2015-02-15 Cíntia Rito Cruz Rua Camilo Castelo Branco 2910-446 Setúbal [email protected] 919135888 Interno da Especialidade Imunoalergologia Hospital de São Bernardo (Centro Hospitalar de Setúbal) EDEMA FACIAL COMO MANIFESTAÇÃO DE DERMATOMIOSITE PARANEOPLÁSICA Cíntia Rito Cruz, Irina Didenko, Bárbara Lobão, Filipe Inácio Introdução: A dermatomiosite é uma doença inflamatória crónica que afeta principalmente a pele e os músculos. O angioedema adquirido devido a uma deficiência de C1-inibidor (C1IN) é uma síndrome rara que está associada a doenças linfoproliferativas, autoimunes, neoplásicas ou infecciosas crónicas. Caso clínico: Doente do sexo feminino, 63 anos, com o diagnóstico de neoplasia da mama desde há 2 meses, referenciada à Consulta de Imunoalergologia por uma história de episódios recorrentes de edema da face sem urticária, dispneia, disfonia, disfagia ou qualquer outro critério de gravidade – quadro clínico com cerca de 1 mês de evolução e que motivou múltiplas idas ao Serviço de Urgência. O edema respondia à administração de corticóide sistémico e antihistamínico, com regressão completa dos sintomas após algumas horas. Na consulta, a doente referia eritema e prurido nas áreas fotoexpostas e fraqueza muscular proximal recente. À observação apresentava exantema eritematoso maculopapular no couro cabeludo, face e região cervical e pápulas violáceas agrupadas nas pregas periungueais e articulações interfalângicas. Da avaliação analítica requisitada na Consulta de Imunoalergologia: doseamentos de C4, C1IN, função do C1IN e C1q normais; ANA positivo (1:320). Excluiu-se a hipótese de angioedema adquirido associado a neoplasia e considerou-se a hipótese diagnóstica de dermatomiosite. A doente foi referenciada à Consulta de Doenças Autoimunes onde realizou biopsia cutânea, que foi compatível com a hipótese clínica proposta. O anticorpo anti-p155 foi positivo. Iniciou terapêutica com hidroxicloroquina e corticoterapia sistémica, assim como quimioterapia, com melhoria clínica (atualmente sem episódios de edema facial). Discussão e conclusões: Neste caso o estudo de angioedema por défice de C1IN foi negativo, pelo que se pode deduzir que o edema facial está relacionado com a dermatomiosite. Acrescenta-se, ainda, o facto de esta estar frequentemente associada a neoplasias. Os autores sublinham a importância da realização de um cuidadoso diagnóstico diferencial na abordagem do doente com suspeita de angioedema, nomeadamente da face. Este caso ilustra a necessidade de uma história clínica detalhada e avaliação laboratorial adequada nestas situações. A dermatomiosite deve ser considerada quando se encontra edema facial de novo, devendo ser pesquisadas outras queixas e achados caraterísticos.