Abordagens Interdisciplinares
aos Colóquios dos simples e drogas da Índia
de Garcia de Orta
Goa, 1563 — Lisboa, 2013
As cores retóricas e a pintura da verdade em Garcia de Orta
JOÃO C ARLOS FI R MI NO A NDR A DE DE CA R VA L HO
Nesta comunicação, pretende-se revisitar a obra do autor quinhentista alentejano, realçando a sua natureza complexa, resultante das várias dialécticas que
nela se debatem, se confrontam, e que abrem/geram novos caminhos — os da ciência moderna. Entre as palavras e as coisas, a representação surge como problema a
resolver na dialéctica da tradição, do humanismo, por um lado, e do experiencialismo, da abertura epistemológica e do descentramento cultural, por outro. Não
será com certeza despicienda a escolha de um género (o Diálogo) e de um específico trabalho sobre o discurso para o tratamento sui generis da matéria médica, farmacológica e botânica, para os significados das diversas derivas histórico-culturais e ainda para a propositada abertura ao leitor da esfera privada do quotidiano
do nosso médico, no exótico contexto goês. O contributo inegável de Orta para
a construção do novo paradigma em construção – o da ciência moderna – passa
muito por uma denegação retórica da coloração do discurso que é decisiva para
a obsessiva pintura da verdade, para a incansável representação do real, das coisas, através da laboriosa depuração das palavras “empeçadas” em meadas obscuras
(oposição escolástica – racionalismo crítico). Ver e dar a ver através da linguagem
surge como forma de compensação mais eficaz do que a ilustração (gravura) científica, ausente da obra de Orta. Ironicamente, a tradução latina de Clusius, responsável pela ampla divulgação europeia dos Colóquios, e que inclui a representação
imagética, apaga praticamente por completo a modernidade (filosófico-científica
e discursiva) do texto português e até o nome do seu autor.
J OÃ O C A RLOS FI RMI NO AND RAD E D E C ARV AL HO é Professor da Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. É Investigador do CLEPUL. É Doutorado em Literatura Portuguesa Clássica pela Universidade do Algarve (2000), Mestre em Literatura Portuguesa
pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1990) e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas por esta última Universidade (1985). Foi Professor de Literatura Portuguesa para
Estrangeiros no ILCP da FLUL, no ano de 1986. Foi Professor da Escola Superior de Educação de
Beja, entre 1987 e 1993, onde dirigiu a Unidade de Ciências da Comunicação. Foi Bolseiro do PRODEP, entre 1997 e 2000. Foi Director do Departamento de Letras Clássicas e Modernas da FCHS
da Universidade do Algarve, entre 2000 e 2003. Foi Investigador do CELL da UAlg, onde dirigiu
uma Linha de Investigação. Tem participado em diversos júris de Doutoramento e de Mestrado
quer como presidente, quer como orientador, quer ainda como arguente. Tem publicado vários
livros: Ciência e Alteridade na Literatura de Viagens. Estudo de Processos Retóricos e Hermenêuticos, 2003; Aventuras d’Escrita(s). Estudos de Poética e Retórica, 2004 (em co-autoria); Retóricas, 2005 (em co-coordenação); O Fio da Memória – Ensaios, 2005; Outras Retóricas, 2006 (em co-coordenação); Viagem Maravilhosa do Príncipe Fan-Férédin no País dos Romances.(…), 2007 (tradução, em co-autoria); Ensaios & Outros Escritos, 2008 (em co-autoria); Viajantes, Escritores e
Poetas: Retratos do Algarve, 2009 (em co-coordenação); A República – Figuras, Escritas e Perspectivas, 2011 (coordenação). Tem ainda numerosas publicações dispersas por diversas Revistas e
Actas de Colóquios nacionais e internacionais.
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Nesta comunicação, pretende-se revisitar a obra do autor