Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 44/96 - Segunda Câmara - Ata 07/96 Processo nº TC 275.354/95-4 Responsável: Fábio Padilha Roriz (Diretor) Entidade: Hospital de Maracanaú Vinculação: Ministério da Saúde Relator: MINISTRO ADHEMAR PALADINI GHISI. Representante do Ministério Público: não atuou Unidade Técnica: SECEX-CE Especificação do quorum: Ministros Presentes: Iram Saraiva (na Presidência), Adhemar Paladini Ghisi (Relator) e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo. Assunto: Relatório de Auditoria Operacional Ementa: Auditoria Operacional. Hospital de Maracanaú CE. Área de internações hospitalares. Ociosidade de leitos. Desativação de diversos setores de atendimento. Gestão ineficiente. Remessa de cópias do Relatório, Voto e Decisão aos órgãos envolvidos para subsidiar as ações administrativas. Data DOU: 12/03/1996 Página DOU: 4115 Data da Sessão: 29/02/1996 Relatório do Ministro Relator: GRUPO I - Classe III - Segunda Câmara TC 275.354/95-4 Natureza: Relatório de Auditoria Operacional Entidade: Hospital de Maracanaú Ementa: Auditoria Operacional realizada na área de internações hospitalares. Desativação de diversos setores de atendimento. Ociosidade de leitos. Inobservância dos indicadores de gestão. Remessa de cópias dos Relatórios, Voto e Decisão a fim de subsidiar as ações administrativas. Cuidam os autos de auditoria operacional realizada no Hospital de Maracanaú - CE, na área de internações hospitalares, no período de 07.08 a 01.09.95. 2. O Hospital de Maracanaú iniciou suas atividades em 1952, como sanatório de tuberculosos. No decorrer dos anos teve diversificadas suas atividades, transformando-se em hospital geral. Ressalta a equipe que "no ano de 1992 chegou a possuir 150 leitos, divididos em sete clínicas. Várias clínicas foram desde então fechadas, e as restantes tiveram seu número de leitos diminuído." Segundo apontado, "a involução do Hospital na área de internações é patente", conforme demonstrado pelos dados a seguir: CLÍNICA NÚMERO DE LEITOS JULHO DE 1995 DEZEMBRO DE 1992 médica 34 20 tisiológica 56 52 pediátrica 20 20 ginecológica/obstétrica 20 não existe pneumológica 12 não existe cirúrgica 08 não existe TOTAL 150 92 3. Comentou a equipe auditora que a desativação parcial do centro cirúrgico do Hospital, que atualmente realiza apenas pequenas cirurgias (apenas 33 em todo o primeiro semestre de 1994) trouxe graves conseqüências, acarretando em desestímulo aos médicos cirurgiões e anestesistas daquele nosocômio, que passaram a faltar aos plantões noturnos que lhes são devidos, "deixando assim mais desprotegidos os pacientes internos em caso de emergências noturnas." O fato também contribuiu para que o Hospital, como um todo, tivesse reduzida sua capacidade para resolução dos problemas enfrentados pela população municipal, que passou, de certa forma, a desacreditá-lo, recorrendo corriqueiramente a hospitais de Fortaleza, "a muitos quilômetros de distância." 4. Os reflexos da "desativação" do centro cirúrgico repercutiram também no setor de obstetrícia/ginecologia, uma vez que foram inviabilizados os partos considerados como de maior complexidade, o que levou à cessão de médicos e obstetras a outros órgãos e entidades, selando o fim das atividades desse setor. 5. Os reflexos financeiros da desativação do serviços obstétricos/ginecológicos fizeram-se sentir, uma vez que o reduzido tempo de internação de pacientes desse setor, conjugado com uma constante demanda por esses serviços e seu razoável valor relativo de internação "contribuem para aumentar a receita de qualquer hospital." 6. De modo geral, foi observada a ociosidade na ocupação dos leitos hospitalares. Aduziu a equipe que "a doutrina médica ensina que um hospital deve ter um índice de ocupação de leitos de 80%. Menos que isso é desperdício e é prejudicial, pois um hospital precisa estar preparado para emergências como por exemplo epidemias." Não obstante, o Hospital de Maracanaú apresentou, de maio de 1993 a novembro de 1994, sistematicamente taxas de ocupação de seus leitos inferiores a 70%, sendo que em julho de 1995, último mês verificado, a taxa foi de apenas 63,04%. Na clínica pediátrica os índices foram ainda inferiores, situando-se abaixo de 55%. 7. Segundo a equipe, "a diretoria do Hospital não se esmera em controlar os índices gerenciais do Hospital, entre eles a taxa de ocupação de leitos. Pelo contrário, o Núcleo de Programação foi desativado e o Setor de Estatísticas Médicas se ressente de um maior apoio. A Diretoria do Hospital não se esmera em tomar conhecimento de tais índices e adotar políticas concretas em relação a eles." Também o Núcleo de Programação, que tinha por finalidade, dentre outras, apurar os dados técnico-administrativos e índices de produtividade e custos do hospital deixou, na prática, de existir, sendo seu último boletim trimestral completo relativo ao 3º trimestre de 1994. 8. Nesse sentido, também não vêm sendo objeto da devida atenção os índices indicativos do "intervalo de substituição", que indica o número de dias que um leito passa desocupado. A avaliação histórica mostra que nos quatro trimestres de 1989 esse índice oscilou entre 2,28 e 4,14 dias. Em 1995, até julho, o índice mensal oscilou entre 4,38 e 17,86 dias, demonstrando a baixa utilização do potencial do Hospital. 9. De forma contrária ao resto do Hospital, a clínica tisiológica enfrenta os problemas da ocupação excessiva. A taxa de ocupação de leitos da tisiologia, de novembro de 1994 a junho de 1995 variou entre 84,81 e 98,70%, muito superiores as 80% recomendados. No entender da equipe, tal fato decorre da "falta de interesse dos outros hospitais, principalmente dos particulares, em tratarem da tuberculose. O paciente tuberculoso passa muitos dias internado. A tabela do SUS prevê 30 dias de internação para tal paciente. E é voz corrente no meio hospitalar que, após cinco ou seis dias de internação, o hospital começa a ter prejuízo. Assim, há uma pressão dos hospitais para se livrar desse tipo de paciente." 10. Também o número de médicos daquele Hospital apresentou significativa queda, reduzindo-se de 95, em 1988, para apenas 59, em 1994. 11. Como conseqüência de todo esse quadro, o número de Autorizações para Internações Hospitalares (AIH's) emitidas para o Hospital de Maracanaú apresentaram vertiginoso decréscimo. Os controles da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará demonstram que em julho de 1995 foram emitidas apenas 63 AIH's, contra as 799 AIH's de janeiro de 1991, 850 AIH's de março do mesmo ano e até mesmo 1.598 AIH's verificadas em dezembro de 1992. 12. A verificação da série histórica das Autorizações para Internações Hospitalares revelou que a queda mais abruta deu-se entre os meses de março e abril de 1993, quando o número de AIH's caiu de 899 para 102. Justifica-se o fato, pois naquele período os hospitais filantrópicos de Maracanaú passaram a dividir o total de AIH's destinadas àquele Município. 13. Releva notar, entretanto, que o número de AIH's emitidas pelos dois hospitais filantrópicos daquele Município (Hospital Santa Clara e Associação Beneficente Médica de Pajuçara) estiveram praticamente inalterados no período de 1993 a 1995, não obstante a redução do número total de AIH's distribuídas ao Município de Maracanaú levada a efeito pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, donde se conclui que tal redução, a nível municipal, só veio a prejudicar a receita do Hospital de Maracanaú, em detrimento daqueles Hospitais filantrópicos. 14. A SECEX-CE concluiu a auditoria propondo que o Tribunal determine: "1. o envio de cópia do presente relatório ao Exmo. Sr. Ministro de Estado da Saúde; 2. ao Hospital de Maracanaú que tome as seguintes medidas: a) reativação do centro cirúrgico, para possibilitar a plena utilização da capacidade de trabalho do pessoal médico, particularmente dos cirurgiões e dos anestesistas; b) manutenção de uma taxa de ocupação dos leitos de aproximadamente 80% eliminando a capacidade ociosa que existe agora, particularmente na Clínica Pediátrica; c) manutenção da taxa de ocupação dos leitos da Clínica Tisiológica em torno de 80%, mantendo entendimento com outros hospitais, principalmente da rede pública, para que eles absorvam os pacientes de tuberculose necessitados de internação que excedam essa taxa; d) reativação do Núcleo de Programação, para que a Direção tenha uma idéia precisa dos indicadores gerenciais do Hospital e possa adotar políticas de acordo; e) reativação do setor de ginecologia/obstetrícia objetivando um melhor atendimento populacional, um retorno de obstetras e ginecologistas e uma maior rentabilidade no tocante às internações dessa natureza; f) solicitação, após as reativações, do retorno imediato de todos os médicos do Hospital de Maracanaú que se encontrarem a disposição de outros órgãos/entidades." É o Relatório. Voto do Ministro Relator: Os dados trazidos pela SECEX-CE são preocupantes na medida em que demonstram existir capacidade ociosa no Hospital de Maracanaú, ao tempo em que o País se ressente de leitos hospitalares para atender à imensa maioria da população brasileira, que não possui condições financeiras de recorrer a clínicas e hospitais particulares. As informações coligidas demonstram que o Município de Maracanaú não constitui exceção e, por paradoxal que pareça, possui uma população que se vê freqüentemente levada à procura de leitos em estabelecimentos hospitalares de outros municípios, nem sempre tão próximos, a despeito das vagas existentes em seu hospital municipal. 2. Consoante se infere das notícias trazidas pela SECEX-CE, o enfraquecimento por que passa o Hospital de Maracanaú apresenta-se como resultado não apenas da crise generalizada respeitante ao setor de saúde de nosso país, mas também em função de uma administração pouco eficiente, alheia aos indicadores de desempenho que lhes seriam suficientes para demonstrar a necessidade de uma reformulação nas políticas traçadas por aquele nosocômio. 3. Os reflexos da desativação de um ou mais setores hospitalares não foram previamente interpretados pelo administrador local, que ao praticamente desativar o Centro Cirúrgico findou por fragilizar o atendimento dos serviços ginecológicos e obstetrícios, que se viram, em conseqüência, também desativados. A falta de atendimento em determinados setores, por sua vez, levou a um crescente descrédito do Hospital perante a população, que passou a optar por estabelecimentos que oferecessem uma maior diversidade em seus setores de atendimento, ainda que situados em municípios mais distantes. Tudo isso resultou na ociosidade dos leitos hospitalares disponíveis no Hospital de Maracanaú, sem que fossem adotadas providências concretas objetivando a modificação desse quadro. 4. Não obstante o diagnóstico apresentado pela SECEX-CE, entendo que não cabe ao Tribunal, em auditorias operacionais como a que ora se aprecia, determinar a adoção de medidas específicas como as alvitradas pela Unidade Técnica, por entender que se inserem no poder discricionário do administrador e representariam praticamentea co-gestão nos negócios daquela instituição. Diferentemente seria se fossem detectadas ilegalidades ou irregularidades, o que não se verificou. Assim, entendo mais coerente com os objetivos da presente auditoria operacional que se remetam cópias dos Relatórios às autoridades competentes, como forma de subsidiar as ações administrativas a serem implementadas. Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado. Decisão: A Segunda Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 1. remeter cópia integral do Relatório de Auditoria Operacional realizada pela SECEX-CE no Hospital de Maracanaú, bem como cópia desta Decisão, acompanhada do Relatório e Voto que a fundamentaram, ao Exmo. Sr. Ministro da Saúde, ao Sr. Diretor do Hospital de Maracanaú, ao Sr. Secretário de Saúde do Estado do Ceará, ao Sr. Prefeito Municipal e à Presidência da Câmara Municipal de Maracanaú, a fim de subsidiar as ações administrativas a serem implementadas; 2. determinar, nos termos do art. 194, I, do Regimento Interno, a juntada dos presentes autos às contas do Hospital de Maracanaú relativas ao exercício de 1995. Indexação: Auditoria Operacional; Hospital; Maracanaú CE; Gestão;