundamental a avaliação da cultura de segurança das organizações, estimular a aprendizagem de novas práticas e incrementar os índices de qualidade na prestação de cuidados de saúde. Por outro lado, foi considerado como essencial a integração dos sistemas de notificação existentes de forma vertical, desculpabilizando os indivíduos envolvidos e centrando as causas nos sistemas e processos organizativos. O dia 9 abriu com uma mesa dedicada à referenciação e mobilidade na circulação internacional de doentes, na qual foi salientado o facto do sistema português estar prestes a entrar em concorrência direta com os sistemas de saúde dos outros estados membros. Um dos caminhos a seguir passa pela melhoria da qualidade do sistema, tornando-o mais competitivo e sustentável ao nível da qualidade organizacional, qualidade clínica, acreditação das unidades prestadoras e a criação de centros de referência. Sobre as experiências inovadoras e custo-efetivas, foi defendido que a inovação básica para a criação de valor permitirá a Portugal, mesmo em contexto de emergência económica e social, combinar a inovação com estratégias de custo-benefício, aproveitar a criatividade, a expetativa e a monitorização contínua do processo de risco-benefício. Salientou-se que o tempo da I & D é hoje e, que todos fazemos parte deste desafio e somos os atores principais. Discutiu-se também a utilização de argumentos económicos para justificar a escolha de tecnologias alternativas ou de novas tecnologias no campo da saúde, que se generaliza muito nos países desenvolvidos, sobretudo aplicados ao setor do medicamento. Foi salientada a pertinência da valorização do argumento económico, não para que o mesmo se sobreponha a qualquer outro, mas sim para estar presente, de forma fiável, em paridade argumentativa na oportunidade da decisão clínica, de gestão ou de política pública. Destacou-se, ainda, a apresentação do relatório “Never too early: tackling chronic disease to extend healthy life years”(The Economist, Economist Intelligence Unit), que veio demonstrar a emergência da necessidade de adaptação e remodelação dos sistemas de saúde para dar resposta ao contínuo crescimento da prevalência das doenças crónicas, responsáveis pela maioria da mortalidade prematura a nível mundial, e que se constitui num dos maiores desafios para a humanidade nos próximos anos e que é ainda maior no atual contexto de crise. 7 Na sequência da apresentação do referido relatório, seguiu-se uma enriquecedora discussão sobre o reposicionamento do Hospital no contexto da saúde, tendo como pano de fundo uma imagem adaptada de Goodwin, N. (2010)1 a qual dispensa quaisquer palavras e pretendeu provocar e estimular tão ilustres participantes. Estes destacaram o facto do nosso sistema de saúde ainda estar organizado de uma forma fragmentada para tratar episódios agudos de doenças, com grande enfoque na área hospitalar, não estando preparado para integrar esforços para a prevenção, o diagnóstico precoce ou o acompanhamento de doenças crónicas. Viver mais anos com mais saúde, quer no sentido do envelhecimento quer da doença crónica, foi considerado como um desafio que ainda precisa de muita investigação para que se encontrem as estratégias efetivas de coordenação entre os decisores políticos, os serviços e os prestadores de cuidados de saúde – é fundamental um foco na prevenção e na desmedicalização da doença crónica. Nestas estratégias, mais do que discutir a importância dos diferentes níveis de cuidados, o que importa é garantir a complementaridade de competências que permitam a efetiva prestação de cuidados (a urgência do hospital não pode continuar a ser a solução para grande parte dos problemas), estruturados em torno das necessidades dos doentes e da procura da melhor eficiência e eficácia. Neste particular foi destacada a necessidade de reforço dos cuidados de proximidade e, sobretudo, de aposta na prevenção da doença, promoção da saúde e capacitação dos doentes e profissionais. Este espaço de discussão, 1 Goodwin. N - Towards integrated primary care organizations in England - Key challenges for the future. Kings Fund. 2010 8 tinha sido preparado para que, em conjunto, representantes de autarquias, de serviços de saúde (hospitais e cuidados primários), das profissões de saúde, das misericórdias, das associações de doentes, etc., pudessem debater os seus pontos de vista e dentro do possível, esse objetivo foi atingido. Importa agora, pôr “mãos à obra” e dar corpo a esta necessidade emergente – respostas integradas, partilhadas, complementares e inteligentes. O tempo urge. No momento de finalização dos trabalhos do 4º Congresso Internacional dos Hospitais contámos com a presença de Sua Excelência o Secretário de Estado da Saúde, Dr. Manuel Teixeira, que nos honrou com a presidência da sessão de encerramento do Congresso. Pudémos, igualmente, contar com o Presidente da ACSS, Prof. Doutor João Carvalho das Neves, e o Diretor-Geral da Saúde, Dr. Francisco George, parceiros na organização do prémio de boas práticas em saúde, e que estiveram presentes no momento de entrega dos prémios aos galardoados.