negócios e empresas sexta-feira, 04 Abril de 2008 33 Marta Dias, directora da PraxisD, assegura “Cultura do exercício” melhora eficiência das empresas O programa “Exercício é Saúde” desenvolvido pela PraxisD foi a resposta às necessidades sentidas pelas empresas. Entre os objectivos do programa está a “promoção da dinâmica de grupo e espírito de equipa que promova a cultura da empresa”, afirma Marta Dias, directora da PraxisD. O projecto é recente em Portugal, mas nalguns países encontra-se já numa fase mais avançada. Vida Económica – Quais os serviços actualmente prestados pela PraxisD e que necessidades ou solicitações conduziram a esta diversificação? Marta Dias – A PraxisD surgiu em 1999, associada a um grupo de empresas (Dimensão6 e Sextacor), já no mercado, nas áreas da publicidade e produção gráfica. A PraxisD foi fundada por mim, e como muitas PME no país, foi, e é ainda hoje, uma empresa familiar. Começou a sua actividade sobretudo com trabalhos nas áreas da Ergonomia, resultado da minha formação curricular. Durante os primeiros anos foi aumentando o staff interno, e especializámo-nos noutros domínios complementares. Fomos crescendo no mercado nacional e actualmente dividimos a nossa actividade nas áreas da organização de eventos, ergonomia, Programa Exercício é Saúde, Programa Aceder e formação, sendo que para esta última área criámos, no ano passado, uma empresa especializada, a Smartform. VE – Qual a importância de fomentar o exercício físico dentro das empresas e de sensibilizar os colaboradores para a prática de uma vida activa? MD – Penso que é de extrema importância. Diria até que é uma responsabilidade social apostar neste tipo de programas. A maioria das empresas acha que é um custo, eu considero um ganho! A verdade é que, se toda a população praticasse actividade física regular, sentir-se-ia melhor, estaria mais resistente às doenças, quer do foro físico quer do foro psicológico. É preciso mudar os hábitos de vida, começando nos mais jovens e chegando até aos adultos. E porque não praticar no local de trabalho, se passamos a maior parte no nosso tempo de vida lá?! Cada vez temos mais doenças profissionais, pelo que cada vez é mais importante investir na sua prevenção. É urgente investir em projectos de melhoria das condições de trabalho, onde estas iniciativas fazem cada vez fazem mais sentido. VE – Mais recentemente, a PraxisD lançou o programa “Exercício é Saúde”. Em que consiste este programa e o que conduziu à sua criação? MD – É uma iniciativa da PraxisD, que surgiu no ano 2000, e foi inicialmente implementado na Pioneer Portugal, fábrica de produtos electrónicos no Seixal, em 2001. Os objectivos deste programa são: sensibilizar a população trabalhadora para a adopção de comportamentos mais saudáveis, fomentar a cultura do exercício nas organizações através de actividades físicas e lúdicas intra e extraprofissionais, e promover uma dinâmica de grupo e espírito de equipa que promova a cultura da empresa. No ponto de partida para este projecto, tivemos em conta que a população trabalhadora, em geral, passa mais de um terço do dia no seu local de trabalho, pelo que consideramos ser de extrema importância as condições de trabalho oferecidas aos mesmos pela entidade patronal. A sensibilização para esse facto parece-nos cada vez maior, mas ainda é insuficiente. VE – Que relação poderá ter a prática de exercício físico e de actividades desportivas com a criação de dinâmicas de grupo, espírito de equipa e cultura empresarial? MD – Têm uma relação muito estreita. Tanto é que cada vez mais as empresas apostam em formações outdoor e teambuilding, com actividades físicas, para fomentar o espírito de equipa, avaliar quem são os líderes e a capacidade de resolução de conflitos, entre outras. Para além deste tipo de iniciativas, cada vez mais comuns sobretudo em grandes empresas ou organizações, a questão da prática de exercício físico e de actividades de relaxamento tem efeitos directos na cultura organizacional e no espírito de equipa, sobretudo quando essas actividades são promovidas pela própria empresa. O exemplo mais comum é a formação de equipas de futebol nas empresas. Embora sejam tradicionalmente formadas por homens, são um bom exemplo que deve ser alargado a outras modalidades e também ao sexo Era uma vez na América E m tempo de grande dinâmica à volta da escolha dos candidatos às Presidenciais de Novembro e numa altura em que também na Europa se consolidam reflexões sobre o futuro, a ideia de algumas breves reflexões sobre as lições que a experiência da maior democracia do mundo nos dá na era da consolidação da economia global e da sociedade do conhecimento. A “leitura” das novas dinâmicas protagonizadas num país que se reinventa em cada momento para se ajustar à evolução dos tempos é um exercício central na abordagem sustentada do novo paradigma que se pretende para a Agenda de Lisboa na Europa e no nosso país. Barak Obama, Hillary Clinton ou John Maccain têm sobre si a responsabilidade de desenvolver uma estratégia sobre a nova dimensão da leitura social possível de fazer numa América de contrastes em contraponto a uma Europa que não consegue “agarrar” a velocidade da diferença competitiva. Como Alexis de Tocqueville fez na sua decoberta do novo mundo, importa saber fazer a avaliação a todo o tempo das dinâmicas em curso e relevar uma prática operacional efectiva de “cumplicidade estratégica” na colaboração em conjunto tendo em vista o objectivo dum desenvolvimento sustentado estruturante. A América 2008 continua a ser um espaço vivo de “renaissance” criativa. A América das Universidades, Centros de Inovação e Empresas de Tecnologia continua a querer liderar o paradigma da evolução competitiva assente numa matriz social clara, em que a oportunidade é dada a todos, cabendo ao mercado a decisão objectiva da selectividade em que nem todos conseguem vencer. No complexo jogo de compromisso entre liberdade e democracia, de que Rawls nos fala com tanta convicção, a riqueza da participação livre e individual é um activo de exercício único de cidadania. Contudo, num quadro global marcado pela consolidação dos novos pólos Índia e China e pela alteração do conteúdo da informação e do conhecimento, o grau de liberdade da participação individual pode ser subvertido. O exercício da criatividade como elemento de qualificação da participação individual em democracia é decisivo na sociedade do conhecimento. Praticada sob a forma de culto em referências corporativas como a IDEO, APPLE, entre outras, que agitam o dia-a-dia de “criação competitiva” numa América que não se importa que haja Bangalore na Índia e Xangai na China, a reinvenção cultural pela criatividade é o exemplo mais acabado da oportunidade de participação construtiva do indivíduo no tecido social a que pertence. Na América neoconservadora de afirmação unilateral, defendida por Kristol e Kaplan, a procura da excelência do conhecimento e do valor dá coerência a uma lógica social de valorização da participação individual em democracia. Os indicadores de competitividade demonstram-no a todos os níveis e a comparação com a estagnação comparativa da Europa não deixa ilusões. A grande questão está em saber se o modelo de articulação procura / oferta capaz de induzir “inclusão competitiva” mas também de propiciar “exclusão social” “O exemplo mais comum da cultura do exercício é a formação de equipas de futebol nas empresas”, afirma Marta Dias. feminino. Praticar exercício no local de trabalho durante o tempo de trabalho tem efeitos desbloqueadores e muito positivos para a equipa de trabalho, aproximando as pessoas, libertando-as de tensões e vergonhas, e aliviando o stress. VE – Qual o sucesso e quais as principais semelhanças e diferenças deste programa com medidas já implementadas e serviços existentes noutros países? MD – Este programa engloba diversas iniciativas a todos os níveis da organização da empresa, estando dividido em várias áreas ou fases de actuação, cujo objectivo último prende-se com a sensibilização da população para a prática de exercício físico regular. Existem muitos países que têm programas deste tipo, mas a maioria que conheço focam essencialmente a ginástica laboral. O Brasil, devido a cultura do exercício ser muito enraizada, tem apostado muito neste tipo de iniciativas. Já no Japão é mesmo uma questão crucial e faz parte do dia-a-dia e da educação. Na minha opinião, em Portugal, não basta implementar ou obrigar a fazer exercício ou ginástica laboral. É preciso incutir o gosto pela actividade física, sensibilizando e facilitando o acesso à sua prática, e acreditar, sobretudo, que as pessoas mudam desde que percebam que isso é importante. O nosso programa inclui folhetos de divulgação sobre actividades ligadas a promoção de hábitos de vida mais saudáveis e prevenção, acordos com ginásios para obtenção de descontos, organização de actividades extraprofissionais lúdico/desportivas para funcionários e para as suas famílias, avaliações e acompanhamento médico regulares, acções de sensibilização periódicas, exercícios laborais que são escolhido especificamente em função da actividade desempenhada, entre outras iniciativas. No entanto, é importante salientar que o sucesso destas inicativas está, na minha opinião, directamente condicionado pelo envolvimento e empenho das pessoas e da organização. Fernanda Silva Teixeira Francisco Jaime Quesado Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento terá lógica racional num tecido social com uma identidade cultural tão distinta. Peter Drucker foi muito claro ao longo dos muitos anos em que professou sobre a Gestão em fazer vincar a importância da clareza e objectividade das ideias em articulação com a eficácia das acções e dos resultados. No quadro do exercício da participação do individuo em liberdade na democracia, a organização assume-se como um espaço de inclusão inovadora, criação permanente de valor e afirmação de uma responsabilidade social positiva. A riqueza da economia na Democracia da América assenta em larga medida na clareza deste conceito, na lógica da sua prática, no sucesso dos seus resultados. A dinamização duma cultura de modernidade competitiva através de empresas catalisadoras de mudança é essencial na Sociedade do Conhecimento. O sucesso da América radica em grande medida nessa sustentabilidade estratégica e cabe à Europa ajustar a sua matriz social à necessidade dessa mudança. A Agenda de Ex- celência que a Estratégia de Lisboa pretende protagonizar é um sinal que só terá sucesso se acompanhada duma efectiva apropriação por parte de todos os “actores sociais” envolvidos. A grande oportunidade está na capacidade de articular, na linha de Habermas, o exercício da capacidade de intervenção individual com uma lógica de “clusterização social” que a Europa encerra. A participação individual na construção duma sociedade dinâmica de desenvolvimento é o grande segredo da América. A Europa Social tem que protagonizar uma “revolução de ajustamento” ao papel empreendedor do individuo neste processo dinâmico de construção da mudança. Terá que ser um processo de “construção operativa”, sem rupturas e em que a vantagem competitiva da criação empresarial consiga qualificar a matriz social. Uma verdadeira “terceira via”, na linha do pensamento de Anthony Giddens, alicerçada num compromisso de articulação da participação do indivíduo com a reconversão empreendedora do tecido social.