1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: REALIDADE OU UTOPIA? Franciane de Souza1 [email protected] Orientador: Mario Sérgio Cunha Alencastro2 [email protected] RESUMO O objetivo principal do presente artigo é a partir de uma revisão de literatura, expor conceitos, definições, interpretações e ambigüidades a respeito do termo “Desenvolvimento Sustentável”, chamando a atenção para o fato de que esta profusão de conceituação e interpretação do termo pode conduzir a um grande distanciamento entre o discurso e a prática. Embora seja um conceito muito conhecido e utilizado, não existe uma única visão do que seja Desenvolvimento Sustentável, possibilitando que haja excesso de liberdade para utilizar este termo indistintamente, prova disto foi a facilidade com que a sociedade empresarial aderiu ao movimento pelo DS, sem contudo, modificar qualquer um dos seus processos de produção. A seguir, será explorada a temática dos padrões insustentáveis de produção e consumo, considerados os maiores responsáveis pela deterioração do meio ambiente e o aumento da desigualdade social no mundo. O artigo então discute a questão mundial pela busca do crescimento econômico ilimitado, que ocasiona uma implacável corrida por cada vez mais energia e recursos naturais, responsável pelo aumento da Pegada Ecológica da população mundial. Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentável; Profusão de Conceitos; Ambigüidades; Padrões Insustentáveis de Produção e Consumo; Pegada Ecológica. 1 INTRODUÇÃO Em 1987 as Nações Unidas criaram a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o que resultou no famoso “Relatório de Brundtland” ou também como é conhecido “Nosso Futuro Comum”, um dos marcos da nova era de desenvolvimento econômico sustentável, diz que “a Humanidade tem a capacidade de atingir o desenvolvimento sustentável, ou seja, de atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender às suas próprias necessidades”. (BRUNDTLAND, 1987). ____________ 1 Graduada em Administração de Empresas pela FESP. Pós-graduanda em Sustentabilidade e Gestão Ambiental Empresarial. 2 Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Professor na Universidade Tuiuti do Paraná. 2 O conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS) foi consagrado no mais importante encontro que ocorreu no Brasil, a conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, conhecida como “Eco 92”, onde participaram 179 países. Esse evento resultou na aprovação da Agenda 21, documento que consagra os mais elevados princípios de defesa do bem mais importante que o homem tem ao seu dispor, a Terra. O principal compromisso assumido foi à prática de um novo padrão de desenvolvimento sustentável, com objetivo de conjugar esforços na busca de um equilíbrio econômico, justiça social e da conservação dos recursos naturais. (MEIO AMBIENTE PR, 2010). Aparentemente com a Agenda 21 a idéia de Desenvolvimento Sustentável estava consolidada. Mas será que estamos no caminho certo para o Desenvolvimento Sustentável? Uma análise mesmo que superficial na literatura disponível mostra que existem diversas interpretações e até mesmo ambigüidades no uso e aplicação do termo DS. Baroni (1992 p. 16), por exemplo, selecionou 11 definições que “exemplificam a diversidade de idéias e refletem a falta de precisão na conceituação do termo”, como será visto ao longo deste trabalho. O objetivo geral deste artigo é a partir de uma revisão de literatura chamar a atenção para o fato de que esta profusão de conceituação e interpretação do termo “Desenvolvimento Sustentável” pode aumentar ainda mais a distância que existe entre o discurso favorável ao DS e a realidade. Como será visto, o termo DS é tão amplo, que esta sendo apropriado de formas diferentes nos mais variados grupos de interesse. A facilidade com que a sociedade empresarial aderiu ao movimento do DS tem gerado ceticismo nas correntes ambientalistas, pois, embora o discurso seja favorável ao DS, na prática não se aplicam as transformações necessárias. A seguir, será abordada a questão dos padrões insustentáveis de produção e consumo que são considerados os maiores responsáveis pela deterioração do meio ambiente e o aumento da desigualdade social no mundo. Por fim, o artigo discute a questão da busca mundial pelo crescimento ilimitado do PIB que ocasiona uma implacável corrida por cada vez mais energia e recursos naturais limitados, responsável pelo aumento da Pegada Ecológica da população mundial. 2 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO O primeiro conceito básico de Desenvolvimento Sustentável surgiu a partir da Conferência de Estocolmo em 1972, que na época foi chamado de “Ecodesenvolvimento“, este conceito foi apresentado por Maurice Strong1, teve seus princípios formulados por Ignacy Sachs e posteriormente renomeado de “Desenvolvimento Sustentável”. Com o passar dos anos este conceito veio sendo aprimorado, como será estudado a seguir. O conceito de Ecodesenvolvimento foi definido por Sachs (1986, p. 21) como: Um processo criativo de transformação do meio com a ajuda de técnicas ecologicamente prudentes, impedindo o desperdício inconsiderado dos recursos. As estratégias do ecodesenvolvimento serão múltiplas e só poderão ser concebidas a partir de um espaço endógeno das populações consideradas. Promover o ecodesenvolvimento é, no essencial, ajudar as populações envolvidas a se organizar, a se educar, para que elas repensem seus problemas, identifiquem suas 1 Na época Maurice Strong ocupava o cargo de Secretário Geral da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente 3 necessidades e os recursos potenciais para conceber e realizar um futuro digno a ser vivido, conforme postulados de justiça social e prudência ecológica. De acordo com Sachs (1993, p.25), “o desenvolvimento sustentável é o processo que melhora as condições de vida das comunidades e, ao mesmo tempo, respeita os limites da capacidade de carga dos ecossistemas”. Ainda segundo Sachs, (1993, p.25) ao planejar o desenvolvimento, deve-se considerar simultaneamente cinco dimensões de sustentabilidade: Sustentabilidade Social: entendida como a consolidação de um processo de desenvolvimento baseado em outro tipo de crescimento e orientado por outra visão do que é a boa sociedade. Sustentabilidade Econômica: possibilitada por uma alocação e gestão mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular de investimento público e privado. Deve ser medida em termos de critérios macrossociais. Sustentabilidade Ecológica: “intensificação do uso dos recursos potenciais dos vários ecossistemas, com o mínimo de dano aos sistemas de sustentação da vida para propósitos socialmente válidos”. Implica em preservar as fontes de recursos energéticos e naturais. Sustentabilidade espacial / geográfico: “voltada a uma configuração rural urbana mais equilibrada e a uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas”. Busca equilíbrio na relação cidade / campo. Sustentabilidade cultural: privilegia os processos de mudança no seio da continuidade cultural e traduzindo o “conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções particulares que respeitem as especificidades de casa ecosistema, de cada cultura, de cada local”. Posteriormente foi no relatório produzido pela Comissão de Brundtland mais conhecido como “Nosso Futuro Comum” que apresentou pela primeira vez uma definição mais elaborada e formalizada do conceito de DS. Foi no encontro que ocorreu no Brasil em 1992, mais conhecido como “Eco 92”, que a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento estabeleceram o mais importante e abrangente programa internacional, a “Agenda 21”. A criação da Agenda 21 tem por objetivo guiar as nações para o desenvolvimento sustentável implicando diretrizes para a formulação de políticas e práticas para a sustentabilidade. Este acordo contém princípios que determinam que os Estados e Instituições devem (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2010): a) Garantir atividades que não causem danos ambientais; b) Cooperar para a erradicação da pobreza; c) Eliminar padrões de produção e consumo insustentáveis; d) Promover a cooperação científica para a geração e disseminação de conhecimentos; e) Criar uma legislação efetiva entre outras ações que gerem um sistema global sustentável. Além disso, a Agenda 21 apresenta essas propostas em quatro seções: a) Dimensões sociais e econômicas: tratando a interdependência entre os problemas e soluções ambientais e os da pobreza, da saúde, do consumo e populacionais; b) Conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento: abordando a forma de como os recursos físicos (terra, mares, energia e lixo) precisam ser gerenciados para assegurar o desenvolvimento sustentável; 4 c) Fortalecimento do papel dos principais grupos sociais: tratando as questões da infância e da juventude, da mulher, dos grupos minoritários e do fortalecimento do papel das comunidades, a exemplo da científica e tecnológica; das parcerias entre entidades governamentais e não-governamentais em direção ao avanço do desenvolvimento sustentável; d) Meios de implementação, relativos a financiamento, ensino, ciência, transferência tecnologia e informação, cooperação internacional. A ilustração abaixo apresenta um resumo dos principais acontecimentos relacionados ao desenvolvimento sustentável ao longo destes anos: A LINHA DO TEMPO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1972 - Conferência ONU Meio Ambiente Estocolmo Rio 92 2002 - Desenvolvimento Sustentável Johannesburg 1987 – Comissão Brundtland Rio + 5 1970 1980 STOP ao crescimento e proteção ambiental Evolução dos Conceitos Ecodesenvolvimento 1990 2000 Desenvolvimento Sustentável Responsabilidade Social das Empresas Performance Econ. Social e Ambiental Cientistas e ONGs Governos e Nações Evolução dos Atores Empresas Consumidores Fonte: Brodhag.org O conceito de desenvolvimento sustentável adquiriu muita visibilidade ao longo das últimas décadas, porém esta fama está longe de corresponder a uma definição precisa sobre seus significados, é o que se busca demonstrar na seqüência. 3 DEFICIÊNCIAS E CONTRADIÇÕES DO TERMO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Podemos dizer que a idéia de Desenvolvimento Sustentável surgiu com o objetivo de buscar equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental, porém apesar de haver consenso sobre a importância deste tema, Almeida (2002, p.27) considera a definição de DS uma “idéia genérica e difusa”. Alguns autores ainda dizem, que o conceito é impreciso, permitindo que diferentes grupos possam interpretá-lo de acordo com seus próprios interesses. 5 O conceito de DS está em torno de polêmicas desde a sua criação e foi buscando precisão neste termo que se aumentou ainda mais às divergências, Baroni (1992, p.16) por exemplo, selecionou 11 definições que “exemplificam a diversidade de idéias e refletem a falta de precisão na conceituação do termo”. São eles: Definição 1: DS é aqui definido como um padrão de transformações econômicas estruturais e sociais. O objetivo primeiro do desenvolvimento sustentável é alcançar um nível de bem-estar econômico razoável e eqüitativamente distribuído que pode ser perpetuamente continuado por muitas gerações humanas. O desenvolvimento sustentável implica usar os recursos renováveis naturais de maneira a não degradá-los, ou diminuir sua utilidade para as gerações futuras, implica usar os recursos minerais não renováveis de maneira tal que não necessariamente se destruam o acesso a eles pelas gerações futuras. (GOODLAND; LEDOC, 1987, p.38) apud Baroni. Definição 2: DS é simples no contexto dos recursos naturais, o uso feito desses insumos no processo de desenvolvimento deve ser sustentável ao longo tempo, se aplicarmos a idéia aos recursos, sustentabilidade deve significar que um dado estoque de recursos (árvores, qualidade do solo, água entre outros) não pode declinar. (MARKANDYA; PEARCE, 1988, p.3) apud Baroni. Definição 3: A definição-padrão de DS será a de não declínio do bem-estar per capita, devido ao critério de equidade entre as gerações. (PEZZEY, 1989) apud Baroni. Definição 4: O critério da sustentabilidade requer que as condições necessárias para igual acesso à base de recursos sejam conseguidas por cada geração. (PEARCE, 1987, p.38) apud Baroni. Definição 5: Desenvolvimento entende-se por um vetor de objetivos sociais desejáveis, e seus elementos devem incluir: aumento na renda real per capita, melhora no status nutricional e da saúde, melhora educacional, acesso aos recursos, uma distribuição de renda mais justa, aumento nas liberdades básicas. (PEARCE;BARBIERI, 1988, p.88) apud Baroni. Definição 6: DS tem por objetivo alcançar satisfação constante das necessidades humanas e a melhoria da qualidade de vida humana. ( ALLEN, 1980) apud Baroni. Definição 7: O conceito de desenvolvimento econômico sustentável quando aplicado ao Terceiro Mundo, diz respeito diretamente à melhoria do nível de vida dos pobres, a qual pode ser medida quantitativamente em termos de aumento de alimentação, renda real, serviços educacionais e de saúde, saneamento e abastecimento de água. O desenvolvimento sustentável é receita para o Terceiro Mundo sair da pobreza, ou do subdesenvolvimento, o que parece estar sugerido é a busca do desenvolvimento, acrescida da preocupação em reduzir desperdícios no uso dos recursos. (BARBIERI, 1987) apud Baroni. Definição 8: Existe um amplo consenso sobre as condições requeridas para o desenvolvimento econômico sustentável. Duas interpretações estão emergindo: uma concepção mais ampla com respeito ao desenvolvimento econômico, social e ecológico, e uma concepção mais estreita com respeito ao desenvolvimento ambientalmente sustentável. (BARBIERI, 1989) apud Baroni. Definição 9: A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável, de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também as suas. O conceito de desenvolvimento sustentável tem limites – não limites absolutos, mas limitações impostas pelo estagio atual da tecnologia e da organização social, no tocante aos recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de absorver os efeitos da atividade humana. (WCED, 1987) apud Baroni. 6 Definição 10: A Comissão Mundial para o desenvolvimento e o Meio Ambiente não acredita que o cenário sombrio de destruição do potencial global nacional para o desenvolvimento seja um destino inescapável. Os problemas são planetários mas não são insolúveis. Existem várias dimensões para a sustentabilidade. Primeiramente, ela requer a eliminação da pobreza e da privação. Segundo, requer a conservação e a elevação da base de recursos, a qual sozinha pode garantir que a eliminação da pobreza seja permanente. Terceiro, ela requer um conceito mais abrangente de desenvolvimento, que englobe não somente o crescimento econômico, como também o desenvolvimento social e cultural, e por último, requer a unificação da economia e da ecologia nos níveis decisórios. (BRUNDTLAND, 1987) apud Baroni. Definição 11: A incorporação da dimensão ambiental nas estratégias e projetos de crescimento econômico não é condição suficiente nem para o DS nem para a melhoria das condições de vida dos pobres e desprovidos. Em oposição às estratégias de crescimento insustentável, serão necessárias estratégias que servirão a todos, todo o tempo, sem destruir ou exaurir os recursos existentes e produzir riscos e conseqüências ambientes insuportáveis. Serão caracterizadas pela viabilização econômica, equidade social, sendo necessárias também mobilização e motivação de toda sociedade para definir um estilo de vida com padrões de consumo e produção de acordo com as necessidades básicas e estratégicas. (RATTNER, 1991) apud Baroni. Nessa variedade de conceituações, há autores que dizem o que DS deveria ser, ou o que gostariam que ele fosse. Outros confundem desenvolvimento sustentável com sustentabilidade ecológica que tem a ver somente com a capacidade dos recursos se reproduzirem ou não se esgotarem. Segundo Dias (2006, p.33) está claro que este conceito deu margem a várias interpretações que de uma maneira geral baseia-se num desequilíbrio entre os três eixos fundamentais que norteiam o DS, que são: o crescimento econômico, a preservação ambiental e a equidade social. “O predomínio de qualquer destes eixos desvirtua o conceito e torna-se manifestação de interesse de grupos, isolados do contexto mais geral, que é o interesse da humanidade como um todo”. De acordo com Montibeller (2004, p.56) apesar da imprecisão do termo, somente aceita a definição que considera o DS como “um processo contínuo de melhoria das condições de vida de todos os povos, enquanto minimize o uso de recursos naturais, causando o mínimo de distúrbios ou desequilíbrios aos ecossistemas”. Com esta discussão pode-se perceber muitos limites no conceito de DS, destacando a precariedade, a ambigüidade e várias contradições. Uma das principais contradições que é possível observar é a de que o desenvolvimento sustentável busca uma conciliação entre economia e ecologia, sem romper com o modelo de desenvolvimento previsto, que na verdade é a origem da crise social e ambiental. Importante destacar aqui, a posição do “Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente” que preconizava já no período em que ocorreu a “Eco 92” (FÓRUM DAS ONGs, 1992): Garantir a sobrevivência das gerações futuras depende sobretudo da nossa capacidade de construirmos um modelo político rico em alternativas, que possa enfrentar com novas soluções a atual crise sócio ambiental. Isso exige ampla participação de todos os povos e setores sociais. Vale dizer, somente a democracia e uma efetiva cooperação internacional poderão viabilizá-lo. Em 1997, quando a comunidade internacional se reuniu para avaliar os últimos cinco anos após a “Eco 92” , chamado ”Rio+5” numa nova conferência, a questão da 7 sustentabilidade continuava em pauta, as entidades da sociedade civil insistiam em mostrar as contradições, a ambigüidade e a falta de eficácia na aplicação do conceito de DS após a “Rio 92”. Segundo o Fórum das ONGs ( FÓRUM DAS ONGs, 1992, 1997): O desenvolvimento sustentável só poderá converte-se em proposta séria à medida que seja possível distinguir seus conteúdos concretos, seus significados ecológicos, ambientais, demográficos e culturais, sociais, políticos e institucionais. Convivemos ainda com duas realidades contrapostas, se por um lado todos concordam que o estilo atual está esgotado e é decididamente insustentável, por outro lado não se adotam as medidas indispensáveis para transformar as instituições econômicas, sociais e políticas que deram sustento ao estilo de vida vigente. Sem dúvida este é um assunto que gera muita polêmica e causa muitas contradições, contestações, alianças e confrontos. Segundo Scotto; Carvalho; Guimarães (2007, p.91) “a busca pela sustentabilidade sócio ambiental estaria muito limitada se vislumbrada a partir somente de uma racionalidade tecnológica e de uma globalização focada simplesmente no mercado”. De acordo com Leff (2001, p.191): A crise ambiental, entendida como crise de civilização, não poderia encontrar uma solução por meio da racionalidade teórica e instrumental que constrói e destrói o mundo. Aprender a complexibilidade ambiental implica em um processo de desconstrução e reconstrução do pensamento, remete-nos ás suas origens, á compreensão de suas causas, esta racionalidade dominante descobre a complexidade a partir de seus limites, a partir de sua negatividade, a partir da alienação e da incerteza do mundo economizado, arrastado por um processo incontrolável e insustentável de produção. Embora seja um conceito muito conhecido e utilizado, não existe uma única visão do que seja DS, possibilitando que haja excesso de liberdade para utilizar este termo indistintamente. O termo DS é tão amplo, que muitos podem querer reivindicá-lo para si. A facilidade com que a sociedade empresarial aderiu ao movimento do desenvolvimento sustentável tem gerado ceticismo nas correntes ambientalistas como um todo, como será visto no próximo capítulo. 4 DISTÂNCIA ENTRE O DIRCURSO E A PRÁTICA O conceito de DS está sendo apropriado de formas diferentes nos mais variados grupos de interesse. É fácil perceber que existe um grande distanciamento entre o discurso favorável ao desenvolvimento sustentável e a realidade, onde não se aplicam as medidas indispensáveis para que ocorram as transformações necessárias na sociedade empresarial, econômica e social. Um aspecto importante para a adesão de práticas sustentáveis nas empresas é a necessidade de substituir os processos antigos por outros que traduzem os princípios e objetivos do DS, de forma que garanta no mínimo, a redução dos impactos ambientais e sociais. Muitas empresas têm incorporado o conceito de DS a seu discurso sem, contudo, modificar qualquer um dos seus processos de produção, podendo assim até obter um aumento nos lucros, pois desfrutam de serem considerados como sustentáveis e ao mesmo 8 tempo acabam tendo vantagens financeiras por estarem isentos dos custos destas transformações. Percebe-se nitidamente que o sentido da expressão DS se tornou volátil, quando empresas que causaram desastres ambientais se dizem sustentáveis porque algumas das suas unidades obtiveram algum tipo de certificação ambiental no seu sistema de gestão, ou ainda, indústrias fabricantes de cigarros dizem contribuir para o desenvolvimento sustentável somente por ensinar aos produtores rurais melhores práticas agrícolas nas próprias plantações de fumo, ou empresas multinacionais do ramo alimentício que se dizem sustentáveis apenas por fazer campanhas de economia de água e energia nos escritórios de suas fábricas. Todos os anos a agência americana de marketing ambiental TerraChoice faz uma pesquisa para descobrir quantos dos produtos que se declaram verdes são realmente sustentáveis. De acordo com pesquisa realizada em 2010, 95,5% das empresas pesquisadas cometem o chamado greenwashing (lavagem cerebral verde), prática em que os danos ambientais são escondidos dos clientes. Este exagero que as empresas cometem a respeito dos benefícios ambientais de um produto, acaba confundindo os consumidores sobre o que compram. (GALILEU, 2010) Vale destacar também como exemplo, a indústria da construção civil, que promove grandes alterações ou impactos no meio ambiente, dentre os principais estão a utilização de grandes quantidades de recursos naturais, o consumo de energia e a geração de grandes volumes de resíduos. Na tentativa de minimizar estes impactos perante a sociedade, algumas empresas se utilizam de estratégias mercadológicas inadequadas. De acordo com matéria exibida na revista AEC WEB (Arquitetura Engenharia e Construção) muitas empresas se utilizam de um marketing excessivo e vazio de conteúdo, desnorteando os consumidores que acreditam estar adquirindo um imóvel sustentável. “Na área imobiliária o termo sustentabilidade está desprendido da realidade que acaba não passando mais confiabilidade para os consumidores”. (AEC-NEWS, 2010). A banalização do termo DS pode estar contribuindo para piorar ainda mais este cenário. Banalização é algo que teve sua imagem desgastada, ou algo de importância que se tornou menos importante pela exaustão da repetição sobre um determinado assunto. No caso do Desenvolvimento Sustentável, a banalização do termo permite que ações aparentemente corretas em termos ambientais, acabem por ocultar interesses econômicos, políticos ou particulares. Muito se fala em “Marketing Verde” que segundo Razzoto (2009, p.121): “surge como uma ferramenta para auxiliar as organizações no processo de entrega de valor aos seus clientes com garantia de preservação ambiental”. O que se pode observar é que as ações que deveriam ser tomadas em prol da sustentabilidade estão sendo utilizadas somente como estratégias de marketing. Pode-se dizer que existe uma linha tênue entre o marketing positivo e o negativo neste segmento. Segundo Montibeller (2004, p.56) o desenvolvimento sustentável na perspectiva dos negócios revela que todos se relacionam exclusivamente ao ambiente físico, visando à redução de custo e aumento nos lucros. “É apropriado para eficiência empresarial, não levando em conta o princípio da equidade inerente ao conceito”, ou seja, equidade entre as gerações atuais, com as gerações futuras e a equidade internacional. A busca pela DS requer planejamento de longo prazo o que vai de encontro com as estratégicas do mercado atual, que visa o maior lucro possível e em curto espaço de tempo. O modo de produção capitalista é contrário aos princípios de equidades inerentes ao conceito de DS, o que será analisado a seguir. 9 5 A INSUSTENTABILIDADE DO MODO DE VIDA ATUAL É praticamente um consenso que a sobrevivência das futuras gerações no planeta necessitam de profundas transformações nos governos, na sociedade e nas indústrias, pois uma das principais causas da deterioração do meio ambiente e o aumento da pobreza no mundo, são os padrões insustentáveis de consumo e produção. O consumo excessivo de produtos dos países industrializados gera um grande desequilíbrio entre as sociedades pelo mundo, enquanto nos países mais ricos predomina-se um estilo de vida insustentável, nos países menos desenvolvidos as necessidades básicas de uma parte da população não são atendidas, como alimentação, saúde, moradia e educação. Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no capítulo 4 da Agenda 21, se preconiza a adoção de medidas que atendam aos seguintes objetivos amplos (Agenda 21,1992): a) Promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam as necessidades básicas da humanidade; b) Desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo e da forma de se implementar padrões de consumo mais sustentáveis. De acordo com a (Agenda 21,1992): Convém considerar os atuais conceitos de crescimento econômico e a necessidade de que se criem novos conceitos de riqueza e prosperidade, capazes de permitir melhoria nos níveis de vida por meio de modificações em seus estilos de vida que sejam menos dependentes dos recursos finitos da Terra e mais harmônicos com sua capacidade produtiva. Isto deve refletir-se na elaboração de novos sistemas de contabilidade nacional e em outros indicadores do desenvolvimento sustentável. Desta forma as orientações das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento para os governos e a sociedade empresarial resumidamente são: a) Promover a eficiência dos processos de produção e reduzir o desperdício nos processos, levando em conta as necessidades de desenvolvimento dos países em desenvolvimento; b) Desenvolver política interna que estimule a adoção de padrões de produção e consumo sustentáveis; c) Desenvolver políticas que estimulem a transferência de tecnologias ambientalmente saudáveis para os países em desenvolvimento. Determina-se também que os governos e a sociedade empresarial promovam a adoção de atitudes positivas com relação ao consumo sustentável, por meio da educação, programas de esclarecimento a sociedade e comunicação em massa, por exemplo através da publicidade positiva de produtos ou serviços que utilizem tecnologias ambientalmente corretas. A fim de que se atinjam os objetivos preconizados neste capítulo da Agenda 21, é necessária uma reorientação dos atuais padrões de produção e consumo, que foram desenvolvidos pelas sociedades industriais e por sua vez imitados em boa parte do mundo. Isto também exigirá mudanças profundas e complexas nas raízes culturais das empresas e sociedades. Embora tais medidas tenham sido amplamente divulgadas e aceitas por quase todas as nações, ainda estamos longe de atingir estes objetivos. 10 Para Altvater, economista ambiental, em seu livro O preço da riqueza (1995) diz que, “a industrialização é um luxo exclusivo de parcelas da população mundial, mas não para a ampla maioria”. “É impossível dar continuidade as estratégias de desenvolvimento e de industrialização do século passado”. Altvater (1995, p.28) Vale lembrar que o crescimento econômico mundial teve seu início com a Revolução Industrial na Inglaterra, mas foi com o movimento fordista nos EUA que as forças produtivas e de consumo foram impulsionadas. O movimento fordista caracteriza-se por ser inteiramente fossilista, ou seja, demanda uma quantidade enorme de fontes energéticas fósseis e na exploração de matérias-primas minerais. De acordo com Altvater (1995, p. 99), o modelo de produção capitalista-fordista revelase como um grande pólo de atração para todo mundo, considerando-se que este modo de produção e consumo é extraordinariamente expansivo, podendo ocasionar instabilidade e o caos. O modo de vida contemporâneo é nitidamente insustentável, vivemos numa sociedade cada vez mais consumista, incentivada por um marketing excessivo, em que o desejo do status e a necessidade de adquirir produtos trazem uma falsa sensação de felicidade, não satisfazendo as necessidades humanas mais profundas. O marketing excessivo nos faz desejar o que não temos e desprezar aquilo que já possuímos. A obsolescência acelerada e programada dos produtos faz com que ocorra uma renovação demasiada desta necessidade de comprar. È desta forma que grandes volumes de computadores se juntam a televisores, leitores de DVD, geladeiras, telefones celulares entre outros, aumentando o acúmulo de resíduos nos aterros e lixões com grande risco de poluição do solo e da água. De acordo com Elmar Altvater (1995, p. 244) “o homem da sociedade industrial fordista é um ser produtor de lixo em massa, este é seu estilo de vida”. Neste cenário em que o acúmulo de rejeitos é cada vez maior, alguns autores ambientais defendem a reciclagem como solução para tais problemas, ela é vista como o futuro na resolução de crise ecológica. Porém, de acordo com Montibeller (2004, p.214) a reciclagem de materiais encontra limites de natureza econômica, física e sociológica que impedem o desenvolvimento de todo o seu potencial. Apenas uma pequena parcela dos rejeitos pode ser reciclado, enquanto grande parte exigirá disposição final em depósitos de lixos. Todavia, mesmo esta parcela potencialmente reciclável pode encontrar grandes resistências no mercado de recicláveis. Pode-se dizer que o modelo econômico que tem sido adotado no Brasil tem feito aumentar estes aspectos da insustentabilidade. Para alguns governantes o crescimento econômico sem limites torna a gestão mais cômoda, pois é possível atender melhor as demandas da sociedade em crescimento, com uma maior arrecadação de impostos e taxas por exemplo. Neste cenário um político ou empresário que se mostre contrário a este crescimento econômico, certamente teria uma vida útil muito curta e causaria enorme estranheza no ambiente político ou empresarial. Os governantes e a sociedade empresarial de um modo geral tendem a achar que o desenvolvimento econômico e industrial dos países ricos e em desenvolvimento deve continuar aumentando, embora cresça cada vez mais os indícios dos impactos negativos sobre o meio ambiente. A busca pelo crescimento ilimitado do PIB e a expansão da população mundial ocasiona uma implacável corrida por cada vez mais energia e recursos naturais, recursos estes de natureza limitada. Alguns autores defendem a idéia de uma sociedade voltada ao pós-crescimento, ou ainda, no decrecimento econômico, pois o modelo econômico atual tem causado mais problemas do que soluções. 11 A idéia do decrescimento econômico vem conquistando cada vez mais espaço na esfera política e nas sociedades. O decrescimento se fez presente na campanha eleitoral italiana nas eleições de 2006 e depois no debate político francês em 2007, e em pouco tempo, grupos pró-decrescimento vêm se constituindo espontaneamente na Bélgica e na Espanha. (LATOUCHE,2009, p.2). O autor Serge Latouche em seu livro “Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno” preconiza o decrescimento como uma bandeira sob o qual reúnem-se aqueles que procederam a uma crítica radical do desenvolvimento e querem desenhar os contornos de um projeto alternativo para uma política do após-desenvolvimento. O Decrescimento tem como principal meta “enfatizar fortemente o abandono do crescimento ilimitado, cujo objetivo não é outro senão a busca do lucro por parte dos detentores do capital, com conseqüências desastrosas para o meio ambiente e portanto para a humanidade”. (Latouche, 2009 p.4). De acordo com o autor “decrescimento não é o crescimento negativo, oximoro absurdo que traduz a dominação do imaginário do crescimento”, pois sabe-se que a mera diminuição da velocidade do crescimento, geraria incerteza nas sociedades, como o aumento das taxas de desemprego e com o abandono dos programas sociais, sanitários, educativos, culturais e ambientais, que garantem o mínimo de qualidade de vida as sociedades. O que é necessário para que se ocorram às mudanças é bem mais radical: “uma revolução cultural, nem mais nem menos, que deveria culminar numa refundação do político”. (Latouche, 2009 p.40). O crescimento econômico ilimitado tem alimentado uma demanda cada vez maior por recursos naturais, incompatível com a capacidade de regeneração do Planeta, é o que se pretende demonstrar a seguir. 5.1 PEGADA ECOLÓGICA INSUSTENTÁVEL O desenvolvimento econômico excessivo choca-se com os limites finitos da biosfera, a capacidade de regeneração do Planeta já não consegue mais acompanhar a demanda. Este crescimento excessivo tem alimentado uma demanda crescente por recursos: alimentos e bebidas, por energia, transportes, produtos eletrônicos, espaço de vida e espaço para o descarte dos resíduos. (Relatório Planeta Vivo WWF, 2010) Entende-se por “pegada ecológica” ou como é denominado em inglês “footprint”, como o peso do nosso modo de vida no meio ambiente, ou ainda, o rastro que deixamos na natureza em razão dos nossos hábitos de consumo. Tem por objetivo comparar as demandas humanas com a capacidade regenerativa do Planeta. Abaixo descrição das definições dos componentes da pegada ecológica: Pegada da Retenção de Carbono: Calculada como a quantidade de floresta necessária para absorver as emissões de CO2 derivadas da queima de combustíveis fósseis, mudanças no uso da terra e processos químicos, com exceção da parcela absorvida pelos oceanos. Pegada de Pastagens: Calculada a partir da área utilizada para a criação de gado de corte, leiteiro e para a produção de couro e produtos de lã. Pegada Florestal: Calculada com base no consumo anual de madeira serrada, celulose, produtos de madeira e lenha de um país. Pegada de Pesqueiros: Calculada a partir da estimativa de produção primária necessária para sustentar os peixes e mariscos capturados, com base em dados de captura relativos a 1.439 espécies marinhas diferentes e mais de 268 espécies de água doce. 12 Pegada de Áreas de Cultivo: Calculada com base na área utilizada para produzir alimentos e fibras para o consumo humano, ração para o gado, oleaginosas e borracha. Pegadas de Áreas Construídas: Calculada com base na área de terras cobertas por infra-estrutura humana, inclusive transportes, habitação, estruturas industriais e reservatórios para a geração de energia hidrelétrica. (Planeta Vivo Relatório 2010) O espaço disponível no planeta é limitado. Ele representa 51 bilhões de hectares, sendo que o espaço bioprodutivo, é de apenas uma fração do total, cerca de 12 bilhões de hectares, dividindo pela população mundial, dá aproximadamente 1,8 hectare por pessoa. Levando em conta as necessidades de matéria e de energia, as superfícies necessárias para absorver os resíduos e detritos da produção e do consumo e acrescentando a isso o impacto do hábitat e das infra-estruturas necessárias, pesquisadores dos institutos de proteção ao meio ambiente, calcularam que o espaço bioprodutivo consumido por uma pessoa era de 2,2 hectares em média. (Latouche, 2009, p.28). No entanto, essa pegada média pode esconder grandes desproporções, um cidadão norte americano por exemplo, consome entre 8 e 9 hectares, um canadense uma média de 7, um europeu 4,5, um francês 5, um italiano 3,8 hectares. A maioria dos países da África consome menos de 0,2 hectare de espaço bioprodutivo. (Latouche, 2009, p.28). O aumento sem precedentes da busca por riqueza e bem-estar nas últimas décadas esta exercendo pressões insustentáveis, como apresenta o gráfico a seguir sobre a pegada ecológica dos Estados Unidos até o ano de 2005: Fonte: footprintnetwork.org Se todas as pessoas do mundo vivessem como um habitante comum dos Estados Unidos ou dos Emirados Árabes Unidos seria necessário o equivalente de biocapacidade, cerca de 4,5 Planetas para manter o consumo e as emissões de CO2 da humanidade, por outro lado, se todos vivessem como um habitante comum da Índia ou de alguns países da África, a humanidade estaria utilizando menos da metade da biocapacidade do Planeta. (Relatório Planeta Vivo WWF, 2010). Os países ricos precisam encontrar formas de viver causando menor impacto possível sobre o meio ambiente, a fim de reduzir sua pegada na natureza, e os países emergentes 13 que se encontram em desenvolvimento acelerado, precisam criar novo modelo de crescimento sem que haja aumento de sua pegada. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O intuito do presente artigo foi buscar a partir da literatura disponível contribuir pra uma reflexão sobre o Desenvolvimento Sustentável, para tal foram resgatados alguns dos principais aspectos históricos e conceituais deste movimento. Assim, diante do que foi exposto acima, pode-se tentar responder a questão inicial, estamos no caminho certo para o Desenvolvimento Sustentável? Diferentes apropriações do conceito DS são feitas nas diversas sociedades e grupos econômicos, possibilitando que cada grupo interprete de acordo com seus próprios interesses e conveniências, isto ocorre devido à imprecisão e ambigüidade do seu conceito, prova disto foi à rapidez com que o movimento do DS foi aceito na sociedade empresarial, pelo menos no ponto de vista teórico. Embora seja unânime o discurso favorável a sustentabilidade, ele acabou se tornando falacioso, tem sido possível identificar com nitidez apenas modificações superficiais nas empresas, longe de modificar os seus padrões tecnológicos de produção. Pode-se dizer também que o modelo econômico adotado no Brasil, orientado pelos critérios globais de eficiência econômica e de mercado não estão conduzindo ao caminho do DS. É neste sentido que o movimento pelo DS vai de encontro com o modo de produção capitalista, que tem por objetivo maior, a busca pelo lucro em um curto espaço de tempo, incompatível com a limitação da capacidade regenerativa do Planeta. A degradação do meio ambiente, provocada pela poluição das indústrias, que não melhoram os seus padrões de produção, pelas atividades agrícolas, pelos meios de transporte, o aumento da desigualdade social, a escassez dos recursos naturais, a contaminação oriunda dos depósitos irregulares de resíduos, são aspectos que demonstram claramente este modo de vida insustentável. No Brasil, ao longo dos últimos anos pode-se perceber um crescimento econômico e uma melhoria na qualidade de vida de uma parcela da população, isto se dá devido a uma maior estabilidade econômica, o que elevou o poder aquisitivo da população, contudo, os hábitos de consumo do brasileiro também se elevaram o que tem acelerado a utilização dos recursos naturais. A fim de que se atinjam os objetivos preconizados no capítulo 4 da Agenda 21, é suma importância uma reorientação dos atuais padrões de produção e consumo, que foram desenvolvidos pelas sociedades industriais e por sua vez imitados em todo mundo, todavia, o que se percebe com clareza é que vivemos numa sociedade cada vez mais consumista, incentivada por um marketing excessivo que incita até mesmo o consumo ostentatório. A sociedade capitalista, baseada nos padrões de produção e consumo insustentáveis, é altamente produtora de rejeitos, o consumo desenfreado mundial leva a degradação e escassez dos recursos naturais do planeta, abarrotando cada vez mais os aterros sanitários e lixões a céu aberto. Alguns autores ambientais defendem a reciclagem como solução para tais problemas, ela é vista como o futuro na resolução de crise ecológica. Embora a reciclagem seja importante para o DS, pois contribui para reduzir a extração dos recursos naturais e a diminuição do impacto ambiental, a questão da reciclagem encontra grandes limitações de natureza econômica, física e sociológica que impedem o desenvolvimento de todo o seu potencial. Desta forma, se forem mantidos as atuais modos de produção e consumo, esta opção não será capaz de superar a tendência de degradação do meio ambiente e não será suficiente para reduzir o problema a escassez dos recursos. 14 Por enquanto o DS no mundo capitalista se desenha apenas como um mito no que se refere a impossibilidade de se atingir as dimensões mais amplas do DS, que dizem respeito as equidades socioeconômica e ambiental, ou seja, na igualdade de condições de vida para os povos contemporâneos em todo mundo e das próximas gerações, mediante a preservação do meio ambiente. Todavia, não se pode negar que grandes esforços estão sendo feitos em prol da sustentabilidade, ainda que em pequena escala. Mito ou utopia, esta é uma questão demasiadamente importante, e deve ser colocada como meta central das atividades econômicas e políticas de todas as nações. É relevante que a sociedade civil mantenha uma postura crítica em relação as dinâmicas econômicas e políticas e passe a pressionar o governo e a sociedade empresarial pela criação de novas políticas e regulamentos que vise, mesmo que em longo prazo, o atingimento do desenvolvimento sustentável. REFERÊNCIAS AGENDA 21. Documento das Nações Unidas. Disponível em: <http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/meioambiente/conceitos.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2010. AEC WEB. Disponível em: < http://www.aecweb.com.br/aec-news/materia/2806/a-banalizacao-da-sustentabilidade.html> Acesso em: 16 ago. 2010. ALLEN, Robert. How to Save the World. Londres, Kogan Pagwe, 1980. ALMEIDA, J. Introdução. In: BECKER, D. F. Desenvolvimento sustentável: necessidade e/ou possibilidade. 4. ed. Santa Cruz do Sul, 2002. BARBIERI, Edward. The concept of sustainable economic development. Environmetal Conservation, 14 (2):101-10, 1987. BARBIERI, Edward. Economics Natural Resources, Scarcity and Development. Londres: Earthscan, 1989. BARONI, Margaret. Ambigüidades e deficiências do conceito de desenvolvimento sustentável. RAE - Revista de Administração de Empresas, 1992. BRUNDTLAND, Harlen G. Our Common Future (The Brundtland Report). Oxford: Oxford University Press, 1987. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (WCED). Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro, FGV, 1987. FÓRUM BRASILEIRO DAS ONGs. Disponível em: <http://www.fboms.org.br/>. Acesso em: 14 ago. 2010. GALILEU. Disponível em: < http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,ERT214178-17773,00.html>. Acesso em: 10 jan. 2011. 15 GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. Disponível em: <http://www.footprintnetwork.org. Acesso em: 02 dez. 2011. GOODLAND, Robert & LEDOC, G. Neoclassical Economics and Principles of Sustainable Development. Ecological Modelling, 38, 1987. LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001 MARKANDYA, Anil & PEARCE, David. Natural environments and the social rate of discount. Project APPRAISAL, 3(1), 1988. MONTIBELLER FILHO, Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Florianópolis: Ed. UFSC, 2004. PEZZEY, John. Economic Analysis of Sustainable Growth and Sustainable Development. Washington, DC, Banco Mundial, Departamento de Meio Ambiente, relatório de trabalho nº 15, maio, 1989. PEARCE, David. Foundations of na ecological economics. Ecological Modelling, 38, 1987. PEARCE, David; BARBIERI, Edward & MARKANDYA, Anil. Sustainable Development and Cost-Benefit Analysis. Londres, London Environmetal Economics Centre, Paper 88-01, 1988. RATTNER, Henrique. Sustainable Development – Trends and Perspectives, FEA/USP, set. 1991. (Versão preliminary.) RAZZOTO, Evandro. Eco sustentabilidade: dicas para tornar você e sua empresa sustentável. Curitiba, 2009. RELATÓRIO PLANETA VIVO, Biodiversidade, biocapacidade e desenvolvimento. Disponível em: <http://www.wwf.org.b. Relatório do Planeta Vivo>. Acesso em: 20 nov. 2011. SACHS, Ignacy. Estratégias de desenvolvimento para o século XXI: desenvolvimento e o meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel, 1993. SCOTTO; CARVALHO; GUIMARÃES. Desenvolvimento sustentável. Petrópolis: Vozes, 2007.