UIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SESU MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA A EDUCAÇÃO FÍSICA E A ATIVIDADE COOPERATIVA: CAMIHOS PARA UMA REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR CLAUDIA RIBEIRO DE SOUZA OTTOI SÃO PAULO 2009 UIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SESU MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA A EDUCAÇÃO FÍSICA E A ATIVIDADE COOPERATIVA: CAMIHOS PARA UMA REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR CLAUDIA RIBEIRO DE SOUZA OTTOI Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação Física, sob orientação da Profª. Drª. Marília Velardi. SÃO PAULO 2009 Ottoni, Claudia Ribeiro de Souza A educação física e a atividade cooperativa: caminhos para uma reestruturação do espaço escolar / Claudia Ribeiro de Souza Ottoni. - 2009. 230 f. ; 30 cm Orientador: Marília Velardi. Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2008. 1. Educação Física - Pesquisa. 2. Escolas. I. Velardi, Marília. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física. III. Título Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878 Banca Examinadora: Profª. Drª. Tatiana Passos Zylberberg Profª. Drª. Vilma Leni ista-Piccolo Profª. Drª. Marília Velardi (orientadora) AGRADECIMETOS À minha orientadora e amiga Profª. Dra. Marília Velardi, pela atenção dedicada nas orientações, pelas conversas sobre a vida, e pela contribuição na realização deste desafio pessoal e profissional. Ao Victor que compartilhou com amor e carinho a construção e a finalização deste trabalho, sempre acreditando que daria certo. Obrigada por toda ajuda e pela paciência dedicada. Te amo! Aos meus filhos Rodrigo e Julie, que apesar da distância e, mesmo sem saber, fizeram parte desta conquista tão importante para as nossas vidas. À minha família, em especial a minha mãe, por entender a minha ausência nos finais de semana e por me mostrar com o seu carinho que as dificuldades podem ser transformadas em desafios quando existe determinação, confiança e amor. À minha tia Marisa e ao meu irmão Homero, que mostraram-se sempre disponíveis a ajudar nas horas mais difíceis deste trabalho. À amiga e companheira nos horários de tutoria Cláudia Pacífico, pelas longas conversas, pela paciência e pela ajuda com tantas dúvidas que surgiam. Valeu a pena, conseguimos! Aos professores da Pós-graduação, que muito contribuíram com seus ensinamentos. Em especial a Profª Dra. Maria Luiza J. Miranda pela atenção dedicada e pelas longas conversas na hora do almoço. As professoras da escola onde realizei a pesquisa, Cláudia, Silmara, Geiza e Adriana, por permitirem que eu fizesse parte daquele espaço escolar compartilhando as dificuldades e muitos saberes. Muito obrigada! SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................. 1 ABSTRACT:........................................................................................................ 2 APRESETAÇÃO.............................................................................................. 3 ITRODUÇÃO ................................................................................................... 5 1. A PESQUISA ................................................................................................. 16 2. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A COOPERAÇÃO E A ESCOLA . 21 2.1. COMO OS JOGOS COOPERATIVOS TÊM SIDO APRESENTADOS PELA EDUCAÇÃO FÍSICA ....................................... 30 3. A PESQUISA-AÇÃO A ESCOLA ........................................................... 36 3.1. FASE EXPLORATÓRIA ........................................................................................................................................ 39 3.1.1. Primeira etapa da fase exploratória ........................................................................................................ 42 3.1.2 Segunda etapa da fase exploratória .......................................................................................................... 56 3.1.3 Terceira etapa da fase exploratória .......................................................................................................... 57 3.2. OS SEMINÁRIOS: UM ESPAÇO PARA A CONSTRUÇÃO COLETIVA.......................................................................... 97 3.2.1. Primeiro seminário................................................................................................................................. 101 3.2.2. Segundo seminário ................................................................................................................................. 110 3.2.3. Terceiro seminário ................................................................................................................................. 116 3.2.4. Quarto seminário ................................................................................................................................... 121 3.2.5. Quinto seminário .................................................................................................................................... 147 4. COSIDERAÇÕES FIAIS ..................................................................... 189 5. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 200 6. BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 205 7. AEXOS ...................................................................................................... 206 1 Resumo O presente estudo refere-se a um relatório de uma Pesquisa-Ação que foi construído no ambiente escolar de uma das escolas de 1ª a 4ª série da Rede Municipal da cidade de Atibaia SP, que tem como proposta de aulas de Educação Física os Jogos Cooperativos, visando à formação de valores. O campo da pesquisa é o espaço educativo onde acontecem as aulas de Educação Física permeando os momentos das aulas das professoras polivalentes. Os participantes são duas professoras polivalentes e a professora de Educação Física da escola. No início da investigação realizou-se uma análise do Projeto Político Pedagógico da escola, na intenção de identificar a evidência e a importância dada aos valores formativos, apontados no documento. Como instrumentos foram utilizados na pesquisa, o caderno de campo para o registro das observações e das falas das participantes e entrevistas semi-estruturadas na tentativa de conhecer as professoras seus valores e ideais sobre a educação e cooperação. O desafio em ampliar o estudo compartilhando as experiências cooperativas realizadas nas aulas de Educação Física com as professoras polivalentes da escola partiu do entendimento de que o espaço escolar não deve ser segmentado e que as disciplinas devem estar relacionadas em um todo, propondo assim, a educação formativa dos alunos como um processo contínuo, participativo, integrado e coletivo. Toda a investigação foi realizada a partir de um trabalho coletivo e colaborativo, havendo uma articulação entre os referenciais da pedagogia freiriana, os aportes teóricos referentes à aprendizagem cooperativa, e os pressupostos da Pesquisa-Ação desenvolvida no âmbito social. O trabalho proposto tem como objetivo colaborar com o processo de reflexão, ação e transformação dos participantes envolvidos no que se refere às ações educativas pautadas nas práticas cooperativas relacionadas aos aspectos de formação humana. Com esta investigação, também pretendeu-se verificar a coerência entre a proposta das práticas cooperativas nas aulas de Educação Física e a proposta das outras professoras polivalentes em relação aos aspectos de formação humana, considerando os ideais do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Instituição. Após seis meses de pesquisa dentro da escola, os resultados, revelam que o processo de reflexão e emancipação ocorreu gradativamente durante a investigação, oportunizando, um espaço para desvelar as teorias, juntamente com as observações das práticas mediadas pelo diálogo e pela construção de ações cooperativas. A realização dessa investigação possibilitou a efetivação de planejamentos e ações educativa para as aulas, que valorizassem a realização de um trabalho de formação humana integrado aos aspectos: afetivo, motor, cognitivo, social e cultural. Portanto, o resultado desta pesquisa indicou que a possibilidade de compartilhar teorias e práticas sobre as ações pedagógicas, durante os encontros, desencadeou um marco reflexivo, válido para servir de referência no momento de planejar e estruturar novas propostas e projetos educacionais a serem desenvolvidos pelos responsáveis das ações educativas na escola. Nos resultados obtidos, pode-se considerar que valorizar os ideais e as necessidades pessoais de cada participante, também contribuiu, para a construção da autonomia, da independência, e da liberdade no plano individual e na responsabilidade social visando a construção de uma escola cidadã coerente com a proposta do PPP da instituição. A partir dos resultados expostos, considera-se que, a aprendizagem e a construção do conhecimento dos alunos e professores a partir das práticas cooperativas realizadas na escola, durante o período da Pesquisa-Ação, possam constituir um planejamento compartilhado integrando, tanto a disciplina de Educação Física, quanto às outras disciplinas do currículo escolar. Palavras chave: Educação Física, educação, cooperação, Pesquisa-Ação. 2 Abstract: The present study refers to a report of a Research-Action that was built in a school environment belonging to the municipality of Atibaia city, São Paulo from 1st to 4th series. The proposal for physical education classes was the application of the Cooperative Games aiming at values formation. The research field was the education space where physical education classes were ministered and sometimes together with multivalent teacher in their classrooms. The participants were two polyvalent teachers and the school Physical Education teacher. At the beginning of the investigation an analysis of the Pedagogical Policy Project (PPP) of the school was done, in order to identify the evidence and the importance given to formative values, pointed in the PPP. As tools, the field note-book, containing observation and speech of the participants and semi-structured interviews were used in an attempt to know the teachers, their values and ideals on education and cooperation. The challenge on amplifying the study by sharing cooperative experiences made in the Physical Education classes with the school polyvalent teachers emerged when it was understood that the school space cannot be segmented and the disciplines must be seen as a whole. Therefore, the students’ formative education must be seen as a continuous, participative, integrated and collective process. All investigation was made on basis of a collective and collaborative work with articulation among referential Freire’s pedagogy, the theoretical contribution related to cooperative learning and the Research-Action assumptions carried out in the social environment. The propose work aims at collaborate with the reflection, action and transformation process of the involved participants in respect to educative action based in cooperative practices relates to human formation aspects. With this investigation we also intended to verify the coherence between the proposal of cooperative practices in Physical Education classes and the proposal of the other polyvalent teacher in relation to the human formation aspects, considering the PPP ideals of the institution. After six months of researching in the school, the results reveal that the reflection and emancipation process occurred gradually during the investigation, creating a space to show theories, together observation of practices conducted by dialog and by cooperative construction. Such investigation enabled the effectiveness of educative planning and actions for the classes which emphasizes the achievement of the human formation work integrated to affective, motor, cognitive, social and cultural aspects. Therefore, the result of this research indicated that the possibility of sharing theories and practices on pedagogical actions during the meetings triggered a reflective milestone, valued to serve as reference when planning and structuring new educational proposals and projects to be developed by those responsible for educative actions in the school. Through the obtained results we can consider that enhancing the ideals and personal necessities of each participant has also contributed for the autonomy, independence and freedom construction in the individual plan, and the social responsibility aiming at the creation of citizen-school, coherent with the PPP proposal of the institution. From the exposed it is considered that the learning and the knowledge of students and teachers from cooperative practices learned at school during the Action-Research may constitute a sharing planning that integrates Physical Education discipline with the other disciplines of the school curriculum. Key words: Physical Education, education, cooperation, Action-Research. 3 APRESETAÇÃO Esse trabalho constitui o relatório de uma Pesquisa-ação que foi desenvolvido numa escola da Rede Pública do Município de Atibaia, São Paulo. Como, em geral o relatório de uma pesquisa-ação não obedece aos padrões tradicionais da descrição de uma pesquisa científica, optei por fazer uma apresentação, destacando qual será o percurso que o leitor percorrerá ao longo das páginas. Na introdução do trabalho busquei esclarecer a minha trajetória no papel de educadora na medida em que este percurso é marcado pela problemática sentida frente a atuação dos docentes envolvidos na formação dos alunos na escola. Procurei também, elucidar os objetivos das propostas pautadas nas práticas cooperativas, relacionando o trabalho realizado pela professora de Educação Física numa escola Municipal em Atibaia, junto às séries iniciais do ensino fundamental, compartilhando ações educativas desenvolvidas pelas professoras polivalentes da escola. Declaro, nesse momento, que a escolha das teorias propostas para sustentação da pesquisa-ação, a estrutura metodológica adotada e as dinâmicas desenvolvidas durante o estudo, surgem no trabalho na medida em que é sentida a necessidade de explicar o que é vivido na prática do professores-atores do estudo. Nesse relatório de pesquisa-ação, todo o processo de reflexão, ação e transformação foi compartilhado com os atores da pesquisa e influenciaram na minha maneira de compreender a realidade descrita. Na primeira parte do trabalho apresentado justifico a escolha pela pesquisa qualitativa na trajetória metodológica de uma Pesquisa-ação, envolvendo os procedimentos e as etapas estipuladas no trabalho visando à compreensão sobre os dados coletados e analisados. Nesse momento, também foram apresentados aos atores da pesquisa, os instrumentos, os procedimentos e as etapas da Pesquisa-ação proposta por Thiollent (2002). 4 Parti então para o terceiro momento, apresentando algumas reflexões sobre a cooperação na escola e as possibilidades de se trabalhar com os dos Jogos Cooperativos como estratégia metodológica. Para sustentação do estudo, foram referenciados alguns autores que esclarecem os objetivos e as possibilidades do trabalho cooperativo como estrutura pedagógica. Dando seguimento ao estudo, no quarto momento recorri a possibilidade de elucidar os aspectos referentes à proposta de uma pesquisa-ação realizada na escola a partir da fase exploratória, e posteriormente para a descrição dos seminários, a análise e a síntese sobre o processo investigado. Na última parte desse estudo, foram apresentadas considerações sobre o estudo realizado. Nesse momento elucidei aspectos referentes à avaliação do processo de construção coletiva e de emancipação dos atores da pesquisa em desenvolver ações educativas coerentes com os seus próprios valores e ideais. Também foram consideradas as possibilidades de ampliar o planejamento e as ações a partir das atividades cooperativas para os outros envolvidos na educação dos alunos. 5 ITRODUÇÃO Há cinco anos os professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino da cidade de Atibaia elaboraram uma nova proposta de trabalho para as aulas de Educação Física da 1ª a 4ª séries pautada pelas práticas dos Jogos Cooperativos. A partir do meu envolvimento com atividades práticas cooperativas em uma escola da Rede de Ensino Privada e, concomitantemente, com os estudos teóricos realizava a respeito do tema formação humana, surgiu a oportunidade de colaborar, participando como voluntária das discussões, reflexões e possíveis ações a respeito das práticas cooperativas na educação, viabilizando a elaboração de uma nova proposta educacional. A nova proposta elaborada pelo grupo de professores de Educação Física da Rede Municipal objetivava possibilitar aos alunos um espaço de convivência pautado em práticas que valorizassem as relações interpessoais por meio de experiências cooperativas, diferente do modelo em que atuavam marcados pela competitividade nas aulas. Após um ano realizando encontros semanais, o resultado dos estudos obtidos pelo grupo de professores foi determinante para a implantação das práticas dos Jogos Cooperativos como proposta pedagógica para as aulas de Educação Física nas escolas Municipais de Ensino Fundamental - 1ª a 4ª série. O projeto elaborado para a implantação e transformação das práticas educativas nas aulas de Educação Física das escolas da Rede Municipal de Atibaia, só foi possível pelo esforço colaborativo e cooperativo de todos os professores de Educação Física envolvidos no processo de elaboração e aplicação da nova proposta. O desafio de transformar as práticas das aulas de Educação Física nos remete aos apontamentos de Freire e Scaglia (2003), quando afirmam que o surgimento de novas propostas 6 educacionais mostra que a configuração do sistema de ensino vigente deve mudar, pois, em geral, as novas propostas surgem de fatores que emergem das necessidades sociais. Segundo os autores, as mudanças almejadas para a Educação Física devem fazer parte das discussões do processo educacional, estando envolvidas diretamente nos problemas mundiais, e preocupando-se com a formação de cidadãos capazes de socializar seus conhecimentos, compartilhando-os com interesses coletivos. Vale destacar que as mudanças nas estruturas das aulas de Educação Física elucidadas pelas novas propostas de aulas de Educação Física tinham como propósito possibilitar transformações nas práticas educacionais, tanto nos aspectos de atitudes, conceitos e procedimentos, como, nos pressupostos das ações cooperativa, sustentado pelo conceito de formação humana. Por formação humana, compreende-se a formação de cidadãos capazes de desenvolverem-se como pessoas, capazes de serem co-criadores com os outros de um espaço humano de convivência social desejável (MATURANA, 2000). Na expectativa de justificar a intenção em realizar uma proposta de trabalho, partindo das mudanças nas estruturas das aulas de Educação Física, propondo atividades cooperativas para os alunos, aponto a opinião de Freire e Scaglia (2003, p.158) quando alegam que o processo educativo na escola não deve estimular o aluno a resolver seus problemas sozinhos, nem construir o conhecimento de forma isolada; pelo contrário, deve estimular o fazer com os outros, com os colegas, com seus professores, com o mundo, a partir das suas experiências. Em suas reflexões, os autores questionam a tradição escolar do isolamento, indagando: “Em outras ocasiões, fora da escola, temos de, obrigatoriamente, nos isolar para aprender? O que então justifica a postura escolar de isolar os alunos?”. Os autores enfatizam em suas respostas que, se o papel da escola é o de formar cidadãos do mundo para viver em sociedade, agindo de maneira cooperativa, a 7 atitude de ensinar no isolamento, sem contatos com as pessoas retrata um recurso educativo que deve ser repensado. As questões apresentadas pelos autores apontam a necessidade de identificar e de refletir sobre os valores a serem trabalhados nos espaços educativos, assim como, buscar um posicionamento crítico e reflexivo frente ao papel do educador e da escola como sistema educativo representado pelas políticas educacionais. Portanto, fatores que envolvem a representatividade das experiências vividas pelos alunos tanto na escola, quanto na vida em sociedade também devem ser considerados temas de discussão e reflexão entre os professores e todos os outros responsáveis pela educação dos alunos. Nos estudos realizados por Andrioli (2007), as reflexões sobre as atividades cooperativas vivenciadas na escola apontam como uma possibilidade de transformação necessária nas estruturas das aulas. Ao considerar, a educação como um processo social, destaca que a educação na escola, deve possibilitar um espaço para o desenvolvimento de relações sociais pautado em valores humanos, reconhecendo que, as experiências vividas nesse espaço está relacionada ao tipo de convivência dos alunos na sociedade. Portanto, o autor identifica em seus estudos que, existe a necessidade de mudanças da sociedade atual, e traz como uma possibilidade, o trabalho pautado nas práticas cooperativas nas escolas. Nesse momento torna-se necessário refletir sobre algumas questões importantes relacionadas às ações realizadas no ambiente escolar e à representatividade dessas experiências na vida cotidiana do aluno. Podemos considerar a escola reprodutora das relações que permeiam os indivíduos da sociedade? Ou devemos considerar que tanto a escola, quanto a sociedade são espaços distintos, apesar de necessitarem de estruturas organizadas, regras, normas e valores a 8 serem respeitados na convivência entre os indivíduos? Nas respostas a tais questionamentos identificam-se fatores relevantes entre os dois espaços. Torna-se importante reconhecer que os cidadãos que permeiam a escola e a vida em sociedade deveriam ter oportunidades semelhantes dispostas à convivência social pautada em valores como o respeito e a dignidade, porém, isso não deveria caracterizar-se como um modelo reproduzido de um espaço para o outro. Considerando os apontamentos citados, vale ressaltar que o espaço educativo não pode ser considerado o alvo responsável por todas as questões e/ou dificuldades existentes na sociedade. Entretanto, deve-se entender que determinadas organizações e sistemas educativos quando evidenciam a importância dos aspectos formativos na educação dos alunos, necessitam organizar estratégias educativas que possibilitem experiências que possam contribuir para além da aprendizagem de conteúdos, ou do respeito a normas e regras institucionais, devem compreender a importância de oportunizar os alunos à participarem de momentos de questionamento crítico, reflexão, compartilhamento de ideais e resolução de conflitos. Os educadores ao se proporem em contribuir para a formação de um indivíduo social devem explicitar quais valores acreditam ser os desejáveis para a convivência entre as pessoas inseridas na escola e/ou na vida em sociedade, e proporem ações educativas coerentes aos valores estabelecidas por eles. O aspecto relacionado à coerência entre o que está estabelecido nos pressupostos das instituições de ensino, somados às expectativas dos profissionais que desejam contribuir para a formação de alunos críticos, solidários, reflexivos e às ações educativas disponibilizadas por esse professor nas aulas, poderá auxiliar na compreensão de que as experiências propostas aos alunos nos espaços educativos são significativas no processo de formação do individuo. 9 Ao considerarmos que o espaço escolar deva estar intuído de valores e significados referentes à formação dos alunos destaca-se Maturana (2000) ao apontar que, se os professores almejam conviver em um ambiente pautado na formação em valores, não basta ensinar valores aos alunos, é necessário vivê-los na convivência com os outros. O autor considera que, a preparação do ambiente e a mediação das experiências são de responsabilidade do educador. Entretanto, devemos refletir sobre o fato de que não seria correto, responsabilizar apenas o professor pela condição de transformar a educação dos alunos e ao mesmo tempo, almejar que isso reflita nas mudanças em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Considera-se, portanto que, tal expectativa de mudanças e resultados envolva outros fatores e não apenas o papel do professor atuante no processo de escolarização do aluno. Na perspectiva de almejar mudanças sociais, destacam-se aspectos mais abrangentes, como o sistema de ensino, as políticas educacionais, fatores econômicos entre outros que, de forma significativa poderão influenciar tais mudanças, interferindo tanto nas práticas educativas quanto no significado dos valores idealizados pela sociedade. Reforço que as minhas dúvidas a respeito da coerência entre ações práticas realizadas nas aulas e o discurso teórico proferido pelos educadores e pelas instituições de ensino, contribuíram para que eu buscasse nesse trabalho compreender algumas questões. As minhas inquietações e questionamentos apontam para a necessidade de investigar sobre a representatividade das práticas cooperativas aplicadas nas aulas de Educação Física. O meu histórico pessoal e profissional com as práticas cooperativas retrata alguns trabalhos realizados em três instituições distintas: atuei como professora de Educação Física em uma escola da Rede Privada, como docente no Curso de Pedagogia na Faculdade de Educação no Município de Atibaia e também como docente em cursos de capacitação de professores oferecidos pela Rede 10 Municipal de Educação. Nos três espaços de atuação foram constantes os momentos de questionamento sobre a expectativa dada ao trabalho realizado nas aulas e a efetividade a respeito dos valores formativos propostos nas atividades. A escolha por investigar, em especial, essa escola, deu-se pelo fato de, mesmo depois de eu ter me afastado das reuniões do grupo de estudo dos professores de Educação Física da Rede Municipal, mantive-me em contato esporádico e informal com uma das professoras do grupo. Durante nossas conversas, compartilhamos experiências, dúvidas e possibilidades sobre as práticas cooperativas que vivenciávamos durante as aulas que ministrávamos nas diferentes escolas as quais lecionávamos. Foi em decorrência dessas conversas que surgiu o convite da professora de Educação Física para eu que realizasse a pesquisa naquela escola, já que compartilhávamos o mesmo interesse sobre a necessidade de investigação a respeito da efetividade das práticas cooperativas desenvolvidas nas aulas de Educação Física. A partir da constatação sobre o interesse compartilhado entre a professora e eu em investigarmos o trabalho desenvolvido nas aulas de Educação Física a partir das práticas cooperativas naquela escola, considerei como possibilidade a realização de uma Pesquisa-ação. Destaco aqui, um fato relevante considerado como uma possibilidade ou uma necessidade de ampliação da pesquisa para além das aulas de Educação Física. Em determinado momento de reflexão sobre a relevância da pesquisa, me senti indecisa sobre investigar as práticas cooperativas, seus pressupostos, seus objetivos e a efetividade dessas experiências na vida dos alunos, relacionando o trabalho apenas às aulas de Educação Física. Tal possibilidade fez-me questionar se apenas o ambiente restrito das aulas de Educação Física permitiria que o processo investigativo, identifica-se o ambiente escolar como um todo, partido de uma educação formativa dos alunos como um processo contínuo, participativo, integrado e coletivo. Ao refletir 11 sobre a maneira isolada em que me sentia frente a proposta inicial do trabalho, propondo investigar apenas as aulas de Educação Física, considerei que a melhor opção seria a ampliação do campo de investigação para as aulas das professoras polivalentes. O consentimento para realizar a pesquisa dentro da instituição deu-se durante o primeiro encontro com a diretora e com a coordenadora da escola para esclarecimento sobre o interesse em realizar a pesquisa naquela escola. No decorrer do diálogo, ficou claro o entendimento da proposta investigativa como também a disposição da diretora em oferecer o espaço escolar de sua responsabilidade para a investigação sobre as práticas cooperativas relacionadas aos aspectos de formação humana. A diretora colocou-se à disposição para colaborar com a pesquisa, mostrando interesse e clareza a respeito da importância na investigação e ação sobre os aspectos dos valores humanos relacionados às propostas educacionais. A confirmação pela opção da modalidade de pesquisa denominada Pesquisa-ação, deu-se por ocasião desse primeiro contato com as responsáveis pela escola para dialogar sobre as possibilidades e a pertinência da realização da pesquisa naquele ambiente. Nesse encontro a diretora e a coordenadora demonstraram interesse na proposta investigativa, deixando claro que a minha permanência naquele espaço seria bem vinda e que gostariam se fosse possível, que outros professores da escola pudessem ser beneficiados pela experiência. Vale destacar que, a diretora justificou seu pedido considerando que viver experiências cooperativas vão ao encontro do trabalho com valores considerados necessários e pertinentes para a formação humana. Considerou-se, durante as reuniões, que, talvez, a ação de interação entre Educação Física e as atividades desenvolvidas pelas professoras polivalentes pudesse possibilitar a ampliação das ações cooperativas para além das aulas de Educação Física, colaborando com a efetividade da proposta de formação humana desenvolvidas em toda escola. 12 Durante essa primeira conversa, a coordenadora valorizou o trabalho com Jogos Cooperativos realizado pela professora de Educação Física reconhecendo a importância da formação em valores humanos no espaço educativo. Vale ressaltar que, no momento inicial da investigação as propostas desenvolvidas na escola a partir dos Jogos Cooperativos eram realizadas apenas nas aulas de Educação Física, não havendo espaço destinado a compartilhar as ações e resultados entre os professores e outros atores responsáveis pela formação dos alunos. Todavia, para a realização da pesquisa estipulei que o campo da pesquisa seria o espaço educativo onde acontecem as aulas de Educação Física e permeariam os outros momentos da rotina escolar envolvendo os espaços das salas de aulas das professoras polivalentes. Portanto, o estudo presente caracteriza-se por um relatório de uma Pesquisa-ação que foi construído no espaço escolar de uma das escolas de 1ª a 4ª série da Rede Municipal de Atibaia, que tem como proposta de aulas de Educação Física os Jogos Cooperativos, visando à formação de valores. Os atores da pesquisa são as professoras polivalentes da 1ª série A e do introdutório B e a professora de Educação Física da escola. Torna-se importante esclarecer que as escolas da Rede Municipal de Atibaia passam atualmente por um processo de adaptação a nova Lei no 11.274, criada em 6 de fevereiro de 2006 a qual institui o ensino fundamental de nove anos. De acordo com a nova legislação a sala da professora polivalente denominada introdutório é composta pelos alunos que ingressaram no ensino fundamental aos seis anos de idade. Para a melhor compreensão do estudo, foram apresentados no trabalho os fundamentos teóricos das práticas cooperativas e dos Jogos Cooperativos como proposta educacional e foram também elucidadas as estratégias de ensino a partir das práticas cooperativas na educação. 13 Considera-se que esta pesquisa tem como intenção contribuir para construção de um espaço que possibilite momentos de reflexão crítica, argumentações, resoluções de problemas por meio de levantamento de soluções e de elaboração de propostas de ação, auxiliando os atores da pesquisa em sua própria capacidade de transformação. Destaca-se que, por ser tratar de uma pesquisa no âmbito social, o envolvimento entre pesquisador e atores da pesquisa é inevitável e imprescindível. Reforço a minha decisão por investigar as estruturas das práticas cooperativas de uma maneira mais abrangente dentro da escola, através do pensamento de Freire e Scaglia (2003, p.153): “os conteúdos da quadra têm de passar por uma sistematização que aproxime dos conteúdos do quadro, e vice-versa. É preciso que o professor de classe fale de coisas que lembrem a vida, que o professor de Educação Física promova atividades que superem o saber da rua”. Para o autor, estabelecer a relação de construção do conhecimento entre os dois momentos, sala e quadra, a partir da elaboração de projetos educacionais, possibilitaria a transposição de barreiras históricas existentes entre a escola e o mundo social. Assim sendo, faz-se necessária a superação da ruptura entre o conhecimento construído em sala de aula (quadro) e o conhecimento construído nas aulas de Educação Física (quadra), negando a dualidade entre esses dois pólos: “Em sala de aula ensina-se a pensar (ou pensa ensinar), como se os alunos não fossem corpo, como se não pudessem se movimentar, como se não passassem de um cérebro que registra informações”. O que os autores afirmam sobre a relação existente entre os conhecimentos construídos pelos alunos nas aulas de Educação Física e em outros ambientes da escola também podem ser transpostos para outros espaços. Tal afirmação pode ser amparada pelo conceito de transdisciplinaridade, apresentado por Basarab Nicolescu (citado por Rodrigues, 2000): é o 14 movimento que se estabelece "entre", "através" e para "além" das disciplinas cuja dinâmica consolida-se na "coerência", na "legitimidade" e na "articulação" de saberes que se desdobram de seu difícil exercício. Durante as investigações, foi necessário que todos os envolvidos pudessem conhecer a realidade, decidir coletivamente e transformar as ações, para que vivenciassem juntos uma pedagogia problematizadora (MION; SAITO, 2001). A pedagogia problematizadora proposta por Freire (1987) caracteriza-se por um esforço permanente, no qual os homens vão percebendo criticamente sua relação com o mundo, tornando assim uma relação dialética em sua forma de atuar, ser e perceber-se no mundo. Nos pressupostos das práticas problematizadoras apresentadas pelo autor, a educação não parte do conteúdo programático imposto, mas nasce do educando em diálogo com os educadores, reflete seus anseios e suas esperanças, sendo assim tem na essência o diálogo, a criatividade, o estímulo à reflexão e a ação dos homens sobre a realidade. Destaca-se a aproximação a propostas elucidadas pelas práticas cooperativas e a escolha da Pesquisa-ação, pois, nos apontamentos de Freire, Gadotti e Guimarães (2000), a Pesquisa-ação veio para romper com o tipo de pesquisa de caráter tecnicista e formal (positivista), e estabelecer novos critérios de validade para a pesquisa em ciências humanas, porém sem deixar de apresentar consistência teórica na forma de agir, de estudar, de pesquisar, de ensinar, de aprender. Na expectativa de cumprir os objetivos da pesquisa, vale destacar que, para a efetividade do processo investigativo numa Pesquisa-ação, considerada com uma estratégia metodológica da pesquisa social, a constante interação entre pesquisadora e atores da pesquisa deve resultar como a prioridade a busca dos problemas a serem investigados e as soluções a 15 serem encaminhadas em forma de ação concreta. Dessa ação, deve partir do aumento do conhecimento e do nível de consciência, tanto do pesquisador como dos atores da pesquisa envolvidos. Para tanto, o objeto de investigação deve ser constituído por uma situação social e pelos problemas encontrados nessa situação. Na busca por resolvê-los ou esclarecê-los, deve-se realizar um processo de acompanhamento das decisões, das ações e de toda atividade intencional dos atores da pesquisa (THIOLLENT; ANDRÉ, 2002). São esses, portanto, os pressupostos da Pesquisa-ação apontados como estrutura metodológica nessa investigação. 16 1. A PESQUISA O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, na forma de Pesquisa-ação, na qual as etapas previamente estabelecidas favorecem a consecução dos objetivos da pesquisa. Em particular, a pesquisa qualitativa esforça-se para construir hipóteses a partir das observações e isso envolve os estudos sistemáticos das percepções do indivíduo dentro do contexto observado. Nessa situação, o pesquisador pode observar e participar das atividades. É-lhe permitindo perceber interações, complexidades e processos dinâmicos, a partir de uma perspectiva mais holística, o que pode levar a uma melhor compreensão e um maior discernimento da situação observada (THOMAS e NELSON, 2002). Sendo a Pesquisa-ação é uma modalidade de pesquisa definida por Thiollent (2002, p.14) como: “Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com a ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo”. Pode-se considerar que, por tais características apontadas pelo autor, torna-se coerente a escolha em realizar esta Pesquisa-ação. O ponto de partida para este estudo foi um roteiro estruturado, que, contrariando outros tipos de pesquisa, apresenta o planejamento de uma Pesquisa-ação de maneira flexível, havendo sempre uma relação construída de forma compartilhada entre os atores da pesquisa, eu e a situação investigada. Não se trata, no momento, de negar a necessidade de observar, medir ou quantificar, mas, acima de tudo, de privilegiar a argumentação e a interpretação com base nas discussões que foram ocorrendo em todo o percurso da pesquisa. O roteiro para a realização da pesquisa foi composto por etapas apresentadas por Thiollent (2002) e Gil (2002). As etapas proposta pelos autores são determinadas por um 17 conjunto de ações estratégicas e podem ser identificadas pelos seguintes momentos durante a Pesquisa-ação: a fase exploratória, a definição do tema, a colocação dos problemas, o lugar da teoria, as hipóteses, os seminários, o campo de observação, a coleta de dados, a aprendizagem, o saber formal e o saber informal, o plano de ação, e a divulgação externa. Em cada etapa da Pesquisa-ação fez-se necessário a identificação do problema, a descrição dos fatos e dos instrumentos, a análise e a síntese do momento. A identificação do problema foi apresentada de forma interrogativa debruçando nas dúvidas emergentes de cada momento específico. Os instrumentos utilizados foram as entrevistas e os registros das falas dos atores da pesquisa durante as reflexões e discussões propostas nos seminários e também, os registros das minhas observações realizadas nas aulas. Busquei realizar a descrição sem a minha interferência e sem nenhum julgamento sobre o posicionamento ou atitudes dos atores da pesquisa. A análise realizada deu-se com base na hermenêutica gadameriana, utilizando para efetivar a compreensão, referenciais teóricos da área da educação, que possam facilitar a compreensão do que está sendo feito. Considerando o roteiro proposto por Thiollent (2002) a fase exploratória em uma Pesquisa-ação corresponde à etapa inicial da investigação. Optei na realização da pesquisa dividila em três momentos, utilizando como instrumento entrevistas semi-estruturas, um gravador e um caderno de campo para os registros. No primeiro momento foram realizados os registro das primeiras observações no ambiente físico da escola. No segundo momento realizei uma entrevista semi-estruturada com a coordenadora da escola e no terceiro momento foram marcados encontros individuais destinados à realização das entrevistas semi-estruturadas com cada uma das professoras. Nesses encontros com a coordenadora e com as professoras foram apresentados alguns apontamentos sobre a 18 pesquisa-ação, sobre a cooperação na escola e sobre as expectativas das professoras em relação à pesquisa a ser realizada. A intenção em apresentar e discutir, nos primeiros encontros com os atores da pesquisa, o tema referente às práticas pedagógicas nas propostas de formação humana foi levado a efeito, considerando-se ser a fase exploratória o momento em que os envolvidos na pesquisa, tanto os atores da pesquisa como a pesquisadora, estabelecem os primeiros diálogos na tentativa de identificar as expectativas, os problemas prioritários, as características da população e outros aspectos que fazem parte do levantamento de todas as informações iniciais relativas à comunidade escolar, permitido assim, estabelecer os principais objetivos da pesquisa. A realização das entrevistas semi-estruturadas teve como intenção conhecer e compreender os valores e os ideais dos professores envolvidos, assim como, compartilhar apontamentos sobre as experiências já vividas pelos atores da pesquisa no contexto das práticas cooperativas na escola. Considera-se que no contexto investigativo tenha ocorrido um movimento espiral de ação, reflexão e transformação dentro das etapas já descritas. Nesse contexto, percebeu-se que, em cada nova situação problema encontrada eram propostas discussões visando a elaboração de novas hipóteses pautadas nos referenciais teóricos, tornando assim, os planos de ações e as ações mais coerentes e efetivas numa constante espiral, da prática à teoria, da teoria à prática. Para Thiollent (2002), uma Pesquisa-ação, requer maior flexibilidade no planejamento, permitindo constantemente alternância entre as etapas, por ser um tipo de pesquisa que sofre ação e intervenção, tanto do pesquisador, quanto dos atores da pesquisa, em vários momentos da investigação. A partir da realização das entrevistas semi-estruturadas com as professoras, foram marcadas reuniões denominadas seminários. Nesse espaço destinado a colocação dos problemas, 19 e a construção de hipóteses, pelo grupo, também foram realizados os estudos sobre as teorias que sustentaram o trabalho pautado na reflexão, ação e possíveis transformações das práticas educativas. Considera-se, portanto, que esse tenha sido um espaço de aprendizagem e de trocas relacionadas ao saber formal e informal, como também um momento para planejar as ações e avaliá-las discutindo os resultados. Dessa forma, os encontros nos seminários possibilitaram que toda investigação fosse desenvolvida por um planejamento e pela organização de ações conjuntas entre os atores da pesquisa e eu. Em relação à importância do referencial teórico apresentado por mim, no processo de construção da pesquisa, Thiollent (2002) enfatiza que a Pesquisa-ação consiste em gerar idéias, hipóteses ou diretrizes para orientar os atores da pesquisa e os pesquisadores sobre as interpretações das ações, mostrando que elas devem ser articuladas dentro de uma problemática sustentada por um referencial teórico. Portanto, considerando os pressupostos apresentados por Thiollent (2002); Gil (2002); André (2001), na modalidade Pesquisa-ação, juntamente com as práticas educativas, reflexivas e emancipatórias dos trabalhos apresentados por Freire (1996; 2007); Freire e Betto (2003); Freire, Gadotti e Guimarães (2000) espera-se, com este estudo: - compreender as dinâmicas das aulas de Educação Física; - colaborar com o processo de reflexão, ação e transformação dos atores da pesquisa envolvidos no que se refere aos aspectos de formação humana; 20 -verificar a coerência entre a proposta das práticas cooperativas nas aulas de Educação Física e a das outras professoras da escola em relação aos pressupostos referentes à formação humana apresentados no Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição; -desenvolver uma ação compartilhada de forma investigativa, reflexiva e transformadora sobre a utilização, aplicação e efetividade da proposta dos Jogos Cooperativos centrada na formação em valores. 21 2. ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A COOPERAÇÃO E A ESCOLA "Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda." (FREIRE, 2000, p.48) Uma vez considerado que as experiências vividas interferem nos aspectos formativos dos sujeitos, destaca-se a opinião Andrioli (2007) ao afirmar que a escolha em se construir uma sociedade cooperativa, visando o benefício coletivo em prol de uma sociedade mais humana e democrática dependerá das escolhas que os educadores fizerem sobre as ações práticas que permearem a formação dos alunos, para tanto, considera em especial a educação escolar. Segundo o autor, a prática cooperativa está relacionada ao conjunto de práticas educativas e de conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, que são apresentados por meio da ação cooperativa. Tal prática aplicada à educação dos alunos pode contribuir para a reflexão sobre o sentido do ser humano, seu trabalho, sua origem e sua possibilidade de emancipação através da organização coletiva. Cabe elucidar, nesse momento, alguns esclarecimentos sobre as práticas cooperativas, jogos cooperativos, a relação entre cooperação e competição, além de outras questões que permeiam esse assunto dentro do espaço escolar. Pretende-se com esse esclarecimento deixar claro que as práticas educativas cooperativas visam na relação ensino aprendizagem, aspectos que direcionam a uma construção coletiva entre os atores da pesquisa. Vale ressaltar que, ao longo dos anos trabalhando com a formação de professores constatei que, existe o equívoco de alguns educadores de confundir o termo cooperação com a intenção de uma ação solidária e/ou 22 filantrópica. Entretanto, o que se considera fundamental no trabalho cooperativo é o valor dado para processo da construção do conhecimento e para a realização dos desafios propostos. E não da valorização de uma ação voluntariada, onde os privilegiados empenham-se em contribuir com seus privilégios, oferecendo aos outros participantes do grupo aquilo que ele tem sobrando. No caminho da cooperação, a busca de resultados ou benefícios advindos das ações compartilhadas, parte do comprometimento e da responsabilidade individual de cada integrante do grupo na realização das atividades coletivas pautadas no equilíbrio entre os participantes e no seu comprometimento individual e coletivo em realizar as ações de forma cooperativas e não necessariamente da solidariedade dos integrantes do grupo. Para elucidar as considerações apresentadas partimos da definição básica de cooperação e de competição, que segundo o dicionário Houaiss (2008) define como sendo, “cooperação é o ato ou efeito de cooperar, onde cooperar é atuar, juntamente com outros, para um mesmo fim; contribuir com trabalho, esforços, auxílio; colaborar.”. E competição ‘é o ato ou efeito de competir; onde competir é entrar em concorrência simultânea com outro(s); rivalizar (se)’. No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de Cunha (1982) encontramos cooperação como: ‘operar ou obrar simultaneamente’ ‘colaborar’. E competir como: ‘disputar’ rivalizar’ pertencer por direito’. A partir das definições dos dois termos cooperação e competições expostas nos diferentes dicionários, verifica-se que eles não aparecem com antônimos, porém a ação que cada termo evidencia poderá levar-nos a refletir sobre quais ações queremos incentivar na escola, sendo assim, para que tipo de educação queremos contribuir. Dando sentido ao tema do trabalho, considero importante destacar outros detalhamentos sobre a utilização do termo cooperação relacionadas às práticas educativas: 23 Brotto (2001, p.27) entende por cooperação, como “um processo onde os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os resultados são benéficos para todos”. O autor compreende, a partir da definição apresentada, que, o termo cooperação traz imbuídos valores sobre o processo formativo dos alunos, e está vinculado ao âmbito educacional e social. Vale destacar que ao pronunciar “benefício para todos”, o autor considera que a valorização das práticas cooperativas na escola, deva ser dada ao processo realizado durante a aprendizagem cooperativa e não ao resultado final das ações. Para Brotto (2001) são considerados os ganhos e benefícios nos aspectos relacionados ao conhecimento adquirido por meio de uma relação compartilhada de maneira construtiva entre alunos, durante as atividades e desafios propostos nas ações educativas. No entanto, vale ressaltar, que a interpretação dada ao termo “benefício para todos” pode muitas vezes não satisfazer as expectativas dos alunos, pois é comum alunos mais habilidosos, privilegiados pelas suas capacidades e habilidades motoras, os quais destacam-se nos modelos de aulas que visam a competição, não reconhecerem nenhum benefício em compartilhar tarefas, desafios e resultados com os outros alunos. Portanto, nesse caso, cabe ao educador, não criar expectativas relacionadas ao “benefício para todos”, mas sim, estabelecer diretrizes que promovam espaços para o trabalho com práticas cooperativas, que possam, a partir das dificuldades encontradas, mediar e oferecer condições para o aluno discutir, participar, refletir e compreender por que gosta ou por que não gosta das atividades e dos seus resultados. A partir do apontamento citado faz-se necessário, considerar que para cumprir os pressupostos de uma educação pautada em valores, torna-se imprescindível que o educador ouça dialogue e respeite o aluno, pois, de outra forma estaria trabalhando de maneira impositiva e 24 ditatorial o que não aproximaria dos pressupostos da aprendizagem cooperativa da educação conscientizadora. A educação é parte integrante da vida humana e deve ser alimentada de aspectos que contribuam para o bem individual das pessoas e também para seu convívio social. Nesse aspecto, é de se pensar se, na escola, em todo processo educacional, seria coerente realizar um trabalho desenvolvido a partir das práticas cooperativas, como forma de contribuir para formação de alunos mais críticos, solidários, capazes de transformar, refletir e problematizar a realidade em que vivem. Para Freire (1996), torna-se necessário refletir sobre educação e sociedade, envolvidas na amplitude da formação do indivíduo autônomo que constituirá nossa sociedade. O autor acredita que será por meio da educação que os estudantes iniciarão o processo de transformação política, social e econômica do País. Acrescenta que, dessa forma, devemos propor, enquanto educadores, ações pautadas na coletividade, onde os indivíduos possam compreender a importância das suas ações como fator de responsabilidade individual e coletiva, percebendo que são responsáveis, de certa forma, por fatores que propiciarão mudanças na sua própria vida e na sociedade agindo, na política, na educação, na economia, e na saúde. Como dito anteriormente, apesar de considerar que a importância do processo de formação dos alunos não está restrito apenas ao espaço escolar, contribuições para a construção da autonomia e a emancipação do aluno são fatores que dependem de experiências vividas em todos os outros espaços de convivência humana, portanto a escola deve ser considerada apenas um desses espaços. 25 Para elucidar preocupações a respeito da convivência dos alunos em espaços que valorizam a cooperação no processo de formação humana, aponto as considerações de Correia (2006, p.23): (...) dificilmente garantiremos algum futuro dignamente humano se a cooperação não for imediatamente estimulada e amplamente vivenciada em nossa sociedade e se os sistemas educacionais, escolas e professores não assumirem o papel de condutores desse processo de mudança e de revisão que se fazem urgentes. Em relação à preocupação a respeito dos valores enaltecidos pela formação humana proposta pelas escolas Soler (2003, p.22) ressalta que, em nossa sociedade as experiências como práticas que valorizam a competição são freqüentemente realizadas na escola. E em relação aos valores apontados a essas práticas considera que há uma explícita diferenciação dos termos cooperação e competição no aspecto dos resultados e benefícios esperados pelas ações realizadas, os quais na cooperação são comuns e compartilhados e na competição são individuais e exclusivos. Apesar de concordar com o autor sobre o aspecto da valorização da competição na escola, é necessário neste caso, ficar atento com o sentido dado a interpretar da afirmação a respeito de que, nas ações cooperativas os benefícios esperados são comuns e que na competição são fundamentalmente exclusivos. Pois, será que não poderíamos dizer que, é possível encontrar no ato de cooperar expectativas individuais e exclusivas em relação aos benefícios? E por outro lado, não poderíamos também dizer que, em modalidades coletivas nas práticas competitivas possa existir cooperação entre as pessoas e que o ato de cooperar possa de certa forma gerar benefícios coletivos e não exclusivamente individuais? Estas, com certeza são questões que devem promover reflexões sobre as possibilidades e os resultados relacionados às expectativas no ato de cooperar ou competir na escola. 26 A necessidade de trazer nesse momento alguns conceitos sobre cooperação e competição tem como propósito a busca pela compreensão de que cooperar ou competir são valores implícitos e explícitos além do espaço escolar ou das atividades esportivas. São valores que envolvem fatores relacionados ao comportamento de indivíduos ou de grupos de uma sociedade. Para Orlick (1978) existe no ato de competir uma necessidade, um desejo de superar ou derrotar o outro. Portanto o autor considera que: “A competição pura é orientada para um objetivo único, e os outros competidores para o mesmo objetivo são secundários. O objeto ou objetivo pelo qual eles estão competindo é de importância primordial. Eles se esforçam para superar ou derrotar o oponente a fim de provar sua superioridade” (ORLICK,1978, p.81). Na concepção de Brown (1994), a competição traduz uma idéia de dominação, com relações de poder, no sentido social, econômico e político. Percebe nessas relações, oprimidos e opressores, perdedores e ganhadores ou vencedores e vencidos. Considera que o valor implícito nesse tipo de relação social, determina que, quem possui o poder é aquele que domina o mais fraco. Ao reconhecer que o sistema cultural dominante está baseado na competição o autor adverte que a educação deveria empenhar-se em contribuir para o fim da dominação, deveria também, envolver-se na tentativa de acabar com o binômio de perdedores-ganhadores. Nos apontamentos de Brow (1978) os homens são influenciados pelo processo de socialização, no qual são ensinados a valorizar comportamentos construtivos ou destrutivos. Dessa forma, aponta que promover dinâmicas de cooperação na educação seria um aspecto fundamental utilizado como estratégias que visassem contribuir para relações humanas as quais cada um tenha a liberdade e sinta confiança para trabalhar em função de metas comuns. 27 Em relação ao aspecto formativo na educação, a tradição escolar em sua história, demonstra valorizar a competição, mais que isso, ela ensina a competição como princípio de organização social, resultando em uma separação entre os profissionais nela envolvidos muitas vezes determinando que os trabalhos realizados pelos alunos sejam construídos individualmente. Porém, a partir da compreensão de que todos os envolvidos com a formação do aluno fazem parte do seu processo educacional, não seria pertinente que, os docentes, os funcionários responsáveis por outros setores e afazeres da escola, enfim, todos que estão coletivamente integrados na instituição, refletissem sobre a possibilidade de transformar nas estruturas que organizam e definem o papel da escola em espaço de convivência desejável, solidário e cooperativo? Na tentativa de elucidar as diferentes possibilidades, expectativas e resultados no trabalho realizado a partir do ensino tradicional e as práticas da cooperativa na escola destaco os estudos de Martins (2003). O autor convida os professores a realizarem um novo olhar sobre as práticas aplicadas na escola, bem como o papel que a escola representa na sociedade. Do convite apresentado pelo autor, emergem importantes reflexões, visando construir propostas educativas coerentes com as expectativas das exigências de uma sociedade que priorize relações mais justa e igualitária entre as pessoas. Ao refletir sobre os apontamentos de Martins (2003), referentes à maneira de conduzir o trabalho na escola, podemos considerar diferenças entre dois tipos de relação ensinoaprendizagem. Primeiramente no ensino tradicional observo que, a formação do cidadão na escola aponta para valores que reconhecem ideais de sujeitos inflexível na relação social e preparado para a competitividade. Pode-se considerar que, nesse caso, o ensino centrado no professor e as relações verticais e unilaterais são próprios de um modelo competitivo de educação. Ao passo que a proposta baseada em ações cooperativas tem como intenção 28 possibilidade dos envolvidos aprenderem e ensinarem juntos, em um mesmo processo, professor e aluno, aluno e aluno e também professor e professor. Considerando os apontamentos do autor citado, acredito que, a ação do compartilhar conhecimento, resolver conflitos e confrontar idéias utilizando e mediando as estratégias da aprendizagem cooperativa, poderá ser um dos aspectos educacionais que contribuirá para autonomia e a para a emancipação de um cidadão que se sinta responsável pela vida em coletividade. Desta forma, vale o destaque de Brotto (2001, p.4) “entendo que, aprender é sempre uma aprendizagem compartilhada, ocorrendo em uma situação dinâmica de co-educação e cooperação, onde todos são simultaneamente, professores-e-alunos”. Considerando a pertinência dos apontamentos citados a respeito das práticas cooperativas como proposta a ser desenvolvida na escola, disponibilizei ao grupo de participantes os estudos realizados por Andrioli (2007), Bessa e Fontaine (2002), Brotto (2001, 2003), Carvalho (2003), Diskin (2002), Orlick (1989), Velazquez (2004). Os referenciais consistem em propostas educacionais pautadas nas estratégias da aprendizagem cooperativa e dos jogos cooperativos, os quais compartilham dos ideais formativos explicitados pela sociedade democrática, pela busca da autonomia, da responsabilidade e da felicidade dos cidadãos. Para elucidar o trabalho realizado em diferentes escolas do Brasil e do Mundo, foram apresentadas três experiências com práticas cooperativas na educação: 1- Andriolli (2007) apresenta estudos realizados a partir do Programa de Cooperativismo nas Escolas (PCE) na Região da Grande Santa Rosa - RS. Esse programa tem como objetivo contribuir para a formação integral dos alunos. O PCE foi criado a partir de um programa pedagógico orientado por estruturas metodológicas pautadas na cooperação entre os alunos, professores e a comunidade. As estratégias de ensino e aprendizagem cooperativa, 29 apresentadas no programa visam incentivar à adequação do ensino escolar a realidade dos alunos e dos educadores, por meio de uma participação ativa e consciente nos espaços sociais e políticos. 2- Bessa e Fontaine (2007) descrevem a partir da psicologia social, propostas e resultados das práticas da aprendizagem cooperativa desenvolvidas como estruturas metodológicas em várias escolas de Portugal. Os autores realizam um trabalho de aplicação e avaliação nas escolas, visando contribuir com a divulgação do potencial de utilização das práticas cooperativas com alunos e docentes participantes. Destacam que a utilização das práticas cooperativas na escola podem contribuir com professores que sentem a necessidade de estratégias alternativas na relação de ensino e aprendizagem nas ações educativas. Reconhecem a partir dos estudos realizados que trabalho cooperativo obteve sucesso, podendo assim, assumir um papel importante no processo educativo das escolas de Portugal. 3- Na Espanha a Rede Estatal de Ensino desenvolve um programa direcionado às aulas de Educação Física, sustentado pelos princípios da Cultura da Paz, proposto pela UNESCO (1999). No referencial apresentado por Velazquez (2004) o programa denominado Educação Física para a Paz utiliza os Jogos Cooperativos e a aprendizagem cooperativa na educação, como estratégia de trabalho a ser proposto nas escolas. Esse programa tem como objetivo potencializar o conhecimento pessoal dos alunos, a partir da percepção de suas capacidades e limitação, da auto-estima e do espírito de superação das dificuldades em realizar as atividades práticas. No âmbito social e coletivo objetiva favorecer a integração dos alunos e professores, possibilitar as resoluções de conflitos nas aulas de forma autônoma e harmônica, promover o conhecimento de diferentes culturas e fomentar a consciência ambiental. O trabalho é realizado em escolas do Ensino Fundamental e Médio. Nos apontamentos do autor este programa de Educação Física para 30 a Paz tem sido utilizado como proposta de trabalho para docentes em países como Argentina, México, Chile, Colômbia e Brasil. 2.1. Como os jogos cooperativos têm sido apresentados pela Educação Física A respeito da visão sobre a coerência e efetividade dos conteúdos propostos nas aulas de Educação Física, voltados na busca da construção do conhecimento e da formação humana, exponho os apontamentos de Darido (2005). A autora considera que as discussões sobre a contextualização dos conteúdos escolares vêm se tornando cada vez mais pertinentes, no contexto da representatividade de seus significados. Aponta também que o ensino atual, pautado pelo modelo tradicional de educação, criou uma escola fragmentada em relação à transferência de conhecimento, não levando a uma formação pessoal completa do aluno, pois, esses, muitas vezes não relacionam as disciplinas estudadas com os aspectos da vida, dos desejos e das necessidades do aluno. A autora declara que essas discussões entre os profissionais da educação, vêm tentando dar subsídios e novas formas de organização educacional aos professores, para que estes desenvolvam uma prática educativa mais coerente com as necessidades atuais propondo ações menos segmentadas. Essas formas de organização, que se contrapõem a um estudo compartimentado, ou seja, cada disciplina cuidando de seu conteúdo estão sendo apresentadas por meio de projetos multidisciplinar, interdisciplinar, ou transdisciplinar, além da apresentação de temas transversais, inclusive na área da Educação Física. Pode-se considerar que a possibilidade de um trabalho pautado na transdisciplinaridade tenha sido o ideal almejado para as estruturas de aulas construídas nessa pesquisa durante o processo de transformação das práticas, já que o objetivo era que as ações decorrentes das práticas cooperativas transcendessem o espaço e a efetividade limitada no ambiente escolar. 31 Nos apontamentos sobre as práticas cooperativas realizadas nas propostas de aulas da Educação Física escolar a possibilidade de se realizar um trabalho transdisciplinar deve ser reconhecida e valorizada. Nos referenciais de Zabala (1998) a organização das estruturas de aulas pautadas na transdisciplinaridade possibilitará um grau máximo de relações entre as disciplinas e a representação do aprendizado na vida do aluno. Ainda sobre a transdisciplinaridade na escola, Nicolescu (2003, p.10) apresenta a definição etimológica do termo: “trans é o que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de todas as disciplinas, remetendo também à idéia de transcendência.”. Partindo da compreensão de que as aulas de Educação Física fazem parte das disciplinas da escola, as estratégias de aulas, os conteúdos planejados e os aspectos relacionados à formação do cidadão que almeja viver e conviver na sociedade devem estar coerentes com as estruturas de aulas propostas pelo professores. As possibilidades de um trabalho pautado nos pressupostos e nas práticas dos Jogos Cooperativos são descritos por Velazquez (2004) ao apresentar os Jogos Cooperativos como uma possibilidade para vivenciar a Cultura da Paz, termo que é hoje referenciado como um dos valores enaltecido nas propostas educacionais voltadas à formação humana. Para Velazquez (2004), nos pressupostos dos Jogos Cooperativos inserido na Cultura da Paz, os alunos participam não um contra o outro, mas junto ao outro, para superar de maneira cooperativa os desafios que surgem. Sendo assim, o autor valoriza que essas experiências propiciam um espaço rico para o desenvolvimento de habilidades sociais como: solidariedade, respeito, diálogo, cooperação, responsabilidade individual e coletiva, criatividade, resolução de conflitos, autonomia, comunicação, e ainda a melhora de outros aspectos relacionados aos objetivos da Educação Física, entre eles a condição física, as habilidades motoras, a motivação e 32 a integração de grupos. Tais considerações devem ser relevantes, ao considerarmos que tanto os conteúdos, quanto as estruturas das aulas oferecidas aos alunos devem ser coerentes com os objetivos da disciplina e com os ideais que regem a instituição escolar. Nas experiências propostas por Orlick (1978, p.123) “o objetivo primordial dos jogos cooperativos é criar oportunidades para o aprendizado cooperativo e a interação cooperativa prazerosa”. Em seus estudos, foram demonstradas situações divergentes na expressão e nos sentimentos dos alunos, durante as vivências propostas, apontando a principais características formativas dos Jogos Cooperativos na educação. Para o autor, nas estruturas dos Jogos Cooperativos todos os alunos são estimulados, a cooperarem e com isso sentem-se importantes nas relações com os colegas, pois a participação coletiva nas tarefas compartilha responsabilidades, diminui de forma significativa o medo e o sentimento de fracasso frente às dificuldades. Dessa forma, os alunos reforçam a confiança em si mesmo, como uma pessoa digna e de valor positivo reconhecido pelo grupo. O autor destaca que, as experiências cooperativas bem-sucedidas durante a infância podem influenciar na cristalização e na atração pelas alternativas cooperativas durante a vida do indivíduo, tornando a criança uma pessoa capaz de cooperar. E ainda que as vivências cooperativas propiciam que o ser humano seja aceito por buscar seu auto desenvolvimento, sem depender dos resultados obtidos nas ações compartilhadas, ou nas oportunidades de destruir os outros. Os apontamentos citados vão ao encontro da concepção de Jogos Cooperativos apresentada por Goméz (1992, p.7), Os Jogos Cooperativos são atividades lúdicas cuja característica primordial é propor a cooperação como única forma de interação entre seus participantes. A cooperação é um tipo de comportamento que exige a ação conjunta de várias pessoas com a intenção de alcançar um objetivo comum. Nos jogos cooperativos, esta ação conjunta deve implicar na participação e todos mediante ações coordenadas. Esse processo deve supor um 33 enriquecimento pessoal e uma exploração gratificante das possibilidades criativas em um ambiente onde nada é discriminado, excluído, derrotado ou eliminado. Considerando os apontamentos do autor, destaco o cuidado na compreensão de alguns termos explicitados, como por exemplo: “cooperação como única forma de interação entre os participantes” ou “Esse processo deve supor um enriquecimento pessoal e uma exploração gratificante das possibilidades criativas”, ou mesmo, “em um ambiente onde nada é discriminado, excluído, derrotado ou eliminado”. Tais afirmações devem ser refletidas e questionadas pelos professores que atuam nas escolas. Pois, nas dinâmicas cooperativas realizadas nas aulas, com grupos de alunos convivendo em agrupamentos destinados a reflexões, discussões, contraposições de idéias e decisões coletivas, acredito que dificilmente contemplariam as expectativas apontadas pelo autor. Portanto, devemos considerar que as dificuldades em se trabalhar no contexto coletivo/cooperativo são evidentes e cabe ao educador interagir, organizar, e mediar situações que envolvam não só conflitos, mas também frustrações de contraposições de idéia, resultados envolvendo até mesmo possibilidades de não conclusão de tarefas. Nesse momento considero que a possibilidade de usufruir os benefícios advindos das ações cooperativas devem, em alguns momentos, ser transferidas para a valorização da possibilidade em lidar com dificuldades e com as conquistas ou desafios não realizados, responsabilizando a todos pela insucesso na realização da tarefa proposta, compartilhando a organização de uma reestruturação das novas ações. Nesse contexto, devemos refletir sobre a aplicação de propostas dos Jogos Cooperativos na escola relacionando o aspecto a construção do conhecimento e a relação entre o ensino e a aprendizagem de conteúdos direcionados à participação ativa, à aprendizagem compartilhada, considerando a formação humana e o desenvolvimento das habilidades dos 34 alunos. Entretanto, novamente reforço acreditar que, não podemos afirmar que as estruturas das aulas farão mudanças explícitas no comportamento e atitudes dos alunos, porém, é possível supor que ambientes propícios à estimulação de relações interpessoais, pautadas na cooperação, no respeito e na solidariedade entre os alunos, poderão contribuir para o êxito dos alunos em diferentes aspectos educacionais como nas relações interpessoais, na construção da autonomia, na resolução de conflitos. Para Ricoeur citado por Silva (1992) nas reflexões coletivas o conflito é positivo e produtivo, e quando articulado por meio do diálogo possibilita que cada um conheça as especificidades, dê conta das suas limitações, do seu âmbito próprio, da totalidade da realidade a partir da sua presença. O autor considera a interpretação realizada em situações de conflito, um trabalho sempre em andamento. A aproximação referida nos apontamentos entre as práticas de atividades cooperativas, as quais estimulam as possibilidades de resolução de conflitos e desenvolvimento da autonomia dos alunos é decorrente dos estudos de Tognetta (2003), o qual defende que o ambiente cooperativo disponibiliza efetivamente o estabelecimento de limites para a criança, que podem gerar responsabilidade, participação na elaboração e na obediência das regras de maneira interiorizada e legítima, propiciando o desenvolvimento da autonomia como um autogoverno. Somam à argumentação da autora a posição de Carvalho (2003), quando descreve que a autonomia e a linguagem devem estar inseridas nos pressupostos das práticas cooperativas desenvolvidas na escola, pois ambas contribuirão para a formação em valores e o desenvolvimento da cidadania dos alunos. No âmbito das atividades desenvolvidas nas escolas a partir das práticas dos Jogos Cooperativos, Almeida (2003) descreve em seu artigo, apresentado no III Congresso Estatal y Iberoamericano de Actividades Físicas Cooperativas, alguns aspectos positivos a serem 35 considerados nas aulas de Educação Física na escola, possíveis de serem efetivados a partir de estruturas advindas dos pressupostos dos Jogos Cooperativos. Em um primeiro momento o autor julga que princípios como a criticidade e a autonomia estão sempre presentes na realização das ações cooperativas. Considera também que, os Jogos Cooperativos resgata o conhecimento e as experiências do grupo de participantes, propondo a recriação das diferentes atividades, e que aluno envolvido com o jogo cooperativo é motivado a expressar-se com espontaneidade, liberdade e responsabilidade. Para Almeida (2003), o exercício da autonomia nas atividades cooperativas é promovido pela tomada de consciência e ação criativa que, transformam o jogo, a brincadeira e os brinquedos e as atitudes neles representados. O autor considera que o professor de Educação Física tem o papel de facilitador, incentivando a construção conjunta das regras e na estruturação dos jogos, brincadeiras e brinquedos cooperativos e, portanto, devem, quando necessário, compartilhar informações com os alunos e com os outros professores, auxiliando no processo de autoconhecimento, transformação e integração social. Mediante aos princípios e fundamentações sobre o ambiente cooperativo, e por sua vez, dos Jogos Cooperativos cabe evidenciar que a formação do indivíduo é construída através de todas as pessoas envolvidas e ações realizadas no processo de educação. Na tentativa de envolver as professoras nas discussões e aproximar os Jogos Cooperativos vivenciados nas aulas de Educação Física às práticas pedagógicas das professoras polivalentes, foram propostas nas reuniões, vivências corporais, leituras e reflexões apresentadas nos pressupostos das práticas cooperativas na educação. 36 3. A PESQUISA-AÇÃO A ESCOLA O início formal da pesquisa na escola foi dado a partir dos encontros realizados com diretora e posteriormente com a coordenadora, visando o esclarecimento dos objetivos do estudo, e solicitando da autorização para iniciar as primeiras ações. Nesse momento, foram entregues à direção da unidade escolar, os documentos para a realização da pesquisa, os quais posteriormente, foram enviados ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu (COEP/USJT). Após aprovação do projeto pelo COEP/USJT1 procedeu-se à entrega dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para as professoras. Após a realização dos procedimentos legais para a autorização e viabilidade da pesquisa, iniciei o planejamento das ações investigativas no ambiente escolar seguindo as etapas da Pesquisa-ação. Após o cumprimento das normas legais, iniciei a organização de procedimentos e estratégias que pudessem amparar as ações e avaliações no desenvolvimento da pesquisa dentro da comunidade escolar. Referenciais teóricos sobre as etapas da Pesquisa-ação de Thiollent (2002) foram utilizados na estrutura metodológica, dando suporte para a organização e elaboração das primeiras estratégias. A respeito do âmbito das pesquisas sociais, André (2001), aponta a Pesquisa-ação como uma possibilidade na busca de conhecimentos baseados na coleta e análise de dados, formulação de problemas e de hipóteses, de maneira colaborativa, que se configura num estudo e numa realização de trabalhos conjuntos entre profissionais da escola e pesquisadores. Pode-se considerar que esses foram os pressupostos idealizados por mim, na realização desta Pesquisaação na escola. 1 COEP/USJT: número de protocolo 068/2007. 37 Ao argumentar sobre uma relação conjunta de investigação entre o pesquisador e os participantes, Freire (1987, p.68) enfatiza que: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Para o autor, a prática humanizadora se faz em co-intencionalidade, quando o educador e o educando, juntos se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato de desvendar, conhecer e recriar o conhecimento. Afirma que o processo de libertação do homem se dá a partir da práxis emancipatória na educação, e que não há outro caminho que conduza à transformação que não seja a prática pedagógica humanizadora (FREIRE, 1987). Concordando com Freire (1987) na tentativa de ser coerente com uma investigação reflexiva no ambiente escolar, optei pela utilização do referencial teórico apresentado pela pedagogia problematizadora freiriana e pelos apontamentos do autor referentes à teoria da ação dialógica e suas características. Para a identificação dos problemas emergentes na prática educacional, foram utilizados como estratégia a identificação de temas geradores. Os temas geradores trazem como princípio uma investigação que parte do homem, de seu pensamento sobre o mundo, de sua percepção da realidade, de sua visão de mundo. Assim, o papel na condição de um pesquisador, não é falar sobre a sua visão de mundo ou tentar impô-la, mas dialogar sobre a visão do aluno e a sua visão, tornando a ambos sujeitos investigadores (FREIRE, 1987). O olhar, as discussões e reflexões sobre os temas geradores propiciaram nesse estudo a utilização de uma metodologia conscientizadora, possibilitando estimular nas professoras uma forma crítica de pensar e se relacionar com os problemas e as inquietações sobre a escola e o mundo. Somam-se a isso as considerações sobre os apontamentos de Betto e Freire (2003, p.77) a respeito da metodologia dialética, a qual se fez um referencial para os estudos realizados nesta 38 Pesquisa-ação. Segundo os autores “na metodologia dialética, o ponto de partida não é o saber do educador, mas sim a prática social dos educandos”. Sendo assim, os autores reforçam que a leitura dos problemas deve ser originária do contexto no qual o sujeito se encontra e não do discurso abstrato do emissor. Acrescentam que o aprendizado que liga a teoria à práxis educativa só se dá a partir da realidade do sujeito refletida no coletivo e que, na metodologia dialética, o processo de teorização vai do pessoal ao coletivo. Para tanto, o educador deve conhecer e saber escolher as técnicas e as ferramentas necessárias para saber qual é o percurso que o processo educativo faz na visão da metodologia dialética (BETTO; FREIRE, 2003). Considerando os apontamentos citados, vale destacar que nessa Pesquisa-ação realizada na escola, tornou-se fundamental e necessário conhecer individualmente cada professora participante, ouvir seus relatos suas experiências pessoais e profissionais partindo do detalhamento de suas práticas educativas somadas aos seus valores e ideais, dialogando com a possibilidade de uma construção coletiva de um espaço de reflexão, ação e transformação. Portanto, desde o início da investigação, foi preciso deixar claro que a Pesquisa-ação poderia contribuir para a investigação no campo dialógico e emancipatório, porém tendo o cuidado de não reduzi-la a uma mera técnica de aplicação de estruturas metodológicas. Em face aos apontamentos referentes à área pedagógica, essa investigação foi realizada a partir de um trabalho coletivo e colaborativo, havendo uma articulação entre os referenciais das pedagogias de Paulo Freire e os pressupostos da Pesquisa-ação no âmbito social. A partir das considerações mencionadas, tornou-se coerente a escolha do método investigativo com pressupostos da Pesquisa-ação, em conjunto com os estudos realizados a partir dos referenciais da educação humanista, os quais, acredito que deveriam permear todo processo educativo. Como descrito anteriormente, o consentimento para realizar a Pesquisa-ação dentro da 39 instituição deu-se durante as reuniões com a diretora e com a coordenadora da escola, para esclarecimento sobre os procedimentos a serem desenvolvidos. No decorrer do diálogo, deixei clara a minha intenção em atuar como pesquisadora participante do processo educativo reflexivo. Reconheci também, a disposição da diretora em oferecer o espaço escolar de sua responsabilidade para a investigação sobre formação humana e práticas cooperativas. A diretora e a coordenadora colocaram-se à disposição para colaborar com a Pesquisa-ação, explicitando interesse e clareza a respeito da importância de investigar propostas educacionais. Reconheci naquele momento que, em especial essa escola e seus responsáveis estavam dispostos e interessados na investigação, propiciando o tipo de relação necessária entre pesquisador e atores da pesquisa coerente ao interesse de ambos na efetivação da Pesquisa-ação a ser realizada. Na busca de identificar problemas, construir hipóteses envolvendo-me nos procedimentos a serem realizados e avaliar o processo, deu-se o início da fase exploratória, considerada a primeira etapa da pesquisa-ação. 3.1. Fase exploratória Para Thiollent (2002), a fase exploratória consiste em conhecer o campo de pesquisa, elaborar um diagnóstico inicial a respeito dos problemas, e estabelecer as primeiras ações. Na pesquisa realizada, esse foi o momento de selecionar os interessados, levando em consideração suas expectativas e interesses para que, a partir da escolha das estruturas metodológicas, eu pudesse dar suporte às futuras investigações. Dando início à fase exploratória, no intuito de conhecer o cotidiano escolar e os atores da pesquisa, elaborei um roteiro de observação prévia do ambiente escolar (ANEXO 1). A partir da elaboração desse roteiro, três etapas distintas foram programadas. 40 A primeira etapa foi o momento da definição das professoras e de um levantamento prévio junto à coordenadora e a diretora da escola reunindo informações disponíveis e necessárias sobre a comunidade escolar e sobre a disponibilidade da realização da análise documental do Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição. A segunda etapa da fase exploratória desenvolveu-se pelo reconhecimento do espaço físico da escola. A realização da terceira etapa da fase exploratória deu-se em quatro encontros realizados individualmente com cada uma das professoras e em mais um com a coordenadora da escola. Esses primeiros contatos foram programados com a intenção de apresentar questões investigativas, primeiramente sobre os problemas emergentes das práticas educativas e, também, sobre o tema Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física e em sala de aula. Na fase exploratória da investigação foram utilizados como instrumento o caderno de campo para o registro das observações no espaço escolar e entrevistas semi-estruturadas com a coordenadora e com as professoras (ANEXO 2, 3 e 4). As instruções de uso do caderno de campo como instrumento para a elaboração de pesquisa seguiram as orientações propostas por Zabalza (2004). O autor considera o diário de campo uma importante ferramenta à disposição do educador, auxiliando na reflexão crítica de sua prática educativa. Para tanto, destaca algumas modalidades de diários de campo, dentre elas a analítica, que representa o modelo utilizado nesse estudo. A modalidade analítica do diário de campo consiste na idéia de que o observador deve se fixar nos aspectos específicos ou nas diversas dimensões do que se deseja observar. A partir dessa definição utilizei o diário de campo para compreender melhor o que foi observado no cotidiano escolar. Na análise das entrevistas realizadas na fase exploratória, busquei a compreensão por meio da hermenêutica existencialista de Gadamer (1997) e Ricoeur (2000). A partir dos estudos 41 sobre a hermenêutica filosófica apresentada pelos autores, verifiquei a importância da compreensão humana na busca dos “resultados” nessa investigação. Para que fosse possível interpretar e compreender aquilo que era expresso por meio da linguagem e nas relações entre as pessoas, fez-se necessário um mergulho no ambiente investigado tornando minha relação com os atores da pesquisa uma fusão de horizontes, como descrito por Gadamer (1997). Para o autor, aquilo o que está para ser compreendido traz sempre com ele um horizonte que se encontra em algum momento com o horizonte de quem realiza o ato da compreensão, o que, de certa forma, aprofunda o diálogo com aquilo que se deseja compreender. Para Gadamer (1997), quando nos aproximamos de algo a ser compreendido trazemos conosco nosso horizonte, nossas experiências as quais são as estruturas prévias de toda compreensão que se realiza a partir da prática dialógica. Sendo a pesquisa-ação um tipo de pesquisa que promove a participação dos envolvidos, tornou-se importante, recorrer aos atores da pesquisa sobre os aspectos da rotina e do contexto educacional, na busca da identificação e da solução dos problemas, o que com certeza gerou um compromisso entre todos os envolvidos na pesquisa maior do que apenas realizar uma mudança de estrutura de aula. Parti do princípio de que seria necessário produzir idéias por meio de ações problemáticas para resultar objetivos práticos e de conhecimento o que, segundo Thiollent, (2002) e Gil (2002), são aspectos fundamentais em uma pesquisa-ação. A intenção de discutir, nos primeiros encontros com os atores da pesquisa sobre os temas geradores referentes às práticas pedagógicas nas propostas de formação humana foi levada a efeito, considerando-se ser a fase exploratória o momento em que os envolvidos na pesquisa, tanto os atores da pesquisa como a pesquisadora, estabelecem os primeiros diálogos na tentativa de identificar as expectativas, os problemas prioritários, características da população e outros 42 aspectos que fazem parte do levantamento de todas as informações iniciais relativas à comunidade escolar, permitido, assim, estabelecer os principais objetivos da pesquisa. Faz-se necessário relatar que, a partir das entrevistas, os questionamentos e os problemas emergentes definidos durante as argumentações foram caracterizados pelo termo “temas geradores” proposto nesta pesquisa como a base do processo de investigações temáticas, num trabalho educativo onde a ação cognoscente sobre os temas significativos e a interpretação dos problemas aconteça efetivamente numa relação de reciprocidade entre todos os envolvidos. 3.1.1. Primeira etapa da fase exploratória Para conduzir a primeira etapa da fase exploratória, marquei um encontro com a diretora da escola e com a coordenadora. Nesse primeiro contato realizado com ambas busquei a identificação dos problemas prioritários sob o olhar dos responsáveis legais da instituição. Além disso, argumentei sobre a possibilidade de uma nova estruturação nos planejamentos e nas ações a serem realizadas no ambiente escolar sobre a perspectiva das práticas cooperativas. Foram temas de discussões o significado e a importância dada às práticas cooperativa propostas nas aulas de Educação Física, e as dificuldades mais evidentes relatadas pela diretora e pela coordenadora em relação à efetividade das atitudes cooperativas no cotidiano das crianças. Discutimos também, situações problema encontradas nas aulas e no comportamento dos alunos e professores, assim como as supostas ações que envolveriam a investigação a partir de uma pesquisa-ação. Foi possível verificar, durante o diálogo, que tanto para a diretora quanto para a coordenadora, os problemas emergentes da escola estão relacionados à convivência e às dificuldades relacionadas ao ensino de valores como respeito, responsabilidade, cooperação, 43 reconhecimento do papel da escola e estímulo à aquisição do conhecimento, tanto por parte dos alunos quanto dos professores da instituição. Em decorrência do diálogo estabelecido ficou claro que as práticas cooperativas realizadas nas aulas de Educação Física têm um papel relevante nesta escola. Entretanto, verificou-se que apesar do trabalho desenvolvido pela professora atual ser motivo de elogios da direção, a diretora não fez qualquer aproximação entre o que acontecia nas ações e intenções das aulas de Educação Física, e as ações e intenções do grupo de professores polivalentes da escola. Naquele momento de discussão e reflexão, tal aproximação foi apontada por mim e reconhecida pela diretora como uma possibilidade a ser desenvolvida na escola, o que julgamos favorecer o compartilhamento das ações realizadas pelas professoras polivalentes com as práticas cooperativas realizadas pela professora de Educação Física. Vale ressaltar que ao sugerir essa dinâmica considero que a Educação Física na escola deva estar em comum acordo com as outras disciplinas e permanentemente conectada com temas sociais relevantes. Deve interferir nas discussões do contexto educacional e, como parte integrante dessas discussões, deve preocupar-se com a formação de cidadãos capazes de sociabilizar seus conhecimentos em função de interesses coletivos (FREIRE E SCAGLIA, 2003). No final do encontro, a diretora autorizou a análise do Projeto-Político-Pedagógico (PPP) da instituição motivada pela idéia de um trabalho coletivo entre os envolvidos com uma educação pautada na formação em valores que pudesse permear todo ambiente escolar. Tornou-se claro, no diálogo estabelecido entre nós três, a disponibilidade e a necessidade de reflexão, ação e transformação coletiva na busca de práticas educativas coerentes com o papel da escola na sociedade. Em alguns momentos, compartilhamos pensamentos que vão ao encontro da idéia de 44 que as dificuldades relacionadas à formação humana envolvem tanto as práticas educativas quanto o papel social da escola. Na mesma semana da autorização para realizar a pesquisa, a convite da coordenadora compareci à primeira reunião anual de Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). Nesse espaço são planejadas as ações pedagógicas das práticas docentes. São também discutidos os problemas relacionados a essas práticas, assim como o planejamento das atividades propostas nos conteúdos programáticos determinados pela coordenação geral da Rede Municipal de Educação. Foi a partir do meu esclarecimento, para a coordenadora, das diferentes possibilidades que as práticas cooperativas oferecem para a educação e da elucidação dos valores que compõem os trabalhos realizados dentro dessa proposta de aprendizagem que surgiu o convite para que eu participasse efetivamente da HTPC. Na reunião de HTPC realizada em fevereiro de 2008, fui apresentada ao grupo de professoras da escola, para demonstrar, esclarecer e ampliar o conhecimento sobre as práticas cooperativas no ambiente escolar. No total, fizeram parte da reunião dez professoras polivalentes, a professora de Educação Física e a coordenadora da escola. Comparecer a essa primeira reunião do HTPC é considerado parte da fase exploratória desta pesquisa, pois, naquele momento, ainda não estavam definidos quais professores estariam diretamente envolvidos como atores na pesquisa. Até então estavam apenas definidos: a participação da professora de Educação Física e o apoio da coordenadora, mas a necessidade de ampliar as investigações e as ações para os outros ambientes da escola levaramme a considerar a importância da inclusão de outros professores como atores da pesquisa. Após a minha apresentação pessoal e profissional, foi esclarecida a intenção de pesquisar aquela escola. 45 Durante os esclarecimentos sobre a pesquisa, quatro professoras mostraram-se disponíveis e interessadas, porém apenas duas delas passaram a compor o grupo de atores desta pesquisa-ação. Para determinar quais seriam as professoras polivalentes que participariam da pesquisa, dois fatores foram considerados. Primeiro foi dada preferência pela iniciativa e pelo interesse pessoal manifestado pelas professoras durante a reunião do HTPC. O segundo fator foi a disponibilidade em participar dos encontros destinados aos planejamentos e a realização dos estudos necessários para a investigação. Considerando tais fatores, definiu-se então, a participação na pesquisa das professoras da primeira série A (P2) no período da manhã e do introdutório B (P3) no período da tarde, além da professora de Educação Física (P1). Vale considerar que as duas professoras polivalentes determinadas como atores da pesquisa já tinham experiências passadas com as atividades cooperativas, sendo uma delas minha ex-aluna no curso de graduação em Pedagogia e a outra já havia trabalhado na mesma escola particular onde trabalhei por oito anos com os Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física. Após os dois encontros realizados na primeira parte da fase exploratória realizei a análise documental, investigando a coerência entre os ideais de formação humana enunciados no PPP da instituição e as propostas das práticas cooperativas desenvolvidas pelas professoras. Para dar início à análise do PPP realizei um levantamento, junto à diretora, sobre a construção do Projeto da instituição, que se iniciou em 2006, considerando que, até o momento encontrava-se em construção (fevereiro de 2008). A diretora relatou que o trabalho inicial de construção do PPP na instituição contou com a participação tanto da diretora e da coordenadora, quanto das duas professoras P1 e P2 que lecionam há mais de cinco anos nessa escola. Apenas uma das professoras, P3, não participou das discussões que culminaram na elaboração do 46 documento, pois iniciou seu trabalho nessa escola em 2007, com contrato temporário de um ano de serviço. A relevância da investigação documental nesse estudo deu-se considerando que os pressupostos apresentados pelo PPP da instituição devem influenciar o trabalho realizado pelos professores da instituição e, consequentemente, interferem no processo formativo dos alunos. Freire (1991) descreve o PPP como um documento que estabelece princípios, diretrizes e ações para que as propostas da escola sejam efetivadas, tanto em relação às ações quanto aos seus significados. Portanto, o autor declara que na participação coletiva dos atores da escola, supõe-se que todos os envolvidos no processo educativo desejam viver em um espaço de qualidade e beleza, tanto no que diz respeito aos aspectos físicos e estruturais, quanto nas relações pessoais, interpessoais e grupais. Porém, este espaço de convivência deve ser motivo de desejo e de luta política, pois, na ação educativa nada acontece sem esforço, sem conflitos e sem conquistas. Considera-se que ao propor a construção do PPP uma escola deve almejar como resultado um planejamento dialógico, trazendo, na sua dimensão político pedagógica, a necessidade de uma construção colaborativa, onde os envolvidos com a educação cidadã, ressignificam suas experiências pessoais e profissionais, refletem sua prática, reafirmam seus valores, demonstram seus saberes, seus sonhos e utopias. Nessa construção coletiva também organizam novas propostas, novos caminhos individual e coletivo, estabelecendo acima de tudo relações de convivência positiva para elaboração de propostas e ações educacionais mais significativas (FREIRE 1991). Para uma análise mais detalhada do documento PPP e sua coerência, tanto nas ações realizadas nas práticas pedagógicas dos professores quanto nos problemas mais emergentes relatados pelos atores da pesquisa da pesquisa, recorreu-se aos referenciais teóricos apresentados 47 por Freire (1987, 1991, 2007), Freire e Betto (2003), Freire, Gadotti e Guimarães (2000). A constatação entre o que nos propomos a fazer pautados nos ideais e valores e a efetividade das ações práticas são consideradas por Freire (1996, p. 72) como “as qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma dessas virtudes indispensáveis - a coerência”. A possibilidade de analisar os pressupostos do PPP teve como intenção verificar a coerência entre as ações dos professores durante as aulas e as propostas das aulas elaboradas a partir dos ideais da instituição, bem como verificar se os problemas emergentes relatados pela diretora, pela coordenadora e pelas professoras, estavam vinculados aos valores formativos almejados pela instituição. Na busca de verificar a coerência entre prática e teoria, primeiramente, foi realizada uma análise de conteúdo do PPP, na qual verifiquei a incidência dos termos relacionados à educação e à formação em valores, que pudessem representar algum significado para a investigação. No primeiro momento da análise do PPP fez-se necessário descrever a escola no contexto da comunidade na qual ela está inserida. Para tanto, foi explicitado também um breve relato sobre o histórico da escola e sua abrangência. A escola Guilherme Contesini está situada em um bairro central, inaugurada em 22 de dezembro de 2001, de acordo com a lei nº 3193 de 11 de outubro de 2001. Atende as crianças de 7 a 10 anos, em sua maioria alunos do próprio bairro. Utiliza-se de Ciclo de aprendizagem, ou seja, não há retenção de alunos, salvo em casos de excesso de faltas e aproveitamento insatisfatório. 48 Nas argumentações da diretora a respeito do PPP torna-se possível perceber o reconhecimento de que essa escola é uma instituição privilegiada no sentido de estar sustentada por um documento que prioriza a importância da educação em valores e, também, por considerar que está localizada numa área central da cidade, facilitando o acesso e a participação efetiva da comunidade. A diretora relatou que os alunos classificam-se, predominantemente, nos níveis socioeconômicos médio e baixo. Afirmou que os pais têm representativa participação no processo educativo das crianças, comparecendo, em sua maioria, às reuniões pedagógicas e às festividades realizadas na escola. Pronunciou também que a participação e o interesse dos pais nas atividades escolares dos seus filhos facilitam o trabalho da instituição nos aspectos referentes à responsabilidade compartilhada no desenvolvimento e na educação das crianças. Após a análise do documento, pode-se considerar que os termos que constam no PPP da instituição estão vinculados às preocupações mais evidentes da diretora da escola, mostrando uma relação significativa entre o que propõem os ideais teóricos da instituição e o que a diretora elenca como prioridade a ser considerada pelas ações educativas. Nos aportes do PPP pode-se considerar que a proposta pedagógica da escola tem como objetivos desenvolver o currículo possibilitando que os alunos construam saberes indispensáveis para sua inserção social; garantir atendimento diversificado permitindo que os alunos atuem em ritmos diferentes; organizar as salas de aula como um espaço que privilegie a interação dos alunos e também o processo ensino-aprendizagem. O documento descreve que os professores utilizam métodos avaliativos e diante dos resultados obtidos oferecem recuperação paralela e contínua aos alunos. A escola adota procedimentos de avaliação que são tratados em seus três aspectos fundamentais: Diagnóstica; Processual e Contínua. A escola utiliza-se de menções para avaliação do aluno, que são assim 49 classificadas: A – atingiu plenamente todos os objetivos; AO – atingiu os objetivos essenciais; AP – atingiu parcialmente os objetivos; A – não atingiu ainda os objetivos. No Marco Referencial, o PPP traz parâmetros atuais da situação mundial, quando diz que “[...] O capitalismo responsável por inúmeras diferenças entre os homens, desenvolveu e desenvolve a indústria da massa, geradora de grande homogeneização, apagando diferenças e padronizando estilos de vida. Consumismo, competição permanente, enriquecimento rápido, aparecem como os grandes objetivos do presente”. A partir dessa visão macro de realidade, percebe-se aí um descontentamento com o atual modelo de vida em que vivemos. O documento analisado traz também uma visão global do ensino atual, e faz crítica ao modelo atual de educação que exclui e discrimina, quando relata que, “A educação, sempre considerada como prioridade pelos órgãos governamentais, continua sendo elitista, onde os menos favorecidos lutam por uma escola pública mais eficiente [...]”. A preocupação com o meio ambiente também é considerada pelo texto, onde diz que “[...] um dos temas que mais desperta a atenção na atualidade é o meio ambiente. :ão se trata apenas de preservar o equilíbrio dinâmico dos ambientes vitais, com a regeneração de ecossistemas degradados pela ambição humana e pelo processo de industrialização.” Mediante a essas observações, verificamos que os problemas da sociedade atual são provocados pelo próprio modo de vida que o homem se impôs. Então qual o caminho a seguir, já que esse adotado atualmente não está satisfazendo as necessidades das pessoas? Dentro do Projeto Político Pedagógico da escola é determinado um caminho a seguir, que nos coloca “[...] uma sociedade mais justa, humana, fraterna e democrática, com homens críticos, politizados, de ampla visão do mundo, capazes de superar preconceitos sociais, uma 50 sociedade em que todos usufruam dos direitos e deveres presentes na Constituição Brasileira. Partindo desses pressupostos, buscamos uma sociedade em que valores como solidariedade, fraternidade e honestidade, devam transcender as barreiras do individualismo, pois a cada momento das nossas vidas estamos juntos construindo a nossa história, buscando liberdade e a felicidade desejada por todos.” Para que esse ideal de sociedade seja alcançado o PPP projeta uma escola de gestão democrática e uma educação libertadora, segundo os conceitos de Paulo Freire e Moacir Gadotti, referenciados pelo documento. “A educação libertadora transforma o educando. Sua prática é essencialmente dialogada. “Trata-se de um diálogo crítico e criativo que se nutre de amor, da humildade, de esperança, da fé e confiança”. ”A gestão democrática exige uma mudança de mentalidade de todos [...]”, ”[...] ela deve estar impregnada por uma atmosfera que se respira na escola, na circulação de informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do calendário escolar, na distribuição das aulas, [...]”, ou seja, a gestão democrática deve estar inserida tanto nas pessoas como nos processos a serem executados. Como resultado desse processo de mudança do antigo paradigma escolar baseado na transferência de conhecimento do professor para o aluno, este PPP propõe transformações no âmbito educacional que valorizam o pensamento de uma escola participativa, autônoma e colaborativa, explicitando em seu documento que a “[...] escola com qualidade social, reconhece o direito do aluno a se apropriar de conhecimentos científicos, filosóficos, artísticos e tecnológicos de forma não fragmentada, busca fazer com que alunos e alunas possam construir e transformar o conhecimento, na condição de sujeito de seu próprio processo, vendo respeitada e considerada sua identidade constituída por processos sociais e culturais extremamente complexos.” 51 Em relação aos apontamentos do PPP da instituição destaca-se a evidência que os aspectos formativos são apresentados de maneira explícita no documento. A valorização de um ensino pautado na interação e na formação em valores é clara e objetiva na descrição do projeto, o que podemos identificar como uma aproximação aos valores dados às propostas das práticas cooperativas que almejam em sua essência qualidades nas experiências, nas escolhas das atividades e na preparação de um ambiente onde os alunos possam desenvolver estratégias de comunicação e cooperação na busca de objetivos comuns pautado em valores humanos (GÓMEZ 1992). No momento em que o documento faz uma crítica à sociedade atual, é apontado que a visão de uma sociedade capitalista impede a concretização de um mundo mais justo e igualitário, preparado para convivência solidária. Verifica-se que os termos “consumismo” e “competição” na sociedade implicam numa crítica ao comportamento da sociedade capitalista o qual está enfatizado pela busca de uma educação que luta contra os pressupostos da educação elitista. Gadotti (2000) afirma que na busca de uma nova identidade nacional democrática, inserida num novo contexto histórico, longe dos ideais elitistas, reserva ao Estado a responsabilidade de exercer uma ação que desperte para a integração entre educação e cultura, escola e comunidade, visão interdisciplinar e transdisciplinaridade, participação coletiva e formação de professores. Representado pelo movimento atual da “escola cidadã”. Verificou-se durante a análise que existe intencionalidade na elaboração do documento sobre aspectos que contribuirão para ampliação da visão de mundo, através das escolhas expressas pela intencionalidade de ações coerentes na construção de uma sociedade democrática, justa e igualitária. Os termos pronunciados buscam a superação de preconceitos entre os homens e implicam numa estrutura educacional mais justa e igualitária com 52 possibilidade para o cidadão usufruir dos direitos e deveres explícitos na Constituição Nacional de 1988. A partir das citações de Freire e Gadotti descritos no documento foi possível identificar que nessa escola existe o desejo explícito de mudança, visando construir uma comunidade escolar que seja representada por práticas pedagógicas que possam superar o modelo de escola pautado na transmissão do conhecimento do professor para o aluno, para a perspectiva de construção de conhecimento que leve a uma educação não fragmentada possibilitando ao aluno ser o sujeito do seu próprio processo educativo, respeitando sua identidade individual na vida coletiva. Busca em seus ideais a “educação para a liberdade” proposta por Paulo Freire visando à transformação da educação e de todo sistema educacional, propondo valores de cidadania, democracia e autonomia para os alunos e para a sociedade em que vivem e se relacionam. Esses apontamentos sobre as transformações nas práticas pedagógicas visando à educação para liberdade enunciada no PPP são retratados pelo potencial formativo da aprendizagem cooperativa descritos nos estudos da “Cultura da Paz” como possibilidade de transformações nas estruturas das aulas coerentes ao que se almeja conquistar (BESSA e FONTAINE, 2007; DISKIN, 2002; VELAZQUEZ, 2004). Como citado anteriormente um fato relevante a destacar na análise do documento é que o PPP ainda hoje (fevereiro de 2008) encontra-se em construção, apesar do início da sua elaboração estar registrado como ano de 2006. Podemos considerar que o fato do PPP até 2008 não ter sido concluído é justificado pela característica desse tipo de documento que deve permanecer em constante construção, pois, o ambiente escolar deve ser estruturado pela necessidade dos sujeitos envolvidos e essa intenção, compartilhada na elaboração dos pressupostos. Valoriza-se nessa ação o fato de que as possibilidades sejam constantemente 53 transformadas pelo grupo envolvido, de acordo com suas intenções. Isso deixa claro que há uma preocupação sobre a efetividade e coerência da práxis educativa com as ações coletivas na busca de uma sociedade crítica, autônoma e democrática, como afirma o documento. Segundo Gadotti (2000), a necessidade da coerência na práxis educativa remete-nos ao papel de educador crítico e reflexivo que percebe importância do privilegiado papel da escola sobre o desenvolvimento humano, já que envolve os aspectos da cultura, de socialização e de ação pedagógica. Para que esse papel seja cumprido faz-se necessário o comprometimento dos atores envolvidos no processo de construção e ação educativa. Nesse contexto, o PPP da instituição é um instrumento de formação permanente que acompanha os momentos de ação, reflexão e transformação constatando que o momento da construção coletiva dos educadores por meio da convivência mostra-se como uma alternativa possível de apreensão de novos conhecimentos e de qualidade para a educação. Assim, novamente, pode-se considerar que há coerência entre os valores enunciados no PPP visando à educação para cidadania e as propostas das práticas cooperativas nas aulas de Educação Física, nos aspectos referentes à formação humana na escola. Vale destacar que no ambiente escolar pautado pelas práticas cooperativas, a educação ocorre inserida na prática social, como um processo de intencionalidade, interesse e objetivos compartilhados pelos indivíduos que se relacionam. Portanto, todos os envolvidos no processo são responsáveis por suas escolhas e intenções pessoais e educacionais. Ressalto que é possível perceber a aproximação da intenção do que é proposto nas práticas cooperativas com os ideais explícitos de uma educação para convivência coletiva, desejada pela escola atual. Segundo Frantz (2001, p.3): 54 No processo da educação, podem-se identificar práticas cooperativas e, no processo de cooperação, podem-se identificar práticas educativas. A organização da cooperação, em seus aspectos práticos, exige de seus sujeitos e atores uma comunicação de interesses, de objetivos e práticas, a respeito do qual precisam falar, argumentar e decidir. Nesse processo de interlocução de saberes de cada associado, os dois fenômenos se relacionam, entrelaçam-se e se potencializam como práticas sociais específicas. Assim, no diálogo da cooperação, cumpre-se a educação, fundada no processo de construção e reconstrução dos diferentes saberes daqueles que participam da organização e das práticas cooperativas. Há, portanto, uma estreita relação entre esses dois fenômenos, entre essas duas práticas sociais: na prática cooperativa, para além de seus propósitos e interesses específicos, produz-se conhecimento, educação e aprendizagem; na prática educativa como um complexo de relações humanas, encontra-se a cooperação”. É importante destacar que os pressupostos apresentados no PPP deixam claros seus ideais como proposta de formação humana quando demonstram a intenção e o significado da sua elaboração, descrevendo questões que visam responder: qual é a escola dos nossos sonhos? Qual é o retrato da escola que temos? Esses dois questionamentos justificam-se na elaboração do documento, porque elucidam e dirigem para um questionamento mais profundo: quais alunos queremos formar? Que escola devemos oferecer a esses alunos? Qual tipo de profissionais da educação a escola necessita? Entre outras tantas indagações. Autores como Moacir Gadotti e Paulo Freire são os referenciais teóricos que nortearam a elaboração do PPP da instituição. Coerente com os pressupostos referenciados por esses autores, o documento define como pilares da educação para as escolas da Rede Municipal da Estância de Atibaia a democratização do acesso e a permanência na escola, a democratização da gestão escolar e a qualidade social da educação. A seguir, apresento um quadro elaborado a partir dos termos que norteiam os ideais do PPP da instituição, considerando relevante a incidência que os valores para a formação humana são citados no documento: 55 Quadro . Projeto Político Pedagógico da EMEF Guilherme Pileggi Contesini Termos referentes à educação e à formação humana 1) Igualdade 2) Inclusão 3) Autonomia 4) Cooperação 5) Cultura da paz 6) Educação: procedimento, atitudes e valores. 7) Pilares da educação 8) Compromisso 9) Dialogicidade 10) Liberdade 11) Paulo Freire e Moacir Gadotti 12) Qualidade 13) Solidariedade 14) Participação 15) Prática Pedagógica / Ação Pedagógica 16) Ser Humano como sujeito da sua história 17) Ética 18) Responsabilidade 19) Legislação Nacional: Educação 20) Felicidade 21) Capitalismo exacerbado /Cidadania / Globalização 22) Ideal de Escola, Educação, Homem e Mundo. 23) Visão Humanista 24) Democracia / Cidadania 25) Função da escola 27) PPP elaboração: Processo Democrático / Ação Coletiva 28) Desigualdade social / Justiça Social 29) Qualidade em educação úmero de vezes citado 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 4 4 4 5 5 6 7 7 8 8 13 14 15 16 18 A partir do número de citações reveladas no quadro apresentado, assim como os apontamentos da diretora sobre o PPP, verificou-se no corpo do documento, a presença contínua de termos relacionados aos aspectos de valores humanos, tais como: cidadania, democracia, cultura de paz, autonomia, inclusão, liberdade, igualdade, ação coletiva, solidariedade e 56 cooperação. Portanto, pode-se perceber que na construção do documento existe uma preocupação da instituição com a formação do aluno relacionada à construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática. Vale destacar que para a análise do PPP da instituição, fez-se necessário dar continuidade à investigação numa perspectiva problematizadora e libertadora referenciada pela visão freiriana sobre educação e política. Com base nos autores, Freire, Gadotti e Guimarães (2000) o surgimento de novas propostas pedagógicas, e a educação a que nos propomos está relacionada à nossa opção política e toda sociedade brasileira deve estar envolvida num processo que não pode dissociar a tarefa pedagógica da política e vice-versa. Frente às dificuldades que permeiam as práticas educacionais, Nista-Piccolo (1995) aponta uma grande preocupação nas contradições entre os documentos legais e o que realmente ocorre nas aulas práticas da disciplina de Educação Física. Destaca a autora que, enquanto notarmos que as ações pedagógicas realizadas nas aulas se diferem dos discursos educacionais, não será possível alcançarmos as expectativas implicadas nas ações realizadas nas aulas. Essa constatação ressalta a necessidade de buscarmos coerência entre o discurso teórico e a prática cotidiana vivida no ambiente educacional, para que se torne possível uma educação coerente e de qualidade. Para tanto, o que se espera é que as ações pedagógicas sejam coerentes com o pensamento pedagógico. 3.1.2 Segunda etapa da fase exploratória Na segunda fase da etapa exploratória fez-se necessária a minha presença na escola para o conhecimento da rotina escolar e também do espaço educativo que investigaria. Após a apresentação dos funcionários e dos demais professores da instituição, a impressão foi de 57 acolhimento e cortesia por parte de todos. Desde o primeiro contato com a escola criou-se um ambiente amigável que me possibilitou livre circulação por toda a escola. Nos primeiros registros sobre o ambiente escolar, observei que o espaço físico da instituição é um lugar amplo e bem cuidado e conta com diferentes ambientes para a realização das atividades dos alunos. O espaço externo bem cuidado demonstrou ser considerado pela instituição, como um item de grande valor, pois a escola tem um lindo jardim que circunda todo o prédio, além de contar com um espaço destinado a uma horta comunitária cuidada semanalmente pelos alunos. A quadra da escola é coberta, sendo utilizada para aulas de Educação Física e para eventos festivos. Localiza-se entre o jardim, o parque e a horta. Na observação do espaço interno da escola verifiquei que as atividades realizadas pelos alunos durante as aulas são expostas ao longo do corredor onde ficam as salas de aula. Tal fato demonstrou o reconhecimento e a valorização dada aos trabalhos desenvolvidos pelos alunos da escola. A relevância dessas observações deu-se pela compreensão, pelo interesse, pela colaboração e pela motivação no trabalho desenvolvido demonstrada pela coordenadora da instituição. Sua disponibilidade e colaboração deram ao trabalho de investigação e ação o suporte necessário para efetividade da Pesquisa-ação naquele ambiente educativo. 3.1.3 Terceira etapa da fase exploratória Como dito anteriormente, para o diagnóstico inicial sobre a realidade dos professores no espaço educativo, utilizei como instrumentos a (1) entrevista semi-estruturada (ANEXO 2, 3 e 4), (2) gravações das argumentações e dos (3) relatos das professoras durante as aulas e os seminários e também (4) o caderno de campo para as observações durante as semanas de investigação. 58 As observações e registro decorrentes dos momentos em que eu participei das aulas foram apresentadas, analisadas e discutidas em várias etapas deste estudo, quando percebeu-se necessário compreender as situações descritas. A apresentação das análises dos discursos dos atores da pesquisa auxiliaram na compreensão da realidade investigada. De acordo com as respostas obtidas nos discursos dos atores da pesquisa durante o momento inicial da análise, foi possível levantar considerações que auxiliaram na realização do trabalho, considerando que, os trechos selecionados para a análise buscaram dar significado ao contexto da realidade encontrada no ambiente escolar. Esta análise resultou em uma síntese diagnóstica da situação inicial. A primeira entrevista semi-estruturada foi realizada com a coordenadora. Nesse momento, algumas questões foram apresentadas, no intuito de verificar qual seu posicionamento em relação aos problemas mencionados pela diretora da escola, qual sua percepção das práticas cooperativas e competitivas na escola, qual o perfil dos profissionais que atuam nessa escola e, especialmente, como ela identifica a importância do trabalho realizado nas aulas de Educação Física apresentados pela proposta dos Jogos Cooperativos. Nesse encontro a coordenadora e eu conversamos por um longo tempo, a respeito da pesquisa-ação, sua estrutura metodológica e o desenvolvimento das ações e reflexões na escola. Para permitir a compreensão daquilo que foi dito pela coordenadora, apresento os apontamentos de Silva (1992) referentes aos estudos da hermenêutica do conflito, realizado por Paul Ricoeur. A autora busca em sua teoria da interpretação da realidade explicar como no processo da compreensão humana podemos entender o outro e nos fazer entender por ele como sujeito, como ação e como história. Para Ricoeur citado por Silva (1992) a interpretação é um processo dialético que inclui o momento da explicação e da compreensão, sendo assim, é preciso 59 explicar mais para compreender melhor. Segundo a autora, Ricoeur relata que nesse processo dialético cria-se um movimento inicial de compreensão para a explicação, que posteriormente torna-se recíproco da explicação para a compreensão, de maneira intermitente. Esse trabalho de explicação e compreensão levará o homem a compreender-se, a compreender a sua história e o mundo em que vive. Para Gadamer (1997) cada discurso é um discurso aberto a diferentes interpretações em diferentes circunstâncias, sempre conforme as referências do sujeito da interpretação. Os leitores são quem dão seu próprio sentido à interpretação do que se busca interpretar, criando um novo discurso, tornando um novo acontecido. Esta seria a “fusão de horizontes”. O principal objetivo dessas etapas consiste em oferecer ao pesquisador melhores condições de compreender, decifrar, interpretar o material gerado na situação investigada. Numa pesquisa sempre é preciso, pensar, buscar e discutir, comparando informações, avaliando e discutindo resultados. Segundo Thiollent (2002 p. 28): “Quando não queremos pensar, raciocinar, conhecer algo sobre o mundo circundante, é melhor não pretendemos pesquisar. Além disso, quando queremos interferir no mundo precisamos de conceitos, hipóteses, estratégias, comprovações, avaliações e outros aspectos de uma atividade intelectual.” O apontamento citado remete-nos aos estudos de Perrenoud (2002) a respeito da ação coletiva e cooperativa entre os atores responsáveis pelas práticas educacionais, a partir da percepção partilhada sobre a urgência nas mudanças fundadas na análise e no desenvolvimento de uma educação mais reflexiva e competente. Segundo o autor, as experiências provenientes de uma pesquisa-ação dentro da escola trazem um conjunto de formas de interação e de cooperação suscetível a favorecer a reflexão e a profissionalização interativa para as transformações necessárias à escola e aos envolvidos no processo educativo. 60 De acordo com os princípios da hermenêutica, pode-se perceber a presença de uma estrutura circular denominada por Gadamer (1997) como “Circulo Hermenêutico”. Sobre essa estrutura o autor retrata que, para compreender algo, sempre partimos dos nossos pressupostos e esses pressupostos determinam que, todo movimento da compreensão jamais começa do ponto zero, pelo contrário, ele parte sempre de determinações prévias, indispensáveis para a compreensão caminhando na direção do que se pretende compreender, do que se é estranho. Assim, compreender alguém, coisa ou mundo acaba sendo um compreender-se, porém, o sentido que atribuímos à compreensão é interpretado a partir da nossa perspectiva. Para o autor somente no diálogo chegamos ao outro e podemos ultrapassar a estreiteza de nossos próprios preconceitos, é um espaço para a revelação do ser que não esgota nem engessa constituindo a identidade humana. No diálogo, compartilhamos algo que nos é próprio e recebemos algo que nos é estranho. Nesse acordo é permitido discernir, ponderar, acolher, argumentar com parceiro do diálogo. Fazer parte desse espaço de compreensão onde os horizontes de pesquisador e atores da pesquisa podem se fundir e construir, transformando discursos em novas possibilidades, fizeram dos encontros realizados durante a pesquisa, um momento privilegiado para conhecer o outro e ao mesmo tempo conhecer-se. Podemos perceber que nessa situação em que nos encontramos para as discussões e reflexões o conflito foi inevitável, criado como produto entre diferentes interpretações em confronto, serviu-nos para o esforço mútuo da argumentação e para um melhor esclarecimento das idéias. Segundo Thiollent (2002) as características da Pesquisa-ação são próprias do processo argumentativo, gerados pelos momentos de compartilhar os problemas a serem estudados nos encontros, nas explicações e soluções apresentadas pelo pesquisador e discutidas 61 pelos atores da pesquisa, nas escolhas das ações a serem implementadas, e nas avaliações dos resultados da pesquisa e das ações desencadeadas por ela. Portanto, o trabalho conjunto realizado nos encontros de reflexão e discussão, desenvolveu-se com a intenção de contribuir com resoluções de problemas por meio de levantamento de soluções e propostas de ação, auxiliando os atores da pesquisa em sua própria capacidade de transformação. Segundo Franco (2005, p.483): (...) a pesquisa-ação, estruturada dentro de seus princípios geradores, é uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado como uma ação que cientificiza a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática. Na intenção de ser coerente com o método investigativo, buscou-se nos referenciais da pedagogia problematizadora e dialógica de Paulo Freire ampliar e compreender os dados coletados nas ações pedagógicas propostas pela escola. Paulo Freire (1987) enaltece a capacidade do ser humano em superar os desafios de forma coletiva mudando a situação de opressão em que se encontra a partir da sua luta consciente pela libertação e humanização. Apresento a descrição, a análise e a síntese das entrevistas semi-estruturadas realizadas com a coordenadora, com a professora de Educação Física e com as duas professoras polivalentes atores da pesquisa. Coordenadora: 1. Qual é a sua opinião sobre as práticas cooperativas (formação em valores), existe algum trabalho sendo realizado na escola sobre esse tema ? 62 Coordenadora: “Pra mim a cooperação é importante em todos os lugares, aqui na escola eu valorizo, acho que todos os professores devem trabalhar a cooperação. Eu acho que muitos alunos tem dificuldade de se relacionar e a cooperação pode ajudar nesse problema... Eu gosto do trabalho da P1, acho importante o jeito que ela trabalha os Jogos Cooperativos na Educação Física. A gente tem também um trabalho na escola, a gente faz discussões no horário do HTPC dos professores, e eu também converso individual com alguns professores. Tem alguns projetos que as professoras realizam nas salas que são para trabalhar mais essa parte de formação. Estamos realizando juntas o projeto da “autonomia e comunicação”. O projeto é reflexivo... cada um fala da sua realidade...a gente lê e discute os temas, é uma reflexão que ele leva pra sala de aula...o mais difícil é como essa reflexão se torna ação... Eu elaborei o projeto porque fala da relação do professor, como ele se comunica com o aluno a postura...porque ele muitas vezes faz um discurso e na prática o jeito de fazer é outro, esse projeto é um repensar, é a comunicação e a postura do professor... Pra mim, não é fácil fazer porque tem muito coisa que vem da secretaria já pronto e a gente tem que cumprir...então é corrido não sobra tempo porque a gente tem que conciliar o que vem de lá com o nosso projeto. A coordenadora da escola declara em sua argumentação que valoriza a cooperação dentro e fora da escola. Na resposta dada a questão sobre formação em valores nessa escola, relatou que existe um projeto visando a formação dos alunos denominado “autonomia e comunicação”. Nos apontamentos da entrevistada, esse trabalho é reflexivo e tem um espaço para discussão da realidade de cada professor em sala de aula, porém, apresenta algumas dificuldades no momento de aplicar as ações propostas nas reuniões, nas práticas educativas do cotidiano, considerando existir uma dicotomia entre teoria e prática. A coordenadora finaliza as suas colocações com a afirmação de que o trabalho com o projeto “autonomia e comunicação” é 63 prejudicado algumas vezes, pelas propostas esporádicas vindas da Secretaria da Educação, comprometendo o tempo destinado as ações planejadas do projeto elaborado pelos responsáveis pela escola. 2. Qual é a sua opinião sobre a competitividade na escola e na sociedade? Coordenadora: “:ão gosto disso... competitividade. Acho que tem em todo lugar, principalmente no esporte a gente vê muita competitividade. Aqui na escola não. Aqui na escola quando a gente pensou no xadrez, a gente pensou pro desenvolvimento global, pro aluno aprender a jogar, desenvolver o raciocínio, em outros lugares eles ensinam pra ganhar pra ser o melhor. Eu acho que tem que ser mais cooperativo e menos competitivo... professor que não faz isso ele acaba valorizando o aluno melhor, que tem mais capacidade e dá mais atenção... as outras crianças percebem e ai fica uma coisa competitiva o aluno quer melhorar para ganhar do outro. Aqui na escola eu tento trabalhar para não ser assim , eu acho que o professor tem que formar o aluno que vai viver na sociedade e não tem que fazer ele ganhar de todo mundo... Sobre a sociedade competitiva, eu acho que, o que ele vive fora da escola tem muito do que ele aprende aqui com a gente, né!”. A coordenadora inicia a resposta dizendo que é contra a competitividade, em seguida generaliza as ações competitivas como existentes em todos os lugares. Aponta como exemplo o esporte. Percebe-se nesse momento uma expressão negativa atribuída ao termo “competição”. Outro aspecto citado pela entrevistada é o fato dela negar que haja estímulo às situações competitivas dentro da escola. Acrescenta que, no trabalho proposto pelos professores existe apenas a valorização para a cooperação, considerando que a competição possibilita situações de exclusão do ponto de vista da formação humana dos alunos na escola e na vida em sociedade. 64 Finalizando a questão, a coordenadora expressa com convicção que, aquilo que o aluno aprende na escola tem relação com o que ele vive no cotidiano. 3-Quais são as suas maiores inquietações/preocupações neste momento? Coordenadora: “Minha maior preocupação é com os alunos... com os alunos que têm dificuldade de se relacionar tanto com o professor, quanto entre as crianças, eles respondem assim... tem um vocabulário” muito forte”, “baixo” pra idade deles, palavrão...é uma violência verbal mesmo... então, essa é a minha maior dificuldade na coordenação. Tudo vem pra cá, todos esses problemas...É professor com aluno, aluno e professor e aluno com aluno...nesses problemas da semana o que a gente procura trabalhar é a formação humana. Você vê, na “Prova Brasil” a parte de conteúdo foi boa...foi elogiada com conceito excelente, mas a formação ainda é um cuidado, uma inquietação é um problema pra mim. Tem também algumas dificuldades que vem da família é difícil trabalhar com isso. A gente faz um trabalho aqui e na casa é completamente diferente. Quando indagada sobre suas maiores preocupações na coordenação da escola, a coordenadora aponta os problemas relacionados ao comportamento dos alunos e dos professores. Relata de maneira evidente a preocupação com a violência verbal dos alunos, apontando o uso de “palavrões” durante as situações de conflitos entre eles. Destaca que todos esses problemas são trabalhados a partir das propostas de formação humana. A entrevistada se diz preocupada, pois, ao mesmo tempo em que enaltece a conquista do conceito excelente na “Prova Brasil”, trata a formação dos alunos como um problema importante a ser considerado na ação educativa da escola em parceria com a responsabilidade da família. Relata em seus apontamentos que algumas dificuldades encontradas no seu trabalho são provenientes das diferenças e influências do 65 comportamento, atitudes e valores advindos da família dos alunos, em relação aos ideais de formação humana propostos pela escola. 4-Qual é a sua opinião sobre o papel da escola na sociedade? Coordenadora: “Acho que aqui na escola a gente tenta fazer a nossa parte e lá fora a família das crianças tem que fazer a dela. A sociedade deve estar atenta aos valores que passa para a criança, isso também influencia no nosso trabalho. :ão adianta os professores ensinarem o que é certo se lá fora todo mundo faz o que quer...todo mundo faz pra você mesmo e não pensa no outro. Eu acho que muita coisa tem que mudar... a escola leva a culpa de muita coisa, mas tem seu papel e aqui na escola a gente tenta cumprir”. A coordenadora aponta que a escola tem seu papel, porém não deve ser responsabilizada sozinha pela educação dos alunos. Declara que, tanto os pais, quanto a sociedade, também influenciam e devem, portanto, se responsabilizar pela formação dos alunos. A entrevistada se posiciona criticamente e generaliza, declarando que muitas pessoas visam benefícios próprios sem se importar com as necessidades dos outros. Nesse sentido, aponta à necessidade de uma mudança social, e explicita que essa escola especificamente tenta cumprir o seu papel na educação do aluno. Entrevistas semi-estruturadas com as professoras P1, P2 e P3: Após a minha participação na HTPC marquei uma reunião com as professoras, durante a qual foi foram realizadas entrevistas semi-estruturadas tanto com as duas professoras polivalentes (ANEXO 3), quanto uma entrevista semi-estruturada com a professora de Educação Física (ANEXO 4). As entrevistas realizadas em cada encontro tiveram como propósito investigar quais seriam os problemas emergentes a serem considerados nas práticas educativas, 66 sob o olhar de cada integrante do grupo de atores da pesquisa. Os temas selecionados para compor as questões das entrevistas foram: - Papel da educação; -Ação Pedagógica do professor; -Planejamento coletivo dos professores; -Práticas cooperativas e Jogos Cooperativos na educação; -Importância da Educação Física escolar; -Dificuldades e preocupações do docente; - Formação em valores na escola; -Interesse do professor em participar da pesquisa. Destaco que os temas selecionados são coerentes a uma investigação emancipatoria e problematizadora sustentada pelos estudos de Freire, (1987, 1996). A educação problematizadora é fundada pela criatividade, pela reflexão sobre a realidade do sujeito e pela transformação dessa realidade por quem deseja conhecê-la. Nesta concepção o educador propõe os conteúdos do estudo a partir dos temas geradores, emergindo daquilo que eles já sabem, para uma visão científica (FREIRE, 1983 p.120). Algumas questões discutidas também buscavam identificar o conhecimento prático e teórico dos professores a respeito do tema cooperação na escola, e das propostas já existentes realizadas pela professora de Educação Física destinadas à formação em valores, assim como a visão de cada professor sobre o papel do educador, identificando o perfil dos profissionais que fariam parte da pesquisa. 67 Na análise das entrevistas semi-estruturadas realizadas com cada professora foi possível obter um diagnóstico inicial contendo as primeiras informações que puderam esclarecer o perfil dos professores atuantes na escola e também qual era o interesse e as expectativas em relação a sua participação na pesquisa. Para compreensão dos relatos apresento as análises e a síntese das quatro entrevistas semi-estruturadas: Professora de Educação Física (P 1) 1. O que a fez optar pelas práticas cooperativas como proposta educacional? Professora 1: “Eu acho que tudo vem na hora certa, eu não sei às vezes vem aquele estalo e você toma uma atitude... foram algumas coisas que aconteceram naquele grupo de estudos... assim... a presença do Fabio, o material teórico que nós lemos, você via ali, outra possibilidade. Os Jogos Cooperativos foram uma solução pra uma coisa que eu não tinha visão, foi lá no grupo que eu pude ver isso. Eu percebi que o meu papel na escola não era o que eu fazia ali na aula... Eu penso o que eu tô fazendo aqui, né , que posição é a minha nesse contexto de educação , no fim eu sei que sou importante pra eles, vão passar por mim e vão ficar assim? Daí na rua vão ficar assim também. É uma responsabilidade que eu tomo para mim, ficar quatro anos ali com eles... a gente fica um tempo prolongado com eles. Que papel que eu tenho aqui?”. Considerando que a professora de Educação Física trabalha há cinco anos com os Jogos Cooperativos nessa escola, torna-se importante investigar sua escolha metodológica a partir das práticas cooperativas nas aulas. Pela maneira de se expressar, ficou evidente a influência e importância do grupo de estudos na conscientização da realidade descrita pela entrevistada. Para P1 o grupo se justifica pela possibilidade de um trabalho de reflexão coletiva, realizado por todos 68 os professores de Educação Física da Rede Municipal. Verifica-se na fala da P1 que, ao tomar consciência de sua realidade, a professora buscou nessa realidade, o ponto de partida para reflexão crítica e para a mudança real na busca de alternativas discutidas no grupo de estudos com a participação coletiva dos envolvidos com a Educação Física escolar. Segundo Freire (1987; 1991) o papel do professor na escola, inicia-se pela tomada de consciência da situação real, percebendo as causas, as ações e as lutas que contribuem para a formação social do aluno. Sua resposta explicita com clareza que houve um questionamento, uma necessidade individual inicial responsável pelas mudanças que ocorreram em suas aulas. Contudo, percebeu-se que, para ela, a opção no trabalho com os Jogos Cooperativos partiu de uma necessidade pessoal, demonstrando inquietação frente seu papel na educação dos alunos. Apesar de uma aparência cansada, relatada pelas dificuldades da rotina, tal preocupação com seu papel, e sua responsabilidade perante os alunos foi observada e relatada desde o início das minhas observações nas primeiras semanas de aula de Educação Física. Durantes as aulas pude constatar que a P1 apresenta uma postura crítica, cuidadosa e atenta as necessidades dos alunos. 2- Qual é a sua opinião sobre a competitividade na escola e na sociedade? Professora 1: “Eu vejo que competição tá em todo lugar na escola na sociedade... Eu acho que a competitividade nas minhas aulas acaba gerando briga e agressão, tá tudo relacionado a isso ai... é só a gente olhar para o futebol que eles vêem na televisão, e também nas brincadeiras, se for competitiva, eles tremem, torcem que nem nos jogos de futebol que a gente vê, e ai vão partindo pra agressão. Eu não sei direito... às vezes eu dou atividade com competição nas aulas e me arrependo... mas acho que eu precisaria trabalhar um pouco melhor sobre isso. Agora na sociedade... eu acho que o que eles vivem na escola eles vivem lá fora também... por isso eu sempre olho o recreio, pra mim é a sociedade... as regras do futebol são diferentes nessa hora... 69 eles criam lá... se o aluno sai xingando: fulano fez isso, fez aquilo o outro diz que não joga mais, e até as meninas ficam sentadas esperando a vez de jogar... no recreio elas colocam seus problemas do mesmo jeito que fazem nas aulas. Quando tão sozinhos, os alunos criam regras e isso eles aprendem nas aulas... e eu acho bom. Porque numa situação normal da nossa cultura, a tendência é brigar, revidar, xingar e bater. Alguns alunos incorporam e conscientizam o que a gente trabalha na aula... sabem que as coisas não resolvem assim... Eu acho que se na escola tiver menos competição as crianças vão achar outro jeito de brincar e resolver as coisas sem brigar tanto. Ao ser entrevistada a professora demonstra compreender-se como educadora e se diz preocupada com os valores dados a competição e a cooperação na formação dos alunos. Entretanto, em relação aos aspectos que valorizam a competição na escola e na sociedade, a P1 expressou certo conformismo frente a situações em que ela mesma considera prejudicial para a educação e para a sociedade. As colocações da P1 apontam que embora note que a competição traz valores negativos na formação dos alunos, assume que não pode negar a existência das ações dessa natureza, por fazer parte da vida dos alunos. Ao posicionar-se demonstrou insegurança frente ao significado do trabalho com a competição aplicado em suas aulas, porém, admite que propõe algumas situações competitivas, sem conseguir justificar os objetivos e resultados do trabalho. Percebe-se que, de certa forma, a P1 se confunde na explicitação sobre a escolha das estruturas de aula, justificando sua incompreensão para o fato de alguns alunos não se conscientizarem sobre o fator negativo dos atos de violência no momento das disputas e da resolução dos conflitos. Nota-se que, existem em seus argumentos, considerações sobre a responsabilidade do educador, quando questiona seu próprio papel de educadora, reconhecendo a importância de permanecer com os alunos por quatro anos consecutivos influenciando no seu 70 desenvolvimento. Para Freire (2007) não há educação para a libertação sem que os envolvidos que atuam coerentemente, não estejam imbuídos num forte senso de responsabilidade com relação à natureza humana e com a vocação ontológica dos seres humanos para humanização, buscando a luta permanente no fazer e refazer sua História. No trecho sobre o comportamento dos alunos relacionados a brigar, xingar e bater a P1 refere-se à expressão da violência associada aos aspectos da cultura humana, utilizando o termo “tendência da nossa cultura”. Entretanto, ressalta que, se houver menos competição na escola os alunos poderão adquirir maior consciência sobre suas ações, criando assim, outros caminhos para resolver os conflitos. Foi possível perceber em sua resposta, que houve clareza na argumentação sobre o espaço destinado ao recreio, no qual P1 se dispõe a observar o espaço na tentativa de comparar as atitudes e o comportamento dos alunos, avaliando a efetividade dos objetivos propostos em suas aulas. A professora considera que nesse espaço de liberdade o aluno realmente se expõe sem interferência dos adultos da escola e juntos nas mesmas condições, propõem suas próprias regras usufruindo da própria habilidade de criar e de conviver. Destaco que a observação da P1 sobre a posição das meninas na condição de expectadoras dos jogos dos meninos é pertinente, pois, demonstra que apesar dos direitos igualitários propostos pela sociedade e pela escola democrática o sexo masculino ainda domina os espaços esportivos. Minhas observações realizadas na hora do recreio e registradas no caderno de campo puderam confirmar os apontamentos da P1 em relação ao difícil acesso das meninas nos jogos realizados na quadra da escola durante o horário do recreio, pois, apesar dos meninos monopolizarem o espaço, as meninas não demonstravam se importar com a situação. 3- Qual é a estrutura (organização) das suas aulas de Educação Física? 71 Professora 1: “Os conteúdos das aulas na parte física são habilidades motoras e também trabalho a parte de valores. :a aula, primeiro a gente faz a roda, isso é para organizar e falar das atividades que vamos fazer. Sempre dou brincadeiras para trabalhar os conteúdos. Por exemplo: se for lateralidade escolho uma brincadeira para trabalhar isso. Dentro da atividade tem sempre a parte atitudinal. Trabalho com os alunos valores, construção de regras, respeito, cooperação... Quando eu trabalhava com a construção do livro dos “Jogos Cooperativos” eu trabalhava mais a parte cognitiva...eles criavam ou mudavam as brincadeiras e escreviam um livro...hoje em dia eu ainda trabalho com mudança nos jogos, uso bastante os jogos de inclusão e de diversão, sempre mudo a brincadeira pra todos participarem mas, não faço mais o livro... é legal ver que quando eu dou um jogo competitivo e depois a gente transforma em cooperativo eu sempre faço a roda pra conversar sobre as diferenças e o que eles acham de cada tipo de jogo e qual preferem. Quase todos preferem as brincadeiras cooperativas. Na estrutura e organização das aulas, inicialmente a P1 relata que para desenvolver os conteúdos utiliza como recurso os jogos de diversão, de inclusão e as brincadeiras. Relata que os conteúdos trabalhados são as habilidades motoras, os valores humanos, e o aspecto cognitivo no desenvolvimento do aluno. Na fala da P1 ficou nítido que, a construção dos “Livros dos Jogos Cooperativos” construído pelos alunos nas aulas de Educação Física durante o ano letivos de 2005 e de 2006, foi seu trabalho de maior significado e evidência na escola. Percebe-se na fala da P1 que, ao mesmo tempo em que reconhece os valores positivos do trabalho realizado, sente uma perda pessoal pela interrupção do projeto de construção e transformação dos jogos. Pode-se considerar que a argumentação da P1 é direcionada principalmente ao trabalho realizado com a construção do “Livro dos Jogos Cooperativos”, porque possivelmente nesse trabalho a P1 tenha conseguido envolver outros profissionais, nas atividades das aulas de Educação Física, durante o 72 processo de construção dos livros. A professora declara com entusiasmo que nas experiências das aulas com a transformação dos jogos competitivos para cooperativos a maioria dos alunos que experimentam as duas possibilidades de jogar, relatam que preferem as atividades cooperativas. Vale ressaltar que, apesar do relato da P1 sobre a preferência dos alunos às praticas cooperativas, contatou-se que todos os dias no horário do recreio os alunos escolhem o futebol. Em relação ao aspecto de inclusão nas atividades propostas, minhas observações nas aulas confirmam os apontamentos da P1 quando evidencia a importância da participação de todos. Isso foi possível verificar, a partir dos relatos e conflitos descritos pela P1 sobre situações em que alunos não participavam das atividades nas aulas, hora por exclusão do grupo, hora por negação pessoal. Pude verificar o cuidado dado pela P1 às situações conflitantes buscando a mediação para o diálogo e a compreensão dos fatos, na busca da resolução dos conflitos. O momento destinado a roda de conversa no início e no final das aulas ilustra a constante preocupação da P1 com a organização e com a relação de trocas entre os alunos. 4-Como você avalia as atitudes cooperativas dos alunos nas aulas de Educação Física? Professora 1: “Já faz muito tempo que eu dou aula, eu avalio os alunos nas aulas e no final do bimestre faço auto-avaliação com todos eles...sempre presto a atenção no comportamento deles, eu gosto muito de conversar com eles e daí eu percebo o que eles estão fazendo durante as aulas e também a mudança de quando o aluno entra na escola na primeira série e depois o jeito dele na quarta serie. Já que sou eu quem dou todas as aulas eu acabo conhecendo cada um. :as atividades cooperativas da pra conhecer cada aluno, dá pra saber até os valores que cada criança traz de casa. Eu acho que nas aulas de Educação Física eles mostram muito deles, só olhando a gente já percebe quem é cada um. Eu vejo se deu certo pela atitude deles, tanto individual como no coletivo”. 73 No relato da P1 a respeito do tempo de docência a professora inicia sua colocação dizendo que se considera uma profissional experiente pelos anos que já trabalhou nas escolas. Durante as minhas observações das aulas esse fato demonstrou claramente um cansaço pela rotina na escola e pela proximidade em que ela se encontra de obter a aposentadoria. Relatou que faltam apenas três anos e que isso tem pesado na sua expectativa e motivação para os planejamentos e as propostas das aulas. Pelos seus apontamentos, percebe-se que a P1 considerase fundamental no processo de mudança dos alunos que freqüentam suas aulas por quatro anos, desde a primeira série até quarta serie. A P1 se sente responsável em conhecer cada um deles. Acredita que, através das atividades cooperativas o aspecto de formação em valores torna-se transparente no comportamento dos alunos e que a Educação Física é uma ferramenta para isso. Contudo, em alguns momentos, a professora demonstra um extremo cansaço, impedindo-a de comparecer na escola, procurando o auxílio de médicos especialistas para obter dispensa das aulas. A questão sobre formas de avaliação do professor nas aulas de Educação Física foi inserida na entrevista na tentativa de compreender os aspectos referentes a efetividade das ações propostas nas aulas da P1. A intenção da P1 em realizar auto-avaliação com os alunos demonstra a necessidade de conhecer como cada aluno se percebe nas aulas. Entretanto as minhas observações durante o processo de auto-avaliação dos alunos apontam as dificuldades antes já descritas nas intenções da P1, o número excessivo de alunos nas salas e o tempo reduzido das aulas, demonstraram que o momento da auto-avaliação, não permitiu à professora conhecer o aluno e suas inquietações. Foram apenas realizadas questões objetivas sobre o comportamento de cada aluno, requisitando a eles uma nota de auto-conceito que posteriormente foi somada a um conceito final, o qual foi registrado no diário da P1. Destaco que apenas os alunos que tiveram 74 algumas dificuldades em relação ao comportamento durante as aulas tiveram a possibilidade de estabelecer um breve diálogo com a P1 na busca de resolver esses problemas no contexto individual e também coletivo. 5-Como você avalia o trabalho cooperativo visando a formação humana entre os profissionais dessa escola? Professora 1: “Ah, na nossa escola é muito difícil...eles tem uma preocupação com isso, mas não tem maturidade e assim fica no discurso... apesar da Prefeitura ter um discurso questionador, a nossa prática tá vaga e ai, por mais que todo mundo questione as pessoas voltam pro que sempre faziam... nosso grupo da escola devia ser mais forte, eu sinto que tá cada vez mais distante, cada um fazendo a sua parte e pronto...mesmo fazendo reunião de planejamento juntos, a gente da Educação Física esquece que pode conversar com os outros professores e acaba trabalhando sozinha. Pela resposta da professora foi possível identificar as dificuldades que ela encontra em, realizar um trabalho integrado ao das outras professoras. Nota-se que ao mesmo tempo em que ela relata a falta de interesse das professoras, declara que não existe ação pedagógica que aproxime as intenções de uma educação compartilhada entre os diferentes profissionais da escola. P1 chama o discurso das professoras de insustentável, aponta que apesar dos estudos propostos pelos órgãos superiores, a efetividade das ações não é possível. Relata que após estudar, os professores sempre retomam de maneira rotineira suas práticas, sem mudança significativa frente às necessidades das investigações realizadas por intenção dos agentes superiores. O termo usado pela P1 é de que o grupo deveria ser mais “forte” justificando que os profissionais da escola deveriam se unir nas causas coletivas da educação. Porém percebe-se que, ao mesmo tempo em que critica os outros profissionais a P1 se coloca em uma posição de apatia relatando que se 75 esquece da possibilidade de trabalhar junto com os outros professores e realiza todo o seu trabalho sozinha. 6-Qual é a sua maior inquietação (preocupação) neste momento? Professora 1: “Eu fico mais preocupada com os alunos... o que eles pensam... porque eles fazem algumas coisas absurdas na escola...O maior problema são as brigas, os conflitos que acontece o tempo todo....O pior, que tem me incomodado bastante é o problema da discriminação com os gordinhos...sempre isso aparece nas aulas e não sei como resolver... me preocupo porque as vezes sou autoritária demais nessa hora. :ão admito preconceito entre os alunos...outro problema é que eu me sinto muito sozinha pra trabalhar com as atividades cooperativas na escola...se os outros professores participassem acho que tudo daria mais certo pra toda escola....isso já faz cinco anos..também fico insegura em saber se o que eu tô fazendo tá certo, isso vai ajudar os alunos? Muitas são as preocupações da P1, porém a que foi pronunciada com evidência durante a entrevista, mostra-se direcionada aos aspectos de comportamento dos alunos: como se relacionam, respeitam-se uns aos outros, e por que fazem tantos “absurdos” durante as aulas. O termo “absurdo” descrito pela P1 está relacionado a situações inusitadas durante as aulas como: chutar, enforcar, xingar, morder, ou se revoltar sem aparentemente haja motivo para isso. Pude observar que a professora nessa situação fica resignada frente à atitude dos alunos e interfere imediatamente com uma postura dura e autoritária. Esta manifestação é relatada pela P1, considerando sua preocupação com sua própria atitude frente à educação dos alunos. Um dos aspectos relevantes nos problemas relatados pela P1 está relacionado à exclusão das crianças gordas nas atividades desenvolvidas na escola. A professora descreve situações em que ela sentiu-se incomodada com o sentimento gerado na criança excluída em 76 determinada atividade ou brincadeira nas aulas. Relatou que a sua preocupação e desconforto com essa situação são oriundos de sentimentos pessoais relacionados às lembranças da sua infância. Vale ressaltar que, a P1 verbalizou em um dos seminários, que o incômodo que sente, especialmente nas situações de exclusão expostas as crianças mais gordas, decorre por ter se sentido excluída na infância por esse mesmo motivo e também por ter engordado muito nos últimos anos. Outro problema relatado durante a entrevista se refere ao trabalho isolado com os Jogos Cooperativos que realiza atualmente na escola. P1 considera que o trabalho não compartilhado com os outros profissionais, traz insegurança nas suas ações e no que estas ações representam para os alunos e para a instituição. Professoras polivalentes: P2 e P3 1. O que você conhece sobre os jogos cooperativos realizados nesta escola? Professora 2: “Engraçado... eu já conhecia os “Jogos Cooperativos” desde o tempo que eu trabalhei com você na outra escola, mas aqui no Contesini eu não sei muita coisa. Gosto do trabalho da P1... adorava os livros que ela fazia com as crianças, mas fora isso, não participo muito do que acontece nas aula. Eu acho importante a Educação Física e acho que nós poderíamos trabalhar mais juntas, tem muita coisa que pode ser planejado, né.”. Professora 3: “Eu tô começando aqui na escola esse ano, então não sei muito bem o que eles trabalham sobre “Jogos Cooperativos”. A P1 já me falou um pouco sobre as aulas de Educação Física...as crianças adoram as aulas... eu lembro de algumas coisas que a gente fez na faculdade no ano passado...mais é pouco pra eu dizer que sei... 77 Apesar da P1 trabalhar há cinco anos nessa instituição (desde 2003), inicia sua resposta afirmando que conhece os Jogos Cooperativos devido a experiência que teve em outra escola. Relata a importância do trabalho com Jogos Cooperativos desenvolvido pela P1 e afirma lembrar dos livros que a P1 elaborava, mas admite que atualmente não participa do processo e dos resultados das aulas de Educação Física. Sugestiona a possibilidade de um trabalho coletivo entre ela e a P1 demonstrando reconhecer à importância de uma ação compartilhada entre o planejamento das aulas de Educação Física e os conteúdos programáticos das suas aulas. A P3 em sua primeira resposta enfatiza que está iniciando o trabalho nessa escola e considera conhecer pouco sobre os Jogos Cooperativos, ressaltando como única experiência, as lembranças das aulas de Educação Física que participou durante o Curso de Pedagogia no ano de 2007. Vale considerar a ênfase dada Pela P3 à questão da satisfação e apreciação dos alunos sobre as aulas de Educação Física. 2. Qual a sua opinião sobre os trabalhos em grupo realizados nas aulas que você ministra? Professora 2: “:ossa...acho que esse é um problema pra todos os professores, porque as aqui as sala são cheias e cada vez que vamos trabalhar em grupo fica muito barulho e muita conversa... a gente não sabe se eles estão fazendo a lição. Todos os professores reclamam...tem sempre uns alunos que só enrolam e não participam, mas assim mesmo eu gosto de trabalhar em grupos, acho que a troca de informação e o movimento deles faz a parte dos conteúdos atitudinais que devem ser trabalhados na escola é uma forma deles praticarem os valores da boa convivência...è claro que eu sempre tenho que ajudar os grupos, porque criança briga muito.. tudo vira discussão. Estou estudando sobre resolução de conflitos no curso que faço em Campinas...ainda sei muito pouco, mas estudo bastante pra mim e pra ajudar as outras professoras...”. 78 Professora 3: “Eu faço pouca atividade em grupo aqui na sala, acho que pra essa idade é bom trabalhar com grupos, mas, as vezes eles fazem muito barulho e o espaço é pequeno. Tenho dificuldade pra organizar a sala nos grupos...Como eles são pequenos eu tenho que ajudar , eles não sabem dividir, brigam bastante por bobeira, e ficam me chamando toda hora...quando não dá certo eu paro e mando cada um voltar no seu lugar...”. A P2 argumenta que, apesar de valorizar o trabalho em grupo nas suas aulas visando valores da boa convivência, considera preocupante o fato de alguns alunos se acomodarem e não participarem das tarefas estabelecidas, além do barulho que a aproximação dos alunos gera na sala. Relata que está estudando sobre o assunto para aumentar o conhecimento tanto para ela, quanto para compartilhar com o grupo de professores da escola. De acordo com a resposta dada pela P2 o problema dos trabalhos em grupos realizados em sala de aula, é uma preocupação de todos os professores. Para a P3 o problema desencadeado pela aproximação dos alunos está relacionado ao barulho e a falta de espaço. Relata também que tem dificuldade de se organizar, justificando que os alunos são pequenos e que necessitam de muita ajuda. Afirma que, ao perceber que a estrutura de grupo não corresponde a suas expectativas pede imediatamente para que os alunos retornem suas carteiras a posição em fileiras (modelo tradicional). 3. Como são desenvolvidos os trabalhos sobre formação em valores nas suas aulas? Professora 2: “ Olha, eu dou muita atenção a parte dos valores nas minhas aulas, acho que isso é muito importante pra formação dos alunos. Como dou aula pra primeira série existe muito compromisso com a alfabetização, mas pra mim, a formação é que vai ajudar o aluno na aprendizagem e no conhecimento que ele tem na escola e na vida dele. Se o ambiente da aula não estiver bom, não houver respeito, cooperação, atenção, todos alunos são prejudicados tudo fica comprometido. Eu tento planejar atividades pra os alunos viverem esse ambiente positivo, 79 terem experiências de solidariedade, cooperação, amizade, confiança e outros valores importantes pra relações pessoais. :ão gosto de preparar atividade especifica pra trabalhar os valores, eu tento fazer isso o tempo todo durante as aulas. As vezes, as pessoas entendem isso como projetos, e não um trabalho pro dia-dia, acho que deve ser da hora que entra até a hora que sai... Valor é o dia todo e o tempo todo, não só naquele “projeto da amizade” e quando acaba o projeto eles se matam...e ai tudo perde o sentido, né!”. Professora 3: “Eu adoro ler...então sempre quero trabalhar os valores, ou vejo algum problema com os alunos na sala eu uso os livros que falam sobre o assunto...amizade, respeito, responsabilidade, daí eu trabalho com eles vou discutindo... faço com eles atividades a partir das histórias dos livros que eu tenho na sala ou trago de casa...A literatura me ajuda muito, e faz eles pensarem um pouco. Eu tenho essa preocupação em formar cidadãos leitores, porque eu adoro a literatura e é desde pequeno que tem que incentivar a literatura”. As respostas da P2 demonstram que embora valorize o trabalho com a formação dos alunos, faz uma crítica ao trabalho de outros professores que se limitam na execução de projetos específicos as práticas e valores de formação humana. Os argumentos da P2 descrevem que ações pautadas em valores positivos como cooperação, confiança, respeito, etc., devem estar implícitas em todo o processo educativo realizado pelo professor e pelo aluno, não considerando a possibilidade de separar momentos de formação humana dos momentos de capacitação nas propostas escolares. A professora demonstra sentir descontentamento ao perceber que valores e atitudes valorizados apenas no contexto dos projetos executados pelos professores não conscientizam os alunos nas ações relacionadas ao cotidiano. Na argumentação da P3, pode-se perceber relevância da professora pelo gosto da leitura. Tal preferência pessoal demonstra que a escolha do trabalho visando à formação em 80 valores deve ser realizado por meio da literatura. No entanto, a ênfase dada à importância da leitura apontada pela professora, coloca em segundo plano a formação em valores elucidada pela questão. 4. Qual a importância (contribuição) das aulas de Educação Física para o desenvolvimento dos alunos? Professora 2: “Eu sempre achei importante a Educação Física, sempre achei importante o movimento, a parte de jogos, pra mim sempre foi muito, muito importante. Quando eu estudei Antroposofia isso também era importante , mas na minha formação de magistério e no curso de pedagogia tradicional isso não era importante, o movimento não representava nada. A Educação Física era mais uma aula e pronto. Meio que desvinculada, meio resto...Mas pra mim não, eu sempre juntei, sempre busquei jogos pra fazer com a classe. Trabalho na minha aula a roda rítmica que é movimento...eles são importantes pra pensar e escrever... eu acho e sempre achei importante. Professora 3: “Acho a Educação Física importante pra eles terem um momento pra eles terem a liberdade, pra sair um pouco da sala de aula, dessa coisinha fechada, esse ambiente fechado que eu acho assim um pouco ruim mesmo, né! Eu acho muito fechado, muito sentadinho, muito quietinho... Então na Educação Física é a hora que eles se libertam, tem liberdade pra correr, pra brincar, eu vejo esse lado...Acho importante também o esporte, a prática do esporte...Aqui na escola não sei bem como é a Educação Física, mas vejo que os alunos adoram as aulas e a professora também, eles ficam agitados e gritam de felicidade quando ela chega na sala no hora da aula”. A P2 inicia dizendo que acha importante as aulas de Educação Física e que utiliza dos jogos e brincadeiras rítmicas em suas aulas reconhecendo o valor do movimento no pensar e 81 escrever dos alunos. Declara que sua formação profissional inicial não influenciou na sua posição a respeito da importância do movimento no desenvolvimento dos alunos, considerando que tanto no Curso do Magistério, quanto no Curso de Pedagogia a disciplina de Educação Física pautada no movimento não era considerada importante. Entretanto, a P2 relata que atualmente estuda o desenvolvimento da criança a partir da visão Antroposófica a qual reconhece a importância das experiências motoras no desenvolvimento da criança. P3 referiu-se as aulas de Educação Física como uma novidade. Por ter iniciado seu trabalho nessa escola, há apenas um mês, a P3 diz conhecer pouco sobre a proposta e o desenvolvimento das aulas de Educação Física. Relata de forma geral a importância das aulas estarem vinculadas ao aproveitamento das crianças pelos espaços externos da escola e também pela possibilidade de viver a liberdade, já que descreve a sala de aula como um ambiente restrito e apertado. Para ela, as aulas de Educação Física proporcionam aos alunos a possibilidade de correr, de brincar e de fazer esportes, o que considera muito importante. Na fala da P3, percebe-se que o prazer explicitado pelos alunos na hora das aulas, tem um valor significativo. Nesse sentido, reconhece esse comportamento dos alunos, como um fato importante sobre as aulas de Educação Física ministrada pela P1dessa escola. 5. Qual é a sua maior inquietação (preocupação) neste momento? Professora 2: “A primeira é a alfabetização dos meus alunos...o que eu posso fazer para contribuir com esse processo, como tem que ser a minha prática... Eu também me preocupo com o meu grupo de professora, não só dessa escola, mas o grupo da Rede Municipal, porque eu presto muita atenção quando nos encontramos eu percebo que muitas são descompromissadas. Muitas professoras tem um discurso negativo perante a sala de aula, são muito autoritárias, são muito tradicionais, e com tanto estudo que nós temos hoje, tantas palestras e cursos as pessoas 82 participam e não mudam nada não fazem nada com isso. Isso me preocupa... Eu não, eu estudo, tenho meu compromisso, minha dedicação, faço a minha prática e quero muito aprender...”. Professora 3: “Eu me preocupo com muitas coisas, mas, na sala de aula o que mais me deixa preocupada é a relação entre os alunos. Eles são educados comigo , mas entre eles brigam demais, não emprestam nada e sempre arrumam confusão na sala... eu gostaria que eles conversassem mais, dividissem mais as coisas e não brigassem tanto, isso atrapalha o nosso trabalho...queria que eles fossem mais maduros, não aquela coisa infantil, brigar, falar tudo que o outro fez, toda hora...eles não tem uma amizade, uma cooperação, não existe entre eles, que eu gostaria que existisse. Me preocupo também, porque acho que, no introdutório eles tinham que estar brincando mais, vivendo mais as atividades da escola, aqui continua sendo a educação infantil. É a primeira vez que eu trabalho com essa idade, mas percebo que eles precisam conviver melhor, fazer mais exercícios de psicomotricidade e coordenação motora, é isso que eles estão precisando agora. Alfabetizar vem com o tempo, eles não tão maduros ainda para isso. Pode-se perceber nos apontamentos proferidos pela P2 que, por se tratar de uma professora que atua na fase determinada para a alfabetização dos alunos. A preocupação maior da professora está direcionada ao processo de alfabetização que realiza com os alunos. Nota-se também que P2 tem uma preocupação a respeito do comportamento e das intenções advindas do grupo de professores que atuam na Rede Municipal de Ensino. P2 critica que, apesar do investimento por parte da Secretaria de Educação, na formação continuada dos profissionais, muitos não usufruem das possibilidades oferecidas, negando a responsabilidade e o comprometimento com a formação dos alunos. A professora entrevistada declara que, os professores da Rede Municipal tem dificuldades em refletir e transformar suas práticas visando à 83 melhoria na educação do aluno, e assim, acabam por trabalhar com o modelo de aula autoritário e tradicional, prejudicando a formação do aluno. Ao relatar sobre suas preocupações, a P3 aponta que as relações interpessoais são as que mais trazem inquietações em sua prática educativa. Declara na sua resposta que, o trabalho em sala de aula é prejudicado pelo comportamento inadequado dos alunos, gerado pela falta de educação, de amizade, e de cooperação entre os colegas. A professora reforça que as brigas atrapalham a boa convivência e todo trabalho proposto na aula é prejudicado. Acredita que, os alunos nessa fase do introdutório, devem realizar trabalhos voltados a psicomotricidade, a coordenação motora, e as relações humanas, considerando que a alfabetização vem com o tempo. 6. Você tem interesse em conhecer e investigar as ações propostas pelas práticas cooperativas na educação? Professora 2: “ Eu já tive algumas experiências na outra escola que eu trabalhava, mas a gente não estudava, só fazíamos algumas atividades. Tive também um módulo rápido sobre “Jogos Cooperativos” no curso de pós que eu fiz. Como eu adoro estudar, tenho muito interesse em investigar as práticas cooperativas, muito interesse mesmo. Professora 3: “Claro que eu tenho...já ouvi as professora falarem dessa proposta, elas falam que tem relação com uma mudança no ambiente da sala , né! Tenho curiosidade pra saber mais sobre isso, eu gosto do trabalho com valores humanos e acho que vai me ajudar bastante á entender melhor a escola e saber mais coisa sobre as minhas aulas...Você sabe, né! ... eu tô começando agora aqui na escola. Ao ser indagada sobre seu interesse em conhecer as práticas cooperativas na educação a P2 relatou que em suas experiências anteriores com o tema cooperação, esteve 84 envolvida apenas no aspecto de execução, sem contextualização das práticas vivenciadas, o que demonstrou insatisfação por parte da professora. Além disso, a P2 reforça como anteriormente relatado por ela que, adora estudar e está aberta a novos conhecimentos. No pronunciamento da P3 percebe-se que o interesse na investigação vem das informações obtidas a partir dos relatos das outras professoras da escola. A entrevistada verbaliza que tem curiosidade sobre o tema, acreditando que se envolvendo com novas possibilidades possa aumentar o conhecimento sobre as ações educativa aplicadas nessa escola. Vale destacar que, a P3 comenta novamente nessa questão, o fato de estar iniciando seu trabalho nessa escola. SÍTESE 1 Elaborada a partir das entrevistas semi-estruturadas realizadas no 1º Seminário com as professoras P1 P2 P3 e com a coordenadora e trechos dos relados das professoras, procedentes das observações na primeira semana de investigação. A partir da análise das entrevistas realizadas, procurou-se conhecer cada professora integrante do estudo. O conhecer inicial está relacionado com a investigação sobre a práxis de cada participante, pois, é na práxis humana que se cria, a partir da formação ideológica, a representação e a maneira de ser do indivíduo (GONÇALVES, 1994). Verificou- se nas observações e nas falas das três professoras e da coordenadora, a importância dada aos aspectos referentes à formação humana confrontados com a valorização das experiências competitivas e cooperativas, estimuladas pelas ações educativas, propostas na escola. Destaca-se nos estudos de Maturana (1998) que, como seres humanos, devemos pensar em termos de grupos, sociedades e nações. No âmbito do mundo social o comportamento individualista competitivo se distancia do comportamento coletivo cooperativo. O autor considera que a cultura pode sobrepor os fatores biológicos na maneira de viver dos seres humanos, justificando que a competição nunca pode ser 85 sadia, pois parte da negação do outro e, portanto, seu caráter não deve ser considerado nem natural nem biológico, mas algo construído culturalmente. Em relação às estruturas e à organização das aulas de Educação Física, os conteúdos procedimentais, atitudinais e conceituais são valorizados pela professora, por meio de estratégias que envolvem os aspectos: cognitivo, motor, emocional, social e cultural como parte dos conteúdos programáticos elaborados para as aulas. Como já mostrou Freire (2003) o aluno na escola deve ser considerado “de corpo inteiro”, pois, se relaciona com os outros, pensa, age, se movimenta, e assim, constrói sua história. Quando as professoras fazem referência à formação em valores, verifica-se nas argumentações a existência de uma preocupação com o papel da escola, valores e ideais, a partir do ambiente que é proposto para os alunos durante as aulas. Nesse sentido, o relato das professoras, assim como o da coordenadora durante a entrevista, refletem sobre os resultados de que as experiências realizadas nas aulas possam influenciar nas atitudes, no comportamento e na vida dos alunos, sem deixar de considerar, a responsabilidade dos pais sobre os valores advindos da cultura familiar na formação dos alunos. Para Frantz (2001), a organização de estruturas de aula deve ser coerente ao valor implícito ao modelo escolhido e cabe ao educador fazer suas escolhas pertinentes a sua visão homem e de sociedade que deseja conviver. As professoras enaltecem com preocupação a dificuldade que os alunos demonstram em resolver os conflitos durante as atividades, avaliando parte do processo educativo, a partir de experiências positivas na convivência em grupo. Relatam que, valorizam o respeito à cooperação, a capacidade de comunicação, como valores que podem assim, contribuir para a formação humana. Segundo Tognetta (2003) a possibilidade de resolver conflitos a partir de estratégias cooperativas são saudáveis e positivas para as crianças, partindo do pressuposto de que as 86 dinâmicas estruturadas na convivência em grupos, orientadas pelo professor provocam posições divergentes entre os alunos, choque de vontades, necessidades de resolver os problemas, de criar regras para o grupo, emergindo assim, novas possibilidades e perspectivas para a resolução dos problemas. Considera que num ambiente estruturado pelas práticas cooperativas o educador deve evitar resolver os problemas para o aluno, pois para o autor, o processo de resolução de conflitos pela interação dos atores da pesquisa do grupo que desafiam coordenar as diferentes soluções, e os divergentes pontos de vista, precede o resultado final. Tal processo demonstra ser mais proveitoso do que a solução encontrada ou o simples resultado em si (TOGNETTA, 2003). Verificou-se, nas respostas proferidas pela P1 sobre estratégias valorizando a cooperação e estratégias valorizando a competição, não houve clareza sobre os objetivos e nem sobre a avaliação dos resultados das aulas pautadas na competição, apontando em sua argumentação que em certos momentos se arrepende de proporcionar atividades com enfoque competitivo em suas aulas. A própria professora de Educação Física admite que sente-se insatisfeita em não reconhecer as suas intenções e os resultados de determinadas propostas de aulas que propõe aos alunos da escola. Entretanto, a coordenadora em suas respostas, argumenta desejar mudanças na sociedade atual e ressalta que o excesso de competitividade traz ao professor e ao aluno relações não almejadas pela sociedade idealizada, democrática e igualitária segundo o PPP da Instituição. Sendo assim, a coordenadora, declara que na busca da transformação social, os professores dessa escola não devem valorizar a educação através de estratégias e estímulos aos comportamentos competitivos. Em relação à posição da P1, vale destacar que, segundo Freire; Gadotti; Guimarães (2000), admitir com humildade seus próprios limites, possibilita a partir da própria consciência humana, mudanças nas relações da sociedade. Para os autores, o processo de conscientização do próprio limite se dá no nível individual, selado 87 socialmente numa marcha coletiva. Nos argumentos da professora existe uma preocupação declarada sobre o problema com as brigas e agressões na escola ser gerado pelas estratégias de aulas competitivas e nesse contexto Freire et al (2000, p.89,93) declara que a escola é um “espaço da sociedade onde é possível se realizar um encontro humano como uma instituição necessária para a sociedade” portanto “ não é possível cruzar os braços diante da violência” na escola, sociedade e na vida. Nessa perspectiva, os autores declaram a importância de uma solução ativa, construída coletivamente pelos pais, diretores, professores e alunos. Entretanto, apontam o cuidado com as escolas que se armam, pois, estão construindo verdadeiras prisões não considerando que “os homens são a consciência de si e assim a consciência do mundo, vivem juntos a relação dialética entre o condicionamento e a liberdade.” (FREIRE, 1987, p.90). Outras considerações importantes devem ser destacadas nos relatos das professoras. Entre elas, os pedidos dos alunos sobre a formação de grupos para a realização das atividades do cotidiano. Em alguns casos, o pedido foi realizado antes do início da aula, no momento da entrada no portão da escola. Esse fato pode ser considerado como intenção e significado nas relações de convivência e de aprendizagem coletiva, por parte do aluno ao manifestar seu desejo mesmo antes das professoras iniciarem as aulas. Destaca-se também relevante, o apontamento da P1 sobre o momento reflexivo durante as aulas, realizado nas rodas da conversa após as vivências a partir dos jogos competitivos e dos jogos cooperativos. P1 declara que, a escolha pela possibilidade de jogar cooperativamente era a mais considerada e desejada pelos alunos. Em relação ao papel da escola em disponibilizar experiências significativas e sustentadas pelos ideais da instituição na busca de uma sociedade democrática, Terry Orlick (1978) destaca que os jogos vivenciados pelos alunos são reflexos da sociedade em que vivem, mas, também servem para propiciar a partir deles, 88 situações a serem refletidas. Sendo assim, as experiências na escola são importantes porque o aluno está em processo de desenvolvimento e nesse período, muitos valores importantes e modos de comportamento são aprendidos por meio de brincadeiras, dos jogos e dos esportes. Portanto, em possibilitar estruturas de tipos diferentes de jogos competitivos ou cooperativos, “devemos pensar no tipo de sociedade que gostaríamos de ter”. E assim, estimular as crianças a viverem e conviverem em situações desejáveis pela sociedade. Segundo o autor, “uma das maiores lições a serem aprendidas na nossa experiência cooperativa é podermos criar ou modificar os jogos para realizar objetivos humanos específicos.” (ORLICK, 1978 P. 183). A observação da realidade concreta nas aulas, na qual o discurso das professoras está sustentado, revela que o excesso de alunos nas turmas e a falta de tempo, comprometem as transformações e intervenções propostas pela prática reflexiva da educação para a cidadania, como declaram as professoras e também estão explícitos nos ideais da instituição. No início da minha investigação, em vários momentos de observação durante as aulas foi possível constatar que não era dado ao aluno muito tempo para falar, expor ou discutir suas idéias nos momentos de conversa e de reflexão propostos pelas professoras. Ainda relacionando a qualidade do ensino ao aspecto da falta de tempo para desenvolver as propostas da escola, verifica-se que a coordenadora fez uma crítica pertinente ao sistema de intervenção da Secretaria da Educação da Rede Municipal, ao declarar que muitas propostas de trabalho emergem das ordens dos seus superiores, sendo assim, por vezes estão desvinculadas do planejamento coletivo construído pelos professores e coordenador nas reuniões de HTPC. Segundo a coordenadora, essas propostas são aplicadas de forma obrigatória, porém aleatóriamente sem contextualização com as necessidades refletidas e advindas da realidade 89 daquela escola, deixando o tempo escasso demais, para efetividade dos planos elaborados pelos envolvidos com essa instituição. Em relação às aulas planejadas e ministradas pela P1 e o planejamento coletivo das professoras, percebe-se nas respostas das P2 P3 e da coordenadora, um distanciamento da disciplina de Educação Física realizada na escola. Este distanciamento foi justificado ora pelas irrelevantes experiências nos cursos de formação universitária, ora pela falta de intencionalidade da instituição investigada, entretanto, foi unânime a posição das professoras em relação à intenção de aproximação e do compartilhar na elaboração do planejamentos dos conteúdos a serem desenvolvidos nas aulas do primeiro bimestre. As professoras demonstraram disponibilidade e intencionalidade em conhecer as estruturas teóricas dos Jogos Cooperativos e em compartilharem as práticas cooperativas nas aulas, preparando desde primeiros encontros, planos de ação e temas de discussão para serem realizados de maneira conjunta. Verificou-se, que a participação das professoras nos seminários partiu inicialmente da tomada de consciência crítica da realidade e a partir dai, buscaram nessa realidade o ponto de partida para a reflexão e para as ações na busca de alternativas de mudança nas estratégias de ensino, objetivando melhores resultados relacionados aos aspectos de formação humana na escola. Para Freire (1996, p.79) “mudar é difícil, mas é possível” e os educadores devem sempre fazer a sua leitura do mundo e programar sua ação política pedagógica para todos os seus projetos. Devem levar a sério sua formação sem esquecer que se movem como educadores porque, primeiro, se movem como pessoas. Verificou-se nos encontros que o trabalho reflexivo está condicionado à realidade das professoras e que não bastou para elas, apenas observar para refletir criticamente, foi necessário ir à prática real e modificá-la (FREIRE, 1987). 90 Pode-se concluir que, as críticas apontadas pelas professoras sobre a postura resistente e estagnada de determinadas professoras da instituição, frente à sua responsabilidade com a educação dos alunos e às mudanças necessárias nas ações pedagógicas, alegaram que apenas a capacitação do corpo docente não é suficiente para mudar, se não houver conscientização, autonomia e o compromisso de cada professor. Freire (1996) considera que ensinar exige comprometimento, portanto, está condicionado busca da aproximação daquilo que o educador fala com aquilo que ele faz, entre o que ele parece ser e o que ele realmente é. Declara que, o educador deve saber que aquilo que ele é, não passa despercebido pelos alunos. Em relação à preocupação da P1 sobre sua posição autoritária em alguns momentos nas aulas, Freire (1996, p.97) comenta que, “se a minha posição é democrática, progressista, não posso ter uma prática reacionária, autoritária, elitista.”. O autor, parte da compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no mundo, portanto, o educador que interfere e compartilha esse mundo de forma democrática, deve revelar aos alunos sua capacidade de analisar, dialogar, avaliar, decidir, optar, e de fazer justiça. Para Freire (1996, p.103): “Sou professor a favor da esperança que anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e me imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre risco de se amofinar de já não ser o testemunho que deve ser o de lutados pertinaz, que cansa, mas não desiste.” Verificou-se na análise dos discursoa das professoras polivalentes e das minhas observações no campo da pesquisa que, as dificuldades para trabalhar em grupo na escola é considerada como um problema coletivo, envolvendo todos os professores. Percebeu-se um desencontro em relação aos valores positivos dados á resolução de conflitos, à construção coletiva do saber, à interação entre os alunos e à argumentação dos professores relativa ao 91 incômodo do barulho e da bagunça, causados pela aproximação desses mesmos alunos na disposição das estratégias cooperativas propostas nos quartetos. Pôde-se constatar nos primeiros relatos das professoras polivalentes o desejo de um espaço tranquilo e organizado para o ensino dos conteúdos. Os apontamentos das professoras sobre a organização do espaço, o excesso no número de aluno, o barulho causado pelas conversas, e a dificuldade de avaliar o envolvimento de cada aluno nas tarefas, demonstram inicialmente que, o ideal para a produção e o rendimento dos alunos na relação ensino-aprendizagem na sala, fosse um espaço educativo harmonioso e silencioso. Esta afirmação contraria diferentes autores que justificam o diálogo, o conflito, a ação, e a troca de conhecimento manifestado pelos sujeitos, como fatores preponderantes na relação de ensino-aprendizagem, assim como na construção do conhecimento. Contrapondo-se a relação de ensino-aprendizagem pautada na valorização do silêncio como estrutura de aula harmônica e passiva, Gadotti em Freire et al (2000) descreve cinco eixos para educação. São eles: escrever, ler, contar, ouvir e falar. O autor preocupa-se, pois, acredita que a fala foi retirada do currículo da escola, porque manifestações como o falar em uma sociedade submissa e oprimida, é um ato de subversão. Para Freire et al (2000), a tarefa de decidir, optar, discutir, falar, são experiências democráticas, portanto, se contrapõem aos ideais da educação tradicional imposta pelo poder opressor. Considerações a partir dos estudos de Perrenoud (2002) apontam que, a aproximação dos alunos em grupos desperta tanto no professor, quanto nos alunos, possibilidades para uma prática reflexiva que favorece o desenvolvimento de competências que resultam numa melhor elaboração mental para resolução dos problemas e para a aprendizagem dos conteúdos. Dessa forma o educador deve ser um mediador de atitudes interdependentes e cooperativas, podendo 92 auxiliar o aluno a alcançar seu potencial, construir sua autonomia, desenvolver sua autoregulação por meio de ações e atitudes conscientes e efetivas. Para o autor, há uma consciência crítica que deve ser desenvolvida por todo educador, pois, a cada dia percebemos que há necessidade de mudanças na educação e na sociedade. E somente, a partir do momento que reconhecermos que somos fruto de uma educação que nos ensinou a agir de forma individualizada, de trabalhar sozinhos nas tarefas, e de apenas reproduzir o conhecimento que aprendemos na escola, poderemos partir para uma nova maneira de se posicionar no mundo, porém, há uma qualidade no humano que precisamos aprender a ser. Portanto, existe um desafio para a ação educacional do profissional que é a transformação do seu conhecimento em prática, é também, oferecer ao aluno a qualidade e a condição de desenvolvimento, compartilhando ações críticas e reflexivas na escola (PERRENOUD, 2002). Verificou-se nesse diagnóstico inicial das entrevistas e das observações das aulas que, outra preocupação considerada pertinente foi em relação ao trabalho com projetos voltado aos aspectos de formação humana. Considera-se que os apontamentos das professoras são coerentes e pertinentes frente às dificuldades nas ações se, o enfoque dado ao projeto estiver relacionado ao produto final ou apenas na apresentação formal das atividades propostas na elaboração e no planejamento do projeto. Vale destacar, uma preocupação significativa no pronunciamento da P2 a respeito da valorização dada aos temas escolhidos nos projetos vinculados aos valores reconhecidos como prioridades no trabalho do dia-a-dia ou da rotina escolar. Segundo Maturana (2000), não é valido apenas o professor ensinar os valores humanos, é preciso que os alunos vivam esses valores. A preocupação com a proposta de projetos focados na formação humana, também foi declarada pela coordenadora, ao assumir que coordena nessa escola desde o ano de 2007 o 93 Projeto Autonomia e Comunicação. Entretanto, verificou-se que nenhuma das professoras fez referência a esse projeto durante os apontamentos na fase diagnóstica da pesquisa. A partir dessa constatação, tornou-se necessário despertar o grupo de professoras para a compreensão dos motivos que desencadearam o distanciamento entre a intenção da coordenadora com o desenvolvimento desse projeto na instituição e o significado e a efetividade desse trabalho no entendimento dos professores envolvidos. Aparentemente distante do comprometimento com o projeto da coordenadora, porém próximo aos ideais da instituição, pode-se dizer que, viver os valores, foram as possibilidades propostas no plano de ação construídos e descritos nos seminários a partir dos referenciais de Freire (1887, 1991, 1996) assim como, da pedagogia elucidada por Freinet apresentada nos estudos de ELIAS (1997). Verificou-se que, as vivências nas estruturas de aulas a partir do diálogo e das experiências democráticas se dão, de certa forma, pela participação cooperativa entre os sujeitos, despertando-os para a problematização na busca da compreensão da realidade. Para Freinet, citado por Elias (1997), educar é construir junto, é desenvolver uma cultura do saber ler, escrever, refletir, escolher e julgar, buscando ao máximo o senso cooperativo para que o aluno, ao lado do outro, cresça através do diálogo, do confronto e da amizade. O significado das experiências vividas explicitadas pelos autores citados no trabalho, concluem que os espaços educativos devem ser locais de experiência vividas a partir do diálogo, da reflexão e das ações pautadas de significados, onde, tanto o professor, quanto os alunos compartilham conhecimento e intencionalidade de forma a construir e transformar valores em atitudes desejadas a partir da autoconsciência. Para tanto, as observações iniciais na fase diagnóstica dessa pesquisa, serviram de suporte para a compreensão e para a ação nas possíveis 94 mudanças em busca de resultados efetivos para a expressão dos valores humanos na escola e na vida. Na trajetória inicial da investigação, constataram-se algumas dificuldades advindas das experiências e dos valores de cada participante, relacionados à história pessoal e profissional. A P1 demonstrou um cansaço físico e emocional apontado por ela como um desgaste em resposta aos muitos anos trabalhando com a educação dos alunos. Constatou-se que a professora vivia diariamente uma rotina estressante trabalhando em duas escolas. E que, o fato de poder compartilhar novas experiências e trabalhar com planejamento coletivo, permitiu a ela naquele momento, um envolvimento mais efetivo e intencional, gerado pela expectativa de novas experiências. As dificuldades advindas da P2 apontam para um descontentamento frente à falta de iniciativa e de comprometimento do grupo de professoras da escola. A professora considera com culpabilidade a falta de motivação pessoal das companheiras de trabalho para estudar, criar, investigar, experimentar e avaliar novas possibilidades de ensino. Pode-se considerar que a maior dificuldade ocorreu devido ao fato da P3 estar trabalhando no âmbito de contrato provisório na Rede de Ensino. Foi possível perceber que este fator provisório trouxe dificuldade para professora fazer vínculos com a instituição e consequentemente com suas propostas educativas, já que seria demitida em menos de quatro meses. Em decorrência do fato da professora ter pouco tempo para realizar seu trabalho nessa escola, em algumas situações, na fase inicial da investigação, notou-se que a professora se interessava mais pela criação e aplicação das atividades, do que pela reflexão e contextualização teórica das práticas cooperativas disponibilizada nos encontros. Em relação à coordenadora da escola, verifica-se que a situação limitadora deu-se pela sua participação restrita, efetivada em apenas alguns momentos durante a pesquisa. A 95 dificuldade da coordenadora em participar de maneira mais ativa, foi justificada pela falta de tempo disponível devido ao excesso de trabalho e de cumprir responsabilidades de outra natureza, como dito anteriormente na argumentação da coordenadora durante a entrevista. No âmbito geral do diálogo e da entrevista realizadas no nosso encontro foi identificado, na argumentação da coordenadora, que ações e intenções geradas pela realização da proposta dos Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física aparecem isoladas do contexto das ações pedagógicas nas práticas das professoras polivalentes. Pôde-se verificar que a coordenadora da escola realiza com os professores um projeto elaborado no início do ano denominado: Autonomia e Comunicação. O projeto descrito pela coordenadora não apresenta uma ação definida almejando o desenvolvimento da autonomia e da comunicação, pois tem como finalidade melhorar as práticas em sala de aula, apenas fomentando situações de reflexão a partir das práticas vivenciadas por cada professor da escola, relatadas nos encontros semanais do HTPC. Em relação ao termo Comunicação, enfatizado no projeto elaborado pela coordenadora, refere-se ao aspecto gerador de intencionalidade do professor, pois a maneira como cada professor se comunica com os alunos gera a intenção que se tem na ação. A Comunicação entre professores e alunos é apontada como uma possibilidade de um trabalho visando à formação humana. Os encontros, realizados nessa terceira etapa da fase exploratória, possibilitaram ao grupo envolvido na pesquisa a definição de um tema gerador preliminar e o estabelecimento da natureza da investigação relacionada à urgência dos problemas encontrados, possibilitando o trabalho com as estruturas de uma Pesquisa-ação. O tema sugerido pelo grupo após leituras, discussões e reflexões estava relacionado aos aspectos de relacionamento intrapessoal e interpessoal. Nosso foco, naquele momento, estava em compartilharmos saberes e experiências 96 sobre ações e atitudes na busca das relações de respeito e de boa convivência na escola e na sociedade. As discussões realizadas, juntamente com a teoria disponibilizada para o estudo, resultaram na elaboração de um primeiro plano de ação construído de maneira cooperativa pelos envolvidos na pesquisa. Após as considerações preliminares obtidas nas entrevistas semi-estruturadas aplicadas às professoras, iniciou-se o segundo momento estabelecido pelas observações nas aulas de Educação Física e nas aulas das turmas da primeira série no período da manhã e do introdutório no período da tarde. Nessas primeiras semanas também foram registradas a minha participação na aplicação de algumas atividades decorrentes do plano de ação. Optei por estar presente nas salas de aulas observando o ambiente conduzido pelas professoras polivalentes nos mesmos dias da semana que coincidissem com as aulas de Educação Física. Isso possibilitou-me observar tanto as práticas em salas de aulas, quanto às atividades e relações estabelecidas nas aulas de Educação Física realizadas nos espaços externos da escola (quadra, pátio, campo e parque). Todo o material registrado na fase exploratória dessa pesquisaação, foi utilizado no primeiro momento da análise e discussão dos dados o qual se destina a esclarecer a intenção, a compreensão e a expectativa sobre a pesquisa. Nessa investigação, foi possível observar desde as primeiras semanas dentro da escola, que as aulas em sala e também as de Educação Física na quadra propunham apenas dinâmicas referentes a atitudes de comando unidirecional, onde apenas as professoras eram responsáveis individualmente pelos planejamentos e pelas ordens nas tarefas propostas. Percebi que aquele era um espaço educativo, voltado prioritariamente para os aspectos procedimentais e conceituais. Nas aulas de Educação Física, pareceu-me nos primeiros momentos das observações, ocorrer apenas a aplicação técnica dos jogos cooperativos na escola, não contextualizada com os aspectos formativos. Em particular, 97 considerei que a maneira da professora desenvolver as atividades e os jogos cooperativos, se justificavam pelos frutos da influência histórica político-educacional de um Sistema de Ensino que valorizava o modelo esportivistas e tecnicista, o qual vivemos por muitos anos nas aulas de Educação Física. Essa constatação contribuiu para elencar temas de discussões sobre as ações realizadas nas aulas e a coerência entre as expectativas dos educadores nos aspectos de formação humana. Nesse sentido, salienta-se, que o trabalho educativo realizado com as propostas para a mudança nas estruturas de aulas, implicou em avaliar questões sobre o modo de fazer e de compreender a educação em valores. 3.2. Os seminários: um espaço para a construção coletiva Os seminários descritos por Thiollent (2002, p.58) são considerados a “(...) técnica principal, ao redor da qual as outras gravitam.”, pois este é o espaço que centraliza todas as informações coletadas e onde discutem-se as interpretações, elaborando as próximas diretrizes da pesquisa. Para a realização dos seminários marcaram-se encontros que aconteceram uma vez por mês, contando com a participação das três professoras e da pesquisadora. Nesse momento, foram propostas reuniões visando examinar, discutir, interpretar, avaliar, buscar soluções, divulgar resultados e tomar decisões a cerca das investigações que foram realizadas nas semanas, tanto em situações empíricas, como em estudos teóricos realizados anteriormente, coordenando as próximas atividades do grupo. No contexto das práticas cooperativas no ambiente escolar, alguns autores como Andrioli (2007), Bessa e Fontaine (2002), Brotto (2001; 2003), Carvalho (2003), Correia (2006), Diskin (2002), Velazquez (2004), foram selecionados previamente por mim, com o objetivo de apresentar alguns dos referenciais teóricos sobre as práticas cooperativas na educação. Nesse 98 encontro inicial realizado entre os atores da pesquisa, foram discutidos estudos de Brotto (2001) e Velazquez (2004), os quais apresentam possibilidades de ações e reflexões sobre a maneira do homem viver e conviver na escola, na sociedade e no mundo. Numa pesquisa-ação é preciso, refletir, investigar, pensar, transformar e buscar um discurso argumentativo, o que, no momento dos seminários, trouxe ao grupo de pesquisadores possibilidades para uma construção coletiva, visando novas ações dentro do contexto educacional. A possibilidade desses encontros mostrou ao longo da investigação que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua própria construção. Assim sendo, ensinar exige comprometimento, exige pesquisa, e a reflexão crítica sobre a prática docente é também uma exigência para toda ação educativa. Portanto, todo professor deve partir do pressuposto que educadores e educandos devem ser seres criadores, investigadores, persistentes, curiosos e inquietos (FREIRE, 1996). Nesse sentido, considerei que os seminários foram espaços de descobertas a partir da nossa necessidade de investigação. A cada encontro elaborávamos novos temas e preparávamos, de maneira cooperativa, novas ações para as práticas educativas. Nessa etapa, a escolha dos temas para serem discutidos, era determinada pelo diálogo, realizado em função da expectativa dos atores da pesquisa e das minhas. Para a definição dos temas partíamos dos principais problemas compartilhados, desencadeando e equacionando diferentes planos metodológicos. Freqüentemente, no decorrer das atividades propostas durante as semanas que intermediaram os seminários, reuníamo-nos no final das aulas para discutir os problemas que surgiam no decorrer das atividades, como também para a elaboração de novas ações. Nos encontros durante a semana, participaram algumas vezes apenas a professora de Educação Física e eu, outras vezes a professora polivalente, que atuava no respectivo período e eu, e outras, ainda as três juntas. 99 Como recursos para as reflexões e as possíveis ações norteadoras das práticas vivenciadas nas aulas, utilizaram-se os referenciais teóricos, como livros, textos específicos e artigos científicos, como objetivo de estimular a leitura e as discussões dos atores envolvidos na pesquisa durante a realização dos seminários. Durante as discussões e reflexões para a identificação do problema e para a construção das hipóteses, compartilhei com as professoras as minhas experiências já realizadas nas escolas sobre as práticas dos Jogos Cooperativos nos aspectos relacionados à educação e à formação humana e todo o referencial teórico disponibilizado para trabalho. Para a elaboração das hipóteses durante a pesquisa, considera-se importante que a preparação da teoria seja organizada e adequada às necessidades do grupo, possibilitando assim a compreensão dos temas selecionados, gerando diretrizes para orientação da pesquisa e suas interpretações. Uma teoria de adequação e organização pode melhorar a estrutura de comunicação na relação dos dois universos culturais, aproximando o pesquisador do participante (THIOLLENT, 2002). O momento das discussões propiciou ao grupo de atores da pesquisa o entendimento de que, as decisões deveriam ser tomadas, em alguns momentos por meio de consenso e, em outros, pela riqueza da dialética entre a teoria e a prática em constante movimento de construção e transformação dos saberes. Paulo Freire (1987), procura em seus estudos, opor-se à visão de homem objeto e, por meio da educação, busca fazer do homem o sujeito de sua própria história, partindo de situações e contextos vividos por ele. Nas práticas educacionais, o autor considera fundamental que se leve em consideração o que o sujeito pensa, onde vive, seus valores, princípios e ideais. Para tanto é fundamental, considerar o aluno como sujeito, participante do processo de elaboração das atividades a serem desenvolvidas nas aulas. Cabe ao professor, nesse 100 momento, propiciar um espaço de discussão coletiva a fim de compartilhar os interesses entre todos os envolvidos no processo educacional. Freire (1987) considera ser o papel da educação levar o aluno a pensar, sentir, perceber, refletir, discutir, posicionar-se frente às pessoas, compreender o outro que apesar de ter idéias diferentes, está em posição de igualdade e deve ser respeitado. Não deixa de delegar ao professor, contudo, uma enorme responsabilidade em educar não para apresentar conteúdo e transferir conhecimento pronto, mas, para possibilitar ao aluno a construção da sua própria autonomia. Somam-se a isso as considerações de Maturana (2000; 2004) que acredita ser a educação um processo de transformação na convivência, propondo que as tarefas educacionais devam ser direcionadas a formação humana, propiciando ao aluno um viver responsável, livre e amoroso no respeito por si e pelo outro. O autor alerta que o mundo em que vivemos é configurado por nosso fazer, e ao percebemos isso, torna-se nossa responsabilidade a escolha do modo como desejamos viver. Em todos os seminários destinei um espaço para elaboração do plano de ação, que segundo Thiollent (2002), deve ser uma exigência fundamental na Pesquisa-ação e deve contemplar questões como: quem são os agentes da ação? Quais são os objetivos, as metas da ação e os critérios de avaliação? Como dar continuidade as ações? Como assegurar a participação de todos os envolvidos? Como incorporar suas sugestões? Como gerir as dificuldades emergentes no processo investigativo? Portanto, estas foram as diretrizes que sustentaram todos os encontros destinados as reflexões, discussões e ações mediadas por mim e compartilhadas com as professoras. Na etapa dos seminários utilizei um gravador para o registro das minhas observações e das falas das professoras. Para descrição das falas coletadas nas argumentações das professoras, 101 trechos significativos foram selecionados e posteriormente separados em três momentos distintos: o primeiro representado pelo início do processo investigativo levando em consideração o diagnóstico inicial da investigação dos relatos resultantes dos primeiros encontros corridos na primeira semana de observação das aulas e no primeiro seminário, foram descritos e analisados as falas das professoras, apresentando as dúvidas e as inquietações sobre a pesquisa e também os primeiros pareceres dos professores a respeito das práticas cooperativas na escola. O segundo momento deu-se pela análise dos dados referentes a apresentação dos temas geradores, os relatos proferidos durante as aulas e a durante da aplicação e elaboração dos planos de ação realizados no segundo, terceiro e quarto seminários. A partir desta etapa, foram analisados no terceiro momento, os discursos e as observações do processo de emancipação dos professores a partir dos resultados obtidos pelas mudanças nas práticas educativas verificadas no quinto seminário e nas últimas semanas que participei das atividades nas aulas. Após cada um dos três diferentes momentos analisados: o inicial diagnóstico, as ações intermediárias e o processo reflexivo emancipatório, realizou-se uma síntese com o objetivo de contribuir para as considerações finais do trabalho realizado. 3.2.1. Primeiro seminário Considera-se o primeiro encontro realizado pelas participantes após as entrevistas como o “primeiro seminário”. Esse foi o momento da apresentação mais detalhada sobre Pesquisa-ação para as três professoras e, também, da apresentação dos principais estudos e trabalhos realizados sobre os Jogos Cooperativos e a Aprendizagem Cooperativa na educação. Nessa primeira reunião, estabeleceu-se que o diálogo seria a forma de nos relacionarmos frente às investigações e às ações educativas na escola. 102 Segundo Freire (1991, p.107) “diálogo é uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade”. Aponta o autor que, na busca de uma Pedagogia da Comunicação, a relação instituída pelo diálogo está repleta de amor, humildade, confiança, é assim que os dois pólos do diálogo se ligam na procura de algo, de uma maneira crítica, procurando uma educação que leve o homem a uma nova postura diante dos problemas de seu tempo e de seu espaço. Considera o autor que “A educação é um espaço de amor, por isso um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade não pode fugir da discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. Portanto, só o diálogo comunica e leva o homem a um espaço de debate, de análise, de participação dos problemas e, acima de tudo, de mudança de atitude (FREIRE, 1991 p.96). Vale ressaltar que a educação que nos propusemos construir naquele espaço de reflexão e ação estava desde o início, pautada no respeito e na liberdade, utilizando o diálogo e a aceitação do outro nas relações estabelecidas entre todos os envolvidos na pesquisa. Foi possível perceber que buscávamos com a investigação os ideais uma educação participante, comunicativa, e determinada a provocar mudanças frente aos problemas encontrados. As primeiras observações nas reuniões e aulas que observei na escola, foram registradas no Caderno de Campo, apontando as informações que foram fornecidas e discutidas pelo grupo formado pelas professoras e por mim. Em alguns momentos, quando percebi a necessidade, utilizei um gravador para o registro das observações de todos os envolvidos, os quais estão transcritos e analisados no trabalho. Fotografias também foram tiradas durante as aulas buscando registrar a realidade observada pela pesquisadora. No primeiro seminário, deu-se o início as discussões sobre os valores e as relações estabelecidas entre aluno/aluno e professor/aluno dentro de um ambiente educativo. Tornou-se 103 necessário, nesse momento, ampliar o olhar sobre educação realizada na escola, a partir da compreensão sobre a influência da cultura e das relações estabelecidas entre os indivíduos de uma sociedade na preservação e sobrevivência da espécie humana. O referencial teórico apresentado por mim possibilitou discussão e reflexão, a partir dos estudos realizados por Dalkins (1979) e Rydley (2002) a respeito da importância das relações sociais entre humanos e também sobre os benefícios da cooperação para a preservação da nossa espécie e do planeta. Outros temas discutidos na reunião relacionaram-se à interdependência entre os homens, à importância da coletividade, à influência da cultura, pois, o que aprendemos nas relações sociais pode contribuir para o aprimoramento dos costumes e para a organização da sociedade almejada. Compartilhamos nossas experiências sobre as práticas atuantes no sistema tradicional seus limites e contradições no contexto da sociedade atual e refletimos sobre o papel da escola como um instrumento de transformação da realidade, possibilitando uma nova organização do trabalho e da vida em sociedade. Considerando que as três professoras apresentaram como tema gerador para a discussão, as relações humanas na escola definiram-se para o primeiro tema: resolução de conflitos. Os estudos de Coll (1994) trouxeram a aproximação entre a relevância do conflito sociocognitivo apresentado pelo autor e a perspectiva freiriana sobre a importância do diálogo e do conflito na construção do conhecimento. Para Coll (1994) e Freire, Gadotti e Guimarães (2000), é clara a importância dos conflitos e das resoluções de conflitos no processo de aprendizagem significativa do aluno, porque as novas situações de aprendizagem surgem a partir da confrontação de pontos de vista divergentes. Para as discussões desse encontro tivemos o auxílio de uma das professoras integrantes da pesquisa que, na época, freqüentava um curso de pós-graduação, no qual um dos 104 módulos do curso era a resolução de conflitos em sala de aula. Para dar suporte aos estudos, selecionei como referencial teórico dois temas apresentados pelas autoras, Tognetta (2003) denominado “Como trabalhar os conflitos entre as crianças” e outro de Vinha (2000), sobre a construção da solidariedade em ambientes escolares, que apresenta como subtítulo “A cooperação enquanto alternativa à disciplina e aos limites”. Os textos contemplaram as expectativas das discussões sobre como conduzir e compreender os conflitos vivenciados pelas crianças na escola. Sugeriu-se que as professoras lessem e refletissem, para o próximo encontro, outro texto da mesma autora, Tognetta (2003), intitulado “O ambiente cooperativo e a postura do professor”. A escolha dos textos foi uma estratégia usada na tentativa de aproximar o ambiente cooperativo com as questões sobre resolução de conflitos. A escolha dos estudos referenciados pelos autores César Coll, Paulo Freire, Telma Vinha e Luciene Tognetta foi significativa pelo fato das estruturas da aprendizagem cooperativa proposta por Bessa e Fontaine (2002) e Carvalho (2003) apresentar-se mediante uma estratégia de aproximação entre os alunos. Essa aproximação tem como papel, propiciar um espaço de convivência pautado em valores. Espera-se com essa estratégia de aproximação na convivência que os alunos discutam, reflitam, construam coletivamente as idéias e usufruam os benefícios das tarefas realizadas sem a expectativa de sobrepor-se ao outro. Abordamos no primeiro seminário algumas situações problemas encontradas no ambiente escolar a respeito das relações de convivência humana e, a partir das discussões, elaboramos algumas estratégias da aprendizagem cooperativa proposta por Carvalho (2003) e Kagan (1994) para iniciar as ações educativas durante as aulas. Vale ressaltar que, a preocupação inicial das professoras foi a respeito da proximidade dos alunos durante as aulas. Essa preocupação trouxe ao grupo um novo contexto a ser observado e refletido já que, segundo as 105 professoras, estando os alunos mais próximos uns dos outros, situações conflitantes interpessoais e as conversas paralelas modificariam o ambiente educativo, podendo prejudicar a aprendizagem dos conteúdos programáticos. Levando em consideração as preocupações das professoras a respeito dos agrupamentos dos alunos, a agitação motivada pela aproximação das carteiras e o cumprimento dos conteúdos, propus discussões preliminares e também a realização de uma vivência pelas professoras, de práticas educativas com o agrupamento de quatro alunos (ANEXO 6) através da indicação de qualidade e efetividade apresentada pelos estudos de Carvalho (2003) e Kagan (1994). Para Carvalho (2003), os fatores positivos nos agrupamentos com quatro alunos em cada grupo são: a facilidade de constituírem duplas quando necessário e a possibilidade de rotatividade nas responsabilidades e compromissos individuais dos alunos. A atividade realizada com as professoras no primeiro encontro foi denominada entrevista de times (ANEXO 7). Nessa proposta, sugestiona-se que os grupos fossem formados por quatro alunos preferencialmente. Para a realização das atividades cooperativas em sala, de aula apresentei um roteiro inicial com o objetivo de organizar as primeiras ações cooperativas. No decorrer da atividade, as professoras receberam uma folha de sulfite com um desenho de uma camisa de time para ser confeccionada. Na figura da camisa, as professoras desenharam e compartilharam desejos, sonhos, valores, etc. sobre sua experiência de vida. Após o término do diálogo, compartilharam o trabalho com o grupo de participantes, pendurando as camisetas dos times em um varal coletivo disponível no meio da sala. O objetivo da atividade foi propiciar um espaço de interação entre as professoras, envolvendo-as com questões pessoais que pudessem ser compartilhadas pelo grupo envolvido. Foi possível perceber a dificuldade encontrada pelas professoras primeiramente em identificar seus desejos, gostos e vontades e depois em 106 compartilhar as escolhas. Apesar de se conhecerem há bastante tempo, poucos sabiam sobre os sonhos, desejos e preferências umas das outras. Reconheço que a experiência tenha sido válida no contexto de integrar o grupo, socializar desejos e expectativas sobre o trabalho na escola e sobre a vida. Para dar continuidade às investigações, tanto às atividades cooperativas vivenciadas pelas professoras, quanto às inquietações pronunciadas no nosso primeiro encontro foram temas de investigação desenvolvidos durante as semanas de trabalhos realizados nas aulas de Educação Física e nas salas das professoras polivalentes. No final do seminário, elaboramos algumas ações a serem realizadas com os alunos durante a semana, incluindo o planejamento de algumas práticas cooperativas que seriam aplicadas por nós durante as aulas. As atividades práticas elaboradas no seminário estão descritas no plano de ação. PLANO DE AÇÃO Nas atividades para o planejamento semanal, limitei-me inicialmente a observar os ambientes e, posteriormente, ao longo das semanas desenvolver com os alunos da turma do introdutório e da turma da 1ª série, durante as aulas de Educação Física, uma atividade que objetivou a formação em valores e a aproximação dos conteúdos das aulas de Educação Física aos das aulas das professoras polivalentes. A estratégia escolhida, como recurso pedagógico, para o introdutório e para a 1ª série foi à atividade rítmica e expressiva – Dança da Paz (ANEXO 8). Nessa atividade, a proposta é de que as crianças dancem livremente pelo espaço com uma fita de crepom formando palavras e figuras em conjunto com os colegas. Ao término da música, os alunos devem fazer a representação da palavra Paz em formação conjunta com a sala toda. 107 Como, segunda estratégia para as duas salas propus, para as aulas das professoras polivalentes, a atividade denominada “Entrevista de Time” (ANEXO 7). Essa atividade já havia sido vivenciada e analisada pelas professoras durante a nossa primeira reunião. Como terceira possibilidade de trabalho, elaborei, com as professoras polivalentes, duas atividades estruturadas nas propostas da aprendizagem cooperativa a partir dos conteúdos programáticos das diferentes turmas. Para o trabalho na turma do introdutório, a quarta proposta de atividade planejada teve como objetivo, desenvolver os conteúdos relacionados à alfabetização e à psicomotricidade. Na proposta descrita, constava a realização de dinâmicas no pátio, utilizando jornal (ANEXO 9), e, para a 1ª série planejamos a estrutura cooperativa chamada “Cabeças pensando juntas” (ANEXO 10), elaborada a partir de questões sobre Esportes apresentadas no livro de História. PRIMEIRO MOMENTO Relatos dos atores no primeiro Seminário e nas observações nas aulas: Valores e ideais: sondagem inicial-participação e envolvimento na pesquisa Professora 1: “Achei ótimo a gente se encontrar, eu tava sentindo falta de conversar as coisas da escola, já faz tempo que eu queria trabalhar os “Jogos Cooperativos” com outros professores, é ruim a gente fazer as coisas sozinha, né! A Educação Física fica meio longe de tudo, né!”. (...) é muito difícil... tem dia que eles tão agitados e a gente nem consegue falar, eu tento não gritar, mas as vezes não dá...é só assim que eles param pra ouvir...eu queria que fosse diferente...as vezes desanima ..mas acho que sou eu ...parece que é bem no dia que a gente não tá bem e ai eles ficam piores...”. (...) “eu tô super motivada...não gosto de trabalhar sozinha ...acho que essa mudança, essa pesquisa vai me dar um animo para mais um ano aqui na escola”. 108 (...) “se for pra gente trabalhar juntas eu acho melhor, tem bastante conteúdo que dá pra a gente fazer juntas”. Professora 2: (...) “essa parte da cooperação nos seres humanos eu nunca tinha pensado...eu achava que cooperar fazia parte da nossa sobrevivência, mas não sabia que é fundamental pra nossa espécie e pro planeta, se a gente pensar em tudo, é isso mesmo!”. (...) “se é pra estudar, eu gosto de participar, acho que a gente muda muito quando olha pra outras possibilidades de ensinar”. (...) “essa semana, eles já estão mais adaptado comigo, eu tô achando uma sala ótima pra trabalhar, eles gostam de fazer atividades e ajudam em tudo”. (...) “eu quero ficar observando o que você tá fazendo na sala, porque eu ainda não entendi muito bem o que vai mudar” O que eu tenho que fazer pra mudar o jeito de dar as atividades?”. (...) “se a gente fizer isso na próxima aula, acho que eles vão participar mais, eu achei que eles ficaram meio perdidos, ficaram perguntando tudo que era pra fazer ..isso é diferente de cooperar, né?”. (...) “eles também tem expectativa pra hora de começar a fazer os grupos, uns já chegam pedindo desde a entrada na aula”. (...) “se eu puder levar um livro com essas atividades cooperativas nessa semana, depois a gente pensa em alguma coisa pra fazer juntas”. Professora 3: 109 (...) “o espaço é muito apertado...é difícil mexer nas mesas...eles não gostam que encoste na parede, acham que vai sujar....”. (...) “nossa! eles falam muito...eles não sabem fazer as atividade quietos...a gente fica zonza com tanto barulho,né!”. (...) “é difícil eles me ouvirem ..eles falam mais que eu, não sabem muito ajudar os outros...eles são pequenos ainda ...... acho eles egoístas demais pra ficarem juntos...apesar deles gostarem muito...”. (...) “eu gosto quando a gente discute sobre os valores...respeito, diferenças...porque é isso que eu mais vejo na escola... isso era bom se fosse pra toda escola, né...todo mundo devia saber como lidar com essas dificuldades...”. A P1 demonstrou na sua argumentação que se sente motivada em trabalhar de forma coletiva e que sente um distanciamento da disciplina de Educação Física com as outras disciplinas da escola. Relata no trecho seguinte que tem dificuldade em ser ouvida durante as aulas e que seu limite é o gritar com os alunos. Entretanto reconhece que, essa não é a melhor atitude de um professor e que gostaria que as coisas fossem diferentes. Declara perceber que quando não está bem, sua postura reflete na resposta dos alunos. Percebe-se na fala da P2 durante as discussões no primeiro seminário uma reação de surpresa com a sua própria constatação, ao relatar sua compreensão sobre o valor da cooperação relacionando o termo aos aspectos biológicos e sociais do humano e também à necessidade de sobrevivência da nossa espécie e do planeta. Em diferentes momentos a professora manifestou a importância de estar sempre estudando e investigando novas possibilidades para o ensino. Tanto em seu discurso como nas minhas observações sobre o tempo de adaptação na sala da 1ª série 110 ficou notável a empatia entre professora e alunos. No início das observações P2 mostrou-se uma professora experiente e bem preparada nas argumentações e nas ações realizadas com os alunos. A P2 declarou desde os primeiros dias da minha investigação na escola que, os alunos são participativos e gostam de colaborar. Torna-se importante destacar que, a professora no início das práticas cooperativas na sala de aula, mostrou-se atenta e comprometida, indagando e argumentado em vários momentos sobre a proposta de cada atividade. Em seus relatos é possível perceber que, a professora, identificava nos alunos o processo de adaptação da nova proposta de aulas e instigava nas outras professoras a possibilidade de um planejamento coletivo para as atividades cooperativas. Sobre as dificuldades apresentadas pela P3 foi possível identificar no seu relato inicial uma reação de medo pela novidade. Argumentou na primeira aula que, teríamos muita dificuldade, pois, o espaço e a quantidade de alunos não seriam adequados para essa nova estrutura de aula, afirmando que a coordenadora e a diretora da escola não permitem encostar as carteiras na parede. Sobre o agrupamento, a professora declarou insatisfação com a experiência alegando que, os alunos falam muito, que ela tem dificuldade em ouvi-los. Afirmou em seguida que, em certos momentos nas atividades dentro da sala, fica zonza de tanto barulho. Entretanto relatou perceber o fato dos alunos gostarem de realizar as atividades em grupos. No primeiro Seminário a P3 demonstrou interesse em realizar estudos e discussões conjuntas sobre as dificuldades na escola e também em trabalhar com as atividades e os agrupamentos quando eu pudesse ajudá-la. 3.2.2. Segundo seminário 111 No segundo encontro, retomamos as discussões a partir do que havíamos discutido no encontro anterior sobre a resolução de conflitos na escola e avaliamos algumas situações ocorridas nas aulas durante o período entre os seminários. A avaliação do que nos propusemos a fazer deu início a outras reflexões a respeito das mudanças nas estruturas das aulas. Os problemas que emergiram das experiências vivenciadas durante as aulas, foram os desencadeadores dos novos temas a serem discutidos, refletidos e investigados, possibilitando que novas hipóteses surgissem. Para o segundo seminário, percebi a necessidade de trazer para o grupo a questão sobre o agrupamento dos alunos na sala de aula que me chamou a atenção desde o dia em que fiz a primeira observação nas aulas das professoras polivalentes. Os alunos do introdutório sentavam-se em fileiras, posicionando-se lado a lado, mas sem espaço entre eles, ficavam frente a frente e os alunos da primeira série sentavam-se em filas duplas lado a lado (ANEXO 5). As professoras justificaram que o posicionamento das carteiras era uma orientação obtida no curso anual de capacitação realizado pela coordenadora da Secretaria de Educação do Município de Atibaia. Esse posicionamento dos alunos na sala de aula é denominado pelas professoras como agrupamento produtivo e objetiva-se com ele propiciar uma relação compartilhada entre os alunos, possibilitando melhoras no processo de ensino e aprendizagem. Considerando o aspecto do agrupamento dos alunos, estudos de Bessa e Fontaine (2002) e de Carvalho (2003) foram os referenciais utilizados no seminário e disponibilizados por mim para as três professoras. Ao discutirmos, sobre as referências das estruturas de agrupamento cooperativo, reconhecemos a proximidade das propostas pedagógicas sugeridas pela coordenação da Rede Municipal, com várias possibilidades de agrupamento descritas pelas propostas apresentadas pelos autores; isso possibilitou-nos reconhecer um espaço para as práticas cooperativas 112 permearem as ações pedagógicas nas salas de aula. As atividades cooperativas propostas nos trabalhos realizados por Brotto (2001; 2003), Carvalho (2003) e Kagan (1994) fizeram parte do plano de ação como uma estratégia de ensino-aprendizagem para as aulas. Outro tema selecionado para as discussões surgiu a partir das observações durante as aulas das professoras polivalentes e da professora de Educação Física. Conforme o plano de ação elaborado no primeiro seminário, eu deveria desenvolver uma atividade de aprendizagem cooperativa com os alunos durante as aulas, podendo, assim, compartilhar e refletir sobre a experiência com as outras professoras. Após a observação das aulas de Educação Física, elaborei uma atividade, a partir do conteúdo sugestionado no livro de Português sobre Jogos e Brincadeiras, com o objetivo de estimular os aspectos referentes aos valores humanos; porém o enfoque dado nas discussões do seminário foi a maneira de conduzir as aulas e as relações estabelecidas entre o professor e os alunos. A escolha da estrutura da aula sugeriu um tipo de aula construtiva, na qual os alunos participariam dos diálogos e das decisões, colaborariam com a construção do conhecimento, favorecidos pelas ações e relações, encontradas em um ambiente cooperativo. Justifica-se a importância do planejamento compartilhado na escola, a partir dos apontamentos de Freire (1987) os quais, consideram que apenas depositar no aluno o conhecimento, faz do educando uma vasilha de depósitos e, do professor o único possuidor do conhecimento. Quando o professor deposita seu saber no passivo objeto de seu poder, desconecta-o da realidade, comprometendo toda uma sociedade. Para o autor, essa educação massifica e se destina à opressão do povo, devendo ser questionada pela escola. Vale destacar que o PPP da instituição que está sendo investigado neste estudo traz explícito, em seus ideais, os pensamentos de Paulo Freire. A coerência entre os ideais elucidados pelo PPP e as práticas construídas nas escolas também são consideradas relevantes pelo Coletivo 113 de Autores (1992). O referencial destaca que as aulas de Educação Física escolar devem estar coerentes aos projetos político-pedagógicos da escola, compartilhando idéias, princípios e atitudes vinculados aos ideais do PPP, buscando sempre a coerência nas ações e destacando a função social da Educação Física dentro da escola. Considera-se que para isso, seja também necessário que o professor tenha bem definida a relação que vai estabelecer com o aluno, o conteúdo a ser desenvolvido, a metodologia para o trabalho, e os valores que caminham no sentido de uma prática docente comprometida com o processo de formação social (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Com a intenção de confrontar os estudos teóricos com a prática vivenciada na escola, sugeri que, cada professora refletisse sobre sua prática, seu modelo de aula e sobre quais resultados poderiam ser esperados em cada diferente situação vivenciada. Utilizei como aporte teórico os estudos de Demo (2002) mais precisamente dois dos subtítulos do seu livro, um denominado “Socializar e construir conhecimento” e outro, a “Mitologia da aula”. Os dois temas ajudaram as professoras a identificar a estrutura de aula que utilizavam em sua rotina e qual seria o modelo que apresentaria um resultado mais significativo na relação de ensino-aprendizagem quando se visa o desenvolvimento integral do aluno. Em qual possibilidade de aula o aluno teria a oportunidade de ser mais participativo, mais atuante, e mais responsável por suas atitudes e escolhas. A partir das discussões puderam também identificar qual estrutura de aula contemplaria os ideais da Instituição, e quais as atividades realizadas na semana iam ao encontro do que nos propusemos a fazer. É importante considerar que, a cada encontro realizado, perceberam-se mudanças nas reflexões compartilhadas entre os atores da pesquisa. Os temas para a discussão foram selecionados a partir das discussões referentes às práticas, sempre aproximando as experiências 114 das aulas de Educação Física às outras aulas, tanto para o reconhecimento dos problemas, como para a elaboração das hipóteses. A partir do nosso segundo seminário, outras atividades foram planejadas explorando os fatores positivos relatados pelas professoras e pela pesquisadora a partir das experiências vivenciadas durante o mês. Algumas situações problemas foram relatadas pelas professoras o que gerou novas hipóteses que conduziram à elaboração de novas estratégias. Entre as novas hipóteses surgiu a questão da necessidade de um trabalho com formação humana mais ampla dentro da escola necessitando da participação dos outros professores com as possibilidades de mudanças nas estruturas das aulas. Tanto a professora de Educação Física, quanto as professoras polivalentes questionaram sobre necessidade da participação de todos os envolvidos com a educação dos alunos nos processos de mudanças educacionais. Para tanto as professoras se comprometeram a compartilhar o trabalho com as outras professoras da escola, relatando as experiências realizadas durante as aulas, nas reuniões de HTPC realizadas na escola uma vez por semana. A partir das considerações obtidas na discussão e reflexão dos textos e das práticas realizadas, foram elaboradas atividades cooperativas, que determinaram o plano de ação a ser desenvolvido nas práticas educativas. PLANO DE AÇÃO A proposta para desenvolver as práticas cooperativas com os alunos, planejada no segundo encontro do grupo, tanto para as aulas de Educação Física como para as aulas das professoras polivalentes, teve como objetivo principal possibilitar ao aluno participar da elaboração das atividades, assim como a participação mais efetiva das professoras na elaboração das atividades cooperativas. Estabelecemos, naquela reunião, organizar e valorizar os momentos 115 vividos nas rodas de conversa, tanto no momento inicial, como no final das aulas de Educação Física, com o objetivo de abrir um espaço para a participação e discussão coletiva dos alunos sobre as diferentes situações e os conflitos vivenciados nas aulas. Na sala do introdutório, planejamos atividades de rodas cantadas, buscando, no repertório do grupo, a escolha das músicas a serem cantadas e dramatizadas (ANEXO 8). As rodas e as músicas foram estratégias utilizadas para possibilitar tanto um ambiente cooperativo, quanto para a o desenvolvimento das diferentes linguagens da criança. Ao término das vivências com as rodas cantadas, compartilhamos a proposta para que os alunos desenhassem o momento vivido, ilustrando as experiências. A professora polivalente deveria também utilizar o momento para observar os primeiros registros da escrita do aluno. O trabalho com a linguagem corporal na sala do introdutório está relacionado à aprendizagem da leitura e da escrita, podendo ser um rico momento para o desenvolvimento dos conteúdos programáticos, determinados pela instituição. Contemplando as necessidades do momento em integrar a minha participação nas aulas com o trabalho das professoras, sugeri um planejamento conjunto para a realização da atividade do “Correio da Paz” idealizada por Velazquez (2004) (ANEXO 11). Nessa atividade disponibilizamos aos alunos uma caixa de correio onde eles poderiam, a qualquer momento do dia, enviar sugestões, sentimentos, desejos e/ou convites para seus colegas, professores, funcionários e familiares. No decorrer da atividade, estipulamos que as mensagens depositadas seriam entregues ao destinatário todas as sextas-feiras, contemplando a intenção do aluno que a escreveu. Na 1ª série, utilizamos como recurso para as estratégias cooperativas elaboradas, o livro didático de Português disponibilizado pela Rede Municipal, para trabalhar os conteúdos de sala, integrados aos da Educação Física. No livro de Português, a tarefa para o aluno é que façam 116 a escolha da brincadeira que ele mais gosta. Para essa atividade planejamos modificar a estrutura da sala em relação ao posicionamento dos alunos, possibilitando a realização das estratégias da aprendizagem cooperativa em sala de aula. Determinamos que cada grupo de alunos sentasse em quarteto, para compartilhar suas escolhas em relação às brincadeiras preferidas, descrevesse individualmente a maneira de jogar ou brincar, finalizando com um desenho para ilustrar a brincadeira ou jogo escolhido. Após o desenho realizado a professora polivalente auxiliaria os grupos na classificação das brincadeiras escolhidas apontando o número de preferências de cada brincadeira pronunciadas por todos os alunos da sala. A intenção de classificar as brincadeiras preferidas dos alunos seria para desenvolver os conteúdos da disciplina de Português e também para possibilitar à professora de Educação Física o registro de um rico repertório de atividades a ser proposto nas aulas, levando em consideração o número de preferências entre os alunos e a possibilidade de incluí-las como dados para o planejamento das suas aulas. Para finalizar a atividade, foi proposto aos alunos que coletivamente, construíssem com os desenhos, um grande painel, para ser, exposto no corredor da escola. Outra estratégia planejada para a 1ª série teve como tema “os índios”. Esse tema faz parte do conteúdo de Geografia. Planejamos que a professora polivalente desenvolvesse com os alunos atividades sobre a cultura indígena propostas no livro didático, interagindo com atividades práticas das aulas de Educação Física realizadas no pátio propondo vivências dramatizadas do cotidiano indígena (anexo 12). Essa atividade vivenciada no pátio, e na quadra também foi planejada para ser desenvolvida pela turma do introdutório (ANEXO 13). 3.2.3. Terceiro seminário No terceiro seminário, elaboramos propostas de aprendizagem cooperativas em que os alunos pudessem participar do planejamento das atividades. O aporte teórico para sustentar o 117 trabalho realizado pelos atores da pesquisa foram os estudos sobre o valor do desenvolvimento das crianças num ambiente cooperativo. Estudos de Vinha (2000) apontam que a criança tem que se sentir valorizada e participante com suas idéias, deve ter uma participação ativa na construção do conhecimento e conviver em um ambiente de respeito mútuo, cooperação, justiça, pois, sem tais valores, os procedimentos e as técnicas são injustificáveis. Segundo a autora, espera-se com isso que, aos poucos, a criança vá construindo sua autonomia, noções sobre a divisão de responsabilidade e, conseqüentemente, sobre o que é viver em sociedade. Um dos problemas emergentes das ações compartilhadas entre professor e alunos no planejamento das atividades foi discutido pelo grupo, a partir dos estudos de Vinha (2000). A autora considera que a elaboração de uma atividade coletiva implica na cooperação, na troca de ponto de vista, na participação e na vivência da democracia para a elaboração do planejamento diário, na avaliação das atividades e das propostas como: a música, o teatro, os jogos, os projetos, entre outros. A autora aponta que o maior problema em mediar a participação dos alunos é o fato de o professor, muitas vezes, apresentar as soluções imediatas para os problemas/conflitos entre alunos, não permitindo que eles descubram as respostas e/ou as soluções por eles mesmos. Nesse sentido, a autora afirma que os professores devem deixar prevalecer as escolhas e/ou as soluções encontradas pelos alunos, mesmo quando o professor não considere tal escolha a mais adequada. “Ajudar a pessoa a buscar a solução por si mesma é um grande presente que podemos dar a ela” (VINHA 2000, p.184) O rico material discutido no segundo seminário contribuiu para as transformações nas ações das práticas durante as aulas, tanto de Educação Física como das professoras polivalentes. A partir das discussões na reunião, elaboraram-se novas atividades, levando em consideração decisões conjuntas entre professor e alunos a partir do repertório de atividades e brincadeiras 118 conhecido por ambos. As elaborações das atividades propiciaram a aproximação da professora de Educação Física com as professoras de sala, compartilhando os conteúdos programáticos. A partir do terceiro seminário, o trabalho realizado com a proposta da aprendizagem cooperativa desenvolveu-se de maneira mais natural e tranquila. Em decorrência de práticas vivenciadas durante as semanas que intercalaram os encontros, os atores da pesquisa elaboraram novas sugestões para serem compartilhadas, discutidas e aplicadas nas aulas. Um fato relevante destacou-se como uma situação facilitadora na realização das práticas cooperativas realizadas pelos atores da pesquisa. Percebeu-se que alguns dos livros didáticos utilizados pelos alunos, propiciavam, em seus enunciados, a aproximação física dos alunos com a finalidade de compartilhar conhecimento. A partir desse reconhecimento, algumas das atividades cooperativas desenvolvidas nas aulas, deram-se pela verificação prévia das professoras polivalentes frente às propostas enunciadas nos conteúdos dos livros didáticos adotados pela instituição. A estrutura do plano de ação elaborado neste seminário apoiou-se na proposta da Educação para a Paz que propõe um trabalho integrado entre os conteúdos da sala de aula e as aulas de Educação Física. Elaboramos algumas dinâmicas dos jogos cooperativos propostos por Velazquez (2004) apresentados em seus estudos sobre a Educação para a Paz quando se utiliza da aprendizagem cooperativa como uma possibilidade para o processo na educação de valores. A Educação para a Paz apresenta-se como proposta educacional elucidada por Velazquez (2004), objetivando contribuir efetivamente para a interiorização de valores que caminham na direção de uma Cultura da Paz desejada pela sociedade em que vivemos. A Educação para a Paz é um processo contínuo e permanente, uma forma de educar com valores e 119 faz parte da análise, das relações, e das ações que o ser humano estabelece consigo mesmo, com os outros, com a vida e com a natureza (VELAZQUEZ, 2004). Para Velazquez (2004, p.35), a Cultura da Paz apresenta-se como elemento de transformação e mudança, em resposta às necessidades do nosso modelo de organização e de ordem social e é caracterizada “(...) por uma tríplice harmonia do ser humano consigo mesmo, com os demais e com o meio ambiente onde vive”. O autor aponta em seus estudos que a Cultura da Paz é: (...) uma nova forma de conceber o mundo em que vivemos que, tomamos como base a Declaração Universal dos Direitos humanos, caracteriza-se pelo respeito a vida e à dignidade de cada pessoa, a rejeição à violência em todas as suas formas, a defesa de um conjunto de valores como a liberdade, o respeito, o diálogo e a rejeição ativa de outros como a injustiça, a intolerância ou o racismo; a aposta pela diversidade cultural e o inter-culturalismo como meio de enriquecimento comum, o desejo de um desenvolvimento que leve em conta a importância de todas as formas de vida e o equilíbrio dos recursos do planeta (...) (VELAZQUEZ, 2001, 2004, p. 31). O autor ainda atribui a esses valores a busca coletiva por um modo de viver e conviver que possa contribuir para um mundo mais justo e solidário em benefício da humanidade. As discussões desencadeadas a partir da leitura das propostas de Velazquez (2004) contribuíram para elaboração das estratégias cooperativas a serem realizadas pelos alunos nas aulas. As propostas elaboradas estão descritas no plano de ação. PLANO DE AÇÃO No terceiro seminário, o trabalho interdisciplinar foi o foco das discussões. Esse motivo deu-se a partir do reconhecimento da possibilidade de integração entre o trabalho das diferentes professoras. Essa discussão gerou novas propostas de atividades elaboradas com o objetivo de aproximar os conteúdos dos livros didáticos dos conteúdos propostos pela professora de Educação Física através das atividades da aprendizagem cooperativa, Cultura da Paz e dos 120 Jogos Cooperativos. Essa possibilidade de trabalhar de maneira integrada e conjunta no cotidiano escolar trouxe ao grupo de professoras o reconhecimento do ambiente educativo como um espaço único para o desenvolvimento integral do aluno. O planejamento a ser desenvolvido na turma do introdutório foi elaborado com ênfase nos projetos interdisciplinares. Para essa turma planejamos a integração das disciplinas de Artes, Matemática, Português e Educação Física. Para tanto, através de uma proposta interdisciplinar, elaboramos um projeto denominado “Bicho elegante”, que constitui-se de três diferentes momentos para serem vivenciados nas aulas de Educação Física e nas salas com a professora polivalente (ANEXO 14). Com o desenvolvimento dessa atividade foi possível comprovar a hipótese de que o aluno que participa das aulas de Educação Física é o mesmo que freqüenta a sala de aula e deve, então, ser educado de “corpo inteiro”, sendo o corpo e a mente entendida como um único “organismo” (FREIRE, 2003). Para a 1ª série foram elaboradas atividades que contemplavam os conteúdos das duas professoras, a de Educação Física e a polivalente. Escolheu-se a atividade do “Mosaico Humano” (ANEXO 15) como possibilidade de trabalhar os valores, assim como o desenvolvimento dos aspectos relacionados ao esquema corporal (coordenação motora fina, orientação espacial, entre outros). O trabalho da Educação Física integrado com o conteúdo de ciências foi elaborado a partir do tema deveres e direitos da criança e do adolescente sugestionado pelo livro didático. Planejamos também, para a turma da 1ª série, uma atividade que deveria contemplar ritmo e expressão, confecção de um painel gigante e uma redação construída de forma coletiva pelos alunos sobre os direitos da criança. Aproveitamos a oportunidade na elaboração das três atividades para enfatizar a importância do lazer e da prática de atividades físicas para o desenvolvimento saudável da criança. Para vivenciar o trabalho cooperativo com os alunos, planejamos três aulas de Educação Física utilizando bolas de tênis para a criação de coreografias 121 construídas de maneira cooperativa (ANEXO 16). Essa estratégia também foi planejada como possibilidade para as aulas do introdutório. 3.2.4. Quarto seminário Esse encontro teve um papel importante nas reflexões, ações e transformações que vivenciamos no final do quarto mês de investigação. Nesse quarto seminário, foram discutidas as experiências vivenciadas durante as aulas e também a constatação da possibilidade das práticas da aprendizagem cooperativa como proposta educacional viável e coerente aos pressupostos dos referenciais teóricos da instituição (PPP). Apesar das professoras, ao longo do processo, terem percebido a coerência e os resultados positivo do trabalho, foi importante o reconhecimento e a valorização demonstrada pela coordenadora após a leitura dos semanários das professoras envolvidas na pesquisa. Os elogios às atividades foram compartilhados no HTPC realizado na mesma semana do 4º seminário. Durante o HTPC, a apresentação das atividades realizadas nas semanas de investigação foram relatadas pelas três professoras e por mim. Nesse encontro coletivo, discutiram-se também novas possibilidades de ação cooperativa com as outras professoras da instituição. O diálogo foi mediado pela coordenadora da escola, que considerou o tema do seu projeto proposto às professoras no início do ano denominado Autonomia e Comunicação coerente com as ações realizadas nas propostas desenvolvidas pelos atores da pesquisa. Em seus apontamentos, considerou também como possibilidade a realização de outro projeto educativo relacionado à formação em valores com a participação de todos os professores. A possibilidade de ampliar os espaços cooperativos na escola e a valorização do nosso trabalho pelos outros funcionários da instituição foram um dos temas debatidos no quarto encontro. 122 Nas discussões durante o seminário, elaboramos novas estratégias cooperativas, num constante compartilhar de conteúdos da Educação Física e das aulas das professoras polivalentes para o trabalho na semana, utilizando o referencial teórico dos estudos e Freinet (1998; 2004) e Elias (2004). Nos estudos de Freinet apresentados por Elias (2004) a respeito de processo educativo, o autor considera que o conhecimento deve ser construído de forma compartilhada entre os envolvidos no processo, para tanto devem estar apoiados “(...) em quatro eixos fundamentais: • a cooperação - como eixo de construção social do conhecimento; • a comunicação - como forma de integrar esse conhecimento; • a documentação - registro da história que se constrói diariamente; e • afetividade - elo de ligação entre as pessoas e o objeto de conhecimento” (ELIAS, 2004, p.40). Nesse encontro, apresentei ao grupo de professoras os estudos realizados por Elias (2004 p. 42) nos quais o autor descreve a proposta pedagógica apresentada por Célestin Freinet, pautada numa prática essencialmente cooperativa, na qual “o sujeito da ação coletiva e da educação não é o indivíduo, mas o conjunto de pessoas que participam do processo”. O autor refere que Freinet organizava, como trabalho educativo, saídas diárias com os alunos da escola, para apreciar a vida, observando os trabalhadores na realização de suas tarefas, o céu, os pássaros, e traziam para a aula muitas riquezas para serem, comparadas, avaliadas, compartilhadas e pesquisadas. A partir desse estudo ficou clara a possibilidade de desenvolver uma educação transdisciplinar visto que, as salas de aulas propostas na pedagogia descrita por Freinet se aproximam de uma comunidade e da sociedade, na qual os alunos participam da 123 elaboração das regras, das resoluções dos conflitos para alcançarem os objetivos dos seus próprios projetos. A pedagogia de Freinet busca construir por meio do processo educativo uma escola viva e feliz, onde as experiências vividas tenham representações tão significativas que possam transcender os muros escola (ELIAS, 2004). Estabeleceu-se, durante a reunião, que a “aula passeio”, descrita por Freinet seria uma das estratégias a ser utilizada como recurso para a aprendizagem cooperativa e que também seria dada a oportunidade aos alunos de participar das decisões a respeito das propostas de atividades a serem desenvolvidas na semana. A proposta de “aula passeio” apresentada por Freinet (1998), foi uma estratégia a ser desenvolvida numa ação compartilhada entre a professora de Educação Física e as professoras polivalentes e eu para contemplar a busca por uma educação pautada na transdisciplinaridade. Para Freinet (1998), a experiência de vivenciar as “aulas passeios” possibilita ao aluno sentir todo o seu ser, com toda a sua sensibilidade, pois, num clima não escolar, o aluno alcança espontaneamente formas de relação diferentes das aulas convencionais. Em relação à importância das experiências vividas, Freinet (2004) relata: Ninguém pode comer por nós; ninguém pode substituir-nos na necessária experiência que termina pelo andar a pé ou de bicicleta. Infeliz educação a que pretende, pela explicação teórica, fazer crer aos indivíduos que podem ter acesso ao conhecimento pelo conhecimento e não pela experiência. Produziria apenas doentes de corpos e do espírito, falsos intelectuais inadaptados, homens incompletos e impotentes, pois, quando crianças, não jogaram sua parte de pedras no rio (FREINET, 2004, p.53). Estabeleceu-se que a finalização das discussões, ações e reflexões no próximo encontro apoiar-se-ia nos referenciais teóricos pré-estabelecidos durante as investigações e que cada professora utilizasse, durante as semanas, além das “aulas passeio”, outros momentos 124 significativos que pudessem criar possibilidades de práticas cooperativas de acordo com os conteúdos programáticos de cada série, registrando as observações para a discussão final. Propus que cada participante estruturasse uma justificativa para a permanência das práticas cooperativas na escola e para a aproximação dos conteúdos específicos da Educação Física aos conteúdos estabelecidos nas aulas das professoras polivalentes, visando a compartilhar os resultados obtidos na Pesquisa-ação realizada na escola. A elaboração da proposta de “aula passeio” a ser realizada com os alunos está descrita no plano de ação. PLANO DE AÇÃO No quarto seminário, o plano de ação foi elaborado a partir dos relatos das professoras sobre a rotina vivenciada ao longo das semanas que intercalaram as reuniões. De imediato foi reconhecido, pelo grupo de professoras, o valor das práticas cooperativas no ambiente da sala de aula. A partir das leituras e discussões sobre as propostas de Freinet (1998; 2004) e Elias (2004) a respeito da “aula passeio”, iniciamos o planejamento das atividades, acreditando ser essa uma possibilidade de efetivar as experiências vividas pelos alunos. Como sugestão da professora da 1ª série, utilizamos, para o desenvolvimento da “aula passeio”, o tema “Coisas belas da vida” (ANEXO 17). Esse tema foi uma experiência vivenciada no curso de pós-graduação que a professora da 1ª série participava. Ao observarmos a riqueza do planejamento, foi possível ampliar as experiências das aulas fora das salas com outros conteúdos programáticos. Em determinado momento do planejamento, encontramos, no livro de Ciências da 1ª série, uma orientação para os alunos saírem das salas e observarem o ambiente escolar (pátio, 125 estacionamento, gramado, céu, chão, etc.). Utilizamos mais uma vez como recurso pedagógico, a “aula passeio” integrando o conteúdo de Ciências às atividades das aulas de Educação Física (ANEXO 18). Para a turma do introdutório elaboramos atividades que contemplassem os conteúdos de Ciências sobre alimentação e higiene com as atividades de dramatização no espaço das aulas de Educação Física. Denominamos essa atividade de “O Urso” (ANEXO 19). Nas duas turmas, para o trabalho com os valores humanos, planejamos a confecção de um grande painel, no qual, os alunos deveriam carimbar as mãos, representando a união da sala. Dentro de cada mão carimbada, colariam uma etiqueta com um valor escrito (ANEXO 20), formando um trabalho coletivo que posteriormente seria exposto no pátio. A partir da confecção do painel, os alunos realizariam, nas aulas de Educação Física o pega-pega valores (ANEXO 21), novamente integrando os conteúdos. O desafio cooperativo com raquetes de frescobol (ANEXO 22), avião de papel que carrega valores (ANEXO 23), festa na floresta (ANEXO 24), contorno, características pessoais e recorte do corpo humano - livro de Português (ANEXO 25). SEGUNDO MOMENTO -Relatos dos atores no segundo, terceiro e quarto Seminários e nas observações durante as aulas -Plano de ação, expectativa e coerência nas ações educativas propostas pelas professoras -Reflexão e Discussão sobre as teorias Apresento os dados coletados durante o segundo, terceiro e quarto seminários e também durante a minha participação nas aulas. Foram selecionados trechos das falas dos atores da pesquisa registrados no caderno de campo e nas gravações dos seminários, buscando no segundo momento da análise a possibilidades de compreender o processo de descobertas dos 126 atores da pesquisa, assim como, a coerência das práticas cooperativas realizadas nas ações formativas idealizadas pela instituição. A análise dos dados deu suporte ao estudo revelando que as situações em que o diálogo e as reflexões com a minha mediação, tanto nas atividades práticas, quanto nos estudos teóricos, possibilitaram descobertas para todos os participantes. Além de propiciar um espaço de compreensão da realidade por meio de descobertas compartilhadas, a convivência e o envolvimento tornaram-se um jogo para os atores da pesquisa onde compreender o outro resultou em um compreender-se (GADAMER, 1997). Professora 1: (...) “nossa... tá difícil hoje eu perdi a paciência... eles só brigaram, ninguém coopera nem respeita ninguém, eles tavam agitados... tive que parar pra mudar tudo...tem também aquelas crianças que não participam da aula de jeito nenhum...eu não sei o que eu faço com elas...”. (...) “agora que elas tão fazendo a atividade parece que ficou mais fácil a gente explicar o que é o Jogo Cooperativo e até parece possível elas fazerem na sala de aula. (...) “é engraçado, eu sempre dou essa atividade... agora eu fico olhando e reparando um monte de coisa que tá acontecendo... a gente vai vendo de dentro e de fora dela... tudo o que eles fazem tem mais sentido pra mim”. (...) “eu reparei que a sala da P2 é mais tranqüila... essa atividade deu mais certo...foi super legal todo mundo quis participar...prometi pra eles que vai ter de novo”. (...) “na roda da conversa todos queriam falar... a gente ficou mais tempo discutindo o que aconteceu no jogo do que jogando, mas eles não queriam parar ai eu deixei... foi bom... todo mundo deu opinião sem brigar...” 127 (...) “a gente já mudou essa brincadeira um monte de vezes, mais, assim que eles gostam mais, todo mundo joga ...”. (...) “nossa, você viu a atenção deles na hora da explicação... fizeram tudo que a gente combinou... essa sala é ótima, né... parece que eles tão mais calmo, tão entendendo melhor as coisas, eu senti uma diferença neles...” (...) “eu queria fazer com as duas salas alguma atividade legal... que fosse junto com a matéria deles, a P2 disse que tem uns temas que dá pra trabalhar junto com a Educação Física...Acho que a gente consegue pensar em alguma coisa, né! (...) “eu vi quando eu cheguei na sala que, as professoras tão usando os grupos da Educação Física nas aulas na sala também. Acho que fica mais fácil, porque cada criança já conhece o amigo e o grupo que tá trabalhando, assim eles se organizam mais rápido pra começar a aula. Tanto na quadra e como lá na sala também. (...) “fico pensando em tudo que tá acontecendo...presto atenção na aula, no lanche, no recreio e fico vendo o que a gente vai conversar depois...cada coisa que acontece parece que tem motivo, as professoras também conversam mais sobre os alunos. Alguma coisa já mudou, né! (...) “quanta coisa é da Educação Física e a gente ficava distante... a aula era da professora de sala e a gente era pra fora é bom esse planejamento onde uma sabe o que a outra tá preparando pros alunos... eu venho pra cá cheia de idéia...”. (...) “naquela atividade de escolher a brincadeira predileta, e organizar o gráfico, foi difícil eles se decidirem cada um queria uma brincadeira...acho que a participação deles é difícil porque um não quer deixar o outro escolher, ...todo mundo quer fazer do seu jeito, né! ... eu precisei falar pra eles deixarem o amigo escolher porque a atividade era do grupo todo...”. 128 (...) “sempre fico pensando se eu não tô sendo autoritária demais, às vezes eu quero que eles sejam cooperativos a força...isso não da certo, né! São eles que tem que perceber que essa briga toda, sei lá... disputa exagerada na aula só atrapalha as brincadeiras... é engraçado, só dá pra pensar nessas coisa se a gente parar um pouco pra isso...”. (...) “quando eles começaram a brigar eu lembrei daquele texto do conflito.. .fiquei pensando o que podia ser bom naquela hora...que jeito que eu ia fazer pra ajudar a resolver...deixei eles falarem até o fim, depois fui falando devagar com os dois, até eles acalmarem pra conversar...”. (...) “esse livro do Velazquez que a gente tá vendo, eu já li, mas acho que agora é o momento pra eu ler de novo...Tem um monte de coisa ai, que eu tô entendendo melhor agora que a gente tá conversando sobre isso juntas”. (...) “eu queria falar sobre a minha aula... nesse texto (Demo,2002) eu fiquei em dúvida daquilo que a gente faz e o que tá pensando em fazer... seria bom saber de vocês qual é a minha aula ? né! (...) “pode ler e estudar tudo isso ai, mas se não olhar a realidade da escola, ninguém vai conseguir fazer nada nem aqui, nem lá fora... tem muita informação que tá só no papel, os professores não mudam só porque alguém mandou mudar...”. (...) “se elas quiserem fazer esse tipo de aula (passeio), eu acho ótimo, dá pra trabalhar junto os conteúdos... pode ser no meu horário, daí eu explico pros alunos que a aula vai ser diferente... pra eles é bom ser diferente...”. (...) vou trazer no próximo encontro meu caderno de atividades pra gente ver o dá pra fazer juntos... me empresta o livro (didático) que eu vou pensando se dá pra trabalhar algum conteúdo na aula de Educação Física...”. 129 No relato da P1 percebe-se a dificuldade da professora em relação à compreensão do motivo que leva os alunos a se comportarem de forma agressiva e desrespeitosa em determinada situação da aula. Aponta preocupar-se com sua falta de paciência em lidar com os alunos que não se comportam como o esperado por ela, declara também, não saber como agir com algumas crianças que se recusam a participar das aulas, pois, tem dificuldade para compreender os motivos que levam a isso. Ao dizer que interrompeu a atividade mudando a proposta da aula frente ao comportamento inadequado dos alunos, não foi possível avaliar se a interrupção da atividade está relacionada à percepção de que a aplicação da proposta não correspondeu à intenção inicial da professora ou se a P1 interrompeu para punir os alunos pelo comportamento inadequado. Entretanto, em outra situação a professora é clara ao dizer que interferiu na atividade ao perceber que o grupo de alunos não estava agindo de forma cooperativa, pois, estavam se comportando de maneira individualista sem respeitar a decisão coletiva. Em relação aos apontamentos acima, vale lembrar, que a resposta da P1 em uma das questões da entrevista semi-estruturada está relacionada ao fato da professora considerar que o seu comportamento nas aulas interfere diretamente no comportamento dos alunos. Nas observações em campo, verificou-se que em determinados dias a professora demonstrou estar mais estressada e impaciente frente às atitudes dos alunos, em conseqüência disso, a resposta destes alunos não contemplavam os objetivos das aulas e, portanto, não satisfaziam a expectativa da professora. Verifica-se que os relatos da P1 apontam para o fato de que as possibilidades de trabalhar com as atividades cooperativas na escola auxiliam os professores permitindo a eles observar e avaliar os aspectos relacionados à formação humana. Declara que o trabalho realizado pelas professoras com as práticas cooperativas em sala de aula permitiu as professoras 130 polivalentes, conhecer os valores e os pressupostos dos Jogos Cooperativos, realizado até então, apenas nas aulas de Educação Física. A P1 relata que a partir das reflexões realizadas durante os seminários, passou a observar mais os espaços da escola, reconhecendo em alguns momentos à efetividade das práticas cooperativas, valorizando na sua fala atitudes e comportamentos dos alunos na nova estruturação das aulas desenvolvidas conjuntamente com as duas professoras P2 e P3. Destaca em seus apontamentos que os resultados positivos esperados são apresentados principalmente pelos alunos da sala da P2. P1 reconhece valores de formação humana nas atitudes positivas dos alunos incluindo os momentos observados para além das suas aulas como o refeitório e a hora do recreio. Os aspectos positivos apontados pela professora estão relacionados à atenção dos alunos, ao cumprimento de regras combinadas pelo grupo, a resolução de conflitos durante e após as aulas na roda da conversa, e na participação coletiva durante a transformação das brincadeiras. Após destacar que a Educação Física era algo distante das outras disciplinas e que por isso trabalhava sozinha, a P1 demonstra-se naquele momento motivada pela respostas atitudinais dos alunos durante as atividades e por considerar que as professoras polivalentes estavam envolvidas com o processo de transformação das propostas, constatando que utilizaram por iniciativa própria a mesma estratégia de agrupamento das aulas de Educação Física, na rotina em sala da aula. P1 declarou durante os seminários, a satisfação em efetivar o planejamento conjunto com as duas salas, dizendo-se cheia de idéias, e considerando que ter percebido algumas mudanças com as experiências do trabalho cooperativo conjunto. Em relação aos estudos realizados no seminário muitos apontamentos foram significativos para análise. Percebeu-se que a P1 em vários momentos remete-se aos textos lidos para contextualizar suas idéias e suas inquietações. Em relação ao tema gerador “resolução de 131 conflitos”, destacou a leitura de Vinha (2000) e Tognetta (2003) relatando que durante uma situação real em sala de aula remeteu-se aos textos sobre o assunto, lidos no seminário. Em sua argumentação P1 revela que se preocupa com sua postura autoritária relatando que em alguns momentos, se percebe tentando impor aos alunos comportamento cooperativos. Na fala da P1 torna-se fundamental que haja percepção e conscientização dos próprios alunos a respeito de que o excesso de competitividade nas atividades incomoda e atrapalha. A importância dos termos percepção e conscientização também podem ser transportadas para a argumentação da P1 sobre a afirmação de que nada vale muita leitura e estudo se os professores não estão comprometidos com as a realidade em questão. Portanto, declarou que todo professor deve ter consciência e comprometimento com o seu papel educativo, pois, sem isso não existe ordem superior que os fará envolver-se com a possibilidade de mudança. Posteriormente nos estudos realizados sobre as diferentes propostas de aulas elucidadas por Demo (2002) a P1 pediu auxilio para P2 e P3 na tentativa de reconhecer qual proposta de aula era a sua. Pode-se considerar que, a partir das discussões e reflexões realizadas nos encontros, a professora de Educação Física passou a observar mais atentamente tudo o que acontecia ao seu redor, relatando a necessidade de ler novamente o livro de Velazquez (2004) sobre a Cultura da Paz, revelando que no momento atual uma “nova leitura” possibilitaria “novas descobertas”. Em relação ao planejamento coletivo P1 dispõe-se a compartilhar os horários das aulas de Educação Física com as outras professoras. Sugestiona também trocas do material das estratégias dos Jogos Cooperativos com os conteúdos dos livros didáticos das professoras. Para 132 esse espaço de novas experiências refere-se à possibilidade de elaborar as aulas passeio de Freinet para serem vivenciadas no ambiente escolar. Professora 2: (...) “eu vejo que, não é todo tempo que eu consigo trabalhar com os grupos... tem atividade que eu tenho dificuldade, não consigo um olhar mais individual pra cada aluno, daí eu peço pra eles sentarem em dupla de novo e vou acompanhando”. (...) “eu chamo meu trabalho de jornada... vou caminhando com os alunos e ensinando muitas coisas pra eles... eu me vejo plantando sementes, porque eles ainda são heterônomos por natureza, eu sei que é normal eles serem assim... meu papel é ensiná-los a dar opinião, evoluir, conversar, aprender e respeitar as regras do ambiente que eles vivem. Eu chamo da construção da autonomia... mas pra isso é preciso estudar e ler...”. (...) “a “voz do coração” fez um super sentido na minha sala... eles lembram e pedem na hora que eu chego... todo dia tem um diferente do grupo que fica responsável e eles respeitam...pra mim ficou ótimo!” (...) “a gente podia fazer junto o “dia do índio”... tem um monte de atividade no livro que da pra fazer junto na Educação Física...” (...) “acho a minha sala boa, eles são dispostos, alegres, companheiros mesmo... naquela atividade da “aula passeio”, todos ajudaram aqueles que não sabiam escrever... na construção da escrita isso é muito importante... o jeito que eles fazem o amigo entender é diferente da gente...”. (...) “eu li as cartas... eles tão falando pros outros o que gostam e o que não gostam..tem .um monte de coisas deles e da sala...mas tem um alunos que eles reclamam que não recebem 133 cartas... eles ficam bem chateados... o que a gente vai fazer com esses que nunca recebem nenhuma carta?”. (...) “não foi tão difícil montar os grupos porque eu sempre trabalho com grupos na nossa sala, eles até que estão organizados pra isso...”. (...) “se eu puder ajudar em alguma coisa vocês falam tá... eu fiz um curso sobre resolução de conflito e tem algumas coisas que dá pra eu passar pra vocês”. (...) “muita coisa da Educação Física eu já uso nas aulas, mas dos Jogos Cooperativos eu queria aprender como faz para mudar o ambiente. Até mesmo esse tema gerador que a gente chama de resolução de conflito vai ajudar muita coisa pra transformar o trabalho com as relações entre os alunos. Tudo eu presto a atenção... agora que a gente para pra refletir, eu fico pensando em um monte de coisas pra mudar...”. (...) no texto do Demo...eu também fiquei olhando pra minhas aulas e fiquei pensando nos modelos que ele apresentou, na coerência do que eu acho que eu faço e o que eu peço pros alunos fazerem...na hora das tarefas eu ajudo eles fazerem muitas coisas quando acho que eles são pequenos e não sabem fazer,ainda são pouco questionadores e perguntam muito o que eles tem que fazer... Tô refletindo sobre isso pra melhorar e garantir um aproveitamento maior pelos alunos. (...) “esses textos(Educação para a Paz) tem tudo a ver com o que eu penso, li tudo no mesmo dia... depois te mostro o que eu to anotando, tá! Tem um monte de coisas pra vocês... e também pro pessoal do HTPC...as vezes eu acho que eu perturbo as professoras, tem umas que não gostam de mudança. Falam que tão cansada de tanta proposta que chega tem aqui na escola 134 mas não percebem mudança. Tem outras que gostam de trocar idéias ... a coordenadora é uma delas, sempre vem me perguntar do nosso trabalho...”. (...) “só da gente parar um pouco para refletir já é bom.. a nossa vida na escola é uma correria, e nunca da tempo de nada...eu gosto dessa hora que a gente vem planejar junto e fica lendo esses textos”. Nos apontamentos da P2, percebeu-se logo de inicio que, a relação da professora com os alunos da sala é agradável e harmoniosa. Relata com entusiasmo que os alunos da sua sala gostam de ajudar os colegas nas dificuldades nos ensinamentos da rotina escolar. A professora destaca o fato de que apesar de ser início do ano (março de 2008) e ter pouco tempo de convivência, os alunos não têm dificuldade de relacionarem-se com ela, nem de organizarem-se em grupos quando requisitados. Entretanto, P2 revela na sua argumentação, que em certos momentos não consegue trabalhar com grupos, pois sente dificuldade de acompanhar individualmente cada aluno. Declara compreender seu trabalho como uma jornada na educação dos alunos, considerando que eles são sementes plantadas por ela. Descreve os alunos como seres heterônomos enaltecendo a importância dos seus ensinamentos na construção da autonomia desses alunos. Alguns trechos retirados das falas da P2, relatam aspectos positivos a respeito dos conteúdos programáticos serem desenvolvidos com as propostas cooperativas realizadas durante as aulas de Educação Física, e também propõe outras possibilidades para o planejamento coletivo. 135 Considerando o papel da teoria nos aspectos de formação humana a P2 declara ter experiência sob o tema de resolução de conflito, proposto no primeiro encontro como “tema gerador”. Relata que estudou sobre o assunto e coloca-se a disposição em compartilhar seu conhecimento. Valoriza a possibilidade de planejar e refletir conjuntamente a partir dos textos apresentados pela pesquisadora, faz apontamentos pertinentes para o grupo nas reuniões, relatando que em casa, lê entusiasmada o material disponibilizado. Declara perceber as vantagens com trabalho conjunto considerando o tempo ser curto para realização de todos os planejamentos e conteúdos programáticos estabelecidos pela coordenação da escola. Os relatos da P2 ilustram com pesar, a tentativa em compartilhar as nossas experiências com as estruturas cooperativas, nas reuniões pedagógicas da escola (HTPC), porém algumas professoras demonstram resistência, justificando a sua falta de interesse, devido ao fato de estarem muitos anos trabalhando na Prefeitura, já passaram por várias propostas novas para educação dos alunos, e portanto, admitem não acreditarem em grandes mudanças no sistema de ensino da Rede Municipal. Na leitura do texto de Demo (2002) a P2 declara pensar e refletir sobre os modelos de aula, sentido-se preocupada com as respostas dos alunos a cada diferente experiência. A professora realizou após a leitura do texto uma análise sobre qual modelo de aula estaria mais adequado aos seus objetivos. Em seus argumentos, pode-se constatar que a P2 considera sua participação nas aulas dinâmica e efetiva, justificando que, os alunos são pequenos e dependentes demais, pedem ajuda para tudo. Verificou-se por intermédio das observações das aulas e da argumentação da P2 que a ela reconhece a importância das aulas de Educação Física e que propõe em suas aulas algumas atividades que valorizam os movimentos, a expressão, brincadeiras e jogos para as crianças. Portanto, considera-se pertinente, sua argumentação a respeito da necessidade de mudanças 136 significativas no ambiente, intencionando aprofundar os estudos sobre a aprendizagem cooperativa e os Jogos Cooperativos na escola, melhorando assim o seu trabalho e conseqüentemente o aproveitamento dos alunos. Professora 3: (...) “eu lembro das atividades da faculdade, mas agora que eu tenho que planejar atividades cooperativas acho melhor a gente fazer junto ...eu fico meio perdida olhando os alunos nos grupos...sai daquele jeito que eu tava acostumada”. (...) “eu acho que eu respeito os alunos, eu converso sempre que surge um problema entre eles...se precisar eu paro a atividade e começo a conversar, acho que todos tem que participar e refletir e chegar a um acordo...mas sem brigar!”. (...) “ nesse trabalho cooperativo tem muito diálogo, né! E no diálogo com os alunos aparecem um monte de assunto que a gente pode trabalhar com eles...a cabecinha deles é cheia de curiosidades... eu acho um desafio descobrir isso deles...”. (...) “nessa semana eu vou sair mais com eles pro pátio, a sala é super numerosa e não dá pra fazer muita aqui dentro porque é muito apertado...eu também quero assistir as aulas de Educação Física, os alunos adoram... acho que lá é um lugar bom pra eles...aqui na sala eles não podem fazer as coisas que seriam legal pra eles nessa fase...”. (...) “eu gosto de ler sobre os Jogos Cooperativos eles são coisas que tão no mundo, né!... eles não são só pra professor né!,... eu vejo isso com meus filhos...na educação deles a gente não olha muito pra isso...”. (...) “o texto da Telma mostra que, trabalhar a cooperação ajuda no limite das crianças, na disciplina... eu acho que vou ler o livro todo pra entender melhor aquela sala...”. 137 (...) no texto(Demo) a gente vê que as experiências concretas tem mais resultado, porque não é o professor que tem todo o conhecimento com ele e fica só falando nas aulas expositivas...eu fiquei pensando nisso naquele dia da nossa aula juntas lá fora com as crianças e lembrei da faculdade...era muito chato uns professores que só tinham o discurso pra passar pra gente”. (...) “não sei direito como eu sou...sinto que sou produtiva, sensível... gostaria de ser mais critica e tolerante...as vezes não cumpro o que falo que vou fazer...olhando o texto (Demo) eu achei difícil e fiquei em dúvida de como eu sou como professora?...que aula eu dou?...”. (...) “nossa! a gente não acha que existe “conflito positivo”, mas lendo o texto (Coll) eu entendi que é isso mesmo que os alunos fazem, ficam discutindo seu ponto de vista, sua vontade... é importante a gente ficar prestando a atenção no que eles falam, né! :esses dias que eles sentaram nos grupos eu ficava só ouvindo tudo o que eles falavam entre eles...cada atividade eles falam de coisas diferentes”. Tanto as observações nas aulas quanto as colocações da P3 demonstram claramente que a professora realiza frequentemente auto-reflexão sobre sua prática docente, demonstrando insegurança ao fazer referência ao início do trabalho e os resultados esperados com as ações educativas realizadas nessa escola. Declara que trabalha com a leitura todos os dias com os alunos, pois, adora ler e que a leitura é muito importante para o aluno. Considerando que a professora pronunciou várias vezes durante as conversas priorizando a opção de trabalho a partir da leitura, conclui-se que age, a partir de uma preferência pessoal enfatizando como necessidade primordial dos alunos. Em contraposição, vale destacar que no processo da aplicação das novas estratégias a P3 modifica seu discurso considerando que a alfabetização vem com o tempo e nessa fase os alunos devem brincar e viver experiências concretas de liberdade e movimento. 138 Em seu relato no segundo encontro, P3 pede auxílio a pesquisadora para o planejamento e para ações a serem realizadas em sala, justificando que fica perdida olhando para os alunos, pois, não está acostumada com a nova situação. A respeito das relações com os alunos a professora se vê como uma profissional que respeita os alunos, valorizando o momento de conversa quando necessário. Em determinado momento da aula argumentou sobre a vantagem das práticas cooperativas, apontando perceber que o diálogo que emerge dos alunos é proveitoso e traz novos assuntos a serem trabalhados na sala de aula enfatizando que os alunos têm muitas curiosidades para o professor descobrir. Verifica-se que já no início do processo investigativo P3 declarou para o grupo perceber que as leituras sobre Jogos Cooperativos, como uma expressão do mundo, não só das suas aulas, faz imediatamente um referência à importância dos valores humanos na educação dos seus filhos. Vale destacar, o privilégio pronunciado pela professora a respeito da possibilidade de trabalhar com os alunos nos espaços externos da escola. Declara ser o pátio o local mais indicado para o trabalho com os alunos nessa fase. Aponta a sala apertada demais para o número excessivo de alunos. Ressalta em sua fala que, deseja assistir as aulas de Educação Física, pois, os alunos adoram. Pode-se concluir que a partir das leituras realizadas nos seminários a P3 partindo da investigação das suas próprias ações educativas, desencadeou um processo de autoconhecimento e de transformação pessoal e profissional. Nas leituras do referencial teórico apresentado nos encontros verificou-se que P3 compromete-se a realizar estudos para compreender melhor o seu papel e também os alunos da 139 sua sala. Considerando as leituras do texto de Demo (2002), declara explicitamente que se percebe sensível e produtiva, porém, não sabe definir o seu modelo de aula. Posiciona-se ao afirmar que todo o conhecimento transmitido na aula não está com o professor, relembrando com crítica os momentos vividos nas aulas da faculdade onde o professor apenas discursava para os alunos, tornando a aprendizagem dos conteúdos desinteressante e sem significado. Verificou-se na observação das aulas que em algumas situações no início do trabalho com as novas estruturas cooperativas, P3 demonstrou resistência em posicionar as carteiras em agrupamentos em quartetos, justificando sua dificuldade com o barulho e com a agitação dos alunos. Entretanto, ao longo do processo de transformação das práticas, das leituras nos encontros e da auto-reflexão, pode-se concluir que a professora identificou no diálogo dos alunos, nos conflitos e nas discussões em grupo novas possibilidades de resolver os problemas, conhecer o ponto de vista e as vontades, interesses e dificuldades dos alunos. SINTESE 2 Elaborada a partir da análise dos relados das professoras P1, P2 e P3 durante o segundo, terceiro e quarto seminários e da fala das professoras registradas durante os momentos de observação nas aulas. Foi possível identificar que, durante os planejamentos, ações e reflexões existiram momentos de oscilação sobre a percepção do papel que cada participante desempenha na educação dos alunos, e de suas próprias atitudes em resposta às implicações e às mudanças nas estruturas das aulas. Percebeu-se nos discursos das professoras e nas observações da pesquisadora durante as aulas, diferentes reações apresentadas pelas professoras, frente às respostas dos alunos, decorrentes das novas situações vivenciadas. Para a P3, por exemplo, no início das atividades cooperativas, houve resistência da professora para realização do agrupamento dos quartetos, 140 justificado pelo incômodo relatado por ela, causado pelo barulho produzido pelos alunos. As argumentações da P1 no segundo seminário decorreram sobre sua decisão em interromper determinadas aulas e modificar a atividade, devido à resposta não satisfatória apresentada pelos alunos, ora por falta de respeito ao próximo, ora pela recusa em desenvolver a atividade proposta. A atitude de interromper a aula, tomada pela P1, refletiu no seu entendimento, em dúvidas e conflitos internos, impossibilitando-a de avaliar sua reação de impaciência e autoritarismo. Verificou-se na argumentação final que, a professora não sabia o que fazer ou como agir com o fracasso na expectativa dos resultados das suas propostas de aulas. Entretanto, no processo investigativo, reflexivo durante o terceiro seminário, P1 ao se referir sobre significado da sua intervenção autoritária sobre o comportamento dos alunos, adverte com uma autocrítica, compreendendo que não adianta impor sob poder, ordem, punição o comportamento e a atitudes dos alunos, enfatizando que, para que haja efetividade na mudança esperada, é necessário trabalhar a partir da percepção e conscientização dos próprios alunos sobre suas ações. Destaca-se que, as P1 e P2 no terceiro seminário ressaltaram as mesmas críticas às propostas educacionais criadas exclusivamente pelo poder operante da instituição, declarando que tudo que é imposto e não construído coletivamente através da leitura da realidade e da necessidade do sujeito, não possibilitará mudanças almejadas no âmbito educacional. A partir dos argumentos citados, destaca-se os apontamentos Freire (1987) revelando que, as decisões que afetam as pessoas devem ser tomadas de maneira participativa por meio do diálogo. Para Freire (1991) todos sabemos de algo e ninguém tem a verdade absoluta sobre as coisas. As pessoas devem participar das decisões e ter o direito a suas escolhas, devem buscar a consciência crítica, estimulando a reflexão e a ação do homem sobre a realidade, promovendo assim a transformação. 141 Ainda sobre as mudanças a partir da conscientização, apresento os apontamentos de Delores (1999) em que o autor declara que, a educação, é um processo de construção contínua, realizado ao longo da vida, possibilitando ao educando refletir sobre a sua capacidade humana de discernir e de agir, levando a tomar consciência de si, do meio que o envolve, das suas ações e do seu papel social no mundo. Portanto, educar sempre foi e continua sendo uma tarefa eminentemente social. Ressalta o autor que, o saber, o saber fazer, o saber viver juntos e o saber ser, estão intimamente ligados numa mesma realidade dentro da educação. A possibilidade de dialogar sobre as práticas educativas durante os segundo, terceiro e quarto seminários contribuíram efetivamente para avaliação dos aspectos positivos das práticas cooperativas na educação, ao constatar a efetividade sobre o trabalho com formação humana relacionados à escola e a vida do aluno como possibilidade transdisciplinar. Segundo Severino (2002, p.27) a “transdisciplinaridade é um novo modo de pensar e de construir conhecimento.”. É também uma maneira de compreender a realidade a partir de “um novo modo de conhecer e de praticar o ensino e aprendizagem e de conhecer o conhecimento. Para o autor esta é a “(...) concepção epistêmica e educacional.”. Portanto, a escola e a vida devem religar os saberes, recontextualizar o que ensinamos e o que aprendemos, devem também desenvolver pesquisas, criação e diálogo, recuperando o sentimento de sujeito da cultura e da história. O autor destaca que “nas relações de ensinar e aprender, cresce a necessidade de redescobrir o entusiasmo com o conhecimento, o desejo ardente de aprender, a alegria de pensar critica e criadoramente.”. A partir das reflexões conjuntas, P2 argumenta em seus relatos, a necessidade de mudança na estrutura das aulas e de todo ambiente educativo. As três professoras reconhecem os valores do planejamento compartilhado, e como sugestão da P1 combinam a troca de material entre elas, como por exemplo, o livro de atividades cooperativas da professora de Educação 142 Física com os livros didáticos das professoras polivalentes oferecidos pela coordenação da Rede Municipal. Vale destacar, o fato das três professoras terem como intenção, desenvolver os conteúdos de maneira compartilhada entre as disciplinas propostas para as salas de aulas e os conteúdos da disciplina de Educação Física realizados nos espaços externos como o pátio, o jardim e a quadra da escola. Viver o aprendizado compartilhado nos remete a Freire (1996), segundo o autor, na educação emancipatória e problematizadora é necessário a presença de educadores criadores, investigadores, inquietos, humildes e persistentes, dispostos a realizar experiências de produção coletiva e não a apenas transferir conhecimento aos educandos. Para Freire (1996, p.90) pesquisar é fundamental, pois, não há ensino sem pesquisa, portanto, o educador só ensina porque busca conhecer o que ainda não conhece, compartilha experiências com o educando, e nesse processo, indaga e se indaga, educa e se educa numa relação de homem e mundo. Portanto, o educador comprometido com a educação dos seus alunos, deve estar determinado a conhecer além dos conteúdos programáticos das diferentes disciplinas, “a maneira mais aberta, dialógica ou mais fechada, autoritária,” que os outros educadores atuam na sua escola. Nas minhas observações durante as semanas em que participei das aulas, foi possível perceber a efetividade nas atividades aplicadas pelas professoras em relação a construção e aplicação coletiva do plano de ação, compartilhando os conteúdos das diferentes disciplinas com as professoras responsáveis pelas aulas. Como relatado nas falas das professoras P1 e P2 a expectativa do trabalho integrado pelas professoras foi positiva resultando em responsabilidade e comprometimento individual e coletivo pelos alunos e pelas professoras participantes. Verificou-se que, planejar e executar atividades conjuntamente, compartilhando os conteúdos, realizando as tarefas, ora nos horários da Educação Física, ora nas práticas das 143 professoras polivalentes, resultou em mais tempo disponível para o cumprimento do planejamento estabelecido pela instituição, além de propiciar vantagens no sentido de reconhecer a participação e o desenvolvimento integral do aluno. Destaca-se que, foi a partir das experiências práticas realizadas nas primeiras semanas da pesquisa que, as professoras tiveram condições de conhecer o papel e os pressupostos dos Jogos Cooperativos na Educação Física escolares. P1 declara que, a vivência da proposta com formação dos grupos cooperativos pelas professoras polivalentes resultou na compreensão do sentido e significado dos Jogos Cooperativos, revelando-se motivada ao perceber que as professoras polivalentes manifestaram-se por iniciativa própria, trabalhar com os grupos em diferentes momentos das aulas mesmo sem a participação e o direcionamento da pesquisadora e/ou da P1. Como pesquisadora participante, afirmo ter presenciado grande parte do processo de investigação e de descoberta da P2 e da P3 sobre a estratégia de ensino pautada na cooperação entre os alunos, reconhecendo a influência das experiências realizadas, no contexto pessoal e profissional de cada professora. Portanto, ler, estudar, refletir, compartilhar e agir permitiu a P2 e P3 observar e avaliar a efetividade do trabalho cooperativo inserido na rotina das aulas, valorizando os aspectos positivos das ações educativas planejadas e realizadas. Partindo do princípio que educação e cooperação são duas práticas sociais e que, de certa forma, uma contém a outra, espaço educativos cooperativos podem se tornar um lugar privilegiado considerando que “na educação pode-se identificar práticas cooperativas e na cooperação pode-se identificar práticas educativas.”. Vale destacar que, as duas possibilidades exigem dos atores uma comunicação de interesses e objetivos, a respeito da argumentação e da decisão a ser tomada frente à necessidade de transformação da sociedade (FRANTZ, 2001, p.1). 144 Com o envolvimento das professoras polivalentes na aplicação das atividades cooperativas, P1 declarava nos encontros estar motivada e cheia de ideias. Destaca-se em especial a satisfação pronunciada em realizar o trabalho na sala da P2. Na argumentação da P1 a respeito da sua preferência pela sala da P2 justifica-se pelo resultado do trabalho da P2 ao proporcionar aos alunos, um ambiente harmonioso, reconhecendo que as atitudes de boa convivência são consideradas aspectos facilitadores para o trabalho com formação em valores. Pode-se destacar na fala da P2 que a participante acredita que, seu papel é o de trilhar com o aluno uma jornada na busca do conhecimento, reconhece os alunos como sementes, as quais deve cuidar e observar conduzindo para o desenvolvimento saudável. A posição apresentada pela professora nos remete aos apontamentos de Freire (1991) ao considerar que o educador não deve controlar a vida do aluno, dizer a ele como deve pensar e agir no mundo que o cerca. Para o autor, o papel do educador é propor ao aluno conteúdos de estudo visando à reflexão e à ação sobre a realidade em que vivem, enfatizando a necessidade do compromisso com a transformação dessa realidade. P2 aponta que contribui com o processo de educação de cada aluno, declara participar efetivamente da construção da autonomia dos alunos, já que os considera ainda seres heterônomos pela idade que tem. Relata que os alunos da sua sala pedem ajuda em muitas situações e que reconhece a importância da sua participação na construção da autonomia desses alunos. Sobre o relato da professora na participação da construção da autonomia dos alunos vale destacar os apontamentos de Freire (1996). Para o autor, a prática educativa é um exercício constante em favor da construção da autonomia dos educandos e dos educadores, advertindo que, no trabalho com crianças pequenas, o professor deve estar atento a passagem da heteronomia para autonomia, pois a sua presença pode ser positiva ou negativa, e pode também, auxiliar ou 145 perturbar a busca inquietante dos educandos pelos saberes. Portanto, o professor deve saber que “ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando” deve saber também que, exige uma prática coerente onde “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros.” (FREIRE, 1986, 1996, p.59). A partir das leituras de Demo (2002), verificou-se nas falas das P1, P2 e P3 que as professoras demonstraram interesse em refletir sobre suas ações, sua postura, e seu papel relacionando suas atitudes ao modelo de aula propostos por elas. Nas argumentações das professoras P1 e P3 verificou-se dúvidas sobre suas propostas de aulas e sobre sua atitude frente às situações conflitantes e perante os alunos que não correspondem às suas expectativas durante as aulas. Em especial percebeu-se uma inquietação maior na fala da P1 demonstrando-se insatisfeita com as suas próprias atitudes autoritárias frente à sala e/ou a determinados alunos. A professora declara ter consciência de que a maneira como o professor se comporta nas aulas, reflete na atitude dos alunos. Incomodada com a própria argumentação, P1 pede ajuda das outras professoras para identificar seu próprio modelo de aula. Em relação ao comportamento e as atitudes das professoras destaco Freire (1996) ao afirmar que, o que faço, o que falo que faço como educador é minha obrigação e responsabilidade, reconhecer. P2 reflete sobre seu modelo de aula e demonstra sentir-se preocupada seu papel. Para Freire (1996, p.33) “a prática educativa tem ser, em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza”, deve respeitar primeiramente os saber dos educandos, e nunca deixar os caminhos verdadeiros, pelas dificuldades que encontramos na experiência educativa. Sobre as propostas de modelos de aula expositiva ou participante, vale destacar Freire e Shor (1986, p.122) que criticam modelos de aula expositiva, denominado método da 146 transferência de conhecimento, no qual ao aluno é depositado informações trazidas pelo professor, convalidando as relações sociais do poder dominante. Mostram em contra partida, que o ensino contextualizado, desenvolvido pelo aluno através de experiências realizadas por um pesquisador ativo, se opõe ao método passivo de transferência do conhecimento. Ressaltam que saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidade para sua construção. Portanto, a educação é simultaneamente teoria e prática, arte e política, conhecer, criar e recriar. Nessa perspectiva, o diálogo se faz presente possibilitando aos alunos partilharem de diversas realidades e ao selar o relacionamento entre sujeitos cognitivos, pressupõe a escolha individual do aluno na participação ou no silêncio. Nesse sentido, o diálogo é fundamental nas ações educativas e deve ser entendido como algo que faz parte da própria natureza histórica dos seres humanos (FREIRE, 1986, 1987). Sobre a possibilidade do diálogo nas aulas considera-se pertinente os apontamentos das P2 e P3 referentes às dificuldades de desenvolver um trabalho participativo e dialógico devido ao excesso de aluno e a falta tempo e de espaço nas salas de aulas. Vale destacar a fala da P3 ao se referir as lembranças negativas do modelo de aula proposto por alguns professores na faculdade. Segundo Freire e Shor (1987) é nítido o privilégio dos alunos que freqüentam salas de aula menos numerosas, onde, a possibilidade do diálogo, da reflexão e da comunicação mediada pelo professor é maior, influenciando criticamente para a transformação da realidade. Verificou-se que, as situações de conflito intrapessoal e interpessoal identificados nas discussões dos seminários foram relevantes trazendo sempre novas hipóteses, riscos e dúvidas sobre a efetividade da proposta. Porém, ao longo do processo percebeu-se que o comprometimento do grupo gerou amadurecimento no entendimento da leitura da realidade, reconhecendo como possibilidade e necessidade, mudanças nos planejamentos, ações e intenções 147 idealizados pela escola. Desse modo, cabe elucidar os apontamentos de Freire (1996) considerando que, mesmo que o educador não consiga transformar o país, seu papel é mostrar que isso é possível, e que a educação pode não ter a força imbatível a serviço da transformação da sociedade, mas também não deve servir como reprodutora da ideologia dominante. “Se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a educação pode.” (FREIRE, 1996 p.112). 3.2.5. Quinto seminário As discussões no quinto seminário iniciaram a partir das leituras e reflexões sobre o ambiente cooperativo na escola apresentado pelos estudos de Andrioli (2007). O autor relata que a educação é um espaço de reprodução das relações sociais presentes na sociedade, mas também pode ser a possibilidade de transformação dessa mesma sociedade. Considera a educação como um processo social, identifica a necessidade de transformação da sociedade atual e reconhece, no trabalho com as práticas cooperativas nas escolas, possibilidades de mudanças na sociedade a partir da construção de relações pautada nos valores advindos da consciência humana (ANDRIOLI, 2007). A elaboração do plano de ação nesse seminário deu-se, a partir da conscientização dos atores da pesquisa de que a transformação da escola /sociedade é uma necessidade, o que justificou naquele momento, a importância da continuidade de elaboração de ações que possibilitassem tal transformação. Em cada seminário realizado, a elaboração do plano de ação intencionava concretizar as ações na busca da transformação desejada pelos atores da pesquisa. Compartilhamos, então, nesse último, encontro que a elaboração das ações continuariam acontecendo mediante a participação do grupo de professores. Vale ressaltar os apontamentos de Maturana (2000) referentes às experiências dos alunos em relação à formação humana proposta 148 pela escola quando o autor destaca que não basta ensinar valores aos alunos, é necessário vivê-los na convivência com os outros. A partir dos apontamentos citados, pode-se entender que as vivências realizadas nas ações cooperativas possibilitam o desenvolvimento de sujeitos cooperativos, autônomos e reflexivos na escola e na sociedade. Em contrapartida, os alunos conduzidos a uma educação não reflexiva e não compartilhada com os interesses de coletivo poderão não exercer sua capacidade de cooperar, de refletir, tampouco sua autonomia, na escola, ou na vida em sociedade. Gonçalves (2004) salienta que deve haver um olhar crítico e cuidadoso nas propostas referidas pelas escolas, devendo ser elas, condizentes com as necessidades sociais determinadas pelo momento histórico que vive uma sociedade. Por meio de uma participação ativa, transparente e de comprometimento mútuo entre os envolvidos, construiu-se coletivamente, nas reuniões mensais, um ambiente propício para a elaboração de propostas que visam transformar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos e também a construção do conhecimento dos professores. Buscou-se, com a elaboração coletiva dos planos de ação a partir das práticas cooperativas, disponibilizar um espaço de relações interpessoais pautadas na equidade, justiça, paz, cooperação, entre outros valores considerados construtivos para a sociedade atual. Como tentativa de aproximação entre a teoria e a prática educativa, as leituras dos estudos realizados por Andrioli (2007); Bessa e Fontaine (2002) e Carvalho (2003) trouxeram ao grupo de professoras um olhar significativo a respeito da efetividade do trabalho cooperativo já realizado nas escolas no Brasil e no mundo. Num segundo momento, na quinta reunião, discutimos e avaliamos o processo e os resultados da aplicação das atividades cooperativas que foram propostas durante as semanas que 149 intermediaram o quarto e o quinto seminário. O trabalho desenvolvido a partir da elaboração da “aula passeio” serviu como tema gerador da reunião. Refletimos sobre as observações e avaliações das professoras a respeito do comportamento dos alunos e da participação da sala quanto ao aspecto relacionado à construção do conhecimento. Outros temas, como o desenvolvimento da autonomia dos alunos no contexto individual e coletivo, à efetividade nas atitudes cooperativas durante a rotina e a representatividade que tem a formação de valores humanos no cotidiano escolar dos alunos, também tiveram relevância na avaliação do processo pautado nas práticas cooperativas. Percebeu-se, através do diálogo e das reflexões realizadas pelas professoras, a possibilidade de efetivar o trabalho interdisciplinar e transdisciplinar objetivando aproximar e integrar os conteúdos desenvolvidos pelas professoras polivalentes aos conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física e propiciando, por meio de atitudes coerentes com o desenvolvimento integral do aluno, uma visão complexa de ser humano, a qual está explícita nos ideais do PPP da Instituição. A possibilidade de compartilhar com os alunos a elaboração das atividades também desencadeou o tema de interesse para as discussão/reflexões/ações sobre a construção do conhecimento. Identificou-se que o fator positivo na participação da escolha das atividades gerou intenção e significado para os alunos, facilitando a relação de ensino-aprendizagem objetivada pela escola, o que segundo Freire (1996) é essencial para a educação libertadora. PLANO DE AÇÃO Das discussões vivenciadas pelos atores da pesquisa no nosso último encontro, alguns novos problemas emergiram, gerando, assim, novas hipóteses a serem construídas no ambiente educativo. As novas hipóteses que surgiram, deixou, naquele ambiente, a necessidade de transformar sentimentos em ações, sonhos em realidades, limites em possibilidades. A 150 preocupação com o processo de continuidade relacionado à efetividade das ações desenvolvidas na escola foi um dos temas do nosso último seminário. As professoras realizaram questionamentos a respeito do que fariam nos planejamentos das aulas a partir de agora e quais as possibilidades de ampliar o trabalho realizado. A riqueza em compartilhar esses desafios ficou estampada no rosto de cada professora envolvida por seus ideais de sociedade e de ser humano. Nesse último encontro realizado no final do mês de junho de 2008 manifestaram a pretensão de que no próximo semestre, o trabalho com as práticas cooperativas seja novamente integrado aos conteúdos desenvolvidos pelas professoras de sala, e compartilhados aos conteúdos das aulas de Educação Física na estruturação e na mediação do professor durante as situações vivenciadas nas aulas. O tema que as professoras estão organizando para recomeçar o trabalho, após as férias de julho, é o folclore nacional. Para encerrar o nosso último encontro, recorri ao referencial da pedagogia da autonomia de Freire (1996). A riqueza a coerência e a sensatez com que o autor apresenta sua visão a respeito do homem, da educação, da sociedade e do mundo contribuíram para a finalização da minha presença efetiva nas aulas e na escola, confiante da capacidade de emancipação das professoras. No trabalho desenvolvido durante a finalização dessa etapa, as professoras demonstraram compreender a importância e o valor das propostas da aprendizagem cooperativa, apontando, como possibilidade de efetividade das ações, o envolvimento de outras professoras da instituição no processo de formação humana dos alunos/sociedade, por meio das práticas cooperativas. Na elaboração do plano de ação das propostas a serem realizadas na escola, sugeriuse o compartilhar do trabalho desenvolvido durante o semestre, nas reuniões de HTPC, realizadas 151 semanalmente com todos os professores da instituição. Quanto ao plano de ação, definiu-se como tema inicial a ser apresentado nas reuniões de HTPC o trabalho proposto pela UNESCO sobre a Educação do século XXI, que aborda tema sobre a Cultura de Paz e da Educação para a Paz no Brasil e no Mundo - Delors (1999). O plano de ação elaborado no quinto seminário, desenvolveu-se de uma maneira diferenciada dos outros, trabalhamos com a intenção em planejar as propostas de trabalho para o segundo semestre. Para isso as professoras utilizaram os conteúdos programáticos préestabelecidos pela coordenação, referente ao tema folclore nacional. O grupo de atores da pesquisa relataram que pretendem desenvolver no próximo semestre, juntamente com as outras professoras da escola, atividades compartilhadas nas diferentes turmas da escola. Na tentativa de ampliar as possibilidades de interação e ação entre as professoras da escola, as professoras responsabilizaram-se por preparar uma apresentação do trabalho de investigação e ação das práticas cooperativas na próxima reunião de HTPC. Para viabilizar suas ações e intenções, as professoras pretendem utilizar, inicialmente nas reuniões coletivas, os estudos sobre as práticas cooperativas na escola apresentado por Carvalho (2003) e o Relatório da UNESCO organizado por Delors (1999) sobre a Educação para o século XXI. TERCEIRO MOMENTO Relatos dos atores no quinto Seminário e nas observações das aulas: O relato dos trechos das falas dos professores descrito nesse momento é referente ao processo de percepção sobre a efetividade das práticas cooperativas e também sobre o processo de emancipação das professoras registrado na etapa final das minhas observações nas aulas e no último seminário realizado em junho. 152 Categorias: efetividade e emancipação Professora 1: (...) “tem hora que dá certo, mas tem hora que parece que eles não entendem ou não querem...eu conversei com a professora da sala e ela disse que tá difícil lá também...sei lá muita coisa eles trazem de casa...” (...) “vamos experimentar juntar as duas salas....eu acho que eles conseguem participar todo mundo junto...os alunos gostam, fica diferente pra eles...” (...) “agora eu só divido os grupos desse jeito...a gente fala e eles logo organizam, fica bem mais fácil ninguém fica pedindo, brigando que não quer esse ou aquele...até as professoras tão fazendo os grupos assim...”. (...) “eu gosto de no final da aula discutir as coisas que não foram boas...trabalhar em cima do que deu errado...eles constroem novas regras, novo jeito de fazer as coisas...”. (...) “se eu der uma aula mais tradicional parece mais com passividade, possessão da verdade, ou agente faz o uso da força e vai impondo tudo pra eles...não ajuda eles crescerem na vida” (...) “Tem coisa que a gente tem que fazer... não adianta ficar explicando muito...só mesmo fazendo as atividades é que dá pra entender o processo da cooperação... assim, as atitudes dos alunos ficam diferente e ai a gente observa se tá dando certo...”. (...) “eu agora deixo eles resolverem um monte de coisa...até se tão brigando eu espero um tempo pra interferir...acho que as vezes demora mas eles já sabem resolver muita coisa entre eles...” (...) “esse jeito que a gente fez o trabalho com valores deu certo porque era conteúdo do livro e tinha relação com o que a gente queria trabalhar na nossa aula, né! Os valores que eles puseram 153 no painel serviu até pra fazer a brincadeira da nossa aula...parecia que eles já sabiam como iriam fazer o pega-pega...” (...) “eu acho que mudou porque todo mundo fica prestando a atenção no que a gente conta...eles ficam perguntando o que dá certo fazer e o que não dá...tem algumas coisas que eu explico pra elas tentarem fazer, mas eu acho ainda é difícil, falar é uma coisa, fazer é outra, né! ... coordenadora é quem mais gosta do que a gente conta...”. (...) “eu fico olhando pra eles e não sei acho que eu mudei mais do que eles...eu olho que cada um é diferente...olho que atividade eu vou fazer e se isso é bom pra ajudar eles... a atividade é muito importante... ela ajuda cada coisa que tá acontecendo na aula...se a gente não prestar a atenção só dá a aula e pronto, nem olha o que está fazendo, que futuro tem isso que a gente tá trabalhando com os alunos”. (...) “é bem diferente quando eu venho pra essa sala...eles tem outro jeito de participar das aulas...eles participam mais das coisas que a gente vai fazer na aula...tudo que tá no planejamento tem um sentido...até o que a professora tá dando na aula ajuda pra gente, né! (...) “nossa eles eram bem mais egoístas antes..,.eu acho que eles cresceram e tão colaborando mais...sabem dividir melhor ...naquela atividade das bolinhas eu fiquei observado como eles ensinavam os exercícios pros outros...”. (...) “eu sabia que as coisas não iam tão bem ...e que eu tinha que mudar alguma coisa, mas, não sabia o que?..foi lento...tudo é bem devagar, mas se a gente olhar dá pra perceber que eles mudaram na sala e na quadra também...quando a gente começou parecia mais difícil, meio impossível...porque a cooperação não é aceita no mundo...lembra que eu falava que achava que eles competiam mais do que cooperavam e queriam ganhar...e que lá na outra escola era pior 154 ainda, mas que aqui era um pouco diferente!...o que será que eles pensam agora que a nossa aula tá mais cooperativa?Será que eles percebem isso ou só a gente?”. (...) “cada fez que a gente vai ler as cartas eu fico ansiosa ...parece que muita coisa do nosso trabalho está ali na fala deles, nas coisas que eles escrevem ou desenham...tem muita coisa que dá pra saber só de ler as cartinhas...até do nosso trabalho...a aula de Educação Física parece que é importante e eles querem falar dela nas cartas...é a autonomia deles, quem são e o que querem da gente...a gente tem que ler e ouvir pra saber... é o nosso trabalho que vai mudar com isso, né!...” (...) “foi demais o que eles fizeram para a Dona Tina...eu vi que teve a ver com o nosso trabalho...eles agora sabem falar as coisas que sentem... por isso eles fizeram tudo pra ela...eu acho que isso ficou com eles ...é uma coisa que eles aprenderam, né!..é uma coisa assim...se a gente pratica os valores com os alunos eles aprendem como faz, ai eles conseguem fazer na vida deles... ”. (...) eu já percebi, quando eu venho dar aula desanimada eles parecem que percebem e ai vira tumulto...eu não queria ensaiar aquela marcha e você viu como eles perceberam e ficaram muito agitados ...parece que não me ouviam, tudo aquilo só tinha a ver com o meu interesse...parece que o aluno sabe que o professor tá fora, se a gente tava fazendo aquelas atividades cooperativas nas aulas... eles tavam cheios de idéias... e depois eu trouxe a marcha pra eles na aula ...deu pra ver que eles perceberam que não tinha nada a ver...foi um jeito deles de chamar a atenção, atrapalharam tudo... (...) “antes eu queria tudo certo...dava muita bronca neles se eles faziam coisa errada... agora eu vejo que eu respeito esse jeito deles... essa dificuldade que eles tem...eu sei que tem muito mais 155 coisa que eles aprendem em casa que é bem diferente do que a gente faz aqui na aula...eu acho que aqui é um jeito de servir de experiência pra eles mesmo sendo diferente de lá...”. (...) “eu acho que a minha aula é questionadora...eu vejo que nos jogos cooperativos tem mais a participação deles...não é a gente que planeja e fica decidindo todo na aula...”. (...) “se a gente consegui ver o sentido de cada atividade do livro parece que a aula faz diferença no que eles tão aprendendo...é isso mesmo ...a vida deles também é lá fora... não é só aqui dentro, na nossa aula”. (...) “se elas toparem...vamos fazer uma atividade pra todo mundo participar? A gente pode falar com a (...)coordenadora sobre isso...eu sempre quis fazer assim... (...) “o que me ajudou muito foi a minha postura...não tanto com o modelo de aula...esses nossos encontros me ajudou a pensar... as sentir coisas diferentes em mim...passei a olhar pros alunos , as atitudes deles, a olhar mais para isso...aceitar os erros deles... que é muito importante eu perceber que eles podiam errar, isso faz parte...fico pensando que o caminho é esse e agora não tem volta...”. (...) “já escolhi duas atividades pra essa semana que a gente pode fazer com eles... na sala e também lá fora na quadra.. .tenho até uma idéia nova...”. (...) “pra melhorar a convivência acho que todos deveriam falar a mesma língua, a gente tem que participar junto desses problemas... já que eles não acontecem só na Educação Física...pode vê... todo mundo reclama do comportamento dos alunos na sala...”. (...) “eu ainda vou fazer um projeto pra trabalhar com o preconceito com os mais gordinhos...isso pra mim é o que mais acontece aqui na escola...eu sempre levo esse assunto pra coordenadora...isso mexe demais com os alunos...” 156 (...) “sempre que a gente faz essas reuniões eu mudo alguma coisa...saio daqui pensando...esses textos deixam a gente mais questionadores sempre procurando uma coisa pra fazer na aula...ou pra olhar também...”. (...) “se as outras professoras participassem daria mais certo o projeto...eu achei que foi bom a gente trabalhar esses temas juntos...tem muita coisa dos livros deles que é da Educação Física também...eu acho que os alunos gostam de fazer a lição junto nas aulas”. (...) “eu acho que o professor tem que pedir ajuda...se ele não consegue todo mundo tem que ajudar...o aluno vai passar por todas as salas e cada professor tem que ajudar ele a se desenvolver...” (...) “a aprendizagem cooperativa não é só pros alunos...as professoras deveriam fazer cooperação até nos planejamentos..”. (...) a coordenadora me pediu pra explicar o que a gente tá fazendo nas salas pra outras professoras...nós vamos fazer um trabalho juntas no HTPC...acho que vai ser legal elas saberem, né! (...) “achei ótima a reunião (HTPC)...a gente combinou de fazer um projeto com a escola toda sobre o folclore, vai ser em agosto e todo mundo vai participar ...cada sala vai trabalhar um tema e a gente vai construir o projeto juntas... (...) “eu deixei os textos com a coordenadora, ela vai passar algumas coisa pra outras professoras...ela leu meu relatório e disse que adorou...”. (...) “tudo que a gente fizer tem que participar todo mundo...a festa é das mães e dos filhos juntos, tá...Se as professoras quiserem a gente faz um encontro pra todo mundo participar...”. 157 (...) “ eu sabia que precisava todo mundo da escola trabalhar com mais cooperação...não só na aula dos alunos, mas as professoras, a escola também... isso que tá diferente agora... é mais fácil porque a gente não fica sozinho tem mais motivação quando os outros fazem também alguma coisa pra mudar...” (...) “eu penso que os Jogos Cooperativos vão unir várias professoras...elas querem continuar o trabalho no HTPC... uma sala vai participar das atividades com as outras...eu acho que um tem que saber sobre o trabalho do outro...mesmo o da Educação Física tem que participar com todos... (...) “a gente pode fazer isso com outros conteúdos...eu achei que os alunos gostaram e a aula de Educação Física ficou mais interessante pra eles...Tem um pouco do cognitivo sendo trabalhado junto com o motor, né!...é tudo junto, uma coisa só na aula...”. (...) “eu vejo que se eu não leio ou não estudo... eu vou ficando por fora... fico meio desmotivada... eu prefiro ficar lendo essas coisa pra minha cabeça me ajudar a entender o que eu tô fazendo lá na aula...essas conversas que a gente tem aqui faz muita diferença...tem coisa que a gente acha que acontece só com a gente , mas ai você vê que a outra professora também passa... e as vezes é até pior com ela...”. (...) “se a gente não mudar, nada vai mudar...eu gosto de pensar assim...eu sempre falo isso até pros alunos...”. (...) “deixei com a coordenadora aquele relatório da U:ESCO e o livro da aprendizagem cooperativa na sala de aula...ela quer comprar pra escola e vai mostrar no HTPC, se der certo eu acho bom pras professoras...”. 158 (...) “no semestre que vem, eu vou tentar continuar essas atividades na sala... acho que a P2 também vai querer, né!”A gente já pode ver alguma coisa pro planejamento ...”. (...) “será que dá certo fazer essa atividade com os maiores? Vou tentar com os alunos da terceira e da quarta... eles adoram jogar...”. (...) “tenho feito isso lá na outra escola também... mas, lá é diferente as crianças são outras não tá muito fácil de dar certo.. .você precisa ver como lá é diferente...”. Nos encontros realizados nos seminários durante a fase intermediaria da investigação, a P1 argumentou algumas vezes em seus pronunciamentos que, as propostas desenvolvidas nas aulas eram satisfatórias, porém, destacou em outros relatos que, as dificuldades aparecem grande parte das vezes porque os alunos trazem muitas coisas (valores) de casa. Entretanto, a professora ressalta sua visão sobre a importância da escola propor experiências em formação de valores visando à boa convivência, mesmo quando diferente dos ideais advindos da cultura familiar. A partir das minhas observações, foi possível perceber que este apontamento da P1 foi proferido em especial pelas dificuldades encontradas na sala da P3, considerando que a professora necessitou de um tempo maior para realizar as estruturas cooperativas tanto no sentido de organização da sala quanto em amenizar o comportamento agitado e agressivo de alguns alunos da sala do introdutório. Vale destacar que, no processo de implantação e realização das propostas nas últimas semanas do semestre, foi possível perceber que apesar de algumas dificuldades encontradas na fase inicial da investigação, a P1 reconhece que o trabalho com estruturas cooperativas proporcionou aos alunos um espaço rico para a participação dos grupos nas discussões, para a criatividade, para a elaboração de novas regras e de satisfação por estarem juntos compartilhando experiências pautadas em valores humanos. A professora faz críticas às aulas tradicionais, 159 declarando que o professor em posse da verdade faz o uso da força para impor ao aluno o comportamento passivo nas aulas. Em sua argumentação a P1 declara perceber as mudanças que ocorreram com os alunos durante o processo da pesquisa-ação. Relata que no seu ponto de vista, os alunos cresceram, estão menos egoístas, menos agressivos, porém, estão mais questionadores, mais maduros no momento de resolver os conflitos, estão também, mais envolvidos com as aulas, gostando de ensinar uns aos outros. A professora destaca em sua fala que, reconhece que, as mudanças também aconteceram para ela de forma lenda e gradativa, porém, tornou-se intensa e significativa ao longo das experiências desenvolvidas nas aulas e nos seminários. Aponta que desde o início da investigação, percebia que algo deveria mudar, pois, muitas as coisas na escola não eram coerentes. Entretanto, declarou que, tudo parecia meio impossível já que, a cooperação não era aceita na sociedade atual e no mundo em que vivemos. Destaca em sua fala, o auto questionamento que faz, sobre a possibilidade dos alunos perceberem ou não, quais são os resultados positivos decorrentes das mudanças nas estruturas das aulas. Em relação a avaliação das propostas desenvolvidas, P1 argumenta acreditar que a partir das experiências práticas realizadas nas aulas com estruturas cooperativas, tornou-se capaz de observar as dinâmicas de interação entre os alunos, avaliando quais são resultados positivos nos diferentes aspectos do desenvolvimento. O processo de avaliação aparece novamente no discurso da P1, ao pronunciar os valores positivos da cooperação e a intenção em ampliar as atividades realizadas nas salas das P2 e P3, para as turmas da 3ª e 4ª séries da escola e também para as aulas que ministra em uma outra instituição. 160 Em relação à contextualização dos conteúdos e a efetividade nas propostas das aulas, foi possível observar e registrar no caderno de campo as mudanças no comportamento dos alunos e na postura da professora durante as aulas. Evidencia-se nesse momento a argumentação da P1 sobre o fato da proposta do trabalho com a “marcha” dos alunos objetivando o ensaio para o desfile Cívico que ocorreria na última semana de junho, em comemoração ao aniversário da cidade, foi incluído de improviso no planejamento semanal da P1, sem ter sido construída no planejamento coletivo. Destaca-se que a P1 reconheceu que aplicação da atividade “marchar para o desfile” como uma proposta sem fundamento e, portanto descontextualizada das práticas cooperativas desenvolvidas nas aulas durante todo o semestre. Portanto, a partir da reflexão e auto avaliação a P1 defendeu o comportamento inquietante e desestimulado dos alunos frente ao desinteresse em realizar a atividade pela ordem imposta de forma autoritária pela própria professora. Para contextualizar uma proposta de trabalho significativa, vale destacar o discurso da professora a respeito da atividade realizada de maneira coletiva denominada “correio da paz”. Na visão da P1, durante essa atividade, foi possível perceber o envolvimento de todos os alunos das duas salas e também o envolvimento das professoras 2 e 3, da coordenadora, da diretora e da merendeira da escola. P1 considerou a atividade uma possibilidade para os alunos vivenciarem diferentes formas de expressão dos valores humanos, identificadas pelas intenções, os desejos e os sentimentos dos alunos. A professora acredita que a possibilidade de vivenciar durante as aulas, valores positivos para a convivência refletirá de maneira efetiva em outras situações da vida fora da escola. Destacou um interesse pessoal pela atividade realizada nas duas salas reconhecendo o valor positivo de o professor escutar os desejos e necessidades dos alunos levando em consideração seus interesses. Em vários momentos das aulas a professora declarou 161 que, os planejamentos coletivos são importantes e mais significativos se compartilhados por todos os professores da escola, argumentando que certas vezes achamos que a dificuldade é apenas nossa, mas ao compartilhar percebemos que os outros professores passam pelas mesmas coisas. Reforça em sua fala que é importante que o professor peça ajuda para resolver os problemas que ele não consegue resolver sozinho. Vale destacar que, a P1 declara-se motivada pelo fato da coordenadora pronunciar a intenção de ampliar o trabalho com práticas cooperativas para as outras professoras da escola. A professora de Educação Física relatou em uma das aulas em que eu participava que, as nossas experiências estavam repercutindo na escola toda, pois durante as reuniões de HTPC dos meses de maio e junho a coordenador elogiou e compartilhou as ações educativas desenvolvidas nas aulas de educação física. No último seminário realizado, a P1 pronunciou que se sente motivada em trabalhar quando está estudando e conversando na busca de entender suas ações. Reconhece que, a sua maior conquista decorrente das reflexões nas aulas e nos seminários, foram em relação a sua mudança de postura frente às dificuldades apresentadas pelos alunos. Declarou que modificou sua maneira de agir, olhando mais para o aluno e respeitando mais seus erros, suas diferenças e suas dificuldades quando apresentadas nas atividades. Reforça sua posição ao pronunciar que, diz sempre para os alunos: se agente quer mudanças nós temos que mudar primeiro, se não, nada muda na nossa vida. Portanto, assegura que as coisas na escola só vão melhorar se o professor mudar. Aponta também, reconhecer a partir dos estudos e observações que, os benefícios das práticas cooperativas nos aspectos cognitivos e motores dos alunos, são uma coisa só, a ser desenvolvida na sala de aula e na quadra da escola. Vale destacar que, no processo de emancipação das professoras um fator determinante foi à expectativa de planejarem atividades com a participação de outras professoras 162 da escola. Nos últimos encontros nos seminários a P1 propôs vários trabalhos para serem compartilhados com as professoras que não estavam participando dos planejamentos. Duas propostas de projeto relevantes foram criadas a partir da intenção da P1 em trabalhar o tema do folclore e a festa do dia das mães, com toda a comunidade escolar. Nas semanas em que as atividades e o projeto foram planejados, a P1 compartilhou com a coordenadora vários textos discutidos nos seminários sobre a pedagogia da cooperação e a formação em valores na escola. Esses textos foram disponibilizados para todas as professoras na última reunião de HTPC realizada no primeiro semestre, tendo como intenção, despertar o interesse dos outros professores da escola sobre a possibilidade do trabalho com as práticas cooperativas realizadas nas salas de aulas e na quadra. Nas discussões durante a elaboração das atividades e dos projetos, a P1 declarou que a cooperação deve ser um valor reconhecido, para além da importância do trabalho com os alunos, ampliando a possibilidade para os professores e para toda comunidade escolar. Professora 2: (...) “eu como professora tenho a certeza de que ela consegue muita coisa, eu vejo quando os alunos vão pra aula o seu trabalho é muito importante...” (...) “se você planeja junto é melhor ainda...eu vejo quando você comenta comigo as coisas que vai fazer...e quando eles tão trabalhando melhor...eu acho que é por causa da gente...”. (...) “a gente ta trabalhando bastante...agora estamos fazendo um trabalho coletivo, cooperativo. :inguém quer tomar nada nem obrigar ninguém a fazer o que não querem, eles tentam resolver entre eles o que tá acontecendo, eu acho bom porque sempre entra um aluno pra ajudar a resolver... tem mais gente prestando atenção nos problemas na sala...”. 163 (...) “eles tem uma realidade, como é que você vai fingir que não tem! Tem coisa que é responsabilidade dos pais e a gente não pode tirar isso deles e tem outras que é da escola..”. (...) “gosto mais do material coletivo...a criança não pode achar que porque a caneta dela brilha mais ela é melhor que a outra... pra eles pode parecer que é mais importante quem tem mais coisas no estojo...”. (...) “eu vejo que no modelo expositivo o aluno é passivo, só tá recebendo...eu prefiro as aulas da construção do conhecimento, elas são mais importantes porque o aluno participa ele é ativo...mesmo aquele que não participa por algum problema ou por timidez a gente procura integrar...eu tento achar um jeito dele participar... eu achei que o agrupamento dos quatro ajudou esses alunos, por eles conversam entre eles e ai ele participa mais, não fica com vergonha...”. (...) “nos grupos o aluno participa mais ele é capaz de falar e de ouvir mais informações , ele fala com o outro que é igual a ele e diferente também...eu vivo aproveitando essa hora pra poder ouvir e pra melhorar o comportamento deles nas aulas...” (...) “quando a gente faz aula juntas(com a pesquisadora e com a P1) apesar do barulho ser maior, da conversa ser maior eu tenho mais tranqüilidade pra trabalhar com eles e o progresso deles também é maior...os alunos ajudam os outros a pensar, os alunos pensam juntos... isso ajuda muito os alunos que ainda não sabem ler e escrever...isso parece uma busca para eles um objetivo que é aprender a ler...”. (...) “quando os outros professores falam que sair do lugar faz bagunça ...eu falo que o ambiente fica melhor é até mais tranqüilo pra trabalhar eles andam na sala, pedem ajuda pro outro e 164 procuram o que querem...é tudo um projeto de construção pra eles...quando a criança é muito passiva eu acho que fica a metade dela pra ser construído ou até menos que a metade...”. (...) “eu aprendi nesse tempo que eu tô na prefeitura que as pessoas tem a muita teoria e não testam , não aplicam, não tentam mudar as coisas...como então elas vão comparar o que dá mais certo?” (...) “ler e escrever é assim...tem que respeitar, tem um objetivo, tem um significado, além de tudo tem um envolvimento do grupo, tem que respeitar cada um, o jeito de cada um, aprender a conviver com eles, aprender a ter paciência com quem é mais lento ou com que é mais rápido, é um trabalho muito, muito gostoso. (...) “as atividades cooperativas também ajudam na resolução dos conflitos..na hora que eles estão fazendo as atividades os alunos tem mais espaço pro diálogo pra discutir o que cada um pensa...”. (...) “tenho expectativa nesse capítulo da “educação para a paz ...acho que tem muita coisa sobre isso que ajuda na escola...pode até melhorar minha conduta com os alunos...se a gente aprende a mediar podemos melhorar...”. (...) “foi muito importante a gente trabalhar juntas essa semana, as brincadeiras dos índios e o conteúdo de geografia deram super certo...pode ver... um aluno aprende com o outro e uma professora aprende com a outra...a gente também tá fazendo cooperação...”. (...) “a “voz do coração” tá ajudando ...quase não tem mais briga eles combinam antes de eu falar quem vai ser a voz do coração...combinam quem vai desenhar, quem vai escrever, cuidam do grupo...é um trabalho de conversa e de ter os conflitos pra resolver...”. 165 (...) “estou contente com esse trabalho...o grupo conseguiu realizar a tarefa, mas tivemos que mudar algumas coisa, fazer algumas interferências, ajudar alguns alunos que não sabem explicar pro grupo...espero que eles melhorem nas próximas semanas...”. (...) “fiquei surpresa com os alunos...fiquei feliz também... eles conseguiram demonstrar um carinho verdadeiro pela “Dona Tina” ficaram muito envolvidos...na hora eu fiquei emocionada com o jeito que eles escreveram as cartas...partiu deles chamar a diretora para assistir, foi natural né... (nome da pesquisadora)? (...) “cada semana tá mais fácil a gente organizar o grupo pra fazer as atividades...têm uns que ainda tem dificuldade mas já melhoraram... muita coisa que eu fiz junto com a P1 ajudou em tudo que eles aprenderam, é bem mais fácil trabalhar juntos sobra mais tempo pra cada conteúdo...”. (...) “quando a gente estuda percebe que a escola resgata o conhecimento da humanidade em forma de conteúdo. Além disso, a gente trabalha os valores, trabalha a convivência, trabalha os sentimentos... eu acho que esses valores devem ser priorizados na nossa educação: acho que pra trabalhar solidariedade, cooperação, amizade, respeito e toda formação em valores, não tem uma hora certa... eu sei que pros alunos... é muito do meu exemplo, das conversas que a gente tem na sala a respeito da atitude e da posição deles... a resolução de conflito é tentar refletir sobre isso”. (...) “eu percebi que foi muito produtivo esse trabalho conjunto, acho que todo mundo ganhou com isso, principalmente os alunos...de todos esses anos que eu trabalho com alfabetização essa turma foi mais rápida e mais produtiva, o grupo todo me surpreendeu, nós ainda não chegamos no meio do ano e todos estão alfabetizados, sabe que isso nunca aconteceu, eu tenho certeza que foi o nosso trabalho com os grupos cooperativos, isso deu estímulos pros alunos, aprenderem 166 mais rápido e melhor com mais significado, eu realmente percebi uma diferença grande nesse ano”. (...) “eu quero trabalhar sempre junto com a ...(nome da P1), pra mim as aulas de Educação Física são tão importantes quanto as outras aulas que eu dou na sala, quanto ao conteúdo também...A criança precisa muito do movimento pra se desenvolver, cada criança precisa do jogo e do grupo, das trocas, dessa construção. Agora somos parceiras dessa construção...”. (...) “tô tentando fazer desse jeito lá na coordenação da outra escola, já temos um projeto com as professoras...eu como coordenadora já consegui bastante coisa sobre cooperação com as professoras... é bem difícil envolver todo mundo ainda tem gente que não quer mudar, não acha que é importante nem necessário, eu sempre procuro respeitar, dou um tempo pra ela, mas são as próprias professoras é que cobram mais de quem não participa”. (...) “eu acredito em exemplo...se a gente faz alguma coisa aqui que seja melhor...os outros professores vão se interessar e até querer participar das atividades...no fim acho que ainda falta conhecimento pro trabalho cooperativo na escola ”. (...) “percebi impaciência de alguns alunos, até dificuldade de aceitar a opinião do outro essa relação de grupo é tão intensa....falar e escrever, por alguém e para alguém...é sempre com intenção...eu procuro refletir com eles o que aconteceu, porquê é o que eu devo fazer para evoluir...”. (...) “eles adoram esses exercícios rítmicos e eu tô colocando os conteúdos nessas atividades de movimento...”. (...) “eu tenho usado o quarteto todos os dias , já fiz várias atividades nessa semana com eles...tem aluno que pede toda hora pra mudar as carteiras pros grupos...posso dizer que tenho 167 aprendido muita coisa a aprendizagem dos aluno nos grupos, tá acontecendo de forma diferente esse ano, foi mais rápido e eu interferi menos...isso é uma coisa que eu vou continuar fazendo com as outras turmas... ”. (...)” tenho que dizer obrigada por tudo que a gente tem feito, isso tá sendo muito, muito importante pra mim... eu espero que a gente continue porque eu tô adorando o trabalho..me envolvi mesmo em tudo que aconteceu”. Percebe-se nos apontamentos da P2 que o planejamento conjunto traz benefícios aos professores e ao processo formativo dos alunos. Em relação aproveitamento dos alunos declara passou a utilizar a estratégia de agrupamento nos quartetos todos os dias reconhecendo que o trabalho nos quartetos permite ao aluno participar de maneira mais ativa procuram o que necessitam em outros grupos facilitando o diálogo entre todos. P2 acredita que é a experiência do diálogo na sala de aula, abriu espaço para que todos os alunos falassem sobre suas experiências e suas dificuldades, facilitando o processo de construção do conhecimento. A professora demonstrou valorizar em especial as conquistas no processo de alfabetização dos alunos, relatando que nos momentos do diálogo proferidos em sala, ela aproveitava para ouvi-los interferindo cada vez menos na resolução dos conflitos e assim contribuindo para a construção da autonomia desses alunos. Vale destacar que, a P2 declara em diferentes oportunidades durante o 5º seminário que, o aproveitamento dos conteúdos programáticos quando compartilhados com as aulas de Educação Física, facilitam a aprendizagem dos alunos, e permitem que o professor administre melhor o tempo para as experiências realizadas em cada atividade. A professora argumentou em seu relato que as novas estruturas de aula permitiram aos alunos aprender de forma mais rápida e eficiente durante o semestre. Em sua fala, pronunciou 168 com ênfase os elogios das novas conquistas, para a professora de Educação Física reconhecendo também a importância e a efetividade nos resultados do trabalho realizado conjuntamente pelas quatro professoras. Em seus apontamentos, P2, pronuncia que a partir das experiências com movimento, jogos e brincadeiras que envolveram os conteúdos programáticos das duas professoras (P1 e P2), passou a considerar a P1 como parceira, declarando sua pretensão em continuar construindo planejamentos e ações de forma coletiva. Vale ressaltar que, em duas oportunidades a P2 relatou que tem utilizado as reflexões e as mudanças nas ações pedagógicas em outro espaço fora dessa escola. Para elucidar seu trabalho, argumentou os pontos positivos e negativos que encontrou com as mudanças nas estruturas das aulas que realiza como coordenadora em outra instituição do ensino privado. Em sua fala P2 demonstra ficar ressentida ao deparar com o comportamento de alguns professores resistentes às mudanças propostas nas ações pedagógicas das práticas cooperativas. Na tentativa de justificar o comportamento desses professores, aponta como motivo, a falta de conhecimento deles sobre as teorias e as práticas das propostas para a aprendizagem cooperativa e também em alguns casos, à postura acomodada e passiva representada pela falta de motivação e pelo descomprometimento com a formação do aluno. A professora considera que a partir do relato de situações positivas e do seu exemplo pode contribuir para o aumento do interesse dos professores que coordena e dos professores que fazem parte da escola investigada. Em relação a coordenação geral da rede municipal, a P2 faz uma crítica à diferentes teorias que aparecem como propostas, porém não são testadas e/ou avaliadas pelos responsáveis, a fim de verificar seus resultados. Na fala da P2 pode-se perceber que dois momentos foram significativos para a avaliação do processo. Uma atividade foi relatada como a “voz do coração”, representada pela 169 organização dos grupos e pela responsabilidade individual e coletiva em relação ao barulho e agitação exagerada nas conversas/discussões durante as atividades. Nessa atividade a P2 declarou perceber que a evolução dos alunos no âmbito das relações de diálogo e de resolução de conflitos, desencadeou-se a partir de um processo que vem melhorando a cada dia pela convivência no respeito. Outro momento que a P2 destacou em sua fala, foi relatado pela experiência proposta para os alunos, em escolher e escrever cartas para uma pessoa do ambiente escolar, querida por eles. A pessoa escolhida pela sala foi a “Dona Tina”. Esta funcionária è a responsável pela limpeza, pela merenda e pelos serviços gerais realizados na escola. Nas minhas observações em sala de aula foi possível reconhecer o envolvimento dos alunos durante a semana como relatado na fala da P2. No momento estipulado para a abertura da caixa do “Correio da Paz” os alunos chamaram a funcionária e fizeram a leitura das cartas demonstrando carinho e também o reconhecimento pelo trabalho realizado pela funcionária. Nesse momento, a funcionária, demonstrou-se envergonhada, retribuindo os elogios e os agradecimentos com uma expressão emocionada, deixando escorrer lágrimas. Pode-se considerar que as várias experiências realizadas nas aulas e relatadas nas falas das professoras da 1ª série, foram registradas pela pesquisadora no caderno de campo com a intenção de destacar os aspectos de formação humana. Nos argumentos da P2 estudar é importante, pois, reflete no conhecimento sobre a humanidade. Em seu relato aponta que, para a escola, esses conhecimentos devem ser transformados em conteúdos envolvendo valores, sentimentos e relações que devem ser priorizados pela educação. Para exemplificar a professora destaca em sua fala, a importância de valores como a solidariedade, a cooperação, o respeito e a amizade na convivência entre os alunos, durante o cotidiano escolar. Porém, argumenta que 170 apesar de reconhecer que escola tem o seu papel na formação dos alunos, não pode eximir os pais da responsabilidade sobre a educação dos seus filhos. Um fator relevante na análise do discurso da P2 está relacionado às reflexões sobre o tema modelo de aula. A professora aponta críticas negativas ao modelo expositivo argumentando que tal possibilidade, contribui para a formação de um aluno passivo, preparado apenas para receber as informações do professor. Destaca em sua fala a preferência pelo modelo da construção do conhecimento realizada pela participação ativa do aluno durante as aulas. P2 afirma que o posicionamento em quartetos facilitou a participação e integração de alunos mais tímidos, reconhecendo que em pequenos grupos esses alunos diminuíram o sentimento de vergonha, demonstrando maior iniciativa para conversarem entre eles, e, portanto, participarem efetivamente das aulas. No processo de construção do conhecimento sobre a leitura e a escrita específicos dos objetivos propostos para a turma do 1º ano, a professora reconhece que o trabalho realizado a partir de pequenos grupos, traz a possibilidade para os alunos desenvolverem o respeito às diferenças, as dificuldades, e ao tempo de aprendizagem de cada integrante. Ao reconhecer as facilidades do trabalho cooperativo, a P2 declara que o trabalho conjunto realizado nesse semestre foi muito produtivo, tanto para os alunos quanto para os professores. Vale destacar que, a professora demonstrou estar surpresa e satisfeita ao declarar que durante todos os anos em que trabalhou com alfabetização essa turma foi a mais rápida, mais produtiva e com maior significado para os alunos, acrescentou em sua argumentação que apesar de não ter chegado ao meio do ano, todos os alunos estão alfabetizados. Reforça o apontamento citado, ao argumentar que isso nunca havia acontecido em anos de experiências que tem com a alfabetização dos alunos que frequentam a 1ª série. 171 No último seminário a P2 declarou sua intenção em continuar o trabalho conjunto com a professora de Educação Física nos aspectos de conteúdos e também no planejamento de ações pedagógicas, enfatizando seu desejo em desenvolver novamente o trabalho com práticas cooperativas nas próximas turmas que for trabalhar. A professora em suas últimas palavras agradeceu a todos pelo significado e pela importância do trabalho realizado coletivamente, e pronunciou sua vontade em continuar envolvida nas investigações e nas experiências das práticas educativas cooperativas visando a formação em valores. Professora 3: (...) “o que eu acho mais difícil é eles ficarem quietos na hora dos grupos...eu to acostumada a olhar de frente pra todos alunos, assim eu vejo o que eles estão fazendo...”. (...) “eu queria que eles cooperassem mais...queria que eles aprendessem a ouvir os amigos e que não brigassem tanto por causa de besteira...”. (...) “eu tenho dificuldade quando está esse tumulto, parece que ninguém está prestando a atenção em nada...eu não consigo fazer os grupos quando você não está, acho mais fácil controlar a sala assim em fila...”. (...) “eu achei que eles fizeram bonitinho, tem cada atividade linda.... nem percebi o barulho da sala... acho que tô acostumando a olhar todo o barulho e a conversa como parte da aula... é o momento que eles compartilham as idéias...”. (...) “eles não querem trocar os amigos do grupo, estão acostumados a ficar juntos na Educação Física e aqui na sala...”. (...) “já vi que toda mudança com os alunos é bem lenta...eles melhoram e pioram de uma hora pra outra...tem dia que os grupos fazem as atividades sem brigar, sem ficar discutindo por tudo, 172 mas tem outros dias que eu nem começo e eles já estão perturbando a aula, nem sempre todos os grupos querem cooperar...”. (...) “os alunos tem participado das aulas com interesse, com vontade de aprender, perguntar e dar opinião sobre tudo...acho que nas aulas práticas ele aprende mais, porque lá ele participa e eu sei que o professor não sabe de tudo o conhecimento não está nas mãos dele...”. (...) “o que eu preciso, não é oferecer as respostas prontas, mas motivar mais os alunos a pesquisarem, acho que minha maior dificuldade é porque o numero de alunos é muito grande dentro da sala, isso atrapalha o nosso trabalho...precisava de uma auxiliar...”. (...) “(nome da pesquisadora)...eles querem te mostrar a atividade que nós fizemos ontem com os grupos...foi um trabalho gostoso todo mundo participou...”. (...) “eu lembro que na primeira aula , quando vi aquela arrumação das carteiras em grupo, fiquei nervosa...pensava que bagunça era aquela...eu estava habituada a ver cada aluno no seu lugar, quietos, sem conversar, fazendo a lição que eu pedia...quando você(pesquisadora) explicou que eles podiam conversar, discutir, trocar idéias a pra mim a sala virou uma bagunça...isso era o que eu achava no começo...até os alunos que eu achava quietos começaram a conversar no grupo a dar opinião...no primeiro dia acabou a aula e os alunos continuaram discutindo o assunto do grupo...pensei comigo: essa aula é uma loucura..”. (...) devagar tô entendendo que os alunos também tão mudando, tudo que é em grupo eles conversam e discutem... comecei a ver a minha aula como um novo lugar, eu acho que comecei a aprovar e a gostar, não me importava mais com aquela agitação...de conversa e barulho, eu vi naquela situação que o que eles conversavam estava sendo bom pra todos, não tinha ninguém 173 isolado pra fora do grupo...todos se ajudavam...mesmo conversando tanto...hoje os alunos tem mais autonomia....”. (...) quando a P1 fala ou mostra uma atividade, eu sempre penso, será que vai dar pra fazer? Será que a gente consegue alguma mudança com isso? ...o pior é que eu não gosto quando não tem aula de Educação Física na semana, porque atrapalha tudo o que a gente planeja...”. (...) “vejo os alunos mais seguros e confiantes, eles participam mais, dão opinião e estão mais felizes na escola...até na hora do lanche a gente vê diferença neles, sempre tinha briga pra ser o primeiro e agora tem mais organização, respeito e cooperação na hora de distribuir o lanche fazer a higiene e voltar pra sala”. (...) “eu acho bom esse jeito...tõ aprendendo a cada dia, procuro refletir se o meu trabalho tá trazendo resultado e onde eu preciso melhorar a minha aula...”. (...) “acho que toda prática cooperativa deveria ser obrigatória na escola, na grade curricular, com isso seria possível todo mundo trabalhar os valores. Sei que depois de algum tempo a cooperação aparece de forma espontânea, de dentro pra fora, onde não houve imposição...”. (...) “sinceramente confesso que não tinha pensado sobre o que resulta cada modelo de aula...fiquei lendo e refletindo sobre cada parágrafo, fiquei me questionando qual seria o meu objetivo e qual seria o da escola...como deve ser a postura do professor e para que escola?...”. (...) “nessa semana vou planejar alguma coisa pra fazer fora da sala...eles estão mais calmo e dá pra ficar no pátio durante a aula. (...) “tenho muitas experiências boas para falar do que eu aprendi nesse tempo de mudança...é uma pena que eu não vou ficar aqui pra continuar esse trabalho com vocês...mas com certeza vou levar isso comigo...eu aprendi muitas coisas com tudo isso...paciência e coragem”. 174 (...) agora que eles sabem que eu vou sair, parece que tão meio inseguros, acho que eles vão sentir a mudança, não foi fácil fazer o vinculo comigo e agora vai chegar outra professora, tudo muda né!... prefiro não ficar pensando muito nisso, se não eu fico mau.... já tá difícil pra eu vir trabalhar assim...”. (...) “to péssima, vou mesmo ter que sair daqui em agosto, a diretora me falou que não tem outro jeito, todo mundo que tá temporário vai sair...o pior é deixar os alunos desse jeito no meio do ano, ainda mais com o nosso trabalho...agora: será que quem vai ficar no meu lugar vai continuar? Sabe trabalhar com os grupos desse jeito? Ou vai voltar tudo pro tradicional? Eu tenho dó dos alunos, na hora de mudar o professor no meio do ano ninguém pensa neles? Tudo isso me deixa revoltada...”. A análise do discurso da P3 e das observações das aulas durante as últimas semanas da pesquisa-ação representaram mudanças significativas no contexto pessoal e profissional da professora. No decorrer da realização dos planos de ação propostos para as últimas semanas da pesquisa a P3 reconheceu que as experiências com o agrupamento dos alunos em quartetos proposto pelas práticas cooperativas é um processo de mudança lento e oscilante, argumentando perceber melhoras e pioras de um dia para o outro nas atitudes e nas respostas dos alunos em relação a situação vivenciada. P3 declarou no último seminário que, no início das mudanças nas estruturas das aulas, ficou aflita e nervosa. Identificou o barulho das conversas como bagunça, sentindo-se preocupada, ao constatar a agitação dos alunos estava atrapalhando a realização das lições. A professora reconheceu que durante o processo de aplicação dos planos de ação, sentia-se dependente do auxílio da pesquisadora para a organização dos grupos nas aulas, e que preferia 175 os alunos sentados em fileiras, pois este posicionamento das carteiras possibilitava a ela, um olhar mais individual e mais controlador em relação a cada aluno da sala. Declarou que, em vários momentos preferiu o silêncio, almejando que os alunos ficassem quietos, que cooperassem mais uns com os outros, e que não brigassem tanto. A P3 argumentou sobre o valor positivo das aulas de Educação Física, declarando que reflete sobre as propostas sugeridas e/ou aplicadas pela P1, pronunciando seu desagrado nos dias em que a P1 falta nas aulas, privando os alunos de realizarem as atividades elaboradas no plano de ação coletivo. Para amenizar as perdas dos alunos devido às faltas da P1 durante toda a semana a P3 organizou atividades para serem realizadas no pátio da escola a fim de explorar um local mais amplo e propício para experiências corpóreas expressivas, visando cumprir o plano de ação elaborado no quarto seminário. A partir dos registros do caderno de campo, torna-se visível e perceptível o processo de emancipação da P3. A professora em seus últimos apontamentos declara que a possibilidade de refletir, de ler textos envolventes sobre as teorias durante os seminários assim como as experiências realizadas a partir dos planos de ação, trouxeram contribuições para seu trabalho. Destaca em sua fala que, reconheceu que o conhecimento não está restrito a ela professora, e que, portanto não deve oferecer respostas prontas para os alunos, mas sim, oferecer um espaço de participação e de pesquisa, incluindo atividades práticas que visam aumentar as experiências dos alunos. Declara que a participação do aluno durante as aulas é fundamental. A P3 argumentou no seu discurso final, reconhecer o valor do processo educativo visando à formação em valores. Apontou reconhecer mudanças em sua prática ao relatar que durante o tempo em que realizou experiências cooperativas na rotina diária dos alunos, percebeu que as conversas e os barulhos que a incomodavam, eram na verdade o momento de compartilhar 176 as idéias, de discutir opiniões, e de falar o que pensam sobre o assunto da aula. Destaca perceber que o ambiente cooperativo permite aos alunos se sentirem mais confiantes mais seguros e felizes. Relata como exemplo o momento de compartilhar a merenda e de organizar as saídas para os espaços externos da sala de aula. Ao observar o comportamento e as atitudes dos alunos fora do espaço da sala de aula a P3 avaliou o resultado parcial do seu trabalho e reconhecendo que sempre é tempo de mudanças nas ações educativas propostas pelos professores. No último seminário a P3 relatou sua frustração demonstrado ao ser comunicada pela diretora que, o seu contrato temporário seria encerrado no final de julho, impedindo-a de continuar o trabalho na sala do introdutório e como conseqüência, terminaria também o trabalho com as práticas cooperativas realizado por ela. Torna-se importante relatar que houveram algumas dificuldades decorrentes da revolta da P3 pelo seu desligamento, relatando sua indisposição para vir trabalhar. A professora declarou em sua argumentação estar indignada com a interrupção do processo educativo dos alunos, justificando sua preocupação com a continuidade do trabalho a ser desenvolvido pela professora que viria para substituí-la. P3 declarou que apesar se sentir péssima pelo seu desligamento e de não poder continuar o trabalho nessa escola, reconhece que aprendeu muito e que está levando essas experiências consigo. Deu ênfase em especial ao aperfeiçoamento dos valores: paciência e coragem. Segundo a professora, esses valores foram as algumas das conquistas decorrentes da investigação nos seminários e da aplicação das novas estruturas nas aulas. Na tentativa de elucidar a importância das práticas cooperativas na escola, a P3 declara de forma impositiva que, as práticas cooperativas deveriam ser obrigatórias na escola, constando como parte da grade curricular, assim todos os professores estariam trabalhando os 177 valores em sua rotina diária. Porém, logo em seguida, explicita de forma confusa, acreditar que, a partir das experiências cooperativas realizadas na escola, os valores humanos e as atitudes cooperativas surgiriam de forma espontânea por todos os envolvidos no processo educativo. SINTESE 3 Elaborada a partir da análise dos relados das professoras P1 P2 P3 durante o 5º Seminário e também dos relatos das falas das professoras nos momentos de observação nas aulas durante as últimas semanas de investigação. A síntese apresentada a seguir, decorre das análises do terceiro momento da investigação e mostra parte do resultado do processo de conscientização sobre as ações educativas construído pelo grupo de atores da pesquisa e seus resultados no contexto escolar. Esta terceira síntese, também oferece a possibilidade de verificar as conseqüências do estudo realizado no processo de busca de uma educação problematizadora, crítica-reflexiva e consequentemente emancipatoria. Considerando que o estudo realizado tem como proposta apoiar a construção de uma escola sustentada pela educação libertadora, vale destacar os apontamentos de Freire (1991). Para que a educação caminhe no sentido da libertação é necessária a conscientização, o respeito ao homem como pessoa e como sujeito da sua História. Só desta forma, o homem poderá libertar-se da domesticação e da opressão que o esmaga. Segundo Freire e Horton: “Quanto mais as pessoas participarem do processo de sua própria educação, maior será sua participação no processo de definir que tipo de produção produzir, e para que e por que, e maior será também sua participação no seu próprio desenvolvimento. Quanto mais as pessoas se tornarem elas mesmas, melhor será a democracia. Quanto menos perguntarmos às pessoas o que desejamos e a respeito de suas expectativas, menor será a democracia.”(FREIRE E HORTON, 2003 P.149). 178 Dessa forma, pode-se que dizer que educar a partir das práticas e dos valores estabelecidos pelos pressupostos da cooperação apresentados na pesquisa, aproximam os ideais da pedagogia freiriana. Nos depoimentos das professoras, foram identificados relatos considerando tanto os aspectos positivos quanto as dificuldades encontradas no processo de transformação das estruturas das aulas. Nos registros do caderno de campo pode-se destacar que no dia-a-dia eram freqüentes os comportamentos e as atitudes dos alunos demonstrando respostas hora negativas, hora positivas, frente as diversidade das propostas enunciadas pelos professores. A primeira dificuldade relatada pela P1 apontou que no início da pesquisa desacreditou que a cooperação pudesse emergir de forma efetiva envolvendo os outros professores da escola. Em seu relato, buscou a justificativa, argumentando que convivemos em uma sociedade competitiva que valoriza valores contrários a cooperação, e que, portanto, mudar as estruturas das aulas do grupo de professores da escola, para práticas cooperativas seria muito difícil. Declarou-se preocupada, alegando que talvez essas dificuldades em compartilhar as novas propostas, poderiam comprometer os objetivos da pesquisa e como conseqüência a efetividade das práticas cooperativas no ambiente escolar. Em relação à preocupação da P1 frente aos valores pessoais de cada professor refletidos no papel do educador, destaca-se os apontamentos de Freire (1996, p.99) ao dizer que a educação é uma forma de intervenção no mundo, tanto de reprodução ideológica dominante, quanto de seu desmascaramento. E como seres responsáveis e éticos, devemos insistir na necessidade de uma prática coerente. Somos seres pensantes, capazes de avaliar, de romper, de optar e de perceber que do ponto de vista do poder dominante, não há duvidas “que a educação 179 deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades” e está, portanto, determinada a favorecer o que impera o poder dominante vigente. Ao registrar no caderno de campo o posicionamento das P3 e P2 a respeito da postura que cada professora participante na escolha de estratégias de aula expositiva ou participativa pode-se perceber que tanto as discussões coletivas quanto a auto-reflexão dos atores da pesquisa proferiram argumentos que apontam que a intenção de cada professor e a postura adotada por ele, estão relacionadas aos resultados e as interferências no processo de formação do aluno. Para Freire (1996) o professor deve perceber-se cada vez melhor, não podendo ser neutro, e que toda ação educativa dependerá da definição de quem é o professor que vai influenciar na educação e na vida dos alunos. Portanto, a prática docente exige escolhas, exige uma definição e consequentemente uma tomada de posição, de decisão, e se necessário de ruptura e de luta em busca de transformar pequenos grupos em maiorias pela resistência a opressão e pela indignação contra as transgressões éticas que assolam as vítimas do poder dominante. Aspectos relevantes relatados pelas P1, P2 e P3 como dificuldades no processo de transformação das práticas foram justificados pelo comportamento negativo demonstradas pelos alunos. Tais atitudes foram apontadas pelas professoras como uma influência da história de vida dos alunos, muitas vezes advinda da própria “cultura de familiar”, termo utilizado na fala da P1. Aspectos relacionados a influência e a importância das experiências vividas do aluno no processo de escolarização são retratas por Freire e Horton (2003). Os autores que acreditam que o aluno que chega a escola não vem de mãos vazias, ao contrário, chegam cheios de esperanças, de expectativas e de conhecimento que conquistaram nas experiências da vida, nas lutas e nas frustrações que fizeram parte do seu mundo. Porém, esses alunos têm como direito ir além desse nível de conhecimento. Para tanto, é responsabilidade do professor que em alguns momentos ele 180 fale, apresente conteúdos, mas em outros o professor deve estar aberto e interessado em ouvir o aluno, conhecê-lo e ajudá-lo a entender a importância de pensar de forma crítica, de tomar decisões, podendo assim, contribuir para que esse aluno possa fazer nova leitura da sua própria realidade. Para P2 a escola tem o seu papel na educação dos alunos, e, portanto muitas são as responsabilidades dos professores, porém a escola não pode eximir os pais da sua responsabilidade na formação dos filhos. Entre as dificuldades proferidas pela P1, pode-se perceber que, a relação entre o falar, o ouvir e o compartilhar idéias com os alunos, gerou sentimentos de angustia durante algumas atividades realizadas. Em determinadas aulas, P1, percebeu-se exercendo o autoritarismo frente aos alunos e argumentou o quanto isso a incomodou, pois distanciava do que idealizava a respeito da participação ativa dos alunos nas aulas. Para explicitar a dúvida em que se encontrou a P1, e considerar o cuidado que cada professor deve ter em relação a identificar a postura autoritária e/ou o autoritarismo em sua ação educativa, destaca-se as considerações de Freire e Horton (2003) advertindo que no processo educacional o professor é absolutamente necessário, enfatizando a importância da autoridade do professor na formação do aluno. Para os autores, o educador não é apenas um mero facilitador e, portanto deve respeitar o aluno, mas não deve ser neutro, pois, tem a responsabilidade de intervir buscando transformar o falar para, em o falar com, por meio do diálogo. A autoridade na ação educativa é necessária para a liberdade dos alunos, e para a liberdade do próprio professor, porém, o autoritarismo gera abuso e consequentemente impede a liberdade, e sendo assim, o professor não estará cumprindo o seu papel de educador. O autoritarismo é a ruptura entre o equilíbrio da autoridade e da liberdade (FREIRE, 1996; FREIRE E HORTON, 2003). 181 Verificou-se durante as aulas e os seminários, considerações importantes sobre o professor estar aberto a ouvir o aluno em todo o processo de construção do conhecimento. Tais considerações estão relatadas nos discursos da P1, P2 e P3 ao declararem os aspectos positivos das estruturas cooperativas quando relacionadas à valorização do diálogo entre professor/ professor, professor/aluno e aluno/aluno. A utilização do diálogo como estratégia de ação, foi explicitada como valor positivo proferidos pelas professoras tanto em relação a proposta de aula pautada na aprendizagem cooperativa como nas dinâmicas coletivas durante a elaboração dos planos de ação, reconhecendo o valor da possibilidade em compartilhar com as outras professoras da escola as ações que refletiram em todo o ambiente escolar. Para P1 o diálogo no planejamento conjunto possibilita ao professor de Educação Física sair do isolamento e compartilhar as dificuldades decorrentes da rotina escolar. A professora declara que muitas vezes os professores pensam que um tipo de problema só acontece com ele, mas ao conversar com outros professores, percebe que na verdade são as mesmas dificuldades que afligem a todos. Vale ressaltar que, para Freire e Shor (1986) a busca para diminuir a distância que separa o educador do educando viabiliza-se pelo diálogo, pela comunicação, porém, o diálogo deve ser visto bem mais do que uma técnica que utilizamos para conseguir resultados ou uma mesmo uma tática para fazer dos alunos amigos dos professores correndo o risco de manipulação nas ações educativas. Em relação aos apontamentos das professoras enfatizando os aspectos positivos do diálogo na relação ensino e aprendizagem destacado em especial na argumentação da P2 a respeito da efetividade das práticas cooperativas na alfabetização dos alunos a partir da possibilidade do diálogo durante as aulas. 182 Considera-se que o processo de desenvolvimento humano e de transformação da realidade gerada a partir do diálogo deve ser visto como algo que faz parte da natureza histórica dos seres humanos, portanto dialogar é uma postura necessária para tornarmos seres cada vez mais criticamente comunicativos. O diálogo interfere no momento de comunicação, de conhecimento e de transformação social. È no diálogo que o homem se encontra para refletir e/ou refazer a possibilidade de conhecer-se e esse conhecer é considerado um evento social com dimensões individuais visando transformar sua realidade (FREIRE E SHOR, 1996). Verifica-se nos apontamentos da P3 algumas mudanças na postura da professoras está relacionada a maneira de perceber que o barulho reconhecido como bagunça transformou-se em troca de idéias, em diálogo na busca de resolver conflitos. Enaltecendo o processo de transformação das práticas pedagógicas, as P2 e P3, argumentam que a mudança nas estruturas e nos planejamentos das aulas permitiram compreender que um espaço participativo nas ações educativas, possibilitam novas descobertas para os alunos e para os professores. A P1 e P2 reconhecem que o processo de transformação e avaliação foi lento e gradativo, envolvendo mudança de comportamento dos alunos para além dos momentos de aulas ministradas pelos professores. A P3 relata em sua fala que, os grupos de alunos estão mais organizados e mais cooperativos nos vários espaços da escola, tais como: a hora do lanche, da higiene e na convivência diária com os demais funcionários da escola. A P2 declara em seu pronunciamento, perceberem a ampliação das ações pautadas em valores como amizade, solidariedade, respeito, cooperação, criatividade, realizado pelo trabalho cooperativo nos pequenos grupos de discussão. As práticas educacionais pautadas na convivência entre alunos são referenciadas nos apontamentos de Freire e Shor (1986) como práticas educativas que visam uma educação democrática participativa e reflexiva, buscam na dialógica e na dialética, o 183 conhecimento fixado no diálogo libertador o qual é constantemente contestado e redescoberto. Reconhecem o educando como sujeito participante na construção da sua própria história. Destaca-se com relevância o discurso da P1 ao referir-se que os estudos realizados durante o processo investigativo juntamente com as observações das atitudes dos alunos nas aulas permitiram a professora refletir e reconhecer o erro dos alunos como parte do processo de descoberta e da capacidade de ampliar as conquistas trazendo, portanto, novas possibilidades de superar os desafios e de transformar a realidade ampliando suas conquistas Considerando as argumentações da professora destaca-se Freire (1986) ao considerar que na educação libertadora ensinar exige reflexão crítica sobre a sua prática docente. E que o erro do aluno quando identificado como uma dificuldade ou uma ação negativa, a qual poderia prejudicar a relação de ensino-aprendizagem na escola é na verdade uma prática da educação bancária voltada à política da dominação e do poder, onde os professores analisam as ações dos alunos apenas pelas respostas certas ou erradas, determinando que todo o conhecimento deva ser apenas depositado na cabeça do aluno e não é compartilhado na construção dos saberes. Para Freire (citado por ABRÃO, 2007) a educação libertadora que busca na reflexão crítica da realidade a emancipação do sujeito, considera que, pedagogia do risco está ligada a pedagogia do erro, portanto, o educador deve viabilizar a possibilidade de uma educação que traga como perspectiva um ensino que estimule as perguntas, que desenvolva a curiosidade de aprender, e que estimule o educando a ousar e arriscar como única forma de avançar no conhecimento de aprender e de ensinar verdadeiramente. Verificou-se que os aspectos referente à preocupação da P1 e da P2 pela necessidade de envolvimento dos outros professores da escola, visando comprometimento com as mudanças nas estruturas das aulas a partir de propostas de agrupamentos cooperativos, foram justificadas 184 pelo reconhecimento do valor das experiências positivas. Portanto, as duas professoras declaram ter como expectativa, dar continuidade no processo iniciado durante a Pesquisa-ação realizada. P2 aponta elogios tanto para os momentos do planejamento coletivo quanto para as ações cooperativas realizadas pelas professoras dos grupos em sala de aula. A P1 e a P3 reforçam os mesmos aspectos positivos em relação às novas propostas elaboradas durante os seminários, assim como nas atividades desenvolvidas nas aulas. Uma das atividades realizadas durantes as últimas aulas, observadas pela pesquisadora, permitiu verificar os resultados sobre a efetividade das propostas cooperativas realizadas durante o semestre. Durante o desenvolvimento da atividade do “Correio da paz” foi possível observar ações, registrando as atitudes e comportamentos positivos dos alunos e também a fala significativa da P2. Por intermédio da leitura das cartas colocadas na caixa disponibilizada na sala, foram lidos os desejos, as inquietações, os medos, entre outros pronunciamentos descritos pelos alunos. No momento da abertura das cartas, muitos agradecimentos e reconhecimentos pelo trabalho realizado foram destinados para uma das funcionárias responsável pela merenda e pela limpeza da escola. Em especial o relato da P2 registrado no caderno de campo, demonstrou a satisfação com o resultado do trabalho em formação em valores proposto na atividade do “Correio da paz”. Pode-se perceber com as atitudes dos alunos que, além dos professores, outros funcionários envolvidos com a escola, são reconhecidos como responsáveis pela formação dos alunos, e, portanto compartilham nesse espaço, sentimentos, valores e atitudes. Vale ressaltar que, esta atividade realizadas pelos alunos e professoras apóia-se nos pressupostos da cultura da paz relatada por Delores (1999) na busca da resolução não violenta dos conflitos, do respeito à vida, à liberdade, ao diálogo, à tolerância, solidariedade e à harmonia entre indivíduos, grupos, povos e nações. Essa é a base para a democracia e a paz. 185 Outro ponto marcante na avaliação da P1 está relatado nas observações e nas argumentações da professora durante o desenvolvimento da atividade cívica determinada no planejamento da coordenação geral da Rede Municipal de Educação. Pode-se considerar que, a atividade (marcha) realizada na semana do desfile Cívico serviu de argumentação para as discussões e reflexões durante o último seminário, reconhecendo que as respostas dos alunos consideradas negativas, foram na verdade a manifestação dos valores positivos conquistados pelos alunos em resposta as ações descontextualizadas imposta naquele momento no ambiente escolar. Porém, em contra partida, na argumenta das professoras e nas minhas observações registradas no caderno de campo, os momentos destinados as atividades comunitárias, a exemplo do Dia das mães e o Projeto folclore, foram experiências que possibilitaram avaliar resultados satisfatórios no processo de investigação e transformação das práticas educativas. A partir dos resultados positivos decorrentes do envolvimento das professoras com as transformações nas praticas educativas, percebeu-se no relato das professoras a intencionalidade de ampliar os estudos e as práticas cooperativas para outros professores da escola. Vale destacar que P2 e P3 declaram a intenção em ampliar para outros espaços envolvendo outros contextos, assim como pretendem dar continuidade com o trabalho compartilhado das aulas de Educação Física e os conteúdos programáticos, elaborados no planejamento coletivo. Na fala da P1 verifica-se que a professora passa por um momento delicado na sua carreira, pois, interromperá o trabalho na escola no fim do primeiro semestre de 2008 desligando-se da Rede Municipal. Argumenta sentir-se inconformada e frustrada com a situação, porém reconhece que todo aprendizado sobre cooperação na escola sejam validos como uma experiência que vai levar com ela. 186 Vale ressaltar que as P1, P2 e P3 pronunciam a possibilidade e o interesse em compartilhar as experiências com os outros professores da instituição, sugerindo que isso seja realizado no espaço do HTPC. P1 e P2 relatam que a coordenadora demonstrou interesse e comprometimento com o trabalho realizado pelos atores da pesquisa em especial pelas ações conjuntas entre as professoras polivalentes a professora de Educação Física. Durante o nosso último encontro investigativo foi possível perceber o envolvimento das professoras no aspecto relacionado à formação em valores. Foi unânime o parecer dado à importância ao ato educativo, as considerações e os valores implícitos na escola como responsabilidade de quem permeia, acredita, compartilha das mudanças necessárias nesse espaço educativo. Porém, no discurso das professoras, a falta de comprometimento de muitos dos professores da escola investigada, foi considerada fator de dificuldade para efetividade do processo educativo voltado para a formação humana dos alunos. Esta dificuldade relatada demonstrava a necessidade dos envolvidos na educação dos alunos, tornarem os discursos teóricos apresentados nos planejamentos e nos grupos de estudos, ações práticas no cotidiano escolar. Segundo Freire (1987) será por meio das experiências realizadas nos encontros pedagógicos, os quais podem ser considerados um espaço que auxilia no desenvolvimento da consciência crítica que, os educadores serão capazes de perceberem-se sujeitos da sua história, indo à busca de alternativas para melhorar sua condição, refleti-la para mudá-la através da prática. Isso significa uma práxis permanente no processo educativo no qual “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” (FREIRE, 1983, p.27). Destacando os aspectos no trabalho, pode-se reconhecer parte do processo emancipatório construído pelas professoras durante a investigação. Destaca-se, nos discursos das 187 professoras, a autonomia individual de cada participante na construção e na reconstrução das ações e reflexões realizadas, assim como, a representatividade que o grupo expressou enquanto atores do processo de mudança dentro da escola. Pode verificar através do reconhecimento da coordenadora em relação aos resultados apresentados durante o primeiro semestre de 2008, que o trabalho realizado será ampliado dando continuidade às práticas cooperativas nas atividades que serão realizadas ao longo do ano. Nos apontamentos citados verifica-se que o processo de emancipação dos atores da pesquisa foi construído coletivamente. Destaca-se no relato das três professoras o momento da tomada de consciência dos sujeitos sobre as transformações ocorridas, assumindo a participação consciente de cada um nas mudanças, declarando como possibilidade a continuidade do trabalho cooperativo independente do termino nas investigações e/ou da presença da pesquisadora na escola. Nesse sentido, pode-se considerar que a Pesquisa-ação realizada na escola assumiu o caráter formativo, permitindo, mais do que registrar e interpretar dados coletados, desenvolvendo ações cooperativas com a participação efetiva dos atores nas descobertas e na possibilidade de construir uma metodologia de investigação não apenas pautada em etapas, mas sim, elaborada a partir das situações relevante identificadas durante a investigação. Destaca-se que no processo de emancipação, os atores da pesquisa assumiram uma participação consciente que oportunizou mudanças, na reorganização e na concepção de sujeito da própria história, apontando para os ideais de uma pesquisa de caráter emancipatório (FRANCO, 2005). Corrobora dos apontamentos de Franco (2005), Freire (1987) ao destacar que, a emancipação dos sujeitos emergirá de uma pedagogia problematizadora com potencial transformador. Para tanto, o processo emancipatório na educação deve ir além dos resultados obtidos na aplicação das ações. Deve na verdade ser construído com a inserção política dos 188 sujeitos e com a investigação e organização nas decisões coletivas, em busca das transformações sociais, propondo a superação do modelo tradicional de educação. Para o autor, atende-se assim, a uma perspectiva de educação emancipatória, voltada para a expectativa da libertação nas ações educativas, sustentadas por princípios como justiça, democracia e solidariedade. 189 4. COSIDERAÇÕES FIAIS Com base na pesquisa realizada nessa escola sobre as práticas cooperativas desenvolvidas nas aulas e os resultados decorrentes dos planejamentos coletivos construídos pelos atores da pesquisa, foi possível constatar que a possibilidade de estudar, refletir e avaliar conjuntamente os procedimentos a serem propostos nas aulas gerou o interesse para possíveis transformações das práticas pedagógicas relacionadas aos aspectos de formação humana, propostas pelos educadores atores da pesquisa desta pesquisa-ação. É importante dizer que nos estudos realizados desde o início desse trabalho, buscouse tanto o aprofundamento teórico sobre o valor da cooperação para a sobrevivência da espécie humana, quanto o valor formativo descritos pelos pressupostos da aprendizagem cooperativa e dos jogos cooperativos, relacionados aos aspectos educativos na escola e na sociedade atual. Em função disso, considera-se que o processo investigativo realizado, a partir das experiências cooperativas vivenciadas nos grupos durantes as aulas, não se resumiu a identificar o valor da cooperação, como um fim em si mesmo. Portanto, na realização do trabalho, não bastou o professor aplicar as estratégias ou jogos cooperativos para os alunos, tornou-se necessário, acima de tudo, que ele compreendesse e refletisse acerca dos objetivos, das ações e dos resultados no processo educativo, pautado na formação humana. Um aspecto considerado importante para ser destacado é que os estudos teóricos sobre os pressupostos das práticas educativas pautadas nos jogos cooperativos reconhecem que as dinâmicas propostas em aula, disponibilizam um espaço para a formação de cidadãos mais solidários e cooperativos. Em função disso, deve-se levar em consideração todo o processo para as transformações relacionadas aos objetivos almejados. Nessa perspectiva, na tentativa de compreender a importância do estudo, foi possível verificar que as ações e os estudos sobre as 190 práticas já existentes, aplicadas pela professora de Educação Física, somados ao valor da “cooperação” apresentados e incentivado nos pressupostos do PPP da instituição para ser vivenciado na escola, contribuíram para dar início ao processo investigativo reflexivo. É importante destacar uma constatação relevante identificada por mim no decorrer dos seminários. Pude observar que o valor das ações cooperativas propostas nas atividades elaboradas para os alunos também se fez presente nos planejamentos coletivos realizados pelas professoras, não como uma estratégia previamente estabelecida, mas, como uma resposta natural ao que nos propusemos realizar. Construir e reconstruir estratégias educativas a partir do envolvimento de todos os atores da pesquisa resultou, necessariamente, em ações compartilhadas na divisão de tarefas, comprometimento e responsabilidade individual na busca de resultados e benefícios coletivos. São estes, portanto, os princípios da cooperação. Como exposto ao longo deste trabalho, os dados coletados nas observações do campo, juntamente com as falas das professoras durante as aulas e nas entrevistas realizadas apontam que as professoras envolvidas na pesquisa, compreendem as mudanças educacionais como uma necessidade social. Sobre esse aspecto, acredito que ao se propor uma nova estratégia de aula, devemos valorizar as ações voltadas à formação humana e a capacitação dos saberes na escola, onde os envolvidos no processo, possam, por meio de resolução conflito sem o uso da violência, serem capazes de defender o seu ponto de vista, assim como, se necessário reconsiderar suas idéias, contribuindo como cidadão ativo, na construção de uma sociedade que reconheça a importância da cidadania. Hoje, com os dados da pesquisa analisados, é possível reconhecer que a possibilidade de trabalhar os valores que priorizam a formação humana, através da organização de grupos heterogêneos, traz resultados positivos decorrentes da possibilidade de oferecer ao aluno um 191 espaço para dialogar, refletir e agir. A isso, contrapõem-se as outras possibilidades advindas dos modelos tradicionais que, enaltecem valores como o individualismo e a competitividade como um fim, os quais são enaltecidos e valorizados em um grande número de propostas para as aulas de Educação Física oferecidas atualmente nas escolas. Portanto, as propostas de atividades nas quais o êxito de alguns depende exclusivamente da derrota de outros, diferenciam-se dos valores reconhecidos pelas práticas dos jogos cooperativos, na qual a valorização da pessoa que participa da atividade deve ser reconhecida como um valor que caracteriza a condição humana. Em relação às professoras polivalentes, salienta-se que a dificuldade encontrada inicialmente no desenvolvimento das atividades cooperativas pode ser explicada pela falta de conhecimento sobre os pressupostos dos Jogos Cooperativos na educação. Entre as dificuldades iniciais, destaco o parecer unânime das professoras a respeito do incômodo causado pelas constantes conversas e pelo barulho originário da aproximação dos alunos. Vale ressaltar que cooperar, como estratégia de ensino e aprendizagem, está diretamente relacionado com a comunicação entre as pessoas e, portanto, o ato de cooperar que é possibilitado pela escolha das estratégias das aulas, implica em propiciar aos alunos atividades que necessitem de compromisso individual, assumindo um contexto que efetive a associação de grupos ou de pessoas determinadas a construir o conhecimento através do diálogo. Acredito que durante as primeiras semanas de investigação, permanecer juntas nos estudos e nas primeiras descobertas, possibilitou-nos reconhecer que saberes individuais são importantes, porém insuficientes para responder os desafios e as necessidades de nossa época. Viver e conviver durante a pesquisa significou bem mais do que elevar o nível de conhecimento dos professores. Resultou em atender, com ações e soluções criativas e cooperativas às necessidades da sociedade atual e das gerações futuras no âmbito pessoal e educacional. Pode-se 192 considerar que os planejamentos coletivos geraram soluções criativas, partindo da análise das experiências já existentes nas aulas de Educação Física e ampliando a perspectiva da cooperação para outras situações propostas na escola. Como exposto ao longo do trabalho e nos apontamentos já mencionados, foi possível apontar uma sintonia nos relatos das professoras a respeito dos benefícios de compartilhar a discussão de temas relacionados a educação em valores propostos na escola, partindo do conhecimento sobre a prática e também sobre a compreensão dos pressupostos da proposta da aprendizagem cooperativa na educação. Nos planejamentos durante os seminários, as elaborações das atividades práticas tiveram como intenção a possibilidade de investigar a qualidade das experiências e da relação de ensino e aprendizagem necessárias para aumentar o êxito nas dinâmicas estabelecidas nos diferentes aspectos do desenvolvimento dos alunos. O conhecimento sobre a prática e a compreensão do processo educativo proposto foram evidenciados nas observações realizadas pelas professoras durante as mudanças nas estruturas das aulas. Entre outros aspectos relevantes que surgiram durante o trabalho com grupos cooperativos nas aulas, incluíram-se fundamentalmente os de dimensão ética, enfatizando os relacionados à não discriminação de gênero ou de habilidades entre os alunos. Partindo dos apontamentos apresentados, reconheci que apenas os estudos realizados nos seminários não seriam suficientes para a concretização e efetivação do trabalho proposto. Para tanto, tornou-se necessário estabelecer a comunicação ativa entre pessoas comprometidas a compartilhar informações, a expressar opiniões e a manter relações interpessoais que ultrapassassem o profissional, envolvendo o pensar, o sentir e o agir dos envolvidos. Penso que o trabalho realizado refletiu em um grau maior de comprometimento e compromisso pela educação. 193 E que o esforço resultou em ações coletivas partindo de discussões críticas-reflexivas, pautadas na práxis educativa. Para Freire (1987, p.38), a práxis “é a reflexão e ação do homem sobre o mundo a fim de transformá-lo”. É importante ressaltar que o estudo realizado na escola apontou algumas barreiras, mas, também, mostrou possibilidades para modificar o espaço escolar, transformando-o em um ambiente propício às práticas cooperativas, contribuindo, assim, para a realização do desejo das professoras que, desde o início, almejavam mudanças nos aspectos sociais relacionados às práticas educativas. O processo de transformação das estruturas de aulas mostrou-se lento, gradual e efetivo no aspecto referente às relações estabelecidas entre os atores da pesquisa. Um fato relevante e significativo no trabalho está relacionado à possibilidade das professoras aprenderem umas com as outras, questionando e interrogando constantemente sobre as coisas do mundo que as rodeiam. A partir da tomada de consciência sobre a importância das ações investigadas e sensibilizadas com o conhecimento adquirido, libertarem-se para a busca pelo compromisso ético com a educação. Outro aspecto que considero importante é que em todo processo investigativo valorizou-se como intenção propor uma pedagogia conscientizadora pautada na busca pela libertação da educação opressora, ainda identificada no modelo tradicional de educação. Reconheço o cuidado que tive durante o estudo em não posicionar-me como controladora, impondo procedimentos e ações educativas, com atitude autoritarista e dominadora. Pois, se assim o fizesse, a luta pela educação libertadora e pela afirmação do homem como pessoa, não teriam significado e não haveria justificativa para essa pesquisa-ação. Na mesma direção, as argumentações e reflexões das professoras, decorrentes dos diálogos estabelecidos comigo, também permitiram-me compreender que os resultados positivos decorrentes das transformações 194 nas propostas de aula, não deveriam ser transmitidos aos outros professores da escola de forma doutrinada e reprodutora, representando apenas um modelo de estratégias de aulas imposto arbitrariamente. Pois, se assim o fizesse, correria o risco de, ao propor mudanças de maneira impositiva, ter que nessa situação, concordar com Freire (1987) ao reconhecer que em alguns casos na tentativa de mudar a situação de dominação, o oprimido se apossa dos mesmos meios e valores do opressor, tornando-se detentor da sua verdade opressora, o que, com certeza não estaria de acordo com os objetivos que nos propusemos realizar com as mudanças nas ações educativas. Na libertação do homem sobre o poder da dominação, proposto por Freire (1987) torna-se fundamental que valores como liberdade, respeito, cooperação, tolerância, solidariedade sejam propostos nas ações desenvolvidas dentro do contexto educativo, partindo de um planejamento e de uma participação ativa do educador comprometido e responsável. Em especial, considero que a mesma estratégia de utilizar o agrupamento dos alunos da escola, envolvidos na proposta cooperativa visando à construção do conhecimento por meio do diálogo, foi apontada e efetivada como uma prática possível nos seminários realizados pelos atores da pesquisa. No momento em que as professoras reconheceram a efetividade da possibilidade de trocas de experiências no planejamento coletivo para a construção dos planos de ação e também, a importância da comunicação entre os alunos na realização das dinâmicas das aulas, reconsideraram a idéia inicial de que aproximar os alunos, prejudica o controle do professor, facilitando a bagunça entre os eles. Em contrapartida, as professoras, elogiaram a possibilidade de compartilhar o conhecimento por meio do diálogo e consideraram a partir dessa descoberta, que toda a conversa realizada nas aulas deverá ser motivo de atenção e observação frente à riqueza que emerge do momento em que os alunos se propõem a contribuir com idéias e 195 sugestões nas atividades, tornando assim, possível efetivação da relação de ensino e aprendizagem na construção do conhecimento.. Na possibilidade de permitir agrupamentos e discussões nos grupos cooperativos, foi possível identificar, a partir da observação e avaliação dos planos de ação desenvolvidos nas aulas, a importância da participação coletiva e cooperativa entre os alunos e os grupos, responsabilizando-os sempre que necessário, pelos resultados positivos e/ou negativos no processo de construção do conhecimento. Em função disso, considera-se que responsabilizar o próprio grupo ou individualmente cada aluno, pelos benefícios obtidos ou mesmo pelas dificuldades evidenciadas na realização das tarefas, deve ser um dos aspectos formativos presentes na educação de todos os alunos que passam pelos espaços educativos oferecido pela instituição escolar. Reconheço que após seis meses de pesquisa dentro da escola, os resultados nas mudanças das propostas de aula, apontam para a efetivação de uma prática educativa onde não exista a possibilidade de realizar um trabalho de formação humana que não levasse em conta todas as facetas do ser humano. Contudo, ao intencionar e propor mudanças nas estruturas das aulas foi fundamental reconhecer os valores, os pensamentos e os sentimentos advindos da realidade pessoal dos professores e dos alunos, na busca dos resultados almejados por todos os envolvidos. Em função dessa constatação, durante o processo de investigação, tornou-se claro, o momento em que as professoras reconheceram que os resultados de todo trabalho educativo resultam, necessariamente, das experiências pessoais já vividas pelos alunos, somadas as ações didáticas propostas pelos professores nas aulas. Portanto, considerou-se nas discussões que, essas ações didáticas são muitas vezes carregadas de forma implícita e/ou explícita, consciente e/ou 196 inconsciente, de estruturas que valorizam ou desprezam os valores formativos na educação dos alunos. Com base nas reflexões citadas, contatou-se que, a educação que almejamos nessa instituição, não poderá existir, sem que haja o reconhecimento da importância do trabalho com a formação em valores humanos na escola, associada ao contexto das experiências individuais de cada aluno ou de cada grupo de aluno, ou até mesmo, da família e da comunidade em que está inserido. Segundo Freire (1991) a educação problematizadora parte da experiência concreta dos indivíduos e não apenas dos conteúdos programáticos pré-fixados pela instituição. Portanto, para o autor, a realidade do aluno, dissociada do que é proposto nas aulas, reflete uma educação também dissociada do que consideramos a educação transformadora, almejada pela sociedade que luta constantemente pelo acesso ao saber contextualizado ao interesse do aluno, e pela busca na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Nessa perspectiva creio que a escola deve envolver-se com lutas, deve propiciar reflexão sustentada pela capacidade crítica e dialógica. Deve também, trabalhar com a sensibilidade dos alunos ao longo da sua vida escolar, para que assim, eles possam reconhecer a realidade em que vivem buscando a sua maneira de atuar sobre ela. De tal forma, almejo, como Paulo Freire, que seja possível que os próprios alunos lutem pela liberdade de serem e de estarem num mundo de convivência plena. No meu entendimento, as ações pedagógicas apresentadas aos alunos, pelas professoras, desencadearam um marco reflexivo, válido para servir de referência nos momentos de planejamento e de estruturação de novas propostas e projetos educacionais que visem o crescimento pessoal e a convivência social entre os alunos e professores na escola. Considero que a realização da pesquisa não objetivou mostrar que na educação da atualidade as práticas com 197 grupos cooperativos são o único modelo de proposta pedagógica visando a formação humana, porém, acredito que a educação no âmbito formativo deve ter a convicção de que os espaços educativos oferecidos pela escola devem possibilitar o desenvolvimento de seres críticos, reflexivos e conscientes do seu poder de transformação social emergindo da sua própria capacidade de auto-transformação. Cabe aqui dizer que as investigações sobre as estruturas das aulas, não devem terminar com o final da pesquisa na escola, considerando que o diagnóstico da realidade investigada demonstrou como necessidade, ampliar o envolvimento permanente dos atores responsáveis pelo planejamento e ações na educação dos alunos. Desse modo, acredito que o processo de emancipação ocorreu gradativamente durante a pesquisa, oportunizando, um espaço para desvelar as teorias, juntamente com as observações das práticas. Ao valorizar os ideais e as necessidades pessoais de cada participante, contribuiu também, para a construção da autonomia, da independência, e da liberdade no plano individual e na responsabilidade social. Nesse sentido, espera-se que o processo de emancipação e de construção da autonomia do aluno a partir das experiências pautadas nas práticas cooperativas, torne-se parte dos recursos do professor, propondo uma nova maneira de interação entre os alunos, valorizando a criatividade, o gosto pelo conhecimento, recuperando como valor educativo na construção do conhecimento e da relação ensino-aprendizagem dos alunos. A cada encontro realizado, a minha participação como mediadora foi se reduzindo e consequentemente foram aumentando os espaços para as professoras argumentarem e avaliarem os planejamentos e os resultados do trabalho, tanto no âmbito individual, quanto no âmbito coletivo. Em função disso, percebi que nas últimas semanas na escola, a minha participação nas dinâmicas das aulas era a cada dia, menos requisitada pelas professoras e pelos alunos durantes as 198 atividades cooperativas propostas nas aulas. Tal fato permitiu-me, em alguns momentos durante as últimas aulas, posicionar-me de maneira a refletir sobre alguns pontos significativos, reconhecendo dessa forma, a autonomia dos professores. O primeiro ponto a considerar nas minhas reflexões, foi sobre o meu papel na finalização do trabalho, o segundo sobre a continuidade do processo de mudança iniciado pelas três professoras e o terceiro sobre a possibilidade almejada pelas professoras de ampliar os estudos sobre as teorias e práticas cooperativas para as outras professoras da escola. Portanto, espera-se que o espaço coletivo disponível para refletir e discutir na busca de compreender as ações realizadas nos espaços educativos não termine com a finalização da pesquisa, mas que possa fazer parte da formação permanente dos professores. E que a aprendizagem e a construção do conhecimento a partir das práticas cooperativas realizadas durante o período da Pesquisa-ação nessa escola, possam constituir parte integrante tanto da disciplina de Educação Física, quanto das outras disciplinas do currículo escolar. Sendo assim, acredito que transformar práticas educativas não é uma tarefa fácil, porém está longe de ser impossível. As experiências pessoais deixam marcas e os valores de dimensão ética estão impregnados em cada um de nós seres humanos e nas atitudes e decisões que tomamos. Vale ressaltar que os valores humanos estão presentes em nosso entorno e que talvez não apareça explicitamente em nossa fala, mas podem aparecer em nossas pequenas atitudes resultando nas decisões que tomamos. Portanto, discutir, planejar e criar possibilidades para uma educação pautada na cooperação entre os alunos foi, para todos os envolvidos no estudo, o início de um processo de descobertas sobre a possibilidade de construir uma educação que contribua para a efetivação de ações que valorizem a convivência no respeito, na ética e na cidadania. Essa constatação ressalta a necessidade de buscarmos coerência entre o discurso 199 teórico e a prática cotidiana vivida no ambiente educacional, para que se torne possível uma educação coerente e de qualidade. Para tanto o que se espera é que as ações pedagógicas sejam coerentes com o pensamento pedagógico. 200 5. REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, M. (Org). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 5ªed. Campinas SP: Papirus, 2001. ANDRIOLI, A, I. Trabalho coletivo em educação: um estudo de práticas cooperativas do PCEPrograma de Cooperativismo nas Escolas. 2ªed. Ijuí: EditoraUnijuí, 2007. ANTÔNIO, S. 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ANEXOS Anexo 1 Roteiro de observação 1- Descrição dos ambientes da instituição: 2- Qual o número de alunos por turma? 3- Qual a freqüência e duração das aulas de Educação Física? 4- Como se apresenta a rotina das aulas de Educação Física? 5- Existe um trabalho relacionado às questões atitudinais, conceituais e procedimentais nas aulas? 6- Existe um trabalho sustentado pelas práticas cooperativas? 7- Existe clareza nos objetivos propostos aos alunos? 8- Há momentos de criatividade, liberdade e ludicidade nas aulas? 9- Há atitudes cooperativas entre alunos/alunos e alunos/professor de Educação Física? 10- Há práticas cooperativas entre professor/professor e professor/coordenador? 11- Os problemas encontrados são compartilhados entre os professores da Instituição e a coordenadora? 12- Os alunos se mostram participativos e interessados nas aulas? 13- Há momentos de agressividade, desrespeito ou violência por parte dos alunos, durante as aulas de Educação Física? 14- Outras observações relevantes. 207 Anexo 2 Entrevista semi-estruturada com a coordenadora da escola Dados da coordenadora Nome: ______________________________________ 1) Idade: ( ) 20 -30 anos ( ) 31- 40anos ( ) 41- 50 anos ( ) acima de 51 anos 2) Formação: ________________________________ 3) Ano de conclusão do curso: ___________ 4) Tempo de exercício docente como coordenadora: ___________ Entrevista semi-estruturada 1. Qual é a sua opinião sobre as práticas cooperativas na escola? 2. Qual é a sua opinião sobre a competitividade na escola e na sociedade? 3. O trabalho a partir das práticas cooperativas é valorizado nas reuniões com o grupo de professores que você coordena na escola? 4. Quais são as suas maiores inquietações (preocupações) neste momento? 5. Qual é a sua opinião sobre o papel da escola na sociedade? 208 Anexo 3 Entrevista semi-estruturada com as professoras polivalentes: P2 e P3 Dados das professoras: Nome: ______________________________________ 1) Idade: ( ) 20 -30 anos ( ) 31-40anos ( ) 41- 50 anos ( ) acima de 51 anos 2) Formação: ________________________________ 3) Ano de conclusão do curso: ___________ 4) Tempo de exercício docente: ___________ 1- O que você conhece sobre os jogos cooperativos realizados nesta escola? 2- Qual a sua opinião sobre os trabalhos em grupo realizados nas aulas que você ministra? 3- Como são desenvolvidos os trabalhos sobre formação em valores nas suas aulas? 4- Qual a importância (contribuição) das aulas de Educação Física para o desenvolvimento dos alunos? 5- Qual é a sua maior inquietação(preocupação) neste momento? 6- Você tem interesse em conhecer e investigar as ações propostas pelas práticas cooperativas na educação? 209 Anexo 4 Entrevista com a professora de Educação Física Dados da professora: Nome: ______________________________________ 1) Idade: ( ) 20 -30 anos ( ) 31-40anos ( ) 41- 50 anos ( ) acima de 51 anos 2) Formação: ________________________________ 3) Ano de conclusão do curso: ___________ 4) Tempo de exercício docente: ___________ 1- O que te fez optar pelas práticas cooperativas como proposta educacional? 2- Qual é a sua opinião sobre a competitividade na escola e na sociedade? 3- Qual é a estrutura (organização) das suas aulas de Educação Física? 4- Como você avalia as atitudes cooperativas dos alunos nas aulas de Educação Física? 5- Como você avalia o trabalho cooperativo entre os profissionais dessa escola? 6- Qual é a sua maior inquietação (preocupação) neste momento? 210 Anexo 5 O POSICIOAMETO DAS CARTEIRAS A PRIMEIRA SEMAA DE AULA Sala do introdutório 211 Sala da 1ª série Atividade na rotina em grupos com quatro alunos 212 Anexo 6 ROTEIRO PARA ORGAIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COOPERATIVAS A ESCOLA - Adaptação da proposta de Carvalho (2003) 1- Conversar com os alunos sobre a nova maneira de realizar as atividades. 2- Possibilitar um espaço de discussão com os alunos sobre a proposta. 3- Combinar algumas normas e regras de convivência e de trabalho em relação à responsabilidade, ao respeito, à participação, entre outras necessárias para realização do trabalho cooperativo. 4- Dividir os alunos em grupos de quatro para o trabalho durante o bimestre, acomodando as carteiras em duplas frente a frente. Os critérios para a divisão dos grupos com 4 alunos podem ser por sorteio, escolha do professor, escolha dos alunos, mista, dependendo da intencionalidade do professor. 5-Numerar os integrantes dos grupos de 1 a 4 para definir as tarefas entre o grupo quando for necessário distribuí-las. 6- Cada grupo deverá escolher um nome, um cumprimento ou saudação entre os participantes e confeccionar um cartaz representando o nome do grupo escolhido. 7- Iniciar as atividades dos conteúdos programáticos de qualquer uma das disciplinas. * A possibilidade de formar grupos com quatro alunos é uma sugestão dos estudos de Carvalho (2003). Em suas experiências relata ser esta possibilidade a mais eficaz pela facilidade de desmembramento no momento de formar dupla de trabalho e de ser quatro um número que 213 possibilitará a participação de cada aluno várias vezes durante as tarefas. O autor adverte, porém, que, quando não for possível a divisão de grupos com quatro alunos, o agrupamento poderá ser composto com cinco alunos. 214 Anexo 7 ATIVIDADE COOPERATIVA: ETREVISTA DE TIME Material: uma folha de sulfite com um desenho grande de uma camiseta, lápis de cor, tesoura, barbante e cola. - Dividir os grupos nos quartetos já pré-estabelecidos para a realização das atividades do bimestre. Em uma folha de sulfite estampada com o desenho de uma camiseta os quartetos deverão confeccionar um modelo de camiseta para o seu time. Estipulou-se um roteiro contendo as informações que deverão ser desenhadas ou escritas pelos alunos na camiseta: 1- seu nome; 2- seu lazer preferido; 3- um lugar especial na sua vida; 4- duas coisas que você faz bem; 5- uma palavra que defina você; 6- nome do seu grupo; Nas camisetas deverão ter alguns desenhos representando informações, desejos, gostos pessoais de cada integrante do grupo, diferenciando os detalhes nas estampas. A seguir os quatro alunos deverão realizar uma entrevista com cada um dos integrantes fazendo perguntas sobre os dados pessoais desenhados ou escritos na camiseta dos integrantes do seu grupo e depois compartilhar com os outros grupos. No final as camisetas deverão ser recortadas e coladas em um barbante (varal) permanecendo expostas por uns dias no pátio da escola 215 216 Anexo 8 ATIVIDADE COOPERATIVA: DAÇA DA PAZ Material: fitas de papel crepon coloridas, aparelho de som e CD com músicas alegres. Cada aluno deverá receber uma fita de crepon de aproximadamente 50 cm. Ao som da música os alunos correrão e brincarão pelo espaço agitando sua fita. Ao sinal do professor a música será interrompida, e os alunos deverão agrupar-se para uma tarefa coletiva. Exemplo: formar grupos com 6, 4 ou 2 integrantes e construir, no chão, com a fita, a figura de um quadrado, ou de uma letra, etc. Para finalizar, o professor deverá pedir que todos juntos construam a palavra Paz rodeada por um abraço coletivo. 217 Anexo 9 ATIVIDADE COOPERATIVA: O JORAL Material: Jornal Iniciar a aula com a roda da conversa, distribuindo uma folha de jornal para cada aluno onde ele deverá procurar à letra inicial do seu nome, depois sua idade, a figura de animais, os meios de transporte, e, para finalizar os meios de comunicação, propiciando discussões em cada um dos itens mencionados. Após a atividade realizada em roda, os alunos deverão brincar e correr com a folha de jornal, imaginando que ela fosse uma pipa. Para finalizar a atividade, deve-se propor a brincadeira do “coelho sai da toca”, transformada em jogo cooperativo, pois, os alunos não saem da brincadeira quando ficam sem toca, mas sim, encontram acolhimento na toca dos outros alunos. Propõe-se que, ao longo da atividade, sejam retiradas algumas folhas de jornal com a intenção de propiciar situações de solidariedade e cooperação entre os alunos. 218 Anexo 10 ATIVIDADE COOPERATIVA: “CABEÇAS PESADO JUTAS” Estrutura adaptada dos Estudos de KAGAN (1994). Material: livro de História A partir das propostas de atividades descritas no livro de História será proposto aos alunos que o conhecimento sobre o tema deverá ser compartilhado pelo grupo. Cada questão do conteúdo quando respondida deverá ser investigada e discutida primeiramente pelo quarteto. Durante os momentos de discussão, os alunos deverão ficar em pé apoiados nas mesas e com as cabeças próximas umas das outras até que haja um consenso sobre a resposta ou que decidam finalizar a discussão. Nesse momento, os quatro alunos deverão sentar-se, sinalizando para a sala que estão prontos para apresentar em suas respostas e/ou dúvidas para o restante da sala. A professora deverá auxiliar a turma, mediando as discussões entre os grupos frente as diferentes opiniões e/ou respostas dadas pelos alunos. 219 Anexo 11 ATIVIDADE COOPERATIVA: “CORREIO DA PAZ” Estrutura adaptada do referencial de Velazquez (2004) Material: uma caixa de papelão encapada A partir de um tema gerador, exemplo: conteúdo das disciplinas, conflitos durante a aula, notícia relevante mostrada pela mídia durante a semana, ou sugestão dos alunos, disponibiliza-se um espaço para comunicação interpessoal por meio da linguagem gráfica. Na caixa deverão ser depositadas as mensagens com os desejos, os sentimentos, os medos, ou qualquer outro intenção de comunicação dos alunos e professores. A caixa do Correio da Paz deverá ficar na sala de aula ao alcance de todos, para que, a qualquer momento ou em situações dirigidas pela professoras, os alunos possam depositar suas cartas. Todas as sextas-feiras as cartas serão entregues aos destinatários, e se for do desejo dos alunos, poderão ser lidas em voz alta compartilhando o momento com a turma toda. 220 Anexo 12 ATIVIDADE COOPERATIVA: UM DIA DE IDIO (1ª série) Material: cartolina, tinta guache, cola colorida, penas, miçanga, sementes. Trabalho de interação entre o conteúdo sobre tribos indígenas no Brasil do livro de Geografia e as experiências vivenciadas nas aulas de Educação Física. Divisão dos grupos com quatro alunos. A escolha para os nomes dos grupos deverão estar relacionadas a nossa cultura indígena, por exemplo: Pataxó, Tupi-Guarani, etc. Na sala de aula, os alunos confeccionarão um cocar e discutirão sobre os hábitos dos índios atuais e dos mais antigos. Pesquisarão, em casa, sobre as diferentes formas de expressão da cultura indígenas, como: alimentação, moradia, rotina de trabalho, etc. Nas aulas de Educação Física, serão propostas atividades de dramatização, representando a rotina dos índios, tais como caçar, nadar, correr, plantar, cozinhar, brincar, entre outras que surgirão das manifestações dos alunos. 221 222 Anexo 13 ATIVIDADE COOPERATIVA: ÍDIOS (introdutório) Material: cartolina, giz de cera, penas, miçangas. Roda da conversa sobre as diferenças dos hábitos indígenas em relação às pessoas que moram nas cidades. Dividir os grupos e sugerir a escolha dos nomes a partir de palavras relacionadas aos termos indígenas. Propor que os alunos desenhem o que acharam mais interessante na roda da conversa e que, depois, compartilhem suas ideias com os colegas do time e da sala toda deixando o desenho exposto no mural da sala. Nas aulas de Educação Física os alunos deverão confeccionar um cocar e encenar a rotina de um dia de índio para vivenciá-la no espaço da escola, dramatizando cenas do cotidiano indígena. (dormir, acordar, tomar banho, caçar, cozinhar, brincar, descansar, etc.). 223 224 Anexo 14 PROJETO ITERDISCIPLIAR (introdutório) Atividade adaptada do CD do Profº Bahia Material: sulfite, lápis de cor, tesoura, massinha, CD e aparelho de som. * Para esta atividade serão necessários no mínimo de três dias de aulas. Primeiro dia: roda da conversa sobre os animais discutindo temas como: quem são? onde vivem? quais as diferenças entre as espécies? Entre outras questões que emergirem do grupo. Apresentar aos alunos a Música do Crupelg, a qual conta a história de um animal elegante que tem partes do seu corpo de vários animais diferentes. O bico do animal é de pato, o rabo de rato, a barriga de urso, o pescoço de girafa, entre outros. Após a conversa, tocar a música para os alunos ouvirem duas vezes e, depois, solicitar que desenhem o “bicho esquisito”, recortem e colem, construindo um painel coletivo da sala. Segundo dia: montar os quartetos para a aula de Educação Física. Os alunos ficarão na quadra da escola e deverão criar uma coreografia simples para apresentar à turma utilizando a Música do Crupelg e fazendo gestos representativos de animais. Se houver interesse por parte dos alunos, será proposta uma atividade em que manusearão massinha para a criação de uma escultura do bicho esquisito construída pelos quatro integrantes do grupo. Terceiro dia: na sala de aula com a professora polivalente serão propostas atividades dos conteúdos de Matemática (estimativa de peso e de altura do bicho esquisito), Ciências (alimentação), Geografia (origem), Português (letra da música-leitura e escrita). 225 226 227 Anexo 15 ATIVIDADE COOPERATIVA: “MOSAICO HUMANO” Material: oito cartolinas, giz de cera e fita adesiva. Preparar um grande painel unindo oito cartolinas com fita adesiva, formando um retângulo disposto no chão. Um aluno de cada vez deitará sobre a cartolina em uma posição escolhida por ele. Os outros alunos farão o seu contorno com giz de cera e depois trocarão de lugar. Os espaços das linhas de intersecção deixados pelo contorno dos corpos deverão ser preenchidos com giz de cera o que resultará um grande Mosaico Humano colorido. Variação: formar dois grupos de alunos e criar dois Mosaicos, um com cores que representam a noite, outro com cores que representam o dia. 228 229 Anexo 16 COREOGRAFIA COOPERATIVA COM BOLAS DE TÊIS Material: bolas de tênis Na quadra da escola, disponibilizar o espaço para os alunos criarem diferentes possibilidades de movimentos com uma bola de tênis. Em seguida, solicitar que cada aluno escolha e pratique dois movimentos diferentes, realizados em quatro tempos, para apresentar e ensinar a um colega. Espera-se com isso que os alunos ensinem e aprendam diferentes movimentos com a bolinha. Na próxima etapa, será solicitado que os dois alunos procurem outros dois para ensinar e aprender com eles novas possibilidades de movimentos com a bolinha. Age-se assim consecutivamente até formar grandes grupos que resultarão uma coreografia criada de maneira cooperativa. . 230 231 Anexo 17 ATIVIDADE: “COISAS BELAS DA VIVA” (AULA PASSEIO) Material: caderno e lápis Iniciar a aula de Educação Física com a roda da conversa, sugerindo aos alunos que compartilhem algumas das suas experiências prazerosas, lembrando as coisas belas da vida. Em seguida, passear pela escola com todos os alunos os quais deverão observar e anotar as coisas que eles acham belas no ambiente escolar (jardim, pátio, parque, estacionamento, céu, etc.). Após a observação e o relatório, os alunos retornarão para a sala e permanecerão sentados nos grupos, compartilhando com os outros alunos o que foi observado no passeio. A relação descrita pelos alunos deverá ser entregue à professora polivalente com o objetivo de apresentar novos temas geradores para auxiliar a elaboração e o desenvolvimento dos conteúdos programáticos. Por meio de desenhos, os alunos registrarão, em um painel coletivo, o que acham belo na escola e na vida. 232 233 Anexo 18 ATIVIDADE: OS SERES VIVOS E O MEIO AMBIENTE (Aula passeio – Educação Física e Ciências) Material: Livro de Ciências, lápis e caderno. O tema da aula será: “explorando o meio ambiente”. Na sala de aula, a professora polivalente distribuirá as tarefas para cada aluno cumprir no desenvolvimento da aula passeio. Essas tarefas são referentes ao conteúdo do livro de Ciências. Cada aluno deverá cumprir sua parte na investigação sobre os seres vivos, os seres não vivos e sobre a natureza. Observarão as semelhanças e diferenças existentes no meio ambiente. Ao retornarem para a sala de aula, deverão discutir o que foi observado e responder as questões do livro. 234 Anexo 19 Atividade: O Urso (introdutório) Material: lençol, aparelho de som e CD de música clássica com diferentes ritmos. Iniciar a aula de Educação Física com a roda com a intenção de conversar com os alunos sobre o habitat dos ursos, suas características físicas, sua alimentação e seus hábitos diários. Abrir um espaço rico para discussão sobre alimentação saudável. Com uma música com ritmo mais lento, o professor deverá estimular a imaginação dos alunos sugerindo que eles são “ursinhos” que dormem em uma caverna. Nesse momento, o lençol representará a caverna. Depois de uma breve simulação dos ursinhos “hibernados”, eles deverão acordar com uma música mais rápida e seguir dançando para o rio imaginário, onde tomarão banho e farão suas necessidades biológicas. Após se enxugarem, deverão buscar os alimentos em seus respectivos lugares: peixes no rio, mel na colméia e frutas nas árvores. O professor deverá estimular a imaginação e a dramatização durante toda a atividade acrescentando os detalhes na história do urso de acordo com o interesse do grupo e estando sempre atento ao ritmo das músicas clássicas selecionadas. Variação: Trocar o urso por outro animal. Utilizar durante a atividade, além do conteúdo de Ciências (alimentação), outros que, posteriormente, possam serem desenvolvidos na sala de aula, como: números, cores, animais, higiene, extinção, meio ambiente, preservação, entre outros. 235 236 Anexo 20 ATIVIDADE: PAINEL DE VALORES: BANDEIRA DA PAZ A partir de situações do cotidiano, propiciar a mediação e resolução de conflitos, oportunizar um espaço de discussão sobre valores humanos. Confeccionar com a sala toda, uma bandeira com o carimbo de uma das mãos dos alunos, compondo um par com outra mão de um outro colega. Deixar a bandeira exposta no pátio simbolizando a Paz na escola. 237 Anexo 21 ATIVIDADE: PEGA-PEGA VALORES A partir de situações do cotidiano, propiciar a mediação e resolução de conflitos, oportunizar um espaço de discussão sobre valores humanos. Confeccionar com toda sala um painel com o contorno das mãos dos com um valor um aluno fazendo par com outra mão de um outro colega. Deixar exposto no pátio simbolizando a Paz na escola. Criar com os alunos variações de pegapega utilizando os grupos formados na sala nomeados pelos valores. Ex: grupo da alegria, pega a tristeza, grupo solidário pega o egoísta,variando sempre os grupos de pegadores. 238 Anexo 22 ATIVIDADE: DESAFIO COOPERATIVO Material: raquetes e bolinhas de frescobol, um lençol e um balde. Explicar a atividade na sala de aula, separar os alunos em grupos de oito participantes, antes de distribuir o material na quadra. Um aluno ficará com a raquete de frescobol e com as bolinhas de tênis para ser o primeiro batedor. Quatro alunos ficarão segurando as pontas do lençol para servirem como receptadores da bolinha. Eles deverão, em seguida, lançá-la em direção a um quinto aluno que deverá estar a uma distância aproximada de 7 metros, segurando um balde para encestá-la. Os outros dois alunos serão os responsáveis por buscar as bolas que não forem encestadas. Sugestiona-se que a cada cinco bolas lançadas, os alunos façam um rodízio das posições. Variação: propor desafios numéricos de bolas encestadas em um tempo estipulado pelos próprios alunos. 239 240 Anexo 23 ATIVIDADE: AVIÃO DE PAPEL Material: folhas de sulfite e lápis de cor. No início da aula, primeiramente, separar os alunos em grupos de quatro. Cada aluno receberá uma folha de sulfite para confeccionar o seu avião. O primeiro passo será colorir a sua folha personalizando o avião e compondo um desenho que possa representar as idéias de cada grupo. O professor deverá sugerir que os alunos escrevam, na asa do avião que será enviado para os amigos, uma palavra que represente um valor positivo (Paz, Amor, Amizade, Carinho, etc.) A seguir, o professor deverá conduzir à dobradura, seguindo as orientações da aprendizagem cooperativa referente à divisão de tarefas. Cada aluno deverá ter um avião. No pátio da escola, os quatro alunos deverão posicionar-se a uma distância aproximadamente de 6 metros, formando a figura de um quadrado e estabelecendo, assim, o percurso para o vôo dos aviões. Cada aluno deverá ficar em uma posição estratégica para lançar o seu avião e dar apoio à aterrizagem do avião do seu colega que virá em sua direção. Essa organização para o lançamento e para a recepção da aterrizagem será realizada em quatro momentos pelos alunos, até a chegada/retomada do seu avião (fim da viagem). Variação: Criar uma história para ser representada durante o percurso do avião. 241 242 Anexo 24 ATIVIDADE: FESTA NA FLORESTA Material: aparelho de som e CD com músicas animadas/divertidas. Na aula de Educação Física, ao som de uma música divertida, os alunos deverão dançar livremente pelo espaço. Ao sinal do professor, deverão dividir-se em cinco grupos. Nesse momento o professor contará uma história descrevendo alguns animais domésticos e sugerindo que eles moram na fazenda e serão convidados para uma grande festa na floresta. Cada um dos seis grupos se reunirá para escolher um animal doméstico que gostaria de ser (um grupo de gatos, outro grupo de galinhas, outro de porcos, etc.). Cada grupo deverá praticar o som respectivo do animal escolhido. O professor reiniciará a história e a música, pedindo que voltem a dançar na festa da floresta, porém alerta que está escurecendo e a lua, que seria a convidada especial, resolveu não comparecer. No momento seguinte, enquanto os alunos dançam, o professor alertará que a floresta está ficando muito escura e que todos os convidados não conseguirão encontrar seus parentes. A seguir, o professor interromperá a música e pedirá que todos fechem os olhos simulando a escuridão da floresta. Orientará que só será possível localizar seus amigos pelo som específico de cada diferente grupo de animais. Nesse momento, todos os alunos permanecerão com os olhos fechados emitindo os sons combinados tentarão encontrar seus parentes para um abraço coletivo. Variação: Mudar a história e/ou os animais. Exemplo: pássaros, animais selvagens, sons da natureza, etc. 243 244 Anexo 25 ATIVIDADE: CORPO HUMANO (Livro de Português) Com a professora polivalente, o aluno responderá às questões do livro de Português referentes a sua personalidade, seus desejos e suas características físicas, compartilhando seus pensamentos e idéias com os colegas do grupo. Na aula de Educação Física deverão formar duplas, e cada aluno deverá contornar o corpo do colega numa folha que caiba o contorno do corpo todo do aluno. Após desenhar, os alunos vão caracterizar as figuras com os seus detalhes pessoais, corte de cabelo, tipo de roupa e acessórios que estão usando. No pátio, a professora irá propor que brinquem com os seus personagens representados por um boneco de papel. Nessa ocasião, destaca-se o momento da atividade em que os alunos deverão nomear as partes do corpo,distinguindo os membros superiores, órgãos internos, e diferentes movimentos que possam ser representados pelos bonecos .Isso ajudará o desenvolvimento do esquema corporal e da lateralidade do aluno. 245 246 ATIVIDADES QUE SURGIRAM O DECORRER DAS SEMAAS Os três Porquinhos: a partir da escolha realizada pelos alunos, do livro da semana, a sala do introdutório desenvolveu na aula de Educação Física a sessão historiada do “Lobo mau e os três porquinhos”. A professora polivalente leu o livro e contou a historinha na sala. No mesmo dia na aula de Educação Física os grupos de quatro alunos, construíram a história a partir de desenhos no chão da quadra, ilustrando as etapas da história. Um grupo desenhou a casa de palha o outro o lobo e os três porquinho, e os outros desenharam as outras cenas da descritas no livro. Dramatizaram a história representando ser um aluno o lobo e os outros os porquinhos. 247 DEVERES E DIREITOS A partir de uma atividade do livro de Geografia realizamos discussões sobre direitos e deveres da criança e do adolescente. Os alunos ouviram e cantaram brincando com diferentes ritmos a Musica “Deveres e Direitos” cantada por Toquinho, como tarefa do livro representaram o tema em um cartaz coletivo. 248 REPRESETAÇÃO DA HISTÓRIA Os alunos escolheram para ser trabalhado na semana, a história do “Gigante da Floresta” cantada pelo Grupo Coricocó. Inicialmente ouviram a música/ historiada na sala de aula com a professora polivalente, e posteriormente, dramatizaram e pintaram painéis ilustrativos nas aulas de Educação Física. 249 ATIVIDADE QUE VALORIZAM A COFIAÇA, O RESPEITO E A COOPERAÇÃO. Iniciou-se a aula com a roda da conversa, o tema gerador foram as diferenças, as dificuldades e os limites de cada pessoa. O professor disponibilizou para cada aluno brincar um venda para os olhos. A partir do momento que as dificuldades que foram surgindo, o professor, foi mediando a possibilidade dos alunos realizarem trocas, podendo então contar com o auxilio de um colega para caminhar pelo espaço da quadra. Por iniciativa dos alunos surgiram grupos de apoio, facilitando a locomoção e compartilhando as experiências: somos todos interdependentes. 250 ATIVIDADE DO LIVRO DE PORTUGUÊS As questões do livro de Português da 1ª série elucidavam que os alunos respondessem qual a atividade ou brincadeira que eles mais gostam. A partir dessa tarefa as professoras elaboraram situações de trabalho nos quartetos com a intenção de que os alunos pudessem compartilhar as suas respostas com os colegas. Posteriormente foi pedido aos alunos que desenhassem as atividades preferidas e fizessem um registro individual escrito para ser depositado no correio da Paz. Este registro serviu para a professora de Educação Física identificar possibilidades de jogos e brincadeiras para serem realizadas nas aulas. Com a mediação da professora polivalente os alunos montaram um gráfico na lousa no intuito de identificar as brincadeiras mais escolhidas pelos alunos da sala (utilizamos para esta atividade o espaço da biblioteca).