APRENDIZADO (...) findo o rito soleníssimo, já depois que a Excelentíssima Juíza Presidente do Egrégio Tribunal do Júri anunciara a sentença, quando eu cerrava os livros e demais materiais doutrinários usados no debate, satisfeito por haver livrado aquele homem dos horrores do cárcere, ao canto de meu olho, inusitadamente, o Divino se manifestou. Ao perceber a cena fui ungido com um sentimento inexplicável, mas que notava-se forte, elevado, e ao passar dos dias, o momento vem à mente... Aquele homem já me havia fortemente abraçado e apertado minha mão, seus olhos sofridos e marejados traziam do mais profundo de sua alma a felicidade pura, cingida na palavra de “obrigado” que por muitas vezes pronunciou, notadamente em êxtase. Ferindo de morte a soberba que me embriagava egoisticamente pela vitória conquistada, o instante fulminou-me de um sentimento indescritível, que nunca sentira antes. Quando aquele homem, agora livre, rumou para a saída, um menino com trejeitos angelicais e aproximados 3 anos, demonstrando ares de equilíbrio no resgate daquele que por certo era o sentido de sua vida, subiu os degraus da tribuna, e quando o homem agachado aos prantos lhe abraçava, o menino, com suas mãozinhas, afastou sua cabeça, afagou-lhe, tirou-lhe as lágrimas, e com os pequenos dedos enterrados em seus cabelos, beijou-lhe calmamente a face e olhou dentro dos olhos daquele homem; eu que absorto levitava pela força do amor entre os dois, escutei: agola pai, agola cabô; agola pai... nóis vamu pa nossa casa! Em transe, meu olhar acompanhou aquela criança conduzindo seu pai pela mão até ganharem as portas do salão do tribunal. Me contive no momento, e naquele final de tarde mansa, aos rumos de casa, olhos parados no horizonte bruno, chorei em silêncio, sozinho; vi luzes ao meu redor... A partir de então, a mim ficou clara a responsabilidade que precisa-se haver para com as pessoas. A jurisdição que perpassa pelos compartimentos da competência e diz o direito pelos órgãos que reveste, é real. A advocacia... a advocacia é função essencial à justiça, eu vi, eu senti... Evandro Amaral Unic Barão 21.06.07.