O calvário das empresas de capital aberto | Valor Econômico
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Apontado com um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira, o
agronegócio ainda não conseguiu transformar as expectativas nele
depositados em ganhos na bolsa de valores. O investidor que decidiu apostar
nas empresas do setor que abriram seu capital na BM&FBovespa na onda de
IPOs de 2005 a 2008 colheu muito mais decepções do que dividendos até o
momento, apesar da recuperação observada neste ano (ver gráfico).
Segundo o Valor Data, das 13 empresas que fizeram suas ofertas iniciais de
ações no período, apenas três - Cosan, São Martinho e SLC Agrícola - viram
seus papéis se valorizarem. Outras dez - JBS, Marfrig, Minerva, Heringer,
BrasilAgro, Guarani (hoje, Tereos Internacional), Renar Maçãs, Nutriplant,
Brasil Ecodiesel (hoje, Vanguarda Agro) e Agrenco - perderam valor de
mercado.
De modo geral, a aventura das
companhias do agronegócio no mercado
de capitais esbarrou em inúmeros
percalços, da euforia desmedida em
relação aos mercados de grãos, carnes e
biocombustíveis a problemas de gestão e
governança, tudo agravado pela crise
financeira de 2008. "A maioria das
empresas abriu seu capital em um
período de boom do agronegócio,
quando as expectativas em relação ao setor estavam superestimadas. O
dinheiro estava chovendo, as empresas eram pressionadas a investir e
muitos fundos entraram sem conhecer a dinâmica e os riscos do negócio",
afirma José Carlos Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Agro.
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Os anos que antecederam a quebra do Lehman Brothers, em 2008, foram
marcados por uma forte ascensão nos preços das commodities diante do
aumento da demanda pelos países emergentes. Além disso, o debate sobre o
aquecimento global e a necessidade de se buscarem alternativas aos
combustíveis fósseis atingiu seu ponto mais estridente, turbinando as
projeções sobre o futuro do etanol e do biodiesel.
A combinação de expectativas elevadas com excesso de liquidez no mercado
internacional provocou uma corrida por oportunidades de investimento na
produção e exploração de recursos naturais, e acabou por aproximar o
mercado financeiro do agronegócio, que começou a sair do ostracismo. Até
2004, o setor se fazia representar com apenas três empresas na bolsa: a
pioneira Sadia, que abriu seu capital em 1971, Perdigão (1980) e Fosfértil
(1992). Nos três anos seguintes, mais de uma dúzia de empresas ligadas ao
setor abriram seu capital na bolsa.
Para se ter uma medida do apetite dos investidores, a BrasilAgro, uma
empresa de terras e produção agrícola, captou R$ 550 milhões em sua oferta
inicial de ações, em abril de 2006, tendo apenas um plano de negócios em
mãos. Hoje, com 177,3 mil hectares de terra própria - 65,6 mil deles
ValorRI
Relações com Investidores
Veja os resultados publicados pelas
principais empresas do país e as mais
importantes operações de mercado de
capitais no ValorRI.
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25/6/2012 07:22
O calvário das empresas de capital aberto | Valor Econômico
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cultivados com cana-de-açúcar, grãos e algodão -, suas ações valem 21,2%
menos do que no IPO.
No meio do caminho, as empresas bateram de frente com a crise
internacional, que afugentou os investidores, estancou o crédito e fez
disparar as dívidas em dólar das empresas em um momento de contração da
demanda. "Ninguém trabalhava com o cenário de ruptura que se observou
após o estouro da bolha americana. Por isso acho difícil falar em erro de
análise", pondera Amaryllis Romano, economista da Tendências
Consultoria.
O resultado mais amargo foi o da Agrenco, uma trading de soja que captou
R$ 666 milhões em uma oferta de recibos de ações (BDRs) em outubro de
2007 com o objetivo de saldar dívidas e financiar a construção de fábricas
para a produzir farelo e biodiesel. Afundada em dívidas e paralisada desde
2011, a empresa vive um conturbado processo de recuperação judicial e suas
ações valem apenas 2,7% do valor inicial.
A aposta na Brasil Ecodiesel, empresa que captou R$ 378 milhões em
novembro de 2006 para investir na incipiente e desregulamentada produção
de biodiesel no Brasil, também foi um fracasso retumbante. Em uma
trajetória marcada por disputas societárias, mudanças de controle e fusões,
as ações da companhia - que agora se chama Vanguarda Agro e passou a
produzir apenas grãos - desabaram 95,6%.
Entre as companhias com mais liquidez na bolsa, os frigoríficos foram os
mais castigados pelo investidor, desapontado com a sucessão de prejuízos e
as dívidas que sobraram do processo de consolidação e internacionalização
do setor. Os papéis da JBS, que abriu seu capital em março de 2007,
acumulam queda de 25,1% - no mesmo período, o Ibovespa subiu 24,6%. A
Marfrig, que fez sua oferta três meses depois, viu suas ações despencarem
42,3%, enquanto a bolsa avançou 2,4%. Já o Minerva perdeu 50,9% de seu
valor de mercado desde que se lançou à bolsa, em julho daquele ano, em
comparação a uma queda de 4,6% no Ibovespa.
Amaryllis avalia que os frigoríficos patinam diante da estagnação do
mercado externo e do crescimento apenas tímido das vendas no Brasil. "As
exportações ainda dependem muito da União Europeia, onde o consumo não
cresce, e da Rússia, que impõe barreiras", pondera.
A indústria de carnes também sofreu com o ciclo desfavorável da pecuária
brasileira nos últimos anos, com queda na oferta de gado para abate e
aumento no preço da matéria-prima. Fábio Silveira, sócio da RC
Consultores, observa que os frigoríficos enfrentam níveis ainda muito altos
de concorrência e informalidade. "O peso da crise internacional sobre um
mercado concorrencial, que cresce pouco e possui dívidas em dólar foi
enorme", afirma o consultor. Segundo ele, o setor ainda precisa de um
rearranjo, com novas consolidações, para ganhar rentabilidade.
Já os investidores que apostaram nas usinas sucroalcooleiras se deparam
com a questionável política do governo para o setor e as sucessivas
frustrações de safra. Além da incerteza sobre o percentual de mistura de
etanol na gasolina, alterado de tempos em tempos, o governo há nove anos
mantém congelado o preço da gasolina, o que impõe um teto aos preços do
etanol vendido na bomba.
Além disso, o setor entrou na bolsa "vendendo" açúcar e etanol e, ao longo
do caminho, agregou outros negócios. Alguns agradaram os investidores,
como a Cosan, que trouxe para o volátil mercado de açúcar e etanol a
estabilidade de caixa do negócio de distribuição de combustíveis (a partir da
compra da Esso e da associação com a Shell) e outros negócios de energia e
infraestrutura. A tacada foi decisiva para a valorização de 103,2% dos papéis
da companhia desde seu IPO, em 2005. Sua valorização superou a do
Ibovespa (78,33%) no mesmo intervalo.
Outros negócios incorporados pelas usinas não gozaram de tanta simpatia.
Quem apostou na Açúcar Guarani, que em julho de 2007 levantou R$
665,75 milhões em seu IPO, foi informado três anos depois que esses papéis
seriam substituídos pelas ações da controladora da companhia, a francesa
Tereos. Mais do que uma mera substituição de papéis, a operação agregou o
negócio de amidos e cereais, até então desconhecido dos investidores - que
não viram vantagem na operação. Pressionados pelas mudanças de rumo e
pelo desempenho operacional, os papéis da Açúcar Guarani caíram 67,4%
até a substituição das ações pelas da Tereos, em agosto de 2010. De lá para
Captações externas (valordata/internacional/mercadoexterno)
Operações mais recentes
Tomador
Valor*
Meses
Retorno**
Odebrecht
400
360
7,25%
Odebrecht
600
120
5,2%
BRF Brasil
Foods
250
120
5,5%
Banco do
Brasil
750
127
6%
Embraer
500
120
5,15%
BRF Brasil
Foods
500
120
6%
Veja as tabelas completas no ValorData
(valor-data/internacional/mercado-externo)
Fonte: Instituições financeiras e agências internacionais.
Elaboração: Valor Data.. * Em milhões de dólares ** No
lançamento do título
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Atualização do ranking dos 20 maiores
dividend yields de 2012 (/valor-investe
/o-estrategista/2723756/atualizacaodo-ranking-dos-20-maiores-dividend-yieldsde-2012)
Petróleo (valordata/commodities/minerais)
(em dólares por barril)
WTI (#wti)
Brent (#brent)
WTI
Meses
Ajuste
Ago/12
79,76
Osc.
1,56
Set
80,14
1,58
Out
80,51
1,56
Nov
80,94
1,54
Dez
81,32
1,49
Jan/13
81,70
1,44
Veja as tabelas completas no ValorData
(valor-data/commodities/minerais)
Fonte: NYMEX, IPE e Bloomberg
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cá, cederam mais 35,25%.
A única empresa que se manteve "pura" na sua atividade de açúcar e etanol
foi a São Martinho. Mesmo não tendo registrado uma grande expansão em
sua produção - sua moagem de cana cresceu em apenas 1 milhão de
toneladas desde 2007, para 10,6 milhões - a companhia foi uma das poucas
do agronegócio a registrar valorização de seus papéis desde o IPO (13,23%),
graças aos sólidos resultados operacionais.
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Amaryllis observa que o agronegócio brasileiro ainda não se fez representar
na BM&FBovespa com seu segmento mais bem-sucedido nos últimos anos.
"Se tivéssemos as grandes empresas de soja abrindo seu capital na bolsa,
certamente o resultado seria mais positivo", afirma. A SLC é o exemplo mais
evidente: a empresa, considerada exemplo de boa governança e de entrega
de resultados sólidos, viu suas ações se valorizarem 49,9% desde o IPO, em
junho de 2007 - superando, de longe, o Ibovespa, que evoluiu apenas 3,2%
no período.
Para Barros, da MB Agro, as empresas do agronegócio também tiveram
dificuldade para se adaptar aos padrões de governança exigidos. "Muitas
ainda são controladas pelas famílias fundadoras, o que gera alguma
desconfiança pelo investidor, que teme disputas societárias". Ele afirma,
porém, que a relação vem melhorando. "O mercado conhece melhor o
agronegócio hoje do que há alguns anos. Há convergência entre expectativas
e realidade."
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