SociedadeBrasileira de Química(SBQ)
Princípios doce e açucarado: a fermentação alcoólica na visão de
Chaptal.
Marcos Pivetta1 *(PG), Márcia H.M. Ferraz1 (PQ)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PEPG em História da Ciência CESIMA – CCET (Campus Marquês de
Paranaguá) Rua Marquês de Paranaguá, 111. CEP 01303-000, São Paulo, SP
*[email protected]
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Palavras Chave: história da ciência, história da química, fermentação, álcool, vinho, Chaptal.
Introdução
Em 1801, o químico francês Jean-Antoine Chaptal
(1756-1832) publicou o livro L'art de faire, de
gouverner, et perfectionner les vins, que no ano
anterior figurara como verbete de um dicionário de
agricultura. Na obra, Chaptal se propõe a ensinar
aos produtores de vinho formas de produzir uma
bebida de melhor qualidade e que se conservasse
por mais tempo a partir dos conhecimentos da
nascente química moderna, sem, no entanto,
desprezar por completos ideias da Antiguidade.
Uma das práticas que o livro difundiu foi a de
adicionar açúcar ao mosto de uvas imaturas
durante o processo de fermentação para aumentar
a graduação alcoólica do vinho, procedimento que
mais tarde receberia o nome de chaptalização. Para
que a fermentação ocorra, Chaptal diz que, além de
um pouco de calor e do contato com o ar, é
necessário que a uva apresente três elementos:
água, tártaro e “um princípio doce e açucarado”.
Neste trabalho, vamos mostrar o que significava
esse princípio para o químico.
Resultados e Discussão
O princípio doce e açucarado citado por Chaptal
engloba tanto o objeto que sofre a fermentação
alcoólica como o seu agente. Apenas substâncias
que apresentam esse princípio seriam capazes de
fermentar e gerar álcool. Segundo o químico, é
muito difícil distinguir nos vegetais o princípio doce
do princípio açucarado. Ambos seriam quase
inseparáveis. Embora inicialmente afirme que se
trata de um único principio presente na uva, à
medida que avança em sua explicação, Chaptal
fala mais claramente de dois princípios.
O princípio doce seria composto de “um corpo
doce”, que atua como “verdadeiro levedo”,
estimulador da fermentação espirituosa. Sem ele, o
açúcar não fermenta ou fermenta muito lentamente.
O princípio açucarado seria o açúcar propriamente
dito, a substância que, ao fermentar, é decomposta
e gera o álcool do vinho. Segundo Chaptal, uma
boa fermentação depende da combinação desses
36a ReuniãoAnualda SociedadeBrasileirade Química
dois princípios em quantidades adequadas. A falta
de um e o excesso do outro comprometem esse
processo. Chaptal afirma que, por sua natureza, o
princípio doce é “vizinho” do açucarado e não
descarta a possibilidade de que o primeiro possa,
em circunstâncias favoráveis, se transformar no
segundo.
Em versões posteriores do livro, o químico passa a
chamar o principio doce de “princípio vegetoanimal”, alteração de terminologia que facilita a
distinção entre os dois princípios. A partir da edição
de 1807 de L'art de faire le vin, Chaptal credita ao
florentino Adamo Fabbroni (1748-1816), autor de
Dell' arte di fare il vino (1790) a diferenciação entre
esses dois princípios, o vegeto-animal e o
açucarado.
Conclusões
As
discussões
sobre
diferentes
princípios
envolvidos no processo de produção de vinhos
ocupa boa parte do texto de Chaptal,
comparativamente a outros aspectos nele
presentes. Apesar dos esforços para realizar a
distinção entre o agente da fermentação alcoólica e
as substâncias que sofriam esse processo
(reconhecidos como essenciais para que ocorresse
a produção do vinho), tal diferenciação demoraria
ainda algum tempo para se concretizar. Entender a
natureza do princípio doce (ou vegeto-animal) e do
princípio açucarado, tarefa que ocupava Chaptal e
outros químicos de então, demandará outro trabalho
e será alvo de nossa tese de doutorado.
Agradecimentos
Este trabalho é parte integrante de minha
dissertação de mestrado defendida no PEPG em
História da Ciência da PUC-SP e feita com apoio da
CAPES.
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Chaptal, Jean-Antoine. L'art de faire, de gouverner, et perfectionner les
vins. Paris: Delalain, 1801.
Pivetta, Marcos. “A chaptalização do vinho na virada do século XVIII para
o XIX: a busca de um padrão para um produto instável”. Dissertação de
mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012.
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