DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Os dois lados da transposição
Rita Soares
Especial para o Correio
A transposição do Rio São Francisco vai aumentar a oferta de água para o semi-árido nordes
espalhar a escassez nos municípios que ficam em suas margens? Eis a pergunta que vem sendo feita desd
atual governo resolveu retomar o projeto, que vem sendo debatido pelo menos há 150 anos.
Os defensores da transposição alegam que o objetivo é dividir a fartura. Para os críticos, contudo, a
podem acabar universalizando a falta d’ água à toda bacia do São Francisco. As duas teses vão alim
debate do seminário que começa amanhã, patrocinado pelos jornais Correio Brasiliense, Diário de Pernam
Estado de Minas, todos do Grupo Associados.
A oposição ao projeto é encabeçada por setores da Igreja, como a Comissão Pastoral da Terra, mov
populares e ambientalistas das cidades por onde passa o rio. O quartel general dos críticos passou
município de Barra, oeste da Bahia, onde já houve uma série de manifestações contra a integração das ba
A face mais conhecida da oposição é o bispo do município, dom Luiz Flávio Cappio. Em 2005, o relig
o protesto mais dramático já realizado contra a transposição. Ficou 10 dias em greve de fome, recluso e
igreja no município de Cabrobó, justamente onde começaram as obras. O bispo chegou a ser recebi
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a conversa não os fez mudar de idéia. O governo continu
defensor do projeto e dom Cappio não alterou o tom das críticas.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Bra
entre as instituições que criticam severamente o projeto. Em sua página na internet, o leitor é convidado
e-mails ao Ministério da Integração condenando a transposição. Entre os argumentos está o de que “um a
não pode doar sangue”. O Cimi diz também que a integração vai beneficiar apenas as populações urban
grandes projetos do agronegócio.
Alternativas
Todos os críticos defendem que há soluções mais baratas e menos danosas ao meio ambiente para
o problema da seca no semi-árido nordestino. Entre elas, estaria a construção de cisternas e pe
barragens, além da recuperação de poços e construção de adutora. Para o governo, essas medidas
apenas complementares ao projeto, mas insuficientes para atender à demanda local. E afirmam: o prob
falta de água só será solucionado com a integração das bacias.
O administrador da Diocese de Barra, José Bonifácio Araújo Silva, diz que o principal motivo da opos
projeto se deve à situação em que o rio se encontra. “O Rio São Francisco está poluído em quase tod
extensão. A degradação da margem é grande”, comenta Araújo, ressaltando que boa parte das cidades d
joga seus esgotos diretamente no rio ou em seus afluentes. Um dos mais poluídos seria o Rio das Velh
onde vão os esgotos da capital mineira, Belo Horizonte. “O que a gente tem para mandar para os nossos
do Nordeste é lama e água com esgoto”, afirma o administrador da diocese que se mostra cético em rel
programa de revitalização anunciado pelo governo. “O ministro Geddel Vieira (da Integração Nacional) ve
prometeu esgotamento sanitário para os municípios que ficam na região, mas até agora os prefei
receberam os recursos.”
No Ministério da Integração Nacional, órgão responsável pelas obras, a grande aposta é
investimentos em programas ambientais reduzam a intensidade das críticas. O programa de revitalização
segundo o governo, vai consumir quase metade do investimento total de R$ 3,6 bilhões, dinheiro que ser
principalmente na implantação da rede de esgoto das cidades que ficam na calha do São Francisco.
Correio Brasiliense – 12 Nov 07
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