Contactos Apordoc – Associação pelo Documentário Casa do Cinema Rua da Rosa, 277, 2º / 1200-385 Lisboa T/ + 351 218 883 093 [email protected] http://panorama.org.pt | http://www.apordoc. org J.C.Decaux Don’t Panic Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Universia Janela Urbana Rua de Baixo Dona Chica 2.0 C7NEMA Metropolis Take Cinema Magazine Ante Cinema Canal Q Quiosque de Refresco À Pala de Walsh Sapo Le Cool Cision Speak Parq Empire Dialogue Garage Films Lisboa Film Commission Arquivo Municipal de Lisboa / Videoteca Largo do Calvário, nº 2 / 1300-113 Lisboa T/ + 351 218 170 433 [email protected] http://videoteca.cm-lisboa.pt/ Organização Câmara Municipal de Lisboa / Direção Municipal de Cultura / Departamento de Património Cultural / Divisão de Arquivo Municipal / Videoteca Apordoc – Associação pelo Documentário Parceria Estratégica EGEAC, E.E.M. Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural Coprodução Cinema São Jorge Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema Apoio ao Concerto Fernando Rosado Pianos Steady as She Goes Apoios ICA Teatro do Bairro TIRAGEM 500 Exemplares ISBN 978-989-8223-06-7 Apoio à Produção Go Natural DEPÓSITO LEGAL Apoio à Divulgação MOP – Multimédia Outdoors Portugal Antena 1 Antena 2 Antena 3 Metropolitano de Lisboa Turismo de Lisboa Agenda Cultural 3 Equipa Panorama Programação Fernando Carrilho João G. Rapazote Madalena Miranda Departamento Financeiro Ana Flores Manuela Martins Grupos Escolares Sara Abrantes Coordenação de Programação Madalena Miranda Comunicação e Assessoria de Imprensa Helena César (Speak) Direção de Produção Fernando Carrilho Vasco Costa Identidade Gráfica Luís Martins Apoio à Direção de Produção Cinta Pelejà Sandro Araújo Spot Publicitário André Cruz (Garage Films) Produção Alexandra Martins Sara Abrantes Website Webdesign Gráficos à Lapa Voluntários João Câmara Raquel Rolim Sara Abrantes Coordenação Executiva Apordoc Inês Lampreia Assistência à Produção Ana Pereira Miguel Ribeiro CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA / DIVISÃO DE ARQUIVO MUNICIPAL / VIDEOTECA Pelouro da Cultura | Vereadora da Cultura Catarina Vaz Pinto Divisão de Arquivo Municipal Inês Morais Viegas Direção Municipal da Cultura Francisco Motta Veiga Coordenação da Videoteca Fernando Carrilho Departamento de Património Cultural Jorge Carvalho 4 Cinema São Jorge Direcção Técnica João Cáceres Alves Avenida da Liberdade nº 175 / 1250-141 Lisboa Tel: 213 103 400 | Fax: 213 103 410 [email protected] http://www.cinemasaojorge.pt Assistentes Carlos Rocha, Diogo Viana Coordenador som, vídeo e imagem Fernando Caldeira Gestora Marina Sousa Uva Projeccionistas Carlos Souto; Jorge Silva Bilheteira Jorge Malhó; Paula Lima Assistentes Diana Guedes e Helena Seixas Comunicação Francisco Barbosa Produção Cláudia Craveiro Cinemateca Portuguesa Museu do Cinema Rua Barata Salgueiro nº 39 / 1269-059 Lisboa Tel: 213 596 262| Fax: 213 523 180 www.cinemateca.pt Director do Departamento do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento Rui Machado Directora Maria João Seixas Supervisora de Acesso do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento Sara Moreira Sub-director José Manuel Costa Chefe da Divisão de Gestão Margarida Gil Director do Departamento de Exposição Permanente Luís Miguel Oliveira 5 Agradecimentos Leandro Silva Li Pinheiro Lisa Persson Lisboa Film Commission Luís Gameiro Luis Miguel Oliveira Luísa Sousa Manuel Costa Manuel Jorge Veloso Manuel José Damásio Manuel Mozos Maria Clara Marina Uva Mário Ambrózio Metropolitano de Lisboa Miguel Varela MOP - Multimédia Outdoors Portugal Nuno Pereira Olinda Almeida Paulo Cunha Raquel Castro Ricardo Moura Rita Rodrigues Rosário Aleixo RTP (RTP, Antena 1, Antena 2, Antena 3) Rute Muchacho Sandra Oliveira Sandro Araújo Sara Moreira Susana Sousa Dias Teresa Borges Tiago Antunes Turismo de Lisboa Universia Portugal Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Vânia Encarnação Vitor Milhanas Alexandre Oliveira Alice Branco Ana Colaço Ana Margarida Costa Ana Monteiro André Cruz Anna Glogowski António de Macedo António Escudeiro Ar de Filmes Bernardo Moreira C.M.L./ DMC/ DPAC/ Divisão de Promoção e Comunicação Cultural C.M.L./ DMC/ DPC/ Divisão de Arquivo Municipal C.M.L./ DMPO/ DIEM/ Divisão de Execução e Manutenção de Instalações Eléctricas e Mecânicas C.M.L/ SG/DAOSM/DGMEAS / Imprensa Municipal Carla Gonçalo Catarina Pimentel Ceci Gato Lombardi César Furtado Cinema São Jorge Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema / Arquivo Nacional das Imagens em Movimento Cláudia Costa Cláudia Teixeira Cristina Correia Cristina Matos Silva Dina Alves Duarte Neves EGEAC, E.E.M. - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural Elisa Generoso Fernando Rosado Filipe Emanuel Francisco Rui Cádima Hugo Pereira Inês Patrício Isabel Bernardo Isabel Durana J.C.Decaux Jacqueline Ferreira João Rafael Joaquim Espanhol José Bértolo José Fonseca e Costa José Manuel Costa Justiniano Canelhas Kirsten Michl 7 Índice: 4. Panorama DocLisboa Introdução Panorama 2013: Programar é Preciso; Viver não é Preciso 4.1 Apresentação .................................................. 51 1. Tema em Foco: Televisão – Experimentar ou Normalizar 4.2 Sessões “Panorama DocLisboa” ................. 52 1.1 Introdução ....................................................... 13 5. Percursos no Documentário Português: “Documentário no Cinema Novo” 1.2 O Documentário e o Dispositivo Televisivo Francisco Rui Cádima ......................................... 14 5.1 – Introdução ................................................... 57 5.2 – Um Novo Documentário Português Paulo Cunha ......................................................... 60 1.3 O Documentário em Televisão – Uma Experiência da Realidade em França Anna Glogowski .................................................. 18 5.3 – Testemunhos de uma Época: António de Macedo ............................................ 64 António Escudeiro ............................................... 72 José Fonseca e Costa ........................................... 78 1.4 “Entre o Laboratório e a Normalização, Notas sobre o Documentário na Era Televisiva” José Manuel Costa ............................................... 24 5.4 – Sessões “Documentário no Cinema Novo” Sessão de Abertura .............................................. 87 Sessão: Ato Primeiro .......................................... 88 Sessão: Máquinas Desejantes ............................ 89 Sessão: Estética ou Política ................................ 91 Sessão: Censura e Colonialismo ....................... 93 Sessão: Experimentar, Mise-encenar ............... 94 Sessão: Novo Olhar Sobre os Lugares ............. 96 Sessão de Encerramento ..................................... 98 1.5 Sessão “Televisão – Experimentar ou Normalizar” ........................................................... 29 2. Lisboa 2.1 – Apresentação: Um Panorama da Cidade de Lisboa ..................................................................... 34 2.2 - Filme e Cidade – Lisboa na Ficção, Documentário e noutros Filmes José Bértolo ........................................................... 36 6. Panorama 2013 – 7ª Mostra do Documentário Português 2.3 Sessões “Lisboa” ............................................ 42 6.1 Seleção Panorama 2013 ............................... 102 3. Guimarães 2012-Capital Europeia da Cultura 6.2 Biofilmografias .............................................. 121 6.3 Contactos ....................................................... 134 3.1 Apresentação .................................................. 47 6.4 Inventário ....................................................... 138 3.2 Sessões “Guimarães 2012-Capital Europeia da Cultura” ................................................................. 48 9 PROGRAMAR É PRECISO; VIVER NÃO É PRECISO Pelo segundo ano consecutivo o PANORAMA sobrevive com um orçamento perigosamente frágil. Nos dias que correm dir-se-á que é fruta da época, é certo. Mas como se pode programar, se não se vive? A sétima edição do PANORAMA é pautada por nova redução orçamental, com a consequente diminuição dos recursos humanos, técnicos e promocionais. Estamos a navegar com água no porão e é preciso dar à bomba! Basta ler algumas das crónicas reunidas por Bernardo Gomes de Brito na obra História Trágico-Marítima para se perceber que este era o pão nosso de cada dia dos navegadores portugueses, para alguns, o destino da própria Nação. E eis que no ano de menos recursos, o PANORAMA cresce para um novo espaço, o Teatro do Bairro, apresentando no total, mais sessões, mais filmes e diversas novidades na programação. Bem-haja a Câmara Municipal de Lisboa, pedra basilar deste projeto e bem hajam os nossos fiéis parceiros que não nos deixam cair, o Cinema São Jorge, a EGEAC e a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Para pergunta, por que não sopram os bons ventos? Respondemos com outra pergunta; o que quer o Instituto do Cinema e do Audiovisual para o cinema português? No sétimo fôlego do PANORAMA rumamos ao Cinema Novo com o intuito de desvelar as obras documentais escondidas por detrás dos filmes de ficção que maioritariamente caracterizam este período, porque o Cinema Novo começando pelo Belarmino de Fernando Lopes foi também documentário. Como novidade apresenta-se como as sessões dedicadas aos documentários portugueses que passaram por Guimarães–Capital Europeia da Cultura e pelo DocLisboa de 2012. Outro novo espaço que inauguramos e que desejamos sedimentar são as “Sessões Lisboa” que doravante proporcionarão constituir uma plataforma de reflexão sobre a nossa cidade. Ou seja, propomos a partir de agora no PANORAMA pensar a cidade de Lisboa através do documentário. Para terminar, trouxemos para o “Tema em Foco”, a relação entre o documentário e a televisão, questão sempre complexa e presente no seio da atividade cinematográfica. A vida do PANORAMA não é precisa, pois é incerta, mas a sua proposta de programação é precisa porque é pensada e porque acreditamos também que é necessária. E com o espírito do Fernando Pessoa gritamos alto para a tempestade: Programar é preciso; viver não é preciso! Fernando Carrilho Equipa de Programação Tema em Foco: Televisão – Experimentar ou Normalizar Cumprindo a sua missão na divulgação e na promoção do documentário português, o PANORAMA, como é hábito, apresenta a par da sua “montra de exibição alargada”, um espaço de discussão e reflexão. Esta plataforma de encontro entre espetadores, autores, produtores e programadores é composta por conversas e debates que são quase sempre espoletados pelos filmes que exibimos e pelos textos que reunimos neste caderno. Nesta edição trouxemos a lume a relação do cinema com a televisão partindo do tema: “Cinema e Televisão – Experimentar ou Normalizar”. A questão da televisão é recorrente nos fóruns de discussão do documentário, contudo ela é muitas da vezes canalizada exclusivamente para a controvérsia do serviço público e para os problemas de financiamento e do espaço nas grelhas. À partida, produtores e realizadores desejam e lutam pelo mesmo: financiamento sustentável, espaço de difusão e liberdade criativa. Não obstante estas questões estarem interligadas e serem fundamentais para a globalidade da discussão, pensamos que não poderá haver uma evolução sem que se regresse mais uma vez aos alicerces. É preciso não deixar cair a necessidade vital de apreender e debater os conceitos de reportagem, documentário televisivo e documentário cinematográfico. Continuam a persistir zonas cinzentas e graves equívocos na adoção e tratamento destes conceitos. É forçoso que se perceba “o campo de forças” existente entre os universos da televisão e do cinema e que ao mesmo tempo se consiga apontar caminhos para uma relação profícua. Numa época em que os canais de televisão restringem o financiamento à produção de documentários e favorecem a compra de “conteúdos audiovisuais baratos” é imperioso colocar na ordem do dia a sua relação com o cinema, que por outro lado vai perdendo os seus espetadores em sala. Iniciamos a reflexão publicando dois textos de Francisco Rui Cádima e José Manuel Costa e uma entrevista realizada a Anna Glogowski. Este corpo de textos, entre muitas questões suscitadas, permite-nos pensar o dispositivo televisivo e a possibilidade de experimentação dentro dele. Pretendemos catalisar as ideias apresentadas nesta secção do Caderno no debate que ocorrerá no dia 11 de Maio, às 17h, na sala 3 do Cinema São Jorge. O debate é parte da sessão “Televisão: Experimentar ou Normalizar” que comporta os documentários A Fábrica, de Mariana Bártolo, Vítor Fecho da Fábrica, de Cândida Pinto e Paisagens de Papel, de André Pisca e Pedro Almeida. O corpus desta sessão apresenta documentários que partem de uma realidade comum, o encerramento de uma fábrica. Será que as suas géneses distintas, como um exercício de escola de cinema, um programa para televisão ou uma encomenda de uma autarquia, espelham uma variedade de registos? Fernando Carrilho Equipa de Programação O Documentário e o Dispositivo Televisivo Francisco Rui Cádima (Professor e Coordenador Executivo do Departamento de Ciências da Comunicação da FCSH-UNL) “Se a televisão produziu o esquecimento, o cinema criou os seus souvenirs” Jean-Luc Godard O documentário representa, de certa maneira, o paradigma impossível do dispositivo tecnodiscursivo da televisão. Trata-se de um género cuja estrutura narrativa é uma espécie de antítese do fluxo televisivo, e que, por isso mesmo, a lógica televisiva tradicional raramente integra nas suas opções de produção ou de programação. Tal aplica-se de forma mais específica às características intrínsecas do documentário de raiz cinematográfica, ao próprio cinema de autor, bem como a uma ampla diversidade de conteúdos e linguagens de tipologias experimentais ou artísticas. Poder-se-ia então dizer que o sistema televisivo clássico se define, em grande medida, por antinomia face ao específico cinematográfico. Quando a televisão dava os seus primeiros passos, um académico italiano, Renato May, especialista de estudos cinematográficos, considerava que a televisão era então um subproduto do cinema, um “cinema menor”, e o facto é que esse anátema, por muito benevolente que então pudesse ter sido, acabou por acompanhar a história da televisão generalista até aos dias de hoje. A perceção que hoje temos da genealogia do dispositivo televisivo confirma essa primeira impressão de Renato May. Não é, no entanto, nada pacífica a dualidade cinema-televisão. Segundo Christian Metz, televisão e cinema compartilham, por assim dizer, alguns dos mesmos “recursos expressivos”. Por seu lado, Gilbert Cohen Séat, considerava que o específico fílmico poderia ressurgir nalguns sintagmas específicos televisivos, por exemplo na sitcom ou no docudrama, géneros que trabalham mais o código televisivo naquilo que ele tem de mais próximo do cinema. Outra era a perspetiva de Umberto Eco. Nos “Apontamentos sobre televisão”, considerava justamente a “tomada direta” e a sua narratividade como o essencial do específico televisivo, algo que aliás viria a ser reconhecido também por Godard, que se referia ao desporto na televisão dizendo que aqui o trabalho era mostrado na sua durée, salvando-se o princípio da verdade. E se, segundo Metz, “cinema e televisão têm em comum todos os traços materiais pertinentes mais importantes e as suas codificações específicas são em grande parte as mesmas em ambos os casos” (1973:285), a verdade é que são múltiplas as diferenças: desde logo narrativas, de veridição, tecnológicas, sociopolíticas e económicas 14 (nos processos de decisão, de cumprimento de uma agenda protocolar, e de produção), de receção, fidelização, nas literacias, no plano percetivo-cognitivo e nas dimensões e funções fáctica, referencial-denotativa, conotativa-apelativa. Serge Daney, por exemplo, falava de um cruzamento híbrido e da virtude dessa impureza: “(...) Se a televisão veicula cultura, o cinema faz passar por experiências. Se a televisão deve ter a sua deontologia, os travellings do cinema são ‘questões de moral’. Se a televisão pôde ter talento na sua programação, nada poderá dispensar o cinema do desejo de produzir. Se, enfim, a televisão é a nossa prosa, o cinema não tem alternativa senão na poesia” (1988:251). Importa ver então como trabalha a telerrepresentação a partir do seu dispositivo específico, discursivo, técnico, instrumental, performativo, e enquanto megamáquina produtora do códigofluxo, ou código hegemónico, como conjunto de códigos diferenciais que se reorganizam em continuum, segundo uma “logotécnica” de programação, sendo este realinhamento um novo sistema discursivo no qual se esbatem e contaminam os diferentes géneros. Historicamente, o dispositivo televisivo começa por constituir, na emergência da televisão, um “contrato” de comunicação pedagógico e de visibilidade/credibilidade com o espectador, passando a uma lógica de “contacto“ mais indiferenciado na neotelevisão, na era da televisão fragmentada, assegurando, em qualquer dos casos, um vínculo social e simbólico como consenso. A cultura de fluxo enuncia assim uma visão do mundo redutora e opera uma ressocialização pela mediação. Neste regime de visibilidades híbridas, as imagens reproduzem-se em séries e os jogos formais tendem a substituir se aos jogos de sentido. Imagens que se esvaziam de significado, constituindo uma espiral de repetição e “esquecimento” no écran¬ interface da “hiper série”. Este regime de desvitalização das imagens neutraliza as especificidades discursivas que lhe são exteriores e materializa em telerrealidade acontecimentos e narrativas do mundo. Ao integrá los no seu fluxo, a televisão molda os ao seu dispositivo enunciador de fragmentação/recomposição, num modo de desvelamento que deixa emergir o que, de seguida, inevitavelmente, se esquece. É a partir deste contexto genealógico e discursivo que deve ser pensada a tensão entre o documentário clássico e o sistema televisivo. Não se perca de vista, entretanto, que essa tensão, esse “tomada direta” e crua do documentário, criou outros inconciliáveis, designadamente face ao mercado de exibição, ao establishment e aos tribunais. Veja-se o caso de Frederick Wiseman. O seu peculiar enquadramento dos laços entre os indivíduos e a autoridade, de onde transcorre a sua obra, levá-lo-ia, no entanto, “to spend a considerable time in court fighting against censorship and for freedom of distribution” (Rosenthal, 1971:12). Apesar do sistema televisivo se confundir no próprio establishment, a verdade é que Wiseman teve no Public Broadcasting Service (PBS) norte-americano o seu principal distribuidor hertziano. Paradoxo não negligenciável, porque por aqui se poderá pensar a própria diferença entre a televisão pública europeia, em geral, e o modelo norte-americano, assim explicitado pelo próprio Wiseman: “O meu terceiro filme foi produzido pela televisão pública. Obtive depois um contrato com o canal 13 (o canal público de New York): cinco anos para cinco filmes. Foi renovado para mais cinco filmes (…) têm os direitos de antena para os EUA, eu guardo os outros direitos. (…). Desta forma posso continuar a fazer filmes e ficar completamente independente. O contrato prevê uma aprovação para cada argumento que proponho, mas nunca me recusaram um argumento. E não veem nada do filme, rushes ou seja o que for. Quando está tudo acabado, alguém – o patrão – vem de Nova Iorque a Boston: mostro-lhe o filme. Nunca exigiu alterações.” (Costa; Fina, 1994:38). 15 Ainda que Frederick Wiseman também tivesse produzido alguns dos seus documentários com apoios pontuais da televisão pública europeia (BBC, Channel Four, La Sept), a verdade é que a cultura de fluxo do modelo público europeu generalista é, em regra, incompatível com a narrativa de autor, seja documental ou de ficção. A lógica de audiência e o entertainment capturaram o modelo “pedagógico” da televisão pública dos anos 50-60 e, em boa parte, nessa torsão radica, de facto, a mediocridade e a espiral de silêncios em que mergulhou o sistema público europeu. Como dizia Bonitzer (1988:18), a imagem televisiva não é em si mesma uma imagem, é antes uma imagem de imagens recicladas no sistema de indiferença do dispositivo. A aparência da multiplicidade mais não é do que uma reconversão continuada segundo o princípio tautológico e de autodenominação do código hegemónico. Daí que a “imagem-pulsão” do cinema, ou do documentário, elaborada numa outra durée, marcada pelo excesso de objeto, interpelando o sentido, a poesis, seja estranha ao dispositivo, o qual, no fundo, trabalha num registo algo contraditório, o da prosa do mundo, ou seja, no registo da “imagem-pulsação”, absorvendo e naturalizando, ou talvez mesmo neutralizando o vitalismo das imagens-sentido. É certo que, muito pontualmente, a televisão pública europeia, através dos seus segundos e/ ou terceiros canais, ou através de canais culturais, sobretudo do franco-alemão ARTE, integra documentários não televisivos nas suas grelhas. Mas a maior parte dos canais de documentários europeus, privados, na sua grande maioria - do Histoire ao National Geographic, do Science Channel à Ushuaïa TV - nas diferentes plataformas, o que programam é sobretudo documentais híbridos, onde predomina a escrita jornalística e a estrutura da reportagem televisiva. Daí que caiba fundamentalmente à televisão pública, no cumprimento das suas atribuições e competências em matéria de qualidade e diversidade, constituir-se efetivamente em alternativa ao mainstream da oferta privada, integrando sem eufemismos o específico cinematográfico, o cinema independente, de autor, o documentário criativo, experimental, novos objetos artísticos audiovisuais, etc. Nesta matéria há experiências interessantes, nalguns casos mesmo raras, como o caso da TV pública norueguesa NRK que emitiu em Janeiro de 2013, na íntegra, um documentário de 10 horas para comemorar os 50 anos da Nordland Railway (com as imagens da viagem entre Trondheim e Bodø). O mesmo não terá sucedido, em televisão, com Sleep (1963) ou com Empire (1964), ambos de Warhol, ou com Shoah (1985) de Claude Lanzmann, ou ainda com Near Death (1989) de Wiseman ou mesmo com The Clock (2010), de Christian Marclay. A questão é: deverá a televisão pública passar este género de obras? E a resposta só poderá ser: absolutamente. Talvez esse fosse um sinal incontornável da existência de uma televisão pública acima de qualquer suspeita. Algumas linhas finais sobre o digital. É curioso Rosenthal (1971:19) ter escrito, nesse início de década já distante, o seguinte: “We are now at a stage where films can be designed and created by computers. But computers are cold, scientific, rational machines; they can produce films of patterns and colors, but never a Man of Aran” (de Robert Flaherty). O facto é que a questão hoje, em contexto digital, se coloca da mesma forma, mas com uma “pequena” diferença: com a progressiva integração de modelos algorítmicos, inteligência artificial, spatial data bases, georreferenciação, etc., Hollywood hoje já fecha contratos com produtoras que têm guiões construídos justamente apenas - e só com bases de dados (casos da Epagogix, da Narrative Science e da Automated Insights), podendo inclusivamente simular o potencial de receita de bilheteira de um determinado script, fazendo pequenos ou grandes ajustamentos, mudando personagens, etc. Mas aí estaríamos certamente num registo de “ficção científica”, sem o ser. A questão hoje prende-se essencialmente com as novas plataformas e os sistemas interativos, com novas configurações de transmedia, quer no plano de documentário multimédia ou do digital storytelling (Gifreu, 2011). Nestes novos sistemas de autoria multilinear é criada uma nova experiência participativa (Cádima, 2011), onde novas componentes web/mobile, realidade aumentada, georreferenciação, live data, etc., são relevantes (veja-se, por 16 exemplo, o documentário interativo One Millionth Tower, de Katerina Cizek e Mike Robbins - http:// highrise.nfb.ca/onemillionthtower). É assim evidente que o campo de pesquisa das novas convergências digitais, no que ao documentário diz respeito, está a ser direcionado para um campo de remixagem transmedia, integrando conteúdos aumentados e/ou localizados e novos processos de interação e de imersão nomádica. Este novo modo de produção, estas novas discursividades emergentes, têm sem dúvida a sua origem na tradição do experimentalismo audiovisual do século XX, mas estão agora reconvertidas de forma dramática e constituem por isso mesmo um importante desafio no campo do digital, aberto agora, em função das novas potencialidades da web, a uma interação densa com as indústrias e as cidades criativas, aproximando estes universos naquilo a que podemos chamar uma nova economia do conhecimento e da comunicação audiovisual em contexto digital. Referências Bibliográficas BONITZER, Pascal (1988). “Les images, le cinema, l’audiovisuel”. Cahiers du Cinéma, nº 404, Février. CÁDIMA, F. Rui (2011). A Televisão e a Cultura Participativa. Lisboa: Media XXI. COHEN-SÉAT (1946). Essai sur les principes d’une philosophie du cinéma, Paris: PUF. COSTA, José Manuel; FINA, Luciana (1994). Frederick Wiseman – Um olhar sobre as instituições norte-americanas. Lisboa: Cinemateca Portuguesa. DANEY, Serge (1988). Le salaire du zappeur, Paris: Éditions Ramsay. ECO, Umberto (1970). Apocalípticos e Integrados, São Paulo: Ed. Perspectiva. GIFREU, Arnau (2011). “The interactive multimedia documentary as a discourse on interactive non-fiction: for a proposal of the definition and categorisation of the emerging genre”. [on line]. Hipertext.net, 9. MAY, Renato (1959). Cine y Television. Madrid: Ediciones Rialp. Edição original: Civiltà delle immagini. La TV e il cinema. Roma: Edizione 5 Lune, 1957. METZ, Christian (1973). Lenguaje y Cine, Barcelona: Editorial Planeta. ROSENTHAL, Alan (1971). The New Documentary in Action – A Casebook in Film Making. Berkeley: University of California Press. 17 O Documentário em Televisão – Uma Experiência da Realidade em França Anna Glogowski (“Commissioning Editor” - France Télévisions e programadora do DocLisboa) Entrevista e Edição de Texto Fernando Carrilho Fernando Carrilho (FC): Que contexto existia na televisão francesa quando iniciaste a tua atividade? Anna Glogowski (AG): Eu entrei no Canal Plus em 1984 num momento de uma revolução gigantesca na França porque era a primeira vez que passava a existir uma televisão privada. Era a primeira vez que uma televisão privada por assinatura, onde havia 180 pessoas trabalhando, não tinha produção interna, tudo era feito fora. Até ali havia um monopólio da televisão pública com realizadores pagos ao mês, estou falando de documentário, se chamavam “realizadores homologados”, pertencentes a cada um dos canais, eles recebiam um salário e faziam os filmes em função das grelhas de televisão. Em 1984 aparece o Canal Plus que foi uma concessão dada pelo governo socialista com a ideia de fazer uma televisão por assinatura com cinema, esporte e com alguns programas de documentário. Alguns anos antes tinha sido criado o Channel Four na Inglaterra que foi igualmente uma revolução porque instituiu a existência dos produtores independentes, até ali a BBC, que detinha o monopólio, tinha os seus próprios realizadores que eram assalariados. Quando as televisões públicas passaram a funcionar em paralelo com as televisões privadas foi criada uma legislação, tanto na Inglaterra como na França, resultado do lóbi dos produtores independentes, realizadores e criadores, para que houvesse uma obrigação das televisões recorrerem ao trabalho independente. Hoje em dia na França há um acordo que é assinado de três em três anos, onde a televisão pública se compromete a investir uma certa quantia e um certo número de horas na produção independente. Existe uma vigilância muito grande para ter a certeza que esses acordos são cumpridos pela televisão pública de forma a manter a existência e a sobrevivência da indústria. FC: Existia na altura uma distinção entre o documentário de televisão de cariz didático e de entretenimento e o documentário cinematográfico ou esta divisão surge mais tarde? 18 AG: Não, eu acho que isso é uma divisão que ocorre mais tarde. Existiam na época programas de televisão com obras audiovisuais de não-ficção e havia também cineastas que faziam filmes documentários como o Pierre Schoendorfer e o Joris Ivens, eram filmes feitos para o cinema e que acabaram por passar na televisão. Com o crescimento do relacionamento entre a televisão e o cinema começou a haver a necessidade de uma diferenciação entre um documentário que é feito para uma grelha de televisão e um documentário que é feito para cinema. Na França, existe uma legislação onde o CNC - Centro Nacional de Cinema, equivalente ao ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual em Portugal, exige o financiamento de uma televisão para a candidatura dos documentários destinados ao cinema. Hoje em dia na França, não se pode fazer um filme com o apoio do CNC seja de ficção ou de documentário sem que haja o financiamento de uma televisão. A situação francesa é muito particular, na Inglaterra a legislação é muito mais porosa entre a televisão e o cinema, aqui na França se você tem um documentário que é considerado para o cinema desde o início, ele vai ter, mesmo com o dinheiro da televisão, que ir primeiro para as salas de cinema e só dois anos depois pode passar na televisão. Mais concretamente, no Canal Plus um ano depois e nos restantes canais dois anos depois. Se você fizer um documentário para uma grelha de televisão ele tem que corresponder aos espaços de programação que existem em cada uma das TVs, você não pode fazer qualquer coisa para qualquer televisão, o grande problema é este. Pode acontecer que um documentário passe na televisão e depois consiga uma autorização para passar na sala de cinema. Por exemplo, a Agnès Varda fez para o Canal Plus Les Glaneurs et la Glaneuse (2000) (Os Respigadores e a Respigadora), onde eu fui a Commissioning Editor do programa, depois de passar na televisão ela conseguiu uma autorização especial e no dia seguinte foi para a sala de cinema. Os documentários produzidos dentro do sistema de produção francês podem excecionalmente passar na televisão e logo a seguir passar no cinema, mas é necessário pedir uma autorização especial ao Centro Nacional de Cinema. É por isso que a distinção de documentário cinematográfico é interessante mas é muito porosa porque cada país tem uma definição diferente. Você pode ter uma definição qualitativa, se o filme é bom ou ruim e você pode ter uma definição administrativa como eu acabo de explicar, uma definição determinada pelo modo de financiamento, pela economia do filme. Quando você quer produzir um documentário para cinema, você pode pedir dinheiro numa repartição do CNC, que se chama Avance Sur Recettes, um avanço sobre as receitas do filme, isto quer dizer que, se você passar todos os trâmites para a produção do filme, você vai ter depois que pedir dinheiro a uma televisão. Para passar no cinema você terá depois o problema de arranjar um distribuidor e orçamento para a promoção do filme, isto significa um custo muito maior do que quando você faz um filme só para televisão. Um documentário para uma grelha de televisão pode vir a ser chamado de documentário cinematográfico por causa da sua qualidade e do seu estilo. Quando um documentário é produzido para a TV, o financiamento poderá vir de uma outra repartição do CNC chamado COSIP - Compte de Soutien aux Industries de Programmes. Aqui cada produtor tem uma conta que é alimentada em função do número de horas programadas em televisão no ano anterior. Se uma televisão te encomendar um filme, você poder ir lá pegar dinheiro da tua conta mas este dinheiro não pode ser acumulado com o da repartição Avance Sur Recettes, reservada aos filmes destinados ao cinema. A própria economia do teu filme já faz a distinção entre um documentário que vai para o cinema e um documentário que vai iniciar a sua vida na televisão e que em função do seu percurso poderá ir para sala de cinema. O Five Broken Cameras (2011) que passou no DocLisboa em 2012, é um filme que foi iniciado para televisão com uma versão curta, mas que teve uma versão longa que passou pelos festivais de cinema. Após a passagem da versão curta em televisão, o documentário saiu para sala de cinema após ter conseguido uma autorização especial. FC: Os programadores de documentário dos canais de televisão têm consciência das propostas que se inserem mais no âmbito do cinema? 19 AG: Eu penso que têm efetivamente, mas aqui entram em jogo vários fatores, na França, na Inglaterra e na Suécia por exemplo, quando um programador aceita um projeto proposto por um realizador é porque esse projeto corresponde a um lugar que já existe dentro da grelha da TV. Cada televisão tem uma linha editorial própria. O problema hoje nas televisões é a formatação, no canal onde eu trabalho nós só fazemos história, só há documentários históricos, há uma seleção das propostas que são feitas. O canal público France 2 tem documentários ligados à sociedade, à história e à natureza. Mesmo aqui, eles só querem filmes ligados à sociedade francesa, logo aí há uma triagem, há uma seleção que é feita pelo próprio realizador que não vai propor um documentário que ele sabe que não cabe na grelha de televisão. FC: Existe algum bom exemplo onde os objetos fílmicos mais autorais têm lugar? AG: Sim na ARTE, mas já foi muito mais do que é hoje. Na ARTE existe um espaço que se chama Grand Format dentro da grelha de documentários que felizmente não tem temática, enquanto na France 2 o espaço é tematizado. Na ARTE Grand Format é grand format, é portanto um filme de longa duração. São selecionados projetos nos quais tanto o realizador como o produtor como o responsável pela programação dentro do canal têm confiança que a forma longa do filme convém ao espaço disponível. Depois há um outro programa na ARTE que é o mais radical ao nível da proposta autoral e que se chama La Lucarne. Já o nome em si define um pouco o espaço que ocupa. La Lucarne significa uma janelinha muito pequenina que tem no alto das casas antigas por debaixo do telhado, como se fosse uma janela do sótão. É um programa que passa normalmente à meia-noite e meia uma vez por mês e é realmente um espaço de liberdade, outro dia eu « caí em cima » de um filme lindo e fiquei a ver até ao fim quase até às duas da manhã. É o espaço com maior liberdade que há, depois existem os espaços para as curtas-metragens na televisão pública, na France 2 e France 3 onde estou. Eles produzem o Nicolas Philibert que tinha feito o Nénette (2010) sobre um orangotango que ele filmou no zoológico, foi uma produção do departamento de curta-metragem da televisão onde eu trabalho (France 3), eles deram dinheiro para ele fazer para a televisão a curta-metragem (que pode ir até quarenta minutos) e depois ele fez uma longa-metragem que foi para o cinema. Isto são outros espaços de liberdade que existem na televisão francesa. A noção de documentário cinematográfico é muito importante mas ao mesmo tempo ela é muito subjetiva, dentro da relação com a televisão que estamos falando, ela é muito dependente de cada canal, é muito difícil de generalizar. O Rithy Panh que já teve filmes no DocLisboa veio fazer uma proposta à France 3, a gente sabia que ele era um autor único, com talento, que cumpria os critérios, daqueles a quem não podemos dizer que não, pois os filmes que ele faz mais ninguém os pode fazer. Ele tem vindo a propor filmes para televisão que são financiados como documentários para televisão, mas a sua qualidade, a sua pertinência, originalidade e força fazem com que depois de eles terem sido transmitidos na TV possam ir para o cinema. Inclusive o Rithy Panh foi finalista dos prémios Césares, a produtora dele pediu uma autorização especial para o filme poder ir para o cinema, depois ela pagou 5000 € de inscrição para o prémio César e acabou sendo um dos cinco finalistas. Os critérios são diferentes, ou é o nome do autor, a pertinência do assunto ou a originalidade. Noutros casos, na hora do contrato você tem uma ideia que o filme tem uma duração X mas na mesa de montagem com a evolução do trabalho você se dá conta que afinal é um filme excecional que poderá ter uma duração maior e que poderá ir para sala de cinema, depois da difusão em televisão. A distinção do documentário cinematográfico é por isso muito difícil de determinar, ela não é radical. FC: Faz sentido a televisão programar filmes que foram pensados e concebidos para o grande ecrã da sala de cinema ? 20 AG: Eu acho que sim, o que é interessante é saber que há várias linguagens, para mim é evidente que existe uma linguagem para televisão e uma linguagem para o cinema quando se fala de documentário. Se a gente tem à partida o privilégio de fazer um filme para exibição em sala de cinema é fantástico, mas a televisão é a maior sala de cinema do mundo como se diz, o público é muito importante, é uma pena que um filme que tenha sido feito para cinema não passe em televisão. Para mim é evidente que existem duas linguagens mas nem todos os cineastas entendem isso. A televisão é um formato onde se filma grandes planos, close-ups, digamos que a quintaessência do aproveitamento da linguagem televisiva são as telenovelas brasileiras, os planos não têm profundidade de campo, tudo é feito para o imediato, enfim é a linguagem televisiva. Agora, eu acho que é importante que filmes documentários que são feitos com uma linguagem cinematográfica acabem na televisão. Nem sempre é possível passar os bons filmes no cinema porque o circuito de distribuição é difícil e custoso e não se consegue alcançar o mesmo número de pessoas no cinema como se consegue na televisão. Quem sabe e tem talento deve fazer documentários cinematográficos mas ao mesmo tempo não se deve esquecer que existe também uma linguagem da televisão e que quando ela é bem entendida, utilizada e aproveitada pode dar lugar a trabalhos formidáveis. Talvez não seja tão importante para um documentário que passou na televisão vir a passar no cinema, mas um filme que passou no cinema e viveu a sua vida e passar depois na televisão como cineclube é o ideal. Não sei se existe em Portugal mas na França a televisão continua tendo essa coisa maravilhosa do cineclube. Mesmo que seja num Sábado à meia-noite e meia tem ciclos do Murnau, do Charles Chaplin, etc. Neste sentido, a televisão é o instrumento mais democrático que existe, a televisão traz tudo para dentro da casa das pessoas, a gente prefere que seja o melhor possível, mas se puder trazer também documentários cinematográficos, vale a pena, com a condição de que documentário tenha feito a sua vida como obra cinematográfica. Mas nem sempre é possível, alguns documentários cinematográficos vão para a televisão porque conseguiram esse financiamento e não conseguem depois uma distribuição porque aqui na França é complicado arranjar um distribuidor que arranje uma sala, que pague publicidade, etc. Nem todos conseguem, por isso ainda bem que passaram na televisão para que o máximo de pessoas os possa ver. O outro lado do documentário cinematográfico são os festivais, é mais uma janela de exibição, são momentos privilegiados de mostrar um filme ao público com a presença do realizador, isso a televisão não te dá e a sala comercial de cinema raramente. FC: Como vês a velha questão do equilíbrio entre a liberdade criativa do realizador e as exigências do programador-financiador ? AG: Em função do tempo que passa a questão vem evoluindo. No Canal Plus nós tínhamos uma grelha de documentário que não estava restrita a temas como história, geografia ou viagens, nós procurávamos um bom filme, com interesse, que podia ser uma história ligada à saúde ou à música ou qualquer outra história, nós tínhamos liberdade ao nível da temática. A partir daí, recebíamos no nosso escritório os realizadores e os projetos e tentávamos entender para onde é que vamos juntos. É evidente que de um lado está uma pessoa que vai tentar arranjar dinheiro para pagar o projeto e do outro, uma pessoa que tem um desejo de fazer um filme. Há um encontro entre duas pessoas em cima de um desejo, o desejo de fazer um filme por parte do realizador e o desejo do programador de televisão de ter um filme muito bonito que angariará público, que vai agradar e que depois terá uma vida longa. Porque eu acho que é também dever da televisão criar património para o futuro. Ao mesmo tempo existe essa relação de poder entre o que detém o dinheiro e o que precisa dele. Quando você tem essa liberdade temática, digamos que o respeito do autor será maior, porque a gente está se projetando em cima de um desejo de um realizador que quer fazer um bom filme. E que corresponde em determinado momento ao que é possível fazer – porque a televisão é uma questão de momento, o que interessa agora pode não interessar amanhã – a um encontro total entre 21 todos esses desejos, todas essas pessoas e possibilidades de conceber e de financiar. Nesse contexto, a liberdade do autor será bastante grande. Quando o processo vai evoluindo com programas, com grelhas já pré-definidas a nível temático, de duração e da forma como as coisas devem ser ditas, a liberdade vai-se reduzindo aos poucos. Hoje em dia na França é verdade que o financiamento dentro da televisão ao documentário tem uma liberdade bastante relativa, não é tão importante como era antigamente. Hoje em dia, o financiamento mais interessante que existe na televisão para fazer um documentário cinematográfico é passando pelo departamento de cinema. É um departamento que financia filmes que são destinados primeiramente à sala de cinema, só depois passam na televisão. Aqui o que está em jogo é a obra do autor, não é a correspondência do documentário a uma grelha, a uma exigência para uma hora de difusão, a uma moda ou a um contexto socio-histórico ou socioeconómico do momento. Hoje em dia, alguns representantes das televisões dizem por exemplo que não se pode programar filmes que criam ansiedade porque as pessoas já vivem momentos difíceis. Na televisão onde eu trabalho, atualmente se um projeto não for sobre história do século XX em 52 ou 90 minutos com comentários a explicar o que se está mostrando praticamente não há maneira de se fazer um documentário. Como existem muitos canais de televisão eles tentam diferenciar-se entre si com linhas editoriais diferentes marcando a sua “personalidade”. FC: Como programadora de documentários para televisão, o que procuras num projeto? AG: Existem duas situações, na situação em que me encontro hoje, num canal que só se faz história, só vou poder escolher documentários que tratam a história e a política do século XX. Temos um espaço mensal em horário nobre denominado história-imediata onde passámos recentemente um documentário de investigação sobre o Mohamed Merah, um rapaz que assassinou sete pessoas nas ruas de Toulouse. Um evento cujo impacto político o tornou histórico. No canal de televisão onde eu trabalho eu só vou poder escolher projetos que entrem nessa preocupação de analisar eventos políticos ou históricos. Depois vou tentar achar um assunto com um tratamento original mas tendo em atenção que nós temos que nos dirigir a um público muito largo (vasto), temos que ter um denominador comum de simplicidade e acessibilidade. Por fim, o que é sempre válido para todos os projetos, por que é que esse filme deve ser feito pela pessoa que o apresenta? Tem sempre que haver esse encontro entre a necessidade, o assunto e a forma. Um realizador que não sabe responder por que é que ele vai fazer um filme, não sabe como o vai fazer. Se estivesse por exemplo num canal como o ARTE e fosse responsável pelo programa Grand Format, eu tentaria fazer um encontro entre um assunto interessante, uma maneira original de abordar, uma linguagem cinematográfica convincente e uma associação total entre o desejo e a necessidade. Um filme é isso, nasce de um desejo de contar uma história associado a uma forma cativante, agradável e bonita. Aqui entram em jogo as experiências passadas do realizador e as suas convicções profundas em relação ao filme que ele quer fazer. Eu tenho muita confiança no produtor. O triângulo entre o realizador, o produtor e o responsável da televisão é necessário e deve ser saudável de modo a enriquecer o filme. FC: Como vês a exibição em televisão de objetos fílmicos que estão na esfera da experimentação artística, ensaiando novas formas e abordagens do real? Um pouco como a secção Riscos no DocLisboa. AG: O DocLisboa está indo muito nesse caminho, existe essa passarela entre o documentário e a arte. A Pamela Cohn que foi júri em 2011 no Doclisboa disse num artigo de uma revista, a propósito dos filmes que estão entre o mundo do documentário e da arte, e eu concordo com ela, que é preciso tomar muito cuidado, porque o desejo forte de fazer arte pode fazer esquecer a necessidade de contar uma história ligada à realidade. No caso das instalações artísticas, se são de facto instalações, eu acho que não têm lugar na televisão, porque a instalação deve ser vivida como o teatro. Para 22 mim o teatro filmado é a coisa mais chata do mundo. É muito difícil transpor uma instalação de videoarte para dentro de um ecrã de televisão. No entanto, existe na ARTE um programa que passa à uma ou duas da manhã uma vez por mês dedicado a documentários experimentais, ou melhor a cinema experimental. Eu tenho certeza que existe um público adepto e que fica acordado para poder ver, mas é um programa de nicho, para um público muito selecionado. A transposição do mundo do documentário para o mundo da arte e sua relação necessita de uma pedagogia. Não estou a falar da secção Riscos do DocLisboa curada pelo Augusto Seabra, que apresenta outro género de filmes experimentais. Pode haver na televisão um espaço para cinema experimental, mas tem de ser bem divulgado. Penso que as televisões não vão investir muito nestes filmes. No Canal Plus, no departamento de curta-metragem, ainda existe um programa em forma de revista que se chama Mensomadaire (uma palavra inventada). Eles agora têm um nome e uma identidade e programam objetos híbridos, mas todo o mundo sabe o que é o programa, eles têm essa liberdade, mas é também um nicho, um lugar específico. É evidente que uma direção de um canal de televisão não vai investir muito dinheiro neste tipo de programa, porque o orçamento do canal tem que ter uma correspondência na quantidade de público que assiste. Este é um tipo de programa minoritário. A televisão tem de ter um espaço para mostrar que existe mas não podemos exigir de um canal público que apresente num horário nobre este tipo de programa. FC: O que pensas dos novos conceitos de televisão associados à internet e às novas plataformas digitais? AG: Nós estamos num momento de explosão dos ecrãs, o visionamento em conjunto na sala de estar em casa acabou, pelo menos a nível urbano. Na França dizem que em média existem seis postos de visionamento de imagens por cada casa, cada membro da família terá a sua relação com a imagem, alguns preferem o noticiário, mas os jovens vão estar ligados à internet, onde podem tomar contacto com programas do tipo webdoc ou serious games. Fala-se muito nestas plataformas mas na verdade ninguém sabe exatamente o que fazer com tudo isso. Recentemente recebi um projeto de webdoc que acompanha a vida de alguns operários até ao fecho de uma fábrica da Peugeot agendado para 2014. Cada operário terá o seu canal na web para contar a sua história, trata-se de uma história não-linear. Você pode ouvir a história de fulano, vê-lo no trabalho, em casa e se quiser ver outra personagem clica noutro vídeo. Depois de iniciado o trabalho alguém disse que seria interessante fazer um documentário, agora enviaram-me um projeto para fazer uma história linear. As próprias pessoas que estão com o projeto webdoc acharam que era bom contar a história de outra maneira. Conclusão, eu penso que é bom para uma geração de jovens terem estas saídas e dominarem a tecnologia e as metodologias para contar certo tipo de histórias. Eu estou muito interessada em perceber como é que tudo isto funciona, vendo que as fronteiras da linguagem tradicional do documentário estão a ser transgredidas. Não é por isso que o documentário vai deixar de existir, ele vai ter é outras formas, vão-se contar histórias de outra maneira. Por exemplo, o filme Valsa com Bashir (2008) evoluiu para um documentário de animação, hoje em dia há muita gente a fazer o mesmo. Cada inovação é portadora de um fruto que vai amadurecer e que trará outro conhecimento, uma outra maneira de ter o prazer de ver um documentário. A multiplicação dos ecrãs e das tecnologias que permitem contar histórias - no fundo é sempre isso que tentamos fazer, sejam elas verdadeiras ou ficcionais - permitem um maior enriquecimento. Na verdade fala-se muito e entendese pouco, eu vi recentemente um filme que usa várias tecnologias chamado This Ain’t California (2012) e que se passa na Alemanha do Leste antes da queda do muro. Um documentário fantástico, um realizador com 25 ou 28 anos aprendeu a dominar as técnicas necessárias para manipular uma história. Você não sabe se ele usa ou não falsos arquivos, depois mete uma estória de amor pelo meio, enfim no final você tem a impressão que viu um filme sobre a antiga Alemanha de Leste, mas ele te diz que você viu uma ficção total. Este filme dava um debate fantástico! 23 Entre o Laboratório e a Normalização, Notas Sobre o Documentário na Era Televisiva José Manuel Costa (Texto publicado originalmente na Revista docs.pt, junho 2007) 1) Grandes Portugueses A recente série da nossa televisão pública sobre os “grandes portugueses”, o modo como foi promovida e, sobretudo, discutida, foi uma cereja no bolo dos equívocos, das omissões, do desconhecimento, que continuam a caracterizar a relação do nosso meio televisivo com a ideia de documentário (1). Mesmo sabendo a que ponto neste termo se tem encaixado tudo, mesmo sorrindo da iniciativa, faz sentido lembrá-lo justamente na medida em que o que se passou revela, ainda, um cânone. O que esteve em causa? De um lado, a (auto)satisfação de dar a promover ideologias opostas, encontrando na diversidade delas a caução democrática, mas também a crença num papel “gerador de pensamento”. Do outro, a incomodidade de ver defender Salazar, e, por aí, o problema daqueles que, tanto reclamando ao documentário que “tome posição” face aos conflitos do mundo, e tanto defendendo que é essa a sua diferença em relação à reportagem, não aceitam argumentos tão estreitos ou manipulados. Afastando a espuma, o que veio ao de cima foi um fundo comum, e uma caução escondeu outra. O “ovo de Colombo” da diversidade ideológica caucionou uma ideia que era afinal tanto dos promotores como de muitos dos críticos: a ideia de que o documentário é acima de tudo “comentário”; a ideia de que este deve ser “dito” (em “in” ou em “off”); a ideia de que esta é a área do texto assertivo, em que é suposto ultrapassar-se a neutralidade da reportagem. Com um tão bom pretexto para dar “a cada um a sua verdade”, o que triunfou foi o cliché do modelo. Puseram-se em causa as teses, não o “filme de tese”. Ora, para além da discussão dos conteúdos e da maior ou menor inteligência dos textos, teria sido bom que se interrogasse o modelo e o seu lugar dominante, ou seja, a cansativa auto- suficiência dum discurso que, tomando isto pelo documentário, deixa que isto ocupe o lugar dum universo inteiro. 24 2) A Ambiguidade como Matéria A defesa natural disto como documentário não é, no caso da televisão pública portuguesa, nem essencialmente questão de mercado (de audiência, grelha, horários…), nem uma fase de um percurso (em resposta a uma hipotética lógica “observacional”), nem, muito menos, um sinal de influências externas. Parecendo derivar de uma crença arreigada, e de uma crença que, de facto, é vulgarmente empunhada contra a ambiguidade dos modelos “observacionais”, não se trata de uma atitude “pós” cinema direto pela simples razão de que está “aquém” dele. O horror à putativa falta de perspetiva dos filmes sem tese, ou daqueles que, dizendo-se documentários, não nos dão uma muleta para pensar as coisas, é, neste caso, uma incompreensão de fundo que nasce dum vazio. Pense-se o que se pensar da tradição do “direto”, há um fosso enorme entre quem o discute tendo-o experimentado e quem passou à margem da inflexão produzida por ele. Dito de outro modo, uma coisa é querer repensar a linguagem do documentário sabendo que a ausência do “pivot” ou da voz “off” assertiva não equivale a “ausência de ponto de vista”; outra é não ter passado por isso. Em Portugal, onde o “direto” só foi integrado na prática corrente do cinema documental na década de 90, a televisão não chegou a integrá-lo, mesmo se para o domar. Ao atraso no lançamento de uma tradição cinematográfica (antes, o nosso documentário mais original fora quase sempre “outra coisa”) juntouse então a candura, mas também a sobranceria, de um ponto de vista televisivo que lhe passou ao lado. Na televisão pública portuguesa, muito simplesmente, não se passou o Bojador. Por outro lado, este empobrecimento da discussão documental no espaço televisivo não deixa de enfraquecer o debate sobre o documentário “tout court”, ameaçando até fazer regredir o que aqui já tinha mudado, em geral, na década de 90. Para que tal não acontecesse seria certamente necessário que a televisão pública integrasse, em posição de relevo, não só a geração que operou essa mudança como, antes de mais, o espaço do cinema, abrindo-se a formas de pensar provenientes deste e não do pensamento jornalístico (2). No passado da RTP tal abertura já existiu, mostrando como o alargamento de horizontes tem imediato efeito interno. Mas a entrega de poder a alguém que, tendo trabalhado em televisão, se tinha entretanto imposto como homem de cinema – Fernando Lopes, no segundo canal, em 1978/79 – não se repetiu. É então talvez também por isto que todo o debate da identidade do documentário face à reportagem continua enredado no equívoco. Porque, de facto, evocar o documentário como lugar “da opinião” contra a “neutralidade da reportagem”, é uma inusitada soma de equívocos, que começa, aliás, na forma de ler a segunda. Dizê-lo é não perceber a que ponto as reportagens são hoje veículos (porventura brutais) de ponto de vista, do qual o paradigma será a moderna reportagem de guerra, em que quanto mais “vemos” menos realmente “estamos a ver”, e em que a grelha de leitura está traçada na origem, nas fontes, ou nas corporações, da informação. Ou seja, não se percebendo sequer isso, e persistindo-se em pensar o documentário num quadro que apenas se define contra essa falsa neutralidade, ignora-se na origem aquilo que o melhor documentário cinematográfico tem sido, que é precisamente a negação da muleta opinativa. Num mundo em que a notícia é saturação visual, a haver um papel social para o documentário, ele não está na opinião face aos conflitos expostos nos média mas, antes de mais, na destruição da grelha de leitura destes, na vontade de ainda dar a ver e a ouvir alguma coisa, no adensamento da nossa relação com o objeto, na exigência de um trabalho da visão e da escuta. Ao contrário de quem transmite uma posição, esse documentário veicula “um ponto de vista” que não substitui, antes reclama, o trabalho do espectador na construção dele. Ao contrário de quem dilui a ambiguidade, esse documentário adensa-a e faz dela matéria e expressão. 3) O Documentário Domesticado A visão “pré” cinema direto funde-se algures, em osmose difusa, com as leituras “pós”, que nos chegam do panorama internacional. Como lugar de poder, o espaço televisivo nunca foi inócuo. Há então uma zona de conflito entre documentário e televisão que deva ser vista como generalizada? 25 Dito de outro modo: será que a televisão exclui inerentemente o documentário, ou que o integra sempre obrigando-o “a mudar”? Ou ainda, fazendo nossa a pergunta de Comolli em 1992, “será que, nestes últimos anos, a televisão influenciou a imagem documental tradicional? Será que o enquadramento, o ritmo, o comentário, a linguagem, têm a mesma natureza no cinema e na televisão? (3) Naturalmente, estas perguntas são retóricas – o que não significa que a evidência da transformação do espaço documental pela televisão tenha de ser lida de forma redutora (4). Numa primeira instância, a televisão mudou o documentário como mudou todos os géneros narrativos que fez seus (no sentido em que, precisamente, não criou géneros mas transmutou-os), e a história destes laços é tão marcante para a ideia que hoje temos de documentário quanto multifacetada e biunívoca. A este propósito, nunca é demais lembrar que a primeira grande mutação que marcou a história do movimento documental – justamente a revolução do cinema direto na viragem para os anos 60 – teve, ela própria, como um dos fatores impulsionadores, a evolução do jornalismo televisivo na década anterior. Nalguns dos maiores polos da mutação, como os E.U.A. ou o Canadá, essa contaminação foi decisiva, tendo sido em boa parte com a intenção de desenvolver aquele jornalismo que nasceu o mais lendário grupo americano da altura – a Drew Associates – e o apoio financeiro que lhe foi dado pelo trust Time-Life. Mas é tão relevante perceber que a televisão foi um agente dessa mudança quanto perceber que não foi o terreno principal dela. Se, por esses anos, o documentário foi outra vez (como o fora nos anos 30) um dos laboratórios do cinema todo – tendo sido nele que, em boa parte, se ensaiaram ruturas tão grandes como as que visaram os contornos do “assunto” ou a temporalidade -, isso acabou por acontecer fora da programação televisiva, num espaço de trabalho formal que tinha outra natureza. Situado na margem da indústria cinematográfica, mas ainda fora da maciça integração televisiva (no fundo, em fase de pré-industrialização), o documentário beneficiou duplamente da densidade da sua condição cinematográfica (o seu tempo de fabrico, o seu tempo de receção, a concentração do ato recetor na sala escura) e de uma quase absoluta ausência de formatação. A televisão pediu um novo jornalismo, o que o cinema lhe deu foi, outra vez, uma forma de arte. E quando, no seu “boom” quantitativo, a televisão acabou por absorver a área, quando, portanto, esta finalmente se industrializou, a própria natureza desta industrialização – num território que já não era uma “indústria da arte” – dinamitou-a por dentro. Entre os anos sessenta e noventa, o documentário de cinema não parou de escavar, de buscar, nunca parando de redefinir o “assunto” e, por exemplo, reincorporando a montagem ou o texto por várias vias que haviam sido excluídas na primeira daquelas décadas. Mas quando a indústria televisiva o incorporou, foi exatamente essa busca que foi posta em causa, transitando ainda mais para a margem da margem, para os interstícios, para zonas de fuga e “em fuga”, dir-se-ia permanente, à tendência de apropriação. “O cinema direto encontrou a sua inscrição, a sua assunção e a sua ruína na televisão”, diz ainda Comolli no texto citado. Numa leitura “macro”, o que foi então esse processo? Em primeiro lugar, tratou-se de formatação: contra a absoluta liberdade de formato anterior, da “muito curta” à “muito longa” metragem (pormenor nada indiferente ao papel que tivera em relação à temporalidade), o documentário via-se agora praticamente encaixado em dois únicos padrões, coincidindo o maior deles com o horizonte mais baixo da anterior longa-metragem. Em segundo lugar, tratou-se de concentração e aceleração narrativa: transladado da sala escura, o documentário foi limado nos tempos mortos, na ação microscópica, na não-ação, reintroduzindo lógicas de condução narrativa baseadas na “atração” que nada tinham a ver com os caminhos que estava a desenvolver na vertente cinematográfica. Em terceiro lugar, tratou-se de precisão de sentido: no auge de uma fase histórica em que tanto se tinha avançado na ideia de ambiguidade como sinónimo de profundidade, inverteu-se o caminho, acentuando a necessidade de orientar o espectador, seja 26 no estrito plano espacial e temporal (evitando, por exemplo, as longas sequências sem explicitação de lugar, tempo ou contexto), seja no plano crítico (a muleta do sentido). Nos canais mais “cultos”, o processo terá sido mais subtil ou contido. Mas nenhum dispensou esta domesticação. Nas últimas décadas, a explosão do espaço televisivo veio então acentuar o fosso entre as práticas documentais em cinema e em televisão, e a sublinhar a crescente influência da segunda. Se antes houvera um movimento documental que atravessara idades e modelos, agora instalou-se a tensão entre uma produção cinematográfica duplamente marginal, ou duplamente resistente, e a trituração dela no (e a partir do) campo televisivo. Mais uma vez o processo não foi linear (sem interstícios ou exceções) e não há que vê-lo como mera assunção de marcas genéticas diferentes – como se o documentário televisivo fosse, em última análise, pura emanação da reportagem. Sendo óbvio que uma parte veio daí, e sendo óbvio que todo ele sofreu essa contaminação, trata-se sobretudo de território misto, sem marca genética própria, em que se combinam marcas históricas da televisão (a informação, a palavra, a herança radiofónica) com a apropriação do documentário cinematográfico, ou seja, daquilo que, até aqui, foi o documentário “tout court”. Em si mesma, a ideia de documentário era obviamente anterior a este cruzamento, tendo sido uma ideia de cinema e uma resposta dada na – e pela – história do cinema. O documentário tinha nascido das vanguardas de 20, não da informação, das “atualidades” ou do “travelogue”. Quando chegamos à idade do documentário televisivo estamos assim num terreno que em parte é consequência da miscigenação daquele, tornando-se um subproduto dele. Um terreno que, em todos os parâmetros acima referidos (formatação, “aceleração, precisão de sentido”),não só marcou o que se fez dentro dos canais televisivos, como, na verdade, fora deles. Um terreno que, por outro lado, deu nova vida a alguns subgéneros (por exemplo o retrato, como bem notou também Comolli), e que, mais do que persistir em ignorar ou confundir com o todo, mais vale concretizar e nomear. Exatamente ao contrário do que tem acontecido com a expressão “documentário de criação” – epíteto redundante e ignorante, que, justamente, mete tudo no mesmo saco – valerá então a pena chamar as coisas pelos nomes, não tendo receio de falar em “documentário de cinema” e em “documentário de televisão”. Quaisquer que sejam as genealogias, é precisamente em nome da compreensão do (que resta do) todo que se impõe reconhecer cada uma das partes. 4) Um Laboratório do Seu Futuro E no entanto, se é verdade que a televisão consagrou o seu documentário, a própria história do “direto” mostrou quanto pode beneficiar com o investimento paralelo no…documentário de cinema. Aí, o que está em causa é a vantagem industrial de fabricar a norma e o “seu contrário”, investindo num nicho de experimentação que, por inerência, se opõe ao padrão. É claro que houve também quem, por dentro da televisão, erguesse laboratórios dela – e um bom exemplo será o genuíno “laboratório Ghezzi”, nas suas múltiplas vertentes (5). Mas, como aliás Ghezzi provou à exaustão, para que a experiência laboratorial possa ir fundo e longe, ela acaba sempre por ir buscar algo ao terreno do cinema. Qualquer que seja o suporte e a mutação tecnológica (e portanto perspetiva, e portanto conceptual) em curso neste, qualquer que seja a pulverização das fronteiras e do lugar identificador deste, o seu potencial de experimentação continua a ser um núcleo denso que, a prazo, alimenta a periferia. É esse o paradoxo: se há que perceber que o documentário de televisão corresponde a um espaço comunicacional próprio, mal iriam as coisas “para a indústria televisiva” se esta se acantonasse nos modelos que formatou. Mesmo sendo um território outro, e quanto mais for um território outro, o documentário de cinema, ou o espaço do cinema, é ainda, para a televisão, algo em que esta deve saber investir, porque, algures, é um laboratório do seu futuro. 27 Notas: 1) Refiro-me à série “documental” sobre os finalistas, em si mesma, não ao concurso nem à polémica sobre o seu desfecho. 2) Isto independentemente das tensões e dos filtros que, também nessa hipótese não deixariam de surgir, e que abordo no ponto seguinte. 3) Comolli, Jean-Louis: “Télé et doc: notes pour un débat sur le cinema direct”, in Voir et Pouvoir- L´innocence perdue: cinéma, television, fiction, documentaire, Verdier, 1994. 4) Um bom exemplo dessa visão não redutora é aliás o próprio texto de Comolli, que, entre muitos apontamentos menos ortodoxos, acolhe de bom grado o que considera ser a maior variedade e conflituosidade do espaço televisivo em relação ao do cinema, perguntando-se se a pressão ideológica e comercial não será também um bom antídoto contra a “indiferença do consumo cultural”… 5) Refiro-me às inúmeras iniciativas de Enrico Ghezzi na RAI 3, em particular no programa Fuori orario, por ele iniciado em 1988, e em Blob, criado com Marco Giusti em 1989. 28 A Fábrica Vítor | Fecho da Fábrica HDV, 30’, 2012, Portugal Betacam Digital, 25’, 2012, Portugal Realização: Mariana Bártolo Guião: Mariana Bártolo Imagem: Mariana Bártolo Montagem: Daniel Fernandes; Mariana Bártolo Som: Mariana Bártolo Produção: Mariana Bártolo Realização: Cândida Pinto Guião: João Nuno Assunção Imagem: Jorge Pelicano Montagem: Marco Carrasqueira Som: Edgar Keats; Octaviano Rodrigues Produção: João Nuno Assunção; Jorge Pelicano Sinopse Sinopse Filme realizado no âmbito da reconstrução da Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso, patente na exposição permanente do Centro Interpretativo da Fábrica de Santo Thyrso. Reflecte sobre o passado da emblemática fábrica do Vale do Ave e sua recente reconversão num polo de Indústrias Criativas, através das memórias de antigos trabalhadores e do questionamento da noção de criatividade. Este documentário intimista mostra o impacto da crise económica no tecido empresarial português. Durante meses seguiu a vida de um pequeno empresário português, Vítor Rita, obrigado a fechar a unidade têxtil que o pai ergueu há vários anos. Vítor | Fecho da Fábrica mostra um encerramento por dentro e reflete as dificuldades do tecido económico português ainda mais afectado com os efeitos da globalização. Sem trabalho e com uma família a cargo este filme acompanha o desenrolar da história de Vítor com um final actual mas inesperado. 29 Paisagens de Papel Dv Cam, 12’, 2012, Portugal Realização: André Pisca; Pedro Almeida Guião: André Pisca; Pedro Almeida Imagem: André Pisca; Pedro Almeida Montagem: André Pisca; Pedro Almeida Som: André Pisca; Pedro Almeida Produção: ESTA - Escola Superior de Tecnologia de Abrantes Sinopse Numa região marcada pelo abandono e pela desertificação, há algo que teima em tapar o horizonte. Para além das fábricas, uma delas com mais de 100 anos de história, há mais vestígios para além de uma aparente solidão. 30 lisboa Um Panorama da Cidade de Lisboa Desde os primórdios do cinema que as cidades suscitam nos cineastas uma irresistível atração. Tal como os fotógrafos, os primeiros cineastas cedo descobriram que as metrópoles representavam por si só um espaço privilegiado de experimentação. A urbe surgiu naturalmente como um campo fértil de observação e ensaio artístico não só na dimensão arquitetónica e paisagística, como também na social e cultural. Surgem como exemplos na história do cinema as denominadas “sinfonias urbanas” que praticamente se constituíram como um género cinematográfico. São exemplos maiores: Berlim: Sinfonia de Uma Cidade de Walter Ruttman (1927), À Propos de Nice de Jean Vigo (1930) e O Homem da Câmara de Filmar de Dziga Vertov (1929). Embora apresentassem diferenças entre si nos domínios da estética da montagem e nos propósitos da abordagem cinematográfica, os filmes eram encarados como uma prática fílmica identificável, constituindo-se como referência a inúmeros realizadores que desejaram filmar as cidades. Estes “filmes das cidades” tornar-se-iam um marco na história do documentário e do cinema em geral pelo seu grau de experimentação, eles propuseram-nos novas visões da cidade, novos olhares que interpretavam a arquitetura, o movimento e o ritmo citadino bem como as vidas “sempre condicionadas” dos que habitam as metrópoles. Nesta senda e no que concerne à cidade de Lisboa sobressaem filmes como Lisboa de Hoje de Amanhã de António Lopes Ribeiro (1948), Alfama, Velha Lisboa de Almeida e Sá (1930) e Lisboa, Crónica Anedótica de Leitão de Barros (1930), os dois últimos exibidos na última edição do PANORAMA na rubrica “Percursos no Documentário Português”. Todos os anos e desde a sua primeira edição que o PANORAMA recebe um importante conjunto de filmes que de uma forma ou de outra retratam a cidade de Lisboa. Ou seja, temos vindo a reparar que a presença de documentários sobre Lisboa ou sobre temas relacionados com Lisboa é constante e assinalável nas nossas grelhas de programação. Perante esta realidade, pensámos que existia ao nosso alcance um fértil universo que merecia um olhar mais atento, potenciando assim uma maior reflexão sobre a cidade que deu luz ao PANORAMA. Por tal motivo, inauguramos na sétima edição do PANORAMA um espaço de programação intitulado “Sessão Lisboa”, que será essencialmente uma janela para a produção contemporânea que olha a nossa cidade. A par deste olhar atual decidimos pontuar a “Sessão Lisboa” com filmes que recuperámos da rubrica Percursos no Documentário Português, isto quer dizer que este ano e no decurso da nossa investigação sobre o documentário no Cinema Novo selecionámos filmes deste período que retratam igualmente Lisboa e que complementarão este novo espaço. O nosso intuito é colocar em diálogo documentários de produção contemporânea com filmes datados numa época, criando visões polissémicas oriundas de diferentes tempos históricos. Uma questão que poder-se-á já colocar, entre muitas outras que surgirão, é “como é vista a cidade de Lisboa no cinema documental português ao longo dos tempos?” Por outro lado, a programação de documentários atuais sobre Lisboa num espaço próprio, permitirá apresentar propostas cinematográficas pertinentes que vivamente desencadearão reflexão e conhecimento. 34 O documentário emerge, assim, como meio privilegiado para pensar a nossa cidade. Neste sentido, apresentamos neste Caderno uma primeira abordagem teórica à relação entre a cidade e o cinema, um texto que levanta desde já algumas questões sobre a forma como a cidade (Lisboa) surge representada no cinema (no documentário) e que é escrito, precisamente, por um geógrafo, José Bértolo, que se tem dedicado a esta temática ainda pouco explorada em Portugal, em particular no âmbito de outras disciplinas que não as dos estudos de cinema. Nesta edição o espaço “Sessão Lisboa” é composto em concreto por duas sessões. A primeira (9 de Maio, 19h, Sala 3, Cinema São Jorge) iniciar-se-á com um filme de 1966, Para um Álbum de Lisboa, de Faria de Almeida que nos apresenta um retrato caricatural do quotidiano de uma Lisboa moderna. Seguir-se-á Abandonados, um olhar perturbador para os edifícios em ruínas. Terminamos com uma sequência de documentários que visitam a freguesia de Santa Maria dos Olivais (Santa Maria dos Olivais), o Bairro da Bica (Sem anos), a Feira da Ladra (As coisas dos Outros) e Alfama (Alfama, Bairro Típico de Lisboa),este último produzido em 1970 por António Ruano e Miguel Spiguel. Os documentários da segunda sessão (11 de Maio, 19h, Sala 3, Cinema Jorge) estabelecem uma maior intimidade com os cidadãos: se em 225 Rua da Rosa entramos no mundo de um jovem lisboeta que habita o Bairro Alto, em Domingo à Tarde rumamos ao universo de um grupo de jovens paquistaneses que jogam críquete na Alameda Afonso Henriques. A equipa do PANORAMA desafia todos os cinéfilos e olisipófilos a estarem presentes nestas sessões e a habitarem estes documentários. Fernando Carrilho Equipa de Programação 35 Filme e Cidade - Lisboa na Ficção, Documentário e outros Filmes José Bértolo (Geógrafo) 1. Quando comecei a embrenhar-me no tema das relações entre cinema e cidade sabia que era uma matéria largamente abordada, mas não tinha uma ideia da abundância de textos e ainda menos da enorme diversidade de subtemas e tratamentos. Além dos correntes textos de imprensa que vão das notícias aos artigos de crítica jornalística e pequeno ensaio, deparei-me com uma enorme quantidade de publicações mais ou menos científicas. Digo mais ou menos porque muitos destes escritos pouco se destacam do que ocasionalmente se encontra na imprensa. O que os une é uma relação com a academia, seja por vínculo formal, retórica ou mera invocação. Sabia que era um tema academicamente investigado, mas confesso que a profusão de estudos me surpreendeu. Desde o óbvio, trabalhos na área dos estudos fílmicos, media e comunicação e na área da antropologia, sobretudo em torno do filme etnográfico, até ao menos óbvio, em áreas de história, sociologia, psicologia e economia. O que mais captou a minha atenção, à medida que avançava no levantamento do tema, foi o crescimento exponencial das referências bibliográficas que relacionavam o filme, por um lado, com a arquitetura e o urbanismo e, por outro lado, com a geografia. Artigos, livros e outros textos, todos na sua esmagadora maioria anglófonos, facto que não estranhei, pois o mesmo se verifica quanto a outros temas, espelhando, grosso modo, a supremacia de norte-americanos e ingleses no mercado de filmes e audiovisual. Estranheza foi a inexpressividade académica do tema em países como a França, Itália ou Espanha e, sendo geógrafo e, em certa medida, investigador certamente que me admirou o parco interesse que o tema tem suscitado em Portugal por parte dos meus pares. Falar de textos sobre filmes ou falar de filmes? Pode parecer que a minha preferência é pelo primeiro tipo, i.e., pela análise do filme em detrimento da análise de filmes. Mais do que duas posturas ou modos de analisar, trata-se de duas estratégias complementares em qualquer investigação científica. A primeira pressupõe uma coordenação entre abordagem e objeto de análise – o filme. Trata-se de inserir o filme num contexto teórico, i.e., definir uma problemática. A segunda implica uma atenção aos filmes que é diferente no texto académico e no texto jornalístico: aqueles requerem uma atenção sob comando teórico explícito enquanto os últimos bastam-lhes as lentes ideológicas e culturais. Nesta ocasião prefiro falar do filme. Circunscrever o tema em questão ao cinema parece-me limitado, e tanto mais limitado quando este cinema é quase sempre de ficção e de documentário. James 36 Monaco (2000) (1) faz uma distinção interessante entre os termos fitas (movies), cinema e filme, fazendo-os corresponder a três problemáticas ou tipos de relação, respetivamente, com a economia, com a arte e com o mundo. A análise que tem por enfoque o filme requer uma contextualização dos filmes na sociedade onde se integram, uma abertura da análise a outros aspetos que não apenas os internos. Manter a análise no domínio estrito da estética assemelha-se-me redutor no estudo do tema das relações entre cidade e filme, uma vez que este apela à consideração de múltiplas dimensões: a cidade está nos filmes, estes estão na cidade. A opção pela multidimensionalidade descentra a análise do filme, estendendo-a dos autores e da produção aos espectadores, cinemas e locais de consumo, inserindo-a em contextos próximos e longínquos. Tal como os filmes, exibidos localmente e distribuídos globalmente, também as cidades são hoje lugares, cada vez mais complexos, numa rede global. Mas do que falamos quando se fala de filme e cidade? Da economia e da organização urbana ou da representação? Os trabalhos científicos tendem a privilegiar a análise do filme per se ou da sua relação com aspetos externos, tais como autores, produção e audiências. Esta dimensão externa tem vindo ultimamente a emancipar-se do filme, explorando aspetos ligados à arquitetura e urbanismo dos locais de produção e de exibição (as cidades do cinema, Babelsberg, Cinecittà, Hollywood, Bollywood…; as salas, os multiplex, os écrans em espaços urbanos…). A cidade pode ser cenário, construído ou real. Pode também ser imaginária ou relacionada com um local existente, a Tativille de Playtime de Jacques Tati (1967) ou a Hong Kong de Chungking Express de Wong Kar-wai (1994). No filme de ficção a ação pode decorrer num espaço urbano identificável ou genérico, uma cidade qualquer. No filme de não-ficção os lugares representados coincidem com lugares reais. Quase sempre, porque mesmo nesta categoria de filmes que invoca uma relação factual com a realidade há exceções. Vejam-se os casos das reconstituições em filmes de documentário e de reportagem ou o clássico O Homem da Câmara de Filmar de Dziga Vertov (1929), alegadamente sobre Moscovo, mas que, segundo consta, faz uso de imagens de outras cidades. Facto pouco relevante, mesmo considerando que se trata de um documentário, uma vez que o seu objetivo é a representação da cidade moderna e não de uma cidade específica. O espaço urbano nos filmes, cenário ou cidade real, pode ser circunstancial ou significativo (2). Neste último caso tende a ser personagem ou protagonista. Há intrigas que não poderiam ter sido filmadas noutras cidades sejam a de Casablanca de Michael Curtiz (1942) rodada em estúdio ou a de Manhattan de Woody Allen (1979) rodada fora de estúdios (on location), em Nova Iorque. Há filmes que independentemente do grau de protagonismo das cidades representadas necessitam de situar o espaço da ação numa cidade concreta, conhecida, umas vezes para credibilizar a história, outras para financiar as produções. As governâncias das cidades entenderam esta situação e concorrem entre si para captar o interesse de realizadores e atores de magnitude estelar. O que se filma numa cidade raramente é a cidade toda. Poucos são os filmes que o conseguem e quando tal acontece é sempre potenciado por um aspeto ou um tema: a cidade revela-se nas ruas de Marselha e Paris em O Acossado de Jean-Luc Godard (história de François Truffaut; 1959) e nos edifícios e ambições modernistas do arquiteto Howard Roark (Gary Cooper) em The Fontainhead de King Vidor (1949). O tema da representação da cidade remete-nos para a dicotomia entre o urbano e o rural. Trate-se da cidade ou do campo, há subjacente um olhar urbano no ato de filmar, sejam os estereótipos campestres em Uma Comédia Sexual numa Noite de Verão de Woody Allen (1982), sejam os registos experimentais de Landscape (for Manon) de Peter Hutton (1986-87). O filme e o cinema são produtos urbanos. Nas últimas décadas do século passado assistimos a uma deslocação de um cinema de centros (urbanos) e de um cinema de periferias (rurais) para um cinema de 37 margens, entre o campo e a cidade, que tanto pode ser o dos espaços suburbanos como em O Ódio de Mathieu Kassovitz (1995) ou o de espaços limite em The Truman Show de Peter Weir (1998). Estas imagens têm uma tradição, inserem-se em dois arquétipos de representação da cidade nos filmes: a utopia e a distopia. Uma tradição cuja genealogia se estende de filmes de ficção e de documentário das décadas de entre guerras, tais como as distopias de L’Inhumaine de Marcel L’Herbier (1924) e de Metrópolis de Fritz Lang (1927), até às celebrações de utopias concretizadas em Manhatta de Charles Sheeler e Paul Strand (1921) e Berlim, Sinfonia de uma Grande Cidade de Walter Ruttmann (1927). Tradição que na ficção se perpetuou nas décadas posteriores na cidade do film noir, um local de perigo e perdição, e na cidade de filmes dos anos 60 e 70, um local de anomia e isolamento. As representações negativas da cidade não têm tido no documentário a persistência que encontramos na ficção. Podemos falar, principalmente quanto ao documentário de autor, de variações em torno de uma temática que cruza distopia e utopia, como nos é mostrado nas visões críticas de transformações urbanas em Berlin, Babylon de Hubertus Siegert (2001) ou em En Construcción de José Luis Guerín (2001). Filmes de espaços limite e nos limites da ficção e da nãoficção como é o caso do cinema de Pedro Costa, filmes onde a afirmação de Jean-Luc Godard (1985) adquire toda a sua pertinência: “todos os grandes filmes de ficção tendem para o documentário, tal como todos os grandes documentários tendem para a ficção” (3). Podemos encontrar em qualquer filme uma dimensão documental e uma dimensão ficcional, basta rever Lisboa em Verdes Anos de Paulo Rocha (1963) ou em Belarmino de Fernando Lopes (1964). 2. Embora o Porto tenha sido a primeira cidade do nosso país a ser filmada (Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, Aurélio da Paz dos Reis, 1896), Lisboa é seguramente a cidade portuguesa mais vista em filmes. Curiosa semelhança entre as capitais e as segundas maiores áreas urbanas de Portugal e França. Paris é a cidade mais representada da pátria do cinema, mas os primeiros filmes foram feitos em Lyon, películas documentais, tal como as do Porto (4). A matriz do cinema e dos filmes é urbana e documental. Os primeiros registos são factuais e quase sempre de aspetos do quotidiano de cidades. Só alguns anos mais tarde é que surgem as primeiras ficções em filme e só nas décadas de 20 e 30 é que a montagem das tomadas de planos se desenvolve no sentido de uma linguagem cinematográfica consolidada. Uma evolução válida para qualquer filme, de fação ou de ficção. A questão da prevalência das formas de ficção nos filmes é de outra natureza e confundida muitas vezes com a questão da forma narrativa. Como esclarece Edward Braningan (1992) (5), ficção e narrativa são coisas diferentes, uma refere-se à construção de um mundo, a outra a uma forma – cronológica – de organização de acontecimentos e informações. Mais do que a suposta dominância da ficção nos filmes o que efetivamente sobressai é a hegemonia da narrativa na ficção e na fação. Filmes sobre Lisboa ou em Lisboa são inúmeros, mais pelo peso dos de não-ficção do que dos de ficção. O inventário destes filmes é, no entanto, de difícil concretização e o mesmo se passa relativamente a outras cidades e regiões. Manuel Costa e Silva (1994) é o autor de uma primeira relação de filmes de ficção e de documentário que têm por lugar (ou espaço) Lisboa (6), num livro de que é organizador e que reúne um conjunto de textos importante sobre aquela cidade. O “Prontuário do Cinema Português, 1896-1989” de José de Matos Cruz (1989, Cinemateca Portuguesa), é igualmente uma fonte preciosa para os filmes em película do período referenciado. Outra via para uma inventariação são as pesquisas nos arquivos. Existem vários, mas o ANIM (Arquivo Nacional das Imagens em Movimento) e o arquivo de imagens da RTP são os principais, elevando substancialmente a quantidade de filmes e a entropia associada a um tal empreendimento (7). Não havendo um levantamento sistemático que relacione filmes e lugares, uma forma de prosseguir 38 estudos nesta linha tem sido a delimitação de corpora com base em arquivos, períodos ou géneros, entre outros critérios. Daqui têm resultado alguns trabalhos – poucos – a partir dos quais se pode ir traçando uma relação algo parcial e precária do conjunto de filmes que têm Lisboa ou outros locais por referência geográfica. Para quem não tem a ambição e os recursos necessários a uma pesquisa em primeira mão e pretenda apenas informação sobre o tema, tem à sua disposição alguns textos interessantes. Referindo-me apenas ao caso de Lisboa e para além dos textos reunidos por Manuel Costa e Silva, um pequeno artigo de José Augusto França (“Lisboa no cinema português, 1896-1990”, 1996) (8) ou mais recentemente o texto de Tiago Baptista (“Na minha cidade não acontece nada: Lisboa no cinema [anos vinte – cinema novo]” (9), onde se propõe a ideia de uma invisibilidade de Lisboa e da cidade nos filmes anteriores ao Cinema Novo. Mais difícil é aceder a informação sobre aspetos exteriores ao filme. Reportando-me apenas aos locais de exibição temos dois livros também recentes: “Os cinemas de Lisboa: um fenómeno urbano do século XX” de Margarida Acciaiuoli (2012, Bizâncio) e “Arquitetura de Cine Teatros: Evolução e Registo, 1927—1959” de Susana Peixoto da Silva (2010, Almedina). De uma maneira ou de outra, sendo a melhor o visionamento de filmes, pode chegar-se a um esboço temático das representações de Lisboa nos filmes. Porque é a cidade e o filme de documentário que presentemente mais nos interessam são de destacar, pela sua recorrência, alguns motivos, tais como os que se relacionam com a representação de uma cidade em particular, de elementos patrimoniais, de áreas de cidades, de tipos sociais e de aspetos da vida económica e cultural urbana. Nestas representações encontramos uma grande variedade de formas e pontos de vista. Desde os clichés turístico-culturais de encomendas do canal Arte que se veem em Lisbonne existe-t-elle? de Inês de Medeiros e Yves de Peretti (1998) até à expressividade de Sob Céus Estranhos de Daniel Blaufuks (2002) há uma distância apreciável no que diz respeito ao que se entende por filme de documentário e no que se refere à qualidade e profundidade de tratamentos. O património, a arquitetura, o urbanismo e modos de vida na cidade têm sido objeto quer de filmes individuais, quer de séries documentais para TV. A Praça de Luís Alves de Matos (2004) e As Operações SAAL de João Dias (2007) são bons exemplos do documentarismo português, sobressaindo numa filmografia algo parca em temas que documentam situações de intervenção na cidade. Situações críticas do ponto de vista sociogeográfico também têm sido alvo da atenção de realizadores portugueses, nomeadamente através de incursões nos subúrbios da cidade e do enfoque em comunidades de emigrantes e grupos marginalizados. Tratam-se quase sempre de representações negativas da cidade, mas onde podem ser encontradas visões positivas como, p. ex., em Ilha Cova da Moura de Rui Simões (2010). Filmes que penetram nas “entranhas de Lisboa”, mais ou menos relacionados com a temática anterior, sobre os sem-abrigo, a vida da população idosa e outros grupos urbanos excluídos, têm contribuído para a promoção do documentário português e para a visibilidade daquelas situações. É o caso de Lisboa Domiciliária de Marta Cruz (2009). Apesar dos exemplos dados se reportarem a Lisboa, trata-se de problemas comuns a qualquer outra grande cidade. Embora a maior parte dos filmes que tenho vindo a referir se destaquem pela sua originalidade, a paisagem do documentário português tem apresentado uma tendência de padronização (10) de temas e formas (salvo raras exceções, que quando acontecem se destacam em simultâneo pelo tema e pela forma). A começar na fixação em torno de um canon que tem uma ideia – ou ideologia – de documentário como peça central. O documentário canónico é cinema e é arte porque é uma ficção, por ter um ponto de vista ou um olhar. Separam-se assim dois campos numa espécie de atualização 39 das divisões entre alta e baixa cultura: o cinema – que só pode ser ficção – e os outros filmes que não sendo ficção não são cinema. Para aquela tendência contribuíram em muito a burocratização dos financiamentos, sobretudo por via dos programas e fundos comunitários e da procura dos canais públicos e temáticos de TV, bem como os rituais de apuramento e seleção associados (o pitching…). O resultado tem sido uma formatação orientada por uma espécie de cartilha do bom filme de documentário que se resume na fórmula: um tema com impacto, uma ou mais – poucas – personagens a seguir e a entrevistar, uma história preferencialmente sem grandes derivas, filmar rapidamente e em vídeo e com uma pequena equipa. O resultado tem sido um documentarismo de entrevista onde se confundem o filme de documentário e o filme de reportagem. É neste contexto que podemos ver catalogados como documentários e postos a par filmes tão díspares – a todos os níveis – como são Swagatam de Catarina Alves Costa (1998) sobre uma comunidade hindu em Lisboa e A Lisboa de Fernando Pessoa de José Fonseca e Costa (2009), um filme desinteressante e indigente que o roteiro escrito por Pessoa não merecia (11). Amiúde não me é inteligível o tom celebrativo com que determinados filmes são lançados e recebidos, nomeadamente em festivais e encontros afins, e o degredo a que outros são votados. P. ex., quais as diferenças substanciais entre Portugal, um Retrato Social de António Barreto e Joana Pontes (2007), e Portugal, um Retrato Ambiental de Luísa Schmidt e Francisco Manso (2004), duas séries documentais coproduzidas pela RTP e com receções acentuadamente díspares? A adjetivá-los teria maior cabimento o termo “filme de reportagem” do que o de “filme de documentário”. Outro exemplo, o que distingue o aclamado filme de documentário Lisboa no Cinema de Manuel Mozos (Produção de Joaquim Sapinho, 1994) de alguns filmes de reportagem de Manuel Graça Dias e Edgar Feldman produzidos no âmbito do magazine televisivo Ver Artes (exibidos na RTP entre 1993 e 1996 e reexibidos mais recentemente no canal Memória). Recomendo a este propósito a reportagem Um Dia na Feira (1996), sobre a Feira Popular de Lisboa, último filme de uma série de 83, mas outros poderiam ser tomados para comparação. Tudo isto é possível porque os critérios deixaram de ter por base o filme ou a relação autor-filme passando a contar, sobretudo, a fidelidade dos autores a grupos que detêm poder sobre os dispositivos de produção e de receção. Como tenho vindo a referir, há exceções e as mais interessantes situam-se no lado oposto ao daqueles grupos, demonstrando que a independência criativa comporta custos como as barreiras no acesso a financiamentos, equipamentos e circuitos de exibição, mas comporta igualmente os ganhos da originalidade e da transformação do status quo. Mudanças no panorama do filme de documentário são percetíveis. Desde já temáticas, sendo a que neste momento mais nos interessa destacar a de um movimento para fora das grandes áreas urbanas. São exemplos os filmes É Na Terra Não é Na Lua de Gonçalo Tocha (2011), Há Tourada na Aldeia de Sena Nunes (2010), As Horas do Douro de Joana Pontes e António Barreto (2009), Ainda há Pastores de Jorge Pelicano (2006) ou Mais Pequeno que o Indiana de Daniel Blaufuks (2006). Será que podemos esperar, depois da visibilidade da cidade inaugurada pelo Cinema Novo, um retorno ao campo e ao rural? E qual o significado desta viragem? 40 Notas: 1) How to read a film, Oxford e Nova Iorque: Oxford University Press (3ª ed.). 2) Para retomar uma distinção feita por Luísa Schmidt a propósito das representações do ambiente na TV (2003, Ambiente no Ecrã. Emissões e Demissões no Serviço Público Televisivo, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais). 3) Jean-Luc Godard par Jean-Luc Godard. Paris: Éditions de l’Étoile. 4) Carácter documental sublinhado no Instituto e Museu Lumière, em Lyon na Rue residência e fábrica da família Lumière. du Premier Film, no local da antiga 5) Narrative comprehension and film. Londres e Nova Iorque: Routledge. 6) Lisboa a 24 imagens. Lisboa: Caminho. 7) Videoteca Municipal, videoteca da APORDOC e videoteca do centro cultural da Malaposta são outros arquivos a visitar. De referir ainda o extenso levantamento de documentários efetuado pelo programador do Panorama deste ano, João Rapazote (2007, Territórios contemporâneos do documentário: o cinema documental em Portugal de 1996 à Atualidade. Dissertação de Mestrado de Antropologia. Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas). 8) Revista de Comunicação e Linguagens, 23, pp. 181-188. 9) Ler História, 48, 2005, 167-184. 10) Ou “Convergência temática” como prefere Ana Soares (2010, “Nem velho nem novo: outro documentário. Abordagem das tendências do documentarismo português no início do século XXI”, in Mendes, João Maria (org.), Novas & velhas tendências no cinema português contemporâneo, Lisboa: CIAC). A autora disponibiliza no artigo um anexo com o levantamento de filmes de documentário. 11) 2008 (1925), Lisbon. What the tourist should see, Exeter: Shearsman Books. 41 Para um Álbum de Lisboa Abandonados 35 mm, 1966, 14’ MiniDV, 8’, 2013, Portugal Realização: Faria de Almeida Produção: Faria de Almeida Argumento: Faria de Almeida Fotografia: Elso Roque Montagem: Faria de Almeida Assistente Produção: Luís Manuel Teixeira Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem),Valentim de Carvalho (Som) Realização: Júlio Pereira Guião: Júlio Pereira Imagem: Júlio Pereira Montagem: Júlio Pereira Som: Júlio Pereira Produção: Júlio Pereira Sinopse Em cidades cosmopolitas, onde o tempo é distorcido a cada momento, o que é velho é abandonado, nem notamos que lá está. Sinopse Lisboa dos anos 1960, a cidade vista de um modo irónico, em alguns dos aspetos mais significativos e pitorescos da sua existência quotidiana. O flagelo do trânsito, as obras nas ruas, o saudosismo dos “bons tempos”. Os namorados que se refugiam nos jardins, os mirones, os que aos domingos vão à praia. Complexidade da moderna vida urbana. 42 Santa Maria dos Olivais Sem Anos Betacam Digital, 7’, 2012, Portugal Betacam Digital, 30’, 2012, Portugal Realização: Susanne Malorny Guião: Susanne Malorny Imagem: Susanne Malorny Montagem: Susanne Malorny Produção: Susanne Malorny Realização: Lino de Oliveira; Marta Tavares Guião: Lino de Oliveira; Marta Tavares Imagem: Rafael Matos; António Matias Montagem: André Santos Música: Bruno Mendes; João Corvacho; Guilherme Gonçalves Produção: Margarida Borges; João Costa; ETIC Sinopse Sinopse A Freguesia de Santa Maria dos Olivais vive de contrastes. A segunda maior freguesia de Lisboa liga a cidade com os subúrbios, o aeroporto com o rio, construção e ruína, abundância e privação, acumulação com isolamento, vastidão e pormenor. Este filme é o retrato de um momento, do pulso do presente num bairro que de alguma forma é absolutamente único - mas ao mesmo tempo substituível por qualquer outro. Uma pequena homenagem aos cineastas vanguardistas dos anos 1920. Um documentário que mostra diferentes facetas do bairro da Bica, em Lisboa. Este filme leva-nos a ver com outros olhos o bairro, desde o nascer do dia até ao anoitecer. 43 As Coisas dos Outros Alfama, Bairro Típico de Lisboa Betacam SP, 16’, 2012, Portugal 35 mm, 1970, 10’ Realização: António Ruano Produção: Miguel Spiguel Fotografia: Abel Escoto Realização: Alexandra Côrte-Real Guião: Flávio Gonçalves Imagem: Leonor Teles Montagem: Pedro Cabeleira Som: Rita Pereira Produção: Mariana Guarda; ESTC - Escola Superior de Teatro e Cinema Sinopse Manhã, tarde e noite num dos bairros típicos de Lisboa, que conserva, na atualidade, uma forma de vida várias vezes secular. Era assim a vida em Alfama nos inícios dos anos 1970. Sinopse Na Feira da Ladra (Lisboa), uma jovem rapariga, Alexandra, procura saber por que motivo os vendedores se despojam dos seus objetos pessoais e o passado que eles encerram, e, como resultado da compra desses objetos, ela própria se tornará outra pessoa, que transporta todas aquelas histórias. 44 225, Rua da Rosa Domingo à Tarde HDV, 9’, 2012, Portugal Betacam Digital, 65’, 2012, Portugal Realização: José Ricardo Lopes Guião: José Ricardo Lopes Imagem: José Ricardo Lopes Montagem: José Ricardo Lopes Som: José Ricardo Lopes Produção: José Ricardo Lopes Realização: Cristina Ferreira Gomes Guião: Cristina Ferreira Gomes Imagem: Inês Carvalho Montagem: Tiago Costa Som: Vítor Ribeiro Produção: Mares do Sul Produções, Lda. Sinopse Sinopse Três anos duraram aquela relação. Ele cuidava dela e estimava-a. Ela era o seu porto de abrigo e protegia-o. 225, Rua da Rosa é um docudrama autobiográfico inspirado na teoria do eterno retorno de Friedrich Nietzsche, que mostra a verídica história de amor entre um rapaz e a sua casa. Um grupo de jovens paquistaneses reúne-se, todos os domingos à tarde, para jogar críquete num dos lugares mais emblemáticos de Lisboa: a Alameda D. Afonso Henriques. Quem são estes rapazes que mal falam português? Como vivem e o que fazem no seu dia-a-dia? Como olham e pensam Portugal, a Europa, tão diferentes do seu país de origem? Domingo à Tarde segue o dia-a-dia destes imigrantes, espreita os seus mundos, o que pensam do país em que vivem e do lugar que deixaram. A partir da vivência dos jogos, vamos descobrir estes jovens que convivem nos espaços públicos da cidade, mas fazem parte de um tecido social quase desconhecido. 45 Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura Num ano em que não houve apoios estatais ao cinema nacional, o programa de Cinema e Audiovisual da Capital Europeia da Cultura de 2012 apostou no fomento e na produção cinematográfica, convidando autores nacionais e internacionais a produzirem em Guimarães novas produções em torno da questão: Como vivemos a memória da nossa própria história? O olhar incisivo e contemporâneo que estes autores dedicam à cultura e à realidade portuguesas e, em particular, ao património simbólico de Guimarães, desde as suas memórias históricas até às recentes transformações da cidade, justifica plenamente a apresentação, este ano, de duas sessões no PANORAMA dedicadas e estes filmes, assim incrementando a sua visibilidade. Com a prestimosa colaboração dos responsáveis desse programa de Guimarães-Capital Europeia da Cultura, foi possível escolhermos três filmes de três realizadores experimentados nas lides cinematográficas. Rui Simões (Em Honra de São Gualter) e Regina Guimarães (A Menina dos Olhos) debruçam-se sobre duas das mais importantes festividades religiosas da cidade de Guimarães, respetivamente dedicadas a São Gualter e a Santa Luzia. O primeiro revelando a preparação e o impacto da festa, mas também a sua efemeridade dionisíaca, num final em que se apagam todos os seus vestígios. A segunda trabalhando o tema, artefactos e pessoas, doçarias e amores, por associação e montagem. Já Margarida Gil (O Fantasma do Novais), não renega a sua filiação à ficção, e num constante cruzamento entre passado e presente, ficção e documentário, o seu filme atravessa diferentes cidades, épocas cruciais do século passado, refletindo a história do país e do mundo através das palavras daqueles que conheceram Joaquim Novais Teixeira, vimaranense desaparecido em Paris em 1972. João G. Rapazote Equipa de Programação Em Honra de São Gualter A Menina dos Olhos HDV, 30’, 2012, Portugal HDV, 31’, 2012, Portugal Realização: Rui Simões Guião: Rui Simões Montagem: Francisco Costa Som: Paulo Abelho; Paulo Cerveira; Rita Palma Produção: Fundação Cidade de Guimarães Realização: Regina Guimarães Guião: Regina Guimarães; Saguenail Imagem: Regina Guimarães; Saguenail Montagem: Regina Guimarães; Saguenail Som: Rui Coelho Produtor Executivo: Regina Guimarães; Saguenail Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse Por volta de 1213 Frei Gualter é enviado por São Francisco de Assis para Guimarães, foi crescendo a devoção a este frade franciscano e em 1577 é fundada a irmandade de São Gualter. Desde 1906 que se festejam as Gualterianas, nova forma de festejos da cidade em honra ao seu patrono. Sinopse Olhar documental sobre as práticas da cultura popular na mais jubilatória das festas pagãs. 48 O Fantasma do Novais Betacam Digital, 90’, 2012 Realização: Margarida Gil Guião: Margarida Gil Imagem: Acácio de Almeida Montagem: João Braz Som: Olivier Blanc Produtor Executivo: Raquel Morte Produção: Fundação Cidade de Guimarães; Âmbar Filmes Sinopse Na Guimarães de hoje, Ana (Cleia Almeida) tenta desesperadamente acabar um trabalho de pesquisa sobre Joaquim Novais Teixeira, orgulhoso vimaranense desparecido em Paris em 1972. Faltam-lhe o tempo e as forças para editar as horas de entrevistas que recolheu sobre ele, e pede ajuda a Sofia (Maria Raquel Correia) e a Jacinto (Miguel Nunes), cujo maior empenho é dormir. Todos se acabam por emaranhar no véu do fantasma do Novais e de se deixar seduzir por esta figura incontornável, um homem do mundo, de excepcional carácter e inteligência, um sedutor, um homem de princípios, comprometido, independente e confiável. 49 Panorama doclisboa 2012 Sendo uma mostra anual do documentário português, que pretende revelar e refletir sobre o estado do género no nosso país, o PANORAMA está atento ao que se passa no DocLisboa e, com a parcimónia necessária, sempre foi incorporando na sua programação alguns dos documentários vistos e premiados nesse festival. Este ano, apesar das restrições orçamentais, foi finalmente possível criar um espaço próprio para os documentários portugueses mais relevantes do DocLisboa do ano transato, aqueles que aí passaram e estão a fazer o seu percurso nas salas e noutros eventos cinematográficos nacionais e internacionais, mas que também se inscreveram no PANORAMA. Com o espaço “Panorama DocLisboa”, simbiose perfeita das respetivas designações, vamos abrir mais uma janela de oportunidade para alguns desses filmes se darem a ver, como merecem, a outros públicos, razão a que não é alheia a escolha da sala onde vão ser exibidos – o Teatro do Bairro, em pleno Bairro Alto, cujos responsáveis acolheram e colaboraram generosamente na concretização da nossa proposta. O programa do “Panorama DocLisboa” inclui, assim, cinco filmes que se inscreveram no PANORAMA, que tiveram destaque no DocLisboa e nos pareceram imprescindíveis para ficarmos com um retrato mais fiel do que se passou em 2012 no âmbito do documentário em Portugal. São três sessões que passam em três dias seguidos ao fim da tarde, ao início da noite, no Teatro do Bairro. Na primeira sessão exibimos duas curtas: em Aux Bains de la Reine, Maya Kosa e Sérgio da Costa fazem um filme com um peculiar sentido de humor baseado num regresso às Caldas da Rainha e nas suas perplexidades em relação às idiossincrasias da cidade e de alguns dos habitantes que trabalham em afazeres que são a sua imagem de marca, dos decadentes banhos medicinais às cerâmicas burlescas; em Seems So Long Ago, Nancy, Tatiana Macedo parte para Londres e resolve dar-nos a ver aqueles que não se veem e estão lá, a tomar conta das obras de arte de um museu. Na segunda sessão Sobre Viver e O Sabor do Leite Creme são dois filmes de grande fôlego sobre o fim, sobre a espera, sobre viver, dois filmes em que a terra, a memória, os pequenos gestos se tornam maiores e belos no cinema e, por isso, fazem parte do retrato do documentário português do ano de 2012. Na última sessão, Amanhecer a Andar, Sílvia Firmino, realizadora já premiada anteriormente no DocLisboa, oferece-nos um registo fiel da vida quotidiana, com as suas pequenas agruras mas também com as suas pequenas felicidades, dos moçambicanos que vivem num edifício emblemático do colonialismo, na cidade da Beira. Um documentário que dá tempo ao espaço e dá espaço ao tempo. João G. Rapazote Equipa de Programação Aux bains de la reine Seems So Long Ago, Nancy HDV, 37’, 2012, Portugal/ Suiça HDV, 45’, 2012, Portugal/ Reino Unido Realização: Maya Kosa; Sérgio da Costa Guião: Elsa Ventura; Maya Kosa; Sérgio da Costa Imagem: Sérgio da Costa Montagem: Telmo Churro; Maya Kosa; Sérgio da Costa Som: Estefânio Luís; Adrien Kessler Produção: Pó Films Realização: Tatiana Macedo Guião: Tatiana Macedo Imagem: Tatiana Macedo Montagem: Sandro Aguilar Captação de som directo: Tatiana Macedo Montagem de Som: Sandro Aguilar Mistura de Som: Tiago Matos Produção: Tatiana Macedo; C.R.I.M. Produções Sinopse Sinopse Elsa regressa à terra de origem, Caldas da Rainha, em Portugal, para se encontrar com a mãe. Através desta pequena aventura, descobrimos a cidade e as misteriosas actividades dos seus habitantes, bem como elementos da história familiar de Elsa. Tece-se um retrato impressionista cruzado, confundemse os tempos, misturam-se os sonhos com a realidade. “Primeiro desenhamos um círculo, depois dá-se uma ruptura, um pequeno movimento, uma linha de fuga, estas coisas não acontecem numa sequência, estão constantemente a acontecer ao mesmo tempo, mas este paradoxo é “como desenhar um circulo em torno de algo e porquê?” Podemos brincar com estas linhas, claro que depois até que ponto é que elas se dissolvem? Para tentar ilustrá-lo posso tentar dissolver as paredes, é por isso que o som é tão importante, porque escapa, não respeita limites. Como trabalhar com subjectividades, como as reformular ou como repensar a subjectividade? Como é que repensamos o poder, de que forma se manifesta?” De que forma é o corpo um microcosmos da instituição? Filmado na Tate Britain e Tate Modern, Londres. 52 Sobre Viver O Sabor do Leite Creme Betacam Digital, 51’, 2012, Portugal Betacam Digital, 74’, 2012, Portugal Realização: Cláudia Alves Guião: Cláudia Alves Imagem: Cláudia Alves Montagem: Fernanda Pires Som: Rodrigo Carneiro Produção: Cláudia Alves Realização: Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres Guião: Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres Imagem: Hiroatsu Suzuki Montagem: Hiroatsu Suzuki; Rossana Torres Som: Rossana Torres Produção: Associação Entre Imagem Sinopse Sinopse Uma pequena aldeia chamada Regoufe, no norte de Portugal, está aparentemente condenada ao abandono dentro de poucas décadas. No cimo da montanha dois pastores conversam calmamente enquanto o rebanho pasta. Os poucos habitantes do lugar seguem com normalidade as rotinas da aldeia até que sucede algo inesperado que ameaça a comunidade Escuta-se um canto de resistência. Três mulheres dançam entre ruínas. Um homem cego reflecte sobre o futuro da aldeia. Sobre Viver não é uma viagem pelos caminhos difíceis da desertificação. É um encontro com o lugar e a vida, através momentos de desgraça e encanto. Duas irmãs de 96 e 98 anos vivem numa velha casa no centro de Portugal, em frente da escola onde em tempos ensinaram. Os seus cuidados repartem-se entre a casa e o quintal. O seu quotidiano, sereno e sem pressas, é cheio de pequenos trabalhos e de memórias. Tal como os tapetes que são bordados sem modelo nem desenho prévio, as duas irmãs não fazem planos para o futuro: ele apenas acontece dia após dia. Enquanto o quintal acusa o fluir do tempo, a casa parece viver com o tremular da luz e da respiração. A doença chega sem precisar de outro aviso além da própria idade. 53 Amanhecer a Andar Betacam Digital, 97’, 2012, Portugal Realização: Sílvia Firmino Guião: Sílvia Firmino Imagem: Sílvia Firmino Montagem: Hugo Santiago Som: Olivier Blanc Produção: C.R.I.M. Produções Sinopse Um velho homem guarda uma escola ao amanhecer. Vozes de crianças ao longe cantam o hino de Moçambique. Pela mão deste homem, Augusto, chegamos a um espaço amplo e misterioso, que os protagonistas do filme revelarão aos poucos: Elvita, Carlos e Salim. Três vidas em movimento que olham para o futuro sem perder a tranquila condição do presente. 54 Percursos no Documentário Português: “Documentário no Cinema Novo” Decididamente, o ano de 2012 não foi de boa memória para todos nós, que vimos, preocupados, os sistemas político e económico a degradarem-se a grande velocidade, afetando todas as áreas, sociais e culturais. O cinema, em particular, não pôde contar com o normal apoio financeiro anual dado pelo Estado através do Instituo a ele dedicado. Foi um “ano zero” que vai deixar marcas, lembrando outro que aconteceu nos 1950. Além disso, fomos sabendo do desaparecimento de grandes vultos da nossa cinematografia, Fernando Lopes primeiro, em maio, Paulo Rocha depois, em dezembro, dois dos mais destacados realizadores que iniciaram atividade nos anos 1960 e foram protagonistas, mesmo fundadores, de um movimento de rutura na história do cinema em Portugal, aquele que deu origem ao designado Cinema Novo – ou Novo Cinema, como outros preferem chamá-lo. A organização do PANORAMA não pôde ficar alheia a estes acontecimentos e, por isso, impôs-se com toda a evidência a necessidade de sobre eles refletir. A dedicação da rubrica dos “Percursos no Documentário Português” – janela que temos vindo a abrir todos os anos à história do género – em jeito de homenagem a esses cineastas seria a resposta óbvia. Mas associando estes factos à crise generalizada que nos afeta, surgiu a ideia, talvez de laivos confessamente masoquistas, mas também da necessidade de perscrutar outro “espírito do tempo”, que já usufruímos, de alargarmos essa rubrica a toda uma época, ao período do Cinema Novo e aos anos de otimismo e desenvolvimentismo que então se viviam – a guerra colonial, a repressão e a censura eram o outro lado, pesado e escuro, do tempo. E foi assim, com a intenção de refletirmos sobre “O Documentário no Cinema Novo”, o tema escolhido para os Percursos desta 7ª edição do PANORAMA, que nos apresentámos ao nosso parceiro de sempre, a Cinemateca-Museu do Cinema, que de bom grado acolheu a iniciativa e nos abriu as portas do ANIM, preciosa caixa-forte das nossas imagens em movimento. As expetativas eram enormes, pois tínhamos à partida uma lista de cerca de 200 filmes para ver, fornecida por Manuel Mozos. Eram documentários curtos e longos; folclóricos, turísticos, industriais, de promoção ou mesmo propaganda; sobre o campo e a cidade, as ilhas e as possessões coloniais; abordando ofícios, artes, arquiteturas, acontecimentos sociais ou a vida de personalidades; enfim, de realizadores vindos de décadas anteriores, com obra feita, e de realizadores jovens, incluindo todos os incontornáveis do Cinema Novo. Havia, antes de mais, que estabelecer os limites cronológicos precisos para o Cinema Novo. Embora o exercício tenha sido facilitado pela abundante literatura existente sobre este movimento crucial da história do cinema português, também tínhamos a noção de que o Cinema Novo não surgiu do nada, assim como, por outro lado, deixou rastos marcante na nossa cinematografia e até aos dias de hoje, pelo que era necessário estar atento quer às ruturas abruptas, quer às mudanças na continuidade. Na ficção, a genealogia do Cinema Novo pode remeter o seu início para Dom Roberto (Ernesto de Sousa, 1962), mais pela novidade do seu modelo de produção cooperativista do que pela inovação formal ou de linguagem, mas é consensual que o seu ato inaugural e de rutura se deu com Verdes Anos (Paulo Rocha, 1963). Já o seu final, tendo em conta o segundo fôlego permitido pela criação do Centro Português de Cinema, financiado pela Gulbenkian, prolonga-se até meados ou finais dos anos 1970. No documentário, por outro lado, podemos vislumbrar o seu início em O Pintor e a Cidade (1956) ou O Pão (1959), ambos de Manoel de Oliveira, mas é com As Pedras e o Tempo (Fernando Lopes, 1961) que tudo parece começar abruptamente. Assim, podemos afirmar que o período documental influenciado pelo Cinema Novo abrange aproximadamente uma década, que aqui balizámos com uma seleção de filmes realizados entre 1962 e 1973, uma vez que a partir de 1974, com a transformação revolucionária do documentário de urgência e na rua, de que Adeus até ao Meu Regresso (António-Pedro Vasconcelos) pode simbolizar a transição, instala-se de facto uma outra “episteme”. Sabemos que o Cinema Novo, como Paulo Cunha (investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra) nos esclarece com o texto publicado neste Caderno, trouxe uma mudança de paradigma ao cinema português, com os jovens cineastas a deixarem-se influenciar pelas vanguardas de então e pelo que tinham aprendido no seu percurso profissional – em Inglaterra (Manuel Faria de Almeida, João César Monteiro, Fernando Matos Silva), em França (Paulo Rocha, Manuel Costa e Silva, Alberto Seixas Santos, António-Pedro Vasconcelos) ou em Itália (José Fonseca e Costa), nos cineclubes e nas revistas de crítica (António de Macedo, António Reis, António Escudeiro), na televisão (Fernando Lopes, Alfredo Tropa), muitos deles acumulando quase todas estas experiências. Também sabemos que o Cinema Novo aposta numa linguagem cinematográfica moderna, num modo mais atento, mais livre e interrogativo, mais poético e cinematográfico de revelar a realidade portuguesa, como sabemos ainda que privilegia a mise-en-scène em detrimento do argumento, a atenção ao espaço (da cidade, da modernidade) e aos cenários, ou cria mesmo personagens e atmosferas imbuídas de um certo existencialismo. E, finalmente, sabemos que o documentário de índole mais clássico ou, maioritariamente, como filme industrial ou promocional (mas para exibição em cinema) foi importante para todos estes realizadores, pelo menos no início da sua carreira – e aqui temos de realçar a insistência de Fernando Lopes, que sempre regressou ao género, ou a dedicação de Manuel Costa e Silva, não só como documentarista assumido mas também como seu grande divulgador, nomeadamente pelo seu papel na criação dos Encontros Internacionais de Cinema Documental da Malaposta. Seria, portanto, expetável que tudo isto se refletisse nos documentários realizados neste período e por estes homens. Foi-o, e a nossa seleção de filmes e realizadores para este programa dos Percursos no Documentário Português pretende demonstrar isso mesmo. Escolhemos apenas duas longas-metragens, dois filmes incontornáveis que revolucionaram todos os pressupostos do documentário – do cinema – feito em Portugal e que abrem, respetivamente, o PANORAMA de 2013 no Cinema S. Jorge e a rubrica dos Percursos na Cinemateca: Belarmino (1964, 72’), de Fernando Lopes; Acto da Primavera (1962, 90’), de Manoel de Oliveira. Muito já foi dito e escrito sobre estes filmes, mas, para além da evidente homenagem a Fernando Lopes, precisamente um ano depois do seu desaparecimento (a 2 de Maio de 2012), que queremos frisar, temos a certeza que cada nova exibição é mais uma descoberta. Belarmino porque tudo se misturava, poesia, boxe, Lisboa à noite, vida, má vida, cinema, o Novo Cinema a chegar, e tudo acontecia intensamente; Acto da Primavera porque é unanimemente um filme seminal, um filme que parte da intenção declarada de fixar em imagens o espetáculo da representação popular da paixão de cristo numa aldeia transmontana, mas que resulta numa sobreposição de instâncias produtoras de sentido: a vida, o teatro e o cinema; o povo a representar e a câmara a encenar essa representação. As restantes vinte e quatro curtas-metragens selecionadas – duas das quais são mostradas em conjunto com filmes contemporâneos dedicados à cidade de Lisboa (ver secção deste Caderno): Para um Álbum de Lisboa (1966, 14’), de Faria de Almeida; Alfama, Bairro Típico de Lisboa (1970, 10’), de António Ruano e Miguel Spiguel – foram organizadas em sessões. A lógica de construção das sessões pretendeu evidenciar todo um programa de estruturação daquilo de que é feito e que de novo nos trouxe o Cinema Novo: – Na sessão “Máquinas Desejantes”, nome inspirado numa obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari publicada em 1972, juntámos uma série de filmes que se debruçam sobre a fábrica e o seu mecanicismo, sobre o surgimento de uma nova classe operária. Nestes filmes respira-se modernidade e otimismo e, através do fascínio ou do impulso inconscientemente erótico pelos mecanismos, vislumbra-se um premonitório desejo de ficcionar, e por isso apetece citar o início dessa obra: “Isto funciona por toda a parte: umas vezes sem parar, outras descontinuadamente. Isto respira, isto aquece, isto come. Isto caga, isto fode (…) O que há por toda a parte são mas é máquinas, e sem qualquer metáfora: máquinas de máquinas, com as suas ligações e conexões (…) Uma emite o fluxo que a outra corta (..,) É assim que todos somos bricoleurs.” 1 – Na sessão “Estética ou Política” sente-se a tensão deste binómio: como explorar a linguagem cinematográfica, criar sentidos e trazer a política, mesmo que latente, para um filme? A diversidade das respostas é dada por diferentes cineastas, seja através da escolha do objeto e da forma como é filmado, seja através da relação entre imagem e palavra, num tempo em que cada plano transbordava significados; – Na sessão “Censura e Colonialismo” reflete-se sobre as imagens em movimento vindas de África, um acervo impressionante onde a crítica ao colonialismo ou o flagelo da guerra colonial estão ausentes, substituídos por visões idílicas prenhes de modernidade. Nos dois filmes escolhidos é possível entrever um espírito crítico subliminar e o dilema dos cineastas entre mostrar e esconder; – Na sessão “Experimentar, Mise-encenar” os documentários podem ser “de encomenda”, filmes de promoção de empresas ou atividades em expansão, mas o que neles sobressai é a inquietação criadora, a capacidade dos cineastas lhes incutirem a linguagem cinematográfica que também veremos nas suas ficções, da experimentação formal à importância da mise-en-scène; – Na sessão “Novo Olhar sobre os Lugares” assiste-se a uma outra característica do Cinema Novo, a afirmação de vozes próprias dentro do conjunto de cineastas e do seu futuro por vir, momentos identitários dos seus cinemas. E como é já tradição, para encerrar o PANORAMA de 2013 apresentamos a última sessão dos Percursos, com a qual quisemos sublinhar que o Novo é também fazer diferente, é experimentar, é romper, escolhendo três novos cineastas que fizeram três novos filmes, retratos novos de três artistas – o pintor Almada Negreiros, o compositor Fernando Lopes Graça e a poeta Sophia de Mello Breyner – e com isso demonstrar como um “novo cinema” deixou a sua marca, como o papel da arte na sociedade nunca deixa de ser político. Também a encerrar, agora este capítulo do Caderno, damos a palavra a três realizadores (António de Macedo, António Escudeiro e José Fonseca e Costa), protagonistas com quem conversámos sobre os filmes aqui selecionados, sobre os contextos da época, da produção e outras histórias enriquecedoras para um possível retrato dos anos 1960 e do cinema que então se fez em Portugal. João G. Rapazote Equipa de Programação 1 “O Anti-Édipo, Capitalismo e Esquizofrenia”, Assírio e Alvim, pág. 7. Um Novo Documentário Português Paulo Cunha (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX / Universidade de Coimbra) Na história do cinema português, o documentário sempre foi tratado como um parente pobre. Mas apesar de uma aparente invisibilidade, a produção de filmes documentais sempre foi significativa no cinema português, tanto quantitativa como qualitativamente. Pela análise dos dados disponibilizados para o período de afirmação e reconhecimento do Novo cinema português, é claro que a regular produção de documentários foi determinante para a sobrevivência económica do frágil e precário sector de produção cinematográfica nacional e para um moroso processo de renovação estética e ética que promoveu uma mudança de paradigma no cinema português. Os jovens do Novo cinema souberam reconhecer e aproveitar alguns sinais de mudança que se vislumbravam no cinema português – regresso de Manoel Oliveira ao cinema com os documentários O Pintor e a Cidade (1956), Acto da Primavera (1963) e A Caça (1964); surto do documentário amador com os projetos Auto da Floripes (1963) ou de António Campos; a afirmação de uma nova crítica de cinema, apoiada no meio cineclubista e influenciada pelas conceções modernas do cinema – e também beneficiaram de um clima de transformação que se viveu na sociedade portuguesa a partir da década de 60. Nessa década, o despontar de uma nova geração cinéfila trouxe consigo uma evidente renovação do panorama cinematográfico nacional. As novas concepções estéticas e políticas, aliadas à dificuldade crescente em realizar longas-metragens, levam muitos dos jovens realizadores a apostar no cinema alternativo. Vários nomes da nova geração do cinema português – formados no estrangeiro com bolsas de estudo do Fundo de Cinema – encontravam no documentário o único meio para exercitar e tentar ascender ao cinema de fundo, revitalizando e dinamizando o género: Alfredo Tropa em Inundações, 1960; Fernando Lopes em As Pedras e o Tempo, 1961; António de Macedo em Verão Coincidente, 1962; António da Cunha Telles em Os Transportes, 1962; Manuel Faria de Almeida em Faça Segundo a Arte, 1965; José Fonseca e Costa em E Era o Mar, 1966; António-Pedro Vasconcelos em Tapeçaria, uma Tradição que Revive, 1967; Fernando Matos Silva em Por um Fio, 1968; João César Monteiro em Sophia de Mello Breyner Andresen, 1969; e Alberto Seixas Santos em A Arte e o Ofício do Ourives, 1968. Assim, excetuando Paulo Rocha, todos os cineastas do Novo cinema português iniciaram a sua atividade cinematográfica profissional pelo documentário, mas os que mais se destacaram seriam Fernando Lopes, Manuel Faria de Almeida e António de Macedo. Os dois primeiros partilham na sua formação uma passagem pela London School of Film Technique, uma escola de cinema britânica onde então leccionavam Tony Richardson, Karel Reisz e Lindsay Anderson, nomes máximos do free 60 cinema britânico. A atenção às realidades socioculturais dos mais desfavorecidos e desprotegidos e às atividades laborais mais humildes e duras eram características muito marcantes do free cinema britânico, seguindo uma tradição inglesa de dar visibilidade a um cinema do social-realismo que pode ser filiado na escola documental e nas unidades de produção de John Grierson. Mas a rejeição da didática e o reforço do carácter individual das suas propostas, assumindo a subjetividade e abstração do realizador como uma importante marca autoral, marca a diferença desta nova abordagem documental em relação à escola documental inglesa de Grierson. Tal como aconteceria depois em Portugal, o free cinema foi muito marcado pela agitação artística, social e cultural verificada na Inglaterra do pós-Segunda Guerra Mundial, contribuindo para uma renovação da produção cinematográfica documental. As Pedras e o Tempo (1961) e As Palavras e os Fios (1962) são as primeiras obras de Fernando Lopes após o seu regresso de Londres. Financiado pelo SNI – Secretariado Nacional de Informação, As Pedras e o Tempo é um documentário sobre a cidade de Évora de então, mas faz uma abordagem bastante singular do tema pedido. Ao nível da técnica cinematográfica, o filme também se distancia do modelo da época para este género de filmes. As Palavras e os Fios é também um documentário, mas um exemplar do que então se classificava como filme industrial, um género fílmico que elegia como tema a divulgação ao grande público do desenvolvimento industrial do país, apresentando importantes e interessantes inovações e experimentações ao nível da banda sonora e da fotografia. Em A Feira, filme sem a tradicional narração verbal, mas fazendo uso criativo do som ambiente e de um ritmo invulgar neste género de filmes (fox-trot), Faria de Almeida constrói uma curta cheia de referências e citações cinéfilas aos tempos do cinema mudo. Em A Embalagem de Vidro, o realizador volta a abdicar da habitual locução narrativa monocórdica para imprimir um ritmo visual e musical ao filme, fundindo o som de jazz improvisado de Manuel Jorge Veloso com sons industriais da fábrica de vidro onde se ambienta parcialmente o filme com uma estética influenciada pelo cinema de animação clássico, nomeadamente ao nível do trabalho com os efeitos de cor. Para um Álbum de Lisboa volta a recorrer aos aspectos visuais e musicais para construir uma narrativa dinâmica e criativa sobre a cidade de Lisboa em primeiro plano e, numa espécie de subtexto com referências cinéfilas do mudo em tom bastante irónico e sarcástico, tecer algumas considerações sobre o passado e o presente do cinema português. Formado em arquitetura, António de Macedo (1931-) é um dos poucos elementos do Novo cinema português que não frequentou escolas de formação no estrangeiro. Autodidata e cineclubista, Macedo começou pelo cinema amador e rapidamente chegou ao cinema profissional, tornando-se num dos mais profícuos realizadores da sua geração. Ao longo da década de 60, intercalando com a produção de longas-metragens, Macedo foi investindo tempo em diversas curtas-metragens, nomeadamente Verão Coincidente (1963) e Almada-Negreiros, Vivo, Hoje (1969). Encomenda da Sociedade Central de Cervejas, Verão Coincidente está longe de ser um convencional filme industrial tanto em voga na época. Adaptando um poema de Maria Teresa Horta, Macedo constrói um filme poético com uma linguagem visual muito marcada que alguns reconheceram logo na estreia. Almada-Negreiros, Vivo, Hoje é um documentário sobre José de Almada Negreiros que combina uma entrevista ao artista conduzida por António Macedo, Natália Correia e David Mourão-Ferreira, um inquérito de rua a estudantes e transeuntes lisboetas, imagens de obras emblemáticas do artista modernista e uma preparação de uma adaptação de um texto de Almada Negreiros (Deseja-Se Mulher) pelo próprio realizador. Também se trata de um documentário pouco convencional, que recorre a diversos métodos e referências cinéfilas, nomeadamente ao cinema-verdade de Jean Rouch: o filme de Macedo pretende provocar reações à obra e à personalidade de Almada Negreiros, a própria postura do artista abordado (que se situa propositadamente entre o estatuto do homem e da 61 personalidade), a exposição física do próprio Macedo acentua o seu olhar subjetivo sobre o artista e a sua obra (particularmente na adaptação do texto Deseja-Se Mulher). Em suma, nestes três realizadores, como na generalidade dos realizadores do Novo cinema, ressaltam algumas características comuns que contribuíram decisivamente para a renovação do cinema português em geral e do cinema documental em particular: afirmação de uma visão subjetiva e autoral sobre a realidade, conjugação de referências cinéfilas clássicas com uma vontade de inovação técnica e vanguarda estética e valorização do factor humano como elemento central do processo criativo. A produção dos filmes documentais, com equipas de filmagem e tempos de rodagem reduzidos, com orçamentos substancialmente limitados, sem preocupações comerciais (ao nível da distribuição e exibição) e com uma liberdade criativa apreciável tornaram este género de filmes – turístico, industrial, publicitário, institucional – um terreno privilegiado de aprendizagem, de treino e de experimentação na prática fílmica dos jovens cinéfilos aspirantes a realizadores. A dificuldade em filmar obras de fundo, vetadas pelos constrangimentos da censura e pela monopolização do Fundo Nacional do Cinema pelos cineastas próximos do regime, remeteram os jovens realizadores para os géneros cinematográficos de certa forma marginalizados. Sofrendo influências das principais escolas europeias, o género documentário possibilitava uma interessante vertente criativa, explorando sobretudo filmes marginalizados pelo mercado cinematográfico. A renovação do cinema documental nos anos 60 foi, também em Portugal, um momento de transição de paradigma estético, do documentarismo clássico para o cinema moderno, marcado pela exploração de novas estratégias narrativas, pelo desenvolvimento de uma montagem mais dinâmica e pela adopção de um tom mais abstrato e subjetivamente autoral. Os filmes foram-se complexificando e radicalizando, procurando novas formas visuais e verbais de construção e de múltiplas leituras. Na década de 70, depois do esforço de renovação da década anterior, assistiu-se a um momento de forte experimentação de formas e de tendências que conheceu uma maior expressão na produção de curtas-metragens. Algumas propostas criativas ou tecnológicas de maior risco foram experimentadas por diversos autores nas curtas antes de as aplicarem nas longas: João César Monteiro, Paulo Rocha e António Reis experimentaram novas formas narrativas e visuais em Sophia de Mello Breyner Andresen (1969), A Pousada das Chagas (1972) e Jaime (1974), respectivamente. Convidado pela Fundação Calouste Gulbenkian para fazer um documentário sobre a coleção de arte do Museu de Óbidos sem fins comerciais e, por isso mesmo, construído sem qualquer constrangimento do mercado ou do público, Paulo Rocha afasta-se radicalmente dos trabalhos anteriores e experimenta nesta curta um conceito de representação e de mise-en-scène que culminaria em A Ilha dos Amores (1982). Enfant terrible da crítica cinematográfica, João César Monteiro era presença assídua nas tertúlias culturais e cinéfilas que animavam a sociedade lisboeta desses anos e estrear-se-ia na realização com Sophia de Mello Breyner Andresen, uma produção de Ricardo Malheiro para uma série de documentários sobre figuras das artes e letras portuguesas. Desde o genérico (dito pelo próprio realizador), este documentário adopta uma atitude de experimentação: em vez de tentar uma clássica monografia sobre a sua obra, Monteiro acompanhou a poetisa numas férias em família no Algarve e filmou-a sempre em interação com os filhos da poetisa, com alguns dos seus textos, com as suas rotinas do quotidiano e também com a própria equipa de filmagem. 62 António Reis foi uma das maiores revelações da década: autodidata, poeta, cineclubista, membro ativo do movimento associativo portuense, cineasta amador e colaborador de Manoel de Oliveira (Acto da Primavera) e Paulo Rocha (Mudar de Vida). Jaime é uma curta-metragem de António Reis que, a partir de uns desenhos e de uns escritos, tenta revelar a personalidade de Jaime Fernandes (1900-1969), um anónimo doente psiquiátrico hospitalizado desde os 38 anos de idade. Depois de três décadas de internamento, Jaime Fernandes revelou-se, nos últimos três anos da sua vida, um prodigioso artista plástico e poeta. O realizador construiu o seu filme a partir dos desenhos e textos encontrados no asilo e através do contacto com a viúva e alguns conhecidos do artista. Estes três filmes são bons exemplares de uma nova fase do documentarismo português, muito influenciado pelo formalismo cinéfilo e crítico. A ténue fronteira entre ficção e documentário, a complexa relação entre a experiência de vida e a experiência artística, a reprodução da ambiguidade da realidade, a radicalização da subjetividade do autor e a sua transferência para o espetador são algumas das características de uma nova ética cinéfila que se radicaliza ao longo dos anos 60 e que, em Portugal, se materializa com uma segunda leva de cineasta que se evidenciaram na crítica. Nesta segunda fase, de acentuada independência em relação ao mercado, são visíveis influências de uma ética baziniana, nomeadamente a “impureza” do cinema na sua relação com as outras artes e a sacralização, mas também dos teóricos da Nouvelle Vague pós-Bazin, como a erotização da imagem e a artificialização do processo cinematográfico, num regresso à origem do cinema acentuado por uma excessiva teatralização da representação e de processos de montagem mais primitivos. A par desta nova geração, o persistente e determinado Manoel de Oliveira também deu um contributo inestimável com três obras documentais decisivas – O Pintor e a Cidade (1956), Acto da Primavera (1963) e A Caça (1964) – onde se questionam os limites da artificialidade, da representação e da dramatização do real, sempre em diálogo com outras formas de expressão artística, nomeadamente no tratamento do texto ou da fotografia. Em suma, este novo documentário português segue as tendências internacionais das novas vagas e torna-se mais ambíguo, abstrato, subjetivo e autorreflexivo. O documentarista deixa de ser um mero observador ou testemunha do que vê e ouve, e assume-se como um filtro criativo ou um mediador entre a realidade e o espectador, destacando e relativizando aspetos conforme a sua sensibilidade e interesse. Simbolicamente, os novos cineastas problematizaram também a ética do documentário, abandonando a pretensão de relatar “a” verdade absoluta da realidade e passando a optar pela construção de discursos pessoais sobre a realidade, reinterpretando o documentário e dando sentido à expressão “cinema de não-ficção”. 63 ANTÓNIO DE MACEDO Entrevista Realizada por Fernando Carrilho e João G. Rapazote Edição de texto João G. Rapazote António de Macedo (AM): Há 20 anos que não faço cinema. O Meu último filme de longametragem foi o Chá Forte com Limão (1993). João G. Rapazote (JR): E nunca se sentiu impelido a fazer mais nada, nem com as facilidades das novas tecnologias? AM: Não. O que aconteceu foi o seguinte – já contei isto em várias entrevistas. O documentarismo é diferente da ficção, tem outro tipo de apoios, sobretudo ao nível da publicidade às empresas, por exemplo. Nos anos 1960, os documentários eram pagos pelas empresas que queriam ver os seus produtos publicitados. Nessa época havia dois tipos de publicidade. A dita normal, assumida, que era feita para a televisão, mesmo se passava nos cinemas. Fiz muito disso, trabalhei para várias empresas, a CIESA, a TELECINE e outras. Mas também havia a “publicidade de prestígio”, uma publicidade encapotada que passava nos cinemas, no chamado “programa”. E o que era o programa? 64 Era a sessão de cinema completa, que se dividia em várias partes: uns clips publicitários de alguns segundos cada, como hoje também se fazem; as atualidades, que substituíam os telejornais (nos anos 1950 nem sequer havia televisão); um documentário de animais, geralmente da Disney; uns bonecos animados; e, quando cabia, passava um documentário sobre uma indústria, uma empresa ou umas belezas turísticas do país – só no fim é que se via o filme de ficção (a longa-metragem). Era esse filme de promoção que era a publicidade de prestígio, em que as empresas encomendavam (e pagavam) um documentário de 15, no máximo 20 minutos, que sabiam ir passar no cinema como parte desse dito programa. Mas era uma publicidade encapotada, que não podia ter aspeto de promoção descarada, pois isso colidia com os interesses das empresas concecionárias da publicidade no cinema, que passava perto dos intervalos. Eram esses documentários que nós fazíamos por encomenda. Por exemplo, uma fábrica de cabos elétricos encomendava um destes documentários e nós íamos filmar a atividade elétrica – eu fiz de outros produtos, automóveis, até tabaco. Mas nós servíamo-nos da fábrica, porque a publicidade só estava no final dos filmes, nos agradecimentos, qualquer coisa como: “Agradecemos à empresa tal pelas facilidades concedidas para podermos filmar isto ou aquilo”. E assim as empresas concessionárias da publicidade já não podiam impedir que estes documentários passassem no cinema, porque nós não estávamos a atraiçoá-los. Eram documentários normalíssimos sobre uma atividade industrial. Com o turismo era a mesma coisa, só que em vez das empresas eram as câmaras municipais a pagar. Também fiz imensos filmes desses. Um dos produtores com que trabalhei, o Francisco de Castro, tinha um executivo, de fato e gravata, que batia o país todo, as câmaras, as juntas de turismo de uma dada região, até conseguir obter financiamento para filmar as belezas naturais e arquitetónicas locais. Nestes casos também era normal associaremse restaurante, bares, sítios típicos, todos davam o seu contributo. E então no fim do filme lá aparecia, nos agradecimentos, o reconhecimento pela amabilidade dessas instituições em permitirem as filmagens nesses espaços. JR: E quem escolhia os realizadores? AM: Era o produtor, o Francisco de Castro, que tinha esse empregado, mas ele próprio também fazia os contactos porque conhecia muitos presidentes de câmara, conhecia muita gente do Regime. Mas só para concluir porque é que deixei de fazer cinema em 1993, deixem-me dizer que ao contrário destes filmes promocionais, que eram pagos por este tipo de entidades, o cinema de fundo, a longametragem, tinha de ser pago pelo Estado. Antes do 25 de abril o cinema também era financiado pelos distribuidores, entre os quais se destacava a Doper Filme, do Ribeiro Belga. Ora, quando eles viam que havia um projeto de filme que lhes interessava, geralmente com a Madalena Iglésias e António Calvário, que o povo adorava, não tinham problemas em abrir a bolsa, pois sabiam que eram filmes rentáveis… Eu cheguei a ver bichas no cinema Condes, uma sala enorme, durante 6 meses para ver um filme com a Amália Rodrigues. Aquilo esgotava sempre as sessões. Mas isso acabou nos finais dos anos 50 por esgotamento do modelo. Os espetadores começaram a deixar de ir ver o cinema português deste tipo e os distribuidores também passaram a evitar financiá-lo. Esse modelo de cinema só se começa a alterar nos princípios dos dos anos 60, com o Ernesto do Sousa e o Artur Duarte, que ainda não eram bem do Cinema Novo. Este surge com o regresso de Paris do António Cunha Teles e do Paulo Rocha, quando acabaram a formação que lá tinham ido fazer, ao mesmo tempo que também regressa de Londres o Fernando Lopes. Eu não andei em nenhuma dessas escolas, mas frequentava os cineclubes e a Cinemateca e já tinha escrito e editado um livro, a “Evolução Estética do Cinema”. Este livro saiu em dois volumes, um em 1959 e outro em 1960, e arruinou-me completamente, a mim e aos meus colegas Manuel Seabra e Carlos Gama, com quem fundei a editora que o publicou – ficámos 3 anos a pagar dívidas… O que me valeu foi ser funcionário da Câmara de Lisboa. 65 JR: O António era um autodidata, portanto. AM: Sim, não frequentei nenhum desses cursos. A minha formação visual baseava-se no que via nos Cineclubes e na Cinemateca, e também era livresca, pois lia tudo o que havia na Cinemateca. A cinemateca era no 2º andar do Palácio Foz e de tanto a frequentar tornei-me amigo do Félix Ribeiro. Fernando Carrilho (FC): De que forma é que o seu interesse pela estética do cinema influencia os seus primeiros filmes? AM: Totalmente. Eu era um teórico e ao mesmo tempo que ia fazendo filmes estudava filosofia. Conhecia os autores da época, sobretudo do existencialismo alemão, o Husserl, o Heidegger, ou a estética do Hegel. Estes filósofos interessavam mais do que os franceses. Eu era mais germanófilo, interessava-me pela mitologia nórdica e, no cinema, pelo expressionismo alemão – o Fritz Lang, o Pabst. Adorei Os Nibelungos (1924), o Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920), quando os vi na Cinemateca. O Félix Ribeiro conseguia trazer cá tudo isso, assim como conseguia convencer o Salazar a gastar dinheiro em livros para a biblioteca. Na altura, a Cinemateca já tinha mais de 3000 livros sobre cinema, americanos, franceses, alemães, até russos – eu não lia esses, claro. Mas li os livros do Eisenstein em inglês. Esta foi a minha formação enquanto cineasta. Claro que assim foi fácil entender a nova onda de cinema que começou a aparecer, a “nouvelle vague” em França, o “Free Cinema” em Inglaterra, o Cinema Novo no Brasil, etc. – que depois deram origem ao Maio de 68 – e que o Cunha Teles, o Paulo Rocha e o Fernando Lopes também queriam introduzir em Portugal. O Paulo Rocha fez os Verdes Anos (1963) com aquela leveza tipicamente francesa, o Fernando Lopes fez o Belarmino (1964) com aquele rigor britânico, e depois chego eu e faço o Domingo à Tarde (1966), que com toda a minha influência germânica é um filme expressionista, um cinema fantástico, um universo quase mítico, de terror – não foi por acaso que no Festival de Veneza a crítica alemã é que gostou mais do filme. O que é espantoso é que o nome de “Novo Cinema” português – que não foi inventado por nós, que o fazíamos – foi dado pela crítica porque julgou ver a mesma coisa nestes três filmes. Não conseguiram distinguir as respetivas influências dessas três escolas completamente diferentes. A única coisa que nos unia, para além de sermos contra o regime político, era sermos contra o cinema que se fazia até então. JR: Considera-se, então, um cineasta do Novo Cinema? AM: Sim, mas em termos temporais, não em termos concetuais. Porque depois cada um seguir o seu caminho. Eu continuei sempre na minha linha de cinema fantástico, de pesquisa para compreender o público, não para ceder, como diziam os críticos cheios de má vontade, mas para compreender a sensibilidade humana – o público não é estúpido como muitos julgam. JR: Mas voltando aos seus documentários, que eram financiados pelas empresas e outras entidades. Alguma vez se sentiu constrangido em termos criativos por causa desse financiamento? AM: Não, tinha toda a liberdade criativa. Aliás, há pouco falámos na minha formação livresca por um lado e cineclubista por outro, mas a minha terceira escola foi o documentarismo, que me permitiu fazer todas as experiências malucas que quis. JR: Isso nota-se logo no seu primeiro filme, o Verão Coincidente (1962). AM: Foi logo no primeiro. Quem o financiou foi o Manuel Vinhas, da fábrica de cervejas – da Sagres – e a única exigência dele era por uma personagem do filme a beber cerveja e, no fim, 66 o agradecimento, claro. E lá está um casal a beber cerveja. O resto do filme é a visualização de um poema da Maria Teresa Horta. E todos os outros documentários que fiz seguiam os mesmos princípios. JR: E todos passavam em cinemas. Quando o António fazia os filmes tinha perfeita consciência de que os estava a fazer para passarem no cinema e não na televisão? AM: Não tinha nada a ver com a televisão. FC: Como é que os clientes viam esses filmes e a sua experimentação estética? AM: A reação dos clientes variava muito, uns ficavam apenas surpreendidos, outros reagiam mal. Houve um que esteve quase a não querer pagar o filme, a Tabaqueira, foi com o Nicotiana (1963). A fábrica era espetacular e eu resolvi utilizá-la como um pretexto visual para criar efeitos de som, usando alguma música eletrónica e o jazz do Justiniano Canelhas, do Hot Clube. Quando filmei a fábrica usei projetores com várias gelatinas de cores – lilás, verde, vermelho – que acendiam e apagavam, levei uma grua que fazia movimentos de câmara fabulosos e que na altura não se usavam, tudo para não filmar aquilo de qualquer maneira. Também dividi o filme em três partes: uma sobre a história do tabaco em animação, feita nos estúdios do Perdigão Queiroga; a segunda parte é sobre a fábrica propriamente dita e não tem uma única palavra, ao contrário do que era usual – nada de explicações, só imagens ao ritmo da música eletrónica e do jazz; e depois a última parte é sobre a utilização do tabaco, as pessoas a fumarem em diferentes sítios, nos bares, nas ruas, acompanhadas por um jazz mais cool. JR: Mas no Verão Coincidente também já dava importância à música, assim como à montagem, que o Macedo sempre assumiu nos seus filmes. AM: Sim, claro, fiz sempre a montagem! E a música desse filme, aliás, foi feita por dois grandes nomes nacionais, o Álvaro Cassuto e o Joly Braga Santos. O ritmo da montagem e da música eram fundamentais. Mas para acabar a história da tabaqueira, lembro-me que quando fizemos a estreia do Nicotiana só para o cliente, o Mello – o dono, que também era proprietário da CUF – saiu quase no fim meio furioso e disse ao Francisco de Castro: “Então isto é que é cinema moderno!?” Soube isto quando, depois de a sessão acabar, fui ter com o Castro… Ele estava lívido e disse-me: “Estamos perdidos, o Mello não vai pagar a terceira prestação.”. Eu disse-lhe: “Oh Francisco, não se preocupe, há de correr tudo bem.” Epá, mas foi um sarilho! (risos) O Mello acabou por não exigir mudanças nem cortes, até porque não sabia onde haveria de cortar – só se fosse tudo (risos). Além disso, já tinha pago duas prestações. Mas este foi ao caso mais caricato da reação de um cliente, de resto nunca tive problemas. FC: Mas o público em geral recebia bem os seus documentários? A crítica parece que sim. AM: Sim, eram bem recebidos pelo público. As pessoas gostavam da novidade e eu tinha o cuidado de fazer filmes com ritmo. Sempre tive e preocupação de não deixar as pessoas adormecer num filme meu, que era o que acontecia nos outros filmes... Até de colegas meus do Cinema Novo, que tinham filmes bem feitos, bonitos, mas às tantas a história arrastava-se e as pessoas começavam a bocejar. Era aí que eu me queria distinguir dos meus colegas, eramos todos do Cinema Novo mas eu nunca quis pertencer a essa “escola do bocejo”. Para mim, os espetadores podem ou não gostar dos meus filmes, mas têm de estar acordados até ao fim. 67 FC: A montagem e a música eram instrumentos essenciais para esse efeito? AM: Assim como a própria história, os diálogos, a maneira como trabalhava o som. Era assim que também fazia os meus documentários. JR: Mas o Almada-Negreiros é diferente desses filmes de “publicidade de prestígio”, como disse que se chamava, certo? AM: O Almada foi uma encomenda do Estado. Não me lembro bem da história mas acho que queriam fazer uma homenagem ao Almada, aquela figura histórica extraordinária, era um homem apolítico que pairava sobre tudo… Só conhecendo-o como eu conheci! Como o Francisco de Castro se dava bem e conhecia muita gente do Regime, foi a ele que o SNI [Secretariado Nacional de Informação] perguntou se era capaz de fazer um filme sobre o Almada Negreiros. Como eu trabalhava todos os dias com o Francisco, ele lembrou-se logo de mim, perguntou-me se queria aceitar e eu até lhe disse que calhava bem porque admirava muito o artista. JR: Então só conheceu o Almada durante a rodagem do filme? AM: Pessoalmente, sim, mas depois foram quase dois anos de convívio. FC: E como é que idealizou a estrutura do filme? AM: – Isso surgiu depois. Primeiro foi o convite, a partir do qual pensei logo ter uma conversa com o artista, para ver se ele alinhava, pois eu queria filmá-lo. Marcámos uma entrevista no estúdio que o Almada tinha em Bicesse, perto de Sintra. Fomos lá e ele recebeu-nos muito bem. Entretanto, como eu também já conhecia a obra dele, as suas pesquisas sobre os números, o pitagorismo, comecei a falar com grande à vontade e ele ficou muito entusiasmado, começou a mostrar os quadros e os esboços que estava a fazer, os estudos sobre as proporções e os números, sobretudo o numero 8, que o estava a fascinar naquele momento. Enfim, foi uma tarde inteira de conversa empolgante e o Almada alinhou em tudo, que haveríamos de voltar para começar a gravar conversas, mesmo que depois não entrassem no filme, etc. Mas às tantas reparo que o Francisco de Castro estava a mudar de cor e a escorregar pelo sofá abaixo. Quando nos viemos embora perguntei-lhe o que se tinha passado e ele disse-me: “Epá, já não podia mais com números, aquele gajo mata-me! Nunca mais o quero ver!” (risos). E de facto, a partir daí fiquei sozinho a trabalhar com o Almada. Foi então que comecei a pensar na estrutura do filme, aquela com que ficou. JR: Foi quando pensou em entrevistar aqueles estudantes em frente à Universidade, junto dos painéis do Almada? AM: Essa ideia surgiu-me naturalmente. Estava ingenuamente convencido que os estudantes iriam falar inteligentemente sobre o Almada, até porque tinham ali os relevos feitos por ele na parede. Pensei: “Bem, vou fazer umas entrevistas brilhantes!” Mas quando começo a fazer as entrevistas e sai-me aquilo…Disse logo: “Espera lá, isto é genial! Vou aproveitar isto ao contrário” (risos). Mas pronto, o filme lá foi estruturado, terminando com aquele manifesto que o Almada faz aos portugueses: “Um povo para ser completo tem de estar na posse de todas as suas qualidades e de todos os seus defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades” (risos). E é assim que ele termina, como quem diz: “50% já está resolvido!” 68 JR: E não teve problemas com a censura? AM: Isso é outra história, não faz ideia do que aconteceu! Na altura o presidente era o Almirante Américo Tomás, uma figura inenarrável, completamente tonta, só dizia disparates – tanto assim que nem o deixavam falar em público sem lhe darem tudo escrito num papel. Infelizmente, o Presidente tinha o hábito de ir ao cinema com a mulher e a filha e, quando não gostavam de certas cenas, escreviam à censura a explicar o que estava mal. A censura, claro, tirava logo o filme de exibição para cortar as ditas cenas. Bom, eu sempre fiz filmes como se não houvesse censura – reparem que os meus filmes não têm os constrangimentos, digamos interiores, que se notam noutros – e depois logo se via. Era assim que trabalhava e os filmes ou passavam ou eram proibidos. Foi o mesmo com o Almada – “Depois logo se vê”, era a minha frase preferida –, com aquela cena dos bois a serem apunhalados, aquela sequência da ida à lua, as perguntas provocatórias e improvisadas ao Almada, que combinei com ele serem assim mesmo, as imagens do Mao Tsé Tung, enfim. Quando o Castro e a equipa viram o filme pronto disseram logo: “Epá, vamos ter grandes problemas com a censura!“. E o grande problema era que o filme estava programado para passar antes de outro filme do Castro, uma longa-metragem com o Américo Coimbra – era o tal “programa” de que já falámos – numa sessão de gala no Casino do Estoril. E quem ia a essa sessão? Nem mais nem menos que o Américo Tomás. Bem, tivemos uma reunião em que o Francisco disse: “Só há uma solução, vou falar com o diretor da censura e pedir-lhe que deixe o Macedo acompanhar o visionamento dos censores.” A comissão de censura estava dividida em grupos de 3 pessoas que viam os filmes numa sala do Palácio Foz e era completamente proibido alguém ligado ao filme assistir a um visionamento, mas o Francisco lá conseguiu que eu fosse assistir à projeção da censura. Além disso, atrasou de tal modo a entrega dos dois filmes que a sessão só foi possível no próprio dia da estreia de gala, tentando assim obrigar a censura a aprovar logo os filmes em simultâneo. O receio era que, mesmo assim, só aprovassem a longa-metragem, uma vez que o documentário era pólvora – naquele tempo, hoje é mais normal, mas naquele tempo era fogo… Eu até pus letreiros com frases do maio de 68! Por isso, a única esperança era eu poder tentar explicar aos censores o contexto das coisas. Bom, lá fui ao Palácio, entrei pela porta de trás, acompanhado pelo contino que me aconselhava o máximo de descrição, pois só por ter ordens superiores é que me deixava entrar. Levou-me à sala onde estavam os três censores, sentei-me ao lado deles, que me perguntaram logo sobre o que era filme, quanto tempo durava, que sabiam que tinha de estar no Casino dali a pouco para a sessão de gala, onde iam estar ministros diretores gerais, etc. Estávamos assim a conversar e entretanto o filme começa a ser projetado, precisamente quando eu digo que o filme é sobre o Almada Negreiros. Nesse momento, um deles, o mais opinante, diz: “O Almada? Mas eu conheço muito bem o Almada! É muito engraçado, uma vez fui almoçar…” E começou a falar com os outros, que aderiram logo à conversa. Resultado, os três começaram a falar sobre o Almada com grande entusiasmo e só de vez em quando é que olhavam para o filme (risos). Eu até estremecia de cada vez que eles olhavam para a tela (risos), mas a verdade é que a sessão foi toda assim e de repente, quando deram por isso, o filme tinha acabado. Então disseram: “Muito bem, que bela ideia fazer um filme sobre o Almada, está aprovadíssimo. O filme tem de ser visto por toda a gente e é classificado para 6 anos de idade” (risos). Assim que isto acabou fui a correr para o escritório do Francisco de Castro, onde estava a equipa toda à espera, a roer a unhas. Entro e digo logo: “Não vale a pena criar suspense, o filme foi aprovado! O quê? – perguntaram – com certeza para 18 anos? Não – disse eu – para 6 anos.” Todos ficaram espantados, mas houve um mais maldoso que disse logo: “Claro, tinha de ser, para poder ser visto pelo Américo Tomás” (risos). Esta é a história da censura do meu documentário sobre o Almada Negreiros, que, estranhamente, não passou pela censura, escorregou pela censura. Mas este foi um caso de exceção, os meus outros filmes não tiveram problemas com a censura porque eram coisas inócuas, eram coisas industrias ou turísticas, não tinham leitura política. 69 JR: Quando muito, o choque era mais pela estética… AM: Sim, a minha preocupação era sobretudo a pesquisa estética. FC: De que forma é que a experiência que teve com esses documentários de “publicidade de prestígios” influenciou o conjunto da sua obra? AM: Como ia fazendo sistematicamente ora documentários, ora longas-metragens, fui transportando de uns para os outros as experiências que fazia. Era um cinema evolutivo, no sentido em que aquilo que começava a experimentar num documentário era concluído numa ficção, e vice-versa. JR: Nunca encarou os documentários que fazia como um cinema menor, portanto? AM: Não, de forma alguma. A única coisa é que o documentário era, para mim, um “cinema alimentar” (risos), como eu dizia, pois permitia pagar as minhas despesas. Com a ficção era difícil ganhar dinheiro. Depois do 25 de abril as coisas mudaram e então hoje é completamente diferente. A publicidade de prestígio desapareceu completamente e a televisão começou a ter prevalência. Com o Francisco de Castro nunca mais trabalhei, até porque depois de abril ele fechou o escritório e foi para o Brasil, acho que pelo menos durante dois anos, e quando voltou já não tornou a ser produtor. Nunca mais fiz esse tipo de documentarismo, passei a fazer outro, para a televisão – quando trabalhava para a Cinequanon. Com a Cinequanon trabalhávamos sobretudo para a RTP, fazíamos programas semanais. Para fazer longas-metragens contávamos com o Instituto Português do Cinema (IPC), que tinha surgido em 1973. JR: Antes ainda houve o apoio da Fundação Gulbenkian, não foi? AM: Sim, por questões estatutárias, a Fundação não podia financiar o cinema, porque era uma indústria e não era considerado arte. Mas o Azeredo Perdigão, que era um excelente jurista, um génio da gestão, fez-nos criar uma cooperativa cultural (de cineastas) e passou a dar dinheiro à cooperativa. Foi com esse dinheiro e com mais algum que conseguimos juntar de apoios de laboratórios, estúdios de som, empresas e outros mecenatos, que pudemos fazer 15 ou 16 filmes nessa cooperativa, mais ou menos entre 1968 e 1974. FC: No desenrolar do seu percurso profissional, como é que conseguia conciliar a passagem de filmes mais relacionados com o real para filmes mais imbuídos do fantástico ou do imaginário? AM: Não tinha dificuldade nenhuma. Para mim eram campos de experiências, de inovação. Sempre tive essa preocupação. Ainda agora, nos debates da retrospetiva que a Cinemateca me dedicou, houve pessoas a mencionar que todos os meus filmes tinham sempre uma qualquer inovação. Fosse curta ou longa, estava sempre a pesquisar inovações em matéria de imagem ou de som. JR: Até li num artigo, acho que escrito por um dos programadores do Motel LX, que se referia ao António de Macedo como um cineasta punk… AM: Sim, também li isso e é verdade. Tenho não só a vontade de rebentar com as convenções, como tento sempre descobrir qualquer coisa de novo, que pode até não ser evidente para o espetador normal. Houve outro que me considerou o “maverick” do cinema português. O meu cinema, mesmo em relação ao Cinema Novo, é um cinema “ex-cêntrico”, como já dizia o Paulo Rocha. É pena que em Portugal, quando aparece alguém com uma coisa nova, em vez de isso servir para ser absorvido 70 pelos outros, não, tratam logo de a cilindrar, preferindo continuar a fazer do mesmo. A mim faz-me impressão fazer sempre a mesma coisa. JR: O António nunca pensou mesmo voltar a fazer cinema? Foi um corte radical? AM: Retomando, então, o começo da nossa conversa, porque é que não voltei a fazer cinema? É que a partir do momento em que deixou de ser possível fazer ficção sem os subsídios do Estado, dados pelo IPC e os seus sucedâneos, as coisas complicaram-se para mim. Para mim e para todos aqueles que querem inovar, como o Edgar Pêra. Ainda consegui alguns apoios do Estado nos anos 1980, mas foi-se tornando raro. Tudo porque decidiram criar júris para avaliar os projetos e estes passaram a selecionar os guiões de acordo com as modas culturais. A “escola do bocejo” impôsse, o cinema fantástico, esotérico, como aquele que faço, não entrava nos cânones do cinema dito sério, “intelectualóide” que os júris passaram a privilegiar. O último filme com que concorri foi chumbado três vezes consecutivas. Era baseado numa personagem histórica do século XIII, o Frei Gil de Santarém, que fez um pacto de sangue com o diabo, fazia curas milagrosas e tinha as mulheres que queria. Claro que passados vinte anos dessa vida o diabo apareceu para cobrar a dívida, a sua alminha, mas aí o fulano começou a chorar, agarrou-se à Nossa Senhora e ainda conseguiu que ela rasgasse o pacto em troca de ele se tornar dominicano. Esta história só em parte é verdadeira, mas é evidente que foi esta lenda que deu origem ao mito do Fausto, que só surgiu no século XVI. Toda a gente fala do Fausto, mas ninguém reconhece o Frei Gil de Santarém. Eu pensava que este seria um filme excelente para comemorar os 100 anos de cinema em Portugal – isto aconteceu por volta de 1996 –, mas parece que os sucessivos júris achavam tudo isto demasiado “desligado das realidades”. Fui obrigado a desistir. Dediquei-me a escrever. 71 António Escudeiro Entrevista Realizada por Fernando Carrilho e João G. Rapazote Edição de texto Sara Abrantes João G. Rapazote (JR): … O Francisco de Carto era demasiado próximo do regime? António Escudeiro (AE): Todos nós éramos próximos do regime. Estávamos a trabalhar, fazíamos documentários para Câmaras etc., num jornal de atualidades, por exemplo, havia imagens do Américo Tomás de quinze em quinze dias. Toda a gente fez documentários antes do 25 de Abril. JR: Mas o Castro foi o único que foi para o Brasil? AE: Sim. O Castro assustou-se um bocadinho com o facto de ter feito as Atualidades Portuguesas. Fernando Carrilho (FC): Queria que nos contasse como é que se viu envolvido na conceção de documentários nos anos 1960. Não dos jornais de atualidades, mas sim daqueles documentários que tinham, por vezes, um foro promocional, de publicidade, etc. Como é que iniciou o seu trabalho nos anos 60? 72 AE: Comecei a trabalhar por volta de 1963. Estive em Londres com uma bolsa da Gulbenkian, na London School of Film Technique, onde fui colega do Alberto Seixas Santos e do João César Monteiro. Fiz dois cursos, estive lá um ano e meio e depois vim. Nos anos 60 havia aquela geração que gostava de cinema, que ia ao Vává e ao Ribadouro – o Fernando Lopes é daquelas pessoas que eu não posso esquecer, é das pessoas a quem eu devo mais, sobretudo quando ele foi para a televisão. Mas foi logo no início, depois de ter feito alguma publicidade com o António-Pedro Vasconcelos ou com o José Fonseca e Costa, por exemplo – você há pouco disse que tinha estado com o António Macedo e eu lembro-me de ter feito com ele dois documentários, um deles era sobre a caça no baixo Alentejo e é uma referência – que comecei a perceber que era capaz e queria fazer documentários. E então o Francisco de Castro atribuiu-me vários. JR: Como realizador e não como diretor de fotografia? AE: Nos meus documentários dessa altura eu tinha as duas funções. Eu já era diretor de fotografia, pelo que fazia sentido sê-lo também nos meus filmes. JR: Então foi isso que estudou em Londres, Fotografia? AE: Havia um curso geral e depois havia as especialidades: o som, a imagem, a realização, o argumento etc. Escolhi a opção ligada a fotografia, eu já gostava de fotografia. Escolhi o curso de iluminação, projeção, luz/sombra e essas coisas. Portanto, quando vim para cá a seguir ao curso, comecei a fazer filmes de publicidade. Depois, a certa altura, decidi mudar. O Castro, que achava que eu tinha jeito, deu-me um documentário para fazer. Eu fiz e aquilo começou a correr bem. JR: Qual foi o seu primeiro documentário? AE: Foi um documentário feito na Covilhã. FC: Antes de falar da sua experiência como realizador, como é que era a relação do António Escudeiro com os outros realizadores enquanto diretor de fotografia e com o tema que iam abordar nos documentários? Discutiam o que iam fazer, que tipo de planos? Há algum filme que se lembre, mais marcante? AE: Lembro-me de um documentário que fiz com o Alberto Seixas Santos em Gondomar, sobre as filigranas… FC: Vamos exibi-lo neste Panorama, chama-se A Arte e o Ofício de Ourives (1968). AE: Sim. Lembro-me da preocupação dele com a fotografia, própria de uma pessoa que gosta de cinema e que eu não tinha sentido muito nos outros realizadores com quem fiz documentários. Aquilo, de facto, era uma coisa difícil de filmar e iluminar porque as filigranas eram pequeninas, tinha que ter uma objetiva especial para chegar aos grandes planos. O Alberto ponderava muito sobre o assunto e levava muito mais tempo a fazer um plano do que, por exemplo, o António-Pedro Vasconcelos ou o José Fonseca e Costa, que eram mais abertos. Com o Fonseca e Costa fazíamos mais publicidade do que documentário. Com o Macedo fiz Cenas de Caça no Baixo Alentejo (1973). Também foi interessante ver como o Alberto pensava na realização quase como se aquilo fosse um filme de fundo, com atores, e o Macedo era mais ligeiro. Foi importante aprender com tipos de olhares diferentes na realização. 73 FC: O António discutia muito com os realizadores? Fazia propostas de posição de câmara, de iluminação? Como é que era a sua experiência no documentário? Havia tempo para discutir? AE: O tempo era muito curto. Porque os orçamentos dos documentários eram relativamente baixos, variavam conforme o tema, o lugar e isso condicionava muito a filmagem. Se calhar vou ser um pouco “pretensioso”, mas os realizadores também sabiam que eu fazia parte da geração deles, tinha feito parte dos Cineclubes, o cinema para mim não era propriamente ser apenas um camara-man, também pensava um bocadinho na realização. Em determinadas circunstâncias, era capaz de fazer propostas e, muitas vezes, ser bem atendido pelo realizador – propostas em função do décor, de onde vinha a luz, dependendo da sombra no exterior, que objetivas usar e muito mais. Eu discutia isso com os realizadores. Eles sentiam que eu não era um simples técnico. JR: Enquanto realizador, o António só fez documentários, correto? Em ficção só trabalhou como técnico de fotografia? AE: Quando fazia filmes, escolhia o documentário. Porque a ficção era mais complicada, sobretudo porque havia realizadores de ficção que eram mais conhecidos e tinham os subsídios do “Fundo de Cinema”. O Macedo, o Fonseca. Só depois de trabalhar com o Castro é que pude pensar em fazer documentários, mas a ficção só depois do 25 de Abril. JR: Um dos seus filmes que vimos, gostámos muito e selecionámos para mostrar no Panorama foi o Portugal, 850 km de Praias (1973). Gostava que nos falasse um pouco desse projeto. AE: Foi um documentário que teve um custo um bocadinho acima do normal. Foi uma encomenda, deve ter sido alguém do Turismo de Portugal. Foi um documentário que eu gostei de fazer. Deu-me a hipótese de fazer várias filmagens de helicóptero, há nele uma série de planos aéreos. Ficavam bem. Naquela altura gostei do documentário e acho que resultou bem. Há um outro documentário que eu fiz sobre Lisboa, chama-se Lisboa, Jardim da Europa (1972), que teve uma produção relativamente grande. O filme, já depois de acabado, cresceu porque tanto o Castro como o Secretariado Nacional da Informação ficaram muito entusiasmados e, então, decidiram fazer uma cópia em ecrã grande, quase em cinema scope. A cópia foi feita em Madrid, onde se trabalhava mais barato e melhor do que aqui. Era o ideal quando se queria um maior número de cópias, com melhor qualidade e mais rapidamente, e o Castro era bastante orgulhoso do trabalho que fazia. JR: Voltando ao filme 850…, O António é que fez a montagem do filme? AE: Sempre. JR: Lembra-se daquela cena com uns pescadores que tem um jogo especial de montagem? AE: Sim, lembro, agora que está a falar nisso… Salvo erro, foi filmado em Portimão. Foi uma cena bem conseguida em termos de captação de imagem e depois na própria montagem. JR: Até dá ideia que a imagem está invertida, há ali um trabalho complexo de montagem. AE: Sim, sim, há. A sequência dos pescadores foi realmente uma sequência em que eu “caprichei” na montagem, no sentido de ser mais criativo. 74 JR: A intenção do filme é promocional, para passar no estrangeiro e tudo, e por isso fizeram 17 cópias, não foi? AE: Era para passar lá fora, mas também passava cá, nos cinemas, como documentário, tal como o Covilhã, Cidade da Serra e do Vale (1970) e o Lisboa… Houve um outro que também fiz sobre os 20 anos do Totobola, salvo erro, que deu-me a possibilidade de fazer coisas em Angola e Moçambique porque o Totobola financiava recintos desportivos nas ex-colónias. Eu tinha tomado a decisão que só voltaria a Angola depois de esta ser independente, mas surgiu esta hipótese… Não era um filme político, mas apetecia-me ir ver a minha terra. O Macedo não o quis, e eu fiz esse documentário. JR: Outro filme seu que vamos passar é o Angola Terra do Passado e do Futuro. AE: Esse documentário foi feito em 1972 e é um documentário muito específico porque foi uma encomenda do Manuel Vinhas ao Castro. O Manuel Vinhas era o diretor da cerveja Cuca em Angola e estava ligado aos movimentos de libertação, tal como eu. Era preciso ver como estava o estado da guerra e fez-se o documentário. O Secretário de Estado da Informação disse que não passava o filme. Quando lhe perguntei por quê, ele respondeu: “Porque aqui não se fala em Portugal, não se fala em províncias ultramarinas”. Tanto eu como o Castro não quisemos fazer alterações e o filme nunca foi exibido. A primeira vez que foi exibido foi há pouco tempo no festival “Festin”. Não tem o “presente”, questionavam, mas o presente era a guerra. Queriam que se falasse em “províncias ultramarinas” e isso eu não fiz. FC: Quando o António estava a trabalhar nesse documentário já tinha essa ideia em mente? AE: Sim, completamente. Se eu aceitei fazer um documentário sobre Angola, aceitei-o exatamente nessas condições. Eu nasci em Angola e tenho a “mania” que sou angolano e a história das províncias ultramarinas foi sempre uma confusão em termos ideológicos, políticos e sentimentais. Eu herdei isso do meu pai, ele também achava que Angola era Angola. Em termos de produção, tivemos setenta e três dias a filmar em Angola… É inimaginável, não é? Sem qualquer espécie de contenção monetária porque tínhamos helicópteros, aviões, carros, barcos, tudo e mais alguma coisa para fazermos imagens de toda a Angola. Aquilo foi um bom negócio para o Francisco de Castro, que era o produtor, para mim e para o meu assistente, que agora é realizador, o José Carlos de Oliveira, mas o documentário foi proibido. JR: Nunca foi exibido, mesmo depois do 25 de Abril? AE: Não, eu não autorizei. Nunca quis exibir… JR: Mas exibiu-o em Angola? AE: Em Angola, sim. Por volta de 1975. Eu estava já sem o Castro, estava a trabalhar por minha conta num projeto sobre o processo de descolonização. Tenho um documentário sobre a independência da Guiné, dois documentários sobre Angola e devia também ter um sobre Moçambique, mas o negativo desapareceu. JR: E como é que foi a reação em Angola? Porque o filme é muito subtil, não é uma coisa de propaganda evidente… 75 AE: Não, não. É subtil porque era o que era permitido. Mesmo assim foi proibido. Mas tive sempre o apoio do meu produtor. Foi por causa dessas coisas que o Castro se assustou um bocadinho e foi para o Brasil depois do 25 de abril. FC: O António quando vai para Angola para rodar o filme já tinha ideia do que é que queria filmar ou as coisas foram acontecendo quando chegou? AE: Há uma altura em que se vê o fabrico da cerveja porque o cliente era o diretor da cerveja Cuca. Isso era obrigatório. Mas são cinco ou seis minutos, o resto é Angola. Eu conhecia Angola suficientemente bem para saber onde é que queria filmar. Filmámos muito mais película, mas eu tinha muito a noção dos sítios onde queria ir. Queria ir ao norte, a Cabinda, para fazer aqueles planos do petróleo, queria ir ao centro, queria filmar um bocadinho de fauna e, em Luanda, havia uns elefantes que também estão no filme. JR: Mas não queria filmar no mesmo estilo dos filmes desse período sobre África, filmes muito propagandistas. Até há um filme do João Mendes, o realizador dos anos 1950, sobre Cabinda, precisamente. Percebe-se que esses filmes não tiveram problemas com a censura. AE: Não. Não era esse género de filme que eu queria fazer, nem o Manuel Vinhas queria. Aliás, o título do filme apareceu logo durante as conversações. Falámos no passado e falámos no futuro e deixámos o presente como se fosse uma elipse. O presente era aquilo que estávamos a filmar e aquilo que não podíamos filmar. Era um bocadinho metafórico. FC: Gostava que falasse da sua experiência no filme Almada-Negreiros, Vivo, Hoje (1969), do António de Macedo. Lembra-se? AE: Lembro sim. O Elso Roque fez a fotografia do filme, eu só filmei meia dúzia de planos. Há lá um plano de exterior que fui eu que filmei, o plano era muito grande, tinha uma escadaria, com um ar um bocado sumptuoso. Também fui a Bicesse, perto de Cascais. JR: A sua colaboração foi intermitente? AE: Sim, o Roque estava comprometido com outro projeto e o Macedo aceitava a minha prestação porque já tinha feito coisas comigo. Nessa altura tive a ideia de fazer um documentário sobre a extraordinária mulher do Almada, a artista plástica Sarah Afonso, mas nunca houve oportunidade. JR: Isso lembra-me uma outra questão. Havia mulheres a trabalhar no cinema nessa altura? Como realizadoras parece que não, mas nas equipas? A Noémia Delgado já só aparece já no fim desse período… AE: Eu não me recordo. Sim, a Noémia. Ainda nos anos 1960 o António Cunha Telles criou uma espécie de atualidades, o Cine-Almanaque, onde trabalharam vários realizadores a fazer pequenos documentários a preto e branco. A Noémia fez um comigo sobre os amoladores, uma coisa pequenina. Depois aquilo ao fim de quatro meses faliu, “à boa maneira António Cunha Telles”, que é uma pessoa que aprecio e de quem gosto muito – ele é tudo aquilo que dizem dele, mas se não fosse ele não tinha havido aquele desencadear do cinema português nos anos 1960. FC: António, olhando para o seu trabalho nos anos 1960, que importância tiveram no seu percurso aqueles filmes? O que é que retira dessa época? 76 AE: Retiro, sobretudo, a prática, a aprendizagem. Cada documentário era um desafio para mim, para realmente saber se eu era capaz de filmar, montar, sonorizar. Muitas vezes os textos também eram escritos por mim para não haver grandes compromissos de carácter político. O meu primeiro documentário na Covilhã, por exemplo, podia ser feito hoje, não havia compromissos nenhuns com nada nem ninguém, a não ser com a própria municipalidade da Covilhã que foi quem encomendou. Foi realmente tomar consciência que era capaz de fazer um documentário com cabeça, tronco e membros e isso foi importante depois do 25 de abril, quando também comecei a fazer ficção. Na altura em que o Fernando Lopes estava na televisão, fiz três ficções: uma sobre a Josefa de Óbidos [Para Josefa, 1991], outro sobre o Camilo Pessanha [Eu Vi a Luz em um Pais Perdido, 1993] e outro sobre um Inglês de uma família rica que esteve em Portugal no século XVIII [Percursos – William Beckford em Portugal, 1990]. FC: Uma última questão, qual é a importância para o cinema português do documentário feito nos anos 1960? AE: Acho que foi importantíssimo. O aparecimento de uma geração de realizadores com outro olhar, outro pensamento e outra intenção sobre o documentário e a própria ficção. Os anos 1960 foram realmente uma quebra da geração de realizadores que vinha da época Salazarista e em que havia a censura e os filmes eram feitos com outro propósito. Todos passaram pelo documentário, desde o Seixas Santos ao António-Pedro, eu, o próprio César Monteiro ainda fez um documentário sobre a Sophia. 77 JOSÉ FONSECA E COSTA Entrevista Realizada por Fernando Carrilho e João G. Rapazote Edição de texto Fernando Carrilho João G. Rapazote (JR): Gostaríamos de orientar a nossa conversa partindo dos documentários que realizou na década 1960 e inícios de 1970. Estamos a falar de E Era o Mar (1966), A Metafísica dos Chocolates (1967), Regresso à Terra do Sol (1967), A Cidade (1968) e Mónica Ou Um Diário Algarvio (1972). Na pesquisa que fizemos no ANIM – Arquivo Nacional de Imagem em Movimento não conseguimos ver todos os filmes, faltaram alguns, como The Pearl of the Atlantic - Madeira (1968), A Rota de Colombo (1969), Voar (1970) … José Fonseca e Costa (JFC): Desapareceram essas cópias e desapareceu outro filme meu o Golf in the Algarve (1972) que é um filme muito interessante, e A Rota de Colombo então… JR: O que aconteceu? JFC: Eu posso explicar-lhe o que aconteceu. Foram filmes feitos para TAP, houve uma altura em 1966, se não estou em erro, em que a TAP resolveu contratar-me. Não para funcionário da TAP mas 78 para filmar para a TAP, para aquilo que a TAP precisasse que fosse filmado, para formar os seus quadros, pilotos, etc. Durante dois anos da minha vida eu tive mais horas de voo do que os tripulantes de avião porque passava a vida nos aviões. Além de ter filmado uma quantidade de coisas para utilização técnica, a certa altura eles decidiram: “Isto é o começo da ideia para atrair turistas ricos e estes encontravam-se principalmente na América”. Houve um tipo que era representante da TAP em Nova Iorque e que conseguiu convencer a administração a fazer dois filmes. Havia na América uma sociedade chamada The Knights of Columbus que tinha para aí 50 000 membros e então os homens da TAP resolveram fazer um filme sobre as rotas de Cristóvão Colombo, justamente para o mostrarem a esses Knights of Columbus, com a ideia de os atrair para virem a Portugal. E é claro, estando eu na TAP encarregaram-me de fazer o filme. Simultaneamente encarregaram-me também de fazer um filme sobre a própria empresa. A empresa estava mais ou menos em desenvolvimento, era uma época desenvolvimentista de resto, Marcelo Caetano, etc. O filme passou a chamar-se Voar. Mas o filme Voar é muito mais do Manuel Ruas do que meu. Eu na altura tinha uma produtora de filmes de publicidade, ganhava a minha vida a fazer publicidade e depois fazia estes documentários, no caso da TAP. Os filmes foram The Colombus Route, o Voar e o Golf in the Algarve – por causa deste filme fiquei a jogar Golf, eu não jogava Golf (risos)… Perdeu-se tudo, eu entreguei os filmes à TAP! Devem tê-los mandado queimar! Depois há uma série de filmes ditos promocionais, industriais ou turísticos, que vocês hoje em dia chamam institucionais, para os quais nós eramos solicitados através de produtores que tinham muito boas relações com as entidades políticas. No meu caso, eu estava completamente queimado porque tinha duas prisões na PIDE. A minha ficha na PIDE é uma coisa interminável, acusado de ser do Partido Comunista, eu sei lá, era uma coisa tenebrosa. A ideia de eu entrar em contato com alguém era logo posta de parte. Mas há um produtor – aliás, um homem que tem muito mérito e que produziu a maior parte dos filmes desta época –, o Francisco de Castro, que tinha muito boas relações com as entidades. Se você me perguntar, mas ele era um fascista? Não, não era, mas tinha boas relações com o Regime e convencia-os a entregarem-lhe alguns filmes documentários para ele fazer. Por quê filmes documentários? Porque nessa altura a programação das salas de cinema era feita de uma maneira muito interessante. Havia um intervalo entre a passagem de um jornal de atualidades, de um documentário e do filme de fundo, o público estava habituado a isso. Por exemplo, propor ao dono do Hotel do Mar: “Olhe a gente vai fazer um filme sobre a construção do seu hotel! O seu hotel é feito por um grande arquiteto que é o Conceição Silva e isto vai passar nos cinemas! Tem que ser uma obra de arte, não pode ser só uma coisa de pato bravo!” E o homem, sim senhor. A compensação que ele tinha em troco do que pagava ao produtor era que o filme era exibido durante um determinado tempo numa sala de cinema. A Lisboa dessa altura não tem nada a ver com a Lisboa de hoje, o panorama cinematográfico era completamente diferente e muito mais interessante, e pode querer que não sou saudosista, hoje em dia você só vê filmes da Lusomundo. Nessa altura havia entre 30 a 40 milhões de espectadores por ano nas salas de cinema. Hoje em dia e com monopólio existente estamos reduzidos a 7 milhões, os monopólios não dão saúde a ninguém, nem a quem os promove. Essa era, portanto, a compensação para quem pagava. O Francisco de Castro, que era um homem correto e simpático, tinha encomendado ao António de Macedo – o Macedo aparece no seio daqueles rapazes que se encontravam nos Cineclubes e que discutiam muito o cinema, e juntou-se com os tais meninos que iriam fazer o Cinema Novo. O António Macedo aparece de repente, como um outsider – era formado em arquitetura, era funcionário na Câmara Municipal de Lisboa – a fazer um filme (Verão Coincidente) para o Francisco de Castro sobre um poema da Teresa Horta, financiado pela Sociedade Central de Cervejas, que era dirigida por um homem interessantíssimo e muito culto chamado Manoel Vinhas. Foi assim que eu conheci o Macedo e ficámos amigos para a vida – ele foi vítima de injustiças tremendas porque isto é um país de pessoas invejosas e mesquinhas, de ideias feitas. O Francisco de Castro telefonou-me a perguntar se queria fazer um filme sobre o Hotel do Mar. Eu fui falar com ele e perguntei-lhe que raio de filme é que era? Ele 79 disse: “Olhe, está ser construído em Sesimbra um hotel que é feito por um arquiteto chamado Conceição Silva. E era para saber se você quer fazer o documentário?” E eu disse: “Quero!” Por que é que eu respondi logo que quero? O melhor amigo do Conceição Silva, o José Cardoso Pires, era um dos meus melhores amigos. Quando o Conceição Silva lhe disse: “Epá! Gostava que fizessem um filme sobre isto, anda cá ver o Hotel!”, o Cardoso Pires viu o que ele estava a fazer, achou aquilo interessantíssimo e falou-lhe em mim. O Francisco de Castro arranjou o dinheiro do dono do terreno e do promotor, chamado João Alcobia, que tinha uma loja de móveis na rua Ivens, e contratou-me. Coube-me então a mim fazer o filme sobre o Hotel do Mar. O Conceição Silva, que me foi apresentado pelo José Cardoso Pires, era um homem com características muito peculiares, era um tipo com uma personalidade fortíssima que falava com uma voz grossa e normalmente não tinha medo das palavras, dizia sempre o que pensava. Quando conversou comigo, disse: “Não sei se interessa por arquitetura ou não?” Eu respondi: “Não sou arquiteto, mas interesso-me por arquitetura.” Então ele disse: “Primeiro venha lá ver! Combinamos um dia, o Zé também pode vir connosco.” Qual é a grande originalidade do Conceição Silva? Aproveitando uma vertente que havia aberta sobre a baía, ele resolveu construir o hotel afeito à curvatura da natureza. Trata-se de um trabalho de integração de um projeto arquitetónico na natureza, aquilo era muito interessante. Depois de me explicar isto, disse: “Agora venha ver no que me inspirei, vamos passear, vamos comer um grande almoço, vamos beber uns copos e vou mostrar-lhe umas coisas!” Eu, ele e o José Cardoso Pires descemos a Sesimbra. Eu não conhecia Sesimbra tão bem como ele… Mostrou-me o que era a faina dos pescadores em Sesimbra, na qual ele se inspirou muitíssimo para fazer o hotel, e isso está no filme. Depois saímos dali, fomos comer a uma taberna e fomos para o Cabo Espichel. Foi quando ele disse: “Há aqui uma coisa muito importante, proteger aquilo (o hotel) do vento. Já viu este vento?” Daí o facto da primeira versão do filme ter no título a palavra “vento”. Eu escrevi um texto qualquer para satisfazer o produtor, era muito difícil fazer um filme sobre uma obra arquitetónica com um guião minucioso, mas eu escrevi uma coisa vagamente poética e chamei ao filme E Era o Vento, e Era o Mar, foi o primeiro título, depois caiu “E Era o Vento” e ficou só “E Era o Mar”. O Conceição Silva tinha um conhecimento muito profundo das coisas que me mostrava, não era uma coisa de turista que está de passagem e que diz: “Ai que bonito que isto é”. Sabia quem é que tinha construído, em que século foi feito, como é que era feito, por que é que era feito. Eu fiquei de tal maneira impressionado com essa visita guiada, que quando fiz O Recado – o meu primeiro filme de ficção – decidi começá-lo no cabo Espichel. Depois disto, voltámos para Lisboa e falei com o Castro: “Gostei muito do Conceição Silva, mas este filme tem de ser feito como ele quer e não como quer o seu cliente, oh Castro. Não sei se você já percebeu isto?” O Castro respondeu: “Pois, mas o meu cliente quer que se mostrem lá umas coisas e tal.” E então eu disse: “Diga lá então a lista das coisas que o cliente quer que se ponha!” (risos). O hotel ia ser filmado à medida que era construído, quando se acabou o filme já estava construído. O cliente queria coisas de mau gosto e um bocadinho inenarráveis, eu tive que meter algumas porque se não o homem detestava o filme. Sobretudo queria que se dissesse no texto – os documentários tinham um texto – coisas como: O hotel leva não sei quantas pessoas, tem uma piscina, tem uma boate que fica por baixo da piscina, o restaurante é fantástico, tem uma vista sobre o mar, etc. Ele queria que se dissesse isso tudo e eu disse: “Oh Castro, para mim este filme não tem uma única palavra. Ouvi uma peça sinfónica do César Franck que parece escrita para o que eu quero fazer.” O Francisco de Castro foi tão bom produtor e tão decente que me deixou filmar como eu queria. É claro que isto também tem muito a ver com os contatos que o próprio Conceição Silva tinha com ele e com o João Alcobia. O Conceição Silva tinha sobre o João Alcobia um grande ascendente, ou seja, o João Alcobia, que era cliente dele, admirava-o muito. Quando o filme ficou a ponto de poder ser visto fizemos uma projeção para o cliente e para o Conceição Silva. Quando o filme acabou o João Alcobia espumava por todos os lados, mas o Conceição Silva estava encantado. Quando ele viu a irritação do senhor., vira-se para ele e diz: “Você não tem sensibilidade nenhuma, o filme está belíssimo, o filme mostra e reproduz exatamente aquilo 80 que está lá feito, de maneira que você agradeça que tenha sido feito assim!” E foi assim que, graças ao Conceição Silva, o filme ficou como foi feito, com algumas transigências em relação ao gosto do outro senhor, mas de qualquer maneira respeitando muito a ideia inicial e as motivações principais do Conceição Silva – que é hoje reconhecido como um grande arquiteto Português. JR: O José Fonseca e Costa fez estes documentários todos muito antes de começar na ficção? JFC: Sim…datas, não lhe sei dizer muito bem, foi depois de eu vir de Roma. Fernando Carrilho (FC): Esteve em Roma a aprender cinema, a estudar? JFC: A estudar, não. Eu sou como o Alexandre Herculano, sou um autodidata (risos). Estagiei com o Michelangelo Antonioni e vivi dois anos em Roma. Podia ter feito a escola, mas não. Depois caí na asneira de vir a Portugal, a PIDE prendeu-me e fiquei sem passaporte uma série de anos, não pude voltar para Itália. Se eu tenho voltado para Itália, naturalmente não estava hoje aqui a falar convosco. FC: Considera que a presença do elemento feminino nos seus primeiros filmes é influência do Antonioni? Há essa influência na sua abordagem cinematográfica? JFC: Não. Isso são coisas minhas, não tem a ver com o Antonioni, com toda a franqueza…Vamos lá ver uma coisa, eu era um cineclubista, portanto eu via os filmes todos. Além disso, Lisboa era uma cidade extraordinária para ver filmes. Você não imagina o que isto era. Todos os filmes vinham a Lisboa – os americanos, os ingleses, os franceses, os italianos, os suecos…E eram exibidos em salas de estreia e em salas de bairro, chamadas salas de reposição. Eu nasci em África no meio do mato que era para mim o paraíso e vim viver para Lisboa com 11 anos de idade. Quando cheguei aqui detestei a cidade, foi um horror. O que me safou foi o cinema. Eu ia todos os dias ao cinema de reposição, havia vários. Morava na Avenida da República, logo ali ao lado havia o Palácio, que depois se chamou Avis, ao pé da Praça do Chile havia o Imperial, depois havia o Maxime e, na Av. Almirante Reis, o Liz e o Rex. Os filmes passavam à tarde e nessas sessões eles repetiam os filmes que já tinham sido estreados em sala. Faziam programas duplos, normalmente compostos para satisfazer todos os públicos, ou seja, tinham um filme de cowboys ou um policial, por exemplo, depois tinham um filme “sério” – víamos dois filmes. A quantidade de vezes que vi três filmes por dia, não imagina! Eu e muita gente da minha geração. Não obstante haver uma censura que fazia cortes e proibições de exibição, a Lisboa chegavam as cinematografias de todos os destinos. É muito pior a censura que se faz hoje porque é uma censura comercial, odiosa, um abuso de posição dominante que nos impede de ter acesso a todas as cinematografias… Uma violência extraordinária! Qualquer que seja a cidade onde você esteja, tem sempre os mesmos filmes, e o cinema Americano mainstream é cada vez mais odioso, cada vez pior, é o cinema da violência, da ficção científica mal pensada e mal feita, horrível – e as outras cinematografias praticamente não chegam cá. Desse ponto de vista, Lisboa era uma cidade boa… E depois havia as idas a Paris para vermos os filmes sem censura. FC: Mas concorda que nestes seus filmes há um tratamento cinematográfico do elemento feminino – estou a referir-me a Mónica ou um Diário Algarvio, A Metafísica dos Chocolates… Como é que surgiu essa ideia de colocar um elemento feminino? JFC: Não extraia daí conclusões muito profundas acerca das minhas motivações para fazer isso. Primeiro, as mulheres são pessoas tão interessantes como uma data de homens que eu conheço, 81 têm uma série de particularidades que os homens não têm e que me interessam muito, isso é um facto. No caso do Mónica, o cliente, o Hotel Penina, pediu-me mesmo para pôr uma jovem inglesa que vivia muito chateada na terra dela. Aliás, aquilo foi escrito pelo António Quadros, filho do António Ferro, que gostei bastante de conhecer. Naquele tempo, a vida em Portugal era marcada sobretudo por uma coisa: nós éramos contra o regime e todos que fossem do regime eram uns “desprezíveis fascistas” a quem não se falava. Desse ponto de vista eu não era quadrado, embora militasse terrivelmente em partidos muito inconvenientes, militância que depois me levou à prisão, a verdade é que me dava com toda a gente. Gostei muito de ter conhecido o António Quadros. O dono do hotel era um senhor chamado Stilwell. A minha família começou a ir passar férias para o Algarve – o meu pai, a minha mãe e os meus irmãos – porque era aí que havia o clima e as praias mais parecidas com o que tínhamos em África. Portanto, lembro-me como o Algarve dos anos 1950 era uma maravilha. Estragaram tudo, deram cabo daquilo, é uma pena! No sítio onde está o Hotel Penina havia uma salina enorme, lindíssima. Se passar por lá agora e não souber a história, pensa: “É a natureza, a natureza foi pródiga, pôs aqui estas árvores e houve um tipo que aproveitou isto para fazer um campo de golf”. Completamente mentira! Aquilo era uma salina, o senhor comprou aquilo e decidiu fazer um hotel à inglesa, mandou vir um homem chamado Henry Cotton, que era considerado um dos melhores jogadores de golf de todos os tempos e era construtor de campos de golf. O homem fez um verdadeiro trabalho de arquiteto – outra vez a arquitetura a marcar muito aquilo que eu faço… Ou aquilo que eu fiz (risos). Assisti à construção do empreendimento, primeiro fotografando e depois, quando já estava quase pronto, ele pediu-me para fazer o filme. Pediu um texto ao António Quadros, eu falei com ele e depois segui o texto. O mais engraçado é que um belo dia, passados estes anos todos, alguém da Cinemateca me disse: “Está cá um filme seu chamado Mónica ou um Diário Algarvio.” Ao que respondi: “Eu nunca fiz nenhum filme desses. Isso não é meu.” Não me lembrava de que tinha feito aquele filme! Mas fui ao ANIM, mostraram-me o filme e lembrei-me, claro está. Até achei que o filme tinha algumas coisas interessantes. Regressando à questão da presença feminina, o “E Era o Mar” começa com uma menina que está a ouvir o ruído do mar num búzio, montado com os primeiros acordes da sinfonia do César Franck, mas depois a menina desaparece. Lembrei-me de fazer aquilo um bocadinho impressionado pela visita que tinha feito com o Conceição Silva ao local, com as histórias que ele contou e com o facto de ter encontrado uma concha – que é aquela a que está no filme. Como sabe, a gente tem a sensação de ouvir o barulho do mar pela concha. A banda sonora do filme deveria ter tudo isso, mas não tem porque nesse tempo nós trabalhávamos com enormes dificuldades, era muito difícil conseguir a gravação do som saído da concha a ponto de colocá-lo no filme. A presença feminina aqui não se deve a uma obsessão minha. FC: Não há portanto qualquer aproximação ao Antonioni na forma de filmar a mulher? JFC: Você acha que o Antonioni é um cineasta que filma bem as mulheres? Eu conheci muitíssimo bem o Antonioni por ter trabalhado com ele. Os críticos franceses tinham-lhe criado a reputação de ser um homem austero, de difícil relacionamento, que tratava mal as pessoas, os atores etc. Um dos filmes que mais me marcou foi Cronaca di un amore (1951), a sua primeira longa-metragem – só aos 38 anos de idade é que ele conseguiu fazer a primeira ficção. Quando vi o filme fiquei maravilhado, é uma coisa extraordinária, ainda hoje acho que é um dos melhores filmes do Michelangelo Antonioni. Se você me pergunta “mas como é que classifica o Antonioni?”. O Antonioni é um dos mais brilhantes contadores de histórias misteriosas que eu já vi, porque conta-as de uma maneira completamente inesperada. Se reparar bem, os principais filmes dele são filmes “policiais”, são thrillers para desvendar mistérios. Só que ele desvenda-os de outra maneira. Se me disser que nesses filme ele conta isso a partir de uma mulher lindíssima, a Lucia Bosé, que faz parte da alta burguesia milanesa e aparece vestida com fatos extraordinários e que depois fez outros filmes como 82 o “L’ avventura, que é o desaparecimento de uma mulher... Mas não foi por isso que eu fui motivado. Quando fiz o filme Metafísica dos Chocolates para a fábrica de chocolates Regina, outra vez com o Francisco Castro – agora já nos tratávamos por tu –, ele disse-me: “Desta vez podes fazer o que quiseres, que o gajo é porreiro. Desde que lhe filmes a fábrica e o fabrico do chocolate, podes fazer o que quiseres!” A cidade de Lisboa, de que passei a gostar muito e a conhecer bem, fez-me recordar Fernando Pessoa – também era melhor que não me lembrasse – e o poema “Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates”. A primeira mulher que aparece no filme, uma mulher muito bonita, muito fotogénica, esguia, alta, magra, é a Maria Reis – já morreu, é uma pena. No filme ela aparece no cais das colunas, aparece a sair do cais das colunas e depois no café Os Irmãos Unidos, que era onde estava o quadro do Pessoa feito pelo Almada Negreiros. Como o Francisco Castro tinha dito “Tens liberdade para fazer o que quiseres!” Pensei…chocolates, quem é que come chocolates? Em princípio o chocolate é uma coisa no feminino, é uma coisa de mulheres – ideias minhas, parvas, com certeza absoluta – e fui metendo no filme amigas minhas, bonitas. Talvez por isso você pense que eu vinha de Itália muito influenciado pelo Antonioni… FC: Confesso que associei… Mas existe um forte desejo de ficção dentro dos seus documentários? JFC: Mas não. É coisa minha, não tem nada a ver…Em todos os filmes que eu fiz, mesmo os documentários, há um lado ficcional. Se é isso que quer dizer, é verdade. FC: Teve sempre liberdade para conseguir implementar o dispositivo ficcional nos seus documentários? JFC: Tive… Estou a fazer o elogio do produtor. Podia dizer que o produtor é um bandido, um malandro, mas não. Vou-lhes contar uma história. O Francisco de Castro era um homem com grande sentido de humor. No E Era o Mar, estávamos a filmar um plano geral sobre a baía onde se via a construção do hotel, via-se aquilo cá em cima e depois a baía de Sesimbra ao fundo. Cá no alto, estava eu e o operador de câmara, o Elso Roque, e chega o Castro: “Então o que é que você vai fazer?” E eu: “Vou fazer aqui uma panorâmica!” Fazer panorâmicas significava gastar película. Ensaiámos aquilo uma vez ou duas e o tipo, ao lado, torcia-se todo, olho para ele e pergunto: “Oh Castro, o que é que você tem?” E ele: “Epá não me faças este linguado! Isto vai custar um dinheirão!” Quer dizer, a preocupação dele era a película que se gastava. De facto a película era o material mais caro que nós utilizávamos e era da Kodak. FC: E a ficção? JFC: A ficção, isso é uma coisa muito minha, se me perguntar o que é que eu fazia mais na altura além de ver filmes, era ler livros e escrever, sou um escritor frustrado porque sou preguiçoso, devia escrever e não escrevo. Filmei algumas coisas, poucas… Devia ter filmado mais, mas não foi possível. Se a minha vida não tivesse tido certos entraves que me surgiram… Por exemplo, imagine se tivesse podido voltar para Itália, se a PIDE não me tivesse tirado o passaporte durante uma data de anos? Com certeza tinha ficado em Itália e faria a minha carreira lá por fora, percebe? As coisas estavam a correr bem… JR: Estávamos a falar de ficção e recordo que A Cidade (1968) é talvez o documentário que tem menos essa componente ficcionada. Pode falar-nos desse filme? 83 JFC: Talvez não, talvez não…O Fernando Lopes tinha feito As Pedras e o Tempo (1961), vi o filme, era amigo do Fernando Lopes, um belíssimo preto e branco, um filme interessantíssimo. Comecei a ler uma quantidade de coisas sobre arquitetura e sobre cidades: o que é uma cidade? Quem faz as cidades? Comecei a ler muita informação sobre a história de Évora e cheguei à conclusão de que quem faz as cidades é o povo, são as mãos das pessoas. Um bom arquiteto não faz senão interpretar da melhor maneira aquilo que o povo sabe fazer melhor do que ele próprio. Aliás, há coisas da arquitetura popular que são extraordinárias. Isto para lhe dizer que o filme parte de uma ideia e partir de uma ideia é, de certo modo, partir de uma ficção. Uma ficção que eu relacionei depois com tudo o que havia à volta de Évora. Eu tinha lido e admirava muito o Miguel Torga e mal sabia que, mais tarde, a grande frustração da minha vida seria não ter conseguido filmar o “Senhor Ventura” do Miguel Torga. Eu conheci-o nessa altura porque resolvi introduzir no filme um trecho do diário do Torga, em que ele escreve “O que é Portugal?” É uma página extraordinária. Talvez a ficção não esteja muito visível na maneira como o filme está construído, mas como ideia, acho que é talvez o mais intelectual dos meus documentários, é a minha maneira de ver as coisas. JR: O filme tem uma componente política, os trabalhadores do campo, a música do Giacometti… JFC: Aconteceram coisas extraordinárias. Há uma pomba que vem pousar na cabeça da Ti Rita (a senhora que faz os barros), aquilo aconteceu enquanto estávamos a filmar, não foi uma encenação, não foi uma pomba amestrada. Aprendi muito com esse filme. Portugal tem uma história incrível, de uma riqueza extraordinária e que, depois de Alcácer-Quibir, acho que se anda a deitar fora. Alcácer-Quibir foi, de facto, um grande desastre, houve mudanças terríveis neste país que levaram a que isto não passe nunca de uma mediocridade assustadora. Só não se destroem as raízes porque as raízes são tão fortes que acabam por se sobrepor. Aprendi tudo isto com o Miguel Torga mais tarde, quando quis fazer “O Senhor Ventura”. Como já disse, contactei o Miguel Torga por causa do filme A Cidade, uma carta do tipo: “Exmo. Sr. Dr. Miguel Torga, estou a fazer um filme sobre o Alentejo e gostaria muito de utilizar uma passagem da página do seu diário…” e ele responde-me laconicamente “utilize isso à sua vontade”. O filme ficou pronto para uma exibição para o presidente da Câmara de Évora, que era do Regime mas era um homem civilizado e culto e, sobretudo, era casado com uma senhora espanhola cultíssima e interessantíssima. A projeção foi numa sala da Tóbis ainda em dupla banda, a imagem e o som magnético. Quando no filme é dito “… que faz de nós, Portugueses, esta mistura desgraçada que sabemos”, o Presidente da Câmara dá um pulo na cadeira e diz: “A palavra «desgraçada» não pode estar aqui!” E a mulher dele “Cállate!” O gajo calou-se e sentou-se. Quando o filme acaba ela vira-se para ele e diz: “És um ignorante, este texto é de um grande escritor Português! Ele explica tudo antes, não é uma palavra que apareça desintegrada, é uma palavra que aparece num contexto determinado… Nós fomos ocupados pelos Fenícios, Cartagineses, Judeus…Somos uma mistura que faz de nós o homem desgraçado que sabemos… És um ignorante, um analfabeto!” Mas ele respondeu: “A palavra «desgraçado» tem que sair!” Então, o produtor, o Castro, disse-me: “Tira lá a palavra «desgraçado»”. Bom, começo a ler aquilo sem a palavra «desgraçado», “que faz de nós o homem que sabemos”, e reparo que isto é muito mais violento sem o «desgraçado». Escrevi ao Torga, que responde com duas linhas – ele era de uma concisão admirável: “Meu caro amigo, se ao Presidente da Câmara importa muito a palavra «desgraçado», tire-a do seu filme, porque daquilo que está publicado, ele jamais poderá cortá-la”. E o filme fica sem a palavra «desgraçado». Mal eu sabia nessa altura, estávamos em 1968, que anos depois ia estabelecer com o Torga uma relação muito próxima, muito intensa e que levou a uma das maiores frustrações da minha vida, conforme já disse. 84 JR: Teve problemas com a censura noutros filmes? JFC: Em relação ao Recado, tive sérios receios que isso pudesse acontecer. Se vir o filme com atenção, qualquer corte que os tipos pudessem fazer naquilo equivaleria a que enfiassem um barrete na cabeça, seria sempre mau para eles. É curioso, o filme ficou pronto e era preciso mostrálo à censura, que era no SNI. O secretário era o César Moreira Baptista, estávamos no clima de abertura do Marcelo Caetano – ele tinha sido meu professor em Direito e eu conhecia os filhos dele. Politicamente não estaria de acordo com ele, mas deve-se ao Marcelo Caetano a Lei 7/71, sem a qual nem um metro de filme seria rodado, nenhum de nós teria filmado depois do 25 de Abril. Nós herdámos um instituto cheio de dinheiro e pudemos filmar. O único problema que tive foi com o filme Regresso à Terra do Sol (1967). O filme é encomendado pelo Banco Português do Atlântico, que era o banco mais poderoso do país, juntamente com o Banco Espírito Santo. Um dos grandes acionistas desse banco era o Manoel Vinhas, que era um homem intelectualmente brilhante – foi ele que permitiu que o António de Macedo filmasse como queria e aquilo que lhe apetecesse, era um homem civilizado. O Manoel Vinhas tinha ido para Luanda onde fez uma fábrica de cervejas, que aliás ainda hoje existe. Tem também a ideia de se fazer lá um banco. Então resolvem construir um edifício que era o mais alto de Luanda nessa altura e resolvem fazer um filme. Entraram em contacto comigo e eu fiquei aflito. Primeiro porque não me apetecia voltar a Angola… Eu assisti à fundação do MPLA, que estava em luta pela independência de Angola, e não queria lá voltar naquela situação. Pensei, tornei a pensar e acabei por aceder. Quem me ajudou a escrever foi um grande amigo, o Orlando da Costa. O Orlando da Costa era indiano – é o pai do António Costa – e era um homem interessantíssimo, brilhante, poeta e escritor. O Orlando fazia parte do mesmo grupo de pessoas que me tinham ajudado a formar, eram todos das antigas colónias: o Mário Pinto de Andrade, o Agostinho Neto, o Lúcio Lara… A Casa dos Estudantes do Império… As minhas movimentações em Lisboa eram entre o MUD Juvenil e o Partido Comunista. Isto para lhe dizer que o Orlando da Costa aceitou fazer comigo um texto vagamente poético. Para mim aquilo é a terra do Sol, no fundo era o “regresso à terra do sol”. O Orlando lá escreve um texto, que eu segui para filmar aquilo. Chegando lá, fiz a minha obrigação. O caderno de encargos obrigava-me a filmar o edifício e determinadas coisas e depois podia fazer aquilo que quisesse. O filme tem 21 minutos. Na altura os filmes faziamse em bobines de 150 metros, que é uma curta-metragem – 9, 10 minutos no máximo. Quando as curtas-metragens excediam esse tempo – e as minhas quase todas excederam – o desgraçado do Francisco de Castro tinha de convencer os responsáveis das salas de cinema e os distribuidores a exibirem os filmes, e ele lá conseguia! Nunca pensei que em 21 minutos pudesse meter tanta coisa como meti naquele filme. Cumpri as obrigações do caderno de encargos e uma delas deu um plano bem interessante com um helicóptero a andar à volta do edifício. Era de facto um edifício altíssimo e o Elso Roque esteve quase a cair do helicóptero… Depois filmei o que me apeteceu, as coisas que me lembrava da minha infância: as crianças a brincar na ilha, as lavadeiras a lavar a roupa. Fiz uma viagem à minha terra que não devia fazer, pois o filme devia ser filmado apenas em Luanda. Filmei uma quantidade de coisas que não tinha nada que filmar e pu-las todas no filme. Quando andava a registar imagens no “kimbo”, cheio de habitantes espantados por nos verem ali, com um gravador na mão, ouvi um grupo deles que estavam num terreiro a tocar uma música. Era uma coisa do tipo: “merengue chora, merengue chora”… Uma mistura de palavras de quimbundo com palavras portuguesas. Gravei aquilo porque achei interessante e quando estava em Lisboa pus a música no filme. Estreei o filme no Monumental (penso que foi no Monumental) e após quatro ou cinco dias foi retirado. A censura fazia muito isto. 85 FC: O que transportou da sua experiência nestes documentários para a sua obra ficcional? JFC: Nós somos um todo, eu não renego aquilo que fiz, embora não goste de tudo. Se as fiz é porque há uma razão essencial e original para as ter feito e que fazem parte de um tronco comum que sou eu. Tudo aquilo que eu fiz saiu desse tronco, tenho a impressão que não será difícil estabelecer uma série de paralelismos entre todas as coisas que eu fiz, mesmo quando parecem muito diferentes. Eu no fundo andei a tentar tirar o retrato deste país de corpo inteiro, é disso que se trata nos meus filmes. 86 SESSÃO DE ABERTURA Belarmino (1964, 72’) Realização e Argumento: Fernando Lopes; Assistente Realização: Fernando Matos Silva; Assistente Montagem: Emília de Oliveira; Direção Som: Heliodoro Pires; Produção: Produções Cunha Telles; Montagem: Manuel Ruas; Genérico: Mário Neves; Misturas: Alexandre Gonçalves; Colaboração Artística: Baptista-Bastos, Manuel Ruas; Operador Imagem: Elso Roque; Locução: Jacinto Ramos; Efeitos Especiais: Alexandre Gonçalves (sonoros), Mário Neves; Anotação: Lucinda Pires; Fotografia: Augusto Cabrita; Iluminação: Manuel Carlos da Silva, Carlos Manuel da Silva; Música: Manuel Jorge Veloso, Justiniano Canelhas; Diretor Produção: António da Cunha Telles; Planificação: Fernando Lopes; Assistente Imagem: Fernando Gomes; Laboratório: Valentim de Carvalho (Som), Nacional Filmes (Som), Ulyssea Filme (Imagem); Atores: Belarmino Fragoso (O próprio), Albano Martins (Manager), Jean-Pierre Gebler, Bernardo Moreira, Maria Teresa Noronha Bastos, Maria Amélia Fragoso, Ana Fragoso, Júlia Buísel (Rosa), Tony Alonso (Pugilista). Data e Local Estreia: Avis (Lisboa), 19 de novembro de 1964. A existência marginária e popular de Belarmino Fragoso – engraxador, colorista de fotografias -, antigo campeão de boxe, através dum “questionário psicológico”, que logo salta para o universo social e urbano onde se inscreve: das origens humildes, com a força embargada das palavras cruas – sobre o drama que constitui a sua vida, realçando as irregularidades e explorações de que foi vítima –, o inquérito dissolve-se na cadência excêntrica e nostálgica, da Lisboa crepuscular... (“O Cais do Olhar”, Cinemateca Portuguesa). 87 SESSÃO: ATO PRIMEIRO Acto da Primavera (1962, 90’) Obra Original: “Auto da Paixão”; Direção Som: Manoel de Oliveira; Montagem: Manoel de Oliveira; Produção: Manoel de Oliveira; Colaboração: Paulo Rocha (Seleção dos Noticiários); Consultor: José Régio (Consultor Intelectual), José Carvalhais (Consultor Religioso); Planificação: Manoel de Oliveira; Fotografia: Manoel de Oliveira; Vestuário: Jayme Valverde; Assistente Som: João Barbosa, Maria Isabel de Oliveira (Referência); Realização: Manoel de Oliveira; Operador Som: Fernando Jorge (Colaboração Técnica); Caracterização: Amélia Chaves; Autor: Francisco Vaz de Guimarães; Assistente Realização: António Reis, António Soares; Argumento: Manoel de Oliveira; Assistente Realização: Domingos Carneiro; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Tobis Portuguesa (Negativo), Studios Marignan (Som); Atores: Manoel de Oliveira (Narrador), Nicolau Nunes da Silva (Cristo), Ermelinda Pires (Nossa Senhora), Maria Madalena (Madalena), Amélia Chaves (Verónica), Luis de Sousa (Acusador), Francisco Luis (Pilatos), Renato Palhares (Caifás), Germano Carneiro (Judas), José Fonseca (Espião), Justiniano Alves (Herodes), João Miranda (S. Pedro), João Luis (S. João), Manuel Criado (Diabo). Data e Local Estreia: Império (Lisboa), 2 de outubro de 1963. Representação popular do “Auto da Paixão”, segundo um texto do século XVI, de Francisco Vaz de Guimarães, apreendendo a atmosfera duma comunidade que, para além das fainas e ritmos quotidianos, se transfigura em seus rituais ingénuos mas sinceros. Ao espetáculo, celebrado pela Páscoa e de iniciativa própria, assistem as gentes das aldeias vizinhas, sendo antecedido por uma apresentação, em que se enumeram as suas diversas fases... (“O Cais do Olhar”, Cinemateca Portuguesa). 88 (Fotograma de A Metafísica do Chocolate, JFC) SESSÃO: MÁQUINAS DESEJANTES Tejo - Rota do Progresso (1967, 11’) Realização: Fernando Lopes; Montagem: Fernando Lopes; Comentário: Corregedor da Fonseca; Música: Manuel Jorge Veloso; Locução: Joaquim Rosa; Direção Som: Manuel Jorge Veloso; Fotografia: Manuel Costa e Silva, Acácio de Almeida, Aquilino Mendes; Produção: Lisnave. O Rio Tejo, os transportes fluviais e marítimos, a construção naval. Estaleiros da Lisnave. O nascimento de uma obra de engenharia e de uma cidade, num trabalho que, segundo o próprio Fernando Lopes, teve uma enorme importância para tudo o que fez a seguir. Por um Fio… (1968, 13’) Realização: Fernando Matos Silva; Comentário: A. de Jazente; Colaboração: Carlos Manuel da Silva, Manuel Carlos da Silva, João Laurentino da Silva, Carlos Ferreiro; Direção Som: Alexandre Gonçalves; Fotografia: Manuel Costa e Silva; Montagem: Fernando Matos Silva; Música: Mike Carr; Produção: Média Filmes. O trabalho da Fábrica de Cabos Eléctricos Ávila, de Diogo d’Ávila, de Alfragide, a propósito do qual Matos Silva cria sucessivos ambientes estranhos, ficcionais, do erotismo das máquinas à quase ficção científica. A música, um jazz progressivo, integra-se nesse jogo de forma exemplar. E parece que o texto é mesmo escrito por Alexandre O’Neill (não creditado). As Palavras e os Fios (1962, 12’) Realização: Fernando Lopes; Locução: Jacinto Ramos; Comentário: Baptista-Bastos; Direção Som: Alexandre Gonçalves; Fotografia: Abel Escoto; Diretor Produção: Álvaro Belo Marques; Música: Manuel Jorge Veloso; Montagem: Manuel Ruas; Assistente Realização: António Oliveira Pinto; Produção: Cel-Cat; Laboratório: Nacional Filmes (Som). Data e Local Estreia: Império (Lisboa), 9 de novembro de 1962 89 A produção de cabos e fios metálicos numa grande unidade fabril, com destaque para os componentes destinados às telecomunicações. Mas tudo isto não serve senão para associar a palavra à imagem e à música, um trio aqui combinado de forma exemplar. A Embalagem de Vidro (1966, 10’) Realização: Faria de Almeida; Produção: Faria de Almeida; Música: Manuel Jorge Veloso; Fotografia: Abel Escoto; Assistente Imagem: Victor Silva; Assistente Produção: Luís Manuel Teixeira; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Valentim de Carvalho (Som). Fabrico artesanal e moderno de garrafas, copos, candeeiros a petróleo e outros objetos de vidro. As operações técnicas destinadas a uma conveniente embalagem. Importância económica da indústria vidreira em Portugal. Tudo isto ao som do jazz de Manuel Jorge Veloso e em frente da câmara de um dos realizadores mais inovadores do Cinema Novo. A Arte e Ofício de Ourives (1968, 10’) Realização: Alberto Seixas Santos; Planificação: Alberto Seixas Santos; Produtor: Ricardo Malheiro; Locução: Lourdes Norberto; Comentário: Luíza Neto Jorge; Montagem: Alberto Seixas Santos; Fotografia: Aquilino Mendes; Assistente Montagem: Teresa Olga; Produção: Cultura Filmes; Laboratório: Tobis Portuguesa (Imagem), Fotofilm (Imagem), Nacional Filmes (Som). Este é o primeiro filme de Seixas Santos, um documentário preciso e concreto onde se realça a beleza das imagens: a utilização do fogo na modelação dos metais nobres; as fases do trabalho – laminagem, repuxagem, soldagem, cinzelagem e acabamento; jóias, fios, filigranas, contrastaria, enfim, a ourivesaria portuguesa nos seus motivos mais importantes, nas mãos dos seus mais hábeis artífices. Depois deste, o realizador só fez mais um documentário. Passou para a ficção e tornou-se um dos grandes nomes do Cinema Novo. A Metafísica dos Chocolates (1967, 18’) Realização: José Fonseca e Costa; Direção Som: Heliodoro Pires; Tipo de Obra: Poema; Produção: Francisco de Castro; Montagem: José Fonseca e Costa; Fotografia: Elso Roque; Obra Original: “Tabacaria”; Locução: João Perry; Assistente Realização: Gonsalves Preto; Assistente Montagem: Teresa Olga; Autor: Fernando Pessoa; Heterónimo: Álvaro de Campos; Atores: Maria de Saisset. Data e Local Estreia: Estúdio (Lisboa), 20 de abril de 1967 Variação poético-cinegráfica construída a partir de filmagens na Regina, uma fábrica de chocolates, e de um célebre poema de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, onde se diz: “Come chocolates, pequena, como chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria”. 90 (Fotograma de A Grande Roda, MCS) SESSÃO: ESTÉTICA OU POLÍTICA Num Mar de Moliço (1965, 10’) Realização: Alfredo Tropa; Locução: Fernando Assis Pacheco; Comentário: Fernando Assis Pacheco; Direção Som: Heliodoro Pires; Montagem: Teresa Olga; Assistente Montagem: Fernando Lopes (Colaboração Especial); Fotografia: Elso Roque; Assistente Realização: José João Brito; Produção: Média Filmes; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Nacional Filmes (Som). A colheita do moliço nas águas da ria de Aveiro. Belos planos e belas imagens num pequeno documentário que ultrapassa a linguagem da simples reportagem de televisão, por onde este realizador também passou. A Cidade (1968, 20’) Realização: José Fonseca e Costa; Argumento: José Fonseca e Costa, António Borges Coelho; Diretor Produção: Arnaldo Dionísio; Direção Som: Luis Barão; Produção: Francisco de Castro; Locução: Lourdes Norberto, Ruy de Carvalho; Montagem: José Fonseca e Costa; Fotografia: Elso Roque; Música: Carlos Paredes; Misturas: Alexandre Gonçalves (Sonoplastia); Assistente Realização: Maria Teresa Ramos, Gonsalves Preto; Assistente Montagem: Teresa Olga; Assistente Imagem: Carlos Alberto Estevão; Assistente Produção: Pedro Santos; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Nacional Filmes (Som). Évora, o espírito de uma cidade; a Sé, a Capela dos Ossos. A paisagem e o artesanato do Alentejo. As cidades são construídas pelo povo, a classe trabalhadora que não as utiliza. As ceifeiras. Os sobreiros. O forno do oleiro. Um filme político, no seu discurso de uma etnogenealogia pouco coincidente com as versões do Estado Novo. 91 A Grande Roda (1969, 15’) Realização: Manuel Costa e Silva; Fotografia: Manuel Costa e Silva; Argumento: Alexandre O´Neill; Comentário: Sérgio Niza; Locução: Alexandre O´Neill; Música: Matilde Taveira; Montagem: Fernando Lopes; Direção Som: Alexandre Gonçalves; Produção: Média Filmes; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Nacional Filmes (Som). Data e Local Estreia: Império (Lisboa), 30 de setembro de 1970. Aspetos da vida das crianças deficientes no Centro Infantil Helen Keller, em Lisboa, orientado através de técnicas pedagógicas e lúdicas que põem em relevo os fatores afetivos das relações humanas no grupo escolar. Documentário inovador, muito direto e próximo do seu objeto, este é o primeiro filme dirigido por Costa e Silva – que se veio a tornar o único documentarista assumido do grupo de cineastas do Cinema Novo. 92 (Fotograma de Catembe, FA) SESSÃO: CENSURA E COLONIALISMO Angola Terra do Passado e do Futuro (1972, 17’) Realização: António Escudeiro; Assistente Realização: José Carlos de Oliveira (Assistente Geral); Comentário: Manuel Augusto; Locução: Nuno Martins; Produção: Francisco de Castro; Fotografia: António Escudeiro; Laboratório: Nacional Filmes (Som). Terra de aventura e de esperança. Angola lança-se à conquista da civilização e do progresso crescente, não perdendo os traços antigos de uma civilização autóctone. A verdade é que a censura proibiu este filme em Portugal. Será porque não se menciona a pertença a Portugal? E a guerra, estará naquele plano do esqueleto no deserto? Catembe (1964, 45’) + Cenas Censuradas (11’) Realização: Faria de Almeida; Assistente Realização: José Caldeira; Argumento: Faria de Almeida; Assistente Montagem: Margarethe Mangs; Direção Som: Francisco Jardim; Montagem: Faria de Almeida; Produção: António da Cunha Telles, Faria de Almeida; Operador Som: Carlos Ribeiro; Operador Imagem: Manuel Costa e Silva, Elso Roque; Fotografia: Augusto Cabrita; Locução: Manuela Arraiano, António Revez; Música: Fernando de Albuquerque, Emi Photoplay; Intérprete Canções: Grupo Djambo, Conjunto João Domingos; Poemas: Mara Guimarães (“Manuela”); Anotação: Teresa Sá Nogueira; Iluminação: Lima Pereira, João de Almeida; Produtor Executivo: Alfredo Tropa (Delegado); Planificação: Faria de Almeida; Diretor Produção: Armando Bruno (Chefe de Produção); Assistente Imagem: Acácio de Almeida; Laboratório: Valentim de Carvalho (Som), Ulyssea Filme (Imagem), Tobis Portuguesa (Imagem); Atores: Belarmino Fragoso, José Caldeira, Filomena Lança (Catembe), Amilcar Botica (Sul-Africano), Zita Domingues, Matos Fernandes, Natália dos Reis, Fernando Carneiro, Tomás Vieira, Joaquim C. Lopo, Maria da Graça Serrão, Carlos José Teixeira, Afonso Branco, Aida Maria, Áurea Viegas, Mila Fernandes, José Manuel Faria de Almeida, Mimi Silva, Carlos Santos e Sousa. Data e Local Estreia: Império (Lisboa), 6 de dezembro de 1965 (data de antestreia). Na versão original, “Catembe - 7 Dias em Lourenço Marques” incluía: reportagem de domingo sobre a capital de Moçambique, cidade turística; inquérito de rua em Lisboa, quanto ao que as pessoas pensam sobre Lourenço Marques; em Xipamanine, bairro pobre de pescadores, Catembe – empregada no bar “Luso” – suscita a evocação do quotidiano dessa comunidade... (“O Cais do Olhar”, Cinemateca Portuguesa). Nesta exibição incluem-se as cenas cortadas pela censura. 93 (Fotograma de A Passagem, MCS) SESSÃO: EXPERIMENTAR, MISE-ENCENAR O Verão Coincidente (1962, 13’) Realização: António de Macedo; Fotografia: António Veloso; Assistente Realização: Carvalho Baptista (Assistente Técnico); Locução: Carmen Dolores (Poema dito por); Montagem: António de Macedo; Poemas: Maria Teresa Horta; Direção Musical: Joly Braga Santos; Música: Álvaro Cassuto, Telefunken (Música Concreta); Produção: Francisco de Castro; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Nacional Filmes (Som). Data e Local Estreia: Condes (Lisboa), 3 de maio de 1963. Interpretação cinematúrgica de um poema de Maria Teresa Horta, em três partes: A Manhã, A Tarde, A Noite, que são outras tantas variações sobre o calor. O ócio, o trabalho, dias cheios de sol, rituais de amor. (“O Cinema de António de Macedo”, Cinemateca Portuguesa). Vermelho, Amarelo e Verde (1966, 9’) Realização: Fernando Lopes; Comentário: Alexandre O´Neill; Fotografia: Manuel Costa e Silva; Produção: Prevenção Rodoviária Portuguesa. À palavra poética de O’Neill junta-se a poesia da imagem de Lopes, juntos compõe variações sobre o tema do trânsito, dos sinais e da prevenção rodoviária, com Lisboa ao fundo. É um filme de promoção, mas isso não interessa nada. 94 A Passagem (1971, 11’) Realização: Manuel Costa e Silva; Autor: Sérgio Niza; Colaboração: Etília Proença, Álvaro D`Almeida, Rui Prazeres, João Silva; Montagem: António-Pedro Vasconcelos, Manuel Costa e Silva; Produção: Instituto de Meios Audiovisuais de Educação/IMAVE; Direção Som: Ruy d`Almeida e Mello; Diretor Produção: Henrique Espírito Santo; Tipo de Obra: Ideia; Música: Paulo Gil; Direção Musical: Ruy Cardoso (Orquestração); Fotografia: Manuel Costa e Silva; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Fotofilm (Madrid), Nacional Filmes (Som); Atores: António Pedro de Freitas (A criança). Data e Local Estreia: Estúdio (Lisboa), junho de 1971. Um miúdo rejeita um brinquedo (objeto fictício) que lhe oferecem e parte em busca do seu correspondente real − que, no caso, é uma locomotiva, a qual funciona para ele como símbolo da verdade. Um belo filme que conta uma história através de um trabalho rigoroso da imagem, dos planos e da fotografia a preto e branco. …E Era o Mar (1966, 11’) Realização: José Fonseca e Costa; Direção Som: Heliodoro Pires; Música: Cesar Franck; Produção: Francisco de Castro; Montagem: José Fonseca e Costa; Fotografia: Elso Roque; Misturas: Alexandre Gonçalves (Efeitos Sonoros); Assistente Realização: Gonsalves Preto; Assistente Montagem: Noémia Delgado; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Nacional Filmes (Som). Uma variação sobre os diversos temas visuais, sociais, culturais e paisagísticos da vila de Sesimbra, e da sua privilegiada posição em frente ao mar. Tudo a propósito do então recente Hotel do Mar, do arquiteto Conceição Silva. Portugal, 850 km de Praias (1973, 12’) Realização: António Escudeiro; Fotografia: Victor Estevão, António Escudeiro; Produção: Francisco de Castro; Direção Som: João Carlos Gorjão; Laboratório: Tobis Portuguesa (Imagem), Nacional Filmes (Som). O extraordinário recorte do litoral português, de intensa luminosidade, excelente para férias. Apresentação de vários locais de veraneio. Destaque para Sesimbra, Nazaré, Tróia, Praia da Rocha, Cascais e Estoril. 95 (Fotograma de Festa Trabalho e Pão em Grijó de Parada, MC) SESSÃO: NOVO OLHAR SOBRE OS LUGARES Painéis do Porto (1963, 16’) Realização: António Reis, César Guerra Leal; Fotografia: Aurélio Rodrigues; Comentário: Vasco Lima Couto; Produção: César Guerra Leal; Poemas: António Reis, Egito Gonçalves, Rosália de Castro, Pedro Homem de Melo, Fernando Pessoa; Direção Musical: Francisco Rebelo (Coordenação musical); Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem). Aspetos da vida na Cidade Invicta e o seu património, em imagens sublinhadas pela leitura de poemas e trechos literários sobre a Capital do Norte. Francisco Xavier Pacheco disse dele, na altura: “jogo acertado dos movimentos de uma câmara irrequieta e dos ângulos de filmagem, ora contemplando o assunto, ora procedendo a uma descrição correta, cheia de sugestões, detalhando com oportunidade e eficácia, ora sublinhando o pormenor anedótico ou característico, ora focando o típico sem o explorar, ora transfigurando a realidade em poesia, em símbolo, sem o trair...”. Sever do Vouga Uma Experiência (1971, 30’) Realização: Paulo Rocha; Supervisão: Manoel de Oliveira (Nominal); Argumento: Fernando Lopes (Tratamento); Locução: Alexandre O´Neill (Voz off) Colaboração: Fernando Lopes; Produtor: António da Cunha Telles; Produção: Shell Portuguesa; Fotografia: Acácio de Almeida, Augusto Cabrita; Montagem: Paulo Rocha, Noémia Delgado; Misturas: Alexandre Gonçalves (Efeitos Sonoros); Música: Fernando Lopes Graça. Experiência agrícola em Sever do Vouga. Inventário dos problemas locais: pequena propriedade, alfaias primitivas, gado de pouca produção, má escolha das culturas, falta de formação. Fases de resolução: mecanização, orientação da produção, cursos de iniciação, dinamização dos circuitos de comercialização. Criação duma cooperativa. Um filme que contou com a colaboração técnica de muitos dos que fizeram o Cinema Novo. 96 Festa Trabalho e Pão em Grijó de Parada (1973, 34’) Realização: Manuel Costa e Silva; Diretor Produção: Miguel Cardoso (Chefe de Produção); Produção: Instituto de Tecnologia Educativa; Montagem: Fernando Lopes; Direção Som: Francisco Rebelo; Fotografia: Manuel Costa e Silva; Comentário: Vitor Silva Tavares; Locução: Manuel Costa e Silva; Assistente Montagem: Helena Baptista; Estúdios: Ulyssea Filme (Imagem), Valentim de Carvalho (Som). Data e Local Estreia: Estúdio (Lisboa), 10 de abril de 1974. Grijó de Parada, aldeia transmontana. Situação geográfica; fabrico e importância do pão na vida da comunidade; a festa do Natal, realizada na aldeia dentro das mais antigas tradições. Um olhar etnográfico novo, longe do “folclore” que tanto interessava ao Estado Novo. 97 (Fotograma de Sophia de Mello Breyner Andresen, JCM) SESSÃO DE ENCERRAMENTO Almada-Negreiros, Vivo, Hoje (1969, 23’) Realização: António de Macedo; Misturas: António de Macedo; Argumento: António de Macedo (Não creditado), David Mourão-Ferreira (Não creditado); Colaboração Literária: David MourãoFerreira; Operador Imagem: António Escudeiro; Assistente Imagem: Victor Estevão, Carlos Alberto Estevão; Fotografia: Elso Roque; Diretor Produção: Victor Barbosa (Chefe de Produção); Assistente Produção: Amílcar Lyra; Montagem: António de Macedo (Não creditado); Produção: Francisco de Castro; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Valentim de Carvalho (Som); Atores: Elso Roque (O próprio), David Mourão-Ferreira (O próprio), Almada Negreiros (O próprio), Susana de Sousa Dias (A própria), Natália Correia (A própria), António de Macedo (O próprio). Data e Local Estreia: Império (Lisboa), 24 de outubro de 1969 José Sobral de Almada Negreiros, um dos maiores artistas contemporâneos. Faleceu em 1970, com 77 anos, tendo sempre mantido o espírito e a criatividade tão jovens, como na época em que escandalizou com os seus poemas, desenhos e, sobretudo, com o violento e demolidor “Manifesto Futurista às Gerações Portuguesa do Século XX”. Entrevista registada em preparação prévia. Vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Painéis da Fundação Calouste Gulbenkian e da Gare Marítima, Frontaria da Faculdade de letras. Rodagem e sequência de “Deseja-se Mulher”. (“O Cinema de António de Macedo”, Cinemateca Portuguesa). 98 27 Minutos com Fernando Lopes Graça (1969, 25’) Realização: António-Pedro Vasconcelos; Colaboração: Michel Giacometti (Colaboração Musical), João Rodrigues; Misturas: Alexandre Gonçalves (Sonoplastia); Assistente Realização: Jorge Paixão; Produtor: Ricardo Malheiro; Assistente Produção: José Luís Vasconcelos; Produção: Cultura Filmes; Fotografia: Abel Escoto; Assistente Imagem: Emílio Pinto; Montagem: AntónioPedro Vasconcelos; Direção Som: Luis Barão; Consultor: Filipe de Sousa (Consultor Musical); Estúdios: Valentim de Carvalho; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Tobis Portuguesa (Imagem), Nacional Filmes (Som). Data e Local Estreia: Apolo 70 (Lisboa), julho de 1971. Filme assinado coletivamente e primeiro marcadamente não publicitário em que participou AntónioPedro Vasconcelos, em que é já possível detetar alguns dos traços que vieram a enformar a sua obra. Sophia de Mello Breyner Andresen (1969, 17’) Realização: João César Monteiro; Assistente Realização: Jorge Silva Melo; Locução: João César Monteiro; Assistente Imagem: Emílio Pinto; Produtor: Ricardo Malheiro; Produção: Cultura Filmes; Fotografia: Abel Escoto; Montagem: João César Monteiro; Direção Som: Alexandre Gonçalves; Laboratório: Ulyssea Filme (Imagem), Nacional Filmes (Som). Data e Local Estreia: Apolo 70 (Lisboa), 31 de janeiro de 1972. O primeiro filme de João César Monteiro é sobre a vida e a obra de Sophia de Mello Breyner Andresen. Aspetos do quotidiano da poetisa: ambiente familiar, férias na praia, depoimento pessoal. Jorge Leitão Ramos disse: “No chamado documentarismo do Cinema Novo não há outro filme como este. Reivindica, à partida, o direito à diferença (num genérico dito pelo autor que, assim, duplamente se inscreve no filme e aponta, desde logo, o ouvir como dimensão basilar do seu cinema). E João César Monteiro afirmou: “No que ao meu filme diz respeito, suponho que, antes do mais, ele é a prova, para quem a quiser entender, que a poesia não é filmável e não adianta perseguila”. 99 Panorama 2013 7ª Mostra do Documentário Português 5040 A Luz da Terra Antiga Betacam SP, 9’, 2012, Portugal Betacam SP, 15’, 2012, Portugal Realização: Inês Teixeira Guião: Inês Teixeira Imagem: Ana Pires Montagem: Inês Teixeira Som: Pedro Magalhães Produção: Inês Teixeira; ESTC - Escola Superior de Teatro e Cinema Realização: Luis Oliveira Santos Guião: Luis Oliveira Santos, baseado no livro “Portugal Luz e Sombra, o País depois de Orlando Ribeiro”, de Duarte Belo Imagem: Luis Oliveira Santos Montagem: Luis Oliveira Santos Som: Fernando Rocha Produção: CineClube de Avanca; Filmógrafo Sinopse Sinopse Que impacto terá a escala de uma cidade, nas relações entre os seus habitantes? Talvez a cidade já não tenha uma escala humana. Vivemos dependentes de todos os meios que tornam a nossa vida quotidiana mais confortável, mas estamos cada vez mais independentes dos restantes habitantes da cidade. O filme A Luz Da Terra Antiga, baseado no livro, ”Portugal Luz e Sombra - o país depois de Orlando Ribeiro”, é uma viagem com Duarte Belo à procura dos territórios da fotografia de Orlando Ribeiro e da inexorável passagem do tempo. 102 A Rapariga do Cabelo Vermelho Anquanto La Lhéngua Fur Cantada MiniDV, 17’, 2012 HDV, 52’, 2012 Realização: Catherine Boutaud Guião: Catherine Boutaud Imagem: Catherine Boutaud Montagem: Catherine Boutaud Som: Miguel Moraes Cabral Produção: Os Filmes do Caracol Realização: João Botelho Imagem: João Ribeiro Montagem: João Brás Som: Francisco Veloso Produção: Ar de Filmes; Alexandre Oliveira Sinopse Sinopse Anquanto La Lhéngua Fur Cantada, este povo não morre. O planalto de Miranda, único em língua e rico em gente, geografia e tradições que vêm do início dos tempos, tem uma riqueza musical inigualável. Porque não atravessá-lo com a Catarina Wallenstein, com rosto de “Madona”, que canta como ninguém, acompanhada pelo extraordinário acordeão do Gabriel Gomes, com rosto de anjo, e seguido pelo burro “Atenor” de pêlo comprido e avermelhado, perfeito exemplar do burro mirandês? Há alguma coisa mais comovente do que a polifonia dos cantantes das Almas de Sendim? Não é verdade senhor Giacometti? O meu amigo Dr. Amadeu Ferreira, ficará contente e com ele todos os mirandeses a quem dedico este pequeno filme. “O meu aparelho faz parte do meu corpo e nunca tratei tão bem um objecto como ele. É como se tirasse um braço postiço e o deixasse na mesa para pintar as unhas. É desta forma que vejo o meu corpo.” 103 Aqui tem gente As Partes e o Todo HDV, 81’, 2013, Portugal HDV, 60’, 2013, Portugal Realização: Leonor Areal Produção: Obra Aberta Realização: Levi Martins Imagem: Levi Martins Montagem: Levi Martins Som: Levi Martins Produção: O Equilíbrio Dinâmico Sinopse Portugal, Europa, 2011. Às portas de Lisboa, um bairro de lata está em vias de ser demolido. A Câmara Municipal de Loures parece firme na sua decisão, mas não apresenta soluções alternativas de alojamento. Na iminência de ficar sem tecto, os moradores do Bairro da Torre organizam-se para negociar com a Câmara e defender o seu direito à habitação, num processo com avanços e recuos, derrotas e vitórias. As mulheres assumem um papel central na defesa da casa e da família. No Bairro da Torre coexistem etnias sobretudo ciganas e africanas, e imigrantes que chegaram nos anos 90 para as grandes obras do regime. A crise atirou-os para o desemprego e a miséria. Agora batem-se pelos seus direitos e dignidade humana. Aqui Tem Gente acompanha o processo negocial, os problemas e conflitos desta população que, embora anarquicamente, consegue organizarse e lutar pelos seus direitos. Levanta também outras questões. Qual o papel dos ativistas no apoio à organização da comunidade? Que política de habitação social para o atual momento de crise? Sinopse O quotidiano de Humberto Machado, 82 anos de idade, divide-se entre o convívio, a agricultura e o teatro. Durante três anos, Levi Martins regista as suas conversas em almoços e jantares, os seus trabalhos na horta e as suas participações em peças de teatro. Surge entre ambos uma amizade que os leva a partilhar uma mútua preocupação: continuar a pensar a relação que deve existir entre o interesse individual e o interesse coletivo, numa busca incessante por conciliar o pensamento com a ação. 104 Até ao Outro Lado do Arco-Íris Bafatá Filme Clube MiniDV, 12’, 2012, Portugal Betacam Digital, 77’, 2012 Realização: André Agostinho Guião: André Agostinho Imagem: André Agostinho Montagem: André Agostinho Som: André Agostinho Produção: André Agostinho Realização: Silas Tiny Guião: Silas Tiny Imagem: Marta Pessoa Montagem: Márcia Costa Som: Paulo Abelho Produtor Executivo: Rui Simões Produção: Real Ficção; Telecine Bissau Sinopse Sinopse O Outro Lado do Arco-íris retrata a solidão de um homem que todos os dias espera por clientes a quem possa cortar o cabelo. No entanto, poucos são os que aparecem e os tempos mortos são passados com a sua maior companhia, os seus dois periquitos. Em Bafatá, na Guiné-Bissau, Canjajá Mané antigo operador de cinema e guarda do clube da cidade, repete os mesmos gestos há cinquenta anos. Mas atualmente o cinema está fechado e não existem espetadores. Dos seus tempos como trabalhador do clube até aos nossos dias, restam apenas recordações. Na cidade, somente as pedras, árvores e o rio resistiram a erosão do tempo. E com eles, algumas pessoas, que ficaram para perpetuar na memória do mundo e dos homens, que ali já viveu gente. São essas pessoas por quem Canjajá procura e espera pacientemente até hoje. 105 Chã de Cricket Cinemática HDV, 26’, 2012 HDV, 6’, 2012 Realização: Pedro Faria Guião: Pedro Faria Imagem: Pedro Faria Montagem: Pedro Faria Som: Pedro Faria Produção: Pedro Faria Realização: João Costa; Rui Falcão; Harro Rannamets Guião: Rui Falcão Imagem: João Costa Montagem: João Costa Som: Rodrigo Camacho Produção: Estudio Patchaa Sinopse Sinopse Em Chã de Cricket atravessamos diversos espaços nocturnos da ilha de São Vicente (Cabo Verde) observando quem naquele momento os habita. A captura do vibrar da cidade desde que acorda até repousar, num exaustivo pára-arranca, possuído pela pontualidade das deslocações. Um formigueiro de gente, carros, motas, bicicletas, comboios, que rapidamente resultaria em tumulto não fosse a sua colisão evitada no mais básico jogo de sinais luminosos: vermelho – passagem proibida; verde – passagem permitida. 106 Cinzas, Ensaio sobre o Fogo Cossé, 16h HDV, 18’, 2012, Portugal Betacam SP, 13’, 2012, Portugal Realização: Pedro Flores Guião: Pedro Flores Imagem: Simone Almeida, Francisco Lobo Montagem: Maria João Barbosa Som: João Cruz Produção: Curtas Metragens CRL; Dario Oliveira Realização: Gil Ramos Guião: Gil Ramos Imagem: Daniel Rodrigues Montagem: Gil Ramos Som: Dee Broken Produtor Executivo: Ricardo Ramos Produção: Crossing Sinopse Sinopse Gerês, Portugal. Os dias nascem com o fogo e morrem com ele. Os homens renovam a terra com práticas ancestrais. Todos os seres habitam o mesmo lugar. São quatro da tarde, mas podiam ser oito da manhã. Aqui, o tempo não importa e a rotina diária é feita de pequenos e contundentes gestos. Destemidos, os aldeões seguem o seu rumo sem que, aparentemente, nada os demova de cumprirem o seu destino. O ritmo da vida é, nesta atmosfera inebriante, o ritmo do sol e da água. Nada fica ao acaso e tudo flui com a maior das naturalidades. Aqui é Cossé e o relógio marca 16 horas. 107 Des-construindo - Parte de mim Entrado MiniDV 24’, 2012, Espanha Betacam SP, 23’, 2013, Portugal Realização: Patrícia Louro; Micol Pecoraro; Manewa Gutiérrez Cornejo; Mercè Salom Parés; Ingrid de la Torre Guião: Patrícia Louro; Micol Pecoraro; Manewa Gutiérrez Cornejo; Mercè Salom Parés; Ingrid de la Torre Imagem: Adriana Leira Montagem: Karla Solé Som: Alejandra Leira Produção Executiva: Elena Molina Produção: Centre de Cultura de Dones Francesca Bonnemaison Realização: Paula Preto Guião: Paula Preto Imagem: Paula Preto; Roberto Santos Montagem: Paula Preto Som: Pedro Santos Voz: Nuno Preto Produção: Paula Preto Sinopse Entrado: nome masculino; indivíduo que acaba de entrar na prisão; o acabado de chegar; o que está sempre à espera; o que não se pode esticar naquilo que diz; título de uma peça de teatro; part. pass. de entrar. Sinopse Podemos superar as experiências traumáticas que nos marcaram? Três mulheres explicamnos a sua vivência pessoal através de uma sobreposição contínua de diálogos e experiências, entrelaçada com imagens quotidianas, mas sempre em movimento. Este documentário abre-nos a intimidade do diaa-dia destas mulheres, para quem a superação de um trauma pode supor uma transformação vital. 108 Faixa Negra Fome e Fartura DVCam, 8’, 2012, Portugal HDV, 12’, 2012, Portugal Realização: Cristovão Peças Guião: Cristovão Peças Imagem: Cristovão Peças Montagem: Cristovão Peças Som: Cristovão Peças Produção: ULHT - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Realização: Filomena Carvalho Sousa Guião: Registos da tradição oral, Filomena Carvalho Sousa Imagem: José Barbieri Montagem: Filomena Carvalho Sousa Som: Filomena Carvalho Sousa; José Barbieri Produtor Executivo: José Barbieri Produção: Memória Imaterial, CRL Sinopse Sinopse Um documentário sobre uma equipa de jiu jitsu chamada Romana Jiu Jitsu, de Almada, com a intenção de mostrar o lado filosófico desta arte marcial. A partir da tradição oral – romances, cantigas, poesia popular, episódios de vida e formas proverbiais – fala-se da fome e da fartura, da riqueza e da pobreza, das desigualdades e das injustiças sociais. O filme inicia com o romance “o rico e o pobre” filmado em Beja, uma versão do romance de devotos “Lázaro e o rico avarento”; segue-se o “Triste ceguinho” filmado em Idanha-a-Nova que fala do sacrifício dos filhos nas famílias mais pobres, neste caso os pais que enganam a filha e a vendem a um rei rico que se finge de “pobre ceguinho”. De Torres Vedras uma história verídica que é narrada como se fosse um conto tradicional, uma história sobre a recompensa de quem partilha o pouco que tem. De Grândola os poetas populares e as suas décimas sobre as diferentes classes sociais e por fim, também de Idanha-a-Nova, “Os mandamentos da poupa”. 109 Herberto Johnson MOV H.264, 53’, 2013, Portugal MiniDV, 42’, 2012, Portugal Realização: Bruno Sousa Guião: Bruno Sousa Imagem: Bruno Sousa; Luís Giestas Montagem: Pedro Gancho Som: Rodrigo Raposo Produção: Bruno Sousa Realização: Nuno Cibrão Guião: Johnson Imagem: Nuno Cibrão; Leandro Ferrão; Jaime Adão; João Trindade Montagem: Ricardo Lisboa Som: Octaviano Rodrigues Produção: Nuno Cibrão Sinopse Sinopse O filme apresenta-nos o Sr. Herberto, um açoriano de 92 anos que, aos 90, abriu uma fábrica de produtos derivados da soja na ilha do Faial. Conta-nos a sua história, dividida por três continentes diferentes, mostra-nos a relação com a sua mulher, 40 mais nova e, acima de tudo, o drama que diariamente tem ao tentar levar avante o sonho que não se tem vindo a concretizar como havia idealizado. História de vida que vale a pena ser contada. Após mais de 10 anos preso, por causa de uma vida de drogas e de crime Johnson saiu e regenerou-se, tornando-se um exemplo social na sua comunidade onde desenvolve um trabalho de excelência com os jovens. 110 Learning from Macau #1_#2 Monsantempo HDV, 35’, 2011, Portugal MiniDV, 11’, 2013, Portugal Realização: José Maçãs de Carvalho Coordenação Científica: Jorge Figueira Guião: José Maçãs de carvalho; Jorge Figueira Imagem: Rui Xavier Montagem: Rui Xavier e José Maçãs de Carvalho Som: Rui Xavier; Marco Leão Música: Dual Echo Side Effects Produção: Atalho; João Carlos Afonso Realização: Tarek Raffoul Guião: Tarek Raffoul Imagem: Tarek Raffoul Montagem: Tarek Raffoul Som: Panx Solajes Produção: Tarek Raffoul; ULHT (Projecto Mestrado Docnomads 2012-2013) Sinopse Sinopse Monsanto é um lugar tranquilo e calmo, onde cada dia é um ciclo da mesma rotina e hábitos, quase como um trabalho de relógio. Este será um documentário metafórico, descritivo onde a câmera vai nos mostrar a vila, a sua paisagem, entranhas e detalhes. 4 obras de arquitetura de Manuel Vicente e a ausência de uma outra, em Macau. 111 Montemor No Green No Blue MiniDV, 69’, 2012, Portugal Mini-HDV, 14’, 2011, Portugal/ China Realização: Ignasi Duarte Guião: Ignasi Duarte Imagem: Marc González Montagem: Marc Capdevila Som: Joan Pons; Pedro Góis Produção: Pão Filmes; Citemor; Periferia Filmes Realização: Marta Alvim Guião: Marta Alvim Imagem: Marta Alvim Montagem: Marta Alvim Som: Filipe Lopes Color grading: Bikini Produção: Marta Alvim Sinopse Sinopse Um homem que caminha pelo campo. Um artesão que trabalha a madeira. Um velho que fala de Deus com firmeza. Em frente à sua habitação passam comboios de cinco em cinco minutos. Umas mulheres cantam num bosque. O artesão que trabalha a madeira tenta estabelecer um diálogo com as rãs. O homem que caminha pelo campo tenta explicar-lhe que tal não é possível. Ninguém dá importância à razão. E é assim que a vida passa, ali. “Is it real what’s on the the outside?” No Green No Blue reflete sobre o impacto dos valores sociais, na forma como estes alteram a noção de tempo, de espaço e o papel que cada indivíduo desempenha na sua própria vida e consequentemente na sociedade. Sugerindo diferentes olhares, o som e a imagem alternam entre o sonho e a realidade ou entre o consciente e o subconsciente, numa narrativa que, de forma metafórica, revela o poder e a fragilidade do Homem num mundo onde ele próprio se vê como o sistema. 112 Noite de Festa O Dormitório Betacam Digital, 57’, 2013 HDV, 15’, 2011, Portugal Realização: Tiago P. de Carvalho Guião: Nuno Simões; Nuno Costa Santos Imagem: Leandro Silva Montagem: Conselho Criativo Superior da Picheleira Som: Filipe Tavares Produtor Executivo: Nuno Simões; Nuno Costa Santos Produção: AfterBurn; Guérrilha Films Realização: Vanessa Fernandes Guião: Vanessa Fernandes Imagem: Hugo Nascimento; Rui Pereira Montagem: Paulo Pinheiro Som: Hugo Martins Produção: Vanessa Fernandes Sinopse Dormimos, acordamos. Repetimos ações em ciclo. Comemos, dormimos, acordamos. Atravessamos o Tejo, comemos, dormimos, acordamos. – Quando a luz cai e a grande cidade dorme, o que acontece na cidade dormitório? Há quem sofra de insónias, há quem cambaleie a contrariar o sono. E há uma parte da cidade que não quer ser acordada. Sinopse Nuno aos 30 e poucos anos perde o rasto dos vinis da sua adolescência. Decide partir numa demanda que o leva de volta à sua terra natal, a Ilha de S. Miguel no distante arquipélago dos Açores, isolado no meio do Oceano Atlântico. Uma demanda para resgatar os seus vinis e a sua juventude. 113 O Sortudo Outras Cartas ou o Amor Inventado HDV, 14’, 2013, Portugal Betacam Digital, 51’, 2012, Portugal Realização: Zimu Zhang Guião: Zimu Zhang Imagem: Zimu Zhang Montagem: Zimu Zhang Som: Zimu Zhang; Diana Pacheco Lagutienko; Manuel F Contreras Produção: ULHT (Projecto Mestrado Docnomads 2012-2013); Victor Candeias Realização: Leonor Noivo Guião: Leonor Noivo Imagem: Leonor Noivo Montagem: João Dias; João Braz; Karen Akermann Som: Joana Pinho Neves Produção: C.R.I.M. Produções Sinopse Sinopse Outras Cartas ou o Amor Inventado parte da obra literária Novas Cartas Portuguesas, escrita em conjunto pelas Três Marias nos anos 70, como pretexto para um pequeno inventário cinematográfico, um documentário que cruza esse legado literário com diferentes situações, contextos e interlocutores; ligando material de arquivo do processo de tribunal (a que as autoras foram sujeitas quando o livro foi publicado) a uma procura muito pessoal e labiríntica sobre o amor. Em busca de uma mulher perdida chinesa. Eu sou uma estudante chinesa e encontrei várias comunidades chinesas, aonde acontece um mistério local, não só sobre um indivíduo mas sobre todo o grupo de imigrantes. 114 PDL-LIS (Ponta Delgada – Lisboa) Pequenos Teatros de Rua Betacam SP, 28’, 2012 Dv Cam, 30’, 2013, Portugal Realização: Diogo Lima Produtor Executivo: Diogo Lima Produção: ULHT - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Realização: Regina Guimarães Guião: Regina Guimarães Imagem: Regina Guimarães Montagem: Regina Guimarães; Saguenail Música composta por Pedro Moura interpretada por Pedro Moura e Bruna Moura Misturas: Rui Coelho Produção: Hélastre Sinopse A que sabe voltar à casa que julgamos querer abandonar de vez? Um jovem a estudar em Lisboa faz uma viagem a São Miguel para descobrir qual é a sua relação com a terranatal à medida que a distância e o tempo os vão separando. Percorre e filma com um novo olhar os sítios onde cresceu e que até agora lhe traziam uma sensação agridoce. Sinopse Uma reflexão sobre o modo peculiar como o Porto se encena nas montras. Nas Monstras. E uma divagação em torno do que elas reflectem... 115 Que Ânsia Distante Perto Chora ? Quero-vos, respeito-vos, preciso de vocês (15M DE DENTRO) MiniDV, 30’, 2012, Portugal MiniDV, 72’, 2012, Portugal/ Espanha Realização: Ana Costa; Henrique Prudêncio; Sara Santos Guião: Ana Costa; Henrique Prudêncio; Sara Santos Imagem: Ana Costa; Henrique Prudêncio; Sara Santos Montagem: Ana Costa; Henrique Prudêncio; Sara Santos Som: Ana Costa; Henrique Prudêncio; Sara Santos Produção: Ana Costa; Henrique Prudêncio; Sara Santos Realização: Alex Campos García Guião: Alex Campos García Imagem: Alex Campos García; Miguel Angel; No mames films; Audiovisol Montagem: Alex Campos; Angel Herrero; Olga Iañez; Mercedes Gonzalez; Pilar Narvaez Música: Arbol; Solfonica; Busevin; DJ Mood; Manolo Campos Produção: Nomad Eyes - Audiovisol Sinopse Sinopse Quero-vos, respeito-vos, preciso de vocês. Com estas palavras inicia suas intervenções Román, octogenário madrileno que levava 50 anos esperando uma mudança real. O 15 de Maio de 2011, na “Puerta del Sol”, amanheceu junto duma geração num acordar coletivo que lhe tirou da sua impotência e frustração. “Lo llaman democracia y no lo es”. Os indignados tomam a praça e começam um movimento que terá expansão mundial. Uma geração de jovens que parecia adormecida toma as praças de Espanha e mais tarde realiza marchas pelas estradas e aldeias da península, reivindicando uma democracia real. Um movimento assembleário que se esforça ao máximo por conseguir o consenso e praticar a horizontalidade. Realizado por vários dos integrantes da comissão de audiovisuais da acampada, este é um documentário desde dentro. Um Poema. Uma Corrente. Uma Geração. Qual a reação da actual geração a um dos maiores poemas do nosso país? Qual a interpretação que têm? Será que têm alguma? Neste filme, a partir do poema “Nevoeiro” de Fernando Pessoa, remetida numa carta pelos realizadores às pessoas que têm o futuro do país nas mãos, os espetadores são convidados a assistir às mensagens do nosso jovem povo. De interpretação em interpretação, vai-se filtrando o que é mais importante... Ou não? Qual a mensagem dos nossos jovens para Portugal? Será que “Está na Hora” de mudar? 116 Reconversão Rhoma Acans HDV, 65’, 2012, Portugal Betacam SP, 12’, 2012, Portugal Realização: Thom Andersen Guião: Thom Andersen Imagem: Peter Bo Rappmund Montagem: Adam R. Levine; Christine Chang Som: Christine Chand Produção: Curtas Metragens CRL; Dario Oliveira Realização: Leonor Teles Guião: Francisco Adão Imagem: Sofia Lacerda Montagem: João Gomes; Leonor Teles Som: Joana Niza Braga Produção: Daniel Valente; ESTC - Escola Superior de Teatro e Cinema Sinopse Sinopse Reconversão retrata 17 edifícios e projetos do arquiteto portuense Eduardo Souto Moura, acompanhados pelos seus próprios escritos. É uma investigação sobre a sua arquitetura, sem comentário crítico. Apenas o guia no Estádio de Braga oferece algumas generalizações, que se ajustam bastante bem à obra, mas esta pode ser a exceção, não a regra. Souto Moura tem a última palavra: “Se ali não há nada, eu invento uma preexistência”. Tecnicamente, Reconversão combina a crueza do proto-cinema com o hiperrealismo do cinema digital, remetendo-nos de novo aos ideais de Dziga Vertov. Filmar um ou dois frames por segundo e animar as imagens à maneira de Muybridge, produz uma resolução mais elevada, embora não necessariamente um melhor sentido da realidade, e ressalta os movimentos da água e da vegetação que geralmente passam despercebidos. Rhoma Acans é uma viagem de autodescoberta empreendida pela realizadora com o objectivo de compreender o verdadeiro peso identitário da sua herança cigana, a partir da história da sua própria família e do modo como ela se afasta ou aproxima da história de uma jovem cigana no seio da tradição, Joaquina. 117 A Rua da Estrada Teles HDV, 35’, 2012, Portugal DV Cam, 13’, 2012, Portugal Realização: Graça Castanheira Guião: Álvaro Domingues; Graça Castanheira Imagem: Miguel da Santa Montagem: Rafaela Morgado Som: Dinis Henriques Produção: Curtas Metragens CRL; Dario Oliveira Realização: José Magro Guião: José Magro Imagem: Gerardo Burmester; José Magro Montagem: Gerardo Burmester Som: José Dinis Henriques Produtor Executivo: Margarida Dinis Produção: GAPSI – Universidade Católica Portuguesa Sinopse Sinopse Em A Rua da Estrada percorrem-se as estradas nacionais, com a sua muito peculiar paisagem – sismógrafo do tempo que passa. Lida pelo olhar avisado do geógrafo Álvaro Domingues, uma viagem por Portugal, tal qual é. Teles é marcador de linhas do União Sport Clube de Baltar. 118 Televisão Terra MiniDV, 15’, 2012, Portugal HDV, 12’, 2013, Portugal/ Reino Unido Realização: Filipe Afonso Guião: Filipe Afonso Imagem: Filipe Afonso Montagem: Filipe Afonso Som: Filipe Afonso Produção: Filipe Afonso Realização: Pedro Lino Guião: Pedro Lino Imagem: Fernando Vasquez; Mariana Pestana; Pedro Lino; Tiago Couto; Tomás Valle Montagem: Tal Brog; Pedro Lino Som: Rodrigo Cardoso Música: “Mudar de Bina” de Norberto Lobo Produção: Sparkle Animation; Pedro Lino Sinopse Sinopse Eu ando, no meio da noite, na cidade e ouço televisões. Suponho que todas juntas poderiam contar uma história e darem-me um sinal até chegar a casa. É como uma extensão de dentro da casa e dos seus moradores para o exterior, para a rua e para mim. Eu ando. Como um fantasma. Entro em todas essas casas... Enquanto ando, aproximo-me, tento ouvir melhor, ver mais, mais, mais... “Um deus de cornos e testículos, que, depois de cada chega e de cada vitória, a gratidão dos fiéis cobre de palmas, de flores, de cordões de oiro e de ternura. Um deus que a devoção adora sem pedir outros milagres que não sejam os de força e da fecundidade, provados à vista da infância, da juventude e da velhice. Um deus eternamente viril, num paraíso sem pecado original”. Miguel Torga, Diários, 1968 119 Thierry Um Rio chamado Ave MiniDV, 17’, 2012, Portugal HDV, 20’, 2012, Portugal Realização: Rodrigo Lacerda Imagem: Rodrigo Lacerda Montagem: Rodrigo Lacerda Som: Rodrigo Lacerda Realização: Luís Alves de Matos Imagem: José Magro Montagem: Sara Esteves; Luís Alves de Matos Som: André Moura Produção: Curtas Metragens CRL; Dario Oliveira Sinopse Sinopse Thierry é um jovem francês que vive em Londres. É gay, trabalhador do sexo, actor porno ocasional, activista LGBT e o presidente da delegação dos trabalhadores do sexo do terceiro maior sindicato do Reino Unido. Possui uma licenciatura em História e concluiu recentemente um mestrado em British Women History na London Metropolitan University. Está a planear poupar dinheiro para fazer o doutoramento. Este filme é constituído por dois dias na sua vida. Este filme constrói-se numa viagem contínua entre o passado e o presente. Num sentido de impermanência, como a condição natural do rio e do homem. Num voo rasante sobre as suas águas, desde o seu início nas montanhas até à sua foz, assistimos às consequências da indiferença do homem para com a natureza. Mas o rio resiste. Pois tudo o que é profundo se revela à superfície. 120 Biofilmografias 225, Rua da Rosa José Ricardo Lopes assim, sujas de memória (2011), Quetzal em colaboração com Daniel Fernandes (2012), Paisagem Interior (2012) e A Fábrica (2012). Frequenta de momento o 2º ano do curso de Desenho do Ar.Co em Lisboa e integra a equipa d’A Música Portuguesa a Gostar dela Própria. José Ricardo Lopes nasceu em Tomar em 1989. Em 2007 ingressou no curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema. Realizou as curtas-metragens de ficção Je m’appellle, Evelina e Seu Destino de Sonho, Beija-me depressa!, Os Chapéus-de-Chuva de Chocolate, e após uma breve passagem pelo documentário com a co-realização do documentário Húmus, assume a realização do docudrama 225, Rua da Rosa. A Luz da Terra Antiga Luis Oliveira Santos Luis Oliveira Santos nasceu em 1965, em Ílhavo, Portugal. Licenciado em Arquitetura. Professor de Artes Visuais. A Luz da Terra Antiga (2012) é o seu primeiro filme. 5040 Inês Teixeira A Menina dos Olhos Pequenos Teatros de Rua Regina Guimarães Inês Teixeira, nascida a 12 de Maio de 1991 em Lisboa, licenciada em Montagem pela Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) no ano de 2012. Do seu percurso pela ESTC destacase a sua participação como Montadora da curta-metragem Ekaterina e O Quarto do Pai; Assistente de Realização na curta-metragem Do Mundo; Diretora de Produção da curtametragem Dois Irmãos e ainda Assistente de Produção nas curtas-metragens Lugar do Tempo e Porto de Abrigo. Regina Guimarães, aka Corbe, nasceu no Porto, em 1957. A par dos seus poemas, publicados em raras edições de natureza confidencial, tem desenvolvido trabalho nas áreas do Teatro, da Tradução, da Canção, da Dramaturgia, da Educação pela Arte, da Crítica, do Vídeo, do Argumento, da Produção. É membro da Associação Os Filhos de Lumière, programadora do ciclo permanente O Sabor do Cinema no Museu de Serralves. É cofundadora do Centro Mário Dionísio - Casa da Achada. Realizou inúmeras experiências em torno da palavra dita e cantada. Tem orientado oficinas de escrita e de iniciação ao cinema. Tem realizado uma extensa obra videográfica sob a forma de «Cadernos», que já foi alvo de algumas retrospetivas. Aspira a estar em todo o lugar onde haja uma luta justa a travar. Vive e trabalha com Saguenail desde 1975. Hélastre é o signo da sua obra comum. A Fábrica Mariana Bártolo Mariana Bártolo nasceu em 1987, no Porto. Licenciada em Dança pela Escola Superior de Dança, Instituto Politécnico de Lisboa (2005/2008). Frequentou o Programa de Estudo Pesquisa e Criação Coreográfica (PEPCC) promovido pelo Fórum Dança em Lisboa. É membro fundador do Cineclube da Maia, Porto, onde trabalha desde 2009. Trabalha como performer e criadora desenvolvendo trabalho nas áreas de fotografia, vídeo, desenho e dança, dos quais destaca As coisas surgem mesmo Who’s who (1988); As visões da santa (1989); Roda (1990); Casa-mãe, natureza morta (1990); Pedra de canto I e II (1990); Múmia (1991); O pequeno amor (1991); O mês de acção de graças 121 Amanhecer a Andar Sílvia Firmino (1991); Desordens (1992); Veneris (1992); Para os 10 anos do Fio da Ariana (1993); Marginália (150’, 1998), O Nosso Caso (63’, 2002), Dentro (244’, 2001), Terra de Cegos (69’, 2005), Meu Deus (58’, 2005), entre outros. Sílvia Firmino tem um grau em Literatura Moderna na Universidade Nova de Lisboa, uma pós-graduação em Documentário de Universidade Lusófona de Lisboa e um M.A. em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, do ISCTE. É professora e realizou vários documentários e vídeo-instalações exibidos em festivais internacionais e na RTP. A Rapariga do Cabelo Vermelho Catherine Boutaud Catherine Boutaud nasceu em 1986. Após uns estudos em Artes Aplicadas em Nantes (França), estudou Cinema no Ar.Co em Lisboa. Colaborou em vários projetos plásticos e cinematográficos: o projeto de intervenção urbana DOM / As portas azuis em Lisboa e Tarragona, co-montou o documentário A Festa dos Rapazes (2010) de Pierre Primetens, co-realizou o workshop Família daqui e dacolá com jovens de Lisboa e de São Paulo com Pierre Primetens, foi assistente de realização no documentário Esta melodia que vem de longe, de Miguel Moraes Cabral (em montagem). Em 2012, realiza a sua primeira curta-metragem A rapariga de cabelo vermelho. Esta atualmente a preparar a sua segunda curta-metragem documental À toi, ma soeur. Queria Ser (55’, 2008) – Melhor Primeira Obra Doclisboa 2008; Gosto de ti como és (doc. 57’, 2005) – Melhor Filme, Encenação e Produçãos no Mediterranean Country Sardinia International Ethnographic Film Festival. O inimigo está entre nós (27’, 1999); Céu Aberto (58’, 1997); I Have a Dream (45’, 1998); Dois Mundos (52’, 1999); Outubro (62’, 2001); Fernando Lopez-Graça (50’, 2006); Laura (60’, 2006); Logo Existo (52’, 2006); Achubertiade (2007); A Catedral (50’, 2008); A Casa e a Cidade (30’, 2010); Angst (55’, 2010) (19 Curtas Vila do Conde 2011). Anquanto La Lhéngua Fur Cantada João Botelho A Rua da Estrada Graça Castanheira Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Dirigente do CITAC. Cineclubes de Coimbra e Porto. Professor na Escola Técnica de Matosinhos. Ilustrador de livros infantis e artes gráficas a partir de 1970. Escola de Cinema do Conservatório Nacional. Crítico de cinema em jornais e revistas. Funda a revista de cinema M. Filmes premiados nos festivais de Figueira da Foz, Antuérpia, Rio de Janeiro, Veneza, Berlim, Salsomaggiore, Pesaro, Belfort, Cartagena, etc. João Botelho é um dos cineastas mais influente do cinema português e, ao longo da sua carreira, nunca deixou de fazer documentário. Graça Castanheira nasceu em Angola em 1962, é uma cineasta portuguesa da área do documentário. Formou-se em Cinema em 1989 na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde é atualmente professora de Cinema Documental e de Práticas de Realização. Foi distinguida no festival DocLisboa 2006 com uma menção honrosa para Melhor Documentário com Logo Existo. Faz parte do grupo fundador da Apordoc – Associação pelo Documentário. Abandonados Júlio Pereira Abandonados é a sua primeira obra. Os Bonecos de Santo Aleixo (1977), Se a Memória Existe (30’, 1999), A Luz na Ria Formosa (50’, 2005), A Baleia Branca, Uma Ideia de Deus (50’, 2006), A Terra Antes do Céu (50’, 122 2007), Para que o Este Mundo Não Acabe (53’, 2009); Oh Lisboa, Meu Lar (23’, 2010), O Bravo som dos Tambores (20’, 2012), entre outros. da Universidade Lusófona. Depois de realizar As Coisas dos Outros, uma curta-metragem documental, inicia estágio na produtora JumpCut onde trabalhou no ficdoc Nada tenho de Meu. Aqui Tem Gente Leonor Areal As Partes e o Todo Levi Martins Leonor Areal teve aos 8 anos um prémio literário com o qual comprou uma bicicleta e a primeira máquina fotográfica. Depois de um curso de literatura, passou a dedicar-se ao vídeo. Com Há Drama na Escola (1993) ganhou uma bolsa de estudo na New York Film Academy. Realizou diversos documentários, entre os quais Doutor Estranho Amor (2005), Ópera Aberta (2005) e Fora da Lei (2006), que obteve uma menção especial no festival DocLisboa 2006 e foi editado em DVD (Midas, 2009). Publicou em 2011 a sua tese de doutoramento Cinema Português – Um País Imaginado (Ed. 70). Levi Martins, nasceu em Lisboa, 1983. É licenciado em Cinema, ramo de realização, pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Frequenta o Mestrado em Estudos de Teatro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Desde 2010 que se dedica ao trabalho em cinema e televisão, com destaque para o trabalho em assistência de realização, montagem e som na série O Tempo e o Modo (2011/2012), de Graça Castanheira. Durante o ano de 2011 é bolseiro FCT no projeto de investigação Principais Tendências no Cinema Português, no âmbito do qual realizou A Constante, primeiro segmento do documentário coletivo Um Filme Português, com estreia no IX DOCLISBOA. Anteriormente tinha já realizado alguns filmes curriculares na ESTC, como Só Tenho o que dei, Fora de Tempo e Um Ser Literário. Aqui tem gente (81’, 2013); Fora da Lei (82’, 2006); A Guerra no Iraque (25’, 2004); O Coro (18’, 2003) Ilusíada - A minha vida dava um filme (135’/3x58’, 2002); Geração Feliz (60’/90’, 1999); The End (9’, 1999); Há Drama na Escola (26’, 1993) - Prémio nos V Encontros Internacionais de Cinema Documental Amascultura 1994; Da Terra à Pedra (26’, 1991). Até ao Outro Lado do Arco-Íris André Agostinho As Coisas dos Outros Alexandra Côrte-Real O Princípio do Fim (Ficção, 2012); Até ao Outro Lado do Arco-Íris (Documentário, 2012); Memórias em (Des)Construção (Documentário/ Experimental, 2012); A Tua Última Morada (Ficção, 2010); (O meu) Outro Mundo (Documentário, 2010). Alexandra Côrte-Real de Almeida entra na Escola Superior de Teatro e Cinema em 2010. Antes disso tinha frequentado um curso complementar de Teatro Musical de três anos certificado pela Mountview Academy Of Theatre Arts na Academia de Vilar do Paraíso, onde fez musicais como Chicago, Aladdin Jr., Caos, entre outros. Produz a curta-metragem Uma Manhã, de Paulo Dinis e monta Fechado, de Ana Mariz nesse mesmo ano letivo e, no seguinte, realiza A Sorte Protege os Audazes. No ano letivo seguinte, ainda no âmbito da ESTC realiza o filme O Rapaz do Piano. Um pouco mais tarde, realiza e monta um spot publicitário para a apresentação de um projeto feito no âmbito do Mestrado em Psicologia Aux Bains de la Reine Maya Kosa, Sérgio da Costa Maya Kosa nasceu em Genebra. Estudou Cinema na Head-Genève. Realizou L’ingénieur et le prothésiste (21’, 2010). Sérgio da Costa nasceu em Lausanne. Estudou Cinema na Head-Genève. Realizou Snack-bar Aquário (37’, 2010). 123 Bafatá Filme Clube Silas Tiny Cinemática é o primeiro filme de Rui Falcão. Bafatá Filme Clube é o seu primeiro filme. Cinemática é o primeiro filme de Harro Rannamets. Chã de Cricket Pedro Faria Cinzas, Ensaio sobre o Fogo Pedro Flores Pedro Faria é formado em Arquitetura pela Universidade de Coimbra e em Artes Visuais pela Glasgow School of Art, frequentou em 2006 o curso de Artes Visuais da Fundação Calouste Gulbenkian. Desde então o seu trabalho tem vindo a ser apresentado em diversos contextos, como a Transmission Gallery (Glasgow, 2007), o Stereo Space (Glasgow, 2008 e 2010), o Stam Museum (Gent, 2010), a Magyar Muhely Galeria (Budapeste, 2011), o Atelier Concorde (Lisboa, 2012) e, mais recentemente, a Galeria Quadrum (Lisboa), onde expôs em Abril de 2013. No campo das artes performativas destaca a colaboração com Vera Sofia Mota e Isabel Simões (Marz Galeria, Lisboa, 2010) e Karenina de los Santos e Márcia Lança (Alkantara Festival, Lisboa, 2010). A vontade de operar em espaços independentes de criação e difusão fê-lo colaborar com os ateliers coletivos SWG3 (Glasgow) e 7.Stock (Dresden). Em Janeiro de 2010 fundou com outros artistas o Atelier Concorde, espaço sediado em Lisboa e dedicado à produção e apresentação das artes visuais. Pedro Flores trabalha como realizador e guionista. Estudou Cinema na London Film School e é coeditor da revista Drama. A sua primeira curta-metragem Listening to the Silences foi premiada em vários festivais internacionais e teve estreia mundial no 17º Curtas Vila do Conde. Nos últimos meses desenvolveu um documentário na região do Gerês para o projeto Estaleiro. Vazante (Ficção, 11’25’’, 2012, Portugal); Listening to the Silences (Documentário, 11’20’’, 2009, Reino Unido). Cossé, 16h Gil Ramos Gil Ramos é um artista baseado em Vila do Conde. Nascido em 1977, desde cedo começou a trabalhar em vídeo e fotografia. Licenciado em Ciências da Comunicação, colaborou em diversos documentários como assistente de realização, camaraman, editor e fotógrafo. Viajante, músico e fotógrafo partiu para a Guiné-Bissau em busca de locais onde o seu pai tinha estado durante a década de 1970. Cossé, 16h é o seu primeiro filme. Cinemática João Costa, Rui Falcão, Harro Rannamets João Costa nasceu na Ilha da Madeira no mesmo ano em que o Muro de Berlim foi abaixo. Aprendeu a nadar aos 7 anos e tentou vários desportos até os 15, todos com o mesmo sucesso, nenhum. Aos 18 anos mudou-se para o Porto. Licenciou-se num curso por engano, e frequenta agora um Mestrado em Realização. Aprecia bastantes imagens em movimento e tenta recriá-las à sua maneira, com a máquina e com a cabeça, só que as recriadas com a mente são em formato memográfico, e como tal, impossíveis de divulgar. Des-construindo - Parte de mim Patrícia Louro, Micol Pecoraro, Manewa Gutiérrez Cornejo, Mercè Salom Parés, Ingrid de la Torre Patrícia Louro nasceu em Portugal, em 1980. É formada em Tradução pela Faculdade de Letras de Lisboa. Des-construindo - parte de mim é o seu primeiro documentário, realizado no âmbito do workshop de Documentário Criativo de Belkis Vega. Atualmente vive em Barcelona, trabalha como tradutora freelancer, e prepara o seu segundo documentário. 124 Mercè Salom Parés nasceu em Barcelona, onde estudou Belas-Artes e Realização Cinematográfica. Realizou uma curta-metragem em 16mm, Pomme de terre, e em realização coletiva o documentário Des-construindo - parte de mim. Atualmente, move-se entre projetos cinematográficos de vários tipos (animação, documentário) entre Barcelona e Berlim. É membro fundador de Malserioza Films. - parte de mim. Atualmente trabalha como correspondente para um jornal argentino, estuda Antropologia Social na UNED, e prepara o seu segundo documentário sobre os movimentos sociais em Barcelona. Domingo à tarde Cristina Ferreira Gomes Mulheres ao Mar (2000); Carta de Chamada (2004); Menina Limpa Menina Suja (2011); Domingo à Tarde (2012); Laurinha (2012). Micol Pecoraro nasceu em Roma, em 1988. Estudou na Escola de Cinema e Televisão Roberto Rossellini, onde se especializou em gravações audiovisuais. Em 2010 participou num projeto de solidariedade nos campos políticos de refugiados Sarauí onde co-realizou 2 documentários. Nesse mesmo ano viajou pela América Central, e realizou o documentário El cambio, la masacre de bocas del toro, acerca dos conflitos que encontrou no Panamá. Em 2011 co-realiza para o canal italiano RAI um documentário acerca dos problemas da universidade de Roma na sequência dos cortes feitos pelo governo. Em 2012, participa no workshop de Documentário Criativa de Belkis Veja, no âmbito do qual co-realiza o documentário Des-construindo - parte de mim. Atualmente vive em Bogotá, onde se encontra a preparar um documentário sobre a situação dos camponeses. Em Honra de São Gualter Rui Simões Rui Simões estudou Realização para Cinema e Televisão no I.A.D. - Institut des Arts de Diffusion, em Bruxelas. Inicia uma relação profissional com o cinema na Bélgica, como fotógrafo de cena. Mais tarde, em 1974 e em Portugal, começa a sua atividade cinematográfica, realizando duas longas e três curtas-metragens documentais sobre a realidade portuguesa da altura. Desde 1982 que realiza inúmeros trabalhos, a maioria de cariz documentário, desenvolvendo também obras dedicadas às artes (pintura, dança, teatro, arquitetura, música, etc). Guerra ou Paz (Documentário, 97’, 2012); Kolá San Jon é Festa di Kau Berdi (Documentário, 60’, 2011, Portugal); E Ainda a Procissão vai no Adro... (Documentário, 30’, 2011); Ilha da Cova da Moura (Documentário, 81’, 2010, Portugal); Ruas da Amargura (Documentário, 108’, 2008, Portugal); Ensaio Sobre o Teatro (Documentário, 90’, 2006); Os Meus Espelhos (Ficção, 34’, 2004); Se Podes Olhar Vê Se Podes Ver Repara (Documentário, 40’, 2004); Teatro de Sonhos (Documentário, 50’, 2003); Um Desejo de Céu (Documentário, 16’, 2001); Madrugadas (24’, 1999); Namasté (Documentário, 15’, 1998); Rickshaw (Documentário, 15’, 1998); Trilhos (Documentário, 40’, 1994); Júlio Pomar (Documentário, 52’, 1991); Bom Povo Português (Documentário, 135’, 1980); São Pedro da Cova (3X15’, 1976); Deus Pátria Autoridade (Documentário, 105’, 1976); entre outros filmes. Notas del desierto (documentário, 2009); El cambio, la masacre de bocas del toro (documentário, 2010); Jamas (documentário, 2011); In umane facoltà (documentário, 2011); Des-construindo - parte de mim (documentário, 2012). Ingrid de la Torre é uma ativista social hispano-argentina, que vive em Barcelona há uma década, estando profundamente ativa e envolvida nos movimentos sociais da cidade. Trabalhou como educadora social com famílias de distintas origens e crenças no bairro do Raval, onde também dinamizou oficinas de género e debates com adolescentes. Em 2012, participa no workshop de Documentário Criativa de Belkis Veja, no âmbito do qual co-realiza o documentário Des-construindo 125 Entrado Paula Preto Johnson Nuno Cibrão Reservado | Reserved (2008); Entrado (2013). Johnson é sua primeira obra. Faixa Negra Cristóvão Peças Learning from Macau #1_#2 José Maçãs de Carvalho Cristóvão Coelho Peças tem 20 anos, a sua área de preferência é edição, color grading e camara man, já fez vários tipos de trabalho desde curtas-metragens, documentários, videoclips, entre outros. Realizou uma curta-metragem chamada DOC que entrou em 2010 no Festival 8 e Meio, no Prémio Zon, foi eleita curta da semana no blog de cinema Portal Cinema, e em 2011 esteve no Festival Arte Institute, passando em Nova Iorque e no Rio de Janeiro. Em 2012 realizou o documentário Faixa Negra, que passou na segunda edição do Festival Arte Institute, mais uma vez em Nova Iorque. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas – U. de Coimbra; Pós-Graduação em Gestão de Artes - Inst. de Estudos Europeus de Macau; Doutorando em Arte Contemporânea - Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Professor no Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra. Artista Plástico. 2012 – Motel Coimbra, G. do Colégio das Artes, Universidade de Coimbra.(vídeo); 2011 – When a painting moves...something must be rotten!, Stenersen Museum, Oslo, Noruega, (vídeo); Trama e Emoção – Manuel Vicente, Museu do Oriente, Lisboa, Galeria do Colégio das Artes, Coimbra e Faculdade de Arquitectura da Univ. do Porto. (video); A Culpa não é minha – Col- A. Cachola, CCB- Museu Berardo. (video). 2010 – A arte é a melhor forma de compreender o mundo, BES Arte e Finança, Lisboa. (video); Mono, CAPC, Coimbra. (video); Cine de barrio / Home Cinema, Festival Las Veladas de Santa Lucia, Maracaibo, Venezuela. (video); Play them, VPF Cream Art, Lisboa (com Luís Alegre e António Olaio). (video); When a painting moves...something must be rotten!, Centro Colombo Americano, Bogotá, Colombia.(video); Portuguese Shorts: Films on Water, Asociácia ZdruÏení pre Súãasnú Kultúru, Bratislava, Eslováquia. (vídeo); Vídeo killed the painting stars, FUSO, Festival Internacional de Video, Lux-Frágil, Lisboa. 2008 – Market Screenings, Festival de Curtas Metragens de Oberhausen, Alemanha. (vídeo); Turn me on, Centro Hospitalar Psiquiátrico, Lisboa. (video). 2007 – Ollinkan Festival, Cidade do México. (vídeo); Lisboa, Luanda, Maputo, Cordoaria, Lisboa. (vídeo); 25 frames por segundo, vídeos da colecção PLMJ, Teatro S. Jorge, Lisboa. (vídeo); Transnatural, Museu Botânico, Universidade de Coimbra. (vídeo). 2006 – Rencontres Internationales Paris/Berlin, Fome e Fartura Filomena Carvalho Sousa Fome e Fartura (Porto: Memória Imaterial/IELT. 12’, 2012); As vozes do Cordel (Porto: Memória Imaterial/IELT. 18’, 2011); Contos, cantos e que mais…, o concelho de Alenquer (Porto: Memória Imaterial/IELT. 41’, 2011); A festa dos Velhos em Bruçó – Concelho de Mogadouro (Porto: Memória Imaterial/IELT. 41’, 2011); Contos, cantos e que mais…, o concelho de Beja (Porto: Memória Imaterial/IELT. 30’, 2010); Contos, cantos e que mais…, o concelho de Esposende (Porto: Memória Imaterial/IELT. 28’, 20120); Contos, cantos e que mais…, o concelho de Torres Vedras (Porto: Memória Imaterial/IELT. 38’, 2010); Portalegre - Grupo de Cantares de Portalegre (Porto: Memória Imaterial/IELT/ Fundação Robinson, 2010). Herberto Bruno Sousa Zero Erótico (2009), vencedor do Restart Videorun 09; Sick Tooth (2010) 126 No Green No Blue Marta Alvim Cinematheque Française de Paris. (vídeo); Catódica: International Videoart review, Trieste. (vídeo); Portuguese Screen . Videoart Showcase, Museu do Chiado, Lisboa. (vídeo); Cologne International Videoart Festival. Alemanha, Busho-Budapest International Shortfilm Festival. Roménia. Fine Art Film Festival, Hungria. ExTeresa Arte Actual, México. Galeria 9the13. Espanha. Manifestação Carlos Godinho Carlos Godinho realizou o filme Manifestação. Noite de Festa Tiago P. de Carvalho Monsantempo Tarek Raffoul Tiago P. de Carvalho nasceu em Lisboa, fez o secundário na Escola Artística António Arroio no departamento de Cine-Vídeo. Fez o Bacharelato em Produção no Conservatório e interrompeu os estudos para realizar os primeiros videoclips e a sua primeira curtametragem, A Lei dos Outros – estreada no New York Film Festival e selecionada em inúmeros festivais internacionais e nacionais. Estreou mais tarde na Sic Radical onde foi Top de Audiências (quase 1 milhão de Portugueses). Licenciou-se em Realização na Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro. De volta a Portugal reintegrou o percurso dos videoclips e realizou a sua segunda curta, The Way of the Sword. Na mesma altura tirou a segunda licenciatura, desta vez em Argumento na Escola Superior de Teatro e Cinema. Realizou a sua primeira publicidade em 2010 e ganhou a Menção Honrosa em Milão. Foi realizador no Canal Q dos programas de ficção Melancómico e Caça ao Cómico, e realizou ainda em 2011/12 o documentário Noite de Festa, acerca da relação dos adolescentes dos anos 80 com a música, na Ilha de S. Miguel. Em 2012 realizou a publicidade Carteira da Rivalidade para a CocaCola e a sua primeira longa-metragem, Nirvana, que estreará no Outono de 2013. Foi convidado para co-realizar a longa internacional produzida pelo projeto Norte-Americano Collabfeature, que estreará no final de 2013. Tarek Raffoul é um estudante Erasmus a estudar Documentário. Montemor Ignasi Duarte Ignasi Duarte nasceu em Barcelona em 1976. Abandonou o curso de Filosofia na Universitat Autònoma de Barcelona. Em 1996, constitui o Museu Nacional de Arte Portátil (MNAP), com outros dois colaboradores. Paralelamente participa como artista plástico em diversas exposições coletivas (QUAM-Free Zone, Fundació Joan Miró/ Espai 13, Galeria dels Àngels, Visions de Futur 2000/ La Capella…) e inicia a colaboração com Antoni Miralda no projeto Food Cultura Museum. No final de 2003, inicia uma relação profissional com o dramaturgo Roger Bernat, com quem realizará os espetáculos LA LA LA LA LA (2003-04), Amnèsia de fuga (2004), Tot és perfecte (2005), assim como as quatro performances que configuram a série Rimuski (2006). Como dramaturgo também associa-se, entre outros projetos, na criação, em parceria com Juan Navarro, do espetáculo Fiestas Populares (2005). A experiência no teatro é, fundamentalmente, o que o leva a realizar a sua primeira longametragem, Montemor (2012). Atualmente, trabalha na elaboração de uma teoria discreta sobre o Teatro Automático, a sua primeira aproximação cénica chama-se Conversaciones Fictícias. Montemor foi a sua primeira longametragem, que teve estreia mundial no FIDMarseille 2012. O Dormitório Vanessa Fernandes Vanessa Fernandes trabalha em televisão como autora, guionista e realizadora. Em 2010 rumou 127 a Cuba para fazer formação em Realização de Cinema Documental e foi lá que realizou No te metas!. Um ano depois fez a curta-metragem documental O Dormitório e, atualmente, tem dois projetos em fase de pesquisa e préprodução. Entre Imagem. O filme O Sabor do Leite Creme (74’, 2012) foi selecionado no DocLisboa 2012. Rossana Torres estudou Artes Visuais e Cinema em Lisboa. Vive e trabalha em Mértola, no ensino técnico e artístico. Em 2009, em conjunto com Hiroatsu Suzuki, realizou o filme Cordão Verde (33’, 2009), foi apresentado nos Festivais de Locarno, de Toronto, de Buenos Aires, Viennale, entre outros. Formou a associação de desenvolvimento de pesquisa cultural e artística Entre Imagem. O filme O Sabor do Leite Creme (74’, 2012) foi selecionado no DocLisboa 2012. O Fantasma do Novais Margarida Gil Margarida Gil é uma realizadora e argumentista portuguesa de cinema e televisão. Nascida em 1950 na Covilhã, licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Trabalhou como assistente de João César Monteiro e atriz em alguns dos seus filmes. Iniciou a sua longa ligação à RTP em 1975 como realizadora de documentários e programas variados sobre música, cinema, talk-shows, cobertura direta de espetáculos, etc. Em 1987 realizou a sua primeira longa-metragem Relação Fiel e Verdadeira, apresentado no Festival de Veneza, e desde aí seguiram-se inúmeras longas e médias metragens e documentários, dos quais se destacam Adriana, O Anjo da Guarda, Sobre o Lado Esquerdo (documentário sobre Carlos de Oliveira) e Flores Amargas. Os seus filmes estiveram presentes em festivais como Roma, Locarno, Nova Iorque, Leipzig, Santa Maria da Feira, IndieLisboa ou DocLisboa. Foi docente da Universidade Nova de Lisboa, júri em diferentes festivais, coordenadora de programas escolares do Ministério da Educação e é desde 2009 Presidente da Associação Portuguesa de Realizadores. O Sortudo Zimu Zhang Zimu Zhang começou a estudar Documentário na Universidade em Pequim. Com o seu primeiro curto documentário multimédia ganhou o Prêmio Ouro de Guangzhou International Documentary Festival. Neste momento encontra-se a estudar Documentário no programa de mestrado filme DocNomads programa Erasmus Mundus. Outras Cartas ou o Amor Inventado Leonor Noivo Leonor Noivo nasceu em 1976. Estudou Fotografia e Arquitetura antes de ingressar na Escola Superior de Teatro e Cinema onde se especializou em Montagem e Realização. Frequentou, em 2006, o curso de Realização de Documentário dos Ateliers Varan na Fundação Calouste Gulbenkian. Atualmente termina o Mestrado em Projeto Cinematográfico na ESTC. Desde 1999 faz anotação e assistência de realização em filmes de ficção e em documentários, tendo trabalhado com João Botelho, José Nascimento, João Pedro Rodrigues, Pedro Caldas, João Figueiras, João Dias, Christine Reeh, Jeanne Waltz, João Nicolau, Inês Oliveira, entre outros. Integra a produtora Terratreme desde a sua fundação em 2009. O Sabor do Leite Creme Hiroatsu Suzuki, Rossana Torres Hiroatsu Suzukin nasceu em Kyoto em 1970. Cineasta autodidata e Artista Visual. Viu o filme O Quarto de Vanda, e decidiu viajar até Portugal. Conheceu Rossana Torres e com ela realizou o filme Cordão Verde (33’, 2009), apresentado no Festival Internacional de Locarno, de Toronto, de Buenos Aires, Viennale, entre outros. Formou a associação de desenvolvimento de pesquisa cultural e artística Santos dos Últimos Dias (doc. 55’, Terratreme Filmes, 2009); Escola Básica 26 (doc. 50’, RTP 128 Que Ânsia Distante Perto Chora? Ana Costa, Henrique Prudêncio, Sara Santos + V. Carvalho, 2009); G50 (doc. 80’, Fundação. Gulbenkian, 2008); Excursão (doc. 24’, Nave sales Terratreme Filmes, 2007) - Prémio melhor curta-metragem portuguesa no IndieLisboa 2007/ Menção honrosa Onda-Curta IndieLisboa 2007; Aeroporto (instalação 3’ loop, F.C. Gulbenkian, 2007); Assembleia (doc. 26’, Ateliers Varan Paris + F.C. Gulbenkian); Salitre (doc. 13’, Luz e Sombra, 2005) - Prémio melhor curtametragem portuguesa Festival de Ourense 2006 / Prémio melhor montagem Festival de Ovar 2005; Macau Aparte (doc. 35’, ESTC + Visons, 2001). Ana Costa ingressou na Escola Secundária de Domingos Sequeira, em Leiria, na área de Artes Visuais. Recebeu uma menção honrosa num concurso de desenho organizado pela Escola, tendo sido recompensada com a exposição do seu desenho numa tela de 2x2 metros que ainda hoje se encontra na Escola. Está a estudar Vídeo e Cinema Documental na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Mais recentemente tornou-se membro do grupo “Produções Sem Nome”. Paisagens de Papel André Pisca, Pedro Almeida Que Ânsia Distante Perto Chora? (CoRealização, Fotografia, Edição, Produção, 2012); Não-Filme (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2012). Pedro Almeida realizou Esquecidos (2011); Porque tu Respiras (2012); Paisagens de Papel (2012). André Pisca realizou a sua primeira obra, Paisagens de Papel (2012). Henrique Prudêncio, depois de passar a sua infância em Faro, foi para Cascais para estudar Teatro na Escola Profissional de Teatro de Cascais concluindo a sua formação em 2010. Está a tirar a licenciatura de Vídeo e Cinema Documental na Escola Profissional Superior de Abrantes. Em 2011 ganhou o prémio “Jovem Realizador” no concurso Fundação Inatel com a curta-metragem Adeus Amor. Foi vice-Presidente da Associação Pela Arte Experimental – VASTAPLATEIA, com a qual realizou a primeira edição do INDEX – Festival de Cinema e Experimentação. Fundou o grupo: “Produções Sem Nome”. PDL-LIS (Ponta Delgada – Lisboa) Diogo Lima Diogo Lima nasceu em 1993 na ilha de São Miguel, nos Açores e desde cedo viu o seu principal interesse nas artes. Começou no teatro amador com o grupo Teatrolândia aos 10 anos onde teve formações com Pedro Penim, o realizador brasileiro Amauri Tangará entre outros. Em 2009 fundou o projeto Blog/podcasting Edição Limitada, no qual desempenha funções de editor até hoje. Colaborou esporadicamente com a Antena 3 nos Açores desde 2010 e é também colaborador da webzine planetaplutão.net. Foi convidado a participar no documentário Sonhar aos Dezoito de Anabela Saint-Maurice para a série da RTP Para Além de Nós e vive atualmente em Lisboa, onde frequenta o terceiro ano do curso de Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e dá os primeiros passos na sétima arte. Os Que Nada Fazem (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2011); Adeus Amor (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2011); Que Ânsia Distante Perto Chora? (Co-Realização, Fotografia, Edição, Produção, 2012); A Fuga (Realização, Edição, Produção, 2012); Não-Filme, de Ana Costa (Produção, 2012); O Começo da Vida, de Sara Santos (Produção, 2012); Nada/Tudo (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2012). Neste momento em produção Praxes, de Ricardo Vargues (Assistente de Realização, Assistente de Imagem, Edição). 129 Sara Santos, com experiência em música clássica, estudou no Centro de Cultura Musical Santo Tirso. Atualmente está a tirar a licenciatura no curso de Vídeo e Cinema Documental da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Integra o grupo “Produções Sem Nome”. Corpus Christi...). Em 2004, criou o projeto Olhares Nómadas, que, em colaboração com ONG’s, já foi desenvolvido com jovens “em risco” de Heliópolis (favela em São Paulo), com prostitutas (Lisboa), com os artistas da rua Augusta, numa aldeia Gnawa (Khamlia) no Saara, com a FIA (Formação Intensiva do CEM), em bairros africanos da periferia de Lisboa em fase de demolição (Quinta da serra, Fim do Mundo) e na Ásia (Japão, Índia). Realização, Fotografia, Edição e Performer nas VídeoPerfomances / Vídeo_Arte / Documentários. Retrato Soraia Afonso (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2011); Metamorfoses (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2011); Visão Que Se Não Vê (Realização, Fotografia, Argumento, Edição, Produção, 2011); Que Ânsia Distante Perto Chora? (Co-Realização, Fotografia, Edição, Produção, 2012); O Começo da Vida, de Sara Santos (Co-Realização, Fotografia, Edição, Produção, 2012). 2004 – Salvar o planeta e comer cozido à portuguesa; 2005 – Ama zone, Sem Tech; 2006 Tento esquecer … mas todos os dias me lembro; 2007 – O, Abandonadas, Dona Augusta, Corpus Nomadix; 2008 - Nomad Roots; 2009 – No hia ma (to meet you) 2010 - Sarkha kho sim po (Cracks of silence), Em-rolamentos, O terceiro olhar. Quero-vos, Respeito-vos, Preciso de Vocês (15M DE DENTRO) Alex Campos García Reconversão Thom Andersen Alex Campos García nasceu em Madrid, onde participa no movimento social de ocupação, vivendo em casas abandonadas e reciclando espaços para criar centros sociais para o bairro, Lavapiés. Viajou até à Índia, Nepal, Tibete, China e Paquistão por um ano, dedicando-se à fotografia a preto e branco. Veio para Lisboa e estudou na Maumaus (Escola de Artes Visuais) e no CEM-Centro Em Movimento (Centro Multidisciplinar de Artes). No CEM torna-se responsável pela área da imagem, filmando os eventos, como designer gráfico, orientador da FIA (Formação Intensiva Acompanhada) e criador audiovisual. Fez cursos em direção de documentário, guionismo para Cinema e TV, novas tecnologias, vídeo-dança, vídeoedição, antropologia, antropologia visual, filme etnográfico... No seu percurso destaca-se os trabalhos realizados com Ainhoa Vidal, Sofia Neuparth, Madalena Vitorino, Max Rosenheim, Amélia Bentes, Marina Navais. Participou no Festival socio-artístico Pedras d’água, nas edições 2006, 2007 e 2008, com o projeto Olhares Nómadas, apresentando documentários em diferentes espaços de Lisboa (Hospital Miguel Bombarda, Cinema São Jorge, Convento Thom Andersen viveu em Los Angeles a maior parte da sua vida. Em 1974, terminou Eadweard Muybridge, Zoopraxographer, um documentário de uma hora a partir do trabalho fotográfico de Muybridge. Em 1995, com Noel Burch, faz Red Hollywood, um filme sobre o trabalho audiovisual criado pelas vítimas da Blacklist de Hollywood. Em 2003, realiza Los Angeles Plays Itself, um vídeo-ensaio sobre a representação de Los Angeles no cinema. Em 2010, realizou também Get Out of the Car, sobre a arqueologia visual da cidade. Andersen ensina cinema no California Institute of the Arts desde 1987. Reconversão (67’, 2012); Get Out of the Car (34’, 2010); Los Angeles Plays Itself (169’, 2003); Red Hollywood (118’, 1996); Eadweard Muybridge, Zoopraxographer (58’, 1974); Olivia’s Place (6’, 1966/74); Aka Short-Line, Long-Line (11’, 1965–66); Melting (6’, 1965). 130 Rhoma Acans Leonor Teles Sem Anos Lino de Oliveira, Marta Tavares Leonor Teles nasceu em Vila Franca de Xira, a 28 de Abril de 1992, no seio de uma família com raízes na comunidade cigana local. Depois de concluir os seus estudos na cidade, na Escola Secundária Prof. Reynaldo dos Santos, ingressou em 2010 na Licenciatura em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa. Ao longo do seu percurso académico, nas áreas de especialização de Imagem e Realização, teve já a oportunidade de desempenhar tarefas enquanto chefe de produção (Chapeau, 2011), operadora de câmara (O Rapaz do Piano, 2012), chefe maquinista (Quadrado de Amor Bizarro, 2011 e Brinca com o Fogo, 2012) e diretora de fotografia (Imaginatarium, 2011 e As Coisas dos Outros, 2012). Rhoma Acans é o seu segundo projeto enquanto realizadora, depois de 735, em 2011. Para além dos projetos curriculares, teve ainda a oportunidade de desempenhar a função de Diretora de Fotografia em projetos como Vibratum Vitae (em exibição no festival Queer Lisboa 2011) ou Full House (no âmbito do 48 hours film project 2011) ou ainda enquanto assistente de som na curta-metragem O Tempo e as Bruxas, realizada pelo Maestro António Vitorino d’Almeida. Projetos curriculares na área de videoclip, ficção, entretenimento e documentário. Sobre Viver Cláudia Alves Cláudia Alves nasceu a 1980, em Lisboa, formou-se em realização de documentários na Escola Internacional de Cinema de San António de Los Baños (Cuba), fundada por García Márquez e outros prestigiosos intelectuais latino-americanos. O percurso de Cláudia Alves começou nas artes plásticas. Estudou Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa e complementou os seus estudos em Artes Visuais na Academia de Belas Artes de Brera, em Milão. Em 2004 recebeu uma bolsa de investigação no departamento de arte pública da Universidade de Barcelona. Desde então o seu trabalho enveredou pela vídeo-arte e pelo cinema documental. Em 2005 realizou o curso de Realização de Documentário da Videoteca de Lisboa, coordenado pela realizadora Margarida Cardoso, e nesse mesmo ano realizou o seu primeiro documentário: A Ocasião, co-dirigido com Rita Brás. A Ocasião Seguinte (2008), produzido pela Filmes do Tejo II e Domínio Privado (2009) da série Ar do Tempo, produzido pela Valentim de Carvalho Filmes, foram emitidos pela RTP2. Cláudia Alves participou como realizadora e diretora de fotografia na série documental Ser un Ser Humano (2011), projeto desenvolvido pela Organização Mundial de Escolas de Cinema (CILECT) com o apoio da UNESCO e Ibermedia. Durante a sua estadia de 3 anos em Cuba realizou várias curtasmetragens, com trajetória em diversos festivais e mostras internacionais. O seu novo filme Hand Baggage, filmado na Índia e Portugal, encontrase atualmente em etapa de pós-produção. Santa Maria dos Olivais Susanne Malorny Susanne Malorny tem um M.A. em Media Studies na Universidade de Artes de Braunschweig e na Universidade de Tecnologia na Alemanha. Frequenta neste momento o Mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, com especialização em Dramaturgia e Realização. Desde 2009 que integra a equipa permanente da produtora C.R.I.M., onde trabalha como assistente de produção e de realização. Teles José Magro Seems So Long Ago, Nancy Tatiana Macedo José Magro é licenciado em Som e Imagem, pela Universidade Católica Portuguesa (2012). Seems So Long Ago, Nancy (45’, 2012) 131 Trabalha na área do cinema e audiovisual. No contexto do projeto Artes Plásticas e Cinema do Festival de Cinema Fantasporto, co-realizou o documentário Zulmiro de Carvalho, exibido no canal 180 da Zon, no Panorama - Mostra de Documentário Português e no Fantasporto. Em 2012 realizou o documentário Teles, selecionado para o Doclisboa e o International Student Film & Video Festival Beijing. Participou, em 2012, no âmbito do projeto Estaleiro do Festival Curtas de Vila do Conde, foi diretor fotográfico dos filmes Um Rio Chamado Ave, de Luís Alves de Matos, e Mahjong, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata. Em 2013 completou a sua primeira curta-metragem de ficção, José Combustão dos Porcos. o Jovem Cineasta Português no Cinanima 2004. Foi selecionado para programas de apoio ao cinema como o Up And Coming Hannover 2008, Berlinale Talent Campus 2009, Inov Arte 2009 ou a Bienal de Jovens Criadores Europeus 2009. Em 2010 fundou o estúdio de cinema e animação Sparkle Animation, trabalhando atualmente entre Portugal e o Reino Unido. Terra (Curta-metragem, Documentário Experimental, 2013 - vencedora Fundo de Apoio ao Cinema 2012 Indie Lisboa/Fnac); Beyond Entropy Angola (Curta Metragem Documentário, 2012); O Cágado (Curta Metragem de Animação, 2011, apoiada pelo ICA); Um Saltinho... (Série de Animação infantil, 2011, apoiada pelo ICA); O Homem da Cabeça de Papelão (Curta Metragem de Animação, 2010, apoiada pelo ICA); O Primeiro Rei (Curta de Animação Educacional, 2010, para o Museu Alberto Sampaio, Guimarães); Lost in List (Curta Metragem Documentário Experimental, 2007); A Film About Us (Curta Metragem de Animação, 2005); A Menina Gorda (Curta Metragem de Animação, 2004); OMM (Curta Metragem Experimental, 2003). Televisão Filipe Afonso Filipe Afonso nasceu em 28 de Setembro de 1985. Estudou Ciência da Informação na Universidade do Porto, e Cinema (Edição) na ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa, entre 2005 e 2010. Em 2009, estudou Cinema na FAMU - Film and TV School of Performing Arts em Praga (República Checa). Neste momento encontra-se a realizar o mestrado em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias, na Universidade Nova de Lisboa. Thierry Rodrigo Lacerda Filhos do Tédio (48’, 2006), co-realizado com Rita Alcaire; Pelos Trilhos do Andarilho – Ao Encontro de Ernesto Veiga de Oliveira (60’, 2010); O Pessoal do Pico Toma Conta Disso (24’, 2010), co-realizado com Rita Alcaire; Filarmónicas da Ilha Preta (57’, 2011), corealizado com Rita Alcaire; Das 9 às 5 (52’, 2011), co-realizado com Rita Alcaire. Atracados (Ficção/Experimental, 11min, Portugal, 2012); Televisão (Documentário/ Experimental, 15min, Portugal, 2012); 2P2R (Ficção/Experimental, 11min, Portugal, 2012); Encurralada nos Rochedos (Ficção/ Experimental, 12min, Portugal, 2012). Terra Pedro Lino Um Rio chamado Ave Luís Alves de Matos Pedro Lino trabalha como realizador e produtor de cinema e animação. Estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto, seguindo-se um Master of Arts (Distinção) em Ilustração pelo Camberwell College of Arts em Londres, Reino Unido. Desde 2003 que trabalha em Cinema tendo tido os seus filmes sido exibidos em diversos festivais por todo o mundo, vencendo vários prémios como Luís Alves de Matos nasceu em 1962, em Lisboa. Licenciado em Realização pela ESTC-Escola Superior de Teatro e Cinema, Lisboa. Colabora desde 1993 em diferentes projetos de criação contemporânea, realizando desde então vários filmes documentais sobre artistas plásticos portugueses. Funda em 2001 a produtora 132 Amatar Filmes, dando continuidade à produção e realização independente de documentários no campo da arte contemporânea e de filmes experimentais. Foi premiado em 1999 nos X Encontros Internacionais de Cinema Documental da Malaposta com o documentário A Fazer o Mal e distinguido em 2008 e 2011 com o Prémio Melhor Português dos Prémios de Cinema Temps D’Images, respetivamente com os filmes Lost in Art - Looking For Wittgenstein e Luz Teimosa. Fez parte de diversos júris, dos últimos podemos destacar a sua participação no Júri Internacional do Festival de Gramado (2011) e Júri Primeiro Olhar, dos Encontros de Viana (2012). Luz Teimosa (75’, 2010); Montanha Fria (Experimental, 12’, 2009, Portugal); Lost in Art Looking For Wittgenstein (Experimental, 10’30’’, 2007, Portugal); Blind Runner – An Artist Under Surveillance (58’, 2007); Fiat Lux (Documentário, 26’, 2005); A Praça (Documentário, 60’, 2004); Fernanda Fragateiro – Lugares Perfeitos (52’, 2003); Ana Hatherly – A Mão Inteligente (Documentário, 50’, 2002); Últimos Dias (17’, 2001); João Penalva- Personagem e Intérprete (52’, 2001); A Fazer o Mal (25’, 1999); Mário Leroy, O Pintor em Fuga (59’, 1997). Vítor | Fecho da Fábrica Cândida Pinto Jornalista portuguesa de rádio e televisão, Cândida Pinto nasceu em 1964, em Torres Vedras. Quando frequentava o 10.º ano do ensino secundário ganhou o gosto pelo jornalismo graças a uma professora que teve, precisamente, na disciplina de Jornalismo. Na sua juventude mudou-se para Lisboa, onde estudou Comunicação Social no Instituto de Ciências Sociais e Políticas. A 17 de Setembro de 2001, Cândida Pinto passou a dirigir a SICNotícias, canal especializado em informação e que foi lançado em Janeiro de 2001. Trocou assim a reportagem pela direção de um canal, um passo que considerou muito interessante do ponto de vista profissional. Principais reportagens: Meninos de Angola, Snu, Mulheres de Bagdad, Eu e os meus irmãos. 133 Contactos 225, Rua da Rosa José Ricardo Lopes [email protected] Abandonados Júlio Pereira [email protected] 5040 Inês Teixeira ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema, Mariana Guarda Av. Marquês de Pombal, 22-B, 2700-571 Amadora - 214989400 [email protected] Anquanto La Lhéngua Fur Cantada João Botelho Ar de filmes Rua D. Pedro V, nº 60, 1º dto., 1250-094 Lisboa 213420810 [email protected] Amanhecer a Andar Sílvia Firmino C.R.I.M. Produções Av. Almirante Reis, nº 194, 3º esq., 1000-055 Lisboa - 218446102 [email protected] A Fábrica Mariana Bártolo [email protected] A Luz da Terra Antiga Luis Oliveira Santos Cine-Clube de Avanca, Filmógrafo Rua Prof. Dr. Egas Moniz, 159, 3860-078 Avanca - 234 880658 [email protected] Aqui Tem Gente Leonor Areal [email protected] As Coisas dos Outros Alexandra Côrte-Real ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema, Mariana Guarda Av. Marquês de Pombal, 22-B, 2700-571 Amadora - 214989400 [email protected] A Menina dos Olhos Regina Guimarães Fundação Cidade de Guimarães Agência da Curta Metragem Auditório Municipal, Praça da Republica, 4480715 Vila do Conde - 252 646683 [email protected] As Partes e o Todo Levi Martins [email protected] A Rapariga do Cabelo Vermelho Catherine Boutaud [email protected] Até ao Outro Lado do Arco-Íris André Agostinho [email protected] A Rua da Estrada Graça Castanheira Agência da Curta Metragem, Dario Oliveira Auditório Municipal, Praça da Republica, 4480715 Vila do Conde - 252 646683 [email protected] Aux Bains de la Reine Maya Kosa, Sérgio da Costa Pó Films Suíça - +41 774466261 [email protected] 134 Bafatá Filme Clube Silas Tiny Real Ficção Rua Emenda, 26, cv 1200-170 Lisboa – 21 3240061/2 [email protected] Entrado Paula Preto [email protected] Faixa Negra Cristovão Peças Tony Costa, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Campo Grande 376, 1749-024 Lisboa - 217 515 500 [email protected] Chã de Cricket Pedro Faria [email protected] Cinzas, Ensaio sobre o Fogo Pedro Flores Agência da Curta Metragem, Dario Oliveira Auditório Municipal, Praça da Republica, 4480715 Vila do Conde - 252 646683 [email protected] Fome e Fartura Filomena Carvalho Sousa Memória Imaterial CRL [email protected] Herberto Bruno Sousa [email protected] Cinemática João Costa, Rui Falcão, Harro Rannamets Estudios Paatcha [email protected] Johnson Nuno Cibrão [email protected] Cossé, 16h Gil Ramos [email protected] Learning from Macau #1_#2 José Maçãs de Carvalho [email protected] Des-construindo - Parte de mim Patrícia Louro, Micol Pecoraro, Manewa Gutiérrez Cornejo, Mercè Salom Parés, Ingrid de la Torre Centre de Cultura de Dones Francesca Bonnemaison Sant Pere més Baix 7 08003 Barcelona - +34 932684218 [email protected] Manifestação Carlos Godinho [email protected] Monsantempo Tarek Raffoul [email protected] Domingo à Tarde Cristina Ferreira Gomes Mares do Sul Produções, Lda [email protected] Montemor Ignasi Duarte Periferia Filmes Apartado 27017, EC Praça Município 1144-003 Lisboa - 213141744 [email protected] Em Honra de São Gualter Rui Simões Fundação Cidade de Guimarães Agência da Curta Metragem Auditório Municipal, Praça da Republica, 4480715 Vila do Conde - 252 646683 [email protected] No Green, No Blue Marta Alvim [email protected] 135 Noite de Festa Tiago P. de Carvalho AfterBurn, Guérrilha Films [email protected] Que Ânsia Distante Perto Chora? Ana Costa, Henrique Prudêncio, Sara Santos [email protected] [email protected]; [email protected] O Dormitório Vanessa Fernandes [email protected] Quero-vos, respeito-vos, preciso de vocês (15M de dentro) Alex Campos García Nomad Eyes [email protected] O Fantasma do Novais Margarida Gil Ambar Filmes Fundação Cidade Guimarães [email protected] Reconversão Thom Andersen Agência da Curta Metragem, Dario Oliveira Auditório Municipal, Praça da Republica, 4480715 Vila do Conde - 252 646683 [email protected] O Sabor do Leite Creme Hiroatsu Suzuki, Rossana Torres [email protected] [email protected] O Sortudo Zimu Zhang [email protected] Rhoma Acans Leonor Teles ESTC – Escola Superior de Teatro e Cinema, Daniel Valente Av. Marquês de Pombal, 22-B, 2700-571 Amadora - 214989400 [email protected] Outras Cartas ou o Amor Inventado Leonor Noivo C.R.I.M. Produções Av. Almirante Reis, nº 194, 3º esq., 1000-055 Lisboa - 218446102 [email protected] Santa Maria dos Olivais Susanne Malorny [email protected] Paisagens de Papel André Pisca, Pedro Almeida ESTA – Escola Superior de Tecnologias de Abrantes Rua 17 de Agosto de 1808, 2200-370 Abrantes – 241379500 [email protected] Seems So Long Ago, Nancy Tatiana Macedo C.R.I.M. Produções Av. Almirante Reis, nº 194, 3º esq., 1000-055 Lisboa - 218446102 [email protected] Sem Anos Lino de Oliveira, Marta Tavares ETIC - Margarida Borges, João Costa Rua D. Luís I, nº 6 e 20 D, 1200-151 Lisboa 213942550 [email protected] PDL-LIS (Ponta Delgada-Lisboa) Diogo Lima [email protected] Pequenos Teatros de Rua Regina Guimarães [email protected] 136 Sobre viver Cláudia Alves [email protected] Teles José Magro GAPSI – Universidade Católica Portuguesa Rua Diogo Botelho, 1327, 4169-005 Porto - 22 619 62 75 [email protected] Televisão Filipe Afonso [email protected] Terra Pedro Lino Sparkle Animation N1 2LP London, U.K. - +44(0) 7593083583 [email protected] Thierry Rodrigo Lacerda [email protected] Um Rio chamado Ave Luís Alves de Matos Agência da Curta Metragem, Dario Oliveira Auditório Municipal, Praça da Republica, 4480715 Vila do Conde - 252 646683 [email protected] Vítor - Fecho da Fábrica Cândida Pinto João Nuno Assunção, Jorge Pelicano Estrada da Outurela, nº119, 2794-052 Carnaxide - 214179400 [email protected] 137 Inventário 225, Rua da Rosa (9´) Realização: José Ricardo Lopes; Produção: José Ricardo Lopes Sinopse: Três anos durou aquela relação. Ele cuidava dela e estimava-a. Ela era o seu porto de abrigo e protegia-o. “225, Rua da Rosa” é um docudrama autobiográfico inspirado na teoria do eterno retorno de Friedrich Nietzsche, que mostra a verídica história de amor entre um rapaz e a sua casa. intensificando-se à medida que o trabalho avança. O som ambiente também muda. Os silêncios predominam. Os contrastes são cada vez mais fortes. No final, vemos os homens que fazem o filme para alguns, o trabalho para outros, ou simplesmente uma casa. A Casa das Duas Portas (37´) Realização: Abel Pinheiro; Produção: (s.n.) Sinopse: O filme surge como uma viagem da imaginação, espoletada pela experiência de interação com a escultura “a casa das duas portas”, de André Banha, uma construção arquitetónica em madeira com diferentes espaços habitáveis. A obra deu forma à necessidade de o autor-performer expressar a sua relação com o tempo: memória, história; existência, momento; trabalho, sonho. 5040 (9´) Realização: Inês Teixeira; Produção: Inês Teixeira, Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) Sinopse: O impacto da escala de uma cidade nas relações entre os seus habitantes e a ideia de que talvez a cidade já não tenha uma escala humana. A crescente dependência de todos os meios que asseguram conforto quotidiano, mas que diluem a interdependência dos habitantes da cidade. 6th phase (8´) Realização: João Costa; Produção: Estúdios Patchaa Sinopse: No início da fase adulta nós procuramos companhia e felicidade amorosa em relações mutuamente satisfatórias. Se não somos bem-sucedidos, o isolamento e distância dos outros é o próximo passo, o nosso mundo começa a encolher ao mesmo tempo que nos sentimos superiores aos outros. A Cidade Onde Moro (9´) Realização: Pedro Ferreira, Samanta Correia; Produção: Pedro Ferreira, Samanta Correia Sinopse: A intervenção humana na mutabilidade da cidade e do território é documentada na análise da zona histórica. Nestes espaços/territórios de carácter social é evidenciada a relação dos cidadãos com o meio que habitam, a forma como o alteram e nele intervêm. O filme pretende criar um território ficcionado, alcançando uma estética abstrata, focada nas cores e texturas explícitas nas fachadas dos edifícios. A Casa (70´) Realização: Júlio Alves; Produção: Ukbar Filmes, Midnight Express Sinopse: António, Zé Maria e João vivem na Casa à medida que a constroem: as salas para refeições, para vestir ou descontrair mudam, assim como os seus habitantes. O tempo passa. Os moradores entram e saem de cena. A câmara não os segue, permanece, focada no particular. A luz natural invade os espaços geométricos, A day at Studio Mumbai (21´) Realização: Shivani Ranchhod; Produção: Shivani Ranchhod Sinopse: O ambiente de trabalho no “Studio Mumbai”, fundado por Bijoy Jain, situado em Nagaon, perto de Alibag, no estado de Maharastra, Índia, como uma infraestrutura humana de talentosos artesãos e arquitetos. O seu processo de trabalho interativo e o modo como um grupo explora um ambiente onde as 138 ideias criativas são materializadas através de variados métodos artísticos. procura dos territórios da fotografia de Orlando Ribeiro e da inexorável passagem do tempo. A Estrada Para Mazgani (44´) Realização: Rui Tendinha; Produção: Scl Agency Sinopse: Um músico na estrada. O espírito do rock n’roll. A caravana. A viagem. O resto são encontros humanos numa Europa fria. De Espanha à Holanda, com início numa sessão de ensaios em Palmela. O que fica é a dádiva de Mazgani. No final, o regresso a casa e espetáculo em Lisboa. Apoteose de uma flagrante internacionalização. A Maratona de Lázaro (12’) Realização: João Santos Duarte; Produção: Rádio Renascença / Renascença V+ Sinopse: Foi há 100 anos, a 14 de julho de 1912, Portugal participava pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, em Estocolmo. O país depositava grandes esperanças num atleta para vencer a maratona e ganhar a primeira medalha da história. Francisco Lázaro partiu, mas já não chegou a cruzar a linha da meta. A Fábrica (30´) Realização: Mariana Bártolo; Produção: Mariana Bártolo Sinopse: Realizado no âmbito da reconstrução da Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso, patente na exposição permanente do Centro Interpretativo da Fábrica de Santo Tirso, o filme reflete sobre o passado da emblemática fábrica do Vale do Ave e sua recente reconversão num polo de Indústrias Criativas, através das memórias de antigos trabalhadores e do questionamento da noção de criatividade. A Menina dos Olhos (31´) Realização: Regina Guimarães; Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse: Interrogação sobre formas de enamoramento e namoro, de outros e destes tempos, no contexto da cidade de Guimarães, bem como, pese embora a crença de que o amor é cego, a importância do olhar no espoletar e no desenvolver da relação amorosa. A Minha Banda e Eu (62´) Realização: Inês Gonçalves e Kiluanje Liberdade; Produção: Filmes do Tejo II Sinopse: Entre Luanda e Lisboa, Inês Gonçalves e Kiluanje Liberdade traçam o retrato de uma nova geração de angolanos que vê no Semba e na Kizomba a expressão máxima da sua identidade cultural. Os ritmos quentes e os corpos bamboleantes sucedem‑se num documentário que revela a vontade de um povo de se reinventar e levar as suas raízes, através da música e da dança, aos quatro cantos do mundo. A Ideia Nunca Abala (63´) Realização: Jorge Murteira; Produção: Fundação Robinson Sinopse: É dada voz aos antigos operários da Fábrica Robinson nas vésperas do encerramento da corticeira até aos dias de hoje. Partilham experiências e memórias, o sofrimento e as alegrias ali passadas com emoção, como se ainda as vivessem e sentissem no presente. Partindo de uma cidade, Portalegre, o filme debruça-se sobre o fim de uma Era Industrial, nos homens e mulheres detentores de práticas e saberes especializados que deixaram subitamente de exercer a sua atividade. A Parte Essencial (32´) Realização: António Borges Correia; Produção: Keep Eyes Open Sinopse: Medula é, no sentido figurado, a parte essencial. No entanto, a parte essencial revela-se em diversas formas e conteúdos com uma raiz: o amor ao próximo. Exposição da sequência cronológica de fotografias de dadores e recetores de medula óssea sobre os seus depoimentos. A Luz da Terra Antiga (15´) Realização: Luís Oliveira Santos; Produção: Cine-Clube de Avanca, Filmógrafo Sinopse: O filme, baseado no livro, “Portugal Luz e Sombra - o país depois de Orlando Ribeiro”, é uma viagem com Duarte Belo à 139 A Partitura Eletrónica (8´) Realização: Miguel Moraes Cabral; Produção: Garden Films, Filmes do Caracol, Fundação Calouste Gulbenkian Sinopse: A câmara de filmar mergulha no mundo da composição. geógrafo Álvaro Domingues, uma viagem por Portugal, tal qual é. A Última Vez que Vi Macau (82´) Realização: João Pedro Rodrigues, João Rui Guerra da Mata; Produção: Blackmaria, Epicentre Filmes (Portugal, França) Sinopse: Dois realizadores partem para Macau numa aventura de descoberta de uma cidade, onde as memórias de infância no Oriente de um – recordações ficcionadas de uma realidade vivida – dialogam com as memórias do Oriente do outro, construídas pelos códigos do cinema, da literatura e da pintura – recordações vividas de uma realidade ficcionada. A Queima do Judas (35´) Realização: Luís Campos Brás; Produção: Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT) Sinopse: Um evento único que reúne diferentes disciplinas artísticas (música, interpretação, cenário, adereços, figurinos, coreografia, pirotecnia e artes visuais, entre outros) em Tondela. Este documentário é o retrato das pessoas envolvidas no projeto, os seus sentimentos e os seus desejos desde que a semana de trabalho começa até à única apresentação do espetáculo. À Velocidade da Inquietação Amadeo de Souza-Cardoso (58´) Realização: António José de Almeida; Produção: Panavideo Lda Sinopse: Causou escândalo em Portugal. Teve uma vida relâmpago. Viveu e criou à velocidade da inquietação. Com testemunhos de artistas plásticos contemporâneos; historiadores da arte e investigadoras da obra de Amadeo de SouzaCardoso. A Raia (28´) Realização: Iván Castiñeiras Gallego; Produção: Os Filmes do Caracol (Portugal, Espanha) Sinopse: A raia é a fronteira que divide o sudeste da Galiza (Espanha) do noroeste de Portugal. Área montanhosa de clima extremo, terra interior, terra de camponeses. Os povos desta área foram e são a periferia de ambas as nações, povos historicamente esquecidos. Estas e outras circunstâncias tornam muito especial esta área e os seus habitantes. A Rapariga de Cabelo Vermelho (17´) Realização: Catherine Boutaud; Produção: Os Filmes do Caracol Sinopse: “O meu aparelho faz parte do meu corpo e nunca tratei tão bem um objeto como ele. É como se tirasse um braço postiço e o deixasse na mesa para pintar as unhas. É desta forma que vejo o meu corpo.” A Vida Ruim de Marion Cobretti (27´) Realização: Afonso Cortez, Luhuna Carvalho; Produção: A. Cortez, L. Carvalho Sinopse: Marion Cobretti, um resistente duma subcultura marginal, há 20 anos que canta as suas histórias de revolta e decadência. Recorrendo à música e à estética dos bastidores de um videoclip para sugerir uma narrativa, assiste-se ao cruzamento entre a sua vida real e a imaginada para o personagem que encarna e vive diariamente. Em câmara direta, muitas vezes em tempo real, procura-se documentar a violência do quotidiano de um punk à beira do fim do (seu) mundo. A Rua da Estrada (24´) Realização: Graça Castanheira; Produção: Curtas Metragens CRL, Dário Oliveira Sinopse: Percorrem se as estradas nacionais, com a sua muito peculiar paisagem – sismógrafo do tempo que passa. Lida pelo olhar avisado do A Vossa Casa (57´) Realização: João Mário Grilo; Produção: Costa do Castelo Filmes, Cinemate Sinopse: O arquiteto Raul Lino (18791974) deixou uma obra fundamental para o entendimento dos modos portugueses de ser e 140 habitar. O filme aborda esse legado a partir de textos publicados pelo arquiteto, os quais situam a problemática da Casa num contexto bem mais amplo do que aquele colocado pelos problemas da sua simples edificação. Lisboa, localiza-se um dos lugares de culto da Igreja Filadélfia. Trata-se de uma igreja evangélica cristã apenas frequentada por indivíduos de etnia cigana. Ruben, um rapaz de 17 anos, torna-se, ao longo do filme, membro dessa Igreja através do Batismo e pai pela primeira vez. É com ele e Paula, sua jovem mulher, que mergulhamos na vida de uma comunidade marcada pelas feiras, pelo convívio, pela música, sempre presente e, profundamente, pelos cultos onde rezam e louvam a Deus. About Pigs (10´) Realização: Carlos Silva; Produção: António C. Valente, CineClube de Avanca Sinopse: Um documentário sobre crise, sobre economia, sobre sobrevivência e sobre ganância… Alexandra – Viver com HIV (30´) Realização: Cândida Pinto; Produção: João Nuno Assunção; Jorge Pelicano Sinopse: A história de uma jovem de 19 anos que cresceu com o vírus da SIDA numa pequena aldeia do interior de Portugal. A luta contra o preconceito e a lição de vida de uma jovem que quer ser apenas igual às raparigas da sua idade. Adormecido (13´) Realização: Paulo Abreu; Produção: 500 Cineclube Ponta Delgada Sinopse: Documentário poético e experimental sobre o Vulcão dos Capelinhos na ilha do Faial, Açores. Águas em Conta (50´) Realização: Carlos Eduardo Viana; Produção: Carlos Eduardo Viana Sinopse: A partilha da água de rega é uma tradição ancestral ainda hoje visível em algumas aldeias de Portugal. Tal partilha obedece a um complexo sistema de divisão, profundamente enraizado nas populações rurais. Mostra se as regras de partilha da água nos diferentes lugares da freguesia de S. Lourenço da Montaria, uma aldeia de montanha do distrito de Viana do Castelo, e testemunha, através da intervenção dos agricultores, o fim da agricultura tradicional tal como é praticada na região. Alto do Minho (49´) Realização: Miguel Filgueiras; Produção: José Filgueiras Sinopse: Parte de terras baixas para a época alta, para mostrar diversos matizes. O antes e o depois, que são os mesmos ciclos atlânticos imutáveis da paisagem montanhosa, apesar de tudo. Mais do que um filme é um retrato que mexe. Como Warhol, quer espelhar em ecrã estrelas terrenas, numa montagem cadenciada e num olhar impressionista. Amanhecer a Andar (97´) Realização: Sílvia Firmino; Produção: C.R.I.M Produções Sinopse: Um velho homem guarda uma escola ao amanhecer. Vozes de crianças ao longe cantam o hino de Moçambique. Pela mão de Augusto, chegamos a um espaço amplo e misterioso: Elvita trabalha incessantemente, mas defende o seu descanso junto do marido; Carlos procura um empréstimo para aumentar uma pequena banca de venda e construir a casa para a família; Salim reza várias vezes ao dia, ensina o Corão a crianças e presta muita atenção ao seu primogénito. Ahh! (6´) Realização: Luís Almeida; Produção: Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR) Sinopse: Um vídeo‑ensaio que explora o arquivo da história do cinema através de imagens dos géneros mais diversos – do western à ficção científica, da comédia ao drama, do filme de guerra à animação – que parecem ter algo em comum: um som. Aleluia (39´) Realização: Takashi Sugimoto; Produção: (s.n) Sinopse: No Bairro dos Fetais, a norte de 141 Anquanto la Lhéngua fur Cantada (50´) Realização: João Botelho; Produção: Ar de Filmes Sinopse: O planalto de Miranda, único em língua e rico em gente, geografia e tradições que vêm do início dos tempos, tem uma riqueza musical inigualável. Porque não atravessá-lo com a Catarina Wallenstein, com rosto de “Madona”, que canta como ninguém, acompanhada pelo extraordinário acordeão do Gabriel Gomes, com rosto de anjo, e seguido pelo burro “Atenor” de pêlo comprido e avermelhado, perfeito exemplar do burro mirandês? Aqui e Agora (5´) Realização: Carla Fonseca; Produção: Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR) Sinopse: Primeira versão de uma investigação audiovisual sobre a paisagem urbana, os seus movimentos e os seus ritmos, utilizando a técnica de split screen. Artigo 45º (16´) Realização: Rui Luís; Produção: Rui Luís Sinopse: O direito à manifestação passou, desde o 25 Abril de 1974, a ser um direito de todos os cidadãos portugueses (artigo 45º da Constituição da República Portuguesa). Uma manifestação que aconteceu no dia 22 de Março, em Lisboa, é retratada na perspetiva de observador, da forma mais neutra possível. António Ferreira Gomes-De Joelhos Diante de Deus, de Pé Diante dos Homens (59´) Realização: Pedro Clérigo; Produção: Panavideo Lda Sinopse: A carta, o exílio e a dissidência fazem de D. António Ferreira Gomes uma das maiores figuras da Igreja do século XX. “Personalidade granítica”, “homem capaz de liberdade e construtor de homens livres”, “um pastor da Igreja”, “uma figura austera”, “alguém que resistiu”, assim testemunham Carlos Azevedo, Manuel da Silva Martins, Fernando Ferreira Gomes, José Barreto, Irene Pimentel, José Ferreira Gomes, Mário Soares e António Costa Pinto. As Coisas dos Outros (16´) Realização: Alexandra Côrte-Real; Produção: Mariana Guarda, Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) Sinopse: Na Feira da Ladra (Lisboa), uma jovem rapariga procura saber por que motivo os vendedores se despojam dos seus objetos pessoais e o passado que eles encerram, e, como resultado da compra desses objetos, ela própria se tornará outra pessoa, que transporta todas aquelas histórias. As Mãos da Terra (35´) Realização: João Garrinhas, Susana Costa; Produção: João Garrinhas, Susana Costa Sinopse: A sobrevivência de saberes ancestrais no sistema atual das relações sociais e na economia global. Uma discussão aberta entre as “mãos” que resistem mantendo vivos saberes e práticas de autonomia. Ao Fundo (3´) Realização: Luís Coelho, Marco Min, Telmo Domingues; Produção: (s.n) Sinopse: Esta curta-metragem retrata uma mudança drástica que a sociedade portuguesa vive atualmente. Usando a roupa e estado de espírito de personagens em concordância com o som, levando-as de um ponto alto e seguro a uma descida final, entrando numa rutura social e pessoal. As Ondas (22´) Realização: Miguel Fonseca; Produção: O Som e a Fúria Sinopse: Paisagens da costa, verdadeiramente belas para sempre ligadas à juventude do realizador, o seu paraíso perdido. A vida e a morte filmadas como um todo: a morte como parte da vida, uma mudança cósmica, uma transformação. E as ondas, indiferentes a tudo. Ao Lobo da Madragoa (8´) Realização: Pedro Bastos; Produção: Ricardo Freitas Sinopse: Filme-homenagem ao poeta António Lobo de Carvalho. 142 As Pessoas de Pessoa (11’) Realização: Catarina Santos, Maria João Costa; Produção: Rádio Renascença, Renascença V+ Sinopse: Um grupo de investigadores estrangeiros partiu à procura de Fernando Pessoa e encontrou um espólio de inéditos que vai da crítica ao salazarismo à prosa desconhecida de Álvaro de Campos. Mergulhar no labirinto de Pessoa é também uma viagem sem fim. e venda de azulejos portugueses industriais descontinuados, o que resultou na criação de um espólio riquíssimo e verdadeiro tesouro de tradição portuguesa. Avô Xico (10´) Realização: Liliana Ramires; Produção: Liliana Ramires Sinopse: A vida e os desabafos de um homem com Alzheimer. Avô Xico é um homem como tantos outros em quem o tempo deixou marcas, mas ao mesmo tempo é alguém especial para quem o filma - a sua neta. As Últimas Vozes (87´) Realização: Daniel Nave, André Nave; Produção: Augusto Alves da Silva Sinopse: Dois jovens resolvem passar uns dias na Beira Interior, movidos pela paixão de fotografar gentes e lugares das aldeias esquecidas pelo progresso e fora da azáfama das grandes cidades. Descobrem a vida de gentes simples, que se unem pelo canto tradicional na altura das festividades anuais, insistindo em manterem viva uma tradição secular. Bafatá Filme Clube (77´) Realização: Silas Tiny; Produção: Real Ficção Sinopse: Em Bafatá, a mais romântica das cidades guineenses, há um homem que se diz “operador de cinema”. Desde a declaração de independência que já não há ali sessões, mas o operador permanece à espera do dia em que possa voltar a desempenhar a sua profissão. Até ao Outro Lado do Arco-Íris (12´) Realização: André Agostinho; Produção: André Agostinho Sinopse: Retrato da solidão de um homem que todos os dias espera por clientes a quem possa cortar o cabelo. No entanto, poucos são os que aparecem e os tempos mortos são passados com a sua maior companhia, os seus dois periquitos. Bairro Alto 500 Anos (47’) Realização: Fernando Carrilho; Produção: Arquivo Municipal de Lisboa - Videoteca Sinopse: Um retrato de um dos bairros mais carismáticos de Lisboa desde a sua origem até a atualidade. Um documentário que aborda a história, a arquitetura, o urbanismo e as dinâmicas sociais que caracterizaram o local até aos dias de hoje. Aux Bains de la Reine (37´) Realização: Maya Kosa, Sérgio da Costa; Produção: Pó Films Sinopse: Elsa regressa à terra de origem, Caldas da Rainha, em Portugal, para se encontrar com a mãe. Através desta pequena aventura, descobrimos a cidade e as misteriosas atividades dos seus habitantes, bem como elementos da história familiar de Elsa – confundem-se os tempos, misturam-se os sonhos com a realidade. Bela Vista (30´) Realização: Filipa Reis, João Miller Guerra ; Produção: Vende-se Filmes Sinopse: BELA. Aprazível, deleitosa, amena. Perfeita para o fim a que se destina. Escolhida, distinta. Nobre, generosa. Certa. Ideal da beleza. VISTA. Ato ou efeito de ver. Tudo o que a vista alcança desde um lugar. Representação de um lugar pela pintura, pela gravura, pela fotografia, etc. Presença. Maneira de ver, de encarar uma questão. Janela, abertura. Olho. BELA VISTA. Bairro, cidade de Setúbal, distrito de Setúbal. Avô Cortiço (21´) Realização: Ricardo Cortiço; Produção: Ricardo Cortiço Sinopse: História do inusitado negócio ao qual o avô do realizador dedicou praticamente toda a sua vida – a recolha, armazenamento 143 Bipolar (5´) Realização: Tiago Costa; Produção: Tiago Costa Sinopse: Comportamento oscilante entre dois polos, depressão e euforia. Lazer e trabalho. Realidade e ficção. Documentário e videoclip. A linha que separa ambos os extremos nem sempre é tão visível. no interior do país. Um filme sobre a exclusão social, retratando as vivências que nela ocorrem, onde se revela um princípio de humanismo e união que não desvanece. Chã de Cricket (26´) Realização: Pedro Faria; Produção: Pedro Faria com o apoio da DGArtes/SEC Sinopse: Em “Chã de Cricket” atravessamos diversos espaços noturnos da ilha de São Vicente (Cabo Verde) observando quem naquele momento os habita. Cantores do Submundo (39´) Realização: Fernando Miguel Moreira; Produção: Escola Superior de Tecnologias de Abrantes (ESTA) Sinopse: O movimento underground do Rap cantado em crioulo num país chamado Portugal. Chantal (22´) Realização: Joana de Verona; Produção: (s.n) Sinopse: Ali é turco e tem uma loja de costura. Construiu uma manequim. O seu nome é Chantal. Todos os dias ele a aperfeiçoa. Leva-a para casa e retoca-a. E todos os dias a coloca de novo na montra da sua loja. Cartas para Angola (75´) Realização: Coraci Ruiz, Júlio Matos; Produção: Laboratório Cisco Sinopse: Pessoas separadas por um oceano trocam correspondências – alguns são amigos de longa data, outros nunca se viram. Fluxos de migração, saudade, guerra, preconceitos, exílio, distâncias. A busca da identidade e o fio da memória são conduzidos pela linha da afetividade, que une as sete duplas de interlocutores que o documentário nos apresenta. Cinemática (5´) Realização: João Costa, Rui Falcão, Harro Rannamets; Produção: Estúdios Patchaa Sinopse: A captura do vibrar da cidade desde que acorda até repousar, num exaustivo pára-arranca, possuído pela pontualidade das deslocações. Um formigueiro de gente, carros, motas, bicicletas, comboios, que rapidamente resultaria em tumulto não fosse a sua colisão evitada no mais básico jogo de sinais luminosos. Cativeiro (64´) Realização: André Gil Mata; Produção: André Gil Mata, Joana Gusmão Sinopse: Condição de confinamento, no espaço e no tempo. O ser cativo não é só e necessariamente um prisioneiro, é também o que se torna próprio daquele lugar, aquele cuja identidade se projeta continuamente nesse espaço. Por sua vez, o próprio espaço do cativeiro não é inerte, ele caracteriza-se através de quem está ali contido; é também moldado por essa experiência. Alzira nasceu, cresceu e viveu toda a vida na mesma casa, na cidade de São João da Madeira, norte de Portugal. Cinzas, Ensaio Sobre o Fogo (18´) Realização: Pedro Flores; Produção: Curtas Metragens CRL, Dario Oliveira Sinopse: Gerês, Portugal. Os dias nascem com o fogo e morrem com ele. Os homens renovam a terra com práticas ancestrais. Todos os seres habitam o mesmo lugar. Contos das Coisas (16´) Realização: Joana Peralta; Produção: Sofia Lacerda, Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) Sinopse: Um lento e minucioso percurso de observação de um antiquário. A ambiência do espaço e a decomposição dos “segredos” que a loja encerra. Ouvimos vozes no ar que nos Cenas de uma Comunidade Política (19´) Realização: Ângela Melo, Diogo Allen, Sofia Aguiar; Produção: Escola Superior de Tecnologias de Abrantes (ESTA) Sinopse: Cenas de uma comunidade esquecida 144 contam as histórias de cada um dos objetos que vimos. de vida e de uma tipologia, com origem na era industrial – a ilha. Contra-Campos (55´) Realização: Tiago Afonso, Jorge Quintela; Produção: Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto Sinopse: “Contra-Campos” pretende não apenas perspetivar modos de fraternidade e liberdade que advêm da abertura à cocriação, como também refletir, através da busca de pontos de vista dialogantes – em contra campo – acerca de um “género” pouco teorizado na história das imagens em movimentos: o registo de processos de pesquisa artística e da sua apresentação. Curtumes de Fés (4´) Realização: Tiago Costa; Produção: Coletivo Indus Doc Sinopse: Mantendo o seu funcionamento inalterado desde o séc. XI, os curtumes mais antigos do mundo são apontados como um dos predecessores da linha de montagem. Este método artesanal é transmitido ao longo das gerações aos rapazes da família, que iniciam o trabalho logo após a escola primária. Um dia nos curtumes, com temperaturas que podem ultrapassar os 40ºC no verão, é pago com um salário inferior a 5 Euros. Cossé, 16h (13´) Realização: Gil Ramos; Produção: Crossing Sinopse: São quatro da tarde, mas podiam ser oito da manhã. Aqui, o tempo não importa e a rotina diária é feita de pequenos e contundentes gestos. Destemidos, os aldeões seguem o seu rumo sem que, aparentemente, nada os demova de cumprirem o seu destino. O ritmo da vida é, nesta atmosfera inebriante, o ritmo do sol e da água. De Volta às Raízes (7´) Realização: Gonçalo Cardeira; Produção: Gonçalo Cardeira Sinopse: Não é abandono, deterioração nem destruição. É um conflito de territórios entre o Homem e a Natureza, em que este se apodera de pedaços de terra, para erguer os seus espaços. Mas quando o ser humano deixa de preservar o seu espaço ocupado, a Natureza volta, dotada de todas as suas forças. Covas do Douro (8´) Realização: Tiago Afonso; Produção: Tiago Afonso Sinopse: A imersão dos humanos no vinho em feitura é como um nascimento ao avesso. Mas não é de morte que se trata. Pernas fraternalmente pintadas de vermelho, homens e mulheres ombro a ombro e de braço dado, olhares postos no que ainda não é - vinho ou futuro - configuram uma espécie expressão coletiva do desejo de igualdade. Ilusório renascer fora das leis do género. Deixa vir o de Amanhã (19´) Realização: David de Mira; Produção: David de Mira Sinopse: No interior do Alentejo, Maria Rita (93 anos) continua fazendo o que sempre fez, mitigando a passagem do tempo na companhia do seu rebanho de ovelhas. O movimento, o ritmo e a melodia próprias de um lugar onde a tradição permite contrariar a rotina. Depois de Abril (24´) Realização: José Alberto Pinheiro; Produção: Vigília Filmes Sinopse: A 25 de abril de 1974, o jovem militar Orlando Mesquita corria pelas ruas, juntandose a tantos outros na grande celebração da liberdade. Os sonhos multiplicavam-se e, nas suas palavras, tudo era possível com o fim “daquele regime, que agonizava e destruía mentalmente todas as pessoas”. Escassas semanas após o acontecimento, Orlando Cronograma De Um Retrato Iconográfico (21´) Realização: José Simões; Produção: José Peneda Sinopse: José do Afonso, mais conhecido por “Zé da Bata”, reside e trabalha na rua de São Vítor, desde os seus 10 anos de idade. É um dos comerciantes mais antigos na cidade do porto. Além do papel de merceeiro, mercador e capelista, alimenta a sobrevivência de um modo 145 Diagnóstico (9´) Realização: Alexandra de Matos; Produção: Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD.CR) Sinopse: O território do corpo humano nas suas múltiplas escalas e consistências, tal como é examinado, diagnosticado, penetrado, tornado visível pelo cinema das ciências médicas. é enviado para uma guerra que afinal não terminara num passe de magia. Como tantos jovens anónimos, foi enviado para limpar, discreta e silenciosamente, os despojos do conflito. Deportado (67´) Realização: Nathalie Mansoux; Produção: Terratreme Filmes, Les Films du Grain de Sable Sinopse: Deportados dos EUA, onde cresceram e viveram, devido a penas criminais, são homens obrigados a regressar aos Açores. Entre recordações longínquas, esperanças abandonadas e a distância das pessoas queridas, a ilha paradisíaca vai-se transformando, lentamente, numa prisão a céu aberto. Dois Bairros, um Carnaval (50´) Realização: José Cunha, Cláudia Silvestre; Produção: Go-To, Produção e criação de audiovisuais LDA Sinopse: Uma tradição centenária em Canas de Senhorim, concelho de Nelas. O Carnaval é preparado num ambiente de grande rivalidade, entre dois bairros vizinhos. Ao longo dos três dias de Carnaval, são vários os acontecimentos que vivem da rivalidade entre os dois bairros e, na terça-feira, dá-se o encontro dos dois corsos que se confrontam, no centro da vila, até um deles desistir. Desalinhado (140´) Realização: Bruno Santana; Produção: Lidesvideo Sinopse: Num universo paralelo dois homens partilham o mesmo destino. Unidos por doenças raras, tentam saber quem são e onde estão. Esta é a história de Pedro, um adolescente que se torna inteligente após a fortuna deixada pelos pais, que faleceram num acidente de aviação. Pedro não investiu mais em si, dedicando-se ao consumo de drogas e à escrita de uma obra. Sofrendo de Alzheimer, tenta lembrar se de quem ele é e onde está. Num mesmo instante existe um outro Pedro, chamado Fatum (destino) Sofre de psicose não se esquecendo de quem é, mas não sabendo o que é real e o que é irreal, pondo em causa a sua própria existência. Domingo à Tarde (65´) Realização: Cristina Ferreira Gomes; Produção: Mares do Sul Produções, Lda. Sinopse: Um grupo de jovens paquistaneses reúne-se, todos os domingos à tarde, para jogar críquete num dos lugares mais emblemáticos de Lisboa: a Alameda D. Afonso Henriques. Quem são estes rapazes que mal falam português? Como vivem e o que fazem no seu dia-a-dia? Como olham e pensam Portugal, a Europa, tão diferentes do seu país de origem? Des-construindo - Parte de Mim (24´) Realização: Patrícia Louro, Micol Pecoraro, Manewa Gutiérrez Cornejo, Mercè Salom Parés, Ingrid de la Torre; Produção: Centre de Cultura de Dones Francesca Bonnemaison Sinopse: Podemos superar as experiências traumáticas que nos marcaram? Três mulheres explicam-nos a sua vivência pessoal através de uma sobreposição contínua de diálogos e experiências, entrelaçada com imagens quotidianas, mas sempre em movimento. Donos de Portugal (45´) Realização: Jorge Costa; Produção: Instituto de História Contemporânea para a RTP2 Sinopse: Cem anos de poder económico. Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins – afirmam-se sobre a mesma base. 146 Doze (25´) Realização: Maria Eça, Miguel Bretiano, Vasco Crespo; Produção: Miguel Bretiano para OfficeFilmStor3 Sinopse: Lucian Prodan é um adolescente Moldavo que descobre o Surf em Portugal. O fascínio pelo desporto torna-o presença assídua e reconhecida na praia de São Pedro do Estoril, onde aprende a nadar e a surfar ao mesmo tempo. Em poucos meses, Lucian integra-se na comunidade e deixa de se sentir imigrante. Mas o regresso à Moldávia pode estar para breve. Enquanto Dormes (45´) Realização: Bruno Gascon; Produção: Bruno Gascon Sinopse: Uma sociedade adormecida em que cinco pessoas se revelam e contam as suas histórias. Encobertas pela noite, falam dos preconceitos que enfrentam diariamente não com medo, nem com pudor, mas com orgulho pela superação dos mesmos. Enquanto dormes, enquanto todos dormem, eles superam-se, lutam e orgulham-se disso porque a verdade é esta: eles são chefes, reis e senhores do seu destino. Em honra de São Gualter (30´) Realização: Rui Simões; Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse: Por volta de 1213, Frei Gualter é enviado por São Francisco de Assis para Guimarães. A devoção a este frade Franciscano foi crescendo e em 1577 é fundada a irmandade de São Gualter. Desde 1906 que se festejam as Gualterianas, nova forma de festejos da cidade em honra ao seu patrono. Entrecampos (32´) Realização: João Rosas; Produção: O Som e a Fúria Sinopse: Mariana tem 11 anos e acabou de se mudar de Serpa para Lisboa com o pai. Os primeiros dias na cidade são passados a arrumar a casa e a conhecer o novo bairro, Entrecampos. Após o primeiro dia de aulas, Mariana perde-se a voltar para casa da escola e tem de telefonar ao pai a pedir ajuda. No dia seguinte, trava amizade com um rapaz da sua turma, Nicolau, e o irmão deste, Simão. Em Teu Corpo Meu Corpo (70´) Realização: Miguel Costa; Produção: Miguel Costa Sinopse: Documentário biográfico sobre o artista plástico Ferreira da Silva, uma das maiores referências da cerâmica portuguesa dos séculos XX e XXI. Entre Margens (10´) Realização: Pedro Vieira, Nuno Valente; Produção: Pedro Vieira, Nuno Valente Sinopse: Cravada nas encostas do Douro, entre os concelhos de Cinfães e Marco de Canaveses, situa-se a Barragem do Carrapatelo. A maior infraestrutura hidroelétrica do rio Douro e um dos maiores investimentos alguma vez feito naquela zona do país. O que a barragem trouxe, o que mudou, o que ficou e o que se perdeu. Encounters with Landscape (3X) (29´) Realização: Salomé Lamas; Produção: Salomé Lamas Sinopse: “No final de 2011 cheguei a Sete Cidades (Açores). Recordei a ideia de Kant sobre o sublime. O sublime é o “incomensurável”. O sublime tem lugar quando a medida humana é destronada i.e. quando o corpo experimenta a ideia de ser engolido por uma montanha imaginária. Numa tentativa de filmar a paisagem, apercebo-me da capacidade de intelectualização do sublime mas não o sinto. Falta de sensibilidade?” Entre o Céu e as Marés (25´) Realização: Daniel Pinheiro; Produção: TróiaNatura, Instituto da conservação da natureza e das florestas Sinopse: Separado do oceano pelo extenso cordão dunar da península de Tróia, o estuário do Sado proporciona características excecionais à vida selvagem, principalmente às aves aquáticas. Aqui podemos observar cerca de metade das espécies de aves existentes em todo o país. 147 Es.Col.A. da Fontinha - Espaço Colectivo Autogestionado (26´) Realização: Viva Filmes; Produção: Viva Filmes Sinopse: A história pelos próprios intervenientes. Uma história pioneira em Portugal: a ocupação de uma escola pública, no bairro, pelo bairro e para o bairro da Fontinha. O movimento que deu início a outros pelo país que se juntaram em solidariedade. por uma guerra civil, pela religião e por milhares de anos de história. Fio d’ Azeite (44´) Realização: Filipe da Silva Carvalho; Produção: Filipe da Silva Carvalho Sinopse: “A corrida ao olival na região do baixo Alentejo tem sido intensa nos últimos anos. Acompanhei os trabalhos na apanha e processamento de azeitona, numa exploração agrícola biológica, que agregou o respeito pela terra com a evolução tecnológica.” Estórias (60´) Realização: João Gomes; Produção: Soul Surfing Produções Sinopse: O Sr. do Adeus morreu a 11 de novembro de 2010. Há homenagens e músicas em sua honra. João Serra partilha o ecrã com outras três “personagens”. Há entre os quatro, singularidades mas também afinidades profundas. Joaninha faz militantemente parte da massa anónima de figurantes que diariamente vive preenchendo plateias televisivas. Helena frequenta, como um refúgio quase místico, o seu ginásio. Frederico vive numa rotação noctívaga permanente onde o efémero predomina. Fome e Fartura (12´) Realização: Filomena Carvalho Sousa; Produção: Memória Imaterial, CRL Sinopse: A partir da tradição oral – romances, cantigas, poesia popular, episódios de vida e formas proverbiais – fala-se da fome e da fartura, da riqueza e da pobreza, das desigualdades e das injustiças sociais. Fornalha (28´) Realização: João Luz; Produção: Associação Cultivamos Cultura Sinopse: Os homens desviam rios e constroem casas por causa das mulheres que querem amar, mas não sabem como. Os homens disputam poder entre si por causa de si mesmos, mas nunca se dão por satisfeitos. Fado Canibal (20´) Realização: Timóteo Azevedo; Produção: UCPUniversidade Católica do Porto Sinopse: Adolfo Luxúria Canibal, personagem interventivo na cultura portuguesa e frontman dos Mão Morta. Viagem através de imagens de arquivo, entrevistas, momentos de palco e momentos íntimos do artista. Germano e Elisa - A Entrega da Casa (29´) Realização: Cândida Pinto; Produção: João Nuno Assunção, Jorge Pelicano Sinopse: Uma réplica em ponto pequeno de um país sob resgate, dependente da gestão internacional e obrigado a pagar os empréstimos com juros. Faixa Negra (7´) Realização: Cristovão Peças; Produção: ULHT - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Sinopse: Uma equipa de jiu-jitsu chamada Romana Jiu-jitsu, de Almada, e o lado filosófico desta arte marcial. Guerra das Conchas - Capítulo 1 Conchas à Beira-mar (24´) Realização: Alfredo Reis Deus; Produção: (s.n) Sinopse: “Guerra das Conchas” é uma série documental dramática que, de forma lírica e intimista, foca a sua atenção na espécie de ciclídeo mais pequeno do mundo – Neolamprologus multifasciatus. A história é Far from home movie (78´) Realização: Carolina Dias, José Barahona; Produção: C.R.I.M Produções, Refinaria Filmes Sinopse: Um diário cinematográfico de uma viagem entre Kathmandu, Nepal, e o deserto Thar, Índia, fronteira com o Paquistão. Uma aventura sensorial, impressionista, atravessada 148 narrada na primeira pessoa por uma jovem fêmea. estabelece‑se uma ligação com a realidade observável, através do olhar distante de um personagem perdido entre o humano e a máquina. Guerra ou Paz (97´) Realização: Rui Simões; Produção: Real Ficção Sinopse: Entre 1961 e 1974, 100.000 jovens portugueses partiram para a guerra nas excolónias. No mesmo período, outros 100.000, saíram de Portugal para não fazer essa mesma guerra. Em relação aos que fizeram a guerra já muito foi dito, escrito, filmado. Em relação aos outros, não existe nada, é uma espécie de assunto tabu na nossa sociedade. Hipertrofia (16´) Realização: Márcia Sousa; Produção: Márcia Sousa Sinopse: Após a aprovação a um dos mais importantes exames do curso de Medicina, Inês Proença, Campeã Nacional de Bodyfitness em 2011, prepara-se para o seu próximo objetivo: a Taça de Portugal 2011. Uma viagem a um mundo onde por detrás da imagem se esconde todo um trabalho físico e esforço psicológico que muitas vezes não é reconhecido. Habitat (50´) Realização: Patrícia Brásia; Produção: Nuno Castilho Sinopse: Emigração e imigração, a mobilidade portuguesa nos primeiros anos do século XXI, com a vaga de emigração ocorrida em Portugal a partir da última metade do século XX em fundo. Histórias do Fundo do Quintal (14´) Realização: Tiago Afonso; Produção: (s.n) Sinopse: Três vozes debatem a história de uma revolta, enquanto a câmara procura provas no fundo de um quintal. Ao espetador resta decidir se escolhe ver, crer ou agir. Hamburg – Alentejo (54´) Realização: Neni Glock; Produção: (s.n) Sinopse: O acidente atómico em Chernobil na Ucrânia, em 1986, além das perdas humanas, transformou a vida de milhares de pessoas, também nos países vizinhos. Muitos deixaram as suas terras com receio dos ventos e chuvas radioativas e foram em busca de novos ares. O sul de Portugal foi o local de eleição de uma pequena comunidade de alemães que, hoje, sentem-se filhos do Alentejo. Horizonte (7´) Realização: Jorge Romariz, Tiago Siopa; Produção: Escola Superior de Tecnologias de Abrantes (ESTA) Sinopse: A definição de alguém é sobretudo algo mais profundo que uma mera imagem física. Aqui procura‑se a essência de alguém – os seus gostos, medos, esperanças e sonhos. HullaZulla (7´) Realização: Raquel Ceriz; Produção: Raquel Ceriz Sinopse: Um universo imaginário, repleto de êxtases, fobias e estranhezas, um fervilhante sonho do real. Uma viagem dentro de uma ansiosa mente juvenil, intrépida mas temerosa. Herberto (53´) Realização: Bruno Sousa; Produção: Bruno Sousa Sinopse: O açoriano de 92 anos que, aos 90, abriu uma fábrica de produtos derivados da soja na ilha do Faial, conta nos a sua história, dividida por três continentes diferentes e, acima de tudo, o drama que diariamente tem ao tentar levar avante o sonho que não se tem vindo a concretizar como havia idealizado. Intervalo (60´) Realização: Tiago Figueiredo; Produção: Ânimo Leve, Fundação Calouste Gulbenkian Sinopse: Os 50 anos da Orquestra Fundação Calouste Gulbenkian, dando a conhecer alguns dos protagonistas desta “estranha comunidade humana” formada por músicos oriundos de mais de uma dezena de países. Heterotopia (11´) Realização: Tiago Siopa; Produção: Escola Superior de Tecnologias de Abrantes (ESTA) Sinopse: Partindo de um imaginário distópico, 149 Inventário (23´) Realização: Pedro Maia; Produção: Visões Úteis Sinopse: Curta-metragem inspirada no trabalho dos técnicos de inventário do património. Em 2010, Manuel da Bernarda, diretor criativo da fábrica, recebe 7 artistas plásticos vindos de diferentes áreas. Dá-lhes total liberdade de trabalho na fábrica. Ivo e Hélder - O Casamento (28´) Realização: Cândida Pinto; Produção: João Nuno Assunção, Jorge Pelicano Sinopse: Os preparativos e a cerimónia de casamento de dois homens do norte de Portugal. A conquista de igualdades num país de tradições que se tornou no oitavo a nível mundial a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Land of my Dreams (21´) Realização: Yann Gonzalez; Produção: (s.n) Sinopse: Bianca e a sua mãe encontram-se de novo no Porto após muitos anos. Juntas, fazemse à estrada com o seu espetáculo de striptease, para recuperar o tempo perdido, os amores impossíveis e as mais estranhas fantasias… Luana (19’) Realização: Tiago Melo Bento, Maria Simões; Produção: Descalças Cooperativa Cultural, Corredor Associação Cultural Sinopse: Luana nasceu e vive em Cabo Polónio, uma língua de areia na costa do Uruguai, onde não existe luz elétrica, água canalizada, televisão, frigorífico ou centro de saúde. Jesus por Um Dia (71´) Realização: Helena Inverno, Verónica Castro; Produção: O Som e a Fúria Sinopse: Os prisioneiros duma cadeia transmontana nos seus preparativos da encenação da Via Sacra, desde os primeiros ensaios até ao dia da procissão. Lusofonia de 9 Cabeças - Lisboa (23´) Realização: Cristina Branco; Produção: Cristina Branco Sinopse: Perceção audiovisual de um debate aberto e variado sobre a (in)existência empírica, conceptual e política da Lusofonia em Lisboa, através de uma conversa com nove jovens cidadãos. Johnson (42´) Realização: Nuno Cibrão; Produção: Nuno Cibrão Sinopse: Após mais de 10 anos preso, por causa de uma vida de drogas e de crime, Johnson saiu e regenerou-se tornando-se um exemplo social na sua comunidade onde desenvolve um trabalho de excelência com os jovens. Macau 2012 (30´) Realização: Rui Filipe Torres; Produção: Porreiro Pá Comunicação e Filmes Sinopse: O traço universalista da cultura Portuguesa sentida e vivida na Região Administrativa Especial de Macau, cidade da República Popular da China desde 20 de Dezembro de 1999, através das interações sociais contemporâneas, recorrendo a entrevistas de profundidade e depoimentos, de Macaenses, Chineses e Portugueses, que vivem em Macau e em Lisboa. Julian (10´) Realização: António Da Silva; Produção: António Da Silva Sinopse: “Cruzamento entre uma road-trip em Portugal e uma história de amor de Verão. É a junção de uma linha narrativa poética com elementos factuais e pessoais. Julian é aqui representado como o “bom selvagem” de Rousseau em que a natureza é o seu ambiente natural.” Laboratório # 6 – Barro (15´) Realização: Miguel Gaspar; Produção: Miguel Gaspar Sinopse: A fábrica de cerâmica São Bernardo, situada em Alcobaça, atravessa um período de grandes alterações económicas e sociais. Mamadu & Binta (6´) Realização: Cátia Aguiam, Joana Aguiam, João V. F.; Produção: Cenjor Sinopse: O retrato do casamento de dois imigrantes guineenses: Mamadu, residente em 150 Memórias da Cruz (9´) Realização: Vítor Carvalho; Produção: Vítor Carvalho Sinopse: Relatos inquietantes de infâncias passadas no colégio interno Holy Cross, relatos de pessoas diferentes com opiniões e experiências bastante diversas, ao mesmo tempo que somos presenciados com o abandono e a destruição deste lugar. Portugal há 21 anos, e Binta, que chegou há dois meses para viver com o marido que conheceu através de fotografias e conversas ao telefone. Manducare (30´) Realização: Pedro Serra; Produção: Pedro Serra Sinopse: Vegan, Vegetariano, Omnívoro e Dieta do Tipo Sanguíneo. Quatro pessoas com estilos de vida diferentes mas com um objetivo em comum - o bem comum. Meu Caro Amigo Chico (110´) Realização: Joana Barra Vaz; Produção: London Sessions Productions, Carlos Carneiro Sinopse: Uma resposta à canção “Tanto Mar” de Chico Buarque de Hollanda através das canções e testemunhos dos músicos participantes, de forma a esboçar um retrato do Portugal contemporâneo. Manhã de Santo António (25´) Realização: João Pedro Rodrigues; Produção: Black Maria, Le Fresnoy Sinopse: Manda a tradição que, no dia 13 de Junho, dia de Santo António, o padroeiro de Lisboa, os namorados ofereçam vasos de manjericos enfeitados com cravos de papel e bandeirolas com quadras populares como prova do seu amor. Monólito (66´) Realização: Pedro Vaz; Produção: (s.n) Sinopse: Um filme entre o documental e a ficção de uma experiência real, enquadra-se num processo de experimentação em torno da Paisagem Primitiva, matriz temática do corpo de trabalho do artista plástico Pedro Vaz. Mareantes (7´) Realização: Gonçalo Loureiro, Rui João Rodrigues, Sónia Faria Lopes; Produção: Cenjor Sinopse: Os mareantes de Sesimbra têm-se debatido com várias contrariedades. A nova legislação e a ausência de diálogo por parte do Governo são fatores encarados como mais prejudiciais do que as intempéries. Montemor (69´) Realização: Ignasi Duarte; Produção: Pão Filmes, Citemor, Periferia Filmes Sinopse: Um homem que caminha pelo campo. Um artesão que trabalha a madeira. Um velho que fala de Deus com firmeza. Em frente à sua habitação passam comboios de cinco em cinco minutos. Umas mulheres cantam num bosque. E é assim que a vida passa, ali. Maria Amélia - De Casa para o Lar (30´) Realização: Cândida Pinto; Produção: João Nuno Assunção, Jorge Pelicano Sinopse: Os últimos dias de Maria Amélia na sua casa de sempre. As conversas e os silêncios, as memórias e as expectativas. A sua chegada à nova casa, o lar onde encontra uma amiga, onde se assusta com tanta cara desconhecida. Morte anunciada. Um filme sobre um filme (35´) Realização: Maria Antunes; Produção: Idealize Sinopse: Este é um olhar sobre a rodagem do filme “Lobos” de José Nascimento. Um filme sobre um filme” centra-se nas condições em que o filme foi rodado, no espírito de camaradagem da equipa que o tornou possível e na direção do realizador. Meio Caminho Andado (7´) Realização: Bárbara Gouveia, Gisela Pissarra, Miguel Ribeiro Fernandes, Paulo Cunha Fernandes; Produção: Cenjor Sinopse: Na noite anterior a uma greve geral, um grupo de carteiros junta se para impedir a central de correios de funcionar. Durante o dia, percorrem as principais avenidas de Lisboa, manifestando o seu descontentamento. 151 Mú (44´) Realização: Rui António; Produção: DeVir; Capa - Centro de Artes Performativas de Faro Sinopse: 3 + 1 documentários sobre a Serra do Mú ou Caldeirão. que fazem. A arte faz parte da vida, mas entre a sociedade e a cultura, o conflito é inevitável. O Alívio dos Apertos (30´) Realização: Catarina Neves; Produção: (s.n) Sinopse: “Ressuscitou! Como disse? Aleluia! Aleluia! Aleluia!”. Assim se canta na Páscoa, na procissão das “Tochas Floridas”, uma tradição que, em São Brás de Alportel (Algarve), se mantém igual há mais de 70 anos e onde Afonso faz questão de regressar todos os anos.” Nada/Tudo (15´) Realização: Henrique Prudêncio; Produção: Henrique Prudêncio Sinopse: “Sempre fui contra Auto-Retratos. Acho que um filme deve ser algo universal, que consiga tocar todas as pessoas que o veem. Precisamente por isso é que me desafiei a fazer um. Foi claramente o trabalho mais difícil que fiz. Foi também o mais gratificante. Afinal, retratar-nos não é fácil.” O Arquitecto do Samba (57´) Realização: Pedro Gonçalves Sabino; Produção: (s.n) Sinopse: Investigação sobre a vida do desconhecido arquiteto e sambista português, Reinaldo Nunes. As suas vivências e testemunhos são um convite a vivermos a nossa própria inconsciência histórica e cultural afroluso-brasileira, agora, no contexto pós-colonial. Nadir Afonso - O Tempo Não Existe (55´) Realização: Jorge Campos; Produção: Vigília Filmes Sinopse: Jorge Campos volta a um lugar onde já foi feliz, e esse lugar chama-se Nadir Afonso, título do filme que rodou em 1993 para a RTP. Não-Filme (19´) Realização: Ana Costa; Produção: Henrique Prudêncio Sinopse: As frustrações de se tentar fazer um projeto sobre o futuro podem levar a um nãofilme sobre as mesmas. O Bravo Som dos Tambores (25´) Realização: João Botelho; Produção: Alexandre Oliveira, Ar de Filmes Sinopse: Para Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. As Festas Nicolinas. As impressões, sensações, visões sobre esta festividade popular são transmitidas através do olhar de uma bailarina que se deixa envolver pelo ritmo e energia das festas. Não me Importava Morrer se Houvesse Guitarras no Céu (52´) Realização: Tiago Pereira; Produção: Música Vadia Sinopse: A existência e o valor único do um património imaterial, em especial de uma prática musical coreográfica, proveniente dos Açores, a Chamarrita. O Canto do Rocha (19´) Realização: Helvécio Marins Jr.; Produção: Curtas Metragens CRL Sinopse: As histórias, aventuras e desventuras de Alfredinho Rocha e seus amigos: um cantor de fado, um lutador de karaté, um ex‑traficante, um proprietário de um café nas Fontainhas do Porto. Nós na Rua (60´) Realização: Luís Margalhau; Produção: Margas Filmes, CineClube de Avanca, Filmógrafo Sinopse: Dia após dia, homens e mulheres ocupam a baixa pombalina para fazer dela o seu palco. Chamam-lhes artistas de rua, mas ninguém sabe quem são ou porque fazem o O Carnaval é um Palco, a Ilha uma Festa (93´) Realização: Rui Mourão; Produção: Rui Mourão Sinopse: Rui Mourão partiu de Lisboa com a sua câmara à procura da impressionante riqueza cultural das Danças de Carnaval da ilha Terceira. 152 O Começo da Vida (32´) Realização: Sara Santos; Produção: Sara Santos, Henrique Prudêncio, ESTA Sinopse: “A felicidade só cria recordações.” Honoré Balzac. “Aqui não há passado, apenas um espaço para momentos felizes, revividos vezes e vezes sem conta.” Este é um filme ensaio onde se pretende perceber como o cinema pode imortalizar as memórias de uma criança bem como a sua perceção da vida e da morte. Almeida) tenta desesperadamente acabar um trabalho de pesquisa sobre Joaquim Novais Teixeira, orgulhoso vimaranense desaparecido em Paris em 1972. Num constante cruzamento entre o passado e o presente, entre a ficção e o documentário, o filme atravessa diferentes cidades, épocas cruciais do século passado, refletindo a história do país e do mundo através das palavras dos que o conheceram. O Homem do Tractor (19´) Realização: Gonçalo Branco; Produção: Gonçalo Branco Sinopse: Numa aldeia da Beira Baixa, vive um homem que conduz o seu trator. O trator é um companheiro ao volante do qual o mundo se expande. Mas a decadência do seu corpo ameaça. O Contentor (55´) Realização: Edgar Feldman; Produção: Tinta Invisível Sinopse: Numa escola secundária no centro de Lisboa existe uma turma de adolescentes com um regime de ensino especial. Dentro da sala de aulas cruzam-se dois filmes: o de uma equipe de filmagens que pretende realizar um documentário e um outro realizado pelos próprios alunos. Ó Marquês Anda cá Abaixo Outra Vez! (60´) Realização: João Viana; Produção: Papaveranair Sinopse: “Há quem pense em fugir. Um carro da polícia na esquina. Uma ambulância. Os meus amigos do cinema perguntam o que se está a passar. Uma mulher atravessa a rua a correr.” O Dom das Lágrimas (28´) Realização: João Nicolau; Produção: Fundação Cidade de Guimarães, O Som e a Fúria Sinopse: Um caçador encontra uma princesa que chora muito. O Meu Avô Republicano (66´) Realização: Fernando Matos Silva; Produção: Fernando Matos Silva Sinopse: (s.n) O Encontro (13´) Realização: Rita Caldeira; Produção: Rita Caldeira Sinopse: “Ser solitário não é necessariamente sofrimento, porque há encontro dentro de nós, na mais íntima construção da fortaleza, que vence o tremor de flores delicadas, que, qual verme, por vezes nos assalta de incredulidade”. O Fado da Bia (60´) Realização: Diogo Varela Silva; Produção: Blackmaria, João Figueiras Sinopse: Beatriz da Conceição é um dos maiores nomes do Fado dos últimos 40 anos. O filme é uma viagem pela sua carreira, pela sua vida, guiada pela própria. O Milagre de Santo António (40´) Realização: Sergei Loznitsa; Produção: Curtas Metragens CRL, Nuno Rodrigues Sinopse: Em meados de Junho, a aldeia de Santo António de Mixões da Serra, Valdreu, na região Norte de Portugal, homenageia o seu santo patrono com um festival muito característico. Nesse dia, os agricultores locais trazem os seus animais para a igreja – vacas, cavalos, cães, gatos, galinhas, coelhos – para serem benzidos. Esta tradição ancestral é passada de geração em geração. O Fantasma do Novais (90´) Realização: Margarida Gil; Produção: Ambar Filmes, Fundação Cidade Guimarães Sinopse: Na Guimarães de hoje, Ana (Cleia O Mundo de Agustina (12´) Realização: Joana Beleza, Maria João Costa; Produção: R/com – Renascença, Comunicação Multimédia 153 Sinopse: De Agustina Bessa-Luís há ainda vários livros por publicar. A escritora retirou-se há muitos anos da cena pública, mas a família revela agora os seus romances de juventude, quando ainda assinava como Maria Ordoñes. Obrigação (60´) Realização: João Canijo; Produção: Curtas Metragens CRL, Dario Oliveira Sinopse: Nas Caxinas a relação entre a mulher e o pescador funda-se numa confiança vital, que nasce da dependência recíproca e total para a sobrevivência da família. A mulher conta e depende do pescador para sobreviver, o pescador conta e depende da mulher para lhe gerir a vida. O Pão que o Diabo Amassou (83´) Realização: José Vieira; Produção: Kintop, Zeugma Sinopse: Adsamo é uma aldeia no extremo da Europa. A memória dos seus habitantes não retém apenas as catástrofes que se abateram sobre Portugal, ela conta um século inteiro de misérias, de êxodos e de guerras. Em Adsamo, um mundo quase suspenso no alto da montanha, os cantos da terra ainda não foram esquecidos mas já não são cantados. Oh Johny (17´) Realização: Paulo Carneiro; Produção: Paulo Carneiro, João Maria, André Escovinha Sinopse: Johny corre ao ritmo de todos os dias. No céu, o tempo passa à velocidade do costume. Onde a Estrada Acaba (26’) Realização: Rui Dias, Andreia Ferreira, Luís Leite, Nídia Rainha; Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse: No âmbito Guimarães Capital da Cultura, um filme sobre a árvore mais conhecida da cidade, um eucalipto centenário. O Regresso (70´) Realização: Júlio Alves; Produção: Ukbar Filmes Sinopse: “Os habitantes de Mega Fundeira, uma pequena aldeia do centro de Portugal, emigraram na sua quase totalidade ao longo das décadas de 1960 e 70, deixando a praticamente vazia. Entretanto muitos regressaram para ‘morrer na terra’. Outros não o conseguiram. É o caso dos meus pais, que faleceram antes de poder cumprir o seu projeto de vida.” Operação Big Bang (27´) Realização: Vasco Mendes; Produção: Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura Sinopse: O “GuimarãesPlay” espalhou música na rua, nos hospitais, nas escolas, nos autocarros. Música feita pelas pessoas, música feita pelos vimaranenses, música de todos, por todos, para todos. A “Operação BigBang” nasceu da preocupação em tornar esta participação mais visível, produzindo um evento que envolvesse todos os que dele quisessem fazer parte, sem exceção. O Sabor do Leite Creme (74´) Realização: Hiroatsu Suzuki, Rossana Torres; Produção: Associação Entre Imagem Sinopse: Duas irmãs de 96 e 98 anos vivem numa velha casa no centro de Portugal, em frente da escola onde em tempos ensinaram. O seu quotidiano, sereno e sem pressas, é cheio de pequenos trabalhos e de memórias. Tal como os tapetes que são bordados sem modelo nem desenho prévio, as duas irmãs não fazem planos para o futuro: ele apenas acontece dia após dia. Órfãos do Destino (58´) Realização: José Meireles; Produção: (s. n.) Sinopse: Seguimos o percurso de uma bailarina portuguesa que regressa à Roménia, onde há dez anos atrás se deslocara para se integrar nas comunidades com o objetivo de aprender dança cigana. O Som do Cinema (9´) Realização: Carla Magro Dias; Produção: (s. n.) Sinopse: O Som do Cinema. A cabine de projeção, o projecionista e o filme antes de ser filme. 154 Os Dias no Mar (34’) Realização: João Santos Duarte; Produção: Rádio Renascença / Renascença V+ Sinopse: Durante uma semana, uma câmara acompanha a vida a bordo do veleiro Santa Maria Manuela, numa viagem entre o norte de França e Lisboa. Paisagens de Papel (12´) Realização: André Pisca, Pedro Almeida; Produção: Escola Superior de Tecnologias de Abrantes (ESTA) Sinopse: Numa região marcada pelo abandono e pela desertificação há mais vestígios para além da solidão. Os Pastores (15´) Realização: Margarida Meneses; Produção: Pedro Bravo, Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) Sinopse: Numa aldeia portuguesa, no início do século XX, a fé foi posta em causa. Maria do Carmo Meneses, bisavó da realizadora, acolheu em sua casa os 3 pastorinhos de Fátima. Pão de Ul (9´) Realização: Igor Martins, Rosário Costa, Sara Petiz; Produção: Igor Martins, Rosário Costa, Sara Petiz Sinopse: “É preciso dar murros...” assim explica D. Ângela Terra, uma das poucas padeiras que ainda faz o famoso “Pão de Ul” de forma artesanal. Hoje, o seu processo puramente artesanal de fabrico está praticamente perdido. Os Vivos Também Choram (30´) Realização: Basil da Cunha; Produção: O Som e a Fúria, RTS Rádio Télévision Suisse Sinopse: Zé, 50 anos, trabalha no porto de Lisboa. Olha com inveja para os navios nos quais nunca poderá viajar. Sonha ir embora, deixar a mulher, o bairro onde vivem juntos. Há muito que poupa discretamente para viajar para a Suécia. Mas um dia descobre que a mulher lhe roubou as poupanças para comprar uma máquina de lavar a roupa. Penitência (54´) Realização: Vítor Brito, Mário Pereira; Produção: Vítor Brito, Mário Pereira Sinopse: Em Loriga os rituais Quaresmais têm início na Missa de Quarta-feira de Cinzas onde é imposto borralho na cabeça dos participantes da assembleia de Deus. A partir deste dia, homens de fé juntam-se no adro da Igreja para cumprir uma tradição peculiar e secular de beleza invulgar, a Amenta das Almas. Outras Cartas Ou O Amor Inventado (51´) Realização: Leonor Noivo; Produção: C.R.I.M. Sinopse: Da obra literária “Novas Cartas Portuguesas”, escrita em conjunto pelas “Três Marias” nos anos 70, para um pequeno inventário cinematográfico que cruza esse legado literário com diferentes situações, contextos e interlocutores. PDL-LIS (28´) Realização: Diogo Lima; Produção: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Sinopse: Um jovem a estudar em Lisboa faz uma viagem a São Miguel para descobrir qual é a sua relação com a terra-natal à medida que a distância e o tempo os vão separando. Poeta em Si Mayor (62´) Realização: Diogo Varela Silva; Produção: Blackmaria Sinopse: O poeta Horacio Ferrer, criador da Nueva Guardia do Tango e poeta de eleição de Astor Piazzolla, com quem criou várias obras. Outro Noutro Lugar (74´) Realização: Raquel Carrilho, João Luz; Produção: João Luz Sinopse: Em 1996, o escritor Pedro Paixão afirma numa entrevista com Francisco José Viegas: “Eu não tenho imaginação nenhuma. A minha imaginação é zero. O que não quer dizer que aquilo que eu escrevo é uma transposição daquilo que eu vivi, porque não é.” O filme é um ponto de vista sobre aquele ponto de vista. Porque me Negas o que te Não Peço? (23´) Realização: Elsa Bruxelas; Produção: (s. n.) Sinopse: A partir de um poema de Ricardo Reis, a construção de uma gravura / instalação, em 155 Quero-vos, Respeito-vos, Preciso de Vocês (15M de Dentro) (72’) Realização: Alex Campos García; Produção: Nomad Eyes - Audiovisol Sinopse: O 15 de maio de 2011, na “Puerta del Sol”, amanheceu junto de uma geração num acordar coletivo. Os indignados tomam a praça e começam um movimento que terá expansão mundial. chapa de zinco serigrafada, em que mais do que um olhar próprio, a câmara incorpora o autor. Porto Formoso (70’) Realização: Amaya Sumpsi; Produção: (s. n.) Sinopse: Numa noite de Carnaval em 2005, uma onda que a população acredita vir do famoso tsunami da Indonésia, atinge diversos portos da ilha de São Miguel, nos Açores. Na pequena aldeia de Porto Formoso, dois barcos ficam desfeitos. Com apoios institucionais constroemse dois barcos maiores, mas no porto da aldeia, que antes parece uma praia, é quase impossível vará-los. Qohelet (3,18-22) (51´) Realização: Ricardo Silveira; Produção: Put your Logo Here (Portugal, Brasil) Sinopse: O nome original do livro do Eclesiastes. 3,18-2 – os famosos versos que dizem que os homens e os animais “vieram do pó e para o pó retornarão”. Os personagens são a família do realizador e alguns vizinhos que vivem na periferia de São Paulo. Portugal é Grande - A História de um GapYear (49’) Realização: José Cunha; Produção: Go-To, Produção e criação de audiovisuais LDA Sinopse: A jornada de Gonçalo e Tiago pelos países da Europa e da Ásia através dos seus testemunhos. O projeto Gap Year Portugal é financiado pela Fundação Lapa do Lobo. Raúl Brandão Era Um Grande Escritor... (33´) Realização: João Canijo; Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse: Tentativa para descobrir se Raul Brandão deixou algum rasto em Nespereira (Guimarães), a terra que adotou como sua. Resistiu Raul Brandão ao modo português da não-inscrição? Deixou ele algum rasto no branco histórico e psíquico construído pelos portugueses, em que usualmente nada deixa rasto? Pt.es (23´) Realização: Pedro Sena Nunes; Produção: Associação Vo´Arte Sinopse: O filme faz uma contagem crescente até à desmistificação de uma ponte que liga e separa um país do outro. Portugal e Espanha, distanciados pelos fragmentos de memórias, imagens, objetos, vozes e ruínas. O tempo esgota-se. Paira a ansiedade da fronteira e a força de acreditar que é possível mudar algumas coisas até no último minuto da nossa travessia. Reconversão (65´) Realização: Thom Andersen; Produção: Curtas Metragens CRL, Dario Oliveira Sinopse: 17 edifícios e projetos do arquiteto portuense Eduardo Souto Moura, acompanhados pelos seus próprios escritos. Investigação sobre a sua arquitetura, sem comentário crítico. O filme remete nos de novo para os ideais de Dziga Vertov. Que Ânsia Distante Perto Chora? (30´) Realização: Ana Costa, Henrique Prudêncio, Sara Santos; Produção: Ana Costa, Henrique Prudêncio, Sara Santos Sinopse: Um Poema (“Nevoeiro”, de Fernando Pessoa). Uma Corrente. Uma Geração. Qual a reação da atual geração a um dos maiores poemas do nosso país? Qual a interpretação que têm? Será que “Está na Hora” de mudar? Regressa Urgente (52´) Realização: João Sardinha, António João Saraiva; Produção: Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais - UAb Sinopse: Em 2005, Marta Raposo partiu de Montreal, Canadá, em busca de um sonho 156 Santa Maria Connection (54’) Realização: Eberhard Schedl; Produção: Horizonte Filmes Sinopse: A pequena ilha dos Açores funcionava como um porta-aviões que precisava de muita mão-de-obra, podendo acolher e movimentar mais de uma centena de aviões e onde pessoas de todo o mundo passavam nas suas viagens. Com o avanço tecnológico, ninguém imaginou que tudo isto fosse uma passagem geográfica, mas também uma passagem no tempo, deixando para trás as pessoas com as suas memórias. afirmar-se como fadista em Portugal. A câmara acompanha a fadista após 5 anos a residir em terras lusas, numa altura em que a protagonista se prepara para regressar de novo ao Canadá. Repare Bem (95´) Realização: Maria de Medeiros; Produção: Instituto Via BR Sinopse: Três gerações de mulheres, uma história de sobrevivência, de coragem e de luta por um mundo mais justo entre o Brasil, o Chile, a Itália e a Holanda. Requiem Oliva (53´) Realização: Paulo Porfírio; Produção: HD Press Sinopse: O fim de uma época, aliás, mais do que o fim, o após-final. O que é que acontece quando um espaço deixa de existir como tal? Qual a sua ocupação, que imagens é que o povoam? A história da Oliva pelos olhos e voz de alguns dos seus trabalhadores, a sua relação emocional com a fábrica. Santa Maria dos Olivais (7´) Realização: Susanne Malorny; Produção: Susanne Malorny Sinopse: A segunda maior freguesia de Lisboa liga a cidade com os subúrbios, o aeroporto com o rio, construção e ruína, abundância e privação, acumulação com isolamento, vastidão e pormenor. Este filme é o retrato de um momento, uma pequena homenagem aos cineastas vanguardistas dos anos 1920. Rhoma Acans (12´) Realização: Leonor Teles; Produção: Daniel Valente, Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) Sinopse: Uma viagem de autodescoberta com o objetivo de compreender o verdadeiro peso identitário da sua herança cigana, a partir da história da sua própria família e do modo como ela se afasta ou aproxima da história de uma jovem cigana no seio da tradição, Joaquina. São Lázaro 94 (15´) Realização: Lecat Jérôme; Produção: Raw Material Production Sinopse: A 25 de novembro de 2010, em Lisboa, após a manifestação da greve geral, o n° 94 da Rua de São Lázaro, abandonado há 10 anos, é ocupado. No dia seguinte, é despejado pela polícia por ordem da Câmara Municipal. Após mais 2 anos de inação dos poderes públicos é ocupado de novo e volvido um mês novamente despejado pela polícia. R. Stevie Moore - Tape To Disc (38´) Realização: Nuno Monteiro; Produção: Nuno Monteiro Sinopse: Documentário DIY (do-it-yourself) editado a partir do vasto arquivo de vídeo e áudio de R. Stevie Moore, conhecido como o “Padrinho da Gravação Doméstica”. Seems so long ago, Nancy (45´) Realização: Tatiana Macedo; Produção: Tatiana Macedo; C.R.I.M. Produções Sinopse: “Primeiro desenhamos um círculo, depois dá se uma rutura, um pequeno movimento, uma linha de fuga. Estas coisas não acontecem numa sequência, estão constantemente a acontecer ao mesmo tempo. Filmado na Tate Britain e Tate Modern, Londres.” Sagittarius (9´) Realização: Samuel Marques; Produção: Samuel Marques Sinopse: O quotidiano de oito pescadores na arte da pesca de arrasto, tendo como primeiro objetivo ser o menos ficcionado possível. 157 Sem Anos (30´) Realização: Lino de Oliveira, Marta Tavares; Produção: Margarida Borges; João Costa; ETIC Sinopse: Um filme que mostra diferentes facetas do bairro da Bica, em Lisboa, e leva nos a ver com outros olhos o bairro, desde o nascer do dia até ao anoitecer. mostrando como estes coletivos desenvolvem formas de auto-organização, criam redes para produção e partilha de atividades culturais e interagem com as comunidades em que se integram. Tavira Islâmica (9´) Realização: José Nascimento; Produção: David & Golias Sinopse: Núcleo Museológico de Tavira Islâmica. Síria (15´) Realização: Carlos Gomes; Produção: Carlos Gomes Sinopse: O realizador passeava em Atenas quando uma manifestação de Sírios, em solidariedade com a luta distante dos seus compatriotas, lhe chamou a atenção. Aproximou-se muito para os fotografar e acabou a filmar, envolvido emocionalmente com a situação. O filme é a montagem dessas filmagens com vídeos anónimos de uma extrema crueza encontrados na internet. Televisão (15´) Realização: Filipe Afonso; Produção: Filipe Afonso Sinopse: “Eu ando, no meio da noite, na cidade e ouço televisões. Suponho que todas juntas poderiam contar uma história e darem-me um sinal até chegar a casa. Enquanto ando, aproximo-me, tento ouvir melhor, ver mais, mais, mais…” Sobre Viver (51´) Realização: Cláudia Alves; Produção: Cláudia Alves Sinopse: Uma pequena aldeia chamada Regoufe, no norte de Portugal, está aparentemente condenada ao abandono dentro de poucas décadas. Os poucos habitantes do lugar seguem com normalidade as rotinas da aldeia até que sucede algo inesperado que ameaça a comunidade. Sobre Viver não é uma viagem pelos caminhos difíceis da desertificação. É um encontro com o lugar e a vida, através de momentos de desgraça e encanto. Teles (13´) Realização: José Magro; Produção: UCP – Universidade Católica do Porto Sinopse: Teles é marcador de linhas do União Sport Clube de Baltar. Tempo/Espaço (26’) Realização: Tiago Afonso; Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse: As atividades e funcionamento no Estabelecimento Prisional e Regional de Guimarães. Sonhar Era Fácil (52´) Realização: Leandro Ferreira; Produção: Ana Costa Sinopse: Série documental de cinco episódios que aborda o tema da comédia portuguesa, a partir de uma perspetiva histórica e analítica, através de extratos dos filmes mais significativos e do testemunho dos protagonistas, através de depoimentos filmados. Terra de Ninguém (72´) Realização: Salomé Lamas; Produção: O Som e a Fúria Sinopse: Paulo oferece retratos sublimados das crueldades e paradoxos do poder, assim como das revoluções que o depuseram, apenas para erguer novas burocracias, novas crueldades e paradoxos. O seu trabalho como mercenário encontra se na franja destes dois mundos. Squatted Freedom (Liberdade Ocupada) (50´) Realização: João Romão; Produção: Kintop Sinopse: O movimento “ocupa” em Amesterdão, 158 Thierry (17´) Realização: Rodrigo Lacerda; Produção: Rodrigo Lacerda Sinopse: Thierry vive em Londres. É gay, trabalhador do sexo, ator porno ocasional, ativista LGBT e o presidente da delegação dos trabalhadores do sexo do terceiro maior sindicato do Reino Unido. Possui uma licenciatura em História e concluiu recentemente um mestrado em British Women History na London Metropolitan University. Um Passeio no Vazio (18´) Realização: Gonçalo Cardeira, Rodrigues Lopes; Produção: Escola Superior de Tecnologias de Abrantes (ESTA) Sinopse: Num país cada vez mais imerso em retrocesso social, jovens investem no seu futuro frequentando licenciaturas e, no fim, festejam, ingenuamente, a sua entrada na agressiva realidade do desemprego. Um Rio Chamado Ave (22´) Realização: Luís Alves de Matos; Produção: Curtas Metragens CRL, Dario Oliveira Sinopse: Uma viagem contínua entre o passado e o presente. Um sentido de impermanência, como a condição natural do rio e do Homem. Um voo rasante sobre as suas águas, desde o seu início nas montanhas até à sua foz. Tio Carlos (12´) Realização: João Gomes; Produção: João Gomes Sinopse: O realizador interroga a sua própria mãe sobre um tio que nunca conheceu e que por algum motivo é excluído da tradição oral da família. Ela não quer recordar o assunto. O seu irmão, Carlos Alberto de Jesus Silva, morreu em 1969 na Guerra Colonial em Angola em circunstâncias que ignora e seu corpo jaz também em morada incerta. Uto_p_ya (18´) Realização: João Luz; Produção: Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA) Sinopse: Em paralelo: imagens de reportagem jornalística sobre o massacre de Utoya; imagens de registo aéreo de um ataque militar por forças norte-americanas a um grupo de pessoas no Iraque; um narrador que descreve um espaço idílico, mas invisível, numa língua que nos pode ser estranha. Torres e Cometas (60´) Realização: Gonçalo Tocha; Produção: Fundação Cidade Guimarães, Gonçalo Tocha Sinopse: Como anuncia o seu título astronómico, Tocha atinge a cidade e procura a origem de um novo reino em vestígios: figuras de santos, monumentos, marcos históricos e música que se faz ouvir no espaço conquistado. Vamos Tocar Todos Juntos para Ouvirmos Melhor (26´) Realização: Tiago Pereira; Produção: Fundação Cidade de Guimarães Sinopse: Visão documental do património musical da cidade. Trabalho de Festa (49’) Realização: José Cunha; Produção: Go-To, produção e criação de audiovisuais LDA Sinopse: A música tradicional portuguesa vista na perspetiva de quem a vive, a divulga e a transmite às novas gerações. Visões de Madredeus (70´) Realização: Edgar Pêra; Produção: Edgar Pêra Sinopse: Cine-diários dos Madredeus, de 1987 a 2006, da Europa ao Oriente. Trampolim (13’) Realização: David La Rua; Produção: ETIC Sinopse: Um ginasta cuja modalidade é o mini duplo trampolim. O seu percurso desportivo desde criança até à atualidade, revelando a vontade de treinar e a ambição de chegar longe. 159 Vítor – Fecho da Fábrica (25´) Realização: Cândida Pinto; Produção: João Nuno Assunção, Jorge Pelicano Sinopse: O impacto da crise económica no tecido empresarial português. Durante meses seguiu se a vida de um pequeno empresário português, Vítor Rita, obrigado a fechar a unidade têxtil que o pai ergueu há vários anos. X e Y (16´) Realização: João Costa; Produção: … Sinopse: X encena, Y ensaia, X ensina, Y aprende, X mostra, Y representa, X atua, Y também, X ainda edita. 160