DESAFIOS CONTEPORÂNEOS NA VIDA E NO TRABALHO DA
MULHER/ENFERMEIRA1
CONTEMPORARIES CHALLENGES IN THE LIFE AND WORK IN WOMEN'S / NURSE
Renata Clemente dos Santos2
Maria Cidney da Silva Soares3
Josivan Soares Alves Junior4
Aleksandra Pereira Costa5
Cláudia Maria Ramos Medeiros6
RESUMO
Este trabalho teve por objetivo identificar se houve mudanças no cotidiano da mulher
decorrentes das conquistas adquiridas por ela nos últimos tempos, Trata-se de uma pesquisa
descritiva, exploratória com abordagem qualitativa, desenvolvida em uma instituição de
ensino superior privada na Cidade de Campina Grande - PB no período de setembro a outubro
de 2010, com 13 docentes, destas, 08 são enfermeiras, selecionadas para amostragem desse
estudo. Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada através de gravação
de voz.e analisados a partir da análise de conteúdo, só sendo operacionalizada após anuência
do Comitê de ética sob protocolo de número: 0037.0.405.000-10 . Após análise do material
coletado separamos as categorias em: I – Dicotomia de paradigmas que leva a sobrecarga de
de trabalho; II – Cobranças Pessoais e sociais que levam ao acúmulo de funções e III - Ser
Mulher e Enfermeira - Desafios Latentes . Sendo assim, percebemos a relevância do estudo,
pois ele nos revela o estilo de vida desenvolvido pela mulher/enfermeira e ainda que atue
como docente da área de saúde nos dias de hoje, o que nos leva a deduzir que a luta por uma
carga menor de trabalho é necessária e urgente principalmente na profissão de enfermagem
Descritores: Enfermeira. Trabalho. Saúde. Desafio.
ABSTRACT
This study aimed to identify whether there were changes in the daily accomplishments of
women resulting from acquired by it in recent times, It is a descriptive, exploratory qualitative
approach, developed in a private institution of higher education in the city of Campina Grande
- PB in the period September-October 2010, with 13 teachers, of these, 08 are nurses, selected
for sampling in this study. Data were collected through semi-structured interview using
recording voz.e analyzed based on content analysis, only being operationalized after approval
of the Ethics Committee under protocol number: 0037.0.405.000-10. After analyzing the
1
Parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: Quebrando o paternalismo: Conquistando
autonomia: Quais os desafios na saúde da Mulher? Defendido em 2010 na Faculdade de Ciências Médicas de
Campina Grande - PB
2
Enfermeira graduada pela Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande – PB.
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Docente da Faculdade de Ciências Médicas de Campina
Grande – PB. E da Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected]
4
Graduando em Enfermagem pela Universidade Estadual da Paraíba. Relator desse trabalho.
5
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraiba. Docente da FCM e UEPB. Email: [email protected]
6
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública e
Psiquiatria da UFPB. Brasil. E-mail: [email protected]
material collected in separate categories: I - Dichotomy paradigm that leads to overload of
work; II - Personal and social Charges that lead to the accumulation of functions and III Nurse and Womanhood - Latent Challenges. Thus, we see the relevance of the study because
it reveals the lifestyle developed by the wife / nurse and even act as a teacher of health these
days, which leads us to conclude that the struggle for a lighter load work is urgently needed
especially in the nursing profession
Keywords: Nurse. Labor. Health Challenge.
1 - INTRODUÇÃO
São perceptíveis as conquistas alcanças pela mulher do século XXI, no entanto, tem-se
percebido que esta se encontra sobrecarregada de atribuições, pois as conquistas que
alcançaram não retiraram as responsabilidades pertinentes ao âmbito doméstico.
Durante muito tempo a definição de gênero esteve intimamente ligada á mulheres que
reivindicavam a autonomia que os homens tinham sobre seu corpo e suas decisões(1), portanto,
gênero é um componente das diferentes formas de relações sociais entre homens e mulheres,
que acabam enfocando uma relação de poder (2).
As diferenças entre homens e mulheres ultrapassam a anatomia e a genética humana.
Ambos apresentam diversas diferenças comportamentais como à forma de se comunicar, a
maneira de expressar sentimentos, enfrentamento de situações difíceis, capacidade física, que
refletem diretamente no seu convívio social, assim, durante muitos anos a sociedade foi
pautada por um sistema de patriarcado, onde o homem dominava a esfera pública e a tomada
de decisões acerca de assuntos como política, economia, produção, entre outros, e as mulheres
restava o campo privado que se limitava aos cuidados domésticos, referentes à família e a
casa (3).
E ainda, o trabalho feminino normalmente é menos valorizado que o trabalho
masculino, os homens tendem a receber maiores remunerações e reconhecimento quando
estes executam tarefas semelhantes, assim é com a profissão de enfermagem em detrimento
de outras profissões da área de saúde.
Apesar de algumas conquistas, resultantes dos movimentos feministas, não trouxe para
as mulheres exatamente aquilo que almejavam, ou seja, autonomia, continuavam excluída de
decisões e submissas aos homens. O termo empoderamento surge a partir de então, na década
de 70 com o objetivo de mudar radicalmente a herança tradicional de dominação masculina
sobre a autonomia feminina, no que diz respeito a áreas como: sexualidade e direito de ir e vir
(4)
.
Entretanto, a mulher e, sobretudo, a enfermeira, não tem estado somente no âmbito
doméstico, exercendo papéis como mãe e esposa, ela tem se inserido nos espaços públicos.
Esse processo tem ocorrido por diversos fatores e dentre eles encontramos: o aumento da
demanda do mercado de trabalho, qualificações que esta apresenta para exercer determinadas
funções, necessidades de prover o sustento do lar e também estrutura e ciclo familiar (5).
No entanto, algumas conseqüências são visíveis, normalmente pessoas que trabalham
muito e em diversos trabalhos têm maior probabilidade de desenvolver problemas de saúde,
sentem-se mais estressadas e tem piores hábitos de saúde (6).
Dessa forma, apesar de ainda existirem algumas diferenças entre homens e mulheres,
estas conquistaram grande espaço na esfera social de modo que lhes trouxeram grandes
responsabilidades, muitas vezes ela precisa exercer diversas funções e a realizar várias
atividades em seu cotidiano. Porém a modernidade também trouxe consigo a sobrecarga de
funções atribuídas a profissional de enfermagem que estas precisam exercer em sua rotina.
Diante disso, questiona-se quais as conseqüências das conquistas obtidas pela mulher
enfermeira em relação a sua vida e ao seu trabalho?
Assim, objetivou-se com este estudo identificar se houve mudanças no cotidiano da
mulher decorrentes das conquistas adquiridas por ela nos últimos tempos.
METODOLOGIA
Tipo de estudo
Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter descritivo, exploratório com abordagem
qualitativa. A pesquisa de caráter exploratória nos proporciona maior afinidade com o
problema e nos permite a elaboração de hipóteses a cerca do mesmo, e a pesquisa de caráter
descritiva, descreve as características população e/ou fenômeno estudado (7).
A abordagem qualitativa é o método que nos permite descobrir processos sociais
pouco conhecidos, bem como criar novas categorias e conceitos para investigação, além de
nos permitir melhor relacionamento entre o entrevistado e o entrevistador
(8)
, apropriada para
o contexto buscado.
Cenário do estudo e período da pesquisa
O estudo foi realizado no município de Campina Grande, que se localiza no interior do
estado da Paraíba no agreste paraibano, na parte oriental do Planalto da Borborema. Campina
Grande conta com 16 Centros de ensino Superior distribuidos entre federal, estadual e
privado. Uma Instituição Pivada foi selecionada para realizada desse estudo, fundada no ano
de 1997 composta por três Instituições de ensino compondo as áreas de ciências sociais,
ciências médicas e ciências aeronáuticas. A escolha por esse Centro de ensino deu-se a partir
da acessibilidade com as docentes da área de sáude do centro descrito. A coleta de dados foi
realizada nos meses de setembro e outubro de 2010.
População e amostra
A população foi composta por todos os professores da Faculdade de Ciências Médicas
de Campina Grande - PB. O quadro total de docentes desta instituição é composto por 143,
sendo que destes 81 são do sexo feminino.
A amostra realizada foi por conveniência, não probabilística, por acessibilidade
composta por 13 docentes, sendo que 08 destas são enfermeiras selecionadas para elaboração
desse estudo onde os elementos são selecionados de forma casual (7).
Critérios de Inclusão e Exclusão
Para participação da amostra utilizamos os seguintes critérios de inclusão:

Ser do sexo feminino;

Fazer parte do corpo docente da instituição referida do curso de enfermagem;

Aceitar participar de forma voluntária da pesquisa;

Assinar o termo de consentimento livre e esclarecido;
Foram excluídas da pesquisa as docentes que não se enquadraram nos critérios acima
citados e ainda aqueles que estiveram sob: licença maternidade, licença premium, férias e
atestado médico.
Instrumento, técnica e procedimento para coleta de dados
Como técnica utilizou-se uma entrevista semi-estruturada através de um formulário de
entrevista como instrumento para coleta de dados que foram gravados em formato MP3 e
transcritos. Esse instrumento nos consente uma flexibilidade na exploração do diálogo, uma
vez que as perguntas serão parcialmente estruturadas e também possibilita uma observação
completa do entrevistado, pois, além da análise da fala podemos avaliar seu comportamento
(7)
.
Inicialmente realizaram-se encontros com as docentes agendando a entrevistada para o
horário que lhe fosse conveniente, nesse momento foi apresentado os objetivos da pesquisa.
Após obter o consentimento das participantes, as entrevistas foram gravadas e,
posteriormente, transcritas na íntegra para só assim separá-las por temas e depois categorizálas
Análise e apresentação dos dados
No tratamento do conteúdo, os discursos foram submetidos á análise de conteúdo do
tipo temático, pois esse tipo de temática se propõe em analisar a fala dos entrevistados, ou
seja, busca para interpretar aquilo que se encontra por trás das palavras, através de métodos
sistemáticos e objetivos para a interpretação das mesmas (9),
Os dados foram apresentados de forma narrativa pois “Durante a narrativa, o passado,
o presente e o futuro são articulados. Quando as pessoas narram suas experiências, podem não
só relatar e recontar essas experiências e os eventos, sob um olhar do presente” (10- 3).
Considerações éticas da pesquisa
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro de Ensino
Superior e Pesquisa - CESED e só teve o seu inicio após autorização do mesmo, conforme
exigências estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que norteia
a prática de pesquisa com seres humanos através do protocolo 0037.0.405.000-10.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Categorização da Amostra
A amostra foi constituída por mulheres na sua grande maioria casadas e com filhos, com
idade superior á 31 anos chegando a idade máxima de 68 anos com renda igual ou superior á
cinco salários mínimos.
Dados esses que condizem com pesquisas científicas
(11)
onde afirma que a mulher
acredita que a educação é a ferramenta mais eficaz para que estas alcancem cargos de maior
prestigio dentro da sociedade assim como a sua autonomia, podemos associar esse fato aos
níveis de especialidades apresentado pelas docentes, a maioria são mestres. Um estudo
(12)
aponta que a mulher passou estar sobrecarregada devido a dupla jornada de trabalho que esta
precisa desenvolver dentro e fora de casa, percebido pela amostra, uma vez que a maioria das
entrevistadas são casadas e a maioria tem no mínimo um filho.
Categoria I – Dicotomia de paradigmas que leva a sobrecarga pessoal
No século XX os padrões estabelecidos à mulher em décadas passadas começavam a ser
quebrados com modificações no âmbito familiar como por exemplo: o casal passa a desenvolver
maior diálogo, diminui a tolerância com relação a infidelidade, que anteriormente era facilmente
aceita pelas mulheres, ficam divididas entre o desejo de ter seu espaço fora do lar ou permanecer
nele, passam a ter controle sobre o momento de ter ou não filhos, entre outros
(13)
.
Observemos os discursos que se seguem:
“[...]a mulher antigamente era vista como a aquela mulher que cuidava dos filhos,
aquela mulher que cuidava do seu marido, aquela mulher que não poderia sair sozinha,
ela não dirigia, ela não tinha a sua independência e hoje não... antigamente eu acho que
tinha profissão marido, hoje em dia não existe mais essa profissão pra mim ta acabado
ou você é alguma coisa ou você não é... hoje em dia a família é uma duplicidade um...
não tem esse negocio mais de você ta é em casa cuidando do lar né? e o marido
trabalhando pra botar o dinheiro em casa isso não existe mais esses valores acabaram e
a família hoje um trabalha e o outro também[...]” (E8 - 39 anos)
“[...] a mulher foi criada dentro de um sistema paternalista, a gente ta tendo que romper
com isso e assumindo assim uma série de atribuições [...]” (E01 - 47 anos)
“[...]a independência a possibilidade da mulher atuar não só como mãe, como dona de
casa ela conseguir ser uma profissional e ser útil na sociedade e ser atuante nesse
cenário[...]” (E07- 57 anos)
“[...]hoje em dia de você poder trabalhar no que você quer né? Fazendo muitas vezes
papéis que antes eram tipicamente masculinos hoje a mulher ela pode exercer e exercer
bem [...]” (E06 - 37 anos)
Percebemos que houve sim uma quebra do sistema paternalista, onde existia uma divisão de
atribuições e responsabilidades através do gênero e percebemos que as entrevistadas têm essa
percepção acerca da realidade atual. Além de entender que houve mudanças no contexto geral da
mulher atual elas referem que tudo que a mulher conseguiu conquistar até os dias de hoje é fruto
de muita luta, lutas através dos movimentos feministas ou movimentos de mulheres
principalmente:
“[...] isso é tudo fruto de muitas lutas, dos movimentos feministas... e alguns movimentos
de mulheres [...]”(E08 - 39 anos)
O Feminismo é um movimento sócio-político que trouxe influências no âmbito público e
privado trazendo consigo alterações nos padrões sociais de gêneros já pré-estabelecidos (14), assim
o movimento feminino entrou na sociedade com a finalidade de quebrar essa idéia paternalista de
divisão do trabalho já percebida e comentada pelas mulheres entrevistadas.
Essas conquistas são detectadas por todas as participantes, observemos abaixo os relatos:
“[...] ela saiu do ambiente familiar, ela conquistou, lutou e conseguiu conquistar espaço,
tanto que hoje agente encontra locais que tem muito mais profissionais do sexo feminino
do que masculino [...]” (E02 37 anos)
“Eu prefiro o ingresso da mulher na universidade.” (E01- 47 anos)
“ [...]uma outra conquista que a gente pode evidenciar ... a questão da lei contra a
violência a mulher, a lei Maria da penha, que essa conquista é um marco histórico para
a mulher visto que a gente tem percebido um grande número de violência contra a
mulher [...]” (E04 - 38 anos)
“[...] eu acho que hoje as mulheres do que há três décadas atrás mais ou menos eu acho
que hoje as mulheres tem mais acesso a saúde, acho que tem mais oportunidades de
estudar [...]” (E03 - 44 anos)
Ainda dentro do contexto de quebra de padrões é bem sabido que a mulher não tinha
acesso aos estudos, este direito era limitado ao homem, uma vez que era este quem tinha
necessidade de conhecimento, pois seria ele o único provedor do sustento do lar.
Sabemos que violência doméstica é um problema de saúde publica, onde a mulher
sofre de agressões físicas ou emocionais por parte de algum componente da família, então a
lei Maria da Penha, citada por uma das entrevistadas, tem como principal objetivo oferecer
suporte legal as mulheres que sofrem algum tipo de agressão intrafamiliar. Podemos
concordar com a entrevistada que a criação dessa lei foi sem dúvidas uma grande conquista
para a mulher.
Além disso, sabendo que em décadas passadas a mulher não tinha direito de votar nem tão
pouco de se candidatar a eleições no nosso país e hoje percebe-se que esse padrão mudou,
pois adquirimos o direito ao voto e o de sermos votadas.
Podemos afirmar que houve conquistas em campos específicos (política, campo de
trabalho e saúde) e através das falas podemos concluir com clareza que as docentes
conseguem perceber esses novos espaços de atuação feminina.
De modo geral entendemos que existe uma boa análise por parte das docentes a cerca do
processo contínuo de conquistas que a mulher vem adquirindo na sociedade, tendo início com
a quebra da visão tradicional, onde a divisão de responsabilidades estaria diretamente ligada
ao gênero, seguida dos movimentos feministas e as conquistas que a mulher obteve até então.
Entendemos assim, que todo esse processo de lutas e conquistas trouxe para a mulher uma nova
realidade de vida, novos costumes, novas responsabilidades, trouxe também um acúmulo de
funções que será melhor descrito na próxima categoria.
Categoria II: Cobranças Pessoais e Sociais que levam ao acúmulo de funções
A independência financeira que as mulheres conquistaram trouxe consigo a tão esperada
autonomia e liberdade que buscavam, porém estas não deixaram de manter suas funções
tradicionais já aplicadas a elas no contexto passado, ou seja, apesar de conquistarem seus espaços
elas não deixaram de exercer as suas obrigações destinadas a casa, filhos e marido (15).
Nas falas que se seguem existe um relato sobre essa percepção, observemos:
“A representação da mulher hoje na atualidade é uma forma dela poder se garantir mais
no seu mercado de trabalho, é a mulher na atualidade hoje para mim na minha visão é
dinâmica, é atual, é compromisso, é tudo que possa ta modificando o seu ser enquanto
mulher, enquanto mãe e enquanto pessoa“ (E04 - 38 anos)
“... se realizar profissionalmente e saber dosar a mulher profissional, a mãe, é uma uma
dinâmica constante, ser mulher na atualidade é ser dinâmica.” (E05 - 54 anos)
“Ser mulher pra mim é ser além de uma profissional, ser mãe, dona de casa ser uma
pessoa atuante na sociedade, significa ser útil a essa sociedade.” (E07 - 57 anos)
Percebe-se a partir de então que as entrevistadas sentem mudanças no papel da mulher na
sociedade como efeito de grandes conquistas e tendo como conseqüência um acúmulo de cargos
que esta passou a desenvolver desde então.
Dessa forma fica claro as diferenças de contextos, diferenciado do ser mulher nas décadas
passadas e o ser mulher em pleno século XXI, podemos concluir que essa mulher passa a
desempenhar uma dupla jornada de trabalho, que por vezes torna-se cansativa acabando por
resultar em uma sobrecarga geral de sua vida enquanto mulher podendo gerar um conjunto de
insatisfações e cobranças (16).
Essas cobranças podem ser observadas claramente nos próximos discursos:
“Na verdade hoje o papel da mulher na nossa sociedade ele vem ... se desenvolvendo
bastante, então você ser mulher hoje é você ser mãe, é você ser profissional, é você ser
bem sucedida, é você... se destacar naquilo que você faz né? Então a gente percebe que a
mulher ela vem na verdade ganhando espaço [...]” (E06- 37 anos)
“[...] assimilando várias atribuições, e essas atribuições fazem, te obrigam de certa
forma a desenvolver determinados papéis dentro dessa sociedade, então o que se o que se
exige de uma mulher? Exige que ela seja boa profissional, boa mãe, boa esposa, que dê
conta de todas as tarefas, que fique linda, maravilhosa a vida toda, então assim é, eu
acho que a gente... precisa assumir muitos papéis [...]” (E03 - 44 anos)
“Ser mulher na atualidade representa ser profissional, ser superação porque nós
estamos acumulando muitas atividades que temos que dividir nosso tempo e ser mulher é
esse complemento hoje você não tem mais mulher doméstica e isso na minoria e nos
sabemos que a valorização é diferente, então a mulher hoje conquistou novos espaços e
por isso ela tem que dominar mais áreas, tanto profissional quanto doméstica que além
do lado profissional tem a questão maior que é ser mãe né?... então ser mulher é esse
complemento maior hoje é quase que ser globalizada né? porque você tem que ser de
tudo um pouco pra dividir esse tempo e fazer o que você se propõe você tem que fazer
bem feito.” (E05 – 54 anos)
As falas acima nos direcionam para conclusão de que existe uma cobrança para que essa
mulher atue de forma eficaz e eficiente dentro dos campos dos quais se encontra inserida, seja ele
na sua função de mãe, esposa, mulher, profissional e docente.
Logo, consideramos que essa mulher lida com pressões, sejam elas individuais (desejo
particular de desempenhar bem suas atividades, por prazer) ou sociais (por alguma outra
necessidade secular) para que desenvolvam de forma hábil todas as responsabilidades que lhe são
atribuídas.
A dupla jornada de trabalho que a mulher enfrenta conduziu em repercussões sobre a sua
saúde apontando alguns problemas como: sobrecarga psicológica, pouco tempo destinado ao lazer,
descanso, alimentação defasada, pouco tempo de sono e fadiga muscular (17).
Algumas entrevistadas afirmaram que desenvolver o papel da mulher na nossa sociedade de
hoje é um desafio pela multiplicidade de valores que essa passou a ter que desenvolver,
observemos nos discursos que se seguem:
“[...] o que precisa cair muito ainda é o paradigma de só a mulher poder fazer mais de
uma coisa ao mesmo tempo, homem trabalha chega em casa, ta cansado, vai dormir, vai
assistir uma TV e a mulher não, trabalha, chega em casa ai vai cuidar dos filhos, vai
cozinhar, vai fazer ... enfim [...]” (E11 - 39 anos)
“ [...]a mulher ela conquistou esses espaços, eu acho que é por isso que nós muitas vezes
nos sentimos hoje sobrecarregadas por esse espaço maior lá fora acumulando o que nos
temos dentro de casa, mas foi uma grande conquista? Foi, mas saber administrar isso é
mais difícil pra mulher hoje né? que antes era só doméstica [...]” (E05 - 50 anos)
Homens e mulheres se dedicam com muita intensidade aos seus respectivos trabalhos sociais,
porém a mulher acaba tendo um estresse maior pois ela dedica-se com a mesma intensidade as
atividades de casa, o que não ocorre com o gênero masculino.
Logo, notamos que ainda existe diferenças de gênero no que diz respeito as funções
domésticas, trazendo para a mulher dos dias de hoje não somente a responsabilidade de adequar-se
bem no espaço social em que convive como também manter em harmonia as atividades destinadas
ao seu lar, o que lhes confere uma grande sobrecarga de trabalho maior do que as destinadas aos
homens.
Apesar do pressuposto, percebemos pelos discursos que se seguem que algumas mulheres se
sentem realizadas em desenvolver suas múltiplas atividades, vejamos:
“[..] .a cada dia conquistando espaços... estamos nos dividindo em várias pessoas, quer
dizer eu sou mulher, sou mãe, sou filha, sou irmã, soou professora, sou fisioterapeuta,
então a gente é muita coisa numa pessoa só que é ser mulher né? então por isso que eu
acho que ser mulher pra mim é tudo tenho orgulho demais de ser mulher [...].”(E08 - 39
anos)
Comprovando a fala das entrevistadas a mulher de hoje não se satisfaz somente com a idéia
de ser doméstica ou somente profissional, a sua completa realização reside em poder desenvolver
essas duas funções de forma simultânea (18) ,pois a partir da realização destas atividades elas se
sentem livres, ou seja, com autonomia sobre decisões da sua própria vida.
No geral podemos perceber que do ponto de vista das entrevistadas, ser mulher hoje
representa um acumulo de funções e responsabilidades, de modo que se sentem obrigadas a
desempenhar bem cada um dos papéis que lhes são propostos e que apesar de representar um
desafio conseguir realizar tudo que lhe propõem é um prazeroso pra elas poder ser mulher nos dias
de hoje pela autonomia e liberdade que conquistaram.
Categoria III: Ser Mulher e Enfermeira - Desafios Latentes
Diante de tudo que já avaliamos até então podemos entender que a mulher muito se
desenvolveu e se destacou na sociedade adquirindo assim autonomia e liberdade tão desejada, e
como todo processo de mudança, esse não seria diferente, essa independência feminina trouxe
mudanças na sua realidade e é o que iremos discutir no decorrer dessa categoria. As profissionais
de enfermagem além da luta de ser mulher, tem ainda a pugna de ser discriminada
profissionalmente por ser uma profissão majoritariamente feminina, e portanto, os desafios são
maiores
A partir dos discursos que se seguem podemos perceber a busca por essa independência:
“[...] tenho a minha profissão, eu não abro mão da minha profissão eu nunca quis ser a
esposa de alguém, eu nunca quis ser taxada dessa forma então eu queria, eu estudei e fui
atrás dessas conquistas porque eu queria ter a minha própria vida minha, a minha
própria personalidade e queria ter a minha independência financeira [...] (E02 - 37
anos)
Entende-se então que as mulheres conseguem compreender que a luta por uma profissão, por
um espaço no campo de trabalho iria lhe oferecer a independência que tanto buscavam.
Em uma pesquisa(19)
com 12 mulheres solteiras de camada social média com diversas
carreiras profissionais, ficou concluído a partir do entendimento das entrevistadas com relação à
autonomia e independência estavam intimamente ligados a conquista pelo mercado de trabalho e
por conseqüência uma renda própria, ou seja, ter dinheiro nas mãos era como ter o domínio sobre
suas escolhas e decisões.
Percebe-se que essa conclusão muito se assemelha as falas das entrevistadas desse estudo, que
expressaram o desejo de ser independente, de não ter que depender do marido para algo, entendem
isso como o controle de suas vidas.
Atrelado a esse espaço de independência ocupado pela mulher percebemos que hoje ela tem
quebrado mais uma barreira existente no mercado, que é a ocupação de cargos que seriam cargos
característicos dos homens. Avaliemos o discurso abaixo:
“ [...] há alguns anos atrás era raro encontrar uma mulher engenheira elétrica,
engenheira civil hoje em dia nós temos ai os nossos espaços [...]” então a mulher hoje
ela ta assim num top de igualdade e eu acredito assim que busca, a mulher por ser mais
perfeccionista é mais confiável o trabalho na grande maioria de empresas, de indústrias,
da atuação da mulher que do homem pelo lado da organização, do compromisso, a
mulher ela é mais fiel naquilo que ela se propõe [...]” (E5 - 50 anos)
No Brasil tem aumentado bastante mão-de-obra feminina, porém ela ainda tem algumas
dificuldades para uma melhor inserção nesse mercado devido aos seus vínculos familiares, ou
atribuições domésticas e em algumas áreas ainda existem o estigma de atuação no que diz respeito
a gênero, como por exemplo, a atuação da mulher como policial e outras profissões
majoritariamente masculinas (20).
Como evidenciado podemos concluir que a mulher tem conquistado e adquirindo seus
espaços na sociedade, mas podemos destacar também que essa nova fase feminina tem também
como conseqüência a não aceitação do homem aos novos papéis impostos pela mulher nos dias de
hoje.
“ [...] profissionais, principalmente da área de saúde terminam se divorciando... porque
o marido muitas vezes não suporta né a pressão da da falta da mulher dentro de casa ele
quer exigir pela própria cultura masculina, quer exigir aquilo da mulher e muitas vezes
agente sabe que não tem como, ela não tem como é, ser aquela esposa né? Dona de casa
que muitas vezes o marido quer exigir realmente as vezes o relacionamento não vai dar
certo.” (E6 - 37 anos)
“[...] o homem pode passar o dia inteiro trabalhando o dia inteiro fora, o dia inteiro
estudando, mas a mulher não pode né? tem que ta, tem que te um momento pra ele ,tem
que ta ali quando chegar tem que ter a comida” (E8 - 39 anos)
Percebe-se claramente que existe uma cobrança por parte do homem do ser mulher como
antigamente, ou seja, o homem ainda busca em sua esposa, aquela mulher dona de casa, que cuide
bem dos seus filhos e esteja disposta a suportar tudo que lhe é proposto além de suas funções extra
familiares.
Desta forma, percebemos nos discursos que se seguem e que nos mostra a grande dedicação
das entrevistadas frente a sua realidade trabalhista:
“[...] a vida profissional ta tomando muito meu espaço, ta ocupando muito, um grande
percentual da minha vida, porque assim, foram muitas atividades que foram surgindo e
acabou, a, eu acabei querendo abraçar e isso acabou tomando muito meu espaço na
vida.” (E08 - 39 anos)
“[...] eu acho que posso colocar que cinqüenta por cento do meu tempo é no trabalho,
dividido em vários trabalhos, várias, várias funções que eu exerço [...]”a noite muitas
vezes eu também estou trabalhando porque eu tenho que preparar aulas eu tenho que
elaborar, um projeto que eu to fazendo[...]” (E05 - 54 anos)
“[...] quando é no finalzinho da noite é que eu vou cuidar de orientação, vou cuidar de
preparar aula e muitas vezes vou dormir muito tarde [...]” (E06 - 37 anos)
Além de ser enfermeiras, essas mulheres são professoras, em uma pesquisa realizada no ano
de 2010 (21), com professores de uma Instituição de Ensino Superior, com 12 participantes sendo
estes atuantes da área de saúde que teve por objetivo avaliar a qualidade de vida desses docentes,
concluiu em uma de suas análises que muitos docentes sentem-se estressados e sobrecarregados
pois o tempo que precisam disponibilizar para as suas atividades acadêmicas é bastante alto, uma
vez que necessitam muitas vezes trabalhar também em sua residência.
Podemos então associar essa dedicação ao trabalho que é exercido pelas mesmas, pois trata-se
de uma atividade que requer do profissional uma afeição maior, ou seja, além de cumprir com seus
horários pré estabelecidos pela instituição ainda precisam de um tempo de dedicação maior
destinados ao plano de ensino que utilizarão, muitas vezes sendo necessário a realização destes em
seu campo doméstico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mulher/enfermeira chegou ao século XXI com diversas conquistas e atrelada a elas várias
funções, como a de ser mãe, ser esposa, ser profissional sem deixar de lado o ser mulher. O
desenvolver dessas funções exige destas uma capacidade de organização maior do seu tempo para
destinar melhor suas atividades e traçar as suas prioridades.
Saber coordenar, dividir e planejar seu tempo são ações primordiais, pois a partir de então são
estabelecidas prioridades, ou seja, aquilo que entendemos ter maior importância ou ser de maior
necessidade. Partindo do pressuposto podemos perceber que a negligência que as entrevistadas
referem através das falas não está vinculada a falta de organização e sim a falta de tempo, e o
tempo destinado ao trabalho se torna prioridade na vida destas mulheres deixando outras
atividades, de suma importância, como a de ser mãe, ser esposa e principalmente o ser mulher, ser
humano, em segundo plano.
É percebido também que existe uma grande cobrança (individual ou social) para que essa
mulher exerça de forma eficaz todos os papéis que lhe são destinados, tendo como conseqüência
uma sobrecarga de trabalho.
No tocante as influências dessas conquistas na sua realidade, elas destacam o desejo de serem
independentes e relatam que ainda existem áreas de atuação que são tipicamente masculinas, mas
que a mulher tem buscado inserir-se. Percebemos também que existe por parte do gênero
masculino uma resistência a essa nova realidade da mulher, percebido pela fala das docentes.
Entendendo a importância do exercício de cada uma dessas atividades propomos que as
docentes sintam-se sensibilizadas com os resultados desse estudo e reorganizem melhor o seu
tempo para que consigam realizar de forma satisfatória suas responsabilidades e também destinem
tempo para o cuidado com o seu corpo, incluindo atividades físicas e lazer em seu dia a dia e
realização de prevenção primária para si, quebrando a visão de que prevenção deve ser destinada
somente ao exame citológico, incluindo em sua rotina exames periódicos que previnem outras
doenças como cardíacas, pulmonar, gástricas, entre outras.
Sendo assim, percebemos a relevância do estudo, pois ele nos revela o estilo de vida
desenvolvido pela mulher/enfermeira e ainda que atue como docente da área de saúde nos dias de
hoje, o que nos leva a deduzir que a luta por uma carga menor de trabalho é necessária e urgente
principalmente na profissão de enfermagem
REFERÊNCIAS
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de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Cadernos do CEOM. 2009.
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2. Carradore VM, Ribeiro PRM. Relações de gênero, sexualidade e AIDS: apontamentos
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