PROVA DE FILOSOFIA – 1o TRIMESTRE DE 2014
PROF. ALEXANDRE
NOME __________________________________________________ No________ 3a SÉRIE ______
A compreensão do enunciado faz parte da questão. Não faça perguntas ao examinador.
A prova deve ser feita com caneta azul ou preta.
É terminantemente proibido o uso de corretor. Respostas com corretor serão anuladas.
Esta prova é composta por TRÊS questões dissertativas dispostas em QUATRO páginas.
ESCREVA SEU NOME EM TODAS AS FOLHAS DA PROVA.
Para responder as questões, leia anteriormente os textos a seguir com muita atenção:
Texto 1
Em um ensaio intitulado “A Gênese da Ideologia na Sociedade Moderna”, o filósofo francês Claude
Lefort observa que houve uma mudança no modo de operação da ideologia, desde meados do século XX. De
fato, escreve ele, a ideologia burguesa era um pensamento e um discurso de caráter legislador, ético e
pedagógico, que definia para toda a sociedade o verdadeiro e o falso, o bom e o mau, o lícito e o ilícito, o justo
e o injusto, o normal e o patológico, o belo e o feio, a civilização e a barbárie. Punha ordem no mundo de forma
explícita... No entanto, a partir dos anos 30 do século XX houve uma mudança nas relações sociais do
trabalho, surge um padrão industrial que ficou conhecido como fordismo. Com o fordismo é introduzida uma
nova prática das relações sociais, conhecida como Organização. Uma Organização tem como principais
características a racionalidade administrativa, a hierarquização de cargos e funções, e a eleição das pessoas
competentes para realizar cada cargo ou função. Segundo Lefort a ideologia burguesa tradicional era
produzida por agentes sociais como o pai, o padre, o professor, o pastor, o sábio, agora parece que as ideias
emanam diretamente do funcionamento de uma Organização e das chamadas “leis de mercado”. Agora a
Organização (ou administração racional e eficaz do trabalho) reúne-se com a gerência científica o que faz
surgir uma divisão de classes acrescida de uma nova divisão: a divisão entre os que possuem poder porque
possuem saber e os que não possuem poder porque não possuem saber. Dessa maneira a divisão social das
classes está ocultada pela divisão social que se realiza entre competentes e incompetentes. Essa divisão entre
competentes e incompetentes gera um discurso que ensina a cada um de nós como nos relacionarmos com o
mundo e com os outros. Esse discurso pertence aos especialistas que nos ensinam como devemos viver (o que
devemos comer – dietéticos e nutricionistas; como devemos praticar sexo – sexólogos; como relacionar-se
com as crianças – pedagogos e psicólogos; como relacionar-se com a Natureza – ecologistas, etc.) O discurso
do especialista afirma que só há felicidade na competição e no sucesso de quem vence. O conhecimento
técnico não é mais a representação de quem um dia se dedicou ao ensino e pesquisa, é hoje usado como
instrumento de seleção, ou seja, transforma você numa pessoa mais competente do que quem não o tem. Se
ser competente é vencer, como se sente um desempregado ou mesmo um trabalhador tratado explicitamente
como subempregado desqualificado? É claro que um perdedor incompetente, afinal não passará pela cabeça
desse cidadão que a atual forma de organização econômica não precisa de muitos trabalhando na produção e
por isso gerando desemprego.
Adaptado da obra O que é Ideologia, Marilena Chaui.
1
Texto 2
-O senhor não me arranja um trocado? Perguntou o esfarrapado garoto com um olhar súplice.
Outro daria o dinheiro ou seguiria adiante. Não ele. Não perderia aquela oportunidade de ensinar um
indigente uma lição preciosa:
-Não, jovem. Respondeu. -Não vou lhe dar dinheiro. Vou lhe dar uma coisa melhor do que dinheiro. Vou
lhe transmitir um ensinamento. Olhe para você, olhe para mim. Você é pobre, você anda descalço, você
decerto não tem o que comer. Eu estou bem vestido, moro bem, como bem. Você deve estar achando que isso
é obra do destino. Pois não é. Sabe qual a diferença entre nós, filho? O estudo. As estatísticas estão aí:
Pobre estuda cinco anos menos do que o rico.
O menino o olhava assombrado. Ele continuou:
-Pessoas como eu estudaram mais. Em média 5 anos mais. Ou seja: passamos 5 anos a mais em cima dos
livros. 5 anos sem nos divertir, 5 anos queimando pestanas, 5 anos sofrendo nas vésperas dos exames. E sabe
por que filho? Porque queríamos aprender. Aprender coisas como o Teorema de Pitágoras. Você sabe o que é
Teorema de Pitágoras? Se você soubesse, eu não só lhe daria um trocado, eu lhe daria muito dinheiro, como
homenagem ao seu conhecimento. Mas você não sabe o que é Teorema de Pitágoras, sabe?
-Não. Disse o menino. E virando as costas foi embora.
Com o que ele ficou muito ofendido. O rapaz simplesmente não queria saber nada acerca do Teorema
de Pitágoras. Aliás, como era mesmo o tal teorema? Era algo como o quadrado da hipotenusa é igual a soma
dos quadrados dos catetos. Ou: o quadrado do cateto é a soma dos quadrados da hipotenusa. Ou ainda, a
hipotenusa dos quadrados é a soma dos catetos quadrados.
Algo assim. Algo que só aqueles que têm cinco anos a mais de estudo conhecem.
"Rico estuda cinco anos mais", Cotidiano, 17 jul. 1998, Moacyr Scliar
Texto 3
Texto 4
2
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Agora responda o que se pede a seguir:
1) Os quatro textos apontam para uma ideia muito comum no mundo contemporâneo utilizada para justificar
principalmente as diferenças sociais existentes entre os membros de uma sociedade.
Qual é essa ideia e porque os marxistas apontam-na como a principal ideologia responsável pela conservação
da sociedade capitalista contemporânea (3,0).
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2) O texto 2 possui como título o resultado de uma pesquisa: “O rico estuda cinco anos mais (do que o pobre)”.
Dependendo de como você interpreta esse título ele pode apresentar uma das características que Marx
atribui a Ideologia, a inversão entre causa e efeito. O autor do texto é irônico ao apresentar, na figura de
uma das personagens, essa inversão. Em seguida, de forma cômica, revela a ideologia e nos faz repensar o
verdadeiro significado do resultado da pesquisa. Portanto, se interpretarmos esse texto a luz do marxismo:
a) Qual a inversão ideológica cometida pelo personagem da crônica? (2,0)
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b) Qual realidade é revelada pelo resultado dessa pesquisa (“o rico estuda cinco anos mais do que o pobre”)? (2,0)
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RASCUNHO
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3) Um dos argumentos centrais do racionalismo moderno - a acesso privilegiado do ser pensante à sua própria
consciência, a evidência do cogito enfatizada por Descartes - torna-se altamente problemático depois dos
pensamentos de Karl Marx , Freud e Nietzsche. Esses ficaram conhecidos como filósofos da suspeita, pois
eles foram os primeiros filósofos a suspeitarem da 'razão iluminista'. Como só conhecemos até agora Marx e
Freud, lembremos um pouco das suas suspeitas: eles acusaram os limites e os defeitos da racionalidade
humana. “A consciência que era considerada livre e autodeterminada passa a ser vista como condicionada pelo
trabalho”, segundo Marx; e “a mente não se caracteriza apenas pela consciência, mas, ao contrário, nosso
comportamento é fortemente determinado por desejos e impulsos de que não temos consciência e que
reprimidos, e quando não-realizados manifestam-se em nossos sonhos, e em nosso modo de agir”, segundo
Freud.
Segundo seus conhecimentos sobre o assunto, aponte uma semelhança e uma diferença entre os conceitos de
ideologia, em Marx, e inconsciente, em Freud (3,0).
Semelhança:
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Diferença:
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RASCUNHO
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