___________________________________________ Instituto de Ciências Exatas - Departamento de Matemática Cálculo I – Profª Maria Julieta Ventura Carvalho de Araujo Capítulo 1: Números Reais 1.1- Conjuntos Numéricos Os primeiros números conhecidos pela humanidade são os chamados inteiros positivos ou naturais. Temos então o conjunto N = { 1,2,3,4,...} . Os números –1, –2, –3, –4, ... são chamados inteiros negativos. A união do conjunto dos números naturais com os inteiros negativos e o zero define o conjunto dos números inteiros que denotamos por Ζ = { 0, ± 1, ± 2, ± 3, ± 4,...} . Os números da forma p , onde p e q são inteiros e q ≠ 0 são chamados de frações e formam o conjunto dos q números racionais. Denotamos por p Q = ; p ∈ Ζ , q ∈ Ζ e q ≠ 0 . q p Cada número racional possui, também, uma representação decimal. Para obtê-la, basta efetuar a divisão q de p por q. Por exemplo: 1 = 0,25, 4 1 = 0,142857 7 e 5 = 0,416, 12 onde a barra acima dos algarismos indica que aquele grupo de algarismos repete-se indefinidamente. Dizemos, nesse caso, que se trata de uma dízima periódica. Observe que, dado o número racional p , ao dividirmos p por q, temos, em cada passo da divisão, apenas q um número finito de possibilidades para o resto, a saber, 0, 1, 2, ... , q – 1. Portanto, após no máximo q passos, chegaremos ao resto zero, que é o que ocorre com resto, que é o que ocorre com 1 , e a representação decimal será finita, ou repetiremos algum 4 1 5 e , quando teremos uma representação decimal na forma de dízima periódica. 7 12 Reciprocamente, se x possuir uma representação decimal finita ou for uma dízima periódica, então x será um número racional. Os exemplos a seguir podem ser generalizados para dízimas quaisquer e permitem entender como obter uma fração a partir de uma representação decimal. 25 1 = . 100 4 Exemplo 2: Como x = 0,142857 possui um período de 6 dígitos, multiplicamos por 106 para obter Exemplo 1: 0,25 = ( ) 106 x = 142857,142857. Assim, 106 x − x = 142857, de modo que 106 − 1 x = 142857 e resulta 142857 142857 15873 1443 111 1 x= = = = = = . 6 10 − 1 999999 111111 10101 777 7 a a a ...a Regra Geral: x = 0, a1a2 a3 ...at = 1 2 3 t , onde o denominador tem tantos dígitos iguais a 9 quantos 999...9 forem os algarismos do período (t, nesse caso). 1 Exemplo 3: Como os dois primeiros dígitos da parte decimal de x = 0,416 não fazem parte do período, 2 multiplicamos x por 102 para obter 10 x = 41, 6 = 41 + 0, 6 = 41 + x= 6 2 41.3 + 2 125 = 41 + = = ; portanto, 9 3 3 3 125 5 = . 300 12 Existem números que não podem ser representados na forma p , onde p e q são inteiros e q ≠ 0, ou seja, q números cuja expansão decimal não é finita e nem periódica, tais como 2,101001000100001..., 2 = 1,41421..., π = 3,1415927..., e = 2,7182818... . Estes números formam o conjunto dos números irracionais que denotaremos por QC. Da união do conjunto dos números racionais com o conjunto dos números irracionais resulta o conjunto dos números reais, que denotaremos por R = Q ∪ QC . Temos também os números da forma a + bi , onde a e b são números reais e i 2 = − 1 , que constituem o conjunto dos números complexos denotado por C = a + bi; a ∈ R, b ∈ R e i = − 1 . { } Observação: As letras N, Q, R e C são as iniciais das palavras número (ou natural), quociente, real e complexo, respectivamente. A letra Z é a inicial da palavra zahl, que significa número em alemão. 1.2- O Corpo dos Números Reais No conjunto dos números reais introduziremos duas operações, chamadas adição e multiplicação, as quais satisfazem os axiomas a seguir. A adição faz corresponder a cada par de elementos a, b ∈ R sua soma a + b ∈ R, enquanto a multiplicação associa a esses elementos o seu produto a . b ∈ R. - Axiomas da adição A1. Associatividade: Quaisquer que sejam a, b, c ∈ R, tem-se (a + b) + c = a + (b + c). A2. Comutatividade: Quaisquer que sejam a, b ∈ R, tem-se a + b = b + a. A3. Elemento neutro: Existe 0 ∈ R tal que a + 0 = 0 + a = a, qualquer que seja a ∈ R. A4. Simétrico: Todo elemento a ∈ R possui um simétrico em R, denotado por –a, tal que a + (–a) = (–a) + a = 0. - Axiomas da multiplicação M1. Associatividade: Quaisquer que sejam a, b, c ∈ R, tem-se (a . b) . c = a . (b . c). M2. Comutatividade: Quaisquer que sejam a, b ∈ R, tem-se a . b = b . a. M3. Elemento neutro: Existe 1 ∈ R tal que 1 ≠ 0 e a . 1 = 1 . a = a, qualquer que seja a ∈ R. M4. Inverso multiplicativo: Todo elemento a ≠ 0 em R possui um inverso multiplicativo em R, denotado por a -1 ou 1/a, tal que a . a-1 = a-1. a = 1. D1. - Axioma da distributividade: Quaisquer que sejam a, b, c ∈ R, tem-se a . (b + c) = a . b + a . c e (a + b) . c = a . c + b . c. 2 Observações: 1. Outros conjuntos numéricos apresentam-se munidos das operações de adição e multiplicação, satisfazendo as nove propriedades anteriormente referidas. Por exemplo, o conjunto Q dos números racionais e o conjunto C dos números complexos. 2. Um conjunto K munido de duas operações satisfazendo aos nove axiomas anteriores é denominado corpo. Portanto, relativamente às operações de adição e multiplicação, R é um corpo. Também Q e C são corpos. 3. Usando os axiomas A.4 e M.4 podemos definir a subtração e a divisão de números reais. - Subtração: Se a e b são números reais, a diferença entre a e b, denotada por a – b, é definida por a – b = a + (– b). A operação que associa a cada par de elementos a, b ∈ R sua diferença a – b ∈ R chama-se subtração. a , é definido por b a 1 a = a . b − 1 = a . . A operação que associa a cada par de elementos a, b ∈ R, com b ≠ 0, o quociente ∈ R b b b - Divisão: Se a e b são números reais e b ≠ 0, o quociente de a por b, denotado por chama-se divisão. 1.3- Algumas propriedades que se deduzem dos axiomas de corpo P.1. O elemento neutro da adição em R é único. Vamos supor que 0 e 0’ são elementos neutros para a adição em R. Temos: 0 é neutro e 0’∈ R ⇒ 0 + 0’= 0’; 0 ∈ R e 0’é neutro ⇒ 0 + 0’ = 0. Logo, 0’= 0. Portanto o elemento neutro da adição em R é único. P.2. O elemento simétrico em R é único. Vamos supor que –a e a’são simétricos de a ∈ R. Então: a' = a’+ 0 = a’+ [a + (–a)] = (a’+ a) + (–a) = 0 + (–a) = –a. Portanto o elemento simétrico de a ∈ R é único. P.3. O elemento neutro da multiplicação em R é único. Vamos supor que 1 e 1’ são elementos neutros para a multiplicação em R. Temos: 1 é neutro e 1’∈ R ⇒ 1 . 1’= 1’; 1 ∈ R e 1’é neutro ⇒ 1 . 1’ = 1. Logo, 1’= 1. Portanto o elemento neutro da multiplicação em R é único. P.4. O elemento inverso em R é único. Vamos supor que a-1 e a’ são inversos de a ∈ R, a ≠ 0. Então: a' = a’. 1 = a’. (a . a-1) = (a’. a) . a-1 = 1 . a-1 = a-1. Portanto o elemento inverso de a ∈ R, a ≠ 0, é único. P.5. Se a ∈ R então a . 0 = 0. Temos: a.0 = a. (0 + 0) = a.0 + a.0 ⇒ a.0 + [– (a.0)] = a.0 + a.0 + [– (a.0)] ⇒ 0 = a.0. Logo, a.0 = 0. 3 P.6. Se a, b ∈ R tais que a . b = 0 então a = 0 ou b = 0. Se a = 0, não temos nada a mostrar. Vamos supor, então, a ≠ 0. Assim existe a-1 ∈ R e obtemos: a.b = 0 ⇒ a-1 (a.b) = a-1.0 ⇒ (a-1.a).b = 0 ⇒ 1.b = 0 ⇒ b = 0. P.7. Se a, b, c ∈ R então, a – b = c ⇔ a = b + c. Temos: a – b = c ⇒ a + (–b) = c ⇒ [a + (–b)] + b = c + b ⇒ a + [(–b) + b] = b + c ⇒ a + 0 = b + c ⇒ a = b + c. a = b + c ⇒ (–b) + a = (–b) + (b + c) ⇒ a + (–b) = [(–b) + b] + c ⇒ a – b = 0 + c ⇒ a – b = c. P.8. Se a, b, c ∈ R, com b ≠ 0, então, a = c ⇔ a = b.c . b Temos: a = c ⇒ a.b − 1 = c ⇒ a.b − 1 b = c.b ⇒ a. b − 1.b = b.c ⇒ a.1 = b.c ⇒ a = b.c. b a a = b.c ⇒ b − 1.a = b − 1.( b.c ) ⇒ a.b − 1 = b − 1.b .c ⇒ a.b − 1 = 1.c ⇒ = c. b ( ) ( ( ) ) P.9. Se a, b, c ∈ R então, a + c = b + c ⇒ a = b. Temos: a + c = b + c ⇒ (a + c) + (–c) = (b + c) + (–c) ⇒ a + [c + (–c)] = b + [c + (–c)] ⇒ a + 0 = b + 0 ⇒ a = b. P.10. Se a, b, c ∈ R, com c ≠ 0, então, a . c = b . c ⇒ a = b. Temos: a.c = b.c ⇒ (a.c).c-1 = (b.c).c-1 ⇒ a.(c.c-1) = b.(c.c-1) ⇒ a.1 = b.1 ⇒ a = b. P.11. Se a, b ∈ R então, – a = (– 1) . a; – ( – a) = a; (– a) b = a (– b) = – (a b); (– a) (– b) = a b. 1) (–1).a + a = (–1).a + 1.a = [(–1) + 1].a = 0.a = 0; logo o simétrico de a é (–1).a, ou seja, –a = (–1).a. 2) a + (–a) = 0; logo o simétrico de (–a) é a, isto é, –(–a) = a. 3) (–a).b + a.b = [(–a) + a].b = 0.b = 0; logo (–a).b é o simétrico de a.b, isto é, (–a).b = –(a.b). a.(–b) + a.b = a.[(–b) + b] = a.0 = 0; logo a.(–b) é o simétrico de a.b, ou seja, a.(–b) = –(a.b). 4) (–a).(–b) = –[a(–b)] = –[ –(a.b)] = a.b. P.12. Se a, b ∈ R então, a2 = b2 se, e somente se, a = ± b. Temos: a2 = b2 ⇔ a2 − b2 = 0 ⇔ ( a − b ).( a + b ) = 0⇔ a− b = 0 ou a+ b = 0⇔ a = b ou a = −b. 1.4- Desigualdades e suas propriedades - Axioma de Ordem No conjunto dos números reais, existe um subconjunto denominado de conjunto dos números positivos tal que as seguintes condições são satisfeitas: (i) dado a ∈ R, exatamente uma das três alternativas seguintes ocorre: ou a = 0, ou a é positivo ou – a é positivo; (ii) a soma de dois números positivos é positiva; (iii) o produto de dois números positivos é positivo. 4 - Definições 1. O número real a é negativo se, e somente se, – a é positivo. 2. Os símbolos < (menor que) e > (maior que) são definidos como segue: (i) a < b ⇔ b – a é positivo; (ii) a > b ⇔ a – b é positivo. 3. Os símbolos ≤ (menor que ou igual a) e ≥ (maior que ou igual a) são definidos como segue: (i) a ≤ b ⇔ a < b ou a = b; (ii) a ≥ b ⇔ a > b ou a = b. 4. Expressões envolvendo os símbolos <, >, ≤ ou ≥ são chamadas desigualdades. Expressões do tipo a < b e a > b são desigualdades estritas, enquanto a ≤ b e a ≥ b são desigualdades não estritas. - Propriedades Sejam a, b, c e d números reais. Temos: P.1. a > 0 ⇔ a é positivo a > 0 ⇔ a – 0 é positivo ⇔ a é positivo P.2. a < 0 ⇔ a é negativo a < 0 ⇔ 0 – a é positivo ⇔ – a é positivo ⇔ a é negativo P.3. a > 0 ⇔ – a < 0 a > 0 ⇔ a é positivo ⇔ – a é negativo ⇔ – a < 0 P.4. a < 0 ⇔ – a > 0 a < 0 ⇔ a é negativo ⇔ – a é positivo ⇔ – a > 0 P.5. Se a ∈ R e a ≠ 0 então a2 > 0. Em particular, 1 > 0. Como a ∈ R e a ≠ 0 temos, pelo axioma de ordem, que a > 0 ou – a > 0. Também pelo axioma de ordem obtemos que se a > 0 então a2 = a.a > 0 e se – a > 0 então a2 = a.a = (– a).( – a) > 0. Em particular, 1 ≠ 0 e 1 = 12; logo 1 > 0. P.6. Dados a, b ∈ R, ocorre exatamente uma das alternativas seguintes: ou a = b, ou a < b ou a > b. Sendo a, b ∈ R então b – a ∈ R e, pelo axioma de ordem, temos: ou b – a = 0, ou b – a > 0 ou – (b – a) > 0. Assim, ou a = b, ou a < b ou a > b. P.7. Se a < b e b < c então a < c. Temos: a < b e b < c ⇒ b – a > 0 e c – b > 0 ⇒ (b – a) + (c – b) > 0 ⇒ c – a > 0 ⇒ a < c. P.8. Se a < b então a + c < b + c. Temos: a < b ⇒ b – a > 0 ⇒ b + c – c – a > 0 ⇒ (b + c) – (a + c) > 0 ⇒ a + c < b + c. 5 P.9 Se a < b e c > 0 então a c < b c. Temos: a < b e c > 0 ⇒ b – a > 0 e c > 0 ⇒ c. (b – a) > 0 ⇒ b.c – a.c > 0 ⇒ a.c < b.c P.10. Se a < b e c < 0 então a c > b c. Em particular, a < b é equivalente a – a > – b. Temos: a < b e c < 0 ⇒ b – a > 0 e – c > 0 ⇒ (b – a).( – c) > 0 ⇒ a c – b c > 0 ⇒ a c > b c. P.11. Se a < b e c < d então a + c < b + d. Temos: a < b e c < d ⇒ b – a > 0 e d – c > 0 ⇒ (b – a) + (d – c) > 0 ⇒ (b + d) – (a + c) > 0 ⇒ a + c < b + d. P.12. Se 0 < a < b e 0 < c < d então a c < b d. Temos: a < b e c > 0 ⇒ ac < bc c < d e b > 0 ⇒ bc < bd Logo, ac < bd. P.13. Se a > 0 e b < 0 então a b < 0. Temos: a > 0 e b < 0 ⇒ a > 0 e – b > 0 ⇒ a.( – b) > 0 ⇒ – (ab) > 0 ⇒ ab < 0. P.14. Se a > 0 então a-1 > 0. Segue-se que a > 0 e b > 0 implica a > 0. b Como a > 0 e a.a-1 = 1 > 0 então a-1 > 0, pois se a-1 = 0 então a.a-1 = a.0 = 0 e se a-1 < 0 então a.a-1 < 0. Se a > 0 e b > 0 então a > 0 e b-1 > 0; logo a = ab − 1 > 0 . b P. 15. Se 0 < a < b então b-1 < a-1. Temos: a − 1 − b− 1 = Logo, b-1 < 1 1 ab 1 1 1 ab ab 1 − = − ( b − a ) = ( ab ) − 1 ( b − a ) > 0 . − = = a b ab a b ab a b ab a-1. - Observações: 1. As propriedades P.7 a P.15 válidas para a relação < também são válidas para as relações >, ≤ e ≥. É evidente que se a ∈ R então a ≤ a, e dados a, b ∈ R, tem-se a = b se, e somente se, a ≤ b e b ≤ a. 2. Um corpo ordenado é um corpo K no qual se destaca um subconjunto P ⊂ K, chamado o conjunto dos elementos positivos de K, tal que as seguintes condições são satisfeitas: P.1. Dado x ∈ K, exatamente uma das três alternativas seguintes ocorre: ou x = 0, ou x ∈ P ou – x ∈ P. P.2. A soma e o produto de elementos positivos são positivos, ou seja, se x, y ∈ P então x + y ∈ P e x.y ∈ P. Os elementos – x de K tais que x ∈ P chamam-se negativos. Portanto, R e Q são corpos ordenados. 3. Num corpo ordenado K, se a ≠ 0 então a2 ∈ P. De fato, sendo a ≠ 0, ou a ∈ P ou – a ∈ P. No primeiro caso, a2 = a.a ∈ P. No segundo caso, a2 = (– a).( – a) ∈ P, pois valem as mesmas regras de sinais vistas para o conjunto R. Em particular, num corpo ordenado 1 = 1. 1 é sempre positivo e, segue que, – 1 é negativo. Portanto, num corpo ordenado, – 1 não é quadrado de elemento algum. Assim, concluímos que C não é ordenado. 6 4. Geometricamente, o conjunto dos números reais pode ser visto como uma reta, através de uma correspondência entre os números reais e os pontos da reta. Para tanto, escolhemos um ponto arbitrário da reta, que denominamos origem, e uma unidade de medida. A origem fica em correspondência com o número 0 (zero). Na semi-reta da direita representamos os números reais positivos e, na semi-reta da esquerda, os números reais negativos. Essa reta, provida da origem e da correspondência com os números reais, costuma ser denominada reta real e denotada, também, por R. Na correspondência com a reta real, a < b significa que a fica à esquerda de b. 1.5- Valor absoluto de um número real Se quisermos obter, para cada número real x, a distância entre x e a origem, devemos considerar os seguintes casos: Nos dois primeiros casos, dizemos que a distância entre x e 0 é o próprio x. No terceiro caso, a distância é –x. - Definição O valor absoluto (ou módulo) de um número real x, denotado por x , é definido por: x, se x ≥ 0 x = − x, se x < 0. De acordo com a definição temos que se x ∈ R então x ≥ 0 , e x = 0 se, e somente se, x = 0. Além disso, se x ∈ R, ou x e – x são ambos zero, ou um é positivo e o outro é negativo. Aquele, dentre x e – x, que não for negativo, é x . Logo, x é o maior dos elementos x e – x, ou seja, x = máx { x, – x}. Temos, portanto, x ≥ x e x ≥ − x . Esta última desigualdade pode ser escrita − x ≤ x e obtemos − x ≤ x≤ x. Pelo que vimos, geometricamente, o valor absoluto de um número real x é a distância entre x e 0 (zero). Para encontrarmos a distância entre dois números reais a e b quaisquer, devemos analisar três situações possíveis para pontos a e b arbitrários da reta real: No primeiro caso, como b − a > 0 , temos b − a = b − a ; no segundo caso, como b − a = 0 , temos b − a = 0 = b − a ; no terceiro caso, como b − a < 0 , temos b − a = − ( b − a ) = a − b . Assim, em qualquer caso, temos b − a = distância entre a e b . 7 - Propriedades 2 2 P.1. Para todo a ∈ R temos a = a . Como a é um dos elementos a ou -a então a = a 2 ou a = ( − a ) 2 = a 2 . Logo, a = a2 . 2 2 2 P.2. Se a ∈ R então − a = a . Se a = 0 então –a = 0 e − a = 0= a. Se a > 0 então –a < 0; assim − a = − ( − a) = a e a = a . Se a < 0 então –a > 0; segue que Portanto, − a = −a e a = −a. − a = a. P.3. Se x = a então x = a ou x = – a, onde x, a ∈ R e a ≥ 0 . Como x = a e x é um dos elementos x ou –x então x = a ou – x = a. Logo, x = a ou x = – a. P.4. Se a, b ∈ R e a = b então a = b ou a = – b. Como a = a ou – a, b = b ou – b e a = b então a = b ou a = – b. P.5. x < a se, e somente se, − a < x < a , onde x, a ∈ R e a > 0 . Temos: x = max { x,− x} < a ⇔ x < a e − x < a ⇔ x < a e x > − a ⇔ − a < x < a . P.6. x ≤ a se, e somente se, − a ≤ x ≤ a , onde x, a ∈ R e a > 0 . Demonstração análoga a P.5. P.7. x > a se, e somente se, x > a ou x < − a , onde x, a ∈ R e a > 0 . (⇒ ) (⇐ ) Como x > a e x = x ou − x então x > a ou − x > a; logo x > a ou x < − a. Se x > a e como x ≥ x temos x > a. Se x < − a então − x > a e como x ≥ − x obtemos x > a. P.8. x ≥ a se, e somente se, x ≥ a ou x ≤ − a , onde x, a ∈ R e a > 0 . Demonstração análoga a P.7. P.9. Se a, b ∈ R então a . b = a . b . Temos: 2 a.b = ( a.b ) = a 2 .b 2 = a . b = ( a . b ) ⇒ a.b = ± a . b . 2 Como 2 2 2 a.b e a . b são reais não negativos obtemos a . b = a . b . 8 a a = . b b P.10. Se a, b ∈ R e b ≠ 0 então Inicialmente vamos mostrar que de −1 b , ou seja, b − 1 = b . Logo, Portanto, 1 1 = . De fato, 1 = b.b − 1 = b . b − 1 ; assim b − 1 é o inverso multiplicativo b b 1 1 = . b b a a 1 1 1 = a. = a . = a . = . b b b b b P.11. Se a, b ∈ R então a + b ≤ a + b . (Desigualdade triangular) Se a = b = 0, é claro que Se a ≠ 0 ou b ≠ 0, temos: a+ b ≤ a + b . − a ≤ a ≤ a e − b ≤ b ≤ b ⇒ − (a + b) ≤ a+ b≤ a + b ⇒ a+ b ≤ a + b . P.12. Se a, b ∈ R então a − b ≤ a + b . Temos: a − b = a + ( − b) ≤ a + − b = a + b . P.13. Se a, b ∈ R então a − b ≤ Se a = b, é claro que a− b ≤ a − b ≤ a− b . a − b ≤ a− b . Se a ≠ b, temos: a = ( a − b) + b ≤ a − b + b ⇒ a − b ≤ a− b b = ( b − a) + a ≤ b − a + a ⇒ b − a ≤ b − a = a − b ⇒ Assim obtemos: − a− b ≤ a − b ≤ a− b a − b ≤ a − b e, portanto, a − b ≤ Logo, a − b ≥ − a− b a − b ≤ a− b . P.14. Se a, b, c ∈ R então a − c ≤ a − b + b − c . Temos: a− c = a− b+ b− c ≤ a− b + b− c . P.15. Se a ∈ R então a2 = a . Explicação: Dados um número real a ≥ 0 e um número natural n, demonstra-se que sempre existe um único real positivo ou nulo b tal que bn = a. Ao número b chamamos raiz n-ésima de a e indicamos por b = n a , onde a é chamado radicando, o símbolo é o radical e n é o índice. 9 Por exemplo: 5 32 = 2 , pois 25 = 32 9 = 3 , pois 32 = 9 Conseqüências: 1. Da definição decorre que ( a) n n 7 0 = 0 , pois 07 = 0 6 1 = 1 , pois 16 = 1 = a. 2. Pela definição temos que 36 = 6 e não 36 = ± 6 . Mas, − 3 8 = − 2, − sentenças verdadeiras, onde o radical não é o causador do sinal que o antecede. 3. Note que no cálculo da raiz quadrada de um quadrado perfeito temos: 4 = − 2, ± 9 = ± 3 são a2 = a . 2 a 2 é, por definição, o único número real positivo ou nulo que elevado ao quadrado resulta a . Como De fato, 2 a 2 = a e a ≥ 0 , segue que Por exemplo, ( − 5) 2 a2 = a . = − 5 = 5 e não ( − 5) 2 = − 5. 1.6- Intervalos - Definições Sejam a e b números reais, com a ≤ b. Os nove subconjuntos de R definidos a seguir são chamados intervalos: [ a, b] = { x ∈ R; a ≤ ( a , b ) = { x ∈ R; a < [ a, b ) = { x ∈ R; a ≤ ( a, b] = { x ∈ R; a < x≤ x< x< x≤ b} , b} , b} , b} , ( − ∞ , b] = { x ∈ R; x ≤ b} , ( − ∞ , b ) = { x ∈ R; x < b} , [ a,+ ∞) = { x ∈ R; a ≤ x} , ( a,+ ∞) = { x ∈ R; a < x} , ( − ∞ ,+ ∞) = R. Os quatro intervalos da esquerda são limitados, com extremos a e b: [ a, b] é um intervalo fechado, ( a, b ) é aberto, [ a, b ) é fechado à esquerda, ( a, b] é fechado à direita. Os cinco intervalos da direita são ilimitados: ( − ∞ , b] é a semi-reta esquerda, fechada, de origem b; ( − ∞ , b ) é a semi-reta esquerda, aberta, de origem b; [ a,+ ∞) é a semi- reta direita, fechada, de origem a; ( a,+ ∞) é a semi-reta direita, aberta, de origem a; ( − ∞ ,+ ∞) pode ser considerado aberto ou fechado. Quando a = b, o intervalo fechado [ a, b] reduz-se a um único elemento [ a, a] = { a} , chama-se um intervalo degenerado, e os outros três intervalos da esquerda, neste caso, são vazios. - Observações: 1. Os símbolos – ∞ (leia-se menos infinito) e +∞ (leia-se mais infinito) não representam números reais. 2. Todo intervalo não-degenerado é um conjunto infinito e contém números racionais e números irracionais. 10 1.7- Exemplos 1. Encontre um número racional c e um número irracional d tais que a < c < d < b , para os números reais a e b dados, com a < b. 1 1 e b= 4 3 b) a = 0,994327 e b = 0,994328 a) a = c) a = 0,871479 e b = 0,8714799... d) a = 0,10010001... e b = 0,10010002 2. “O resultado da soma de dois números irracionais é um número irracional.” Verifique se é verdadeira ou falsa essa afirmação, justificando sua resposta. 3. Encontre os números reais que satisfaçam as desigualdades abaixo. Fazer a representação gráfica na reta real. a) 2 + 3x < 5x + 8 b) 4 < 3x – 2 ≤ 10 c) 7 > 2, x ≠ 0 x d) x < 4, x ≠ 3 x− 3 e) (x + 3) (x + 4) > 0 4. Resolva as seguintes equações: a) 3x + 2 = 5 b) 2 x − 1 = 4 x + 3 c) 5 x + 4 = − 3 d) x + 2 x − 2 = 1 + 4 x 5. Encontre os números reais que satisfaçam as seguintes desigualdades: a) x − 5 < 4 3 − 2x ≤ 4, x ≠ − 2 2+ x c) 3x + 2 > 5 b) 1.8- Exercícios Páginas 10 e 11 do livro texto. 11