A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS: Estudo de Caso na Companhia Vale do Rio Doce ALEXANDRE SEGADILHA ADLER UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro COPPEAD – Instituto de Pós-graduação em Administração Orientador: Eduardo Facó Lemgruber Rio de Janeiro 2002 ii A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS: Estudo de Caso na Companhia Vale do Rio Doce ALEXANDRE SEGADILHA ADLER Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação em Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Administração. Aprovada por: ___________________________________________ Prof. Eduardo Facó Lemgruber, Ph.D. – Orientador COPPEAD - UFRJ ___________________________________________ Prof. Celso F. Lemme, D.Sc. COPPEAD – UFRJ ___________________________________________ Prof. César das Neves, Ph.D. COPPE - UFRJ Rio de Janeiro 2002 iii FICHA CATALOGRÁFICA Adler, Alexandre Segadilha. A Racionalidade da Gestão de Riscos em Empresas Não-Financeiras: Estudo de Caso na Companhia Vale do Rio Doce/ Alexandre Segadilha Adler – Rio de Janeiro, 2002. xiii, 160p. il. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto de Pós Graduação em Administração – COPPEAD, 2002. 1. Risco. 2. Criação de Valor. 3. Finanças – Teses. I. Lemgruber, Eduardo Faço (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pós Graduação em Administração. III. Título. iv Dedico este trabalho à minha esposa, Cris, a meus pais e à minha irmã, que sempre me incentivaram nas horas mais difíceis. v AGRADECIMENTOS ! Aos meus pais, pelos incentivos constantes aos meus estudos e por me proporcionarem uma educação sólida e de excelente qualidade; ! À minha esposa, Cristina, pela sua grande paciência nos momentos de ausência por causa deste trabalho e pela sua perseverança em me incentivar nos momentos em que quase desisti; ! Ao meu orientador, Eduardo Facó, pela sua orientação sempre precisa e estimulante, e pela sua grande disponibilidade, mostrandose presente sempre que precisei; ! Aos meus colegas da Turma 98 pelos dois anos de excelente convívio e pelas discussões enriquecedoras; ! A todos os funcionários do COPPEAD pelo apoio nestes dois anos; ! À minha empresa, a Monitor Group, pelo apoio e compreensão nos momentos em que tive que me ausentar para concluir este trabalho; ! Aos meus colegas de trabalho, Fernando Musa, Giovanni Foragi, Renato Carvalho, Alberto Moel, Paulo Vandor e Fernando Monteiro, pelas colaborações com discussões construtivas para este trabalho, obtenção de informações e incentivo para a conclusão do mesmo; ! A todos os funcionários da Companhia Vale do Rio Doce que colaboraram com este trabalho me ajudando a entender a dinâmica de uma empresa tão complexa. vi RESUMO Em geral, empresas não-financeiras possuem custos e receitas sujeitos a complexos padrões de risco advindos da volatilidade de preços de commodities, taxas de câmbio e taxas de juros. Esses três riscos financeiros de preço são tema das teorias de finanças que visam explicar a crescente prática da Gestão Financeira de Riscos. Críticos do hedge questionam, contudo, se a existência destes riscos é uma razão suficiente para a realização de uma política de gestão financeira de riscos. Além disso, é levantada a questão que concerne se tal gestão de riscos está de acordo com os interesses do acionista e com o objetivo de maximização do valor da empresa. A teoria de finanças oferece diversas hipóteses para explicar a racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, e o presente trabalho estudou a prática de gestão de riscos financeiros na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) à luz desta teoria sobre a racionalidade do hedge em empresas. O estudo buscou assim avaliar discrepâncias entre a teoria e a prática da gestão de riscos e analisar a existência potencial de ganhos que permitam a criação de valor através de uma estratégia integrada de Gestão de Riscos na CVRD. Foi utilizado, para determinar este potencial de ganhos, um modelo de simulação de Monte Carlo com o objetivo de determinar a existência de potencial de criação de valor através da gestão de riscos na empresa. Os resultados obtidos demonstraram a existência de potencial de ganhos para o acionista em função da redução do potencial de problemas de subinvestimento e da redução de custos de dificuldades financeiras. vii ABSTRACT Non-financial companies, generally have costs and revenues subject to complex risk patterns caused by the volatility of commodity prices, exchange rates and interest rates. These financial price risks are themes for financial theories about the growing practice of Financial Risk Management. Academics that criticize the practice of hedge, question if the existence of such risks is a sufficient reason to justify a risk management policy. Besides, they raise questions concerning whether this policy would be in the best interest of the shareholders and consistent with objectives of shareholder value maximization. Financial theory offers several hypotheses, based on the shareholder value maximization paradigm, to explain the rationality of hedge policies and, in light of such theory, the present work studied the risk management practice within Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). This study searched for discrepancies between the theory and practice of risk management and for the existence of potential gains related to an integrated risk management strategy that can result in value creation for the shareholders at CVRD. To determine this potential, a Monte Carlo simulation model was used. The results achieved have demonstrated potential gains for the shareholders, related to the reduction of under investment problems and costs of financial distress. viii SUMÁRIO 1. O PROBLEMA.............................................................................................................................................1 1.1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................1 1.2. OBJETIVO ....................................................................................................................................................4 1.3. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................................................................4 1.4. RELEVÂNCIA ...............................................................................................................................................5 1.5. DESCRIÇÃO DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS ...................................................................................................7 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................................9 2.1. DEFINIÇÕES DE RISCO E HEDGE ................................................................................................................9 2.1.1. RISCO ........................................................................................................................................................9 2.1.2. RISCO DE PREÇO .....................................................................................................................................10 2.1.3. RISCO DE CRÉDITO ..................................................................................................................................11 2.1.4. RISCO PURO ............................................................................................................................................11 2.1.5. HEDGE.....................................................................................................................................................12 2.2. TIPOS DE HEDGE REALIZADOS POR EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS ......................................................13 2.2.1. HEDGE DE TRANSAÇÕES .........................................................................................................................13 2.2.2. HEDGE DO BALANÇO...............................................................................................................................13 2.2.3. HEDGE OPERACIONAL .............................................................................................................................14 2.2.4. GESTÃO INTEGRADA DE RISCOS ..............................................................................................................14 2.3. TEORIA MODERNA SOBRE OS DETERMINANTES DO HEDGE EM EMPRESAS ............................................17 2.3.1. A RACIONALIDADE DO HEDGE ................................................................................................................17 2.3.2. REDUÇÃO DE CUSTOS DE FALÊNCIA........................................................................................................19 2.3.3. REDUÇÃO DE PROBLEMAS DE SUB-INVESTIMENTO .................................................................................22 2.3.4. CONFLITOS ENTRE O CAPITAL DE TERCEIROS E O CAPITAL PRÓPRIO .......................................................24 2.3.5. REDUÇÃO DE IMPOSTOS E HEDGE ...........................................................................................................27 2.3.6. CONFLITOS DE AGENCY ...........................................................................................................................29 2.4. PESQUISAS SOBRE AS PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS.........................................................................31 2.4.1. ESTUDOS ANALISADOS............................................................................................................................31 2.4.2. DOLDE (1993) .........................................................................................................................................31 2.4.3. PESQUISA DA WHARTON SCHOOL DE 1995 .............................................................................................33 2.4.4. PESQUISA DA WHARTON SCHOOL DE 1996 .............................................................................................35 2.4.5. PESQUISA DA WHARTON SCHOOL DE 1998 .............................................................................................38 2.4.6. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESTUDOS ..........................................................................................................43 2.5. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE FATORES DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO DE HEDGING DE EMPRESAS ........................................................................................................................................................45 2.5.1. ESTUDOS ANALISADOS............................................................................................................................45 2.5.2. A PESQUISA DE NANCE, SMITH E SMITHSON (1993) ...............................................................................45 2.5.3 O ESTUDO DE TUFANO (1996) .................................................................................................................49 2.5.4 O ESTUDO DE GECZKY, MINTON E SCHRAND (1997)...............................................................................52 2.5.5 O ESTUDO DE HAUSHALTER (2001) .........................................................................................................53 2.5.6 SUMÁRIO DAS EVIDÊNCIAS ......................................................................................................................54 2.6. ESTUDOS SOBRE IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE HEDGE COM O OBJETIVO DE CRIAR VALOR ..........................................................................................................................................................................56 2.6.1. A VIABILIDADE DA REDUÇÃO DE IMPOSTOS ...........................................................................................56 2.6.2. REDUÇÃO DA PROBABILIDADE DE FALÊNCIA ..........................................................................................59 2.6.3. HEDGING ESTRATÉGICO ..........................................................................................................................62 2.7. RESUMO DO REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................................64 3. DESCRIÇÃO DO CASO: A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE....................................................77 ix 3.1. A EMPRESA ...............................................................................................................................................77 3.1.1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................77 3.1.2 PRINCIPAIS LINHAS DE NEGÓCIOS ............................................................................................................79 3.1.3. CAPACITAÇÕES DIFERENCIAIS ................................................................................................................87 3.1.4 DESEMPENHO RECENTE ...........................................................................................................................91 3.2. PROJEÇÕES DE ANALISTAS.......................................................................................................................96 3.2.1. PREMISSAS DE CÂMBIO, VENDAS E CPV ................................................................................................96 3.2.2. EBITDA E CAPEX.................................................................................................................................97 3.2.3. REPAGAMENTO DA DÍVIDA E PAGAMENTO DE DIVIDENDOS ....................................................................99 4. METODOLOGIA E MODELAGEM.....................................................................................................101 4.1. TIPO DE PESQUISA ..................................................................................................................................101 4.2. COLETA DE DADOS .................................................................................................................................102 4.3. TRATAMENTO DOS DADOS .....................................................................................................................104 4.3.1. TIPO DE TRATAMENTO UTILIZADO ........................................................................................................104 4.3.2. TRATAMENTO QUALITATIVO.................................................................................................................105 4.3.3. TRATAMENTO QUANTITATIVO ..............................................................................................................105 4.4. MODELO DE SIMULAÇÃO .......................................................................................................................106 4.5. MODELO DE BOND RATING DESENVOLVIDO PELA MONITOR GROUP ...................................................109 4.6. LIMITAÇÕES DO MÉTODO ......................................................................................................................110 5. RESULTADOS .........................................................................................................................................112 5.1. ANÁLISE DA ESTRATÉGIA DE HEDGE DA CVRD ...................................................................................112 5.1.1. A POLÍTICA DE HEDGE DA CVRD.........................................................................................................112 5.1.2. RISCOS DA TAXA DE JUROS E DA TAXA DE CÂMBIO DA DÍVIDA DA CVRD ..........................................113 5.1.3. RISCOS DE TAXAS DE JUROS .................................................................................................................114 5.1.4. RISCOS DA TAXA DE CÂMBIO ................................................................................................................115 5.1.5. RISCO DE PREÇOS DE COMMODITIES ......................................................................................................117 5.1.6. A ADOÇÃO DO SFAS 133 .....................................................................................................................119 5.1.7. COMPARAÇÃO COM A TEORIA ...............................................................................................................121 5.2. POTENCIAL DE CRIAÇÃO DE VALOR ATRAVÉS DE HEDGE NA CVRD ..................................................127 5.2.1. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO DE SIMULAÇÃO .....................................................................127 6. CONCLUSÃO...........................................................................................................................................138 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................143 x LISTA DE TABELAS E FIGURAS FIGURA 1 – DIFICULDADES FINANCEIRAS E HEDGE......................................................................20 FIGURA 2 – CONVEXIDADE NA FUNÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA.............................................27 FIGURA 3 – REDUÇÃO DE IMPOSTOS ATRAVÉS DA GESTÃO DE RISCO ..................................28 FIGURA 4 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS DE ACORDO COM O TAMANHO, 1994 ..............34 FIGURA 5 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS POR CLASSE DE RISCO, 1995 ..............................37 FIGURA 6 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS DE ACORDO COM O TAMANHO, 1997 ..............39 FIGURA 7 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS POR SETOR INDUSTRIAL, 1997 ..........................40 FIGURA 8 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS POR CLASSE DE RISCO, 1997 ..............................42 TABELA 1 – PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCO NA INDÚSTRIA MINERADORA DE OURO NORTE-AMERICANA, 1990-1993 ..............................................................................................................50 FIGURA 9 –FLUXOS DE CAIXA E FRONTEIRAS DE FLUTUAÇÃO NO TEMPO..........................60 FIGURA 10 – DIAGRAMA DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA DA EMPRESA ......63 TABELA 2 – RESUMO DA BIBLIOGRAFIA............................................................................................64 FIGURA 11– UNIDADES DE NEGÓCIO DA CVRD................................................................................78 FIGURA 12 – MAPA LOGÍSTICO DA CVRD ..........................................................................................81 xi TABELA 3 – RESULTADOS FINANCEIROS CONSOLIDADOS, 1999 A 1S2001 (US$ MILHÕES) 91 FIGURA 13 – CAPITALIZAÇÃO DA EMPRESA EM US$ (1996 A 2S2001) ........................................92 FIGURA 14 – RECEITA CONSOLIDADA POR PRODUTO, JAN A SET DE 2001.............................93 TABELA 4 – FLUXOS DE CAIXA CONSOLIDADOS, 1999 A 1S 2001 (US$ MIL) .............................94 FIGURA 15 – EVOLUÇÃO DO ENDIVIDAMENTO, 1998 A 1S 2001 DE 2001 (US$ ‘000) .................95 TABELA 5 –PREMISSAS DE CÂMBIO (R$/ US$), 2001 A 2005 ............................................................96 TABELA 6 –RECEITA LÍQUIDA, 2001 A 2005 (US$ MIL).....................................................................97 TABELA 7 –CUSTOS DOS PRODUTOS VENDIDOS, 2001 A 2005 (US$ MIL) ...................................97 TABELA 8 – EBITDA DA CVRD, 2001 A 2005 (US$ MIL)......................................................................98 TABELA 9 – CAPEX DA CVRD, 2001 A 2005 (US$ MIL) .......................................................................98 TABELA 10 – INVESTIMENTOS EM COBRE E ENERGIA .................................................................98 TABELA 11 – REPAGAMENTO DAS DÍVIDAS, 2001 A 2005 (US$ MIL)............................................99 TABELA 12 – PERFIL DA DÍVIDA DE LONGO PRAZO DA CVRD, 1999 E 2000 (US$ MILHÕES) ........................................................................................................................................................................113 TABELA 13 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE TAXA DE JUROS DA CVRD, 1999 E 2000 (US$ MILHÕES)....................................................................................................................................................115 xii TABELA 14 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE TAXA DE CÂMBIO DA CVRD, 1999 E 2000 (US$ MILHÕES) ..........................................................................................................................................116 TABELA 15 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE PREÇOS DE ALUMÍNIO DA ALBRAS, 1999 E 2000 (US$ MILHÕES) .................................................................................................................................118 TABELA 16 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE PREÇOS DE ALUMÍNIO DA ALUNORTE, 1999 E 2000 (US$ MILHÕES)..............................................................................................................................119 TABELA 17 – GANHOS/ PERDAS LÍQUIDAS DAS POSIÇÕES DE DERIVATIVOS, 30 DE JUNHO DE 2001 (US$ MIL)......................................................................................................................................120 TABELA 18 – GANHOS/ PERDAS LÍQUIDAS DAS POSIÇÕES DE DERIVATIVOS, 30 DE JUNHO DE 2001 (US$ MIL)......................................................................................................................................121 TABELA 19 – INTENSIDADE DE USO DE DERIVATIVOS DA CVRD.............................................122 TABELA 20 – INTENSIDADE DE USO DE DERIVATIVOS DA CVRD POR CLASSE DE RISCO ........................................................................................................................................................................123 TABELA 21 – RESULTADOS DO FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL NO CENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ...............................................................................................................128 TABELA 22 – RESULTADOS DO FLUXO DE CAIXA DE INVESTIMENTOS NO CENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ...............................................................................................................129 TABELA 23 – FLUXO DE REPAGAMENTO DAS DÍVIDAS E DE PAGAMENTO DE DIVIDENDOS, 2001 A 2005 (US$ MIL) ....................................................................................................130 TABELA 24 – RESULTADOS DE FUNDING GAP NO CENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL)...............................................................................................................................................................131 FIGURA 16 – EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE FUNDING GAP NO CENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ...............................................................................................................................132 xiii FIGURA 17 – EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE FINANCIAMENTO NO CENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ..................................................................................133 FIGURA 18 – DISTRIBUIÇÕES DE FUNDING GAP, 2003 (US$ MIL)...............................................134 FIGURA 19 – DISTRIBUIÇÕES DE FUNDING GAP, 2004 (US$ MIL)...............................................134 FIGURA 20 – DISTRIBUIÇÕES DE CUSTOS DE FINANCIAMENTO, 2003 (US$ MIL) ................135 FIGURA 21 – DISTRIBUIÇÕES DE CUSTOS DE FINANCIAMENTO, 2004 (US$ MIL) ................136 1 1. O PROBLEMA 1.1. Introdução Em geral, empresas não-financeiras possuem custos e receitas sujeitos a complexos padrões de risco advindos, de um lado, da interação de negócios globais e decisões de financiamento, e de outro, da volatilidade de preços de commodities, taxas de câmbio e taxas de juros. Mudanças na taxa de câmbio podem gerar um acirramento na competição onde antes não havia nenhuma. De forma semelhante, flutuações de preços de commodities podem resultar em mudanças nos preços dos insumos, de tal forma a tornar produtos substitutos (feitos com outros insumos) mais acessíveis aos consumidores finais. A variação das taxa de juros têm impacto direto nos custos financeiros das empresas (No caso de empresas cujas vendas são inversamente relacionadas às taxa de juros, a elevação das taxas pode ainda causar dificuldades financeiras mais severas, pois resulta em crescimento dos custos acompanhado de queda nas vendas). Esses três riscos financeiros de preço são assim, tema do campo crescente da Gestão Financeira de Riscos. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1990) Pesquisas recentes evidenciam que as empresas estão tratando com grande seriedade esta questão. O trabalho de Rawls e Smithson (1993) observa que a gestão financeira de risco é apontada por executivos de finanças como um de seus objetivos mais importantes. Smith, Smithson, Wilford (1990), observam que, devido ao crescimento dessa necessidade de gestão desses riscos, o mercado financeiro reagiu rapidamente e observou-se recentemente a evolução de uma série de instrumentos financeiros que podem ser utilizadas para gerenciar 2 a crescente exposição ao risco financeiro de preço através de estratégias de hedge. Críticos do hedge questionam, contudo, se a redução da incerteza (variabilidade) dos fluxos de caixa, através do hedge, é uma razão suficiente para a gestão financeira de riscos. Além disso, é levantada a questão que concerne se tal gestão de riscos está de acordo com os interesses do acionista e com o objetivo de maximização do valor da empresa. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998) Dentro deste contexto, deve-se ressaltar o trabalho de M&M, Modigliani e Miller (1958), o qual é utilizado por muitos teóricos de finanças para fortalecer os argumentos contra a utilização de hedge em empresas. A lógica por trás desta argumentação contra o hedge, baseada no trabalho de M&M, é que a empresa cria valor através da gerência do lado esquerdo do balanço, ou seja, através de bons investimentos em ativos, equipamentos, pesquisa e desenvolvimento, etc; que permitam o incremento dos fluxos de caixa operacionais. A forma como a empresa financia esses investimentos (lado direito do balanço) é, portanto irrelevante, pois afeta apenas a forma como esse valor é dividido. A extrapolação deste conceito implica que a gestão financeira de riscos também seria indiferente, dado que consiste apenas em transações financeiras, não afetando o valor dos ativos operacionais da empresa. Entretanto, a teoria de finanças oferece diversas hipóteses para explicar a racionalidade do hedge, baseadas em alguma forma de imperfeição de mercado (que implicam em quebra das premissas do modelo de M&M). Tais hipóteses se baseiam no paradigma de maximização de valor para o acionista e na redução de 3 custos de agente, podendo-se citar os trabalhos de entre outros, Stulz (1984), Smith e Stulz (1985), Smith, Smithson e Wilford (1990), Stulz (1990) e Froot, Scharfstein e Stein (1993). Stulz (1996) ressalta, contudo a existência de um aparente conflito entre a teoria e a prática corrente da gestão de riscos em empresas. ! Este trabalho explora a racionalidade das políticas de gestão de riscos em empresas não-financeiras e tem como objetivo explorar tanto potenciais conflitos entre a prática de gestão de riscos e a teoria, como o potencial de criação de valor de políticas de gestão de riscos. Para tanto, foi realizado um estudo de caso na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), empresa não-financeira que possui política ativa de hedge. Temos assim, as seguintes questões permeando o mesmo: ! Existe conflito entre a prática de gestão de riscos na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a teoria sobre a racionalidade do hedge? ! Políticas que permitam reduções da Volatilidade dos fluxos de caixa da CVRD podem trazer ganhos para os acionistas da empresa? (que se forem maiores que os custos de gestão de risco implicarão em criação de valor para o mesmo) Este trabalho trata os termos “gestão de riscos”, “hedge” e “redução de volatilidade” (ou de incertezas) como sinônimos, dado que a teoria existente trata o racional do hedge e da gestão de riscos analisando os benefícios de políticas que permitam reduções de volatilidade dos fluxos de caixa da empresa nãofinanceira. 4 1.2. Objetivo O objetivo deste trabalho é estudar a prática de gestão de riscos financeiros na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) à luz da teoria sobre a racionalidade do hedge em empresas, visando avaliar as discrepâncias entre a teoria e a prática da gestão de riscos e analisar a existência potencial de ganhos que permitam a criação de valor através de uma estratégia integrada de Gestão de Riscos na CVRD. Para tanto, foram utilizadas informações públicas disponibilizadas pela empresa, relatórios de analistas financeiros sobre o desempenho da empresa e realizadas entrevistas com o departamento de gestão de riscos da empresa. Foi utilizado ainda um modelo de projeção dos fluxos de caixa da empresa e técnicas de simulação de Monte Carlo com o objetivo de determinar a existência de potencial de criação de valor para a CVRD de políticas de gestão de riscos. 1.3. Delimitações do Estudo O presente estudo não teve a pretensão de colocar um fim a questão da necessidade de hedge, ou de obter hipóteses de generalização quanto às razões pelas quais se faz hedge em empresas. Seu objetivo foi apenas o de contrapor a estratégia de hedge corrente na CVRD com a teoria sobre o assunto, ilustrando as diferenças entre a prática e a teoria. Além disso, é objetivo deste trabalho determinar a existência de potencial de ganhos para o acionista com uma estratégia de gestão de riscos na CVRD, mostrando que, apesar da grande evolução que se observou no emprego de técnicas de controle de risco em empresas (e.g. emprego de técnicas de Value-at-risk, Earnings-at-risk, Cashflow- 5 at-risk, dentre outros), existe ainda grande necessidade de implementação prática de estratégias de gestão de riscos voltada para o objetivo de maximização do valor para o acionista. Esta análise do potencial de ganhos, não pretende estimar precisamente o potencial de criação de valor, pois não são analisados os custos associados à gestão de riscos e também não se determina a viabilidade de reduções na volatilidade dos fluxos de caixa através dos diversos instrumentos de gestão de riscos. Deve-se ressaltar ainda que, para estimar o potencial de ganhos, não foram exploradas todas as possibilidades presentes na teoria, limitando-se o estudo a ganhos potenciais com a redução de custos de financiamento e de problemas de sub-investimento. Também não foi escopo deste trabalho avaliar a gestão de todos os riscos existentes na empresa estudada, concentrando seus esforços nos riscos de preço (câmbio, commodities ou taxas de juros) e na prática de hedge dos mesmos. 1.4. Relevância Smith, Smithson e Wilford (1995) analisam séries de preços de taxa de câmbio (US$ – Marco alemão), taxas de juros (U.S. Treasuries de 5 anos) e de commodities (preços de Petróleo no mercado americano), e constatam o aumento do risco nesses mercados, evidenciado pelo aumento da volatilidade nas séries analisadas. Este crescimento observado dos riscos financeiros, conforme já mencionado anteriormente, pode ser um fator complicador do processo de gestão de uma empresa e deixá-la exposta a eventos que podem ter impacto fortemente negativo no seu valor. Tal fato, por si só, já seria uma justificativa bastante plausível para um estudo em gestão de risco, dada a importância que tal 6 instrumento pode assumir na gestão de qualquer negócio. Entretanto, temos ainda outro aspecto a considerar: Froot, Scharfstein e Stein (1993) observam que, apesar da existência de extensa literatura sobre diversos aspectos práticos do que pode ser chamado de “mecânica de hedge”, a Literatura em Finanças oferece ainda respostas pouco claras no que concerne a que tipos de riscos devem ser gerenciados e a em que medida deve-se fazer hedge. Isto não quer dizer que não existam na literatura teorias sobre as razões de se fazer hedge. Inclusive já foram mencionados anteriormente diversos autores com trabalhos nesta linha de pesquisa. Contudo, não existe ainda uma estrutura sólida de conhecimento que permita avaliar a estratégia de hedge de empresas. Foram analisados também trabalhos acadêmicos e teses publicadas no Brasil permitindo observar a existência de grande interesse no assunto, devendose ressaltar a existência de grupos de discussão sobre o tema na internet (e.g. [email protected] ) e publicação de extensa literatura sobre a mecânica do hedge e técnicas de controle de risco (e.g. Value-at-risk), podendo-se mencionar os trabalhos de Lemgruber (1995); Lemgruber et Al (2001); Duarte (s.d.); Duarte, Pinheiro, Jordão e Bastos (s.d.) 1 e Moel (2000). Entretanto, não foi possível encontrar trabalhos explorando o paradigma de maximização de valor através de políticas de gestão de risco em empresas nãofinanceiras. A falta de uma estrutura sólida de conhecimento, tanto fora do Brasil quanto dentro, que permita avaliar a criação de valor através de estratégias de 7 hedge de empresas ressalta um aspecto importante de relevância do presente estudo, dado que o seu objetivo é, dentro do paradigma vigente, avaliar a possibilidade de implementação prática dos conceitos já existentes sobre o potencial de criação de valor via hedge em uma empresa brasileira que acredita dispor da “tecnologia de ponta” atual em termos de gestão de riscos. 1.5. Descrição dos Próximos Capítulos No capítulo 2 foi feita a revisão bibliográfica sobre o tema da gestão de riscos em empresas não-financeiras, na qual se buscou caracterizar as teorias que introduziram o racional da maximização de valor aplicado à gestão de riscos. Feita esta caracterização teórica, o capítulo ilustra os estudos que pesquisaram a prática das empresas não financeiras na gestão de riscos e os estudos que encontram evidências empíricas sobre estímulos ao hedge em função das razões oferecidas pela teoria para a execução de políticas de hedge. Finalmente, foi feita uma revisão de trabalhos que focam na implementação das teorias em empresas e no entendimento mais profundo das fontes de valor da gestão de risco e de qual deve ser o nível ótimo de hedge, dado a lógica oferecida pela teoria. O capítulo 3 descreve o estudo de caso, descrevendo as unidades de negócios, a estratégia e os resultados da empresa. Esta parte do estudo do caso é bastante descritiva e não precisa ser lida pelo leitor que não possui interesse em adquirir maior entendimento dos negócios da CVRD e do contexto no qual está inserida a sua prática de gestão de riscos. O capítulo é encerrado, apresentado as projeções dos analistas de mercado que foram utilizadas para a 1 Os artigos de Duarte e de Duarte, Pinheiro, Jordão e Bastos foram obtidos pela através do grupo de discussão [email protected] e não possuíam data 8 construção do modelo de simulação de Monte Carlo e para avaliar o potencial de ganhos com a redução da volatilidade dos fluxos de caixa da CVRD. O capítulo 4 discute a metodologia utilizada neste trabalho, descrevendo como se confeccionou, tanto o estudo de caso, quanto à análise das práticas de gestão de riscos observadas na CVRD e a modelagem utilizada para simular incertezas de preço observadas na empresa e o impacto da redução destas incertezas no valor da empresa. Os resultados da análise das práticas de gestão de riscos e da simulação de Monte Carlo são descritos no capítulo 5 e o capítulo 6 faz uma breve conclusão sobre o trabalho, criticando resultados e apresentando sugestões para pesquisas futuras. 9 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Definições de Risco e Hedge 2.1.1. Risco O termo risco possui uma variedade de significados em negócios e no senso comum. Niehaus (1999) afirma que, na sua forma mais genérica, risco é usado para descrever qualquer situação na qual exista incerteza com relação à ocorrência de um resultado. Neste trabalho, utilizou-se o conceito de Markowitz (1959) que definiu risco como sendo a variância dos retornos esperados de um ativo. Fabozzi (1995) atesta que se utilizava em análise de investimentos uma diversidade de definições para descrever risco e que o trabalho de Markowitz (1952) mudou a forma de pensar da comunidade de finanças, ao quantificar o conceito em termos de uma medida estatística amplamente conhecida. Utilizando-se dessa estrutura conceitual, Fabozzi (1995) classifica os ativos, de acordo com a incerteza dos seus retornos futuros, em ativos com risco e ativos sem risco. Um ativo com risco é aquele para o qual o retorno a ser realizado no futuro é incerto. Esta definição pode ser ilustrada por situações em que o investidor pretende deter um ativo por um determinado espaço de tempo, mas, no momento da compra, ele não sabe qual será o retorno realizado. Ativos para os quais o retorno a ser realizado no futuro é conhecido são denominados ativos sem risco (risk-free) como, por exemplo, um título do tesouro 10 americano que vence daqui a um ano e que o investidor pretende manter em seu portfolio até o seu vencimento. A ênfase deste trabalho se encontra nos riscos enfrentados por empresas não-financeiras e na gestão destes riscos. Niehaus (1999) afirma que os principais riscos enfrentados por empresas não-financeiras, os quais aumentam a variabilidade de seus fluxos de caixa, são o risco de preço, o risco de crédito e o risco puro. 2.1.2. Risco de Preço Riscos de preço referem-se a incertezas na magnitude dos fluxos de caixa devido a possíveis mudanças em preços de Entrada ou de Saída do processo produtivo da empresa não-financeira. Riscos de preço de Saída se referem a riscos de mudanças nos preços dos bens e serviços que a empresa produz. Riscos de preço de Entrada se referem a possíveis variações nos preços que a empresa deve pagar pela sua mão de obra, matérias-primas, e outros inputs do seu processo produtivo. A análise dos riscos de preço associados à venda e a produção de bens e serviços existentes e futuros possui um papel central na gerência estratégica de uma empresa. Os três tipos mais importantes de riscos de preço são os associados a preço de commodities, taxas de câmbio e taxas de juros. (NIEHAUS, 1999) 11 2.1.3. Risco de Crédito O risco de default, ou seja, de não pagamento de compromissos financeiros por consumidores de uma empresa ou por parceiros para os quais ela fez um financiamento é denominado risco de crédito. (NIEHAUS, 1999) Bessis (1998) ressalta que o risco de crédito se refere ainda ao risco de declínio no crédito disponível a uma contraparte. Tal deterioração não implica necessariamente em não pagamento, mas implica no aumento da probabilidade de default. Os mercados financeiros atribuem valor a esta probabilidade de falência aumentando a taxa de juros nas emissões dessas empresas, ou através de um declínio no valor de suas ações. 2.1.4. Risco Puro Skipper (1998) observa que, na literatura de seguros, é feita uma distinção entre riscos puros e riscos especulativos. Classifica-se como risco especulativo aquele cuja série de resultados possíveis pode ser tanto de ganhos, quanto de perdas. Assim, os Riscos puros são aqueles que não têm possibilidade de ganhos, alternando entre resultados com perda e sem perda. Niehaus (1999) classifica os tipos de perdas que podem advir de riscos puros em perdas diretas e indiretas. Perdas diretas são associadas a riscos de perdas por danos, destruição ou expropriação de ativos; pagamentos feitos a empregados por doença ou acidente de trabalho; e custos legais oriundos de processos movidos contra a empresa. 12 Perdas indiretas ocorrem como conseqüência de perdas diretas. Por exemplo, danos a ativos do processo produtivo podem resultar em perdas indiretas, por implicar em diminuição ou eliminação do fluxo caixa que o ativo geralmente geraria se não tivesse sofrido dano. 2.1.5. Hedge Estratégias de hedge consistem basicamente, em montar uma posição, quer seja adquirindo um fluxo de caixa, um ativo ou um contrato, a qual terá movimento de preço (cair ou subir) contrário a uma posição existente. Genericamente, o objetivo do hedge é, portanto, diminuir a incerteza de uma certa posição, protegendo o detentor de um certo ativo de possíveis flutuações no preço do mesmo. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998) Nance, Smith e Smithson (1993), classificam os instrumentos de hedge como instrumentos off-balance-sheet ou on-balance-sheet. Assim, a empresa pode fazer hedge utilizando instrumentos financeiros (off-balance-sheet), como contratos a termo, futuros, swaps e opções ou, alternativamente, utilizando estratégias on-balance-sheet, ou seja, realocando fábricas no exterior, tomando empréstimos em moeda estrangeira ou se valendo de opções reais que eventualmente possua (e.g. possibilidade de expansão, retração ou fechamento de uma planta produtiva), etc. 13 2.2. Tipos de Hedge Realizados por Empresas Não-Financeiras 2.2.1. Hedge de Transações O hedge de transações consiste em eliminar os riscos associados a determinadas obrigação ou bens e direitos sujeitos à volatilidade de preços que podem resultar em variações no fluxo de caixa da empresa. Esta operação trata individualmente exposições advindas de transações como: ! Compras ou vendas a crédito de bens ou serviços cujos preços são determinados em moeda estrangeira; ! Contas a receber ou contas a pagar ligados a preços de commodities ou em moeda estrangeira; ! Dívidas adquiridas ou empréstimos a terceiros, com taxas de juros variáveis ou em moeda estrangeira; A exposição a uma transação existe até que o pagamento seja recebido ou efetuado pela empresa. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998) 2.2.2. Hedge do Balanço Exposições de balanço ocorrem porque as demonstrações financeiras de empresas são impactadas pelos riscos de preço a que estas estão submetidas e porque as demonstrações financeiras de filiais internacionais, que são apuradas em moeda estrangeira, precisam ser consolidadas nas demonstrações da empresa matriz em moeda local. Desta forma, o hedge de balanço busca gerenciar variações no patrimônio líquido ou nos lucros de uma empresa não- 14 financeira, causadas por variações de preço em relação à última contabilização das demonstrações financeiras. 2.2.3. Hedge Operacional O hedge operacional consiste em gerenciar o risco do conjunto de operações da empresa, possuindo maior efeito sobre a saúde financeira de longoprazo de uma empresa não-financeira do que o hedge de transações e o hedge de balanço. O planejamento da exposição operacional é uma função gerencial mais ampla, pois envolve estratégias financeiras, de marketing, de suprimento e de produção. Sob esta perspectiva mais ampla, o hedge operacional não gerencia apenas a sensibilidade do fluxo de caixa da empresa à volatilidade de commodities, taxas de câmbio e de juros, mas também a sua sensibilidade operacional à incerteza macroeconômica, levando em consideração correlações entre as diversas fontes de riscos. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998) 2.2.4. Gestão Integrada de Riscos Segundo Skipper (1998), a Gestão de Riscos está sofrendo mudanças e evoluiu de uma visão fragmentada, na qual se preocupava apenas com os riscos puros ou apenas com os riscos de preço; para uma abordagem integrada, que envolve todos os riscos aos quais uma empresa está exposta. Shapiro e Titman (1985) atestam que é típico que tais decisões − do tipo quanto comprar de seguro contra incêndio, ou a decisão de fazer ou não hedge de um risco específico de câmbio − sejam tomadas independentemente (provavelmente porque cada uma lida com uma fonte diferente de risco). Todavia, 15 como cada uma dessas decisões afeta o risco total da empresa (apesar de com custos e conseqüências diferentes), existem benefícios claros para atividades integradas de gestão de risco. Niehaus (1999) observa que, independente do tipo de risco que se está considerando, o processo de gestão de risco envolve as seguintes etapas-chave: 1. Identificação dos riscos significativos que podem reduzir o valor do negócio; 2. Avaliação da probabilidade associada aos riscos e de quão severos podem ser os efeitos dos mesmos; 2 3. Desenvolvimento e seleção de métodos para gerenciar o risco de forma a aumentar o valor da empresa para o acionista; 4. Implementação dos métodos de gestão de risco escolhidos; 5. Monitoramento contínuo da performance e da adequação dos métodos e estratégias de gestão de riscos da empresa Segundo Shapiro e Titman (1985), o objetivo da gestão integrada de riscos é contribuir para a criação de valor na empresa. Estes autores afirmam que, na medida que o risco total aumenta, o custo dos negócios da empresa também aumenta, diminuindo assim o nível dos fluxos líquidos de caixas esperados. Se tal fato se observa, então a redução do risco total é capaz de aumentar os fluxos esperados de caixa, aumentando assim o valor da empresa. 2 Se possível tal etapa inclui uma estimativa da perda máxima que pode ocorrer com um certo nível de confiança. Esse valor é conhecido como Maximum Probable Loss, na Gestão de Riscos Puros, e como Valueat-risk, na Gestão Financeira de Riscos. 16 Existe distinção na literatura entre a gestão de riscos puros e a gestão financeira de riscos. A gestão de riscos puros se preocupa com os eventos tradicionais de perdas como incêndios e vendavais, e com decisões de compra de seguros ou de investimento em projetos de controles de danos. Já a gestão financeira de riscos se preocupa com a redução da volatilidade dos riscos de preço e com decisões de como e quanto fazer de hedge. (SKIPPER, 1999). 17 2.3. Teoria Moderna sobre os determinantes do Hedge em empresas 2.3.1. A Racionalidade do Hedge O fato de uma empresa se confrontar com os riscos financeiros de preço mencionados anteriormente (risco de preços de comoditties, taxa de câmbio e taxa de juros) é uma condição necessária para que uma empresa gerencie o risco, mas não é uma condição suficiente. Para que haja uma racionalidade na gestão de risco de uma empresa, é necessário que tal gestão aumente o valor esperado da empresa. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1990) Uma forma de se medir o valor da empresa amplamente utilizada na literatura de finanças corporativas é o método do fluxo de caixa descontado. Esse método tem como base o conceito de valor presente líquido, que permite calcular o valor de um ativo trazendo a valor presente os fluxos de caixa futuros esperados do mesmo. (ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 1995) Utilizando essa metodologia, Damodaran (1994) define que o valor da firma pode ser obtido descontando-se o fluxo de caixa líquido esperado dos ativos da firma, após o pagamento de impostos, ao custo médio ponderado de capital. Onde, o custo médio ponderado de capital, é a média dos diferentes componentes de financiamentos usados pela empresa, ponderados pelos seus respectivos valores de mercado. 18 Temos assim: n Valor da Firma = ∑ tt = =1 FCLt (1 + wacc) t Onde: FCL = fluxo de caixa livre esperado no período t t WACC = Custo Médio Ponderado de Capital Modigliani e Miller (1958) mostram que, com uma política de investimentos fixa e sem custos de falência ou impostos, decisões com relação à estrutura de capital da empresa não afetam o valor da firma. Este argumento está sendo utilizado pelos estudiosos da gerência de risco, para avaliar a relevância da política de hedge. Seguindo a lógica de argumentação do trabalho de M&M, defende-se que, se a empresa decide mudar a sua política de hedge, os investidores que possuem títulos emitidos pela empresa podem alterar a sua posição de ativos de risco e anular qualquer mudança feita pela empresa na política de hedge, tornando a mesma irrelevante em termos de valor para o acionista. Entretanto, quando as premissas do trabalho de M&M (política de investimentos fixa, ausência de custos de falência e de impostos) são quebradas, decisões relativas à estrutura de capital podem afetar o valor da empresa. Desta forma, seguindo também esta linha de raciocínio, a teoria de finanças oferece diversas hipóteses para explicar as situações em que a utilização do hedge em empresas pode ser classificada como uma estratégia racional, ou, como uma atividade que cria valor para a empresa. (GAY e NAM, 1998) 19 Os estudos de Smith e Stulz (1985); Nance, Smith e Smithson (1993); Froot, Scharfstein, e Stein (1993); Colquitt e Hoyt (1997); Gay e Nam (1998) utilizam hipóteses baseadas no paradigma da maximização do valor da empresa para o acionista, e analisa as possibilidades do hedge aumentar o valor da empresa através de três fatores principais: (1) custos de falência (2) problemas de sub-investimento (Estes trabalhos examinam também conflitos de interesse entre o capital de terceiros e o capital próprio, que podem resultar em problemas de sub-investimento), e (3) Impostos. Os estudos de Smith e Stulz (1985); Nance, Smith e Smithson (1993); Tufano (1996) e Tufano (1998), se utilizam ainda de mais uma hipótese, baseada na teoria de agentes, que analisa políticas de gestão de risco orientadas pelas razões pessoais dos gerentes, que buscam a maximização de sua riqueza pessoal em detrimento do interesse dos acionistas. 2.3.2. Redução de Custos de Falência A possibilidade de falência exerce um efeito negativo sobre o valor da empresa. Entretanto, não é o risco de falência em si que provoca a redução do valor, mas sim os custos de dificuldades financeiras observadas na falência. (ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 1995) De acordo com o que já foi apresentado até este ponto do trabalho, temos que a gestão de risco reduz a volatilidade do valor da empresa. Smith, Smithson e Wilford (1995) vão mais adiante, como pode ser observado na figura 1, e mostram que, ao reduzir a volatilidade, a gestão de risco reduz a probabilidade de uma 20 empresa encontrar dificuldades financeiras e, conseqüentemente, os custos de falência. Figura 1 – Dificuldades Financeiras e Hedge Smith, Smithson, Wilford (1995) mostram que o valor da empresa possui uma distribuição de probabilidade inerente e que dentro desta distribuição, existe um conjunto de valores para os quais a empresa encontraria dificuldades financeiras. Com base nesta análise, eles mostram que o hedge altera esta distribuição de probabilidades, reduzindo a probabilidade de a empresa encontrar dificuldades financeiras. Valor da Empresa sem Hedge Probabilidade de encontrar dificuldades financeiras Distribuição Inerente Valor da Empresa com Hedge Distribuição após o hedge Probabilidade de encontrar dificuldades financeiras Distribuição Inerente Fonte: Smith, Smithson e Wilford (1995) A medida exata do quanto à gestão de risco é capaz de reduzir esses custos depende de dois fatores: A probabilidade da empresa encontrar dificuldades financeiras se não fizer o hedge, e os custos (diretos e indiretos) incorridos, se a falência ocorrer. Quanto maior a probabilidade de custos de 21 falência, maiores os benefícios da gestão financeira de risco, pois a mesma possibilita a redução desses custos. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1995) A probabilidade de uma firma falir é determinada por dois fatores: A cobertura das obrigações fixas (porque a probabilidade de default aumenta à medida que a cobertura – hedge – das obrigações fixas diminui), e a volatilidade das receitas (porque a probabilidade de default aumenta à medida que a receita da empresa se torna mais volátil). Ross, Westerfield e Jaffe (1995) definem que os custos de falência, ou custos de dificuldades financeiras, têm duas componentes principais: Os custos de falência diretos e os indiretos: ! Os custos diretos são as despesas judiciais e administrativas de liquidação ou concordata. ! Os custos indiretos são relativos a redução de capacidade de operação da empresa, pois o risco de falência afeta o relacionamento com clientes e fornecedores. Freqüentemente, há perda de vendas por temor de interrupção de serviço e perda de confiança. Se os acionistas de uma empresa percebem a falência como uma possibilidade real, então o valor presente esperado desses custos se refletirá no preço corrente de mercado da empresa. Um programa de gestão de risco que diminui esse risco de falência reduz esses custos e, ao fazer isso, aumenta o valor da empresa. (STULZ, 1998) 22 2.3.3. Redução de Problemas de Sub-Investimento Gay e Nam (1998) atestam que a existência de custos de financiamento externos (capital de terceiros) caros quando comparados ao custo do capital gerado internamente (capital próprio), é uma imperfeição de mercado que torna o hedge uma estratégia que cria valor para a empresa. Quando as empresas consideram que o financiamento externo está caro demais, pode ocorrer um problema de sub-investimento, pois elas são obrigadas a reduzir os gastos com investimentos quando o caixa gerado internamente não é suficiente para financiar as oportunidades de crescimento. O hedge, ou a gestão financeira de risco, ao antecipar esta situação, cria valor, na medida que permite a garantia que a empresa possuirá caixa suficiente disponível para aproveitar oportunidades atrativas de investimento. Froot, Scharfstein e Stein (1993) desenvolveram um framework geral para a análise da gestão financeira de risco na presença de financiamento externo de alto custo. O paradigma deste estudo reside em três premissas: 1. A criação de valor para a empresa é feita através de investimentos com valor presente líquido (VPL) positivo. 2. Um fator chave para dar suporte a boas oportunidades de investimento é a geração interna de caixa suficiente para financiar esses investimentos. 3. O caixa gerado internamento, que é crítico para o processo de investimento, pode ser perturbado por fatores externos, tais como, 23 movimentos de taxas de câmbio, taxas de juros ou preços de commodities. Dentro deste contexto, Froot, Scharfstein e Stein (1994), mostram que a atividade de hedge na empresa pode criar valor, na medida que garante que a empresa possuirá caixa suficiente para fazer frente a investimentos que aumentarão o seu valor. A lógica básica para esse pensamento é a seguinte: Quando uma empresa não faz hedge, existe alguma variabilidade no fluxo de caixa gerado pelos seus ativos. Tal fato resultará em variabilidade na quantidade de dinheiro captada externamente e/ou, variabilidade na quantia de investimentos. A existência de volatilidade nos investimentos é geralmente indesejável, dado que o retorno desses investimentos é uma função côncava, ou seja, que cresce progressivamente, com o aumento do volume de investimentos. Se o suprimento de financiamento externo fosse perfeitamente elástico, a solução ex post ótima seria deixar o plano de investimento inalterado em face de variabilidade no fluxo de caixa interno, preenchendo a diferença via mudanças na quantidade de caixa externo captado. Infelizmente, este procedimento passa a não ser mais válido na medida que o custo marginal desses fundos cresce com a quantidade captada externamente. Neste caso, se o caixa interno for insuficiente, pode-se resolver o problema com algum aumento no financiamento externo, mas também com uma redução nos investimentos. Assim, a variabilidade no fluxo de caixa dos ativos altera tanto os planos de financiamento, quanto os de investimento, gerando um custo para a empresa. Na 24 medida que o hedge é capaz de reduzir a variabilidade nos fluxos de caixa, ele é capaz de aumentar o valor da empresa. (FROOT, SCHARFSTEIN, STEIN, 1993) 2.3.4. Conflitos entre o capital de Terceiros e o Capital Próprio Quando uma empresa utiliza capital de terceiros, surgem conflitos de interesse entre acionistas e credores. Esses conflitos resultam da diferença no tipo de ativo que cada um carrega, pois os credores possuem um ativo com renda fixa e os acionistas possuem um ativo equivalente a uma opção de compra no valor da empresa e com preço de exercício igual ao valor das dívidas da empresa3. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1995) Ross, Westerfield e Jaffe (1995), descrevem três tipos de estratégias que os acionistas utilizam para favorecer a si próprios, em detrimento dos credores: 1. Incentivo a Assumir Riscos Elevados. As empresas próximas da falência diversas vezes apresentam uma tendência a se arriscar muito porque os acionistas não têm muito o quê perder ao correr grandes riscos. Tal fato se deve às particularidades do tipo de obrigação que os acionistas possuem, conforme já mencionado, pois os mesmos são indiferentes (em termos de risco) à escolha de um projeto que, por exemplo, apresente o risco de a empresa ficar com seu valor igual ao valor das suas dívidas (caso em que os acionistas ficariam com nada, mas os credores receberiam as obrigações na integra) e um projeto no qual o risco é maior e no qual a empresa pode ficar com seu valor muito 25 inferior ao valor das suas dívidas, porém com maiores chances de ganhos. Por exemplo, os acionistas tendem a preferir um projeto no qual a empresa corre o risco de ter o seu valor reduzido à metade do valor das dívidas (caso em que os acionistas não conseguem ganhos, mas os credores recebem somente a metade das obrigações a que têm direito), porém as suas chances de ganho são maiores do que uma outra alternativa na qual os acionistas também possam ficar sem ganhos, mas que preserva uma parcela maior das obrigações a que os credores têm direito. Assim, existe uma tendência a escolher projetos mais arriscados que possuam maior promessa de retorno. Neste caso, os acionistas retiram riqueza dos credores ao selecionarem projetos de alto risco. 2. Incentivo ao Sub-investimento. Os acionistas de uma empresa na qual a probabilidade de falência é elevada freqüentemente constatam que novos investimentos ajudam os credores, às custas dos acionistas. A discussão desta estratégia é muito semelhante a anterior e se deve ao fato de que, diante da perspectiva de falência, os acionistas não possuem estímulo a fazer novos investimentos com valor presente positivo, se estes não forem suficientes para impedir a falência (pois os únicos beneficiados desse valor presente positivo seriam os credores). 3. Esvaziar a Propriedade. Uma outra estratégia consiste em pagar dividendos extraordinários ou fazer outros tipos de pagamento aos 3 Esta afirmação se deve ao fato que, se o valor da empresa for superior ao valor das dívidas, os acionistas tem a opção de pagar as mesmas e “ficar” com a empresa e, se o valor da empresa for inferior ao valor das dívidas, o acionista não paga as mesmas e “perde” a empresa. 26 acionistas em situação de dificuldades financeiras, deixando menos ativos para os credores. Isto é equivalente a esvaziar a propriedade. Ross, Westerfield e Jaffe (1995), afirmam que os credores potenciais sabem da possibilidade de comportamento oportunista por parte dos acionistas, e se protegem diminuindo o preço que os mesmos estão dispostos a pagar pelos títulos de dívida da empresa e elevando as taxas de juros que exigem nas obrigações. Assim, como os acionistas devem pagar essa taxa mais alta, em última instância acabam pagando os custos associados a tais conflitos de interesse. Como resultado de tais conflitos, pode-se observar redução na capacidade de endividamento ou aumento do custo de endividamento da firma. Para convencer os credores potenciais a pagar mais pelos títulos de dívida, os acionistas precisam criar garantias de que não haverá transferência de riqueza. Estas garantias freqüentemente têm sido dadas através de cláusulas protetoras na emissão dos títulos, através de convertibilidade das dívidas em ações, e através da emissão de ações preferenciais ao invés de dívida (para diminuir as chances de que as condições futuras de mercado possam levar a uma situação de default). (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1995) Nance, Smith e Smithson (1993), afirmam que o conflito entre credores e acionistas também pode ser reduzido através da gestão financeira de risco. A gestão financeira de risco reduz o risco de default, de modo que os detentores potenciais de títulos da dívida estarão dispostos a pagar mais pelo mesmo. Da mesma forma, a gestão financeira pode resultar em uma diminuição do coupon pago pela empresa em suas dívidas. 27 2.3.5. Redução de Impostos e Hedge O potencial de benefícios fiscais advindos da gestão de risco deriva da interação entre a habilidade de redução da volatilidade dos lucros tributáveis reportados e da existência de taxação progressiva de imposto de renda, que se observa na maioria das legislações tributárias do mundo. Essa taxação progressiva significa que a taxa de imposto efetivamente paga pela empresa aumenta com o crescimento do lucro antes de imposto, e temos assim uma relação de convexidade entre o lucro antes do imposto de renda e o imposto de renda a pagar conforme ilustrado na figura 2. (SMITH, STULZ, 1985) Figura 2 – Convexidade na Função de Imposto de Renda IR A existência de taxação progressiva significa que a taxa de imposto efetivamente paga pela empresa aumenta com o crescimento do lucro antes de imposto, e temos assim uma relação de convexidade entre o lucro antes do imposto de renda e o imposto de renda a pagar. Lucro antes de IR Taxa Linear de IR Taxa Progressiva de IR Fonte: Smith, Smithson e Wilford (1995) Devido a essa convexidade, existem benefícios em “gerenciar” o lucro reportado, de forma a mantê-lo em um intervalo ótimo. Assim, através da redução das flutuações do lucro tributável, a gestão de risco pode permitir o pagamento de 28 menos imposto ao garantir que, durante um ciclo de negócios, a maior parcela dos lucros da empresa se situe dentro deste intervalo ótimo de taxas de imposto de renda. Smith, Smithson e Wilford (1995) ilustram esta teoria graficamente, conforme pode se observar na figura 3: Figura 3 – Redução de Impostos através da Gestão de Risco IR ($) Se uma empresa possui lucros antes de imposto de renda, situados em uma zona de convexidade da curva de alíquotas de imposto de renda, e o seu resultado possui variabilidade tal que os seus lucros antes de IR flutuem entre os pontos LAIR mínimo e LAIR máximo de alíquota de impostos, ela possuirá um custo esperado de Imposto de Renda superior ao custo que teria se tivesse possuído um Lucro Antes de IR sempre igual à média (ou ao redor dela) entre LAIR mínimo e LAIR máximo. Desta forma, se a empresa conseguir, através do hedge diminuir a volatilidades de seus lucros antes de imposto, situando-as ao redor da média da sua distribuição de lucros, ela reduzirá seus custos de IR. IR máximo IR anual esperado sem hedge IR anual esperado com hedge IR mínimo LAIR mínimo Média LAIR máximo Lucro antes de IR ($) Fonte: Smith, Smithson e Wilford (1995) Considerando-se uma empresa que possui exposição financeira a riscos de preço e supondo que, se a empresa não fizer hedge, a distribuição dos seus lucros é tal que o mesmo pode se situar entre um LAIR mínimo e LAIR (máximo), 29 pode-se observar pelo gráfico que, caso a empresa tenha esta distribuição lucros dentro de uma região progressiva de taxação de Imposto de renda, ela possuirá um valor esperado de IR mais baixo se fizer hedge. Tal resultado se deve ao fato que, se essa empresa não fizer hedge, ela terá o valor esperado de IR situado na reta que liga os pontos IR mínimo e IR máximo, enquanto que, se a empresa fizer hedge, ela terá os seus lucros distribuídos em torno da média de lucro (entre o LAIR mínimo e o LAIR máximo) e, portanto o IR médio, nesse caso, se situará na região de convexidade da curva de IR. 2.3.6. Conflitos de Agency A diminuição de conflitos de interesse entre a gerência das empresas e os acionistas, é uma outra razão apontada na teoria de finanças para ganhos com a criação de uma política de hedge orientada para a criação de valor para o acionista. (SMITH, SMITHSON e WILFORD, 1995) Estes conflitos de Agency ocorrem quando a gerência busca maximizar a sua função de objetivos pessoais de ganhos, em detrimento dos interesses dos acionistas. Estes conflitos tornam-se mais relevantes de acordo com os incentivos que são criados para as ações da gerência na sua relação com a empresa, tais como, a avaliação de sua performance, a política de crescimento profissional, os critérios que determinam a sua remuneração fixa e remuneração variável e a distribuição de ações ou opções da empresa. Desta forma, a gerência pode ser estimulada a considerar a sua riqueza pessoal e suas preferências em termos de aversão a risco. 30 Pode-se argumentar, entretanto, que as preferências dos acionistas e da gerência, pois a busca de maximização do valor para o acionista tende a beneficiar a gerência. Entretanto, a riqueza pessoal da gerência tende a estar mais concentrada no valor da empresa, ao contrário dos acionistas, que podem possuir portfolios diversificados e tal fato tende a estimular a proteção de sua riqueza pessoal através de políticas de hedging. Se estas políticas não estiverem desenhadas de forma a criar valor para os acionistas, a tendência é que os mesmos paguem pelos custos de gestão de riscos e que se destrua valor sob a ótica dos acionistas. 31 2.4. Pesquisas sobre as Práticas de Gestão de Riscos 2.4.1. Estudos Analisados Diversos estudos analisam evidências empíricas sobre as práticas de gestão de riscos e foram escolhidos os estudos de Dolde (1993) e as três pesquisas realizadas pela Wharton School, respectivamente em 1995 (BODNAR, HAYT, MARSTON, SMITHSON, 1995), 1996 (BODNAR, HAYT, MARSTON, 1996) e 1998 (BODNAR, HAYT, MARSTON, 1998); para ilustrar a evolução observada nas práticas de gestão de riscos. Estas pesquisas foram caracterizadas pela utilização de questionários de pesquisa para detalhar as particularidades da prática de gestão de riscos em empresas não-financeiras. 2.4.2. Dolde (1993) Dolde (1993) enviou um questionário sobre Gestão de Riscos Financeiros de taxas de câmbio e taxas de juros para todas as empresas da Fortune 500 em 1992. A amostra do estudo foi de 244 empresas que responderam ao questionário onde se observou: Utilização de derivativos: ! 85 % reportaram utilizar swaps, contratos a termo, futuros ou opções na gestão de riscos financeiros de taxas de câmbio e taxas de juros; ! Os usuários de instrumentos de gestão de riscos eram substancialmente maiores que os não-usuários. Por exemplo, o valor de 32 mercado médio dos usuários era de US$ 5,4 bilhões, comparados a uma média de US$ 1,8 bilhões para os não-usuários; ! Empresas maiores possuíam menor probabilidade de fazer hedge intenso de exposições a taxas de câmbio e taxas de juros. As empresas que faziam hedge de uma fração de sua exposição maior do que a mediana das frações de hedge observadas tinham a metade do tamanho das empresas que faziam hedge de uma fração menor do que a mediana; ! As maiores empresas do Fortune 500 possuíam maior probabilidade de utilização de derivativos, porém empresas menores do Fortune 500 que usam derivativos fazem hedge de uma fração maior de sua exposição. Focos na Gestão dos Riscos: ! Dolde observou ainda, que o foco na grande maioria das empresas era em fazer o hedge de exposições a transações e de exposições de curto-prazo. Influência da Visão de Mercado: ! Uma evidência interessante adicional advinda deste trabalho se refere à questão sobre a influência da visão da empresa sobre as decisões de hedge; ! Várias empresas, ao serem requisitadas a estimar a parcela de sua exposição para a qual fazem hedge, disseram que tal decisão depende se eles tiverem ou não uma previsão do movimento de mercado; 33 ! Aproximadamente 90% dos usuários de derivativos da pesquisa afirmaram que utilizam algumas vezes sua visão de mercado; ! Adicionalmente, Dolde (1993) observou que esta visão de mercado é menos importante para as empresas menores que, quando utilizam sua visão de mercado, fazem menos hedge do que empresas maiores; ! Este fato é citado por Stulz (1999) como um indicativo que grandes empresas tendem a fazer um “auto-seguro” de sua exposição, ou seja, quando possuem uma crença de mercado, fazem hedge de uma parcela menor de sua exposição, e utilizam sua “força financeira” para garantir o risco corrido. 2.4.3. Pesquisa da Wharton School de 1995 Os questionários da pesquisa da Wharton School e do Chase Manhattan Bank, foram enviadas para uma amostra aleatória de 2000 empresas nãofinanceiras em Novembro de 1994. (BODNAR, HAYT, MARSTON, SMITHSON, 1995) Destes questionários, 530 foram recebidos de volta e os resultados observaram foram os seguintes: Utilização de derivativos: ! Apenas 183, ou 34,5% das empresas que responderam à pesquisa utilizavam derivativos; 34 ! Quando os autores dividiram as empresas de acordo com o tamanho, observaram que 65% das empresas com valor de mercado acima de US$ 250 milhões usavam derivativos, mas apenas 13% das empresas com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões os utilizavam, evidenciando maior utilização de derivativos por empresas maiores, como pode ser observado na figura 4; Figura 4 – Utilização de Derivativos de Acordo com o Tamanho, 1994 Tamanho (Valor de Mercado - US$ milhões) Bodnar Hayt e Marston (1995) dividiram a amostra de empresas de seu estudo em empresas de tamanho pequeno (com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões), médio (valor de mercado Pequeno (abaixo de $50) 13 Médio (de $50 a $250) 22 Grande (acima de $250) 65 0 20 40 60 80 entre US$ 50 milhões e US$ 250 milhões) e grande (com valor de mercado acima de US$ 250 milhões). Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1995) Focos na Gestão dos Riscos: ! 75,4% das empresas pesquisadas utilizavam derivativos para fazer hedge de transações e a maioria destas empresas dizia que o fazem freqüentemente; 35 ! 44,8% das empresas freqüentemente utilizam derivativos para fazer hedge de transações previstas para os próximos 12 meses e apenas 14,2% fazem hedge freqüentemente de transações previstas para prazos acima de 12 meses. ! 60,7% afirmam nunca usar derivativos para arbitrar mercados ! 51,3% afirmam nunca utilizar derivativos para fazer hedge de balanço; ! Aproximadamente 66% afirmam que não usam derivativos para fazer hedge de exposição operacional ou estratégica; Influência da Visão de Mercado: ! Finalmente, 52,5% afirmam nunca usar derivativos para obter resultados através de uma previsão de mercado. 2.4.4. Pesquisa da Wharton School de 1996 Em Outubro de 1995 o estudo foi revisado e foram enviados questionários para a mesma amostra e, adicionalmente, foram incluídas empresas do Fortune 500 que não estavam na pesquisa de 1994. (BODNAR, HAYT, MARSTON, 1996) Um total de 350 questionários foi respondido, nos quais se observou o seguinte: 36 Utilização de derivativos: ! 143 empresas, ou 41% da amostra de respostas reportaram utilizar derivativos; ! Quando apenas empresas que responderam à primeira pesquisa foram utilizadas, observou-se que a sua utilização de derivativos aumentou de 35% para 39% da primeira para a segunda pesquisa; Instrumentos Derivativos Utilizados: ! A segunda pesquisa considerou os tipos de derivativos que os usuários utilizaram e observou que 76% dos usuários utilizaram instrumentos derivativos de taxa de câmbio e que, neste caso, o instrumento mais utilizado foi o contrato a termo; ! 73% utilizaram derivativos de taxa de juros e o instrumento mais utilizado foi o Swap; ! Finalmente, 37% utilizam derivativos de commodities e o instrumento mais utilizado foi o contrato futuro; ! A figura 5 ilustra a distribuição por classes de risco observadas: 37 Figura 5 – Utilização de Derivativos por Classe de Risco, 1995 Bodnar Hayt e Marston (1996) dividiram as empresas da amostra que utilizavam derivativos em termos das classes de riscos a que se aplicavam os instrumentos utilizados. Os tipos de riscos utilizados foram riscos de câmbio, juros e commodities. Tipos de Risco Câmbio 76 Juros 73 Commodity 37 0 20 40 60 80 Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1996) Focos na Gestão dos Riscos: ! 49% das empresas que utilizavam derivativos afirmaram que o seu foco era reduzir a volatilidade dos fluxos de caixa ! 42% apontaram a redução da volatilidade dos lucros; ! 8% apontaram a volatilidade do valor de mercado da empresa; e ! 1% a volatilidade do balanço financeiro Focos na Gestão de Riscos de exposições a taxa de câmbio: ! As empresas apresentaram maior foco em transações comprometimento contratual e em transações antecipadas; com 38 ! Não apresentaram muita preocupação com exposições que venciam em mais de um ano. 53% das empresas que usavam derivativos possuíam apenas derivativos de custo prazo, com vencimento entre 180 dias e o vencimento do ano fiscal; Influência da Visão de Mercado: ! Novamente, foram encontradas evidências que grande parcela das empresas deixam a sua visão de mercado influenciar a política de hedge. ! A grande maioria afirma que a sua visão de mercado afeta algumas vezes o timing de fazer o hedge de taxas de câmbio e de taxas de juros; ! 33% dos usuários afirmar que eventualmente “assume posições ativas” baseadas na sua visão sobre as taxas de câmbio 2.4.5. Pesquisa da Wharton School de 1998 A terceira pesquisa de Wharton foi realizada em Outubro de 1997. A amostra consistiu nas 2.000 empresas utilizadas no estudo de 1994 mais as 154 empresas do Fortune 500 incluídas no estudo de 1995. Em função de fusões, aquisições e falências, esta amostra consistia de um total de 1.928 empresas. (BODNAR, HAYT, MARSTON, 1998) Um total de 399 questionários foi respondido, nos quais se observaram os seguintes resultados: 39 Utilização de derivativos: ! 200 empresas, ou 50% da amostra de respostas reportaram utilizar derivativos; ! Dividindo-se as empresas de acordo com o tamanho, observou-se que 83% das empresas com valor de mercado acima de US$ 250 milhões usavam derivativos e apenas 12% das empresas com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões os utilizavam, evidenciando novamente maior utilização de derivativos por empresas maiores; Figura 6 – Utilização de Derivativos de Acordo com o Tamanho, 1997 Tamanho (Valor de Mercado - US$ milhões) Bodnar Hayt e Marston (1998) dividiram a amostra de empresas de seu estudo em empresas de tamanho pequeno (com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões), médio (valor de mercado entre US$ 50 milhões e US$ 250 milhões) e grande (com valor de mercado acima de US$ 250 milhões). Pequeno (abaixo de $50) 12 Médio (de $50 a $250) 45 Grande (acima de $250) 83 0 20 40 60 80 Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1998) 100 40 ! Para evidenciar as mudanças na intensidade de utilização de ativos, foi perguntado como a utilização de derivativos variou (com base no valor nocional dos contratos) e observou-se que 42% indicaram que o uso aumentou, comparado a apenas 13% que indicaram uma diminuição; ! Em termos de indústria, a utilização é maior por produtores de produtos primários dos quais 68% reportaram utilização de derivativos, nas empresas industriais o valor foi de 48% e nas de serviço 42%, conforme pode ser observado na figura 7; Figura 7 – Utilização de Derivativos por Setor Industrial, 1997 Bodnar Hayt e Marston (1996) dividiram as empresas da amostra que utilizavam derivativos em termos dos setores industriais a que pertenciam. Os setores industriais utilizados foram: Primário, industrial e de serviços. Ramo de Atividade Primário 68 Industrial 48 Serviços 42 0 20 40 60 Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1998) 80 41 Instrumentos Derivativos Utilizados: ! 83% dos usuários utilizaram instrumentos derivativos de taxa de câmbio, 76% utilizaram derivativos de taxa de juros, 56% utilizaram derivativos de commodities e 34% utilizaram derivativos de equity; ! A utilização de instrumentos por classe de risco é dependente do setor industrial. Entre as empresas do Setor Primário, os derivativos de commodities foram os mais presentes, utilizados por 79% das empresas; ! Nas empresas industrias os derivativos de taxa de câmbio foram utilizados por 95% das empresas, sendo os mais utilizados; ! No setor de serviços os derivativos de taxa de juros foram um pouco mais utilizados do que os de taxa de câmbio, sendo utilizados por 78% contra 72% respectivamente; 42 Figura 8 – Utilização de Derivativos por Classe de Risco, 1997 Bodnar Hayt e Marston (1998) dividiram as empresas da amostra que utilizavam derivativos em termos das classes de riscos a que se aplicavam os instrumentos utilizados. Os tipos de riscos utilizados foram riscos de câmbio, juros e commodities. Tipos de Risco Câmbio 83 Juros 76 56 Commodity 34 Equity 0 20 40 60 80 100 Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1998) Focos na Gestão dos Riscos: ! As empresas apresentaram maior foco em fazer hedge de comprometimentos on-balance-sheet – i.e. contas a receber e contas a pagar – (89% fazem hedge freqüente ou eventual), Transações antecipadas com prazo menor que um ano (85% fazem hedge freqüente ou eventual) e repatriações de fluxos em moeda estrangeira (78% fazem hedge freqüente ou eventual); ! No caso de transações antecipadas com prazo superior a um ano, 12% das empresas fizeram hedge freqüentemente e 45% das empresas fizeram hedge destas operações eventualmente; 43 ! A exposição competitiva sofreu hedge freqüente em apenas 11% das empresas com um adicional eventual de 28% Influência da Visão de Mercado: ! Conforme foi observado nas pesquisas anteriores, a visão de mercado influenciou as políticas de hedge de diversas empresas; ! 10% das empresas indicaram que a sua visão de mercado influenciou freqüentemente suas decisões de hedge em termos de tamanho do hedge e do timing enquanto que 49% das empresas afirmaram que sua visão afeta suas decisões de timing e 51% que afeta as decisões quanto ao volume do hedge; ! Uma parcela menor das empresas afirmar “tomar posições ativas”, observando-se que 6% afirmaram faze-lo freqüentemente e 26% o fazem eventualmente. 2.4.6. Comparação entre os estudos As pesquisas analisadas apresentam concordâncias em diversos pontos: 1. Empresas maiores possuem maior tendência a praticar a gestão de riscos com derivativos; 2. As empresas tendem a fazer mais hedge de fluxos de caixa e de lucros contábeis ao invés de hedge do valor de mercado; 3. Existe foco em instrumentos de curto prazo; e 44 4. As empresas tipicamente não fazem um hedge de toda a sua exposição sistematicamente, praticando o assim chamado, “hedge seletivo”, ou seja, levando em consideração as suas visões de mercado para assumir posições de derivativos. 45 2.5. Evidências Empíricas sobre Fatores Determinantes do Comportamento de Hedging de Empresas 2.5.1. Estudos Analisados Diversos estudos analisaram o comportamento de hedge de empresas, buscando relacionar as razões para o hedge com base na teoria e o comportamento observado (fazer ou não fazer hedge, parcela da exposição que é protegida, etc) São analisados a seguir os estudos de Nance, Smith e Smithson (1993), Tufano (1996), Geczky, Minton e Schrand (1997), e Haushalter (2001) que permitem uma boa visão das evidências encontradas neste tipo de estudo. 2.5.2. A Pesquisa de Nance, Smith e Smithson (1993) Nance, Smith e Smithson (1993), enviaram questionários para empresas do Fortune 500 e/ ou do S&P 400 questionando se estas empresas utilizaram derivativos no ano fiscal de 1986. De um total de 535 empresas, 169 responderam, dentre as quais, 104 utilizaram derivativos. O estudo busca testar as hipóteses de racionalidade do hedge em empresas não-financeiras utilizando uma regressão logística que permite analisar as diferenças entre as empresas que utilizam derivativos e as que não utilizam. Para fazer esta análise, os autores utilizaram, além dos dados contidos nos questionários, informações de balanço do banco de dados COMPUSTAT, utilizados como Proxies para medir hipóteses de utilização de derivativos 46 baseados nas teorias moderna sobre criação de valor através da gestão de riscos: 1. Hipótese de Redução de Custos Fiscais – Utilizando como proxies: ! Prejuízos fiscais acumulados disponibilizados em 1985 para utilização como “escudo fiscal” nos anos subseqüentes; ! Investment Tax Credits (ITC’s) utilizados para reduzir (ou anular) impostos a pagar em 1986; e ! O intervalo dos lucros tributáveis de empresas localizado na região de progressividade das alíquotas de imposto. - Para medir se o intervalo de lucros tributáveis se encontrava na região de progressividade, foi criada uma variável binária que seria igual a 1 caso o intervalo de 95% de confiança do lucro tributável de 1986 (formado utilizando o desvio padrão calculado de 1977 a 1986) caísse na zona de progressividade, ou zero em caso contrário. 2. Hipótese de Redução dos Custos de Falência – Utilizando como proxies: ! O Tamanho da Empresa (definido como size), medido pela soma do valor contábil da dívida da empresa com o valor de mercado do seu equity; e ! A alavancagem da empresa, medida pelo debt-size ratio e pelo debt service coverage ratio 47 - O debt-size ratio foi definido como o ratio da média de 1984 a 1986 do valor contábil da dívida em relação à medida definida de valor da empresa - O debt service coverage ratio foi definido como o ratio da média de 1984 a 1986 do EBIT em relação à média de 1984 a 1986 de despesas de juros 3. Hipótese de Redução dos Custos de Agency – Utilizando como proxies: ! Para medir o impacto de conflitos entre acionistas e detentores de dívida, são usadas as proxies de alavancagem já mencionadas; ! Opções de crescimento nas oportunidades de investimento da empresa são medidas pelas despesas com pesquisa e desenvolvimento (P&D) e pelo book-value ratio - As opções de crescimento foram definidas como o resultados da divisão das despesas de P&D de 1986 pela variável de tamanho da empresa - Book-value ratio foi definido como o ratio entre o valor contábil dos ativos da empresa e a variável de tamanho da empresa 4. Hipótese de Substituição dos Derivativos por Instrumentos On-balance Sheet – Utilizando como proxies: ! A utilização de dívida conversível pela empresa 48 - Valor contábil da dívida conversível da empresa em 1986, dividida pela variável de tamanho da empresa ! Utilização de ações preferenciais pela empresa - Valor contábil das ações preferenciais da empresa em 1986, dividida pela variável de tamanho da empresa ! Liquidez dos ativos da empresa - Média de 1984 a 1986 da taxa de liquidez da empresa (e.g. o ativo circulante dividido pelo passivo circulante) ! O comportamento de distribuição de dividendos da empresa - Média de 1984 a 1986 do taxa de pagamento de dividendo A comparação de médias entre empresas que utilizaram derivativos e as que não utilizaram permitiu aos autores observar que as empresas que utilizaram derivativos possuíam significantemente mais ITC’s e maior parcela do intervalo de seus lucros tributáveis na região de progressividade. Entretanto, não havia diferença significativa em termos de prejuízos acumulados. Observou-se também que as empresas que utilizaram derivativos eram significantemente maiores do que as que não utilizaram, observação que está em linha com os estudos de Dolde (1993), Bodnar, Hayt, Marston e Smithson (1995), Bodnar, Hayt e Marston (1996) e Bodnar, Hayt e Marston (1998). 49 As empresas que utilizaram derivativos possuíam ainda proporções maiores de despesas de P&D, porém, surpreendentemente, não se observou diferença significativa em termos de alavancagem e de interest coverage ratios. A comparação de médias indica ainda que empresas que utilizaram hedge possuíam ativos menos líquidos e maiores taxas de distribuição de dividendos. Porém, não há diferença significativa no uso de dívidas conversíveis ou ações preferenciais. Com base nestas proxies, Nance, Smith, e Smithson (1993) fizeram diversas regressões, combinando as variáveis explicativas. Poucas variáveis foram estatisticamente significativas e o poder da regressão foi baixo, mas, podese observar que a probabilidade de uma empresa utilizar derivativos aumenta se o valor da empresa aumentar, se a empresa possuir mais oportunidades de crescimento (proporção de P&D com valor da empresa), se possuir mais ITC’s, se uma maior parcela dos lucros tributáveis da empresa se encontrar na zona de progressividade de impostos e se a empresa possuir maior taxa de distribuição de dividendos. 2.5.3 O Estudo de Tufano (1996) Tufano (1996) explora os determinantes do hedge na indústria de ouro. Como as empresas mineradoras de ouro explicam muito precisamente seus volumes de hedge, Tufano (1996) pode computar a fração de produção de ouro dos três anos seguintes ao estudo, que estava cobertas por atividades de Gestão de Riscos. 50 Suas evidências são apresentadas na tabela 1. Mais uma vez, pode-se observar uma grande variação nas práticas de gestão de risco. Algumas poucas empresas na média não fazem hedge nenhum, mas nenhuma empresa faz hedge de toda a sua exposição. A proporção média de hedge é 25,6%, indicando que a empresa mineradora de ouro típica faz hedge de 25,6% de sua produção. Tabela 1 – Práticas de Gestão de Risco na Indústria Mineradora de Ouro Norte-Americana, 1990-1993 Para cada uma das 48 empresas e trimestres da amostra, Tufano (1996) computou a fração da produção dos três anos seguintes ao estudo que havia sido efetivamente cobertas atividades de gestão de riscos. Média Fração da produção efetivamente coberta por hedge Exatamente 0 0,1%-10% 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90 90-100 25.6% Percentual de empresas na amostra 14,6 14,6 14,6 14,6 25 2,1 4,2 4,2 4,2 2,1 0 - Mediana 22.9% - Desvio Padrão 22.4% - Fonte: Tufano (1996) Tufano procura explicar o porquê destas diferenças na intensidade de hedging, através de regressões múltiplas, que tinham como variáveis explicativas às características que afetam os benefícios de se fazer hedge. Observou-se que empresas que atuam mais em exploração, fazem menos hedge, fato que foi considerado surpreendente. Empresas com mais reservas também apresentaram 51 menos hedge e empresas que possuíam saldos de caixa também faziam menos hedge. Estes resultados foram, contudo pouco significativos estatisticamente. Os resultados de maior significância estatística estava relacionados a variáveis ligadas a gerência. Empresas cujos gerentes possuem mais ações da empresas fazem mais hedge. Esta evidência pode sugerir uma atuação da gerência em benefício próprio, buscando maximizar o valor para si, em função de sua própria aversão a risco. Entretanto, as empresas da amostra que possuíam acionistas (fora da gerência) com grandes participações apresentaram menor tendência a fazer hedge. Observou-se ainda que a gerência faz menos hedge quando possui opções ao invés de ações da empresa. Tal fato é explicado também pelo busca da gerência de maximizar o resultado para si, pois o valor das opções cresce com o aumento do risco da empresa. Desta forma, o que se observou é que a prática de gestão de riscos possui influência crucial dos incentivos que são dados à gerência, pois os mesmos tenderão a fazer mais hedge se possuírem ações da empresa e essas ações são uma grande parcela de sua riqueza pessoal, buscando proteger o seu risco pessoal. Em contrapartida, se a compensação dos gerentes aumentar muito com bons resultados fora do esperado, os mesmos podem ter tendência a “arriscar em apostas” para atingir estes resultados. 52 2.5.4 O Estudo de Geczky, Minton e Schrand (1997) Estudos mais recentes se beneficiaram de mudanças nas determinações de disclosure das empresas, que tornou possível aprender sobre a atividade de derivativos a partir das notas explicativas de annual reports. Geczky, Minton e Schrad (1997) estudaram empresas abertas da Fortune 500, para as quais havia dados disponíveis dos anos fiscais de 1990 e 1991. Constituíram assim, uma amostra de 411 empresas e utilizaram as notas explicativas dos 10-K fillings do ano fiscal terminado em 1991, para obter dados sobre o uso de derivativos. Em 1991, Geczky, Minton, e Schrand (1997) observaram que 230 das 411 empresas, ou 56% de sua amostra divulgavam algum uso de derivativos. Eles observaram que os usuários de derivativos possuíam: 1. Menor liquidez do que as não usuárias. O saldo de caixa e equivalentes de caixa das empresas não usuárias excedia o passivo circulante em aproximadamente 40%, que pode ser comparado a um valor de 22% nas empresas usuárias de derivativos; 2. Melhores oportunidades de investimento e uma taxa de P&D em relação a vendas que era quase o dobro das não usuárias; 3. Maior cobertura por analistas e maior percentual de participação de investidores institucionais nas ações da empresa, porém ressalta que estes fatos podem ser em função do tamanho das empresas. 53 Para separar o papel do tamanho das empresas de outras variáveis, os autores utilizam um modelo logístico de regressão. Com base nos resultados deste modelo, o tamanho das empresas parecia não ser relevante, e todas as variáveis listadas acima continuaram a possuir um efeito significativo, afetando a decisão de uso de derivativos. 2.5.5 O Estudo de Haushalter (2001) Haushalter (2001) conduziu um estudo detalhado sobre hedging de produtores de oil&gas nos EUA no período de 1992 a 1994. De forma semelhante a Tufano (1996), ele buscou investigar a fração da produção que os produtores protegiam através de hedge contra flutuações de preços. Para examinar esta questão, a fração protegida via hedge foi submetida a uma regressão múltipla utilizando variáveis pertinentes à política financeira, ao tamanho da empresa, estrutura acionária, assim como uma certa quantidade de variáveis de controle. A regressão separou a decisão de hedge em duas etapas, uma primeira regressão examinou a decisão de fazer hedge e uma segunda examinou características relativas à fração da produção submetida ao hedge. As principais descobertas são resumidas a seguir: ! Existiu grande variabilidade nas políticas de gestão de riscos de produtores de oil&gás. Por exemplo, em 1993 pouco mais da metade das empresas da amostra não fazia hedge, enquanto que um quarto das empresas na amostra fazia hedge de mais de 28% da sua produção. O autor acredita que, dadas as semelhanças nos riscos das empresas, elas deveriam ter políticas mais semelhantes, e que, 54 portanto, estas diferenças são um indicativo de que existem diferenças nas características das empresas ou de suas gerências que afetam a decisão quanto a política de hedge; ! As políticas de hedge de empresas foram altamente correlacionadas com as suas políticas financeiras. Em particular, os produtores da amostra que possuíam mais dívida faziam hedging de uma parcela maior de sua produção. O autor considera que esta evidência está ligada a busca de redução de custos de dificuldades financeiras e/ou para garantir fluxo de caixa suficiente para garantir futuros investimentos; ! Empresas com mais ativos tiveram maior probabilidade de fazer hedge. O autor acredita que este fato está associado à existência de grandes custos fixos em programas de gestão de riscos e que por isso os ganhos com políticas de gestão de riscos podem ser mais bem aproveitados por empresas de grande porte; ! Não houve relação clara entre as políticas de gestão de riscos das empresas e a compensação de seus gerentes ou com o fato deles receberem ações da empresas. 2.5.6 Sumário das Evidências A revisão dos estudos acima permitiu observar evidências empíricas quanto ao porquê de fazer hedge. Dentre as principais razões observadas na teoria, as evidências sugerem que as mais importantes são: 55 1) Impostos: As evidências sugerem que empresas com mais prejuízos acumulados e mais ITC’s fazem mais hedge, e presume-se que o fazem para proteger o valor destes benefícios fiscais. Nenhum estudo encontrou efeito contrário significativo; 2) Custos de dificuldades financeiras: Todos os resultados significativos sugeriram que as empresas fazem menos hedge quando possuem maior interest coverage ratio. Houve evidências também que as empresas fazem mais hedge quando têm grande alavancagem. Observou-se grande relação entre despesas de P&D e hedging; Nenhum estudo encontrou evidências de relação negativa entre P&D e a utilização de derivativos. As evidências com relação a market-tobook e hedging são variadas, mas a preponderância é de que empresas com maiores market-to-book ratios fazem mais hedge. 3) Incentivos da Gerência: Existem evidências consistentes que empresas nas quais os gerentes possuem mais equity, fazem mais hedge. As evidências com relação ao uso de opções na compensação são, contudo conflitantes. 56 2.6. Estudos sobre Implementação de Estratégias de Hedge com o Objetivo de Criar Valor 2.6.1. A Viabilidade da Redução de Impostos Graham e Smith (2000) analisaram mais de 80.000 observações anuais de empresas da base de dados COMPUSTAT, utilizando métodos de simulação para investigar aspectos da regulamentação fiscal de empresas e verificar se a estrutura da função de taxa efetiva da empresa é convexa e, portanto, examinar uma condição necessária para que a empresa tenha um incentivo a fazer hedge com base em impostos. O estudo foi focado nas questões que afetam a progressividade: ! Progressividade das alíquotas de imposto; especialmente a assimetria de tratamento entre perdas e ganhos; ! Os limites fiscais para dedução de prejuízos acumulados; ! O crédito de taxa de investimento (ITC – investment tax credit); e ! O imposto mínimo alternativo (AMT – alternative minimum tax) Em aproximadamente 25% dos casos, as empresas apresentaram funções de imposto essencialmente lineares, sendo indiferentes (em termos de incentivos de impostos) a políticas de hedging. As demais empresas apresentaram funções efetivas de imposto na grande maioria côncavas, apresentando um desincentivo ao hedge em termos fiscais. Nos casos em que existia convexidade, aproximadamente um quarto destas empresas apresentava economias potencias advindas de políticas de hedge que pareciam “materiais” – em casos extremos, 57 excedendo 40% do passivo fiscal esperado. Para as demais empresas, as economias fiscais eram substancialmente pequenas. Desta forma, o estudo sugere uma distribuição de potenciais economias fiscais bastante assimétricas. As economias fiscais esperadas das empresas foram mais altas nas seguintes situações: ! O lucro líquido tributável se encontrava próximo do ponto de mudança na curva de impostos (e.g. lucro tributável próximo de zero); ! O lucro tributável era mais volátil ! Os lucros apresentavam autocorrelação serial negativa (e, portanto a empresa possuía maiores chances de ficar variando entre perdas e ganhos) O método utilizado no estudo permitiu ainda decompor a estrutura básica da regulamentação fiscal, para examinar o impacto incremental de itens individuais. Desta forma, foi observado que grande parte da progressividade foi advinda do tratamento assimétrico de lucros e prejuízos, ou seja, taxas positivas quando ocorrem lucros e taxa igual a zero quando ocorrem prejuízos. Prejuízos acumulados permitem que as empresas suavizem as perdas, reduzindo assim a curvatura da função de impostos nestes pontos de mudança (assim como em outros pontos de progressividade), apesar de também possuírem um efeito de espalhar a área de progressividade sobre o lucro tributável. O imposto mínimo alternativo (AMT) e o crédito de taxa de investimento (ITC) tiveram apenas efeitos modestos na curvatura da função de impostos. 58 As principais constatações do estudo foram: ! Entre as empresas que apresentavam uma função progressiva de impostos, a economia média resultante de uma redução de 5% na volatilidade é de US$ 122.718 ou 5% da base de passivo fiscal (a soma dos passivos fiscais correntes com o valor presente dos benefícios fiscais associados a prejuízos acumulados, ITC’s e AMT’s) ! A distribuição de economias fiscais potenciais é muito assimétrica. Apesar de 75% das empresas apresentarem um pequeno incentivo fiscal a fazer hedge, as economias parecem substanciais nos casos extremos. Por exemplo, entre as empresas que apresentam função progressiva de impostos, as estimativas sugerem que empresas que se situam no percentil acima de 99% podem economizar US$ 2.000.000 anualmente, se conseguirem reduzir em 5% a volatilidade ! O tratamento assimétrico de lucros e prejuízos é responsável por grande parte da progressividade observada ! O AMT introduz apenas um modesto aumento na progressividade e os ITC’s possuem pouco impacto. 59 2.6.2. Redução da Probabilidade de Falência Copeland e Copeland (1999) introduziram uma metodologia de maximização do valor de políticas de hedge em empresas através da redução do custo esperado de falência a um determinado custo de hedge. O método proposto encontra o hedge ratio que minimiza a probabilidade de falência em um determinado período de tempo e então avalia uma relação entre benefício e custo do hedge. O benefício é definido como a redução esperada no custo de falência resultante do hedge, e o custo é definido como o custo direto do programa de hedging. Neste estudo, mostrou-se que a redução de volatilidade per si não é uma condição necessária, nem suficiente, para reduzir o risco de falência, devendo-se considerar outros fatores, como a mudança na tendência dos fluxos de caixa induzida pelo risco de preço e um coverage ratio do fluxo de caixa. Para encontrar o hedge ratio que minimiza a probabilidade de falência em um determinado período de tempo, os autores, buscam maximizar o que eles caracterizam como “time to ruin”, ou seja, o tempo para a ocorrência de falência. Os autores observam que, para atingir este objetivo, o que importa não é a minimização da volatilidade, mas sim o padrão dos fluxos de caixa, mais precisamente a probabilidade de o fluxo de caixa declinar até um valor tal no qual os custos de falência são incorridos. Desta forma, o hedge, pode ser totalmente desnecessário em casos que o fluxo de caixa gerado está muito acima e crescendo mais rápido do que as necessidades de caixa, pois neste caso o time to ruin esperado é quase infinito. 60 A figura 9 ilustra o tratamento dado a esta questão pelos autores. Assumese que o fluxo de caixa operacional com hedge (Pt) segue um processo de GaussWiener. Define-se assim que, µ é igual ao drift por unidade de tempo e σ é o desvio padrão instantâneo e temos: ∂Pt = µ ∂t + σ ∂ z t P µt − σ 2 t + σ z t 2 Pt = P0 e Figura 9 –Fluxos de Caixa e Fronteiras de Flutuação no Tempo Assume-se que o fluxo de caixa operacional segue um processo de Gauss-Wiener, como ilustrado pela linha P0Pt’. O fluxo de caixa com hedge, também segue um processo de Gauss-Wiener, conforme representado pela linha P0Pt, porém com um drift menor (em função dos custos de hedge) e menor volatilidade. Se a linha representando os fluxos de caixa com hedge, tocar a linha limite, linha h0ht, a empresa sofrerá custos de falência. LN $ Tempo Fonte: Copeland e Copeland (1999) A empresa encontra dificuldades financeiras se o seu fluxo de caixa operacional com hedge toca a fronteira inferior que determina o nível de 61 compromissos de caixa, e.g. serviço da dívida ou um nível de desconforto no qual a empresa fica inapta a aproveitar projetos com fluxo de caixa positivo. Por questão de simplicidade, assumiu-se que esta fronteira não é aleatória e que ela cresce com o passar do tempo à taxa r. ht = h0 e r t Utilizando-se a condição de “toque” da fronteira Pt = ht, os autores encontram o valor esperado de time to ruin: P ln 0 h0 E (T ) = − σ2 µ −r − 2 Nota-se que o valor esperado de time to ruin aumenta com a redução da volatilidade, fato que é condizente com a recomendação usual de hedge de reduzir a volatilidade dos fluxos de caixa operacionais, porém outras coisas são importantes também. Os autores interpretam o ratio (Pt/ht) como um “coverage ratio”, porque ele mede a relação entre o fluxo de caixa operacional com hedge dividido pelos compromissos de caixa que estabelecem a fronteira inicial. O valor esperado aumenta se P0 estiver muito acima de h0. Ele também aumenta se o drift do fluxo de caixa com hedge, µ, aumentar em relação à taxa de crescimento da fronteira, r. Estes resultados são intuitivos e mostram que a redução da volatilidade não é a única variável a considerar para fazer o hedge. Inclusive, mesmo se o hedge reduzir o σ, ele pode reduzir o µ o suficiente para diminuir o valor esperado de time to ruin e, portanto, a redução de variância não é suficiente para reduzir o 62 E(T). É necessário, portanto, considerar também o drift dos fluxos de caixa e o coverage ratio do fluxo de caixa com hedge. 2.6.3. Hedging Estratégico Mello e Parsons (1999) apresentam uma abordagem para a gestão de riscos, denominada pelos autores de “Hedging Estratégico”. O objetivo do Hedging Estratégico seria garantir que a empresa possua geração de caixa interno e acesso a capital externo suficientes para garantir seus investimentos estratégicos. A base deste método consiste em uma medição abrangente da exposição da empresa, que considera a empresa como um conjunto de ativos geradores de caixa e de oportunidades de investimento futuro. Os ativos em uso, em conjunto com capacidade de endividamento não utilizada são as principais fontes de fundos da empresa, enquanto que os investimentos futuros são os usuários esperados deste caixa. Neste contexto, a exposição é uma medida de como mudanças em variáveis de preço pode afetar a habilidade da empresa de atingir seus objetivos estratégicos. Ou seja, esta exposição mede como, tanto o caixa operacional atual, quanto às necessidades de investimento futuros são influenciados por essas variáveis de preço. Esta exposição é classificada como o Funding Gap, como pode ser observado na figura 10. 63 Figura 10 – Diagrama da Demonstração dos Fluxos de Caixa da Empresa Mello e Parsons (1999) dividem a análise dos fluxos de caixa da empresa em três componentes: (1) Fluxos de caixa operacionais que são classificados como a “Oferta Interna de Fundos”; (2) Fluxos de caixa das atividades de investimento, que são classificados como a “Demanda por Fundos”; e (3) Fluxos de caixa das atividades de financiamento, ou a “Oferta Externa de Fundos”. O resultado líquido soma destas componentes é classificada como o “Funding Gap” que mede a exposição da empresa a custos de dificuldades financeiras e problemas de sub-investimento. Oferta Interna de Fundos Fluxo Fluxo de de Caixa Caixa Operacional Operacional Volatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos •• Lucro Lucrolíquido líquido ••Depreciação Depreciação ••Fluxo Fluxo de de caixa caixa líquido líquido proveniente proveniente das das operações operações Fluxo Fluxo de de Caixa Caixa de de Investimentos Investimentos Risco de Preço - •• CAPEX CAPEX •• Investimentos Investimentosem em subsidiárias subsidiárias Volatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos •• Investimento Investimentoem em capital capitalde degiro giro Fluxo Fluxo de de Caixa Caixa das das Atividades Atividades de de Financiamento Financiamento Demanda por Fundos + Oferta Externa de Fundos Volatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos •• Serviço Serviçoda dadívida dívida(juros (juroseeprincipal) principal) •• Dividendos Dividendos •• Aportes Aportes de deCapital Capital = Funding Gap Fonte: Mello e Parson (1999) Neste contexto, o hedge pode aumentar a capacidade da empresa de gerenciar o Funding Gap e com isso evitar os custos de sub-investimento ou de dificuldades financeiras. 64 2.7. Resumo do Referencial Teórico Dada a amplitude do tema, apresenta-se a seguir as referências consultadas e as principais conclusões: Tabela 2 – Resumo da Bibliografia Tópico Resumo Referências 2.1. Definições de Risco e Hedge " 2.1.1. Risco " " 2.1.2. Risco de Preço " " 2.1.3. Risco de Crédito 2.1.4. Risco Puro 2.1.5. Hedge O trabalho utiliza o conceito de Markowitz (1959) que definiu risco como a variância dos retornos esperados de um ativo; Os principais riscos enfrentados por empresas não-financeiras são definidos como risco de preço, risco de crédito e risco puro; Markowitz (1952), Markowitz (1959), Fabozzi (1995), Niehaus (1999) Os três tipos mais importantes de riscos de preço são associados a preços de commodities, taxas de câmbio e taxas de juros; Os principais riscos enfrentados por empresas não-financeiras são definidos como risco de preço, risco de crédito e risco puro; Niehaus (1999) O risco de default, ou seja, de não pagamento de compromissos financeiros por consumidores ou parceiros de uma empresa é denominado risco de crédito; Bessis (1998), Niehaus (1999) " Riscos puros são aqueles que não têm Skipper (1998), possibilidade de ganhos, alternando entre Niehaus (1999) resultados com perda e sem perda; " Estratégias de hedge consistem basicamente, em montar uma posição, quer seja adquirindo um fluxo de caixa, um ativo ou um contrato, a qual terá movimento de preço (cair ou subir) contrário a uma posição existente. 2.2 Tipos de Hedge Realizados por Empresas Não-Financeiras Nance, Smith e Smithson (1993) Eiteman, Stonehill, Moffet (1998) 65 " 2.2.1. Hedge de Transações " 2.2.2. Hedge de Balanço " 2.2.3. Hedge Operacional " 2.2.4. Gestão Integrada de Riscos O hedge de transações consiste em eliminar os riscos associados a determinadas obrigação ou bens e direitos sujeitos à volatilidade de preços que podem resultar em variações no fluxo de caixa da empresa. Eiteman, Stonehill e Moffet (1998) O hedge de balanço busca gerenciar variações no patrimônio líquido ou nos lucros de uma empresa não-financeira, causadas por variações de preço em relação à última contabilização das demonstrações financeiras. Eiteman, Stonehill e Moffet (1998) O hedge operacional consiste em gerenciar o risco do conjunto de operações da empresa, possuindo maior efeito sobre a saúde financeira de longoprazo de uma empresa não-financeira do que o hedge de transações e o hedge de balanço. Eiteman, Stonehill e Moffet (1998) A Gestão de Riscos está sofrendo mudanças e evoluiu de uma visão fragmentada, na qual se preocupava apenas com os riscos puros ou apenas com os riscos de preço; para uma abordagem integrada, que envolve todos os riscos aos quais uma empresa está exposta. Shapiro e Titman (1985) Skipper (1998) Niehaus (1999) 2.3. Teoria Moderna sobre os Determinantes do Hedge em Empresas " 2.3.1. A Racionalidade do Hedge " " Modgliani e Miller (1958) Smith e Stulz (1985) Smith, Smithson, Wilford, (1990) Nance, Smith e Smithson (1993) Smith e Smithson Modigliani e Miller (1958) mostram que, (1993) com uma política de investimentos fixa e Froot, Scharfstein e sem custos de falência ou impostos, Stein (1993) decisões com relação à estrutura de capital da empresa não afetam o valor da Damodaran (1994) firma Ross, Westerfield e O trabalho de M&M está sendo utilizado Jaffe (1995) Tufano (1996) pelos estudiosos da gerência de risco, Colquitt e Hoyt para avaliar a relevância da política de (1997) hedge. Defende-se que, se a empresa O fato de uma empresa se confrontar com riscos financeiros de preço é uma condição necessária para que uma empresa gerencie o risco, mas não é uma condição suficiente. Para que haja uma racionalidade na gestão de risco de uma empresa, é necessário que tal gestão aumente o valor esperado da empresa. 66 decide mudar a sua política de hedge, os investidores podem alterar a sua posição de ativos de risco e anular a política de hedge, tornando a mesma irrelevante em termos de valor para o acionista. 2.3.2. Redução de Custos de Falência " Quando as premissas do trabalho de M&M são quebradas, decisões relativas à estrutura de capital e à gestão de riscos podem afetar o valor da empresa. " A teoria de finanças oferece, portanto, diversas hipóteses para explicar as situações em que a utilização do hedge em empresas pode ser classificada como uma estratégia racional, ou, como uma atividade que cria valor para a empresa através de três fatores principais: (1) custos de falência (2) problemas de subinvestimento e (3) Impostos. " Os custos de falência exercem um efeito negativo sobre o valor da empresa. " " 2.3.3.Redução de Problemas de SubInvestimento 2.3.4.Conflito s entre o Capital de Terceiros e o Capital Próprio Gay e Nam (1998) Tufano (1998) Ross, Westerfield e A gestão de riscos reduz a volatilidade do Jaffe (1995) valor da empresa e , ao reduzi-la, diminui Smith, Smithson e a probabilidade da empresa encontrar Wilford (1995) dificuldades financeiras, reduzindo os Stulz (1998) custos de falência. Quando as empresas consideram que o financiamento externo está caro demais, pode ocorrer um problema de subinvestimento, pois elas são obrigadas a reduzir os gastos com investimentos se o caixa gerado internamente não é suficiente para financiar as oportunidades de crescimento. " O hedge cria valor, na medida que permite a garantia que a empresa possuirá caixa suficiente disponível para aproveitar oportunidades atrativas de investimento. " Quando uma empresa utiliza capital de terceiros, surgem conflitos de interesse entre acionistas e credores, em função da diferença no tipo de ativo que cada um carrega. " Ross, Westerfield e Jaffe (1995), descrevem três tipos de estratégias que os Gay e Nam (1998) Froot, Scharfstein e Stein (1993) Froot, Scharfstein e Stein (1994) Nance, Smith e Smithson (1993) Smith, Smithson, Wilford (1995) Ross, Westerfield e Jaffe (1995) 67 acionistas utilizam para favorecer a si próprios, em detrimento dos credores: 1) Incentivo a Assumir Riscos Elevados; 2) Incentivo ao Sub-investimento; 3) Esvaziar a Propriedade; 2.3.5. Redução de Impostos e Hedge 2.3.6. Conflitos de Agency " " Ross, Westerfield e Jaffe (1995), afirmam que os credores se protegem destes conflitos possíveis, elevando as taxas de juros que exigem nas obrigações. Assim, são os acionistas, em última instância, que acabam pagando os custos associados a tais conflitos de interesse " O potencial de benefícios fiscais advindos da gestão de risco deriva da interação entre a habilidade de redução da volatilidade dos lucros tributáveis reportados e da existência de taxação progressiva de imposto de renda; " Essa taxação progressiva significa que a taxa de imposto efetivamente paga pela empresa aumenta com o crescimento do lucro antes de imposto; Smith e Stulz (1985) Smith, Smithson e Wilford (1995) " Através da redução das flutuações do lucro tributável, a gestão de risco pode permitir o pagamento de menos imposto ao garantir que, durante um ciclo de negócios, a maior parcela dos lucros da empresa se situe dentro deste intervalo ótimo de taxas de imposto de renda. " A diminuição de conflitos de interesse entre a gerência das empresas e os acionistas, é uma outra razão apontada na teoria de finanças para ganhos com a criação de uma política de hedge orientada para a criação de valor para o Smith, Smithson e acionista; Wilford (1995) Estes conflitos de Agency ocorrem quando a gerência busca maximizar a sua função de objetivos pessoais de ganhos, em detrimento dos interesses dos acionistas; " 2.4. Pesquisas sobre as Práticas de Gestão de Riscos 68 " 2.4.1.Estudos Analisados " Dolde (1993) Bodnar, Hayt, Marston e Smithson (1995) Bodnar, Hayt e Estas pesquisas foram caracterizadas Marston (1996) pela utilização de questionários de pesquisa para detalhar as particularidades Bodnar, Hayt, Marston (1998) da prática de gestão de riscos em empresas não-financeiras. " Questionários enviados para todas as empresas da Fortune 500 em 1992 " Amostra de 244 empresas que responderam ao questionário " 85 % reportaram utilizar swaps, contratos a termo, futuros ou opções na gestão de riscos financeiros de taxas de câmbio e taxas de juros; " As maiores empresas do Fortune 500 possuíam maior probabilidade de utilização de derivativos, porém empresas menores do Fortune 500 que usam derivativos fazem hedge de uma fração maior de sua exposição. 2.4.2. Dolde (1993) 2.4.3.Pesquisa da Wharton School de 1995 Foram escolhidos os estudos de Dolde (1993) e as três pesquisas realizadas pela Wharton School, respectivamente em 1995, 1996 e 1998; para ilustrar a evolução observada nas práticas de gestão de riscos; " O foco na grande maioria das empresas era em fazer o hedge de exposições a transações e de exposições de curtoprazo. " Aproximadamente 90% dos usuários de derivativos da pesquisa afirmaram que utilizam algumas vezes sua visão de mercado; " Questionários enviados para amostra aleatória de 2000 empresas nãofinanceiras em Novembro de 1994; " Amostra de 530 questionários respondidos; " 34,5% utilizavam derivativos; " 65% das com valor de mercado acima de US$ 250 milhões usavam derivativos e apenas 13% das com valor abaixo de US$ 50 milhões os utilizavam; " 75,4% utilizavam derivativos para fazer Dolde (1993) Stulz (1999) Bodnar, Hayt, Marston e Smithson (1995) 69 hedge de transações 2.4.4.Pesquisa da Wharton School de 1996 2.4.5. Pesquisa da Wharton School de 1998 " 60,7% afirmam nunca usar derivativos para arbitrar mercados " 51,3% afirmam nunca utilizar derivativos para fazer hedge de balanço; " Aproximadamente 66% afirmam que não usam derivativos para fazer hedge de exposição operacional ou estratégica; " 52,5% afirmam nunca usar derivativos para obter resultados através de uma previsão de mercado. " Questionários enviados para a mesma amostra e, adicionalmente, foram incluídas empresas do Fortune 500 que não estavam na pesquisa de 1994; " 350 questionários devolvidos; " 41% reportaram utilizar derivativos; " 76% usaram derivativos de taxa de câmbio; " 73% utilizaram derivativos de taxa de juros; " 37% utilizam derivativos de commodities; " 49% das empresas que utilizavam derivativos afirmaram que o seu foco era reduzir a volatilidade dos fluxos de caixa " 42% apontaram a redução da volatilidade dos lucros; " Novamente, foram encontradas evidências que grande parcela das empresas deixam a sua visão de mercado influenciar a política de hedge. " 33% dos usuários afirmar que eventualmente “assume posições ativas” baseadas na sua visão sobre as taxas de câmbio " Amostra de 1.928 empresas; " 399 questionários foram respondidos; " 50% da amostra de respostas reportaram utilizar derivativos; " 83% das empresas com valor de mercado Bodnar, Hayt, Marston (1996) Bodnar, Hayt, Marston (1998) 70 acima de US$ 250 milhões usavam derivativos e apenas 12% das empresas com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões os utilizavam, evidenciando novamente maior utilização de derivativos por empresas maiores; " A utilização é maior em produtores de produtos primários dos quais 68% reportaram utilização de derivativos, nas empresas industriais o valor foi de 48% e nas de serviço 42%; " As empresas apresentaram maior foco em fazer hedge de comprometimentos on-balance-sheet – i.e. contas a receber e contas a pagar, Transações antecipadas com prazo menor que um ano e repatriações de fluxos em moeda estrangeira; " A exposição competitiva sofreu hedge freqüente em apenas 11% das empresas com um adicional eventual de 28% " Conforme foi observado nas pesquisas anteriores, a visão de mercado influenciou as políticas de hedge de diversas empresas; " 10% das empresas indicaram que a sua visão de mercado influenciou freqüentemente suas decisões de hedge em termos de tamanho do hedge e do timing enquanto que 49% das empresas afirmaram que sua visão afeta suas decisões de timing e 51% que afeta as decisões quanto ao volume do hedge; " Uma parcela menor das empresas afirmar “tomar posições ativas”, observando-se que 6% afirmaram faze-lo freqüentemente e 26% o fazem eventualmente As pesquisas analisadas apresentam concordâncias em diversos pontos: 2.4.6. Comparação Entre os Estudos " " Empresas maiores possuem maior tendência a praticar a gestão de riscos com derivativos; As empresas tendem a fazer mais hedge de fluxos de caixa e de lucros contábeis ao invés de hedge do valor de mercado; ________ 71 " Existe foco em instrumentos de curto prazo; e " As empresas tipicamente não fazem um hedge de toda a sua exposição sistematicamente, praticando o assim chamado, “hedge seletivo”, ou seja, levando em consideração as suas visões de mercado para assumir posições de derivativos. 2.5. Evidências Empíricas sobre fatores Determinantes do Comportamento de Hedging de Empresas " 2.5.1.Estudos Analisados 2.5.2. A Pesquisa de Nance, Smith e Smithson (1993) Diversos estudos analisaram o comportamento de hedge de empresas, buscando relacionar as razões para o hedge com base na teoria e o comportamento observado (fazer ou não fazer hedge, parcela da exposição que é protegida, etc) Nance, Smith e Smithson (1993) Tufano (1996) Geczky, Minton e Schrand (1997) Haushalter (2001) " Para permitir uma boa visão das evidências encontradas neste tipo de estudo, foram analisados os estudos de Nance, Smith e Smithson (1993), Tufano (1996), Geczky, Minton e Schrand (1997), e Haushalter (2001). " Nance, Smith e Smithson (1993), enviaram questionários para empresas do Fortune 500 e/ ou do S&P 400 questionando se estas empresas utilizaram derivativos no ano fiscal de 1986. De um total de 535 empresas, 169 Nance, Smith e responderam, dentre as quais, 104 Smithson (1993) utilizaram derivativos. Dolde (1993) O estudo busca testar as hipóteses de Bodnar, Hayt, racionalidade do hedge em empresas não-financeiras utilizando uma regressão Marston e Smithson (1995) logística que permite analisar as diferenças entre as empresas que utilizam Bodnar, Hayt e Marston (1996) derivativos e as que não utilizam. Bodnar, Hayt e Os autores utilizaram, além dos dados Marston (1998) contidos nos questionários, informações do banco de dados COMPUSTAT; " " " Foram utilizadas Proxies para medir hipóteses de utilização de derivativos baseados nas teorias moderna sobre criação de valor através da gestão de 72 riscos: 2.5.3. O Estudo de Tufano (1996) 2.5.4.O Estudo de Geczky, Minton e Schrand (1997) " Com base nestas proxies, Nance, Smith, e Smithson (1993) fizeram diversas regressões, combinando as variáveis explicativas " Poucas variáveis foram estatisticamente significativas e o poder da regressão foi baixo, mas, pode-se observar que a probabilidade de uma empresa utilizar derivativos aumenta se o valor da empresa aumentar, se a empresa possuir mais oportunidades de crescimento, se possuir mais ITC’s, se uma maior parcela dos lucros tributáveis da empresa se encontrar na zona de progressividade de impostos e se a empresa possuir maior taxa de distribuição de dividendos " Tufano (1996) explora os determinantes do hedge na indústria de ouro " O estudo analisa o porquê das diferenças na intensidade de hedging destas empresas, através de regressões múltiplas; " Os resultados de maior significância estatística estava relacionados a variáveis ligadas a gerência; " Observou-se que a prática de gestão de riscos pode ser influenciada pelos incentivos oferecidos à gerência, estimulando os mesmos a fazer mais hedge, buscando proteger o seu risco pessoal " Em contrapartida, se a compensação dos gerentes aumentar muito com resultados acima do esperado, os mesmos podem ter tendência a assumir riscos visando atingir estes resultados " Estudo com empresas abertas da Fortune 500; " Amostra de 411 empresas utilizando as Geczky, Minton e notas explicativas dos 10-K fillings do ano fiscal terminado em 1991, para obter Schard (1997) dados sobre o uso de derivativos; " 56% da amostra divulgavam algum uso de derivativos; Tufano (1996) 73 " 2.5.5.O Estudo de Haushalter (2001) Empresas usuárias de derivativos possuíam: o Menor liquidez do que as não usuárias; o Melhores oportunidades de investimento e uma taxa de P&D em relação a vendas que era quase o dobro das não usuárias; o Maior cobertura por analistas e maior percentual de participação de investidores institucionais nas ações da empresa, porém ressalta que estes fatos podem ser em função do tamanho das empresas. " Para separar o papel do tamanho das empresas de outras variáveis, os autores utilizam um modelo logístico de regressão. Com base nos resultados deste modelo, o tamanho das empresas parecia não ser relevante, e todas as variáveis listadas acima continuaram a possuir um efeito significativo, afetando a decisão de uso de derivativos. " Estudo detalhado sobre hedging de produtores de oil&gas nos EUA " A fração protegida via hedge foi submetida a uma regressão múltipla utilizando variáveis pertinentes à política financeira, ao tamanho da empresa, estrutura acionária, assim como uma certa quantidade de variáveis de controle " A regressão separou a decisão de hedge em duas etapas, uma primeira regressão examinou a decisão de fazer hedge e uma segunda examinou características relativas à fração da produção submetida Tufano (1996) ao hedge. As principais descobertas são Haushalter (2001) resumidas a seguir: o Existiu grande variabilidade nas políticas de gestão de riscos de produtores de oil&gás; o As políticas de hedge de empresas foram altamente correlacionadas com as suas políticas financeiras. Em particular, os produtores da amostra que possuíam mais dívida faziam hedging de uma parcela maior de sua produção; o Empresas com mais ativos tiveram maior probabilidade de fazer hedge; o Não houve relação clara entre as 74 políticas de gestão de riscos das empresas e a compensação de seus gerentes ou com o fato deles receberem ações da empresas. Dentre as principais razões observadas na teoria quanto ao porquê de fazer hedge, as evidências sugerem que as mais importantes são: " Impostos: As evidências sugerem que empresas com mais prejuízos acumulados e mais ITC’s fazem mais hedge. Nenhum estudo encontrou efeito contrário significativo; " Custos de dificuldades financeiras: Todos os resultados significativos sugeriram que as empresas fazem menos hedge quando possuem maior interest coverage ratio. Houve evidências também que as empresas fazem mais hedge quando têm grande alavancagem. Observou-se grande relação entre despesas de P&D e hedging; 2.5.6. Sumário das Evidências " ________ Incentivos da Gerência: Existem evidências consistentes que empresas nas quais os gerentes possuem mais equity, fazem mais hedge. As evidências com relação ao uso de opções na compensação são, contudo conflitantes. 2.6. Estudos sobre Implementação de Estratégias de Hedge com o Objetivo de Criar Valor 2.6.1. A Viabilidade de Redução de Impostos " Análise de mais de 80.000 observações anuais de empresas da base de dados COMPUSTAT. " Estudo foi focado nas questões que afetam a progressividade; " Em aproximadamente 25% dos casos, as empresas apresentaram funções de imposto essencialmente lineares, sendo indiferentes (em termos de incentivos de impostos) a políticas de hedging " Nos casos em que existia convexidade, aproximadamente um quarto das empresas apresentava economias potencias advindas de políticas de hedge que pareciam “materiais” – em casos extremos, excedendo 40% do passivo Graham e Smith (2000) 75 fiscal esperado; " 2.6.2.Redução da Probabilidade de Falência As economias fiscais esperadas das empresas foram mais altas nas seguintes situações: o O lucro líquido tributável se encontrava próximo do ponto de mudança na curva de impostos (e.g. lucro tributável próximo de zero); o O lucro tributável era mais volátil o Os lucros apresentavam auto-correlação serial negativa (maiores chances de o lucro variar entre perdas e ganhos) " Grande parte da progressividade foi advinda do tratamento assimétrico de lucros e prejuízos " O imposto mínimo alternativo (AMT) e o crédito de taxa de investimento (ITC) tiveram apenas efeitos modestos na curvatura da função de impostos. " Entre as empresas que apresentavam uma função progressiva de impostos, a economia média resultante de uma redução de 5% na volatilidade é de US$ 122.718 ou 5% da base de passivo fiscal " A distribuição de economias fiscais potenciais é muito assimétrica. Apesar de 75% das empresas apresentarem um pequeno incentivo fiscal a fazer hedge, as economias parecem substanciais nos casos extremos; " O tratamento assimétrico de lucros e prejuízos é responsável por grande parte da progressividade observada " O AMT introduz apenas um modesto aumento na progressividade e os ITC’s possuem pouco impacto. " Copeland e Copeland (1999) introduziram uma metodologia de maximização do valor de políticas de hedge em empresas através da redução do custo esperado de falência a um determinado custo de hedge. " O método proposto encontra o hedge ratio que minimiza a probabilidade de falência em um determinado período de tempo e então avalia uma relação entre Copeland e Copeland (1999) 76 benefício e custo do hedge. O benefício é definido como a redução esperada no custo de falência resultante do hedge, e o custo é definido como o custo direto do programa de hedging. " Neste estudo, mostrou-se que a redução de volatilidade per si não é uma condição necessária, nem suficiente, para reduzir o risco de falência, devendo-se considerar outros fatores, como a mudança na tendência dos fluxos de caixa induzida pelo risco de preço e um coverage ratio do fluxo de caixa. " Para encontrar o hedge ratio que minimiza a probabilidade de falência em um determinado período de tempo, os autores, buscam maximizar o que eles caracterizam como “time to ruin”, ou seja, o tempo para a ocorrência de falência. " O objetivo do Hedging Estratégico seria garantir que a empresa possua geração de caixa interno e acesso a capital externo suficientes para garantir seus investimentos estratégicos; " A base deste método consiste em uma medição abrangente da exposição da empresa, que considera a empresa como um conjunto de ativos geradores de caixa e de oportunidades de investimento futuro; " Os ativos em uso, em conjunto com capacidade de endividamento não utilizada são as principais fontes de fundos da empresa, enquanto que os investimentos futuros são os usuários esperados deste caixa; 2.6.3. Hedging Estratégico " Neste contexto, a exposição é uma medida de como mudanças em variáveis de preço pode afetar a habilidade da empresa de atingir seus objetivos estratégicos. Esta exposição é classificada como o Funding Gap; " Neste contexto, o hedge pode aumentar a capacidade da empresa de gerenciar o Funding Gap e com isso evitar os custos de sub-investimento ou de dificuldades Mello e Parsons (1999) 77 financeiras 3. DESCRIÇÃO DO CASO: A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE 3.1. A Empresa 3.1.1. Introdução Fundada em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) é conhecida pela sua liderança mundial no mercado de produção e fornecimento de minério de ferro. Suas operações em Minério de ferro são a base para as suas habilidades em prospecção e exploração de jazidas minerais e no desenvolvimento e operação de minas e instalações industriais de grande escala, gerenciando sistemas complexos de logística e comercializando metais e minerais. As atividades da CVRD englobam uma grande gama de produtos e serviços, incluindo: ! Atividades de mineração em minério de ferro, ouro, manganês, cobre, caulim e potássio; ! Sistemas de transporte e logística, compostas de estradas de ferro, portos e instalações portuárias e navios transoceânicos; ! Produção de pelotas, alumina e alumínio; ! Atividades envolvendo papel e celulose e outros produtos florestais ! Participação em siderúrgicas no Brasil, na Argentina, na França e nos EUA. 78 Figura 11– Unidades de Negócio da CVRD Mello e Parsons (1999) dividem a análise dos fluxos de caixa da empresa em três componentes: (1) Fluxos de caixa operacionais que são classificados como a “Oferta Interna de Fundos”; (2) Fluxos de caixa das atividades de investimento, que são classificados como a “Demanda por Fundos”; e (3) Fluxos de caixa das atividades de financiamento, ou a “Oferta Externa de Fundos”. O resultado líquido soma destas componentes é classificada como o “Funding Gap” que mede a exposição da empresa a custos de dificuldades financeiras e problemas de sub-investimento. CVRD Ferrosos • Minério de Ferro • Pelotas • Manganês e Ligas Não Ferrosos Logística • Transporte Ferroviário • Cobre • Ouro • Transporte Marítimo • Potássio • Caulim • Pesquisa em exploração mineral • Movimentação e Armazenagem Energia • Comercialização de Contratos de Energia • Geração de e energia Participações • Madeira • Celulose • Papel • Bauxita • Alumínio e Alumina Fonte: Relatório Anual da Empresa A Companhia Vale do Rio Doce - CVRD é a maior produtora e exportadora mundial de minério de ferro. A receita bruta da controladora da CVRD em 2000 atingiu R$ 5.2 bilhões, tendo o Grupo vendas consolidadas de R$ 9.8 bilhões. As vendas de minério de ferro da controladora bateram o volume recorde de 116.7 milhões de toneladas, ressaltando a sua força no setor. O segmento de minério de ferro e pelotas representa cerca de 75% das vendas brutas da controladora CVRD. 79 Suas operações de mineração e também as de transporte são conduzidas principalmente pela própria empresa e por suas subsidiárias. Já as atividades em aço, pelotas, alumínio e papel e celulose, assim como algumas atividades de mineração, são conduzidas através de joint ventures e empresas afiliadas. O Grupo CVRD opera dois sistemas próprios do tipo mina-ferrovia-porto, localizados em duas regiões distintas do País; o Sistema Norte e o Sistema Sul. A CVRD possui uma ampla e eficiente infra-estrutura de transportes, compreendendo ferrovias, terminais portuários, linhas de navegação e sistema de comunicação. Este complexo foi implementado inicialmente visando atender as necessidades de integração do complexo de minério de ferro, mas atualmente este complexo vem sendo modernizado e expandido, atendendo também a demanda de terceiros. O Grupo vem ainda diversificando sua atuação, participando de projetos de cobre e energia elétrica, que deverão abrir novos caminhos de crescimento. 3.1.2 Principais Linhas de Negócios Algumas das principais atividades das Unidades de Negócios da CVRD são detalhadas abaixo para permitir uma melhor compreensão dos negócios da empresa: Minério de Ferro e Pelotas O segmento de minério de ferro e pelotas representa cerca de 75% das vendas brutas da controladora CVRD. O Grupo CVRD opera dois sistemas 80 próprios do tipo mina-ferrovia-porto, localizados em duas regiões distintas do País; o Sistema Norte e o Sistema Sul. O Sistema Norte está situado na região Amazônica, no Estado do Pará (550 Km sudoeste de Belém), sendo ligado por uma estrada de ferro, FC Estrada de Ferro Carajás, ao terminal marítimo de Ponta da Madeira, localizado em São Luis (Maranhão). Atualmente, a capacidade de produção de Carajás está em cerca de 50 M toneladas/ano. Carajás é reconhecido por sua alta qualidade de ferro natural (66% Fe) e pelo tamanho de sua reserva, estimada em 1,2 bilhão de toneladas medidas. A alta qualidade do minério extraído em Carajás é responsável por considerável redução de custos de beneficiamento do minério, que não necessita de processos de concentração. Ainda no sistema norte, estará sendo inaugurado em abril/2002 o complexo de pelotização de São Luis, que irá utilizar 100% do minério de Carajás. A pelotizadora terá uma capacidade 6M de toneladas com investimentos de US$ 380 M. O Sistema Sul é formado por sete minas, localizadas em Itabira, no Estado de Minas Gerais, sendo ligadas pela Estrada de ferro Vitória-Minas - EFVM, ao Porto de Tubarão. Atualmente a capacidade produção deste Sistema é de 76,5 milhões de toneladas/ano, possuindo uma reserva estimada em 2.3 bilhões de toneladas medidas. Ainda no Sistema Sul, localiza-se o Complexo de Pelotização da CVRD, constituído por sete usinas com capacidade nominal de 21,2 milhões de t/ano de pelotas de minério de ferro. Duas usinas pertencem exclusivamente à Vale e as demais foram implementadas em joint ventures com companhias da Espanha, Itália, Japão e Coréia. Os finos de minério são transportados das minas 81 de Itabira- MG para as usinas de pelotização de Vitória em trens da Estrada de Ferro Vitória a Minas, de propriedade da CVRD. Logística A CVRD possui uma ampla e eficiente infra-estrutura de transportes, compreendendo ferrovias, terminais portuários, linhas de navegação e sistema de comunicação. Inicialmente o complexo foi implementado visando atender as necessidades de integração do complexo de minério de ferro. Atualmente este complexo vem sendo modernizado e expandido, atendendo também à demanda de terceiros, nas quais a CVRD vem concentrando esforços de ampliação. Figura 12 – Mapa Logístico da CVRD Fonte: Relatório Anual da Empresa 82 Conforme detalhado no mapa anterior, o complexo é composto por duas principais ferrovias, a EFC - Estrada de Ferro Carajás e a EFVM - Estrada de Ferro Vitória Minas. A Estrada de Ferro Carajás tem como principal função o transporte de minério de ferro de Carajás até o Terminal Marítimo Ponta da Madeira. Com uma extensão de 892 km, possui uma capacidade instalada de 70 milhões de toneladas ano. Em 2000, a carga de terceiros representou 11% do volume total transportado pela EFC. A Ferrovia Vitória Minas - FVM, movimenta mais de 100 milhões de toneladas de cargas por ano e o principal produto é o minério de ferro com cerca de 80 milhões de toneladas transportadas. Circulam também por suas linhas cerca de 20 milhões de toneladas de cargas compondo um diversificado portfolio de produtos, com destaques para o aço, carvão mineral, calcário, ferro gusa, coque, contêineres, grãos, insumos agrícolas, veículos, entre outros. A FVM liga as minas de Minas Gerais e a cidade de Belo Horizonte aos portos do Espírito Santo e à região da Grande Vitória. A FCA - Ferrovia Centro-Atlântica S.A cobre extensa área do território brasileiro, constituindo-se na principal ligação ferroviária da Região Sudeste com as Regiões Nordeste e Centro-Oeste do país. Seus 7.080km de linha abrangem os estados de Sergipe, Bahia, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Distrito Federal. A FCA está ligada a quatro outras ferrovias: EFVM, MRS, CFN e Ferroban, e a importantes portos marítimos e fluviais: Salvador (BA), Aratu (BA), Vitória (ES) e Angra dos Reis (RJ), além de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA) no Rio São Francisco. 83 A Empresa transporta, em média, 1,6 milhão de toneladas por mês entre produtos industrializados e insumos, tais como: derivados de petróleo, contêineres, fertilizantes, produtos agrícolas, minérios, produtos siderúrgicos, cimento e produtos químicos. A CFN - Companhia Ferroviária do Nordeste opera, 3,4 mil quilômetros de ferrovias no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Maranhão. Tem ligação ao sul com a FCA e ao norte com a EFC. Transporta 1,7 milhão de toneladas de mercadorias: diesel, álcool, derivados de petróleo, cimento, milho, gasolina e sal entre outros. A Ferrovia Norte-Sul é somente operada pela CVRD. De propriedade do Governo, tem como objetivo a ligação de Açailândia (MA) a Goiânia (GO), e assim criar um canal de escoamento para a produção agropecuária e agro-industrial do cerrado brasileiro. Atualmente está operando no trecho de 215km de extensão, entre Açailândia e Estreito, na divisa com Tocantins, e participa de um importante corredor na Região Norte, em operação regular para cargas e passageiros, mediante convênio com a Estrada de Ferro Carajás (EFC). Portos Atendendo ao Projeto de Ferro de Carajás, a CVRD possui o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira. Localizado na Ilha de São Luís, na Baía de São Marcos, nove quilômetros a sudoeste da capital do Maranhão. Ponta da Madeira é um dos poucos terminais marítimos no mundo capacitados a carregar navios com até 420 mil toneladas de porte bruto. O canal natural da Baía de São Marcos permite o acesso fácil aos maiores navios existentes. 84 Para o complexo Sul de minério, a CVRD opera no Porto de Tubarão dois piers para embarque de pelotas, um terminal para carvão e coque, um terminal para fertilizantes e grãos, e um terminal para granéis líquidos, que atualmente é operado pela Petrobrás. Possui ainda o TVV, Terminal Marítimo de Vila Velha, que opera contêineres. Alumínio A Aluvale é a holding do Grupo CVRD responsável pelo segmento de alumínio, que através de quatro empresas operacionais compõe a produção integrada da CVRD: bauxita, alumina e alumínio primário. A Aluvale ocupa hoje uma posição entre os dez maiores players mundiais deste setor. A MRN (40% da CVRD) está localizada no Estado do Pará, e possui uma capacidade de produção de 10.7 M toneladas de bauxita, que está sendo elevada para 16.3 milhões até 2003. Da produção da MRN, 60% é transformada em alumina na Região Norte do Brasil e 40% no exterior. Adicionalmente a MRN possui uma participação de 12.62% na Alunorte. A Alunorte (46.6% da CVRD) está localizada ao lado da Albras, a cerca de 40Km de Belém, capital do Estado do Pará, no município de Barcarena. Possui uma capacidade de produção de 1.5 M toneladas de alumina, que está sendo ampliada para 2.3 M de toneladas até 2003. Opera com a bauxita da MRN (100%), Além de fornecer toda a alumina requerida pela Albras e 55% das necessidades da Valesul, a Alunorte exporta 50% de sua produção. A Albras (51% da CVRD) localiza-se no município paraense de Barcarena. Após uma ampliação durante 2001 elevou sua capacidade de produção de 360 85 mil toneladas para 400 mil toneladas / ano. Seus principais insumos, alumina e energia, são fornecidos, respectivamente, pela Alunorte e pela hidroelétrica de Tucuruí Localizada no Rio de Janeiro, a Valesul (54.5% da CVRD), possui uma capacidade nominal para produzir 92 mil toneladas / ano de alumínio primário. De seu consumo total de energia elétrica, já dispõe de 20% de geração própria com a operação de quatro hidrelétricas, com uma potência total instalada de 62MW. Participa ainda do consórcio de Machadinho, que recentemente implantou uma usina no Rio Pelotas, elevando a sua capacidade de geração própria para cerca de 50% de suas necessidades. Ferteco A Ferteco foi adquirida pela CVRD em abril/2001 por US$ 566 M. A Ferteco tem como principais atividades a mineração e o processamento de minério de ferro. É a terceira maior produtora de minério de ferro do Brasil, com capacidade de produção de 15 milhões de toneladas por ano. Possui reservas lavráveis avaliadas em 263 milhões de toneladas de hematita e itabirito, com qualidade semelhante ao minério do Sistema Sul da CVRD. Opera duas minas de minério de ferro, Fábrica e Feijão, e uma planta de pelotização no Estado de Minas Gerais que produz atualmente quatro milhões de toneladas por ano. O principal mercado para seus produtos tem sido a Europa, sendo a alemã Thyssen Krupp, sua antiga acionista, o maior cliente com seis milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas em 2000. 86 A Ferteco possui uma participação acionária de 10,5% no capital total da empresa ferroviária MRS Logística S.A. (MRS). A MRS possui uma extensão de 1.612 quilômetros e liga os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, com capacidade de transporte de carga anual de 80 milhões de toneladas. Através de uma subsidiária integral, a Companhia Portuária Baía de Sepetiba S.A. (CPBS), a Ferteco opera um terminal marítimo no Porto de Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro. A Ferteco utiliza também os serviços de transportes da CVRD, tendo embarcado no ano passado 10 milhões de toneladas de produtos pela Estrada de Ferro Vitória a Minas e Porto de Tubarão. Celmar A Celmar S.A. Indústria de Celulose e Papel, criada em março de 1992, é constituída pela CVRD (85% das ações) em associação com a Nissho Iwai Corporation (15%) e tem sede em Imperatriz, no Maranhão. A empresa está reavaliando seu projeto inicial de produção de celulose, e poderá vir a utilizar suas reservas para a produção de carvão vegetal. Florestas Rio Doce A Florestas Rio Doce S.A. (FRDSA) tem suas instalações localizadas nas regiões de Itabira e Grão Mogol, no Estado de Minas Gerais, e em São Mateus, no Espírito Santo. A empresa atua nas atividades de reflorestamento e venda de madeira. A CVRD está avaliando a alienação deste investimento. 87 3.1.3. Capacitações Diferenciais A CVRD acredita se beneficiar das seguintes forças em suas operações de minério de ferro e outros minerais: ! Recursos minerais: A CVRD possui vastos recursos de minério de ferro em suas áreas principais de mineração, no Sistema Norte (Carajás) e no Sistema Sul. Com base nos níveis de produção de 2000, possui aproximadamente 20 anos de reservas de minério de ferro e mais de 400 anos de depósitos de outros minerais; ! Jazidas de alta qualidade: Suas jazidas de minério de ferro possuem alto teor de metal comparado com os de vários de seus competidores. As reservas do Sistema Norte possuem teor de 65,4% de ferro e as reservas do Sistema Sul, possuem teor de 55,0% em média. Seus minérios possuem também baixo nível de impurezas e boas características metalúrgicas que resultam em alto nível de produtividade nas fornalhas de seus clientes; ! Habilidade de produzir ampla gama de produtos de minério de ferro: Suas minas oferecem tipos variados de características de minérios, permitindo produzir uma ampla gama de produtos de minério de ferro. Sua capacidade de conciliar a produção em larga escala com a capacidade de disponibilizar produtos especializados de minério de elevada qualidade, os quais têm alto teor de ferro, baixos níveis de impurezas e complementam as necessidades dos fornos de seus clientes permitiu que a CVRD se tornasse uma fornecedora importante a clientes asiáticos significativos, apesar de sua proximidade em relação a alguns de nossos concorrentes. 88 ! Vantagens nos custos de produção: Possui vantagens de custos relacionadas à produção e entrega na atividade comercial de minério de ferro. Tem a capacidade de transportar minério de ferro a seus clientes de forma eficaz e confiável por intermédio de sistemas próprios mina-ferroviaporto. A CVRD opera uma rede integrada de ferrovia e terminal marítimo em ambos os Sistemas, Sul e Norte. Estas redes transportam o minério de ferro das minas localizadas no interior aos terminais portuários e até os clientes nacionais. Adicionalmente, o elevado teor de ferro no Sistema Norte elimina a necessidade de operar uma unidade de concentração em Carajás. ! Posição Confortável para Atender Demanda de uma Indústria de Aço em Constante Mudança: Contínuas mudanças estruturais na fabricação do ferro e do aço estimularam o aumento da demanda por pelotas proporcionalmente em relação ao mercado mundial de minério de ferro e pelotas. A CVRD acredita que estas mudanças industriais também reduzirão a volatilidade da demanda por pelotas, a qual tinha decrescido por quase 2% e crescido por quase 17% em bases anuais desde 1996. Desta forma, a CVRD desenvolveu uma capacidade substancial de produção de pelotas porque acredita que o aumento na demanda de pelotas é uma tendência que irá continuar. ! Forte Posição em Desenvolvimento de Projetos de Cobre: Possui participações em joint ventures em cinco projetos de desenvolvimento de cobre contendo aproximadamente 1,6 bilhões de toneladas de recursos com um teor médio de 0,93%. Estudos independentes indicam que esses se situam entre os mais competitivos projetos de cobre em fase de 89 desenvolvimento no mundo em termos de custo de investimento por tonelada de minério e, parcialmente em virtude de serem minas de extração a céu aberto e a disponibilidade de ter o ouro como um subproduto. Os projetos estão situados em Carajás, se beneficiando das eficiências disponibilizadas por seu sistema, já existente, mina-ferroviaporto. A CVRD acredita que esses projetos oferecem um sólido alicerce para a sua estratégia de buscar por uma posição significativa no crescente mercado mundial do cobre. ! Atividades Integradas de Alumínio de Baixo Custo: Realiza operações integradas de alumínio basicamente por intermédio de joint ventures, que envolvem a mineração de bauxita, o refino da alumina e a produção de alumínio primário. Sua joint venture de bauxita é detentora de 166,8 milhões de toneladas de reservas provadas e prováveis de bauxita e de 626,4 milhões de toneladas de outros recursos minerais de bauxita. Sua refinaria de alumina é moderna e diretamente adjacente a uma de nossas instalações de fundição de alumínio. A ALBRAS se situa entre os 5% primeiros produtores com o mais baixo cash cost entre os produtores na industria de alumínio primário. Conseqüentemente, pode-se observar que a CVRD possui cash cost de produção de alumínio primário inferior a maioria de seus competidores. ! Forte Posição em Minério de Manganês e Ferro Ligas: A CVRD é uma das líderes mundiais de produção de minério de manganês e ferro liga de manganês. Acredita que sua principal mina de manganês, Igarapé do Azul, possui, mundialmente, o custo mais baixo de produção e, portanto, que seus custos de extração de manganês são mais baixos que os da maioria 90 dos concorrentes. Continua a consolidar sua posição de produtora integrada de minério de manganês e ferro liga. Recentemente a CVRD adquiriu as participações de seu ex-parceiro na CPFL e na SIBRA, ambas produtoras líderes de ferro ligas, possuindo agora 460 mil toneladas de capacidade de produção anual atribuível. Possui auto-suficiência em minério de manganês no que se refere ao fornecimento dessa capacidade de produção. Em 31 de dezembro de 2000 possuía 39,4 milhões de toneladas de reservas provadas e prováveis de manganês, ou mais de 20 anos de fornecimento às atuais taxas de produção. ! Atividade Comercial de Logística Integrada: Possui ampla experiência na administração de operações complexas de logística. Construído originariamente para servir a atividade comercial de minério de ferro, seu sistema de logística inclui Estrada de Ferro Vitória-Minas de 898 km e os portos de Tubarão e Praia Mole no Sistema Sul, e Estada de Ferro de Carajás, de 892 km e o terminal marítimo de Ponta da Madeira no Sistema Norte. Adicionalmente, nos últimos cinco anos adquiriu lotes de ações em três ferrovias privatizadas, incluindo a Ferrovia Centro-Atlântica, que faz interligação com a Estrada de Ferro Vitória-Minas utilizando a mesma bitola de trilho, alavancando, portanto, seus volumes. Esses investimentos visaram expandir mais sua atividade comercial de carga. Acredita que sua ampla experiência em transporte, quando aplicada a essas atividades comerciais, deva aumentar sua lucratividade e eficiência. ! Recursos Financeiros: O balanço patrimonial e os sólidos fluxos de caixa da CVRD a suprem de recursos financeiros para que continue a perseguir oportunidades de crescimento e desenvolvimento. A CVRD gera fluxos de 91 caixa operacionais de US$ 1.424 milhões em 2000 sobre receitas operacionais de US$ 4.069 milhões. A razão de sua dívida sobre o patrimônio líquido em 31 de dezembro de 2000 era de 0,4:1,0, e por essa razão acreditam ter capacidade para dívidas adicionais. Substancialmente todas as suas vendas de minério de ferro são efetuadas com amparo de contratos de longo prazo, um fator que minimiza sua exposição a flutuações de volume em bases anuais. Procura proteger sua produção de alumínio e ouro contra a volatilidade de preços, utilizando-se de instrumentos de hedge, de maneira a manter estável seu fluxo de caixa. 3.1.4 Desempenho Recente O desempenho da CVRD em 2000 e 2001 esteve fortemente atrelado ao desempenho do câmbio, dado o elevado nível de exportação da companhia frente ao percentual de seus custos atrelados ao Real, fato que lhe garantiu margens EBITDA bastante satisfatórias. A tabela 3 apresenta abaixo a evolução recente de alguns resultados financeiros consolidados em US$ de 1999 até o primeiro semestre de 2001 e a figura 13 apresenta a evolução do valor de mercado em US$ da CVRD. Tabela 3 – Resultados Financeiros Consolidados, 1999 a 1S2001 (US$ milhões) 1998 1999 2000 1S2001 Receita Bruta 3.658 3.157 4.069 2.034 Lucro Líquido 896 412 1.100 363 1.341 1.282 1.682 867 631 469 1489 486 EBITDA Capex Fonte: Relatório 20-F da CVRD 92 Figura 13 – Capitalização da Empresa em US$ (1996 a 2S2001) 12 10,3 9,6 10 8 9,1 7,5 7,9 6 4,9 4 2 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Fonte: Relatórios 20-F da CVRD A desvalorização do Real implicou em crescimento das receitas brutas, não acompanhado pelos custos dos produtos vendidos, resultando em ganhos de margem. Por outro lado, contudo, acarretou em aumento das despesas financeiras, em função do impacto na dívida em dólares (variação monetária negativa), e perdas na equivalência patrimonial. As empresas do Grupo localizadas no exterior, como a Itaco e a CSI, foram beneficiadas pela desvalorização, enquanto que as situadas no Brasil, como a Albras e Alunorte, realizaram perdas devido às suas dívidas líquidas atreladas ao dólar. O crescimento de vendas vem sendo impulsionado principalmente pela expansão do mercado transoceânico onde a CVRD conquistou novos clientes. Parte desse aumento é derivado de maior penetração na Europa Oriental e China. 93 A China, o maior produtor de aço do mundo, está reestruturando sua indústria, fato que tem implicado, em crescente substituição do minério doméstico por produto importado de melhor qualidade. No ano de 2000 a participação chinesa no mercado transoceânico era de 15.6%, contra menos de 4% no início dos anos 90. Investimentos em portos com maior capacidade permitirão que as importações chinesas cresçam no futuro. Nos nove primeiros meses do ano de 2001, as vendas da Vale para a China apresentaram salto de 76.9% em relação ao mesmo período de 2000. A Receita Bruta consolidada do grupo CVRD nos seis primeiros meses de 2001 somou US$ 2,0 bilhões e a figura 14 apresenta a divisão das vendas por produto. Figura 14 – Receita Consolidada por Produto, Jan a Set de 2001 Potássio e Caulim Outros 2% Ouro 2% 3% Manganês 5% Alumínio 11% Siderurgia 11% Minério de Ferro e Pelotas 53% Logística 13% Fonte: Relatório Anual da Empresa 94 A CVRD foi forte geradora de caixa no período de 1998 até o primeiro semestre de 2001, sendo capaz de pagar dividendos acima do mínimo comprometido de 50% do lucro líquido4 e financiar com facilidade necessidades de caixa como as observadas em 2000. A tabela 4 permite observar os principais fluxos de caixa observados. Tabela 4 – Fluxos de Caixa Consolidados, 1999 a 1S 2001 (US$ mil) 1998 1999 2000 1S 2001 Fluxo de Caixa Operacional 1.615 1.569 1.739 762 CAPEX (631) (469) (1.489) (486) Fluxo de Financiamento 432 458 940 940 Pagamento de Dividendos (607) (452) (246) (639) Fonte: Relatório 20-F da CVRD Desta forma, a evolução do endividamento neste período, foi influenciada por estes fluxos de caixa, apresentando um grande crescimento em 2000, para suprir às necessidades de investimento da época, conforme pode ser observado na figura 15. 4 A CVRD se compromete no seu estatuto a pagar pelo menos 50% do lucro líquido do período em dividendos 95 Figura 15 – Evolução do Endividamento, 1998 a 1S 2001 de 2001 (US$ ‘000) 2750 2.694 2700 2650 2600 2550 2500 2.484 2.478 2.427 2450 2400 2350 2300 2250 1998 1999 2000 2001 Fonte: Relatório Anual da Empresa 96 3.2. Projeções de Analistas 3.2.1. Premissas de Câmbio, Vendas e CPV Para fazer a modelagem e avaliar o potencial de criação de valor através de uma política integrada de Gestão de Riscos, foram avaliadas as projeções de quatro bancos de Investimento que acompanham a CVRD: Unibanco (BROLLO,2002), Pactual (LAYDNER, VILELA, 2002), Salomon Smith Barney (CORROU, JIMENEZ, 2002) e JP Morgan (LUPARIA, FULTON, 2002). As principais premissas destes relatórios encontram-se nos quadros abaixo: Tabela 5 –Premissas de Câmbio (R$/ US$), 2001 a 2005 Unibanco 2001 2002 2003 2004 2005 2,31 2,59 2,65 2,68 2,71 JP Morgan 2,31 2,50 2,60 N.D.* N.D.* Pactual 2,31 2,59 N.D.* N.D.* N.D.* Salomon Smith Barney 2,36 2,79 2,93 N.D.* N.D.* Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. As projeções de receita abaixo se referem à receita do centro corporativo, e não incorpora a receita das subsidiárias da CVRD. Para fins desta análise, considerar-se-á os fluxos de caixa das subsidiárias entrando como dividendos, para reproduzir melhor a realidade. Deve-se ressaltar que as projeções de receita dos analistas são muito semelhantes, mostrando um certo consenso com relação a este dado. 97 Tabela 6 –Receita Líquida, 2001 A 2005 (US$ mil) 2001 2002 2003 2004 2005 Unibanco 2.756 2.643 2.879 3.082 3.245 JP Morgan 2.738 2.823 2.941 N.D.* N.D.* Pactual 2.743 2.584 N.D.* N.D.* N.D.* Salomon Smith Barney 2.731 2.817 3.054 N.D.* N.D.* Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. Nas projeções de custo dos produtos vendidos começa a haver um pequeno descolamento entre as premissas, porém não chega a ser uma discordância substancial como pode ser observado na tabela abaixo: Tabela 7 –Custos dos Produtos Vendidos, 2001 a 2005 (US$ mil) Unibanco 2001 2002 2003 2004 2005 2.732 2.868 3.178 3.372 3.586 JP Morgan 2.703 3.098 3.336 N.D.* N.D.* Pactual 3.225 3.540 N.D.* N.D.* N.D.* Salomon Smith Barney 2.775 3.298 3.352 N.D.* N.D.* Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. 3.2.2. EBITDA e CAPEX A tabela abaixo resume as projeções de EBITDA, que começam a apresentar diferenças maiores entre os analistas: 98 Tabela 8 – EBITDA da CVRD, 2001 a 2005 (US$ mil) Unibanco 2001 2002 2003 2004 2005 1.401 1.107 1.197 1.257 1.324 JP Morgan 1,384 1.399 1.468 N.D.* N.D.* Pactual 2030 1953 N.D.* N.D.* N.D.* Salomon Smith Barney 1.014 1.027 1.181 N.D.* N.D.* Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. Os dados de CAPEX apresentados abaixo não incluem os projetos de Cobre e de Energia, que são apresentados logo a seguir: Tabela 9 – CAPEX da CVRD, 2001 a 2005 (US$ mil) Unibanco JP Morgan Pactual Salomon Smith Barney 2001 2002 2003 2004 2005 633 463 218 223 229 620 650 500 N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* 644 569 325 N.D.* N.D.* Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. Os analistas trabalham com os mesmos valores para os investimentos em Cobre e energia, e, portanto não foi necessário apresentar dados separados por analistas: Tabela 10 – Investimentos em Cobre e Energia Participação da CVRD Início CAPEX (US$ mil) 99 Sossego 100% Jan-04 486 Cristalino 50% Set-05 250 Alemão 67% Set-06 369 Salobo 50% Jan-07 503 118 50% Jul-04 85 Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. Conforme pode ser observado no quadro acima, espera-se que as primeiras minas de cobre já entrem em operação em 2004. 3.2.3. Repagamento da dívida e Pagamento de Dividendos A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) possui em junho de 2001 o seguinte calendário de pagamento de suas dívidas. Como pode ser observado na tabela abaixo, existe um grande fluxo de repagamento nos anos 2002 e 2003 e, se a dívida não for refinanciada, praticamente se esgotará até 2005. Tabela 11 – Repagamento das dívidas, 2001 a 2005 (US$ mil) 2001 Repagamento Saldo Final da Dívida 2002 2003 2004 125 644 710 190 125 2.353 1.709 1.065 355 230 2005 Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível. 100 A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) se compromete em seu estatuto social a distribuir pelo menos 50% do lucro líquido aos seus acionistas. Tal fato gera um grande comprometimento e pode ser um fator complicador da gestão do fluxo de caixa da empresa. 101 4. METODOLOGIA E MODELAGEM 4.1. Tipo de Pesquisa De acordo com a taxonomia proposta por Vergara (1997), a pesquisa presente neste estudo pode ser classificada em termos dos meios que utiliza ou dos fins a que se destina. O presente trabalho tem como foco a caracterização e análise do potencial de criação de valor através da gestão financeira de risco em uma empresa brasileira, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Assim, quanto aos fins, enquadra-se como uma pesquisa do tipo descritiva. Gil (1989), caracteriza as pesquisas descritivas como sendo aquelas que têm como objetivo primordial à descrição de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Ressalta, contudo, que algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação de existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Neste caso tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Este trabalho procura identificar a natureza das relações observadas na prática da gerência de risco na CVRD à luz da teoria existente e, portanto se aproxima também da pesquisa explicativa. Com relação aos meios, a pesquisa pode ser classificada como uma pesquisa de campo, pois adere à definição de Vergara (1997), de uma pesquisa centrada em poucas entidades (no caso, a Companhia Vale do Rio Doce), caracterizada pela profundidade e pelo detalhamento. 102 Yin (1994), afirma que em estudos nos quais o tipo de questão de pesquisa é “Por que” , como é o caso do presente estudo, temos uma questão que tende a ser mais explicativa e, portanto, implica no uso de estudos de caso, pesquisas históricas ou de pesquisas experimentais, como estratégias de pesquisa preferenciais. Isto se deve a tal questão lidar com links operacionais, tornando-se necessário traçar um estudo no tempo, ao invés da mera observação de freqüências ou de incidências. Yin (1994) argumenta, contudo, que se deve usar o método do estudo de caso em situações nas quais se deseja, deliberadamente, estudar condições contextuais, na crença de que elas podem ser altamente pertinentes para o estudo em questão. 4.2. Coleta de Dados Para coletar informações que permitissem a realização deste trabalho, foi necessário recorrer a uma ampla gama de fontes, incluindo fontes secundárias e pesquisa de campo. Desta forma, utilizou-se dos seguintes meios: ! Fontes secundárias: " Relatórios anuais e demonstrações financeiras da empresa: Utilizados para se obter detalhes das políticas financeiras da empresa e para analisar os seus negócios, a sua estratégia e a sua situação financeira atual e histórica; 103 " Relatórios de analistas de bancos de investimento: Analisados em conjunto para permitir integrar diversas visões sobre as projeções financeiras da CVRD; " Clippings de jornal e de revistas: Onde foi possível obter informações mais atuais sobre a estratégia de gerência de riscos e os planos de investimento da empresa " Bancos de dados financeiros: Utilizados para estimar os parâmetros de entrada do modelo de simulação de um processo estocástico de evolução dos preços das principais commodities que a CVRD comercializa ! Pesquisa de Campo: " Entrevistas com a equipe responsável pela gestão dos riscos financeiros na empresa: Visou consolidar a análise das políticas declaradas pela empresa e buscar um detalhamento da estratégia de gestão de riscos o Durante essa entrevista, utilizou-se a base conceitual do presente trabalho como roteiro, questionando a estratégia de gerência de risco, sem buscar aprofundamento na mecânica utilizada. 104 4.3. Tratamento dos Dados 4.3.1. Tipo de Tratamento Utilizado Vergara (1997) aponta que os dados podem ser tratados de forma quantitativa ou qualitativa, devendo-se utilizar a técnica que melhor se adequar aos fins propostos. No caso do presente estudo, optou-se por trabalhar os dados tanto de forma qualitativa, através da estruturação e análise do caso, quanto de forma quantitativa, através da construção de um modelo em Excel para analisar as projeções de fluxo de caixa da empresa e de técnicas de simulação Monte Carlo, utilizando o Cristal Ball. Goode e Hatt (1979), enfatizam a importância da teoria no estabelecimento de inter-relações entre proposições. Mediante uma teoria pode-se verificar que atrás dos dados existe uma série complexa de observações e suposições que servem para nortear a análise. Portanto, o trabalho se propõe a fazer combinar a análise qualitativa e a quantitativa, à luz da teoria, para inferir sobre o potencial de criação de valor na empresa em questão. Deve-se levar em consideração, contudo, a observação de Gil (1987), o qual, alerta para o fato que, teorias que não são suficientemente confirmadas, podem dar uma falsa adequação à realidade, e até inibir investigações apropriadas. 105 4.3.2. Tratamento Qualitativo Foi feita uma análise qualitativa da prática da gestão de riscos na CVRD visando contrapô-la com a teoria. Para tanto, foram comparadas as seguintes dimensões: ! Intensidade de utilização de derivativos ! Hedge por classes de risco ! Escopo da Gestão de Riscos ! Incorporação de visão de mercado na política de hedge Esta análise permitiu comparar o comportamento da CVRD com os comportamentos observados empiricamente e discutir este comportamento com base nas teorias modernas de maximização de valor através da gestão de riscos. 4.3.3. Tratamento Quantitativo Para a análise quantitativa foi necessário construir um modelo em Excel para projetar os fluxos de caixa da empresa para os próximos cinco anos. Este modelo utiliza processos estocásticos para simular o comportamento dos preços das commodities e simula distribuições normais para alguns custos e investimentos da CVRD, baseando estas simulações em observações históricas. O resultado deste modelo é um conjunto de projeções das distribuições de necessidades de financiamento da CVRD. Para decidir se o resultado possui potencial de criação de valor através do hedge serão utilizados dois cenários: 1) O primeiro com a volatilidade normal 106 observada nos preços de commodities e 2) O outro com uma redução na volatilidade simulando o efeito do hedge. Como não foi feita nenhuma análise da viabilidade de redução da volatilidade e do quanto é possível reduzir a mesma com os instrumentos de gestão de riscos disponíveis no mercado, optou-se por fazer uma análise de sensibilidade no segundo cenário, de forma a permitir analisar os resultados em diversas situações de diminuição de volatilidade. Para estes dois resultados, será utilizado um modelo de determinação do Bond Rating e do custo de financiamento de empresas, desenvolvido pela Monitor Group. Se o cenário com hedge permitir a eliminação de cenários de deterioração do rating e de grande crescimento dos custos de financiamento, será considerado que existe potencial de criação de valor através da redução das chances de existência de cenários com maiores restrições financeiras (maiores custos em momentos de grandes investimentos) que tenderiam a provocar um desestímulo a investimentos com NPV positivo, ou um estímulo ao sub-investimento. 4.4. Modelo de Simulação O modelo desenvolvido utiliza a estrutura conceitual desenvolvida por Mello (1999) e separa os fluxos de caixa da empresa nos fluxos operacionais, que irão constituir a oferta interna de fundos, nos fluxos de investimento, que irão ditar a necessidade de investimentos, e nos fluxos de financiamento que determinam a oferta externa de fundos. 107 Desta forma, utilizou-se a projeção dos analistas de mercado mencionados anteriormente para projetar os componentes destes três “building blocks” do fluxo de caixa da empresa. Para fazer a simulação de Monte Carlo assumiu-se que os preços de cobre, minério de ferro, alumínio e ouro seguem um processo estocástico de difusão, utilizando-se dos trabalhos de Gibson e Schwartz (1990) e de Schwartz (1997). Assume-se, portanto, que os preços de cobre, de alumínio, de ouro e de minério de ferro seguem um movimento geométrico browniano, enquanto que seus convenience yields apresentam auto-correlação serial. O preço de cada commodities é negativamente correlacionada com o seu convenience yields e que as commodities possuem correlação positiva umas com as outras. Formalmente, a dinâmica de preços e de convenience yields são dadas pelas seguintes fórmulas: ∂Pc = (r − δ c )∂t + σ c ∂ z c Pc ∂PAu = (r − δ Au )∂t + σ Au ∂ z Au PAu ∂PAl = (r − δ Al )∂t + σ Al ∂ z Al PAl ∂PFe = (r − δ Fe )∂t + σ Fe ∂ z Fe PFe ∂δ c = κ c (α c − δ c )∂t + σ δ c ∂ z δ c 108 ∂δ Au = κ Au (α Au − δ Au )∂t + σ δ Au ∂ z δ Au ∂δ Al = κ Al (α Al − δ Al )∂t + σ δ Al ∂ z δ Al ∂δ Fe = κ Fe (α Fe − δ Fe )∂t + σ δ Fe ∂ z δ Fe Onde as letras P se referem a variáveis de preço, r se refere à taxa livre de risco, δ’s se referem a convenience yields, e os subscritos Z, C, Au, Al e Fe, se referem aos minerais “zinco, cobre, ouro, alumínio e minério de ferro”, respectivamente. Os α’s são a média de longo prazo dos convenience yields, enquanto os κ’s são os coeficientes de auto-correlação serial, ditando a velocidade com a qual os convenience yields alcançam a média de longo prazo. Os dz’s são os incrementos correlacionados do processo Browniano padrão, com correlação entre os seus resíduos. Para ilustrar, vamos mostrar a relação entre o cobre e o ouro: ∂z c ∂z Au = ρ cz ∂t ∂z c ∂z δ c = ρ c ,δc ∂t b ∂z Au ∂z δAu = ρ Au ,δ Au ∂t Onde os ρ’s denotam o coeficiente de correlação correspondente entre os incrementos do processo browniano. Para obter estimativas dos parâmetros relevantes, foram utilizados preços spot dos metais e preços de futuros para o período de janeiro de 1992 a dezembro de 2001. Utilizaram-se assim os preços spot e futuro de 3 meses para 109 determinar os convenience yields, utilizando a metodologia descrita na equação 9 do trabalho de Gibson e Schwartz (1990): δ = r '− 4 ln ( F ( S ,3) ) S Onde o r’ é a taxa livre de risco de 3 meses, S é o preço spot e F (S,3) é o preço futuro de 3 meses. Para determinar os parâmetros κ e α, foi feita a regressão: δ t − δ t −1 = a + bδ t −1 + ξ t A simulação de Monte Carlo utilizada, gerou 1000 resultados que foram utilizados como input para o cálculo da receita da CVRD. Além disso, o modelo utilizou as projeções de câmbio e investimentos dos analistas de mercado para simular uma distribuição normal com média igual à projeção dos analistas e desvio padrão igual a 10% do valor projetado. Optou-se por simular estas distribuições em torno das projeções para permitir um melhor retrato da dinâmica empresarial da CVRD, na qual os resultados são influenciados também por outras incertezas além dos riscos de preço de commodities. 4.5. Modelo de Bond Rating desenvolvido pela Monitor Group Para fazer uma inferência sobre os custos ligados a dificuldades financeiras, foi utilizado um modelo desenvolvido pela Monitor Group para prever o rating de uma empresa e , de posse do rating, estimar o custo de financiamento 110 ao qual estaria submetida esta empresa na situação analisada. Este modelo nada mais é do que uma regressão, na qual se utilizam os seguintes dados de balanço: ! Logaritmo neperiano dos Ativos; ! Alavancagem da empresa, medida pela relação entre a dívida e o valor total da empresa (dívida mais valor de mercado); ! Interest coverage ratio; ! Mix de vencimento das dívidas da empresa, medido pela relação entre dívida de curto-prazo e dívida de longo-prazo; ! Indústria em que se encontra a empresa analisada; ! Volatilidade dos fluxos de caixa da empresa; e ! Uma variável binária que é igual a 0 em ambientes regulatórios estáveis e iguais a 1 em ambientes regulatórios instáveis. Com este modelo e com a pesquisa de mercado realizada pela Monitor sobre os custos de empréstimo associados a diferentes níveis de rating, foi possível estimar o custo de diferentes cenários de financiamento. 4.6. Limitações do Método As principais limitações desta pesquisa são decorrentes do próprio método utilizado: 111 ! Por utilizar-se de análise de relatórios da empresa e de relatórios de analistas, este método pode introduzir erros associados à capacidade de interpretação do pesquisador. ! A entrevista pessoal também pode introduzir erros associados à capacidade de percepção do entrevistado/ entrevistador, conflitos entre o que é a prática e o que o(s) entrevistado(s) gostaria(m) que fosse, e à dificuldade inerente ao processo, de o entrevistado não lembrar de algum aspecto importante para a análise do caso. ! Como abrangerá um universo de apenas uma empresa, as conclusões tiradas do estudo não devem e não podem ser generalizadas para uma população maior. Servem, contudo, para orientar e despertar questões e hipóteses para serem abordadas em estudos posteriores. Pode-se observar ainda outras limitações que não são diretamente ligadas ao método, as quais são função de: ! Escassez de literatura sobre o assunto no Brasil, o que forçou a utilização de literatura estrangeira. Por outro lado, tal escassez reforça a importância do presente estudo e de outros que venham a contribuir com o avanço do conhecimento nesta área. 112 5. RESULTADOS 5.1. Análise da Estratégia de Hedge da CVRD 5.1.1. A Política de Hedge da CVRD A CVRD possui exposição a riscos de preço de commodities, taxas de juros e taxas de câmbio e gerencia os três através de operações com derivativos. A CVRD deixa claro que a utilização destes instrumentos é única e exclusivamente voltada para a redução da exposição a riscos, não sendo os mesmos utilizados para fins especulativos. As atividades de gerenciamento de risco na CVRD seguem políticas e orientações revisadas e aprovadas pelo Conselho de Administração. Estas políticas e orientações geralmente proíbem a comercialização especulativa e vendas a descoberto e requerem diversificação de transações e parceiros. A CVRD avalia e monitora sua posição de derivativos diariamente, de maneira a avaliar os resultados financeiros e o impacto no seu fluxo de caixa. Os limites de crédito e de credibilidade de cobertura de contrapartes são revisados periodicamente para o acontecimento destas transações de hedge. Em função das políticas e práticas estabelecidas para as operações com derivativos, a gerência financeira da CVRD considera improvável a ocorrência de situações de risco não mensuráveis. Em dezembro de 2000, a CVRD introduziu um novo sistema de gestão de riscos, para avaliar, medir e gerenciar riscos de mercado associados com as suas atividades financeiras, utilizando para isso a metodologia do value-at-risk (VAR). 113 O VAR incorpora uma variedade de fatores de risco que afetam os resultados da CVRD, incluindo volatilidades de commodities, taxas de juros e taxas de câmbio, assim como as correlações entre estas variáveis. Esta ferramenta permite um monitoramento mais eficiente da exposição ao risco de mercado. 5.1.2. Riscos da Taxa de Juros e da Taxa de Câmbio da Dívida da CVRD A tabela abaixo apresenta um resumo de informações relativas às taxas fixas e flutuantes das dívidas de longo prazo da CVRD, separadas em moeda local e estrangeira, e como um percentual dos seus empréstimos de longo prazo em 31 de dezembro de 1999 e 2000, incluindo empréstimos com partes relacionadas e não relacionadas, conforme as demonstrações contábeis consolidadas da CVRD. Tabela 12 – Perfil da Dívida de Longo Prazo da CVRD, 1999 e 2000 (US$ Milhões) 1999 2000 Dívida denominada em R$ com taxa flutuante 165 12,8% 131 6,6% Dívida denominada em Moeda Estrangeira com taxa flutuante 537 41,6% 1.051 53,5% Dívida denominada em Moeda Estrangeira com taxa fixa 588 45,6% 783 39,9% 1.290 100% 1.965 100% TOTAL Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 114 5.1.3. Riscos de Taxas de Juros A CVRD está sujeita a riscos relacionados a taxas de juros no que se refere às taxas flutuantes da sua dívida. Sua dívida de longo prazo com taxa flutuante é constituída principalmente de notas e empréstimos em dólares norteamericanos, os quais são utilizados basicamente para financiar seus custos de capital e investimentos em empréstimos para joint ventures e companhias afiliadas. A dívida de curto prazo com taxa flutuante da CVRD é composta principalmente de financiamentos de comercialização em dólares norteamericanos. De maneira geral, a dívida em moeda estrangeira com taxa flutuante da CVRD está sujeita a mudanças da LIBOR. A sua dívida em reais com taxa flutuante está sujeita a mudanças da TJLP, taxa fixada pelo BNDES. A carteira de derivativos de taxa de juros da CVRD consiste basicamente de opções de comercialização com o propósito de limitar a exposição às flutuações das taxas de juros. A tabela abaixo permite visualizar a carteira de derivativos de taxas de juros da CVRD em 31 de dezembro de 2000 e 1999: 115 Tabela 13 – Carteira de Derivativos de Taxa de Juros da CVRD, 1999 e 2000 (US$ Milhões) 1999 2000 Valor Nominal Faixa de Taxa Ganho (Perda) Não Realizado Valor Nominal Faixa de Taxa Ganho (Perda) Não Realizado Vencimento Final Cap 1200 5-8% 10 1200 5-8% 3 12/ 2004 Floor 850 5,0-6,5% (4) 850 5,0-6,5% (7) 12/ 2004 Swap - 5,5-7,5% - 125 5,5-7,5% (4) 12/ 2007 6 (8) Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 Os prejuízos não realizados no valor de $8 milhões representariam um valor a pagar se todas as transações houvessem sido liquidadas em 31 de dezembro de 2000. 5.1.4. Riscos da Taxa de Câmbio A dívida de longo prazo da CVRD está primordialmente denominada em moedas estrangeiras, principalmente em dólares norte-americanos. Devido ao fato das suas receitas estarem primordialmente denominadas em dólares norteamericanos, a CVRD não acredita que a alta incidência de débitos em dólares na sua carteira de dívidas de longo prazo a exponha a montantes não cobertos oriundos do risco da taxa de cambio. 116 Contudo, uma parte da sua dívida está denominada em euros e ienes japoneses, e a CVRD usa instrumentos derivativos para se proteger contra riscos específicos associados a movimentações de taxa de câmbio destas moedas estrangeiras. A tabela abaixo apresenta informações com relação à carteira de derivativos da CVRD em 31 de dezembro de 2000 e 1999. Estes derivativos estão estruturados a termo com as compras da CVRD, as quais requerem a compra de moedas estrangeiras, como abaixo: Tabela 14 – Carteira de Derivativos de Taxa de Câmbio da CVRD, 1999 e 2000 (US$ Milhões) 1999 2000 Valor Nominal Faixa de Preço Ganho (Perda) Não Realizado Valor Nominal Faixa de Taxa Ganho (Perda) Não Realizado Vencimento Final Iene 8 90 – 100 Ienes/ US$ 0,6 8 90 – 100 Ienes/ US$ (2) 4/ 2005 Euro 13,3 US$ 0,21,2 E (1,1) 13,3 US$ 0,21,2 E (2) 4/ 2005 (0,5) (4) Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 Os prejuízos não realizados no valor de U$ 4 milhões e US$ 0,5 milhão representam os valores a pagar se todas as transações houvessem sido liquidadas em 31 de dezembro de 2000 e 1999, respectivamente. 117 5.1.5. Risco de Preços de Commodities A CVRD também está sujeitos a vários riscos de mercado associados à volatilidade dos preços nos mercados mundiais de: ! Minério de ferro, que representaram 53,5% das receitas consolidadas da CVRD de 2000, ! Alumínio, que representaram 8,9% das receitas consolidadas da CVRD de 2000, e ! Ouro, que representaram 3,8% das receitas consolidadas da CVRD de 2000. A CVRD não realiza transações com derivativos para proteger a sua exposição em minério de ferro em função da baixa volatilidade desta commodity e da ausência de instrumentos no mercado que viabilizem tal operação. Para gerenciar o risco associado com as flutuações nos preços de alumínio, suas empresas afiliadas Albras e Alunorte se engajaram em transações de hedging envolvendo opções do tipo puts e calls, assim como contratos “forward”. Estes instrumentos derivativos permitem a ALBRAS e a ALUNORTE estabelecer lucros médios mínimos para suas futuras produções de alumínio excessivas aos seus custos de operação e, conseqüentemente, assegurar geração estável de caixa. Contudo, eles também têm o efeito de reduzir ganhos potenciais com o aumento de preço do mercado spot de alumínio. 118 A tabela abaixo apresenta informações com relação à carteira de derivativos da ALBRAS em 31 de dezembro de 2000 e 1999. A CVRD possui 51% de participação tanto no capital votante quanto no capital total da ALBRAS. Tabela 15 – Carteira de Derivativos de Preços de Alumínio da Albras, 1999 e 2000 (US$ Milhões) 1999 Valor Nominal Faixa de Preço Ganho (Perda) Não Realizado Valor Nominal Faixa de Preço Ganho (Perda) Não Realizado Vencimento Final 42,000 1,450 2,0 39,000 1,450 (5,3) 12/2001 85,189 1,500 (1,4) 168,000 1,500 (20) 12/2006 105,000 1,500 (5,5) 90,000 1,500 (13,8) 12/2003 Puts Forward Calls 2000 (4,9) (39,1) Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 A tabela abaixo apresenta informações com relação à carteira de derivativos da Alunorte em 31 de dezembro de 2000 e 1999. A CVRD possui 50,3% de participação no capital votante e 49,3% de participação no capital total da Alunorte. 119 Tabela 16 – Carteira de Derivativos de Preços de Alumínio da Alunorte, 1999 e 2000 (US$ Milhões) 1999 2000 Valor Nominal Faixa de Preço Ganho (Perda) Não Realizado Valor Nominal Puts 60,000 1,450-1,650 3,8 - Forward 24,000 1,500-1,700 (0,4) 15,000 Calls 163,500 1,500-1,700 (5,1) 60,000 Collar condicio nal 36,000 0,2 - Ganho (Perda) Não Realizado Vencimento Final - 12/2002 1,500 (0,1) 12/2002 1,500 (4,9) 12/2002 - 12/2003 Faixa de Preço 1,4 5 0 –1,550 (puts) 1,5 5 0 –1,700 (call) (1,5) (5,0) Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 Para gerenciar o risco associado com flutuações no preço do ouro, a CVRD opera instrumentos derivativos que permitem estabelecer um nível mínimo de lucro para a futura produção de ouro. Contudo, eles também podem ter o efeito de eliminar o efeito ganhos potenciais com o aumento de preço do mercado spot de ouro. 5.1.6. A Adoção do SFAS 133 A partir de janeiro de 2001, a CVRD adotou o “SFAS 133 Accounting for Derivative Financial Instruments and Hedging Activities", de acordo com as alterações do SFAS 137 e SFAS 138, e começou a retratar todos os derivativos no seu balanço ao fair value. De acordo com esta metodologia, foi reconhecido um ajuste de US$ 3 mil como uma despesa na demonstração de resultados, 120 relativa a perdas não realizadas em contratos abertos anteriormente a Dezembro de 2000. Após o dia 1 de Janeiro de 2001, todos os derivativos foram ajustados no valor justo de mercado a cada data do balanço e a mudança foi incluída na demonstração de resultado. Para os seis primeiros meses terminados em 30 de Junho de 2001, o movimento de ganhos ou perdas não-realizados e realizados em instrumentos derivativos será de acordo com a tabela 17 ilustrada a seguir: Tabela 17 – Ganhos/ Perdas Líquidas das Posições de Derivativos, 30 de Junho de 2001 (US$ mil) Ouro Taxas de Moedas Juros estrangeiras Total Ganhos/ Perdas Iniciais Não-realizadas em 1o de Janeiro de 2001 9 (8) (4) (3) Mudança no período, incluída em outras despesas não operacionais 6 (10) (4) (8) Ganhos/ Perdas Realizados no período (4) 2 3 1 Ganhos/ Perdas Não-realizadas em 30 de Junho de 2001 11 (16) (5) (10) Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 A tabela 18 permite ver, para esses instrumentos, as suas respectivas datas de vencimento: 121 Tabela 18 – Ganhos/ Perdas Líquidas das Posições de Derivativos, 30 de Junho de 2001 (US$ mil) Ouro Dezembro de 2004 Taxas de Juros Moedas Outubro de 2007 Abril de 2005 Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 5.1.7. Comparação com a Teoria Nesta seção, é feita a análise qualitativa da prática da gestão de riscos na CVRD visando contrapô-la com a teoria. Para tanto, foram analisadas as seguintes dimensões: 1) Intensidade de utilização de derivativos; 2) Hedge por classes de risco; 3) Escopo da Gestão de Riscos; 4) Incorporação de visão de mercado na política de hedge; e 5) Fontes de criação de valor via hedge 1. Intensidade de utilização de derivativos A CVRD utiliza derivativos para gerenciar os riscos de taxas de juros, taxas de câmbio em iene e em euro e preços de commodity de ouro e alumínio. Desta forma, não são gerenciados os riscos de taxa de câmbio de dólar (porque a CVRD considera que só se beneficia com as variações do dólar), preços de commodity de óleo combustível (parte integrante de seus custos), energia elétrica (custo), minério de ferro (aparentemente por não possuir mercado 122 de derivativos), ferro-ligas, manganês, outros não-ferrosos (e.g. caulim e potássio), etc. Como pode ser observado na tabela abaixo, o uso de derivativos varia muito em função do tipo de risco gerenciado e do instrumento derivativo utilizado. Observa-se, entretanto que, dada a gama de riscos existentes nos negócios da CVRD, a utilização de derivativos na CVRD não é muito intensa, podendo ser classificada como de média para baixa intensidades. Tabela 19 – Intensidade de Uso de Derivativos na CVRD Taxa de Câmbio Taxa de Juros Preço de Commodity Iene Euro Dólar Al Au Outros Cap 4 1 1 1 1 1 1 Floor 3 1 1 1 1 1 1 Collar 1 1 1 1 2 2 1 Swap 2 1 1 1 1 1 1 Forward 1 2 2 1 3 2 1 Puts 1 1 1 1 2 3 1 Calls 1 1 1 1 4 4 1 Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 Legenda: 1 Não utiliza derivativos 2 Utilização baixa de derivativos (>=0% e < 25% da exposição) 3 Utilização média de derivativos (>=25% e < 50% da exposição) 4 Utilização alta de derivativos (>=50% e < 75% da exposição) 5 Intensa utilização de derivativos (>= 75% da exposição) 2. Hedge por classes de risco 123 Analisando-se as classes de risco gerenciados pela CVRD, observa-se maior intensidade de utilização de derivativos para gerenciar os riscos de taxa de juros e dos preços de commodity de alumínio e ouro. Tabela 20 – Intensidade de Uso de Derivativos da CVRD por Classe de Risco Taxa de Juros Utilização de derivativos Taxa de Câmbio Preço de Commodity Iene Euro Dólar Al Au Outros 2 2 1 5 4 1 5 Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001 Legenda: 1 Não utiliza derivativos 2 Utilização baixa de derivativos (>=0% e < 25% da exposição) 3 Utilização média de derivativos (>=25% e < 50% da exposição) 4 Utilização alta de derivativos (>=50% e < 75% da exposição) 5 Intensa utilização de derivativos (>= 75% da exposição) 3. Escopo da Gestão de Riscos A análise da prática de gestão de riscos da CVRD permite observar a utilização do hedge para proteger transações específicas e não do negócio como um todo. A introdução de um sistema utilizando a metodologia do value-at-risk (VAR) para a gestão de riscos, para avaliar, visando medir e gerenciar riscos de mercado associados com as suas atividades financeiras permitiu uma visão mais integrada da sua gestão de riscos e um monitoramento mais eficiente da exposição ao risco de mercado, aprimorando a sua capacidade de controle dos riscos, sem alterar, contudo a sua estratégia de gestão dos riscos, que continua 124 sendo orientada por riscos individuais ligados às vendas realizadas ou às suas dívidas. Deve-se ressaltar, portanto, que não foi observado uma política voltada para a criação de valor. A visão da gerência financeira e as declarações presentes nas suas demonstrações financeiras deixam claro que o racional presente nas suas atividades é focado na aversão ao risco. 4. Incorporação de visão de mercado na política de hedge A CVRD possui uma política explícita de não assumir riscos especulativos com derivativos, porém não faz o hedge de toda a sua exposição, possuindo uma certa flexibilidade para praticar o “hedge seletivo”, ou seja, levando em consideração as suas visões de mercado para assumir posições de derivativos. 5. Fontes de criação de valor via hedge ! Redução de Impostos Comparando-se a situação de lucro tributável da CVRD com a teoria sobre criação de valor do hedge através de redução de impostos e o estudo de Graham e Smith (2000) sobre a viabilidade prática de se obter tais ganhos, pode-se observar que, como o lucro tributável da CVRD se encontra substancialmente acima do zero e da zona de progressividade das alíquotas de imposto brasileiras, a possibilidade de ganhos com o hedge associados a redução de impostos é muito pequena e não deve ser considerada para fins deste estudo. 125 ! Problemas de sub-investimento A CVRD está em um momento de intensa movimentação estratégica e, em função disso, apresenta um programa de investimentos intenso programado para os próximos anos, principalmente em projetos de geração elétrica e de desenvolvimento de minas de cobre e em ampliação de sua capacidade produtiva. Além disso, em função da dimensão do seu negócio, apresenta anualmente investimentos pesados na manutenção de suas operações. Desta forma, a necessidade crescente de investimentos e a existência de volatilidade no seu fluxo de caixa operacional, pode ocasionar os problemas de sub-investimentos descritos por Froot, Scharfstein e Stein (1994). Desta forma, a análise do Funding Gap, conforme descrito no estudo de Mello e Parsons (1999) foi utilizada neste trabalho para permitir o entendimento dos efeitos da possibilidade de situações de sub-investimento. ! Redução de custos de dificuldades financeiras A probabilidade de falência de uma empresa como a CVRD na sua situação atual é muito baixa, pois a sua capacidade de geração de caixa é muito superior ao seu endividamento, de forma que, mesmo que exista grande volatilidade de seu fluxo de caixa, as chances da empresa não honrar com os seus compromissos é muito baixa. 126 Entretanto, a sua política agressiva para os próximos anos, resulta em possibilidade de dificuldades financeiras, ligadas às chances de existência de situações de grande crescimento do funding gap. Tal possibilidade de dificuldades financeiras, de acordo com o observado por Froot, Scharfstein e Stein (1994) resultam em um custo marginal dos fundos que cresce com a quantidade captada externamente. As reduções deste efeito de crescimento dos custos de captação e de problemas de sub-investimento são, portanto a origem dos prováveis benefícios de uma política de hedge na CVRD. 127 5.2. Potencial de Criação de Valor através de Hedge na CVRD 5.2.1. Análise dos Resultados do Modelo de Simulação Conforme já mencionado na metodologia, foi utilizado um modelo de simulação de Monte Carlo para avaliar o potencial de criação de valor de Políticas de hedge na CVRD e analisar os fluxos de caixa com foco nas questões ligadas a restrições na política de investimentos e na busca por redução nos custos de endividamento. A análise do modelo de simulação, com base nas projeções dos analistas de bancos investimento, permitiu separar a volatilidade dos fluxos de caixa operacional e de Investimentos, e observar a variabilidade da necessidade de funding para o cenário sem hedging e para os cenários com hedging. Os quadros a seguir resumem os principais resultados estatísticos (resultantes de 1000 iterações) do cenário sem hedge para os anos de 2002 a 2005. O quadro 5.8 apresenta a distribuição dos fluxos de caixa operacional, o quadro 5.9 apresenta a distribuição das necessidades de investimento, o quadro 5.10 apresenta novamente o cenário de repagamento utilizado e o quadro 5.11 apresenta a distribuição do Funding Gap. 128 Tabela 21 – Resultados do Fluxo de Caixa Operacional no Cenário sem Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil) Para obter os resultados do Fluxo de Caixa Operacional, foram rodadas 1000 iterações da simulação de Monte Carlo com base nos parâmetros do cenário sem hedge. O resultado do fluxo de caixa operacional inclui o fluxo de caixa da controladora e o fluxo de caixa de suas subsidiárias, que é incorporado através de pagamento de dividendos. 2002 2003 2004 2005 Média 1.339 1.479 1.507 1.503 Mediana 1.356 1.497 1.521 1.520 Desvio Padrão 157 168 171 183 Variância 24.635 28.187 29.292 33.637 Assimetria -0,60 -0,78 -0,60 -0,52 Curtose 3,42 4,79 3,75 3,28 Coef. de Variabilidade 0,12 0,11 0,11 0,12 Limite mínimo 759 518 664 761 Limite máximo 1.734 1.866 1.992 1.946 Largura da Distribuição 975 1.349 1.327 1.186 Fonte: Modelo de Simulação O quadro 5.9 permite o entendimento da distribuição dos fluxos de caixa operacionais observada na análise. A largura da distribuição é muito grande, próxima a US$ 1 bilhão e o coeficiente de variabilidade de 12% indica que se trata de um fluxo muito volátil que conforme será observado mais adiante, causa dificuldades nos momentos de maior necessidade de investimentos. 129 Tabela 22 – Resultados do Fluxo de Caixa de Investimentos no Cenário sem Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil) Para obter os resultados do Fluxo de Caixa Investimento, foram rodadas 1000 iterações da simulação de Monte Carlo com base nos parâmetros do cenário sem hedge. O resultado do fluxo de caixa de investimentos inclui os investimentos de CAPEX da controladora e os investimentos de suas subsidiárias, que são incorporado de acordo com a participação da CVRD no projeto. 2002 2003 2004 2005 Média -870 -937 -902 -799 Mediana -861 -929 -889 -791 Desvio Padrão 102 111 110 96 Variância 10.432 12.422 12.060 9.294 Assimetria -0,55 -0,63 -0,64 -0,79 Curtose 3,35 4,42 4,04 4,84 Coef. de Variabilidade -0,12 -0,12 -0,12 -0,12 Limite mínimo -1.309 -1.580 -1.535 -1.409 Limite máximo -587 -660 -610 -586 Largura da Distribuição 722 920 924 822 Fonte: Modelo de Simulação A distribuição de fluxos de caixa de investimento também possui uma largura muito grande e coeficiente de variabilidade alto, porém, observa-se que o crescimento da média não é tão “assustador” e a concentração maior de investimentos ocorre nos anos 2003 e 2004. 130 Tabela 23 – Fluxo de Repagamento das dívidas e de Pagamento de Dividendos, 2001 a 2005 (US$ mil) O Fluxo de Repagamento da dívida é dado, com base no fluxo atual de repagamento da CVRD e o pagamento de dividendos é uma função do lucro líquido, dado que a CVRD tem o compromisso de distribuir pelo menos 50% do lucro líquido em dividendos. Desta forma, temos os valores abaixo onde os valores de dívida são fixos e o Pagamento de Dividendos apresentado abaixo corresponde a 50% do lucro líquido média, e a sua distribuição irá acompanhar a distribuição do fluxo de caixa operacional. 2001 2002 2003 2004 Repagamento da Dívida 125 644 710 190 125 Pagamento de Dividendos 695 547 608 724 725 2005 Fonte: Relatórios 20-F da CVRD e Análise do Modelo Com base na distribuição dos fluxos de caixa operacionais, na necessidade de caixa para financiar os investimentos e nos compromissos repagamento da dívida e de Pagamento de Dividendos é possível determinar a distribuição do Funding Gap (MELLO, 1999). A Tabela 22 permite o entendimento desta distribuição: 131 Tabela 24 – Resultados de Funding Gap no Cenário sem Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil) Para obter os resultados do Fluxo de Caixa Investimento, foram rodadas 1000 iterações da simulação de Monte Carlo com base nos parâmetros do cenário sem hedge. Com base na distribuição dos fluxos de caixa operacionais, na necessidade de caixa para financiar os investimentos e nos compromissos repagamento da dívida e de Pagamento de Dividendos é possível determinar a distribuição do Funding Gap. 2002 2003 2004 2005 Média -437 -845 -893 -436 Mediana -411 -818 -865 -415 Desvio Padrão 237 263 264 248 Variância 56.287 69.232 69.927 61.458 Assimetria -0,60 -0,74 -0,58 -0,89 Curtose 3,45 4,76 3,75 5,48 Coef. de Variabilidade -0,54 -0,31 -0,30 -0,57 Limite mínimo -1.396 -2.381 -2.250 -2.087 Limite máximo 206 -233 -191 174 Largura da Distribuição 1.602 2.148 2.059 2.261 Fonte: Modelo de Simulação As médias de Funding Gap já implicam em grandes financiamentos, mas não representariam uma tarefa impossível para uma empresa do Porte da CVRD. Entretanto, a distribuição é muito larga, ficando ao redor de US$ 2 bilhões, e possui um coeficiente de variabilidade muito grande. A figura 16 ilustra como as distribuições de funding gap estão se comportando ao longo do tempo. 132 Figura 16 – Evolução da Distribuição de Funding Gap no Cenário sem Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil) A figura representa a evolução das distribuições de funding gap, separando os quartis para ilustrar a grande probabilidade de Funding Gaps elevados e de difícil financiamento. Trend Chart 750 95% 0 75% -750 50% -1.500 25% -2.250 Funding Gap 2006 Funding Gap 2005 Funding Gap 2004 Funding Gap 2003 Funding Gap 2002 Cumulative Certainties Fonte: Modelo de Simulação A figura deixa claro que para 2003, 2004 e 2005 o funding gap tem uma distribuição com grande probabilidade de atingir níveis que podem dificultar a implementação da estratégia de investimentos da CVRD. Com a ajuda do modelo de rating da Monitor Group, é necessário entender o impacto deste funding gap nos custos de financiamento e comparar os mesmos com a alternativa sem hedge. A figura 17 mostra o resultado da evolução de custos de financiamento em um cenário sem a utilização de hedge. 133 Figura 17 – Evolução da Distribuição dos Custos de Financiamento no Cenário sem Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil) A figura representa a evolução dos custos de financiamento no cenário sem hedge. Os custos de financiamento são simplesmente o valor do financiamento multiplicado pela taxa de financiamento que se conseguiria no mercado, dado o impacto que esta situação financeira teria sobre o rating da empresa. Trend Chart 350,00 95% 237,50 75% 125,00 50% 12,50 25% -100,00 CUSTO2006 CUSTO2005 CUSTO2004 CUSTO2003 CUSTO 2002 Cumulative Certainties Fonte: Modelo de Simulação Observa-se que os custos realmente são mais altos nos anos de 2003 e 2004, voltando a cair em 2005 e 2006. Esta é uma situação típica na qual a política de hedge cria valor, pois os custos mais elevados podem efetivamente levar a uma política de sub-investimento. Além disso, a situação de alternância entre situação financeira mais difícil e situação mais tranqüila é importante para que o hedge possa criar valor, pois ele permite homogeneizar estes fluxos, conforme será mostrado a seguir. Para avaliar o efeito do hedge, são apresentadas abaixo distribuições de funding gap e custos de financiamento em 2003 e 2004 (anos mais críticos, conforme observado acima) em diversos cenários de hedge (redução de volatilidade). 134 Figura 18 – Distribuições de Funding Gap, 2003 (US$ mil) A figura representa as distribuições de funding gap em 2003 no cenário sem Hedge (0% de redução de volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidade dos preços de alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição de Funding Gap se estreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, porém sem alterar significativamente a média. 2.000 M ínim o Funding Gap 1o quartil 1.600 M édia 3o quartil M áxim o 1.200 800 400 0 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Redução na Volatilidade Fonte: Modelo de Simulação Figura 19 – Distribuições de Funding Gap, 2004 (US$ mil) A figura representa as distribuições de funding gap em 2004 no cenário sem Hedge (0% de redução de volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidade dos preços de alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição de Funding Gap se estreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, porém sem alterar significativamente a média. 2.400 M ínim o 2.000 1o quartil Funding Gap M édia 1.600 3o quartil M áxim o 1.200 800 400 0 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Redução na Volatilidade Fonte: Modelo de Simulação 135 As figuras 18 e 19 mostram que nos cenários com hedge ocorre um estreitamento das distribuições de funding gap, porém sem alterar significativamente as suas médias. Figura 20 – Distribuições de Custos de Financiamento, 2003 (US$ mil) A figura representa as distribuições de custo de financiamento em 2003 no cenário sem Hedge (0% de redução de volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidade dos preços de alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição se estreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, reduzindo a probabilidade de problemas de sub-investimento e resulta em diminuição da média das mesmas, em função da redução de probabilidade de dificuldades financeiras. Custo de Financiamento 350 M ínim o 300 1o quartil M édia 250 3o quartil M áxim o 200 150 100 50 0 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Redução na Volatilidade Fonte: Modelo de Simulação 80% 90% 100% 136 Figura 21 – Distribuições de Custos de Financiamento, 2004 (US$ mil) A figura representa as distribuições de custo de financiamento em 2004 no cenário sem Hedge (0% de redução de volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidade dos preços de alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição se estreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, reduzindo a probabilidade de problemas de sub-investimento e resulta em diminuição da média das mesmas, em função da redução de probabilidade de dificuldades financeiras. Custo de Financiamento 350 M ínim o 300 1o quartil M édia 250 3o quartil M áxim o 200 150 100 50 0 0% 20% 40% 60% 80% 100% Redução na Volatilidade Fonte: Modelo de Simulação Observa-se, portanto que os custos de financiamento com hedge apresentam uma distribuição mais estreita, diminuindo a probabilidade de políticas de sub-investimento. Além disso, a média dos custos apresenta queda certos intervalos de redução de volatilidade, em função da redução de dificuldades financeiras que é reflexo do impacto no rating da empresa. Para determinar a criação de valor, seria necessário determinar a redução de volatilidade que é viável, dados os instrumentos de gestão de riscos disponíveis no mercado e os custos desta gestão de riscos. Apesar destes 137 cálculos não terem sido feitos, observa-se que, dado que existem custos de gestão de riscos, o ponto ótimo de gestão de riscos não é necessariamente a redução de 100% da volatilidade das incertezas gerenciadas, pois no caso da CVRD, a redução do custo médio de financiamento e no estreitamento da distribuição não é significativamente superior aos cenários próximos (e.g. redução de 80% e 90%). Desta forma, conclui-se que, para o período analisado e, dadas as condições de hedge idealizadas na descrição do método, a política de hedge traz benefícios para o acionista, criando valor ao reduzir os custos de dificuldades financeiras e os problemas de sub-investimento, caso estes benefícios sejam superiores aos custos de gestão de riscos. 138 6. CONCLUSÃO O objetivo deste trabalho foi estudar a prática de gestão de riscos financeiros na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) à luz da teoria sobre a racionalidade do hedge em empresas. Desta forma, o estudo visa avaliar as discrepâncias entre a teoria e a prática da gestão de riscos e analisar a existência potencial de ganhos que permitam a criação de valor através de uma estratégia integrada de Gestão de Riscos na CVRD. Para tanto, valeu-se da metodologia de estudos de caso, utilizando informações públicas disponibilizadas pela CVRD, relatórios de analistas financeiros sobre o desempenho da empresa e entrevistas realizadas com o departamento de gestão de riscos da empresa. Foi utilizado ainda um modelo de projeção dos fluxos de caixa da empresa e técnicas de simulação de Monte Carlo com o objetivo de determinar a existência de potencial de criação de valor para a CVRD de políticas de gestão de riscos. Nos capítulos iniciais foi feita a revisão bibliográfica sobre o tema, na qual se buscou caracterizar as teorias que introduziram o racional da maximização de valor aplicado à gestão de riscos, analisar os estudos que pesquisaram sobre as práticas de gestão de risco e as pesquisas que encontram evidências empíricas sobre estímulos ao hedge em função das razões oferecidas pela teoria para a execução de políticas de hedge. Além disso, foi feita uma revisão de trabalhos que focam na implementação das teorias em empresas e no entendimento mais profundo das fontes de valor da gestão de risco e de qual deve ser o nível ótimo de hedge, dado a lógica oferecida pela teoria. 139 A revisão destes estudos criou a base para iniciar o estudo de caso. Inicialmente, foram analisados as unidades de negócios, a estratégia e os resultados da empresa, para permitir encerrar o capítulo capturando as análises e projeções dos analistas de mercado, que foram essenciais para a construção do modelo de simulação de Monte Carlo. A análise da prática de gestão de riscos da CVRD permitiu observar que, apesar de a CVRD ser bastante ativa na utilização de derivativos, a sua intensidade no uso de derivativos varia muito em função do tipo de risco gerenciado e do tipo de derivativo. Observa-se assim que, dada a gama de riscos existentes nos negócios da CVRD, a utilização de derivativos na CVRD não é muito intensa, podendo ser classificada como de média para baixa intensidades. Analisando-se as classes de risco gerenciadas pela CVRD, observa-se ainda maior intensidade de utilização de derivativos para gerenciar os riscos de taxa de juros e dos preços de commodity de alumínio e ouro. Esta observação está em linha com o fato que a CVRD utiliza o hedge para proteger transações específicas e não o negócio como um todo, não apresentando uma política voltada para a criação de valor, focando o racional para suas atividades na aversão ao risco. A análise das possíveis fontes de benefícios para os acionistas ligadas à gestão de riscos permitiu observar que, de acordo com a teoria, o efeito de crescimento dos custos de captação (ligados a dificuldades financeiras) e de problemas de sub-investimento. Esta análise guiou o desenho dos testes realizados no modelo de simulação. 140 O modelo foi estruturado para simular o processo estocástico Browniano dos preços das commodities estudadas e uma variação ao redor das projeções dos analistas das incertezas de câmbio e do volume de investimentos, visando com isso garantir uma simulação coerente com a realidade de mercado. Além do modelo de simulação, o teste desenhado valeu-se ainda do modelo de bond rating desenvolvido pela Monitor Group para testar as diferenças entre os custos de financiamento da empresa com e sem hedge. Os resultados obtidos demonstraram a existência de potencial de criação de valor, pois foi possível observar diferenças em termos de custos e de necessidade de financiamento entre os dois cenários. De forma geral, a redução de volatilidade estudada, resultou em redução da probabilidade de existência de políticas de sub-investimento, em função da homogeneização das distribuições de funding gap e dos custos de financiamento de 2002 a 2006, observadas após a simulação de Monte Carlo. Além disso, observou-se que as médias das distribuições de custo de financiamento apresentaram queda em relação ao cenário sem hedge, em função da deterioração do rating da empresa observada em uma parcela da distribuição de resultados sem hedge. Este benefício ligado à redução dos custos de financiamento, contudo, apresentou uma curva de crescimento da média de custos côncava em relação à redução de volatilidade nas incertezas consideradas no trabalho. Portanto, dependendo do comportamento dos custos de hedge, observa-se que o ponto ótimo não é necessariamente, a redução de 100% das incertezas. 141 Este trabalho não determinou a viabilidade das reduções de volatilidade estudadas para a CVRD, dados os instrumentos de gestão de risco presentes no mercado e, portanto, também não se aprofundou na análise dos custos da gestão destes riscos, não podendo concluir sobre a dimensão da criação de valor que é possível na CVRD. Sugere-se assim, que em trabalhos posteriores, haja um aprofundamento nos seguintes temas: ! Quais instrumentos podem ser utilizados para a gestão de riscos da Companhia Vale do Rio Doce e quais os custos envolvidos com tais instrumentos ! Quanto é possível reduzir a volatilidade das incertezas presentes nos negócios da CVRD ! Quais são os custos fixos de se manter uma estrutura fazendo a gestão dos riscos da CVRD ! Qual o potencial de criação de valor na CVRD e qual o ponto ótimo para o hedge dados os custos de gestão de riscos e a viabilidade de redução de volatilidade Além disso, em função da natureza da metodologia de estudos de caso, os resultados deste trabalho não podem ser estendidos para uma população maior de empresas brasileiras e sugere-se portanto: ! Fazer pesquisa no Brasil sobre a utilização de hedge em empresas e sobre os motivos que levam a empresa a fazer hedge 142 ! Utilização de modelo de simulação para mapear potencial de benefícios com o hedge ligados a custos de dificuldades financeiras e problemas de sub-investimento em diferentes situações operacionais do mercado de mineração ! Elaboração de pesquisa estatística correlacionando retornos de ações, os racionais para o hedge e a utilização de hedge por empresas brasileiras 143 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESSIS, Joël. Risk Management in Banking. Chichester: John Wiley&Sons, 1998. BODNAR, Gordon M., HAYT, Gregory, MARSTON, Richard C., SMITHSON, Charles W. Wharton Survey of Derivatives Usage by U.S. Non-Financial Firms. Financial Management, Vol. 24, n. 2, p. 104-114, 1995. ______, _________, MARSTON, Richard C. Survey of Derivative Usage by US NonFinancial Firms. Wharton School of the University of Pennsylvania, April1996 ______, _________, _______, __________, HAYT, Gregory. 1998 Wharton Survey of Derivatives Usage by U.S. Non-Financial Firms. Financial Management, Vol. 27, n. 4, p. 70-91, Winter, 1998. BROLLO, K. Companhia Vale do Rio Doce: Maturidade e Solidez. Analyst Report do Unibanco, Feb. 2002 COLQUITT, L. Lee, HOYT, Robert E. 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