Mensagem de Juan Somavia, Diretor-Geral da Organização Internacional do Trabalho por ocasião do Dia Internacional da Mulher Hoje celebramos o Dia Internacional da Mulher e, por esse motivo, desejamos reconhecer a importante contribuição das mulheres rurais de todo o mundo ao bem-estar de suas famílias e comunidades e ao sustento da sociedade e da economia. Exortamos a que se adotem medidas para assegurar que todas as mulheres rurais possam viver e trabalhar com dignidade. As mulheres constituem cerca de 43 por cento da mão de obra agrícola nos países em desenvolvimento e mais de 70 por cento da força de trabalho em algumas economias baseadas fundamentalmente na agricultura. Além de trabalhar como agricultoras, trabalhadoras assalariadas e empresárias, as mulheres rurais também assumem, de maneira desproporcional, a responsabilidade do cuidado das crianças e dos idosos. Pelas múltiplas funções que realizam, desempenham um papel fundamental em prol do desenvolvimento rural. As mulheres rurais percebem uma remuneração inferior à dos homens e frequentemente ficam para trás no acesso à educação, na formação, na tecnologia e na mobilidade. Mesmo assim, levando em conta o tempo que dedicam ao trabalho remunerado e ao não remunerado, suas jornadas de trabalho são maiores do que as dos homens. Grande parte do trabalho que realizam continua sem reconhecimento, porque não é pago e se circunscreve ao âmbito doméstico. No contexto da persistente crise econômica, considera-se provável que, na maioria dos países, se produza um incremento do trabalho não remunerado das mulheres, o que esgotaria sua capacidade para dedicar-se a atividades produtivas. As mulheres rurais em todo o mundo enfrentam diversos condicionamentos por motivo de gênero que limitam seu acesso ao trabalho decente, assim como sua produtividade. Para melhorar sua capacidade produtiva, necessitam ter mais acesso a empregos decente e a um maior controle dos recursos produtivos. Se fosse dada às mulheres rurais a oportunidade de desenvolver plenamento seu potencial, isso redundaria em benefício de todos. É a hora de produzir mudanças e, a respeito disso, é oportuno recordar que o trabalho decente constitui um meio para superar a pobreza. Baseando-se na igualdade de gênero como princípio, a OIT promove o trabalho decente para todos. Através da promoção do respeito dos princípios e direitos fundamentais no trabalho e do diálogo social, o apoio à criação de empregos e desenvolvimento empresarial, assim como a melhoria do acesso à proteção social, a OIT respalda a luta das mulheres rurais para viver com dignidade, medidante o acesso a mais e melhores empregos. Esta agenda é um vetor de empoderamento e uma via para o desenvolvimento sustentável. Seu plano de ação integrado permite a mulheres e homens romper o círculo vicioso da pobreza. No contexto da economia rural, esta agenda requer o seguinte: • • • • • • • Garantir o respeito à não discriminação como direito fundamental defendido por todas as políticas relativas ao setor rural. Combiná-la com o princípio da liberdade sindical e de associação, porque o direito de organização dá força e voz às mulheres rurais. Garantir a equidade e a igualdade desde a idade jovem adotando medidas destinadas a escolarizar as meninas e meninos até que se cumpra a idade mínima de admissão ao emprego, em respeito ao seu direito de crescer longe do trabalho infantil. Potenciar a capacidade das mulheres para realizar um trabalho produtivo, através da educação e da formação, facilitando seu acesso a recursos produtivos e ampliando as oportunidades de emprego, entre outras coisas, medidante o apoio às empresas rurais, o desenvolvimento da infraestrutura e a promoção de empregos verdes rurais. O estabelecimento de pisos de proteção social oferece um nível básico de segurança, e também permite empoderar a quem recorre a eles, contribuindo para manter as economias locais. Organizar-se em cooperativas, associações e sindicatos também oferece vias para a atividade produtiva e a prestação de seviços. Favorecer o desenvolvimento de estratégias integradas de desenvolvimento local que levem em conta as questões de gênero e apoiem o trabalho decente. A adoção de um enfoque de trabalho decente pode contribuir em grande medida para reduzir as desigualdades de gênero no setor da agricultura e permitir que as mulheres rurais superem a pobreza por meio de seu trabalho. As repercussões poderiam ser muito importantes. Por exemplo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que se fosse reduzida a lacuna da pobreza haveria uma redução entre 100 e 150 milhões do número de pessoas desnutridas no mundo. Existem muitas experiências positivas que podem ser aproveitadas e divulgadas mais amplamente, contando com o respaldo internacional tanto no que diz respeito à elaboração de políticas como à sua execução. Aproveito esta ocasião para render homenagem às mulheres rurais e para pedir a todos que reconheçam o valor de suas contribuições. É hora de encorajar as mulheres rurais a que desenvolvam todo seu potencial para que assumam o protagonismo que lhes corresponde na busca do objetivo de uma economia mundial justa e equitativa.