INTERNACIONAL INTERNACIONAL As piores marcas do mundo Mais de 400 representantes de organizações de consumidores se reuniram no congresso da Consumers International para escolher as empresas que mais desrespeitam os consumidores E nquanto no Brasil alguns institutos de pesquisa alardeiam listas com as melhores empresas para se trabalhar ou “as mais admiradas”, pela primeira vez, organizações não-governamentais se reuniram para escolher as piores empresas do mundo, do ponto de vista do consumidor. Kellogg's, CocaCola, Mattel e a Farmacêutica Takeda foram as eleitas. Os critérios para a premiação foram baseados na responsabilidade social das empresas, na produção e na comercialização de seus respectivos produtos. O anúncio foi feito durante o 18o Congresso Mundial da Consumers International (CI), federação que congrega 230 organizações de defesa do consumidor, oriundas de 113 países. O evento ocorreu entre 29 de outubro e 1o de novembro em Sydney, Austrália. ginária da torneira. Na embalagem, o produto era anunciado como água purificada porque passava por três filtros, num “sofisticado processo de depuração”. A prática da Coca-Cola não é ilegal. Mas a empresa faz propaganda enganosa quando sugere, via embalagem ou via publicidade, que sua água é significativamente superior à água de torneira. A CI diz, ainda: “lucrar a partir de suprimentos de água crescentemente mais frágeis é insustentável, irresponsável e vai de encontro aos direitos básicos dos consumidores de qualquer parte”. O produto foi banido das prateleiras do Reino Unido e nem chegou a entrar em países como a Alemanha e a França. Mas, do lado de cá do globo, a Dasani ainda é fortemente comercializada nos EUA e em países latino-americanos. BEBIDA O troféu Mau Alimento foi concedido à Kellogg's, por causa de sua feroz campanha publicitária dirigida às crianças. Em 2006, a empresa gastou 916 milhões de dólares só em publicidade, e vendeu o equivalente a 10,9 bilhões de dólares. “O uso de métodos persistentes e persua- IMAGENS CONSUMERS INTERNATIONAL Classificada recentemente como uma das dez empresas mais admiradas por executivos do Brasil, numa pesquisa produzida pelo instituto TNS Interscience e divulgada pela revista Carta Capital, a CocaCola recebeu o troféu Má Comercialização de Bebidas – por causa de sua água engarrafada Dasani. Em 2004, a empresa causou rebuliço no Reino Unido ao reconhecer que a água engarrafada era mesmo ori- Água da Coca-Cola era de torneira 36 Revista do Idec | Novembro 2007 COMIDA Consumers tem novo presidente Durante o 18o Congresso da Consumers International foi escolhido um novo representante para o cargo de presidente da entidade, em substituição a Marilena Lazzarini, coordenadora executiva do Idec. O escolhido foi o africano Samuel Ochieng, chefe executivo da Rede de Informação do Consumidor do Quênia, na África, que permanecerá no cargo durante quatro anos. sivos de comercialização dirigidel Consumidor, membro da da às crianças tem sido a chave CI, realizou uma campanha para tal êxito”, diz a CI. contra a publicidade de “ZuEm recente matéria publicada caritas” (os Sucrilhos mexina REVISTA DO IDEC (no 115, oucanos) na televisão, que sempre tubro/2007), especialistas conmostra crianças com incríveis firmaram que as crianças eshabilidades físicas. Entretanto, colhem os produtos por critérios o cereal concentra 40% de açúsubjetivos, como a emoção car, segundo análises nutritransmitida por meio da imagem cionais mexicanas. Vale lembrar da marca. Numa recente propaque o México é o segundo país ganda dos Sucrilhos sabor brique mais sofre com obesidade, gadeiro, veiculada no Brasil, diperdendo apenas para os EUA. versos super-heróis se aproxiDIVERSÃO mam da casa de uma criança, no A Mattel, que recentemente momento em que ela consumia Publicidade dirigida a crianças valeu teve de promover um recall o cereal. No final, o menino é “troféu” à Kellogg’s mundial de 21 milhões de brinconvidado a se juntar a eles. Proquedos, em vez de se compropagandas tão ou ainda mais meter com a segurança dos consumidores, tentou impactantes são veiculadas em todo o mundo. Na Nova Zelândia, o produto agregou as mar- se desviar da culpa pelo problema. Os brinquedos, cas Star Wars e Era do Gelo 2, distribuindo produzidos na China, tinham defeitos que aprebrindes. O jornal americano The New York Times sentavam risco de ferimentos e até de morte. Por publicou que 27% do que é aplicado na publici- isso, levou o troféu Maus Brinquedos. A empresa dade da Kellogg's é destinado à promoção de foi acusada de não cooperar com as investigações produtos direcionados a menores de 12 anos. O do Congresso dos EUA e de empurrar toda a grande problema de empresas alimentícias como responsabilidade à fabricação chinesa dos produa Kellogg's é que seus produtos contêm altas tos. No fim de setembro, a Mattel admitiu que alguns defeitos decorreram de falhas nos projetos doses de carboidratos, açúcar e sal. Neste ano, a organização mexicana El Poder originais. Mattel ganha em “Maus Brinquedos” Calmante para crianças O grande ganhador do prêmio da CI, o pior entre os piores, foi a Farmacêutica Takeda, uma multinacional de origem japonesa que veiculou uma propaganda assustadora na TV dos EUA, em setembro de 2006. O produto anunciado era o medicamento Rozerem, um calmante. E a publicidade era dirigida a crianças! “Rozerem lembra que chegou a época de voltar às aulas. Consulte seu médico hoje mesmo se Rozerem puder ajudá-lo”, dizia um locutor, enquanto imagens de crianças, quadros-negros e ônibus escolares apareciam na tela. Não é preciso ser um “expert” para deduzir que a menFarmacêutica sagem da propaganda sugere que os japonesa é eleita pais ofereçam o medicamento a seus pior empresa filhos, para ajudá-los a superarem o estresse do início do ano letivo. Um dos efeitos colaterais da medicação é ocasionar maior freqüência de pensamentos suicidas em pacientes depressivos. Segundo a embalagem do próprio produto: “Não foi estabelecido que o uso de Rozerem em pacientes pediátricos seja seguro e efetivo”. A FDA (órgão norte-americano que regula medicamentos) só pediu a retirada do anúncio muito tempo depois. A Takeda também não recebeu qualquer multa ou penalização. Saiba mais Consumers International: www.consumidoresint.org Campanha mexicana: www.elpoderdelconsumidor.org Revista do Idec | Novembro 2007 37