Pequenos ainda esperam apoio à inovação Empresários dizem que, na prática, políticas de fomento continuam restritas à atuação do BNDES Pequenas e médias empresas dependem apenas do BNDES para financiar inovação tecnológica. A crítica é de Roberto Nicolsky, diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), organização bancada pelas entidades representativas da indústria, que iniciou ontem encontro de empresários e instituições acadêmicas sobre Inovação, em Brasília. "O governo diz que há leis e tudo está pronto para investir em inovação, mas isso não é verdade porque o acesso aos estímulos é muito restrito", lamenta. Apesar das dificuldades, Nicolsky elogia o BNDES porque a instituição vem procurando romper com esse viés que privilegia grandes companhias. Ele defende, contudo, mudanças na Lei de Inovação (2004) e na Lei do Bem (2005) para ampliar a base de empreendedores que buscam desenvolver pesquisas e novos produtos para ganhar mercado. O problema central da Lei do Bem, segundo o diretor da Protec, é a vinculação dos benefícios no Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) ao regime do lucro real, o que afasta as pequenas empresas. Na Lei de Inovação, Nicolsky também critica a subvenção econômica divisão de riscos com o inovador - pela restrita lista de setores escolhidos pelo governo. Rodrigo Loures, presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e um dos vicepresidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), informa que, no Brasil, apenas 177 empresas são consideradas inovadoras de classe mundial, e o país precisa, pelo menos, triplicar esse número. Ele adverte para a falta de um sistema articulado de políticas públicas de fomento. "O ambiente institucional não é propício à inovação", afirma. O diretor da Protec ressalta que, no âmbito da Lei de Inovação, há desequilíbrio entre o que o governo arrecada para o Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), R$ 2,5 bilhões em 2008, e os recursos disponíveis para inovação: R$ 400 milhões. Nicolsky defende a divisão de riscos entre Estado e empresa inovadora porque, na sua visão, os maiores ganhos são da sociedade. Ele diz que esse é o mecanismo que desenvolveu Japão, Coréia do Sul, Taiwan, China e Índia. "Nunca ouvíamos falar de empresas indianas, mas, atualmente, elas têm fama mundial no segmento de softwares, call centers e os nomes Mittal e Tata já fazem parte da memória das pessoas", diz. O BNDES, segundo a Protec, está atuando para desatar esse nó. Em 2004, o banco iniciou um projeto piloto nos segmentos de fármacos e medicamentos. São empréstimos com juros mais baixos e condições mais vantajosas. Em maio deste ano, no lançamento da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a instituição criou a participação no resultado do projeto, ainda restrita ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde (Profarma). Nesse caso, BNDES entra com até 100% dos custos externos do projeto, mas restrito aos produtos da Portaria 978 do Ministério da Saúde: fármacos, medicamentos e materiais/equipamentos hospitalares. Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem de garantir cinco anos de compras para que o BNDES receba sua participação. "É um grande passo. Há R$ 1 bilhão nessa linha, mas pode ser ampliada. Isso já é alguma divisão de risco", comenta o diretor da Protec. Loures informa que o Prêmio CNI vai voltar a reconhecer o esforço de indústrias inovadoras. Na última edição, em 2006, destacaram-se algumas micro e pequenas empresas. A Pele Nova Biotecnologia, de São Paulo, criou uma biomembrana natural para a regeneração de tecidos humanos que serve para tratar úlceras e cicatrizar feridas. A Armtec, do Ceará, desenvolveu um robô para combater incêndios que transporta um potente canhão para lançar água e espuma. No sétimo Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec), realizado pela Protec, também foram premiadas duas empresas. Uma delas é a Marcopolo, de Caxias do Sul (RS). A segunda é a Ecil, de Piedade (SP). Criada em 1929, ela desenvolveu o Localizador de Defeitos por Ondas Viajantes (LDOV), equipamento utilizado no controle de qualidade de linhas de transmissão. Para secretário, não há necessidade de mudança na lei O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Guilherme Henrique Pereira, afirma que é "míope e isolada" a crítica segundo a qual pequenas e médias empresas não têm acesso aos incentivos públicos para o desenvolvimento de novos processos e produtos. Segundo ele, não há necessidade de mudanças na Lei de Inovação (10.973 de 2004) e na Lei do Bem (11.196 de 2005). Ele ainda explica que o espírito da Lei do Bem é justamente dar incentivos para as empresas inovadoras que pagam mais Imposto de Renda. Por isso, a norma legal acaba beneficiando as maiores contribuintes. Ele ressalta que isso não significa que pequenas e médias empresas não têm acesso a outros benefícios de políticas públicas. Pereira cita os exemplos das três modalidades do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec): extensão tecnológica, serviços tecnológicos e redes de inovação. Cada uma tem, para este ano, R$ 40 milhões. Além do Sibratec, o secretário afirma que há o programa de mestrados e doutorados para desenvolvimento de tecnologia em empresas, com dotação de R$ 35 milhões em 2008. Nesse caso, os governos estaduais também podem agregar até 50% do valor. De acordo com o MCT, o programa Juro Zero também conta com R$ 200 milhões. Na sua avaliação, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT) foi criado para pesquisa em geral e, portanto, não tem vínculo específico com o financiamento da inovação. Eduardo Sá, chefe do Departamento de Capital Empreendedor do BNDES, informa que o banco apóia o desenvolvimento industrial, mas também tem obtido retorno financeiro. A área foi criada este ano para operações em capital de risco com pequenas e médias empresas. A carteira está com 38 beneficiadas e o portfólio tem cerca de R$ 700 milhões em telecomunicações, agronegócios, alimentos, energia elétrica, equipamentos, biotecnologia, aeronáutica e petroquímica, entre outros. Nesses projetos, o BNDES tem participação acionária direta e trabalha para melhorar a gestão, estimular a inovação e incentivar a ida ao mercado de capitais. Sá informa que, além da divisão de riscos, o banco tem linhas de financiamento às pequenas e médias empresas nos setores de software, farmacêutico, aeronáutico e petróleo/gás. São financiamentos com participação acionária e sem exigência de garantias reais. No fim de 2007, o BNDES lançou o Criatec. Já deu apoio a seis iniciativas e tem R$ 100 milhões em carteira. Fonte: Pequenos ainda esperam apoio à inovação