RESPONSABILIDADE SOCIAL EM EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA NA ÁREA DE MEIO AMBIENTE: DEVER
OU POSSIBILIDADE?
VITÓRIA RÉGIA FERNANDES GEHLEN
Universidade Federal de São Paulo
[email protected]
CRISTIANE LUCENA BARBOSA
Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
DIANA CAROLINA GÓMEZ BAUTISTA
Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
JACKELINE FERNANDA FERREIRA CAMBOIM
Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
LÍGIA DE OLIVEIRA BRAGA
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
RESPONSABILIDADE SOCIAL EM EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
NA ÁREA DE MEIO AMBIENTE: DEVER OU
POSSIBILIDADE?
RESUMO
A Extensão Universitária é uma das funções sociais das Universidades juntamente com as de
ensino e pesquisa e é por meio dela que tais instituições podem realizar ações de
Responsabilidade Social - RS. Entende-se que as Universidades devem estar comprometidas com
saberes na área social, econômico e ambiental e na promoção destes junto à sociedade. Ao
considerar que ocorre uma crise ambiental global, o foco desta pesquisa está voltado para o que
se tem feito para combatê-la. Para atingir esse objetivo, entende-se que se deve experimentar
maneiras de se produzir conhecimentos e realizar ações com finalidade da promoção da RS
através, principalmente, de programas/projetos de extensão na área ambiental. Avaliando os
programas/projetos classificados para terem apoio do Ministério da Educação do ano de 2014 na
linha de Meio Ambiente e Recursos Naturais, percebeu-se que tais programas/projetos estão, em
número, abaixo de várias outras temáticas. Os dados revelaram ainda que, no tocante a RS, uma
necessidade de realizar atividades e incentivos junto às Universidades para que elas despertem
para seu papel na sociedade no que diz respeito ao meio ambiente, visto que a problemática
ambiental só terá mudança com a sociedade sensibilizada e informada de sua importância neste
processo.
Palavras chave: Responsabilidade Social; Extensão Universitária; Meio Ambiente.
SOCIAL RESPONSIBILITY IN UNIVERSITY EXTENSION
IN THE ENVIRONMENTAL AREA: DUTY OR
POSSIBILITY?
ABSTRACT
The University Extension is one of the social functions of universities along with teaching and
research and it is through such institutions can perform actions for Social Responsibility - RS. It
is understood that universities should be committed to knowledge in the social, economic and
environmental and promoting these to society. When considering a global environmental crisis
occurs, the focus of this research is facing what has been done to combat it. To achieve this goal
it is understood that one must experience ways to produce knowledge and perform actions with
the purpose of promoting RS primarily through programs / outreach projects in the environmental
area. Evaluating programs / projects rated to have the support of the Ministry of Education in the
year 2014 of Environment and Natural Resources online, it was realized that such programs /
projects are, in number, under various other topics. The data also revealed that, with respect to
RS, a need to carry out activities together and incentives to universities so they awaken to their
role in society with regard to the environment, since environmental problems will only change
with the sensitized society and informed of their importance in this process.
Key Words: Social Responsibility; University Extension; Environment.
XVI ENGEMA 2014
1
INTRODUÇÃO
Na realidade socioambiental vivenciada, percebe-se, cada vez mais, a necessidade de
mudança de comportamento no tocante à relação das pessoas com o meio ambiente. A alteração
de comportamento vem se apresentar com a mudança de conceitos que podem ser alcançados
através da educação e da incorporação de novos saberes. Segundo Chiavenato (2010), nunca
houve uma impressionante mudança no comportamento humano nas organizações e vários
fatores estão associados a ela como os econômicos, os tecnológicos, os culturais, os sociais, os
políticos, os demográficos e os ecológicos.
Entretanto, a educação, em seu sentido mais amplo, enfrenta acentuados problemas de
qualidade e não alcançou patamares desejáveis de democratização, pois, se a cidadania, em sua
expressão mais clássica, ainda engatinha, a ecocidadania, por seu turno, continua revestida de um
caráter utópico e distante (LOUREIRO, 2011).
Ao entender que as pessoas são uma das ferramentas capazes de realizar mudanças e,
relacionando estas mudanças com a necessidade da incorporação de novos saberes que tragam as
questões ambientais em seus diversos olhares, surge assim, a importância da Extensão
Universitária nesse contexto. Isso porque essa atividade se apresenta como um dos caminhos para
a Universidade mudar uma realidade e dela praticar sua Responsabilidade Social ao proporcionar
o diálogo dos acadêmicos com a sociedade (PAULA, 2011; CRUZ et al., 2010).
Entende-se por extensão universitária, baseado no Plano Nacional de Extensão como: “o
processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma
indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade”. Assim,
pode-se perguntar: Em que instância se dá a prática da Responsabilidade Social nas
Universidades através de seus programas e projetos de extensão? Como estão em relação à linha
temática de Meio Ambiente e Recursos Naturais?
Deste modo, esta pesquisa, teve como objetivo geral, avaliar os projetos de extensão
universitária classificados no Edital do Programa de Extensão Universitária – MEC/SESu 2014
divulgados no portal do Ministério da Educação no ano de 2014 das principais Universidades
Federais da Região Nordeste.
Compreende-se que, pesquisas como esta são de grande importância na conjuntura atual e
podem embasar discussões da prática para a geração de novos saberes que buscam soluções para
crise ambiental global. Espera-se contribuir para esta importante reflexão e a inserção, cada vez
mais, da temática ambiental na prática de extensão das Universidades como o caminho para
práticas de ações de Responsabilidade Social com foco em meio ambiente diante da necessidade
complexa que é entender a crise ambiental global, como também, buscar o avanço tecnológico
com a conservação e manutenção do meio ambiente para as gerações futuras.
1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EM EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NA ÁREA DE
MEIO AMBIENTE – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Existem visões do que seria Responsabilidade Social em diversos segmentos. No presente
artigo, será discutida a noção de responsabilidade vinculada aos projetos e programas de extensão
universitária e sua relação com a temática ambiental.
Com a finalidade de se compreender as bases conceituais e, ao mesmo tempo,
proporcionar perguntas em torno de sua prática, Ashley (2005, p.73) faz o seguinte
XVI ENGEMA 2014
2
questionamento: “o que se entende por Responsabilidade Social nos diversos segmentos
empresariais, acadêmicos, governamentais e da sociedade civil organizada?” Tal questão serve
para descobrir o que está presente nos discursos com a finalidade de perceber as perspectivas e
respostas a cerca das práticas que serão recomendadas e realizadas (ASHLEY, 2005).
Assim, Ashley (2005 p.56) percebe o conceito de Responsabilidade Social:
O conceito de responsabilidade social corporativa não pode ser reduzido a uma
dimensão social da empresa, mas interpretado por meio de uma visão integrada ,
dimensões econômicas, ambientais e sociais que, reciprocamente, se relacionam e se
definem.
Por meio do conceito de Ashley (2005 p.56), percebe-se que a responsabilidade social
não é apenas social, mas engloba vários aspectos que devem ser percebido no tratamento dessa
questão. Nesse sentido, Dias (2012) ressalta as diversas terminologias utilizadas para essa
prática: Responsabilidade Social Empresarial (RSE); Responsabilidade Social Corporativa
(RSC), Responsabilidade Corporativa (RC), porém a mais comum e abrangente entre elas é a
Responsabilidade Social (RS). Dias (2012) ainda compreende a Responsabilidade Social como
prática que tenham como finalidade evitar prejuízos e trazer benefícios aos envolvidos no
processo.
Segundo a visão do Instituto Ethos, a Responsabilidade Social se define em:
A forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos
os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais
compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade (ETHOS, 2003).
São diversas as razões pelas quais as empresas se veem com necessidade do exercício da
Responsabilidade Social. Logo, entendendo as Universidades Federais como empresas
educacionais e enquanto organização, não se percebe as mesmas fora deste contexto. Mello &
Froes (2005) apontam que um dos motivos está na obtenção dos recursos vindos da sociedade,
para assim, fazer uma prestação de contas e promover essa restituição pela obtenção dos recursos,
pode ser feita não apenas por meio de produtos, mas, sobretudo, por meio de ações que busquem
soluções aos problemas sociais.
Essa ação de devolução à sociedade também pode vir com o financiamento de projetos
sociais como afirmam Mello & Froes:
A empresa deve financiar projetos sociais porque é certo, justo e necessário assim
proceder. É um mecanismo de compensação das „perdas da sociedade‟ em termos de
concessão de recursos para serem utilizados pela empresa. E não uma ação caridosa,
típica dos capitalistas do início do século, que utilizavam filantropia como forma de
expiação dos seus sentimentos de culpa por obterem lucros fáceis à custa da exploração
do trabalho das pessoas e dos recursos naturais abundantes (MELO; FROES, 2005, P.
84-85).
Para tanto, nas empresas, a Responsabilidade Social tem por foco o público interno que
faz referência aos empregados e seus dependentes e, também, o público externo, quando suas
ações visam beneficiar as comunidades, ou seja, investir em projetos sociais da própria empresa,
XVI ENGEMA 2014
3
doações e prestações de serviços
Responsabilidade Social externa:
(MELO;
FROES,
2005).
Entende-se
por
Ações de Responsabilidade Social externa têm como foco a comunidade, e visam
minimizar as suas principais carências, bem como promover o desenvolvimento
sustentável da sociedade por meio de ações de saúde, educação, arte, esportes, c idadania
e ecologia, realizados muitas vezes com parcerias do terceiro setor (MONOBE et al.,
2010, p.31).
Dessa forma, nota-se a importância desta responsabilidade para promover benefícios
importantes à sociedade. Apontando para este contexto, estão as Universidades e o seu papel
junto à comunidade na prática da Responsabilidade Social através de seus projetos e programas
de extensão na área de meio ambiente.
A despeito da Responsabilidade Social nas Universidades, o Sistema Nacional de
Educação Superior (SINAES) instituída pela Lei nº 10.861/2004 “considerada especialmente no
que se refere a sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e
social, á defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio
cultural” (Art. 3ª paragrafo III. Grifo nosso), o que reforça a importância das ações também na
área ambiental.
Nesse sentido, o Plano Nacional de Extensão Universitária conceitua extensão
universitária como: “o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a
Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e a
Sociedade”. Segundo Bolan & Motta (2007), o Sistema Nacional de Ensino Superior não utiliza o
termo Responsabilidade Social Universitária por percebê-la como finalidade institucional e
acadêmica.
Desse modo, percebe-se que a Responsabilidade Social na Universidade não se dá de
forma tradicional, mas por meio de projetos de extensão como está determinada no Artigo 207 da
Constituição Federal do Brasil de 1988 “As universidades gozam de autonomia didáticocientífica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988, grifo nosso). Entretanto,
para que alguma ação da Universidade seja instituída como extensão é necessário que se tenha
uma política de extensão que traga conceitos, diretrizes, além das finalidades e funções abordadas
em instâncias institucionais deliberativas e normatizadas por meio de Estatutos, Regimentos,
Plano de Desenvolvimento Institucional, Resoluções, Portarias e Editais (PLANO NACIONAL
DE EXTENSÃO, 1999).
Nessa perspectiva, a importância do ensino universitário para a Responsabilidade Social
está no fato, segundo Bollan & Motta (2007 p. 208) de:
A promoção de um ensino socialmente responsável abarcaria a formação de indivíduos
qualificados para a inclusão no mercado profissional e igualmente a formação de
indivíduos críticos, moralmente competente, capazes de tomada de decisões frente a
questões éticas, não apenas considerando uma visão deontológica, mas ta mbém seus
contextos pragmáticos, morais e sociológicos. A auto sustentabilidade, mas do que um
conteúdo curricular compreenderia o foco sobre o qual as instituições desenvolveriam
ações que fomentem o compromisso dos alunos com a vida e sua preservação. Envolve
sua capacitação para ir além do reconhecimento dos problemas ambientais no sentido
amplo da palavra.
XVI ENGEMA 2014
4
Verifica-se que as questões ambientais podem e devem ser trabalhadas nas Universidades
Federais como promoção de novos saberes que proporcionem para a sociedade um conhecimento,
tornando a mesma aliada neste tempo de crise ambiental global. Trabalhar meio ambiente,
recursos naturais e desenvolvimento sustentável pode favorecer para a manutenção e condições
de sobrevivência para as gerações futuras.
Nesse cenário, podem-se perceber algumas dimensões em torno do desenvolvimento
sustentável com a Responsabilidade Social. O conceito de desenvolvimento sustentável é um
conceito que gera polêmica pelas suas múltiplas interpretações, no entanto, o Relatório de
Brundtland ressalta o conceito como um avanço na temática, independentemente do surgimento
de diversas discussões, segundo Dias:
Embora seja um conceito amplamente utilizado, como já mencionado, não existe uma
única visão do que seja o desenvolvimento sustentável. Para alguns, alcançar o
desenvolvimento sustentável é obter o crescimento econômico contínuo através de um
manejo mais racional dos recursos naturais e da utilização de tecnologias mais eficientes
e menos poluentes. Para outros, o desenvolvimento sustentável é antes de tudo um
projeto social e político destinado a erradicar a pobreza, elevar a qualidade de vida e
satisfazer ás necessidades básicas da humanidade que oferece os princípios e orientações
para o desenvolvimento harmônico da sociedade, considerando a apropriação e a
transformação sustentável dos recursos ambientais (DIAS, 2010, p. 32-33).
No contexto de Desenvolvimento Sustentável, pode-se incorporar a questão da extensão
universitária como uma alternativa de promoção de projetos que visam satisfazer algumas
necessidades da sociedade. Nesse sentido, a extensão pode ser compreendida como uma ação que
busca promover uma associação entre Universidade e Sociedade, possibilitando a relação
teoria/prática e, com isso, a promoção de saberes acadêmicos e populares (BRASIL, 2001).
2 MATERIAIS E MÉTODOS - METODOLOGIA
Entendendo que Extensão é uma das funções sociais da Universidade, o presente estudo,
de caráter exploratório-descritivo, teve como objetivo geral avaliar os programas e projetos de
extensão universitária classificados das Universidades Federais da Região Nordeste no Edital do
Programa de Extensão Universitária - MEC/SESu 2014 divulgados no portal do Ministério da
Educação no ano de 2014.
Para Gil (2010), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e ideias e o objetivo de proporcionar visão geral acerca de
determinado fato e, através das pesquisas descritivas, pode-se realizar a descrição das
características de determinada população ou fenômeno com a utilização de técnicas padronizadas
de coleta de dados.
Para tanto, foi feito o levantamento das Universidades Federais presentes nos estados da
Região Nordeste através do portal do Ministério da Educação e considerando a definição de
Universidade segundo a Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional (CASA CIVIL, 1996):
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5
Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos
quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo
do saber humano, que se caracterizam por:
I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo s istemático dos temas e
problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e
nacional;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou
doutorado;
III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral.
Uma vez localizadas, para definição da amostra, foram consideradas as maiores
Universidades, ou seja, para cada estado da Região Nordeste, foi identificada a maior
Universidade, segundo o critério daquela que possuísse mais cursos de pós graduação, mediante
consulta ao portal da Capes (CAPES, 2014). Seguem abaixo descritas (Tabela 1).
Tabela 1. Listas das universidades públicas com maior número de cursos de pós-graduação dos Estados do
Nordeste disponibilizada pela CAPES (2014).
UF
Instituição de Ensino Superior
Sigla
Totais de cursos
de pós graduação
BA
Universidade Federal da Bahia
UFBA
118
PB
Universidade Federal da Paraíba
UFPB
74
AL
Universidade Federal de Alagoas
UFAL
40
PE
Universidade Federal de Pernambuco
UFPR
123
SE
Universidade Federal de Sergipe
UFSE
52
UFMA
32
MA
Universidade Federal do Maranhão
PI
Universidade Federal do Piauí
UFPI
37
RN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRN
93
CE
Universidade Federal do Ceará
UFC
99
Total =
668
Fonte: autores, 2014.
A partir daí, deu-se início a segunda etapa da pesquisa que consistiu em consultar o site
do Ministério da Educação, na área do portal referente aos projetos de extensão que foram
submetidos por estas Universidades no ano de 2014, fazendo assim, o levantamento destes
projetos, registrando o título, área temática, subtema, nota de cada projeto e status de
classificação.
Esses aspectos possibilitam caracterizar a coleta dos dados dentro de um viés qualitativo
para a sua identificação e quantitativo para a apresentação. Logo, para um bom entendimento,
ocorreu a associação quali-quantitativa na análise dos dados coletados a fim de responder as
questões: Em que instância se dá a prática da Responsabilidade Social nas Universidades
Federais no Nordeste brasileiro através de seus programas e projetos de extensão? Como estão
em relação à linha temática de Meio Ambiente e Recursos Naturais?
XVI ENGEMA 2014
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Para responder as perguntas propostas, fez-se necessário a análise dos dados
coletados e seu diálogo com a fundamentação pesquisada. Pretende-se identificar as atividades
relacionadas à prática da Responsabilidade Social que as Universidades Federais estão realizando
através de seus projetos e programas de extensão, em especial a linha de Meio Ambiente e
Recursos Naturais, entendendo que é de extrema importância o papel das Universidades na
promoção do Desenvolvimento Sustentável e da Responsabilidade Social. Seguem abaixo as
linhas temáticas (tabela 2).
Tabela 2. Linhas temáticas disponíveis no Ministério da Educação (2014) para inscrição dos projetos e
programas de extensão das universidades.
Linhas Temáticas presentes no EDITAL PROEXT 2014 - PROGRAMA DE EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA
Linha 1: Educação
Linha 10: Direitos humanos
Linha 2: Cultura e arte
Linha 11: Promoção da igualdade racial
Linha 3: Pesca e aquicultura
Linha 12: Mulheres e relações de gênero
Linha 4: Promoção da saúde
Linha 13: Esporte e lazer
Linha 5: Desenvolvimento urbano
Linha 14: Comunicação
Linha 6: Desenvolvimento rural
Linha 15: Inclusão produtiva e
desenvolvimento regional: Rotas de
Integração Nacional
Linha 6: Estágios Interdisciplinares de Vivência –
EIV
Linha 16: Justiça e direito do indivíduo
privado de liberdade
Linha 7: Redução das desigualdades sociais e
combate à extrema pobreza
Linha 17: Ciência, tecnologia e inovação para
a inclusão social
Linha 8: Geração de trabalho e renda por meio do
Apoio e Fortalecimento de empreendimentos
econômicos solidários
Linha 18: Meio Ambiente e Recursos
Naturais
Linha 9: Preservação do patrimônio cultural
Brasileiro
Linha 19: Juventude
Linha 20: Articulação e Participação Social
Fonte: autores, 2014.
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A problemática ambiental é presente e bastante atual. Mesmo com a existência de
legislação e normatização, torna-se ainda mister avançar neste contexto, buscando, cada vez
mais, incorporar novos saberes e ter atitudes que venham fazer diferença para a preservação do
meio ambiente.
XVI ENGEMA 2014
7
Pode-se associar a geração de novos saberes às Universidades, sendo no presente
estudo, as Universidades Federais da Região Nordeste e, em relação às mesmas, como se dá a
prática da Responsabilidade Social (RS) através de seus projetos e programas de extensão na
linha temática de Meio Ambiente e Recursos Naturais.
Diante do exposto, inicia-se a análise dos dados coletados em consulta ao portal do
Ministério da Educação (2014) que foram tabulados a fim de promover uma melhor
compreensão.
Observa-se que as linhas temáticas dos projetos de extensão universitária (Tabela 2) estão
voltadas para os direitos sociais básicos, uma vez que se encontram em sintonia com o que está
disposto do artigo sexto da Constituição Federal de 1988: “Art.6º- São direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição”.
Assim, dessa forma, pode-se corroborar, mais uma vez, a questão de que os projetos de
extensão universitária podem ser considerados como a execução de ações de Responsabilidade
Social das Universidades para a sociedade. De acordo com DIAS (2012), a Responsabilidade
Social varia de acordo com a empresa onde ela é realizada, contudo, há alguns pontos de
convergência entre essas ações:
Tabela 3. Pontos de Convergência de ações de Responsabilidade Social e sua relação com a atividade de
extensão na universidade.
Pontos de Convergência de Ações de Responsabilidade Social
Pontos
Atividades de extensão na Universidade
Compromisso social da empresa
Ações voltadas para fora das portas das Universidades
Decisão voluntária
Elaboração dos projetos pelos próprios docentes por
decisão própria e opcional
Conduta ética
A transparência e prestação de contas que existe
Benefícios para a sociedade
Projetos em consonância com as linhas temáticas
voltadas para o social (rever Tabela 2)
Desempenho ambiental
Linhas temáticas também voltadas para a área
ambiental (rever Tabela 2)
Adaptabilidade
Os projetos que são dos mais diversos e que se
adaptam de acordo com a especialidade da equipe que
executa o projeto
Fonte: Dias, 2012.
Como referido anteriormente, os projetos de extensão cumprem sim requisitos de RS:
compromisso social versus ações voltadas para fora das portas das Universidades, decisão
voluntária versus elaboração dos projetos pelos próprios docentes por decisão própria e opcional,
XVI ENGEMA 2014
8
conduta ética versus a transparência e prestação de contas que existem, benefícios para a
sociedade versus projetos em consonância com as linhas temáticas voltadas para o social (rever
Tabela 2), desempenho ambiental versus as linhas temáticas também voltadas para a área
ambiental (rever Tabela 2), adaptabilidade versus os projetos que são dos mais diversos e que se
adaptam de acordo com a especialidade da equipe que executa o projeto.
Tabela 4. Lista de Projetos de Extensão Universitária contemplados por Instituição de Ensino Superior
(IES) disponibilizada no Ministério da Educação (2014).
Fonte: autores, 2014.
Na Tabela 4, estão dispostos os projetos classificados de acordo com os critérios do Edital
(total de 208 projetos classificados) e pode-se constatar certo equilíbrio de projetos por temas, os
quais variam de 1 a 23 projetos por tema, mas tendo a variação percentual entre 0 a 11% de
representatividade. Esse número era de se esperar, pois, um dos critérios de seleção do Edital do
Programa de Extensão Universitária estipula o número máximo de projetos por IES por Linha
Temática de 4 ao todo - sendo 2 projetos e 2 programas.
Um resultado interessante é o número de projetos classificados pela Universidade Federal
da Paraíba, onde 90% dos projetos submetidos foram classificados (Tabela 5), em contraponto à
Universidade Federal de Alagoas, onde 56% de seus projetos foram desclassificados.
Tabela 5. Apresentação da submissão dos projetos e programas pelas Universidades da Região Nordeste
disponibilizadas no Ministério da Educação (2014).
IES
Classificação
Relação
Desclassificados
ao total
S ubmissão
Classificados
Universidade Federal da Bahia
35
18
51%
Universidade Federal da Paraíba
70
63
Universidade Federal de Alagoas
32
14
Universidade Federal de Pernambuco
41
Universidade Federal de Sergipe
17
Universidade Federal do M aranhão
Universidade Federal do Piauí
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Universidade Federal do Ceará
Total
Relação
ao total
17
49%
90%
7
10%
44%
18
56%
19
46%
22
54%
8
47%
9
53%
10
7
70%
3
30%
14
10
71%
4
29%
55
45
82%
10
18%
43
24
56%
19
44%
317
208
109
Fonte: autores, 2014.
XVI ENGEMA 2014
9
Com a figura 1, observa-se a proporção de projetos classificados na linha de Meio
ambiente e recursos naturais em relação aos demais temas, contudo o que se mostra importante é
a não classificação de programas e projetos nessa linha temática em cinco das nove
Universidades realizadas. Para que isso ocorra pode ter duas hipóteses: a real falta de incentivo e
interesse em se realizar ações nessa linha temática, ou então, mas não menos grave, a má
qualidade dos programas e projetos apresentados à seleção, o que ocasionou uma possível
desclassificação dos mesmos.
Ambas as situações são preocupantes, uma vez que se espera que o interesse por
desenvolver ações na área ambiental vem se mostrando urgente, bem como, por se tratar das
maiores Universidades da Região Nordeste, como também, entende-se que a qualidade dos
profissionais de ensino seja de maior gabarito.
Figura 1. Apresentação da relação dos programas e projetos na linha de Meio ambiente e recursos
naturais disponibilizados no Ministério da Educação (2014).
Ainda dentro da linha temática 18: Meio ambiente e recursos naturais, os subtemas
relacionados estão listados na tabela 6, conforme segue abaixo:
XVI ENGEMA 2014
10
Tabela 6. Subtemas da Linha Temática 18( Meio Ambiente e Recursos Naturais) apoiados no Edital do
Programa de Extensão Universitária – MEC/SESu 2014.
Subtemas da Linha Temática 18: Meio Ambiente e Recursos Naturais
Florestas – Apoio às atividades de conservação, recuperação dos ecossistemas e melhoria dos
4.18.1 processos de manejo, tendo como público alvo, preferencialmente, agricultores familiares,
agricultores beneficiados de assentamentos da reforma agrária e comunidades tradicionais.
Agroecologia e Agroextrativismo: Capacitação e mobilização social mediante a oferta de
oficinas, cursos e outros meios de formação inclusive para o cooperativismo e
4.18.2
empreendedorismo, que envolvam, preferencialmente, famílias de baixa renda e comunidades
tradicionais.
Conservação e uso da biodiversidade: Apoio às atividades de conservação, recuperação dos
4.18.3 ecossistemas e melhoria dos processos de manejo que envolvam, preferencialmente, famílias de
baixa renda e comunidades tradicionais.
Gestão de Águas - Apoio às atividades de uso e gestão de recursos hídricos, que envolvam
4.18.4 preferencialmente agricultores, organizados por bacia hidrográfica, populações de baixa renda de
zonas semiáridas, populações urbanas em situação de risco, prefeituras municipais.
Qualidade Ambiental - Promoção da qualidade ambiental, em atividades que envolvam,
4.18.5 preferencialmente, as administrações de municípios de pequeno porte na forma de consórcios
públicos, cidades médias e catadores de resíduos sólidos organizados.
Produção e Consumo Sustentáveis – Apoio às atividades de produção e consumo sustentáveis,
4.18.6 que envolvam, preferencialmente, arranjos produtivos locais, clusters e a cadeia da construção
civil.
Juventude e meio ambiente - Apoio às iniciativas que promovam o envolvimento de jovens,
4.18.7 dentro e fora da Universidade no cuidado com meio ambiente e na gestão ambiental, por meio de
atividades participativas.
Os dez projetos classificados estão nas linhas temáticas supracitadas e distribuídas de
acordo com a tabela 7 abaixo.
XVI ENGEMA 2014
11
Tabela 7. Apresentação da relação dos programas e projetos na linha de meio Ambiente e Recursos
Naturais disponibilizados no Ministério da Educação (2014).
Programa/Projeto
IES
Universidade Federal da Bahia
Linha 18:
Meio
Ambiente e
Recursos
Naturais
Outras
Relação
1
17
6%
Subtema
Produção e Consumo Sustentáveis
Gestão de Águas
Universidade Federal da Paraíba
4
59
Universidade Federal de Alagoas
0
14
Produção e Consumo Sustentáveis
Conservação e uso da biodiversidade
(2x)*
-
Universidade Federal de Pernambuco
0
19
-
Universidade Federal de Sergipe
0
8
-
Universidade Federal do Maranhão
0
7
-
Universidade Federal do Piauí
0
10
-
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte
2
43
7%
5%
Conservação e uso da biodiversidade
Produção e Consumo Sustentáveis
Produção e Consumo Sustentáveis
Universidade Federal do Ceará
3
22
14%
Gestão de Águas
Agroecologia e Agroextrativismo
Total=
10
199
*Refere-se a que há dois programas/projetos classificados na mesma linha temática.
Fonte: autores, 2014.
Figura 2. Apresentação da frequência dos programas e projetos na linha de meio Ambiente e Recursos
Naturais disponibilizados no Ministério da Educação (2014).
XVI ENGEMA 2014
12
A tabela 7 juntamente com a figura 2 demonstra que nem todos os subtemas foram
contemplados, havendo uma maior concentração no de produção e consumo sustentável e
nenhum nos de floresta e qualidade ambiental.
Diante do exposto, percebe-se que extensão universitária e a relação da pesquisa/ensino
com a sociedade pode ser uma ferramenta de extrema relevância para o exercício da
Responsabilidade Social nas Universidades e a produção de novos saberes para todos envolvidos
no processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O avanço da tecnologia e as novas descobertas que a ciência apresenta no cenário atual
são evidentes. A importância das Universidades Federais no tocante a promoção de saberes que
busquem caminhos para equacionar essa relação entre tal avanço e a preservação do Meio
Ambiente é urgente e necessária.
A Extensão Universitária pode ser este caminho através dos projetos e programas
elaborados e desenvolvidos pelas Universidades para viabilizar atividades que resgatem o seu elo
com a sociedade. Como visto no decorrer deste texto, estes podem ser submetidos ao Ministério
da Educação e, caso aprovados, serem executados e transformados em excelente ferramenta para
disseminar conhecimento e interação da academia com a comunidade.
O Ministério da Educação apresenta várias linhas temáticas para a submissão destes
projetos e programas, dentre elas, a de Meio Ambiente e Recursos Naturais. Assim, pode-se
utilizar esta linha como um instrumento de possibilidade para se trabalhar as questões ambientais.
Na análise dos dados, ficou evidente que a maneira de atuação das ações de
Responsabilidade Social na área ambiental no âmbito da Região Nordeste terá uma atuação
bastante limitada. Oportunidades de atuação de programa e projetos de extensão são
possibilitadas pelo Ministério da Educação, no entanto não vem sendo aproveitados pela
comunidade acadêmica, o que compromete também a sua atuação junto à sociedade.
Dessa maneira, espera-se que as Universidades busquem, através de projetos e programas
de Extensão Universitária, a prática de ações de Responsabilidade Social na temática ambiental,
visto que, diante da crise ambiental global, seu papel torna-se imprescindível para corroborar com
mudanças positivas junto à ciência e à sociedade tão ávida por conhecimento sobre Meio
Ambiente e de como se pode melhorar esta relação de vivência e sobrevivência, garantindo a
preservação do mesmo para as gerações futuras. Assim, pesquisas neste contexto contribuem para
que seja dada continuidade em torno desse debate de extrema relevância para a sociedade.
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