IPT Sumário Electronegatividade Polaridade das ligações covalentes Quí Química 1 Dipolos moleculares Momento dipolar Polarizabilidade das moléculas Ligações intermoleculares Ligações secundárias e intermoleculares Forças de Van der Waals Forças dipolo-dipolo Forças de dispersão ou de London João Luí Luís Farinha Antunes Escola Superior de Tecnologia de Tomar Departamento de Arte, Conservaç Conservação e restauro Pontes de Hidrogénio Relação das ligações intermoleculares com a hidrofilicidade e a volatilidade. Parâmetros de solubilidade Triangulo de solubilidades de Teas 1 2 Electronegatividade Polaridade das ligações covalentes A electronegatividade é uma grandeza que indica a tendência que os átomos de um elemento têm para atrair os electrões numa ligação. Quando uma ligação covalente se estabelece entre átomos diferentes, com electronegatividades diferentes, a nuvem electrónica desloca-se para o lado do A electronegatividade aumenta, na tabela periódica, para cima e átomo mais electronegativo, formando-se um dipolo permanente. para a direita. Dipolo é um conjunto formado por duas cargas, uma negativa e outra positiva, ligadas entre si. Aumento da electronegatividade Por baixo de cada elemento está a sua electronegatividade 3 4 1 Momento dipolar Dipolos moleculares É a grandeza que indica a intensidade do dipolo molecular. Símbolo µ A adição dos dipolos locais tem uma resultante final que é o momento dipolar molecular. É um indicador da polaridade da molécula. Unidade Debye (D) O momento dipolar molecular resultante depende das intensidades dos momentos locais e da geometria da molécula. Os símbolos δ+ δ- indicam cargas parcial positiva e negativa, respectivamente. O símbolo representa a direcção da polarização. Momentos dipolares da água, metanol e clorometano Polaridade das moléculas de HF, H2O, NH3 e CH4 vermelho pólo negativo, azul pólo positivo, verde neutro. Exemplo do efeito da geometria da molécula no seu momento dipolar. O CH2Cl2 (diclorometano) tem um momento dipolar elevado (1,6 D). in CAREY, Francis, A. – Organic Chemistry. Boston [etc]: MacGraw Hill, 4ª ed. 2000. pág. 15. 5 Forças de van der Waals O CCl4 (tetracloreto de carbono), apesar de ter 4 cloros, tem momento dipolar zero. Porque os dipolos locais se anulam entre si. CH2Cl2 CCl4 6 Polaridade e polarizibilidade das moléculas É o nome dado às forças que ocorrem entre dipolos moleculares, em geral. Dipolos permanentes Os dipolos permanentes devem-se à presença de átomos de Forças dipolo – dipolo electronegatividade diferente, e de forma assimétrica na molécula. Entre moléculas com dipolos permanentes. São muito importantes quando existem, na molécula átomos muito electronegativos, como o Oxigénio (O), o Azoto (N) ou halogéneos (Cloro Cl, p.ex.) Forças dipolo - dipolo induzido Forças entre um dipolo permanente e uma molécula não polar. Dipolos induzidos e dipolos instantâneos Ocorrem dipolos induzidos e temporários em moléculas volumosas, onde a nuvem electrónica é polarizada por flutuações instantâneas ou induzidas. Forças de dispersão (ou London) Entre moléculas não polares, devidas a dipolos instantâneos e induzidos. Uma molécula grande é mais polarizável que uma molécula pequena. Dipolos instantâneos e induzidos 7 8 2 Ligações secundárias A que se devem as interacções intermoleculares ? As ligações secundárias correspondem à atracção entre as moléculas. Não há partilha ou troca de electrões. As ligações covalentes, que formam a estrutura das moléculas, assim como as ligações iónicas e metálicas são ligações primárias. Nestas, ocorre partilha ou troca de electrões. São mais fortes. As ligações secundárias são responsáveis pela capacidade de dissolução ou de Dipolos permanentes Forças dipolo-dipolo São importantes quando nas moléculas existem átomos muito electronegativos. Dipolos induzidos e instantâneos ligação a solventes ou substratos, e outras propriedades como a volatilidade. Forças de dispersão São importantes quando a molécula é grande. Aumentam com o As ligações secundárias devem-se a 3 tipos gerais de interacção: Forças dipolo-dipolo comprimento da cadeia de carbonos. Pontes de hidrogénio (devidas à presença de dipolos permanentes) Forças de dispersão (ou de London) (devidas à formação de dipolos induzidos e instantâneos) Pontes de Hidrogénio (devidas à presença de átomos de hidrogénio ligados a átomos Ocorrem quando existem átomos de hidrogénio ligados directamente a um átomo muito electronegativo. Estes átomos podem estabelecer pontes a outros átomos muito electronegativos. R-O-H ….. O - muito electronegativos que se ligam a átomos electronegativos de outras moléculas. 9 Pontes de hidrogénio 10 Água e lípidos Ocorrem quando um átomo de hidrogénio se encontra entre dois átomos muito electronegativos, estando ligado a um deles por uma ligação covalente. Óleo A molécula a que pertence o átomo de hidrogénio da ponte chama-se molécula dadora enquanto a outra é a aceitadora. Água Ponte de hidrogénio entre moléculas de água Ligação covalente O H H O H As moléculas dos lípidos (substâncias que não se dissolvem em água) são principalmente formadas por sequências de carbono, e formam ligações por forças de dispersão, principalmente. H Ponte de hidrogénio Ligação covalente Ligações no cloreto de hidrogénio As moléculas de água caracterizam-se por formar fortes pontes de hidrogénio e ter um dipolo elevado As substâncias que têm afinidade para os lípidos chamam-se lipofílicas As substâncias que têm afinidade para a água chamam-se hidrofílicas 11 12 3 Relação entre as interacções intermoleculares e a volatilidade e hidro/lipofilicidade Volatilidade das substâncias À medida que o tamanho das moléculas aumenta, aumenta também a densidade da matéria. Torna-se tendencialmente mais sólida. • Volatilidade Está relacionada com a intensidade das interacções secundárias. Isto deve-se ao aumento da intensidade das ligações secundárias Ligações secundárias mais intensas menor volatilidade. Ex: Estado físico dos hidrocarbonetos à temperatura ambiente • Hidrofilicidade Está associada às forças dipolo-dipolo e às pontes de hidrogénio. Forças dipolo-dipolo e pontes de hidrogénio mais importantes mais hidrófilo. • Lipofilicidade Está associada às forças de London. C4 C6 – C16 Gas plos Exem C15 – C30 Liquido Influência das forças de London cadeia de carbonos maior 14 2 plos Exem a Influência dos dipolos permanentes e das pontes de hidrogénio mais forças de London maior lipofilicidade, menor volatilidade São totalmente lipofílicos Apenas têm forças de London Forças de London mais importantes mais lipofílico. 13 Interpretação das estruturas das moléculas 1 1 - C6H14 2 - C8H18 Solido C30 – C70 1 é mais volátil porque a sua molécula é menor Dipolos e pontes de hidrogénio (P.H.) mais intensos 1 - C6H14 2 - C6H13OH maior hidrofilicidade, menor volatilidade 1 apenas tem forças de London 2 tem o grupo OH a mais que 1 => também pode fazer P.H. A lipofilicidade aumenta de 3 para 5: 3 - C2H5OH 4 - C6H13OH 5 - C8H17OH Têm os 3 tipos de forças 5 é mais lipofílico porque a sua cadeia de carbonos é maior 3 é mais volátil porque a sua molécula é menor 15 3 - C2H5OH 4 - C6H13OH 5 - C8H17OH O volume das moléculas aumenta de 3 para 5 Todos têm um grupo OH. São dadores de P.H. 2 é mais hidrofílico porque faz P.H. 1 é mais volátil porque não faz P.H. (e as moléculas têm o mesmo volume) A lipofilicidade aumenta de 3 para 5 5 é mais lipofílico porque a sua cadeia de carbonos é maior 3 é mais volátil porque a sua molécula é menor 16 4 2b los p m Exe Influência dos dipolos permanentes e das pontes de hidrogénio Exemplo da influência das ligações secundárias nas propriedades dos compostos Variação dos pontos de ebulição de halogenetos de alquilo (RX) e alcoois (ROH) Em situações idênticas, as pontes de hidrogénio (P.H.) são mais intensas que os dipolos permanentes O volume das moléculas é semelhante 1 - C3H7OH 2 - CH3C(O)CH3 1 tem o grupo OH a mais que 2 2 também pode fazer P.H. mas apenas como receptor 3 - C4H10 O volume das moléculas é semelhante 4 - C4H8O 5 - C4H9OH 3 apenas tem forças de London 4 tem um dipolo 5 tem um grupo OH 1 é mais hidrofílico porque é dador e aceitador P.H. R 2 é mais volátil porque não faz P.H. em si – é apenas dador de P.H. (e as moléculas têm o mesmo volume) A hidrofilicidade aumenta de 3 para 5 porque aumenta a importância dos factores hidrofílicos A volatilidade diminui de 3 para 5 porque aumenta a intensidade total das ligações secundárias in CAREY, Francis, A. – Organic Chemistry. Boston [etc]: MacGraw Hill, 4ª ed. 2000. pág. 131. À medida que aumenta a cadeia de carbonos aumenta o ponto de ebulição, porque aumentam as forças de dispersão. O grupo –OH produz um aumento do ponto de ebulição, porque origina pontes de hidrogénio. 17 Parâmetros de solubilidade Parâmetros de solubilidade fraccionais de Teas Os parâmetros de solubilidade são valores que tentam indicar o valor do tipo de interacção. Dar-lhe um valor quantitativo, não apenas qualitativo. Teas considera 3 tipos de interacções Polares (Dipolo –dipolo) (devidas a dipolos permanentes) Parâmetro de Hildebrand (δ δ) Dispersão (devido a dipolos instantâneos e induzidos) Pontes de hidrogénio Primeira grandeza a ser proposta. É um valor calculado a partir da energia de ligação dos compostos. Cada tipo de interacção tem a sua contribuição para o total: δp, δd e δh. Parâmetros fraccionais de Teas Normalizando estas contribuições para 100 % (inovação de Teas) obtêm-se os parâmetros de solubilidades de Teas, fp, fd e fh, que são definidos pelas expressões: Desenvolvidos a partir da teoria de Hildebrand e outras que se seguiram. fp = δp/(δp + δd + δh) x 100 A dissolução é regida por 3 tipos de forças (dispersão d, polares p e pontes de hidrogénio h), cada uma com o seu parâmetro. fd = δd/(δp + δd + δh) x 100 Outros parâmetros Existem várias teorias que propõem outros parâmetros, considerando mais ou menos 3 tipos de interacções. Em Restauro os parâmetros de Teas são os que têm mais uso, sobretudo pelo seu aspecto prático. BURKE, John -- Solubility Parameters: Theory and Application, http://sul-server- 2.stanford.edu /byauth/burke/solpar/ 18 19 fp + fd + fh = 100 fh = δh/(δp + δd + δh) x 100 Cada solvente tem um conjunto de 3 parâmetros fraccionais de Teas. O valor de cada um dos parâmetros dos diversos solventes foi calculado teoricamente e rectificado por via experimental empírica, para se ajustar às observações experimentais. Alguns autores substituem os simbolos Fp, Fd e Fh por D, L e H, respectivamente. 20 5 Triângulo de solubilidades de Teas Valores de parâmetros de Teas de alguns solventes forças dipolo-dipolo Hidrocarbonetos Solvente Octano White Spirit Xileno C8H18 Fd (L) Fp (D) Fh (H) 94 3 3 D Σ 90 4 6 100 C6H13 (CH3)2 83 5 12 100 fp 40 É um gráfico de 3 entradas onde estão inseridos os parâmetros dos solventes 100 mistura É um gráfico de 3 entradas onde estão inseridos os parâmetros dos solventes 0 70 - 30 90 100 Álcoois Etanol C2H5OH 36 18 46 100 Propanol C3H7OH 40 16 44 100 Cetonas Variação da % de L (Fd) Acetona CH3C(O)CH3 47 32 21 100 MetilEtilCetona CH3C(O)C2H5 53 26 21 100 20 in PASCUAL, E.; PATIÑO, M. — O Restauro de Pintura. Lisboa: Ed. Estampa, 2002 21 Posição dos solventes no triângulo de solubilidades po nt es H de 50 hi dr og én io fh fd fd – 50, fp – 20, fh – 30 L r fo e sd ça p dis er o sã 22 Grupos de solventes no triângulo de Teas Celosolves (éteres de glicol) R-O-ROH Nitrocompostos RNO2 Cetonas RCOR Alcoois ROH Derivados clorados RX Glicois (diálcoois) HO-R-OH Esteres RCOOR’ 23 H. aromáticos Ar H. alifáticos R 24 6 Zonas de solubilidades de solutos Utilização do Triângulo de solubilidades Os parâmetros de Teas de vários produtos usados em CR foram determinados experimentalmente. A solubilidade dos solutos (ceras, óleos, vernizes, polímeros,…) é testada em vários solventes e o resultado é indicado no triângulo de solubilidades. Os solutos têm, no triângulo, posições indicadas por zonas, ao contrário dos solventes que são pontos. São escolhidos os solventes, ou misturas de solventes, cujos parâmetros de solubilidades caiam dentro da zona do soluto. O triângulo de solubilidades permite escolher diversos tipos de solventes e fazer troca de solventes ou misturas, para cada material a dissolver. 25 Mistura de solventes Preparação de uma mistura binária própria para um soluto adição dos parâmetros de solubilidade Quando se misturam 2, ou mais, solventes, a mistura resultante tem parâmetros de solubilidade igual à média ponderada dos parâmetros dos solventes isolados. fd fp Método geométrico 47 32 21 tolueno 80 7 13 mistura 73 12 15 47 x 20% + 80 x 80 % 32 x 20% + 7 x 80 % Exemplo: fh acetona acetona 20% + tolueno 80 % Quando temos um soluto que queremos dissolver podemos usar uma mistura de solventes, se não existir um solvente adequado para o efeito. Então, usam-se solventes numa proporção cujo parâmetro de solubilidade resultante caia dentro da zona do soluto. Exemplo: mistura de acetona (20%) e tolueno (80%) Método matemático 26 Os solventes A e B não dissolvem o soluto que tem a mancha indicada. 20 Mistura a ser preparada: A 80 80 47 x 20% + 80 x 80 % 80 % do solvente A 20 % do solvente B B 20 (é o inverso das distâncias!) As medidas normalizam-se a 100% dividindo cada uma pela distância total e multiplicando por 100: 27 % A = dA/(dA + dB) x 100. Ex: dA = 5 cm; dB = 15 => % A = 5 /20 x 100 = 25 %; B = 75 %.28 7 Limitações do uso do triângulo de solubilidades Preparação de uma mistura ternária própria para um soluto Prepara-se primeiro a mistura binária e, no cálculo para a mistura do 3º componente, usa-se como se fosse um só solvente. não são indicados pelo triângulo de solubilidades: Exemplo: Os solventes A, B e C não dissolvem o soluto que tem a mancha indicada. Tempos de retenção 1º Mistura binária a ser preparada: 80 A 20 B 60 Toxicidade 80 % do solvente B Preço Acessibilidade … 2º Para preparar a mistura ternária: 40 Volatilidade 20 % do solvente A (é o inverso das distâncias!) C Há factores muito importantes na escolha de um solvente que 60 % da mistura binária 40 % do solvente C (é o inverso das distâncias!) 29 30 fim João Luís Farinha Antunes Instituto Politécnico de Tomar Departamento de Arte, Conservação e Restauro [email protected] 31 8