Garcia de Orta, nome maior da História da Medicina Portuguesa
Escrito por Carlos Ventura
Sexta, 22 Maio 2009 16:01 - atualizado em Segunda, 30 Novembro 2009 16:29
in revista Natural BeijaFlor 2009 jan
GARCIA D’ORTA – NOME MAIOR DA HISTÓRIA DA MEDICINA PORTUGUESA * CARLOS
CAMPOS VENTURA
O maior nome da História da medicina portuguesa é Garcia d’Orta (sem esquecer que outros
foram brilhantes e notáveis no seu tempo, como Amato Lusitano). Nascido em 1500 e falecido
em 1568, a sua vida prolonga-se pela época de ouro da nação portuguesa, tendo vivido a
maior parte das sua vida na Índia portuguesa. Essa não foi só uma época de ouro para
Portugal, foi também para o mundo. Como escreveu Garcia d’Orta em Goa em 1563, no seu
famosíssimo e intensamente traduzido (principalmente a partir dos resumos que dele fez o
importante botânico belga Clúsio), Colóquios dos simples e drogas e cousas medicinais da
Índia:
“sabe-se mais em um dia agora pelos Portugueses do
que se sabia em cem anos pelos Romanos”, no qual descreve as plantas, com as respectivas
utilizações e propriedades, e os vários nomes nas várias línguas, inclusivamente o arábico e o
pérsio. No seu livro, ele ordena as plantas (e
outras
cousas, como
as
pedras preciosas medicinais
) por ordem alfabética, “porque a ordem aproveita muito à memória”. Lídimo representante do
espírito do Renascimento, Garcia d’Orta afirma: “Não me ponhais medo com Dioscórides nem
Galeno, porque não hei-de dizer senão a verdade e o que sei”; “…minhas verdades ditas sem
cores retóricas, porque a verdade se pinta nua”; “não tenho ódio senão aos errores, nem tenho
amor senão à verdade”. Porque ele conhecia as plantas realmente, ao contrário dos autores
anteriores, que falavam delas por ouvir falar ou repetiam – mas nunca verificando - o que
outros textos já tinham dito.
“Garcia d’Orta foi o pioneiro português da investigação médica e da patologia exótica do
Oriente” (A. Tavares de Sousa, Curso de História da Medicina, Ed. Fundação Calouste
Gulbenkian). Mas os portugueses foram os primeiros a atingirem e a estabelecerem-se nessas
paragens, o que quer dizer que Garcia d’Orta foi, não só o primeiro português mas o primeiro
europeu. Durante quase três décadas, Garcia d’Orta viveu na fronteira asiática, observando e
investigando a flora, pacientemente recolhendo exemplares de plantas, cultivando-os,
questionando as populações acerca dos seus efeitos, experimentando e anotando as suas
propriedades nas mais diversas patologias. Dos pontos mais distantes da Ásia, missionários,
embaixadores e aventureiros traziam-lhe plantas desconhecidas e longínquas, e as indicações
possíveis. E ele continuava a investigação.
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Garcia de Orta, nome maior da História da Medicina Portuguesa
Escrito por Carlos Ventura
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Por último, é de sublinhar a decisão, rara na época, de não publicar o seu livro em latim, mas
sim em português, para assim o tornar acessível a mais leitores.
Garcia d’Orta situa-se num tempo de mudança. No seu século mudou a sociedade, mudou a
visão que os homens tinham de si mesmos, das relações entre eles, da natureza, dos céus e
dos deuses. O saber passou a ser fundado na experiência e não em dogmas. Foi, em certa
medida, o reinício e a redescoberta do saber.
Comecei este artigo dizendo que Garcia d’Orta é o maior nome da História da medicina
portuguesa. Importa dizer que, neste caso, isto é verdade para a medicina convencional e para
a não convencional.
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