publicado em 05/08/2011 às 14h32:
Notícias
Especialistas dizem que Amorim vai
ter vida difícil ao comandar militares
Pesquisador diz que Amorim era a "pior opção" para o cargo
O novo Ministro da Defesa, Celso Amorim, vai ter uma vida difícil no cargo,
principalmente na relação com os militares. Segundo especialistas consultados pelo R7,
não é fácil a convivência entre um diplomata, como é o caso de Amorim, que foi
Ministro das Relações Exteriores durante todo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e
as Forças Armadas.
Além disso, posições políticas do governo Lula, como o apoio a líderes questionáveis
como Mahmoud Ahmadinejad no Irã e Hugo Chávez na Venezuela, que em geral são
criticados pelos militares, também podem provocar mal-estar ao novo ministro.
Para o cientista político Alexandre Fuccille, pesquisador da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas) e especialista em questões militares, Amorim não vai ter uma
vida “nem fácil nem tranquila” à frente do Ministério da Defesa, “até porque os
militares preferiam um nome não oriundo do Itamaraty”.
– Obviamente vai ter queixas. Seja porque ele é um diplomata de formação, seja porque
durante os oito anos do governo Lula a política externa foi bastante controversa. [...]
Mas a crítica que houve a ele, de que existiu uma ideologização, uma esquerdização da
política externa, de que havia uma política de governo, e não de Estado, como deve ser
nas relações exteriores, sem dúvida pesa contra, gera um mal-estar.
Especialista em tecnologia militar da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), o
pesquisador Expedito Carlos Stephani Bastos é mais enfático e considera que a escolha
de Celso Amorim para o Ministério da Defesa era a pior opção que a presidente Dilma
Rousseff tinha para substituir Nelson Jobim.
Bastos, que é coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas, diz que o perfil político
de Amorim, de aproximação com governantes de esquerda na América Latina, pode
gerar antipatia dos militares.
– Acho que foi a pior escolha, porque o Celso Amorim é extremamente político, com
um viés muito ideológico. Ele é radicalmente contra os Estados Unidos e teve uma
experiência traumática como ministro das Relações Exteriores, se aproximando da
Venezuela e de Cuba.
Marcos Alan Ferreira, professor de ciência política e relações internacionais da ESPM
(Escola Superior de Propaganda e Marketing), diz que Amorim tem experiência como
ministro, “mas a questão vai ser o relacionamento dele com os militares”.
Ele dá o exemplo de José Viegas, também diplomata, que foi ministro da Defesa no
começo do governo Lula, entre 2003 e 2004, e deixou o cargo depois de uma série de
atritos com os militares.
– Quando José Viegas, também um diplomata, assumiu o Ministério da Defesa, houve
muita fricção. Historicamente, há conflitos entre militares e diplomatas. Isso porque os
militares têm a percepção, em geral, de que o diplomata não está necessariamente
preocupado em fazer investimentos no setor [militar]. É mais uma questão de percepção
de prioridades.
Fuccille diz que Viegas era “sistematicamente boicotado” pelos militares.
– De uma forma um tanto grosseira, é possível fazer a seguinte analogia: é possível que
um militar assuma o Ministério das Relações Exteriores no Brasil? A resposta é,
obviamente, não. Então os militares dizem: “Então isso não pode acontecer aqui
também”.
Apesar disso, o pesquisador da Unicamp diz que Amorim tem habilidade e condições de
conquistar legitimidade e credibilidade entre os militares. Já Bastos, da UFJF, não é tão
otimista.
– Ele é um civil e os militares esperam que ele vista a camisa para defender seus
interesses com a presidente. Ele ainda vai ter que conhecer todos os projetos da Defesa,
de reequipamento. Só nisso já se perde um tempo enorme. E, além disso, era de um
governo passado, de outra área, isso pesa um pouco para os militares.
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