1 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A CONTABILIDADE AMBIENTAL: Uma Análise dos Indicadores Financeiros de Empresas participantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&F BOVESPA. Rubiana Bezerra de França, Maria Daniella de O. Pereira da Silva, Marília Gabriela de Souza, Maria Vanessa de Souza Introdução O cenário mundial está em constante mutação e a globalização revela um crescimento cada vez maior da economia e conseqüentemente das atividades empresarias. E tudo isso acontece em um momento em que a sociedade começa a voltar suas atenções não apenas para o lado econômico, mas para as conseqüências desse desenvolvimento contínuo, “o custo dessa expansão aparece no comprometimento da segurança alimentar global, nas mudanças drásticas do clima, na instabilidade econômica e nas ameaças ao bem-estar social” (BBC, 2010). Uma sociedade capitalista que durante séculos realizou todas as suas atividades buscando acumular riquezas passa a observar que as fontes geradoras dessas riquezas são limitadas e que suas atividades também acarretam em conseqüências para o meio ambiente. Começa a surgir a necessidade das empresas manterem suas atenções voltadas não somente para o lado financeiro e para a maximização dos lucros, existe agora a preocupação com o lado socioambiental que deve ser colocado em prática no cotidiano da empresa. Na busca por atender as empresas e os investidores com visões e preocupações ambientais, começaram a serem criados diversos tipos de certificados como o ISO, e até mesmo índices como o Dow Jones Sustentability Index – DJSI que podem qualificar uma determinada empresa partir da realização socioambiental que a mesma desenvolve. Como exemplo pode ser citado o Índice de Sustentabilidade Empresaria (ISE) - da BM&F BOVESPA que foi criado com o objetivo de ser composto por ações que tenham um reconhecimento de suas ações sociais e ambientais, tendo sido criado a partir do conceito de “Triple Bottom Line” ou Tripé da Sustentabilidade, que conceitua 2 a empresa e suas ações sustentáveis a partir de três aspectos, o ambiental, o social e o econômico. Com base nisto o presente trabalho acontecerá a partir de uma análise aos indicadores financeiros de duas empresas do setor financeiro listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) – da BM&F BOVESPA. Tendo como problema: Qual a variação nos indicadores financeiros dessas empresas após a inclusão no índice? Objetivando com isso verificar a influência do índice nas variações, tomando como base comparativa os indicadores antes e após a inclusão no índice. Tendo a importância de demonstrar através dos resultados encontrados a possível influência do desenvolvimento sustentável na vida econômica das empresas. Fundamentação Teórica O Índice de Sustentabilidade Empresarial Buscando atender a procura de investidores que desejavam realizar seus investimentos em empresas sustentáveis, com responsabilidade social e rentabilidade; desejando com isso um retorno a longo prazo e conseqüentemente uma maior segurança quanto aos possíveis riscos ambientais,sociais e financeiros que possam surgir, conforme nos diz Ribeiro (2005,p.12), “Os investidores estão cada vez mais cientes de que a má postura das empresas,em relação às questões ambientais,pode colocar em risco o retorno das aplicações de recursos”. Visualizando esse novo conceito construído pelos investidores a Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA, hoje BM&F BOVESPA em conjunto com: A Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (ABRAPP);A Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID), Associação de Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG), O International Finance Corporative (IFC), O Instituto ETHOS e o O Ministério de meio Ambiente. O ISE foi lançado em dezembro de 2005 e tem como objetivo “refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro” (ISE – Metodologia Completa, 2010, p.3). 3 Para que uma empresa seja listada no ISE é necessário que esteja entre as 150 ações mais negociadas na BM&F BOVESPA, e que tenham sido negociadas em 50% dos pregões do último ano e no período da avaliação, essa avaliação é composta por um questionário desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas (CES – FGV), que formula todo o questionário a partir do conceito internacional do Triple Bottom Line (TBL), buscando sempre visualizar a existência do equilíbrio econômico, social e ambiental, acrescentando a esses mais três grupos de indicadores, que vão avaliar os critérios gerais, os critérios de natureza do produto e os critérios de governança corporativa. O ISE tem a função de medir a carteira teórica composta por ações das empresas selecionadas, “calcula-se o ISE ao longo do período regular de negociação, considerando os preços dos últimos negócios efetuados no mercado à vista (lote – padrão) com ações componentes de sua carteira” (ISE, Metodologia Completa, 2010, p.7). Serão selecionadas para responderem ao questionário do ISE as empresas que estiverem entre as mais negociadas em termos de liquidez no mercado da BM&F BOVESPA. Metodologia O trabalho iniciou a partir de uma pesquisa exploratória que pode ser definida como um estudo mais detalhado sobre um determinado assunto. Quanto aos meios a pesquisa caracteriza-se como bibliográfica e documental que segundo Andrade (2003), a diferença entre uma e outra está na espécie de documentos que constituem as fontes de pesquisa. Enquanto a pesquisa bibliográfica utiliza fontes secundárias, ou seja, livros, artigos, revistas, internet, entre outras, a pesquisa documental baseia-se em documentos primários, no caso deste trabalho a pesquisa documental aconteceu a partir de demonstrativos contábeis, mais especificamente do Balanço Patrimonial. Foram analisadas duas empresas do sistema financeiro e de capital aberto, o Banco do Brasil S.A e o Banco Bradesco S.A; as duas empresas evidenciam fortemente suas práticas socioambientais e estão listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Resultados 4 A partir das informações disponíveis nos Balanços Patrimoniais de 2004 e 2006 dos dois bancos foram realizados os cálculos para se obter os índices de liquidez das duas instituições nesses períodos, bem como analisar as variações neles existentes, foram obtidos os seguintes resultados do Balanço Patrimonial do Banco do Brasil S.A. ÍNDICES 2004 2006 ILI 0,08 0,02 ILS 0,56 0,57 ILC 0,68 0,69 ILG 1,04 1,05 Fonte: Autores (2010) Ao visualizarmos os resultados obtidos através dos índices de liquidez verificamos que o Índice de Liquidez Imediata (ILI) sofreu uma diminuição de 0,04 do ano de 2004 para o ano de 2006, isso pode significar que a capacidade da empresa liquidar suas dívidas de curto prazo apenas com suas disponibilidades é relativamente pequena, o que o demonstrativo nos mostra é que houve nesse período de tempo um aumento de 81,8% no Passivo Circulante, no mesmo período houve uma diminuição de 326,3% das disponibilidades. Ao analisarmos o Índice de Liquidez Seca verificamos que houve um crescimento de 0,01, porém é possível perceber através das informações do cálculo desse índice que o total do Ativo Circulante diminuído dos ativo de menos liquidez resulta em um valor menor que o Passivo Circulante,sendo assim através da análise do Índice de Liquidez Seca é possível dizer que a empresa possui um Capital Circulante Líquido Negativo. Quanto ao índice de Liquidez Corrente registrou-se um aumento de 0, 01 o que significa que a empresa obteve um aumento circulante de 80,3% do seu ativo circulante, porém, houve um aumento de 81,8% do seu passivo circulante, sendo assim observa-se que apesar do pequeno crescimento do índice de liquidez corrente, a empresa possui uma quantidade maior de dívidas de curto prazo em relação a seus ativos de curto prazo. O mesmo aumento de 0,01 aconteceu no índice de Liquidez Geral, o que resultou em uma situação positiva, ou seja, durante o desenvolvimento do cálculo é possível verificar que houve um aumento no Ativo Circulante que somado ao aumento do Ativo Realizável a Longo Prazo que foi de 80,8% é suficiente para pagar as obrigações que 5 resultam da soma do Passivo Circulante com o Passivo Exigível a Longo Prazo, o que nos mostra que a empresa embora não esteja com uma capacidade equilibrada de cumprir com suas obrigações de curto prazo,ela será capaz de cumprir suas obrigações de longo prazo. Quanto aos índices de liquidez do Banco Bradesco S.A. foram obtidos os seguintes resultados: ÍNDICE 2004 2006 ILI 0,02 0,03 ILS 1,04 1,10 ILC 1,15 1,22 ILG 1,06 1,09 Fonte: Autoria Própria. O Índice de Liquidez Imediata obteve um crescimento de 0,01 o que nos mostra que as disponibilidades não são suficientes para saldar as obrigações a curto prazo,isso é evidenciado ao observarmos o Balanço Patrimonial que nos mostra um aumento de 55,42% das disponibilidades enquanto o passivo circulante registrou um aumento de 75,32 % . O índice de Liquidez Seca mostra um crescimento de 0,06 e ainda revela que a empresa possui um capital circulante liquido positivo, o que também nos mostra o demonstrativo contábil que evidencia um crescimento de 71% no Ativo sendo esse suficiente para cumprir com as obrigações de curto prazo. O índice de Liquidez Geral apresentou um crescimento de 0,03 mostrando em seu resultado que a empresa possui capacidade de liquidar suas obrigações de curto e longo prazo, já que a soma de seu ativo circulante com o ativo realizável longo prazo foram superiores a soma do passivo circulante com o passivo exigível a longo prazo. Conclusão A partir das análises realizadas pode-se concluir que o crescimento do Ativo Circulante pode estar relacionado com a inclusão no índice (ISE), o que nos leva a entender que esse é um fator que pode contribuir para a obtenção de resultados positivos para as empresas que estão listadas a ele. Referências 6 ASSAF, Alexandre Neto. Estrutura e Análise de Balanços: Um Enfoque Econômico – Financeiro- 7 ed.-São Paulo: Atlas,2002. BM&F BOVEZPA: ISE, Metodologia Completa: Disponível em HTTP://www.bovespa.com.br/pdf/indice/resumoisenovo.pdf. (acesso em 21 de maio de 2010). CALLADO, Antônio André Cunha; CALLADO, Aldo Leonardo Cunha. eGesta – Revista Eletrônica de Negócios, v.3,n°4. 2007, p.116 – 133. DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1999. MARION, José Carlos. Introdução à Contabilidade, 7 ed.São Paulo: Atlas,2004. RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade Ambiental. São Paulo: Saraiva 2005. 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