Abordagens Interdisciplinares aos Colóquios dos simples e drogas da Índia de Garcia de Orta Goa, 1563 — Lisboa, 2013 Os Colóquios em diálogo com o mundo: As diferentes edições da obra na Europa do século XVI JOÃO JOSÉ AL V E S DI A S Garcia de Orta diz que não publica a sua obra em latim para que ela possa ser mais útil a todos quantos tratam com os produtos descritos no Oriente. Foi uma opção tomada conscientemente. Mas foi graças à adaptação da sua obra para latim (a língua franca do século de quinhentos) que os Colóquios entraram em diálogo com mundo. A adaptação foi feita pelo botânico Charles L’Écluse. E essa aventura começou em 1567, quatro anos após a edição original, em Antuérpia, por Christoffel Plantijn (Christophe Plantin), um tipógrafo que se especializara em edições de obras análogas. Clusius (versão alatinada do nome do compilador e tradutor) não conservou a forma original dos Colóquios. O trabalho de Garcia de Orta foi reduzido a um texto corrido (perdendo, assim, uma das suas originalidades, a do diálogo), ao mesmo tempo que foram eliminados quase todos os excursos relacionados com o quotidiano, que enriqueciam a obra original. A segunda edição, desta versão latina (saiu em 1574, na mesma casa impressora), foi adornada com algumas gravuras dos produtos descritos. Embora as gravuras não fossem produzidas para a obra de Orta, sendo antes adaptadas de outras publicações, não mais a abandonaram. Da Flandres, em latim, a obra passou a Veneza, em italiano, onde foi publicada desde 1576. Começou uma nova fase da sua vida, a de companheira da obra de Monardes (que apresentava as drogas das Índias Ocidentais). A versão de Clusius conheceu, no século XVI, quatro edições em latim e quatro em italiano. Mas os Colóquios de Orta foram também conhecidos no mundo que apenas falava castelhano, dado que existem, para esta língua, duas adaptações quinhentistas. J OÃ O J OSÉ A LVE S D I AS licenciado (1982), doutorado (1993) e agregado (2000) em História, é professor do Departamento de História (desde 1982) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, onde leciona diferentes cadeiras de História de Portugal, Paleografia e História do Livro Impresso, tendo vasta obra impressa em todas estas especialidades. É também diretor (desde 1993) do Centro de Estudos Históricos da UNL. De entre os trabalhos sobre a história do livro impresso indicam-se os últimos: Amato Lusitano e a sua obra: séculos XVI e XVII, Lisboa, 2011; Cardeal D. Henrique: Obra Impressa, Lisboa, 2012; Ordenações Manuelinas 500 anos depois : Os dois primeiros sistemas (1512-1519), Lisboa, 2012. Coordenou Portugal do Renascimento à Crise Dinástica, vol. V da Nova História de Portugal (dir. de A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão), Lisboa, 1998.