ARRANJOS CONTRATUAIS ENTRE DIFERENTES ELOS DA CADEIA AVÍCOLA DO
DISTRITO FEDERAL
Wady Lima Castro Júnior
Elisângela Leitão Astuti
Flávio Borges Botelho Filho
RESUMO
A avicultura nacional tem uma excelente posição no cenário internacional, e com o
surgimento de problemas sanitários nos países asiáticos, há uma oportunidade de novos negócios
para o Brasil. O nível tecnológico presente na avicultura brasileira é altíssimo e, torna este país,
segundo o United States Departament of Agriculture (USDA), o detentor da cadeia avícola que
possui o menor custo de produção do mundo.
Observando-se o complexo agroindustrial avícola brasileiro, constata-se a
predominância da integração vertical como modo de governança da cadeia. Esta estrutura de
domínio é devida, principalmente, à especificidade dos ativos dedicados à transação. Assim, para
ocorrer a entrada de produtores rurais nesta atividade são necessários investimentos em tais
ativos. A presença de um instrumento contratual levaria esta relação comercial a uma regulação e
ao poder de fazer cumprir os acordos estabelecidos através do sistema judiciário. Destes
contratos, devido à racionalidade limitada inerente aos seres humanos, originam-se custos ex-ante
e ex-post às transações. Portanto, neste estudo utilizamos além de teorias microeconômicas, o
auxílio da Nova Economia das Instituições/ Economia dos Custos de Transação (NEI/ECT).
Destarte, buscou-se analisar neste trabalho dois elos da cadeia avícola, tanto da
cadeia de ovos férteis quanto na cadeia de frango de corte no Distrito Federal, qual seja, o elo do
produtor rural. Para tanto, utilizamos os dados de dois produtores (um produtor de frango de
corte e outro de ovos férteis) para analisarmos as suas respectivas rentabilidades na atividade.
Notou-se a grande participação da comercialização da cama de frango na receita do produtor de
frango de corte e, em menor intensidade, na receita do produtor de ovos férteis. Assim, pôde-se
constatar que, tanto o volume pecuniário investido pelo produtor de ovos férteis quanto a sua
receita e rentabilidade são maiores quando comparado com o produtor de frango de corte. Porém,
ambas as atividades foram aceitas detentoras de bons índices de rentabilidade do capital
financeiro investido.
Palavras-chave: arranjos contratuais, ovos férteis, avicultura de corte.
1
1. INTRODUÇÃO
A avicultura, considerada atualmente como uma das atividades mais importantes do
complexo agroindustrial brasileiro, está respaldada por um alto nível tecnológico, que é
determinante para a manutenção da capacidade competitiva do setor.
Este modelo de avicultura industrial vigente na atualidade marginaliza a avicultura
tradicional, pois esta não está apta a produzir nas condições de qualidade, controle sanitário e em
quantidade suficientemente regular para atender às necessidades requeridas pelo setor de
comercialização e processamento avícolas.
Segundo Sorj (1982), o marco inicial da avicultura industrial foi na década de 50,
época na qual começou a substituição da antiga avicultura comercial que tivera iniciado nos anos
20 e 30. Naquela época tiveram início muitos estudos sobre a melhor exploração da atividade.
Hoje, a avicultura industrial moderna detém um nível de controle do processo biológico avançado
em relação às demais atividades agropecuárias, pois há uma dependência mínima das condições
naturais, que contrasta com a característica das atividades do setor agropecuário.
O nível de controle é tal, que é corrente a comparação da atividade com o setor
industrial em que há condições artificiais de produção. Ou seja, há uma grande previsibilidade da
produção dada a entrada de uma certa quantidade de insumos dentro de uma black box, como
mencionado por Georgescu (1965), organizada em uma função de produção.
Conforme um estudo realizado pelo IPARDES (2002), a evolução da criação no
mundo para os sistemas intensivos de produção se deu após a Segunda Guerra Mundial, quando
ocorreu a retomada do crescimento econômico.
Com o sistema de criação intensiva, houve uma revolução na organização da
produção, permitindo pela primeira vez a consolidação de estruturas produtivas em moldes
industriais, o que levou a avanços contínuos nas economias de escala.
Esta avicultura tem um elevado grau de subordinação à moderna tecnologia, que por
sua vez tem sua transferência tecnológica facilitada devido ao alto índice de controle das
condições ambientais. A atividade avícola moderna tem uma alta produtividade e uma conversão
alimentar (que era de 3,50 em 1930 passa a 1,90 em 2000) não observada nas demais atividades
agropecuárias. A idade de abate passa de 105 dias em 1930 para 42 dias em 2000, ou seja, uma
redução 150% em 70 anos.
Na década de 70 verificou-se um crescimento acelerado do complexo avícola no
Brasil. Nesta década, houve um maior consumo de frango relacionado com outras carnes. Desde
então, o Brasil tem aumentado vertiginosamente a sua participação no mercado exportador desta
carne, a ponto de, conforme Sorj (1982), no início da década de 1980 ocupar o segundo lugar
entre os exportadores de frango. Hoje, pode-se conjecturar a existência de um favorecimento da
comercialização dos produtos brasileiros em decorrência das endemias asiáticas.
O Brasil, atualmente, dada a sua busca por um nível tecnológico elevado entre
outros fatores, ocupa a posição de maior exportador de carne de frango do mundo, superando
recentemente os Estados Unidos. Contudo, ainda ocupa o segundo lugar no ranking de produção,
ficando logo atrás do seu principal concorrente do setor, os Estados Unidos.
O consumo do frango industrial produziu grandes modificações nos hábitos de
consumo popular, pois antes, o frango dito caipira era o preferido pelo consumidor. O frango
industrial impõe-se primeiramente nos supermercados com um público consumidor
fundamentalmente de classe média; com o decorrer do tempo, chega a ingressar no consumo
popular a ponto de ser considerado uma das âncoras de sustentação da então nova política
2
econômica, o Plano Real, nos anos 1994 e 1995, onde os preços tanto do frango quanto de ovos
estavam bastante acessíveis.
De acordo com Sorj (1982), com a moderna avicultura industrial, o capital industrial
apropria atividades que antes eram realizadas no interior da empresa rural, e, baseada nesta
apropriação, passa a impor aos produtores rurais os padrões e ritmos de transformação do
processo produtivo.
A partir do início dos anos 60, surge no sul do país, uma avicultura integrada
contratualmente. Esta estratégia de integração conduz as empresas a algumas vantagens como,
por exemplo, ganho de qualidade na matéria prima, abastecimento constante, redução dos custos
industriais nas operações de abate, padronização da carcaça, dentre outras. Estas empresas
integradoras poderiam repassar parte do custo da crise aos produtores enquanto as hierárquicas
estariam mantendo ocioso um montante muito alto em capital fixo para o avicultor, algumas
vantagens seriam, maior produtividade, redução dos custos de produção e maior rentabilidade,
formação de um plantel básico de reprodutores de alto valor zootécnico, garantia de
comercialização da produção com conseqüente diminuição de seu risco.
Segundo Sorj (1982), o caráter da estrutura agrária, formada por pequenos
produtores disponíveis e em condições sociais que não apresentavam outras opções, facilitou que
as empresas integradoras impusessem a forma de relacionamento contratual.
Para Williamson (1989), a especificidade dos ativos é o maior incentivo na busca de
uma estrutura de governança1 que traga mais controle sobre a cadeia produtiva por parte das
empresas.
A integração vertical, conforme (Rocha, 2002), representa uma forma extrema de
organizar dois estágios complementares de uma cadeia produtiva, na qual apenas uma firma
adquire o controle, e não necessariamente a propriedade, sobre os ativos envolvidos nestas duas
etapas consecutivas.
Para Batalha (1997), as vantagens proporcionadas por uma estratégia do tipo
integração vertical estão fundamentalmente associadas à apropriação dos lucros dos mercados
situados a montante e a jusante da atividade original da empresa e/ou ao controle destes mercados
com o objetivo de favorecer sua atividade original.
Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a rentabilidade da avicultura integrada
no Distrito Federal para os produtores integrados na atividade produtora de ovos férteis e os de
frango de corte, assim como confrontar alguns aspectos inerentes a estas atividades avícolas. Para
tanto, realizou-se uma análise dos dados de dois avicultores integrados, um para cada tipo de
exploração.
1.1. A avicultura e sua exploração no Distrito Federal
Um dos fatores que tem influenciado fortemente a expansão da produção avícola
para o Centro Oeste é devido à proximidade com as áreas de produção de milho e soja, principais
componentes da ração destinadas às aves. No Brasil, o milho representa cerca de 69,76 % do
custo final do frango de corte (IPARDES, 2002). Este ponto deve ser considerado um dos
fomentadores da progressão exploratória da atividade avícola no Distrito Federal, haja vista a sua
posição espacial e produtiva de grãos.
1
Este termo é definido por Williamson (1996), como “a matriz institucional em que a integridade de uma transação é
decidida.”
3
Assim, em meados da década de setenta foram criadas as empresas Só Frango e
Granja Brasil no Distrito Federal. A Só Frango, tendo iniciado as suas atividades em 1967 passou
a adotar o sistema de integração vertical no ano de 1991; esta empresa produzia
fundamentalmente frangos de corte. Em 1994 houve uma cisão desta empresa, da qual originou a
empresa Asa Alimentos cujo core business era basicamente a produção de ovos férteis, embora
em 2000 tenha iniciado suas atividades com a produção de frangos de corte via integração
contratual.
Atualmente, a movimentação de recursos advindos do complexo avícola gira em
torno de 100 milhões de reais por ano, gerando uma grande quantidade de empregos diretos e
indiretos, tornando-se assim a atividade que detém maior participação na formação do PIB
agropecuário do Distrito Federal.
2. ASPECTOS RELATIVOS À INTEGRAÇÃO VERTICAL
As transações – definidas por Williamson (1985) como o evento que ocorre quando
um bem ou serviço é transferido através de uma interface tecnologicamente separável, sendo
passível de estudo enquanto uma relação contratual, na medida em que envolve compromissos
entre seus participantes – diferem uma das outras e, a forma como são conduzidas lhe associa um
custo.
De acordo com Azevedo (1997), uma transação freqüentemente sujeita as partes
envolvidas ao risco de que regras de procedimentos acordados entre elas não se efetivem. A
redução de tais riscos implica na redução de custos associados à transação, desde que se adote
como pressupostos comportamentais que os agentes envolvidos na transação são racionais
(porém limitadamente) e oportunistas (contraventores). Estas transações têm como principais
atributos a freqüência, a incerteza e a especificidade dos ativos.
A freqüência das transações seria a recorrência ou a regularidade de uma transação;
a incerteza refere-se ao desconhecimento de elementos futuros relacionados à transação; e, por
fim, a especificidade dos ativos diz respeito à proporção em que o retorno de um dado ativo é
dependente da continuidade de uma transação específica. Esta última dimensão é encarada como
a que desempenha um papel principal sob a ótica da Economia dos Custos de Transação (ECT).
Para Williamson (1991), a especificidade do ativo é o grau no qual o ativo pode ser
empregado em usos alternativos e por usuários alternativos sem sacrifício de seu valor. Em outras
palavras, estes ativos são aqueles que não são reempregáveis a não ser com perdas de valor.
Como sugerido por Azevedo (1997), a especificidade é a característica de um ativo que expressa
a magnitude de seu valor que é dependente da continuidade da transação à qual ele é específico.
E, quanto maior a especificidade, maiores serão os riscos e problemas de adaptação e, portanto,
maiores os custos de transação.
A freqüência, ou seja, a repetição de uma mesma espécie de transação é um dos
elementos relevantes para a escolha da estrutura de governança adequada a essa transação. Com
esta repetição, os atores podem adquirir conhecimento uns dos outros, facilitando uma possível
diminuição da incerteza. Esta, por sua vez, relaciona-se ao desconhecimento - pelos atores
envolvidos nas transações - dos variados acontecimentos futuros. Esta dimensão está intimamente
relacionada ao pressuposto comportamental de racionalidade limitada.
Assim, estas dimensões para se caracterizar uma transação permitem desenhar uma
estrutura de governança objetivando a diminuição dos custos de transação na determinada
transação.
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Destarte, observando a Fig 1, onde há uma relação das especificidade de ativos e
estruturas de governança, associa-se o alto grau de especificidade dos ativos destinados à
atividade avícola e, chega-se ao entendimento que a maneira encontrada para diminuir em custos
de governança das transações e melhorar a eficiência organizacional é se direcionar para formas
organizacionais que detenham um maior controle organizacional, qual seja, uma estrutura muito
próxima da hierarquia – a integração vertical. Pois, como em Zylbersztajn (2000), nos casos onde
a especificidade dos ativos é baixa, não é preciso controle forte e a transação pode ser levada a
cabo no mercado. À medida que a especificidade dos ativos se eleva, o mercado passa a não mais
ser uma solução eficiente, sendo necessário maior controle, proporcionado tanto pela integração
vertical, como pelo desenho de contratos com salvaguardas específicas. Pois, investimentos em
ativos com elevada especificidade estão associados a potenciais perdas elevadas no caso de uma
ruptura contratual, exigindo assim, uma estruturação cuidadosa de salvaguardas contratuais.
Figura 1. Custo de governança como uma função de ativos específicos.
M(k
Hybrid
Governance Costs
Market
X(k)
H(k)
Hierarchy
k1
k2
k
Asset Specificity
Fonte: Williamson, 1996.
Portanto, a integração vertical é tida como uma estratégia competitiva e, é a
estrutura de governança que prevalece na avicultura nacional. Este tipo de governança detém um
elevado controle das transações na cadeia produtiva sendo, segundo Williamson (1975), fruto das
interações das características básicas das transações a saber: freqüência, incerteza e
especificidade dos ativos, como exposto acima.
5
2.1. O MODELO DE INTEGRAÇÃO VERTICAL
2.1.1. A produção de ovos férteis no Distrito Federal
A empresa Asa Alimentos – que coordena a cadeia produtiva de ovos férteis no
Distrito Federal – tem como principal produto, mas não unicamente, o ovo fértil com destino à
produção de pintos de corte, segundo Falcão (2002).
Um dos objetivos de uma empresa que “opta” por uma estrutura de governança
hierárquica, como o caso da integração contratual, é a obtenção de produtos padronizados e que
priorizam a qualidade (sendo esta um requisito fundamental para manter a presença competitiva
da empresa).
Assim, segundo Falcão (2002), para o ingresso na atividade, a empresa exige que o
candidato à integração contratual tenha: um módulo mínimo que é composto por cinco galpões
com capacidade para 8.500 matrizes e 1.000 galos por galpão, três silos com capacidade de
armazenar 15 toneladas de ração, além de instalações próprias para a esterilização e o
armazenamento diário de ovos, banheiro para uso e higiene dos funcionários. E outras exigências,
a manutenção de uma certa distância de uma granja a outra, etc.
O produtor tem alguns outros custos, tais como: o pagamento de energia elétrica, a
mão de obra utilizada na produção interna da granja, telefone, sacarias utilizadas para ensacar a
cama, etc. Este integrado se compromete em entregar os ovos nos padrões exigidos pela empresa
integradora.
Para tal, o integrado deverá fazer investimentos em ativos com elevada
especificidade. Esta necessidade de criar um relacionamento em ativos específicos transforma o
relacionamento à medida que a transação se desdobra. Antes dos investimento em ativos
específicos serem feitos, uma parte pode ter várias alternativas de negócio, sendo que ela poderia
escolher um entre os muitos possíveis negociantes. Mas, depois que o investimento em ativos
específicos é feito, as partes têm poucas, se tiver, alternativas de negócios. Assim, uma forma de
oferta competitiva não se torna mais possível. Ou seja, uma vez que tal investimento em ativos
dedicados é feito, o relacionamento muda de uma posição na qual a parte teria uma grande
quantidade de negociantes para uma situação em que tem apenas um negociante. Esta
transformação da situação de negociação de um determinado produto é, segundo Williamson
(1996), a Transformação Fundamental.
Esta transformação fundamental que ocorre devido à especificidade dos ativos tem
conseqüências significantes para o poder de barganha entre o comprador e vendedor. Assim, para
que haja estes investimentos em ativos dedicados a uma transação, o investidor tem que ter um
incentivo além da garantia de venda da produção. Um destes incentivos, é o que Besanko (2000)
chama de quase-rendas. Este termo é explicado por aquele autor como o lucro extra que o
investidor (produtor) obteria caso mantenha a negociação como planejada versus o lucro que
aquele investidor iria obter se ele escolher negociar com a sua próxima melhor alternativa.
No caso analisado, como veremos, não há a possibilidade (ou se há, é muito
pequena) de negociação da produção com a sua segunda melhor alternativa, pois o produto não
pertence ao produtor integrado, ele apenas é responsável pela condução do setor de produção da
cadeia.
Desta forma, segundo Falcão (2002), a empresa integradora fornece aos integrados
quase todos os insumos necessários para a exploração de produção de ovos férteis, quais sejam:
entrega as matrizes nas granjas dos produtores integrados com vinte semanas de idade (sendo que
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estas matrizes iniciam o processo de postura com aproximadamente vinte e quanto semanas),
fornece medicamentos e vacinas, a palha de arroz usada como a cama, o desinfetante utilizado
para limpeza; adquire os grãos, farelos e todos os nutrientes necessários para a produção da ração,
que é entregue prontas nas granjas dos integrados. O produtor integrado tem na sua fórmula de
remuneração o valor incluído dos insumos.
2.1.2. A produção de frango de corte no Distrito Federal.
Para o ingresso na cadeia produtiva de frango de corte no Distrito Federal, o
produtor deve adotar o sistema de integração vertical. Para tanto, existem algumas exigências
pelas empresas integradoras.
Após o investimento em ativos de especificidade elevada, como é o investimento em
galpões e equipamentos dedicados a esta atividade, a empresa integradora transfere a este
produtor integrado a fase de produção animal.
No contrato realizado entre as partes integrantes desta transação, fica explicitado
alguns direitos e deveres para ambas as partes. Assim, conforme Castro Júnior (2003), a
integradora fornece os pintos de um dia, a ração para alimentação dos mesmos, medicamentos e
assistência técnica ao integrado; e, o produtor integrado se responsabiliza pela construção dos
aviários, aquisição e instalação dos equipamentos devidos, mão de obra, de acordo com as
determinações da integradora celebradas entre as partes, e é feito o pagamento do produtor
integrado pela empresa integrador.
Deve-se lembrar que o produtor integrado não detém a posse sobre o produto físico
transacionado. Este pagamento é resultado da utilização de fórmulas desenvolvidas pela empresa
integradora.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho baseou-se em estudo de caso, em pesquisa bibliográfica sob um
foco da Nova Economia da Instituições – Economia dos Custos de Transação (NEI/ECT), assim
como base na teoria microeconômica.
Diante disso, analisaram-se os dados de um determinado avicultor integrado na
produção de ovos férteis do Distrito Federal referentes ao ano de 2003, comparando-se com um
avicultor integrado na produção de frangos de corte, também no Distrito Federal. Estes
avicultores tiveram a sua escolha respaldada pela confiabilidade dos dados em sua atividade,
assim como na facilidade de obtenção de tais dados. Então, fez-se uma análise microeconômica
sobre os seus custos, as suas receitas, os conseqüentes lucros obtidos naquele ano na atividade e,
observaram-se as respectivas rentabilidades das atividades agropecuárias em questão.
Os produtores analisados se encaixam perfeitamente dentro do perfil dos avicultores
da região (Distrito Federal), como revela o estudo realizado pela Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária (FAV – UnB), em 2002. Ou seja, os produtores detêm um nível cultural
elevado, não sobrevivem unicamente da atividade avícola, utilizam mão de obra assalariada, não
moram na propriedade rural – agindo como administrador empresário, e tem boa capacidade de
endividamento.
O empresário rural, produtor de ovos férteis, utilizou recursos do Fundo
Constitucional do Centro Oeste (FCO) para construir um módulo básico exigido pela empresa
7
integradora (cinco galpões), embora este produtor possua dois módulos. A taxa de juros para este
financiamento é de 8,75% ao ano. Para análise de rentabilidade da atividade deste produtor
adotou-se a existência de apenas um módulo.
O custo médio atual para a construção de um módulo exigido pela integradora é de
aproximadamente R$ 1.000.000,00, sendo que este valor inclui tanto os galpões como os
equipamentos devidos.
Embora o produtor em questão tenha realizado um empréstimo parcial, utilizar-se-á
neste trabalho, para o cálculo da rentabilidade da atividade, o valor integral (normalmente o
financiamento é de 75% do investimento) do investimento necessário, ou seja, um milhão de
reais.
Nesta atividade – produção de ovos férteis – diferentemente do que ocorre na
avicultura de corte no Distrito Federal, o material utilizado como cama é fornecido pela empresa
integradora e, no final do ciclo (quatorze meses), esta cama faz parte da receita do produtor
integrado, sendo que, desta forma, evita-se um gasto razoavelmente elevado na aquisição do
material destinado à confecção daquela cama.
O produtor integrado de frango de corte possui financiamento do FCO. E, para tal
simulação de rentabilidade, utilizou-se o financiamento no valor de R$ 450.000,00, com tempo
de vida dos galpões de 20 anos, e com taxa de juros de 8,75% ao ano.
Nesta simulação, tentou-se obter a rentabilidade da avicultura integrada na produção
de ovos férteis e na produção de frango de corte no Distrito Federal em 2003, e, para tanto,
considerou-se o lucro econômico, ou seja, foi incluído no cálculo o custo de oportunidade2 do
capital, o qual foi considerado como a taxa do empréstimo do FCO de 8,75% ao ano.
Assim, utilizando os dados dos produtores, fez-se um cálculo das suas despesas,
receitas totais (advinda da venda dos ovos férteis e da comercialização da cama - para o caso do
produtor de ovos férteis - e, da remuneração pelo frango e respectiva cama – para o produtor
integrado de frango de corte) e, considerando-se um período de pagamento do empréstimo para o
investimento de 20 anos (vida útil estimada para os galpões), com a taxa de 8,75% ao ano,
determinou-se a quantia a ser paga anualmente pelos avicultores integrados. Então, obteve-se o
lucro dos produtores como resultado da diferença da sua receita líquida (receita total menos
despesas) e o pagamento do empréstimo feito para o investimento em ativos específicos a serem
utilizados na exploração avícola.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A remuneração dos empresários por sua capacidade de gerenciamento ficou fora dos
cálculos referentes à receita.
A despesa do produtor integrado de ovos férteis originou-se da análise da mão de
obra (incluindo o FGTS), gastos com manutenção, gastos energéticos, a pega das matrizes,
ensaque de cama, telefone, entre outros. O total dos gastos da granja no ano 2003/2004 foi de R$
128.136,00.
2
Termo que designa os custos associados às oportunidades perdidas quando os recursos de uma empresa não são
utilizados de forma que produza o maior valor possível. (Pindyck e Rubinfeld, 2002). Para este estudo, utilizar-se-á a
taxa de juros do FCO, de 8,75% aa, como equivalente ao custo de oportunidade do capital investido.
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Um dos pontos que chamou a atenção foi que os gastos com a mão de obra, energia
e manutenção, na produção de ovos férteis, foram responsáveis por aproximadamente 93% dos
gastos da granja em estudo, como se pode observar no gráfico abaixo.
Distribuição de custos
6%
9%
14%
Energia
Mão de obra
Manutenção
Demais custos
71%
Fonte: Dados da análise
Assim como ocorre na avicultura de corte no Distrito Federal, a determinação da
remuneração ao produtor na produção de ovos férteis é via percentagem sobre o valor médio de
mercado do produto. Este valor percentual é de 12, ou seja, 12% do preço de mercado para o ovo.
Assim, para a determinação da remuneração pelo produto ao avicultor integrado produtor de ovos
férteis, pode-se utilizar a seguinte fórmula:
R = Q x P x 0,12
Onde: - R é a remuneração pecuniária recebida pelo avicultor pela entrega do
produto, em reais;
- P é o preço médio de mercado, fruto de uma média ponderada do
preço dos ovos férteis incubáveis e dos ovos comerciais, em reais.
- Q é a quantidade de ovos produzida no período determinado.
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A receita total da granja de ovos férteis foi obtida como o resultado da soma da
remuneração pecuniária dada pela fórmula acima descrita e a renda advinda da comercialização
da cama, o que totalizou R$ 322.872,00. A sua renda líquida, calculada pela diferença entre a
receita total e as despesas totais, foi avaliada em R$ 194.736,00. A cama participou na renda total
da granja com R$ 29.580,00 no período em estudo, o que equivale a 9.16 % da receita bruta
(total) e 15.19% da renda líquida.
O preço médio de mercado (P) pago pelo ovo obtido no período em estudo
(03/2003-03/2004) variou de R$ 0,30 a 0,33, ou seja, uma variação de 10% durante o período,
mostrando uma razoável uniformidade da receita do produtor integrado de ovos férteis.
O empresário rural (integrado na produção de ovos férteis) analisado não tinha
financiado o total do investimento necessário para a construção da estrutura física exigida pela
empresa integradora, portanto o montante de capital financeiro que a sua granja destina para o
pagamento do determinado empréstimo é bem menor do que estamos avaliando (a integralidade
do financiamento). Entretanto, o capital investido necessário para o financiamento do módulo é
de R$ 1.000.000,00 , e foi com este valor que achamos razoável trabalharmos, pois fornece uma
visão mais realista da situação de um empresário menos capitalizado. Foi adotado o tempo de
vida útil dos ativos físicos de 20 anos, e a taxa real de juros do FCO, que é igual a 8,75% ao ano.
Assim, foi encontrado o valor do pagamento de R$ 107.601,76 que equivale à remuneração do
capital investido pelo avicultor que conseguiu o financiamento integral.
Desta forma, calculou-se o lucro da granja integrada na produção de ovos
diminuindo-se o valor do pagamento do empréstimo, para investimento, da receita líquida
realizada no período estudado. Este lucro ficou estimado em R$ 87.134,24, o que corresponde a
dizer que este valor equivale a 8,71% do investimento em ativos específicos, além de cobrir o
custo de oportunidade usado para este estudo (8,75%), ou seja, a taxa de juros do FCO.
Assim, sintetizando as informações numéricas referentes ao período estudado da
granja em questão, tem-se a ilustração da tabela 1, abaixo.
Tabela 1. Resumo financeiro da granja sob análise, no período de 03/2003 a 03/2004.
Dados resumidos
R$
%
Financiamento
1.000.000,00
Despesas
128.136,00
Receita bruta
322.872,00
Renda líquida
194.736,00
Remuneração do capital
107.601,76
Lucro
87.134,24
Porcentagem do investimento
8,71
Fonte: Elaboração dos autores
Quanto à análise do avicultor integrado na produção de frango de corte no Distrito
Federal, a sua despesa, além dos itens presentes nos gastos da granja produtora de ovos férteis,
consta o dispêndio financeiro referente ao material para confecção da cama de frango (palha de
arroz) e, da lenha utilizada como fonte de energia calórica – substituta da energia elétrica para
esta finalidade. Esta despesa foi avaliada em R$ 73.413,43, para o ano 2003. Dentre estes gastos,
a compra do material que se destina à composição da cama representou 15,8% das despesas
totais, lembrando que este gasto não é percebido na produção de ovos férteis.
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De acordo com esta análise, os gastos com mão de obra, lenha, material para a cama
e a pega dos frangos, totalizaram aproximadamente 55% das despesas totais, com representado na
figura abaixo.
Distribuição dos custos
17%
45%
12%
mão de obra
lenha
pega
cama
Demais custos
10%
16%
Fonte: Dados da análise
A receita bruta – soma das receitas provindas da comercialização da cama de frango
e o pagamento pelo frango feito pela empresa integradora – totalizou R$ 142.194,05. A
participação da receita proveniente da cama de frango em relação à receita bruta foi de 35,5%,
contrastando com a participação deste “sub produto” de 9,16% como ocorreu na produção de
ovos férteis. Com isto, calculou-se a renda líquida (receitas – despesas) da granja produtora de
frango de corte e encontrou-se o total de R$ 68.780,62 , e, sendo assim, a cama participaria com,
aproximadamente, 73% da renda líquida; ao passo que na produção de ovos férteis, esta
participação foi mais tímida, representando 15,19%. Então, o que se ouve da expressão popular
que “o avicultor vive do excremento” pode ser aplicado para o setor produtor de frango de corte,
sendo que pode ser controvertido o seu uso para a exploração da atividade produtora de ovos.
Na remuneração do produtor de frango de corte percebeu-se uma maior variação
quando comparada com a atividade de ovos férteis, visto que a forma desta remuneração é
diferente daquela. Pois, na produção de frango, este pagamento é mais explicitamente dependente
do índice de desempenho, principalmente conversão alimentar. Assim, os preços recebidos pelo
avicultor integrado de frango de corte no Distrito Federal, no ano 2003, podem ser observados na
tabela 2 abaixo.
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Tabela 2. Preços pagos pela empresa integradora por ave entregue pelos produtores
integrados.
Preços
Preço recebido pelo produtor (R$ /ave )
Mínimo
0,215
Máximo
0,27
Preço médio
0,239
Variação Percentual
25,58
O preço médio, apresentado na tabela 2, foi obtido da média dos preços recebidos
pelo produtor entre os cinco lotes alojados no ano 2003.
Logo, percebe-se a diferença entre a variação da remuneração entre os dois
avicultores das diferentes explorações avícolas (frango e ovos férteis), ou seja, enquanto o
produtor integrado de ovos férteis tem na sua remuneração uma variação de preço pago pela
empresa integradora de 10%, o produtor de frango de corte do Distrito Federal analisado, teve
uma variação de aproximadamente 25% no preço recebido por ave entregue.
Ademais, para cálculo da sua rentabilidade, foram feitas algumas considerações,
quais sejam: os galpões têm 20 anos de tempo de vida útil; o valor relacionado ao financiamento
para as condições do avicultor de corte foi de R$ 450.000,00; o avicultor utilizou a integralidade
do financiamento e, a taxa de juros de 8,75%.
Então, calculou-se a remuneração do capital, pois quando o avicultor fez um
investimento em um ativo com elevada especificidade como é o caso, espera-se uma
remuneração correspondente ao capital investido.
Assim, a remuneração do capital para o avicultor integrado de frango de corte para o
pagamento foi de R$ 48.420,79 ao ano. Portanto, o seu lucro econômico foi calculado como
sendo a diferença entre a sua receita líquida e o valor da remuneração do capital, e resultou em
R$ 20.359,83 ao ano.
Na tabela 3 tem-se um resumo financeiros desta granja produtora de frango de corte
do Distrito Federal, no ano 2003.
Tabela 3. Resumo financeiro da granja de frango de corte analisada no ano 2003.
Dados resumidos
R$
%
Financiamento
450.000,00
Despesas
73.413,43
Receita bruta
142.194,05
Renda líquida
68.780,62
Remuneração do capital
48.420,79
Lucro
20.359,83
Percentagem do investimento
4,52
O valor que se refere à porcentagem do investimento é advindo da divisão entre o
lucro e o financiamento. Desta forma, observa-se que o total de 4,52% ao ano é o valor que
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remunera o capital investido além dos 8,75% adotado como sendo o custo de oportunidade do
capital financeiro.
Ademais, para uma melhor visualização das diferenças implícitas dos atributos
observados nos dois elos da cadeia avícola no Distrito Federal, construiu-se a tabela 4 abaixo.
Tabela 4. Confrontação de alguns atributos nos dois elos da cadeia avícola no Distrito Federal
estudados.
Atributos
Determinação do preço
Valor do ativo específico
Variabilidade do preço
Participação da cama na
renda bruta.
Participação da cama na
renda líquida
Rentabilidade
contrato
Elo A
(frango de corte)
Fórmulas que valorizam o
desempenho.
R$ 450.000,00
25,58 %
35,5%
Elo B
(ovos férteis)
Percentagem do preço de
mercado.
R$ 1.000.000,00
10%
9,16%
73%
15,19%
4,52%
Verbal (em negociação
formal)
8,75%
Rascunho de contrato
formal.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos motivos para o ingresso na atividade, pelos produtores, é o preço que se
espera receber pelo investimento em ativos específicos à atividade, ou seja, um preço que seja
acima da sua segunda melhor alternativa, o que gera quase-rendas para os produtores.
Depois de analisarmos os dados dos dois produtores (frango de corte e ovos férteis),
foi-nos permitido uma visão mais clara dos principais custos e receitas que os devidos avicultores
integrados enfrentam.
Assim, puderam-se confrontar os dados das duas atividades o que permitiu a
constatação (para este estudo de caso) da existência de uma maior rentabilidade na produção de
ovos férteis, pois, enquanto o produtor integrado de ovos férteis teria uma rentabilidade de 8,71%
além dos 8,75% do custo de oportunidade adotado, o produtor de frango de corte teria uma
rentabilidade de 4,52% acima dos 8,75%.
Outro ponto que merece ser destacado é a participação na receita dos produtores,
embora em grau diferenciado, da comercialização da cama, pois, como no caso do produtor de
frango de corte, 73% da sua renda líquida é permitida pela cama de frango. Neste ponto, ainda
que em menor grau, os produtores de ovos férteis também são agraciados com uma receita; pois,
a participação da cama na receita líquida é de 15,19%. O que se percebeu, também, é que a
portaria do Ministério de Agricultura (atuação do ambiente institucional) proibindo o uso da
cama de frango na alimentação de ruminantes não afetou negativamente a comercialização deste
“sub produto” da atividade avícola.
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Quanto à composição dos custos dos avicultores, notou-se a grande participação das
despesas com mão de obra, para ambos os produtores.
Entretanto, diferindo apenas na intensidade da rentabilidade nas atividades,
observou-se um bom índice de rentabilidade.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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