Abordagens Interdisciplinares aos Colóquios dos simples e drogas da Índia de Garcia de Orta Goa, 1563 — Lisboa, 2013 Garcia de Orta e a Farmacopeia do Diálogo Civilizacional LUIS FILIPE B A R R E TO Os Colóquios dos Simples e Drogas e coisas medicinais da Índia de Garcia de Orta, impressos em Goa, 1563, são a primeira obra de ciência europeia editada na Ásia e a primeira obra de farmacopeia médica, numa língua europeia moderna, a ser publicada na Ásia do Sul (Índia). Garcia de Orta (c. 1501/ Castelo de Vide1568/Goa) é um judeu português, de origem familiar em judeus espanhóis, com formação universitária em medicina nas Universidades de Salamanca e de Alcalá de Henares. Médico Humanista (a escolha do termos Colóquios aponta para os famosos Colloquiorum de Erasmo, Basileia/1518 e Lovaina/1519) que na índia junta o seu nome a uma longa lista de médicos peninsulares ibéricos autores de farmacopeias logo a partir da civilização islâmico -hispânica como Ibn al-Wãfid (1007-1074), o autor do Livro dos Medicamentos Simples/ Kitab al-adwiya al-mufarada traduzido por Gerard de Cremona, Liber medicinarum simplicium... Estrasburgo, 1531. Os Colóquios de Garcia de Orta seguem as rotas do comércio internacional Eurasiático de longa distância, De Goa/Cochim chegam a Lisboa e Antuérpia onde, em 1567 surge a parcial tradução latina pelo médico Charles de l´Ecluse, Aromatum et Simplicium... abrindo as portas à recepção e às leituras europeias dos Colóquios. O objectivo desta comunicação é contribuir para a interpretação da obra de Garcia de Orta a partir das diferentes lógicas espaciais em diálogo e mistura: a condição peninsular, o humanismo cristão (dos Países Baixos e da Península Ibérica), a vivência e a formação prática na Índia, na zona da cidade de Goa, o porto estratégico da aberta fronteira indiana no Decão dos mundos islâmico e hindu, Bijapur-Vijayanagar. A estrutura dialogal dos Colóquios, através das figuras Orta e Ruano, exprime o diálogo controversial em que todos estes mundos civilizacionais se encontram. LU ÍS F I LI P E B ARRE T O é Professor Catedrático de História da Faculdade de Letras da Universi- dade de Lisboa e Presidente do Centro Científico e Cultural de Macau, Instituto público do Ministério da Educação e Ciência. Nasceu em 1954, em Benguela, Angola. Doutorado em 1992 em Cultura Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi Director do Instituto de Estudos Portugueses da Universidade de Macau entre 1992 e 1994. Regressado à Europa foi, em 1998, Professor Visitante/Director de Investigação da École des Hautes Études en Sciences Sociales, (Paris) e em 2000 Professor Visitante em Universidades de Beijing, Shanghai, Hefei. As suas obras são de história cultural, sociologia histórica das culturas e teoria e história das relações interculturais com especialização em cultura portuguesa renascentista e em relações eurasiáticas. É autor, entre outros vários estudos, dos seguintes livros: Descobrimentos e Renascimento - Formas de Ser e de Pensar nos Séculos XV e XVI, Lisboa, I. Nacional, 1982; Caminhos do Saber no Renascimento Português - Estudos de História e Teoria da Cultura, Lisboa, I. Nacional, 1986; Os Descobrimentos e a Ordem do Saber -Uma Análise Sociocultural, Lisboa, Gradiva, 1987; Portugal: Pioneiro do Diálogo Norte-Sul - Para um Modelo da Cultura dos Descobrimentos Portugueses, (ed. trilingue/português, francês, inglês), Lisboa, I. Nacional, 1988; Portugal Mensageiro do Mundo Renascentista, Lisboa, Quetzal, 1989; Os Navios dos Descobrimentos, Lisboa, Correios de Portugal, 1991, (edição bilingue/ português, inglês); Lavrar o Mar - Os Portugueses e a Ásia:c.1480 – c.1630, CNCDP, Lisboa, 2000, (também edição inglesa); Damião de Góis – Os Caminhos de um Humanista, Lisboa, Correios de Portugal, 2002; Macau: Poder e Saber Séculos XVI e XVII, Lisboa, Presença, 2006.