CAPÍTULO 6 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS ÍNDICE EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 1. Histórico 2. Tipos de experimentos com animais 3. Legislação e diretrizes para testes 4. Comitês para bem-estar animal e revisão ética 5. Problemas associados a experimentos com animais 6. Alternativas para o uso de animais – os 3Rs a) Substituição (Replacement) b) Redução (Reduction) c) Refinamento (Refinement) 7. Estratégias de proteção animal a) Campanhas e lobby b) Educação do consumidor c) Educação formal 8. Recursos adicionais 127 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 1 HISTÓRICO A disseminação de experimentos com animais e a resistência pública à vivissecção começaram no século 19. Vivissecção é outro termo para experimentos com animais, que literalmente significa cortar animais vivos. Em meados do século 20, o número de animais usados em pesquisas e experimentos aumentou drasticamente. Porém, no começo dos anos 1980, os números começaram a cair devido à pressão da opinião pública e a restrições financeiras. Hoje, estima-se que mais de 100 milhões de animais sejam usados todos os anos em experimentos de laboratório em todo o mundo, sendo 11 milhões na União Européia (UE). Muitas espécies são usadas em experimentos, incluindo camundongos, ratos, porquinhosda-índia, coelhos, peixes, pássaros, gatos, cães e primatas. Em 2002, roedores e animais de sangue frio representaram 75% dos animais usados em experimentos na UE. Animais para pesquisas podem ser criados em estabelecimentos específicos para esse fim, capturados no seu ambiente natural e transportados para laboratórios ou vir de populações na rua. As sociedades de proteção aos animais têm opiniões e posições diferentes em relação a questões que envolvem experimentos com animais, que vão desde os abolicionistas, que acreditam que essas práticas são eticamente erradas, até os defensores do bem-estar, que tentam melhorar as condições e o tratamento dado aos animais para experimentos. No entanto, apesar de suas opiniões serem bastante diferentes, eles têm muito em comum quando examinados de forma mais detalhada. Por exemplo, muitos bem-estaristas se opõem a qualquer experimento que provoque sofrimento, seja na captura, na reprodução, na criação, no confinamento, no manuseio ou no próprio ato em si. Ambos os grupos apóiam os 3Rs (Substituição, Redução e Refinamento), mas os abolicionistas defendem a substituição total, enquanto os bem-estaristas vêem a redução e o refinamento como passos em direção à substituição total. 2 TIPOS DE EXPERIMENTOS COM ANIMAIS Os principais tipos de experimentos realizados com animais incluem: pesquisa básica ou essencial (busca por conhecimento, tais como, fisiologia); pesquisa biomédica (uso de animais como modelos para doenças humanas); engenharia genética (para produzir animais transgênicos, por exemplo); testes de produtos (como produtos domésticos); e educação e treinamento (tais como dissecação em escolas). As pesquisas básicas envolvem o maior número desses animais. Exemplos incluem testes para descobrir como a memória funciona no cérebro ou como o fígado lida com substâncias tóxicas. Os defensores do uso de animais para esse fim alegam que as pesquisas freqüentemente contribuem indiretamente para o desenvolvimento de novos ingredientes ativos e terapias. No entanto, antivivisseccionistas acreditam que a contribuição da pesquisa para drogas e tratamentos novos é grosseiramente superestimada. A pesquisa biomédica é a segunda maior área de experimentação com animais; dedica-se ao estudo da prevenção e do tratamento de doenças e aos fatores genéticos e ambientais relacionados com doenças e saúde. 128 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Tradicionalmente, o desenvolvimento da medicina humana e veterinária tem se baseado na experimentação com animais, de uma certa forma, assim como testes para diagnóstico e controle de doenças. No entanto, nas duas últimas décadas, métodos alternativos in-vitro (utilizando células, tecidos e órgãos) resultaram na necessidade de menos animais para esse fim. Os antivivisseccionistas acreditam que, mais do que depender de pesquisas biomédicas, maior atenção deveria ser dada à medicina preventiva e à busca de estilos de vida mais saudáveis. Menos de 10% das doenças são congênitas (herdadas), e antivivissecionistas acreditam que o foco da pesquisa deveria ser em epidemiologia, experimentos clínicos com seres humanos e outras alternativas sem uso de animais. A engenharia genética é a área que cada vez mais utiliza experimentos com animais. Ela envolve a manipulação de genes entre indivíduos da mesma espécie ou entre espécies diferentes para produzir animais transgênicos. Cerca de 150 a 200 animais são necessários para se tentar obter um espécime transgênico com uma configuração específica de características desejáveis. Os animais produzidos são então usados para estabelecer uma linhagem genética específica com esses traços. A engenharia genética pode provocar efeitos colaterais sérios e inesperados, como o desenvolvimento de tumores, má-formação cerebral, deformidades nos membros e no cérebro, infertilidade, artrite, diabetes e outras disfunções metabólicas. O sofrimento pode também surgir como conseqüência direta da pesquisa, como no caso de animais que foram geneticamente modificados para servirem de modelos para doenças humanas dolorosas e penosas, como o câncer, o Mal de Alzheimer e o Mal de Parkinson. Cientistas também já tentaram manipular geneticamente animais de produção para fazê-los crescer maiores, mais magros ou mais rapidamente. Outras questões ligadas à engenharia genética incluem clonagem, registros de patente e xenotransplantes (transplantes de órgãos ou tecidos de animais para seres humanos). Testes de produtos: os testes para riscos tóxicos de produtos químicos são normalmente exigidos, apesar da possibilidade de exposição ser tão baixa que nem a menor dose tóxica prevista será atingida na vida real. Uma abordagem mais realista, que exigiria menos testes e conseqüentemente menor número de animais, seria primeiramente medir os níveis de exposição (de Boo e Hendriksen, 2005). Essa abordagem é conhecida como toxicologia invertida. Em 2003, a Comissão Européia adotou um novo critério regulador para produtos químicos para a UE chamado REACH (Registro, Avaliação, e Autorização de Produtos Químicos). Esta proposta visa ao teste de 30 mil produtos químicos que estão já em uso e precisariam de 4 a 20 milhões de animais para testes (o número depende de diferentes cenários). Muitas organizações de proteção vêm trabalhando para persuadir autoridades nacionais e da UE a adotar novos métodos que não usem animais. O programa de testes REACH tem sido alvo de críticas de especialistas por serem lentos, caros e com poucas chances de atingir seus objetivos. O programa levou 11 anos para avaliar os riscos de 140 produtos químicos, mas, mesmo assim, REACH propõe que a indústria forneça dados semelhantes para 30 mil produtos químicos, na mesma escala de tempo. Todos os anos, aproximadamente 35 mil animais na Europa e milhões em todo o mundo são submetidos a dores e sofrimentos intensos em experimentos para testar cosméticos e seus ingredientes. Perfumes, xampus, pastas de dente, tinturas de cabelo, cremes 129 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 dermatológicos, maquiagem, desodorantes e produtos de limpeza são testados em animais. As sociedades de proteção são unânimes em concordar que não há nenhuma justificativa para infligir sofrimento a eles unicamente para satisfazer a vaidade humana. A UE adotou proibição gradual dos testes com animais para produtos cosméticos e de perfumaria, e, a partir de 2012, todos os testes para esses fins serão proibidos. No entanto, ainda são realizados em muitos países em todo o mundo. Educação e treinamento: todos os anos, centenas de milhares de animais são usados em testes, mortos e dissecados em escolas e universidades em todo o mundo. Os defensores do uso de animais para a educação alegam que a experiência do tipo “mão na massa” é a melhor forma de aprendizado e que é interessante oferecer aulas práticas com animais para os alunos. Os que são contrários – ou “opositores conscienciosos” – questionam a (falta de) justificativa ética e a utilidade educacional do uso de animais. É importante que os alunos possam optar por não participar das sessões dos cursos que usam animais para experimentos, se forem eticamente contrários a isso. Da mesma forma, os alunos não devem ser prejudicados nos exames ou na aprovação nos cursos, caso optem pela não participação. Organizações e websites tais como InterNICHE, European Resource Center for Alternatives in Higher Education (EURCA) e www.learningwithoutkilling.info foram criados especialmente para ajudar alunos conscienciosos que se opõem a essa prática. Eles oferecem uma grande variedade de recursos alternativos que podem ser usados em substituição a experimentos com animais. Estudos mostram que alunos treinados usando alternativas humanitárias têm desempenho no mínimo tão bom como os treinados usando animais. 36,7% (11/30) dos estudos em todos os níveis educacionais revelam que alunos que usaram alternativas humanitárias obtiveram resultados superiores ou equivalentes, mais rapidamente. Além disso, 56,7% mostraram eficácia educacional equivalente, e apenas 6,7% apresentaram eficácia educacional inferior. O uso de alternativas humanitárias na educação provavelmente influenciará os alunos que continuarem a atuar na área de pesquisa, uma vez que pensarão em alternativas desde o início, incorporando os 3Rs quando planejarem seus experimentos. O conceito dos 3Rs será discutido mais adiante. 3 LEGISLAÇÃO E DIRETRIZES PARA TESTES Os experimentos com animais são regidos por leis nacionais e internacionais. O nível de proteção legal concedido para eles, assim como as regulamentações acerca de licenças institucionais, inspeção e cumprimento, varia enormemente de um país para o outro. O uso de animais dentro dos Estados membros europeus é regulado pelo Council Directive (Conselho Diretor – 86/609/EEC) por meio da Avaliação das Leis, Regulamentações e Disposições Administrativas dos Estados Membros em Relação à Proteção dos Animais Usados para Experiências e Outros Fins Científicos (Approximation of Laws, Regulations and Administrative Provisions of the Member States Regarding the Protection of Animals Used for Experimental and Other Scientific Purposes), aprovada em 1986. Esse Conselho Diretor está sendo revisto no momento e espera-se que o novo inclua referências específicas a métodos alternativos para o uso de animais. 130 1 A Convenção Européia para Proteção dos Animais Vertebrados Usados para Experimentação e Outros Fins Científicos (European Convention for the Protection of Vertebrate Animals used for Experimental and Other Scientific Purposes), que foi endossada pelos Estados membros do Conselho da Europa, também controla os experimentos com animais na UE. EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Dentro da UE, a legislação nacional que rege os experimentos com animais geralmente reflete as regulamentações do Conselho Diretor Europeu (European Council Directive) e da Convenção do Conselho da Europa (Council of Europe Convention), embora haja ligeiras variações. O Decreto Holandês para Experimentos com Animais (Dutch Act on Animal Experimentation) e o Decreto para Procedimentos Científicos em Animais Britânicos de 1986 (British Animals – Scientific Procedures – Act 1986), por exemplo, são mais rigorosos que o Conselho Diretor (Council Directive). Diretrizes para testes: a maioria dos experimentos realizados com animais não tem exigência legal. No entanto, os regulamentos para testes de substâncias (químicas) e produtos biológicos (como vacinas) exigem experimentos com animais. Há muitas diretrizes européias e internacionais, como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Cooperation and Development – OECD), que estabelece diretrizes para testes com animais. Proposições para atualização dessas diretrizes precisam comprovar as vantagens para o bem-estar animal ou para o progresso da ciência. A Farmacopéia Européia especifica os vários tipos de substâncias que requerem testes com animais e também sugere alternativas para o uso de animais em testes de potência para compostos biológicos. Os EUA e o Japão têm outras diretrizes para a Farmacopéia que resultam em discrepâncias com relação às exigências e, conseqüentemente, na repetição de testes em diferentes partes do mundo. A Conferência Internacional para Harmonização (International Conference on Harmonisation), entre UE, EUA e Japão, acontece regularmente para chegar a um acordo comum para a regulamentação dos testes. Em relação a outros itens, como produtos domésticos, a lei geralmente exige que uma empresa forneça uma certa quantidade de resultados, tanto dos testes dos ingredientes, quanto do produto final, antes que um item seja lançado no mercado. O método pelo qual os resultados deverão ser obtidos não é especificado. No entanto, os dados obtidos a partir de experimentos com animais são considerados como o “padrão de excelência” (gold standard) pelas autoridades reguladoras e, dessa forma, são usados como referência. Embora muitos modelos com animais nunca tenham sido propriamente validados, diversas técnicas alternativas também não o foram ou não estão disponíveis no mercado e esse argumento é usado em defesa de todo o sistema de desenvolvimento, regulamentação e marketing de produtos que usam animais para testes. Tanto as leis quanto as diretrizes para testes e a posição das autoridades reguladoras precisam mudar para que os experimentos com os animais sejam abandonados em função de métodos mais modernos de testes, sem uso de seres vivos. 4 COMITÊS PARA BEM-ESTAR ANIMAL E REVISÃO ÉTICA Cada vez mais países estão organizando Comitês para Revisão Ética (Ethical Review Committees -ERS) ou Comitês para Uso e Cuidados Institucionais de Animais (Institutional 131 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Animal Care and Use Committees – ACUCs). Esses grupos analisam projetos de pesquisa e os avaliam à luz dos benefícios para a ciência e a sociedade e do custo para os animais. Além disso, também são avaliados os esforços dos pesquisadores para buscar métodos alternativos que não utilizam seres vivos ou que usam um menor número ou métodos que causam menor sofrimento aos animais. Os ERCs são constituídos de especialistas diferentes: pesquisadores, eticistas, especialistas “alternativos”, conselheiros para o bem-estar animal, especialistas em animais de laboratórios e, às vezes, leigos. Seu papel é unicamente avaliar e discutir projetos de pesquisas e sugerir formas por meio das quais os projetos podem ser melhorados para reduzir o sofrimento dos animais. Muitos comitês não têm autoridade para conceder licenças ou impedir experimentos, mas seus conselhos são levados a sério na maioria dos países. Acredita-se que, por causa da existência dos ERCs, o número de animais usados tem diminuído nas últimas décadas. Os projetos são minuciosamente analisados e alguns pesquisadores podem optar por não submeter projetos que tenham pouco mérito. 5 PREOCUPAÇÕES ASSOCIADAS COM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL O bem-estar de animais de laboratório pode ficar comprometido como conseqüência tanto das condições de vida quanto dos procedimentos que podem provocar sofrimentos leves, moderados ou graves. Alguns defensores de pesquisas com animais alegam que a vida em laboratório não é tão ruim, uma vez que o ambiente físico é adequadamente controlado: temperatura, umidade, iluminação, alimentação, água, ausência de predadores e doenças. No entanto, é impossível produzir em laboratório ambientes que estimulem todo o repertório comportamental de um animal. Na maioria das vezes, as acomodações são pequenas e inóspitas e os animais precisam de algum desafio ambiental para evitar o tédio e a apatia. Preocupações com o bem-estar existem tanto no caso de acomodações individuais quanto coletivas, ou seja, por isolamento ou superlotação. Neste caso, podem ocorrer danos auto-infligidos ou, quando animais incompatíveis são mantidos numa mesma jaula, agressões que podem resultar em ferimentos. Existem métodos para melhorar o bem-estar dos animais de laboratório que incluem melhorias no ambiente. Elas não deveriam ser vistas como um “luxo”, mas, sim, como uma necessidade básica. A maioria dos procedimentos causa medo ou estresse de alguma forma. Anestesia e analgesia (alívio da dor) geralmente devem ser administradas nos animais nos procedimentos dolorosos. No entanto, nem sempre são utilizadas, por serem consideradas desnecessárias ou alguns pesquisadores podem achar que afetam os resultados. Até mesmo rotinas laboratoriais comuns, como manuseio, injeções, coleta de sangue e gavaging (inserção de tubo pela boca e dentro do estômago do animal) causam estresse. Os animais respondem diferentemente se manuseados por pessoas experientes ou sem experiência, o que reforça a importância do treinamento das equipes de laboratórios para 132 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 tratamento humanitário. Animais estressados têm padrões fisiológicos anormais e podem apresentar mudanças comportamentais que influenciam os resultados científicos, normalmente de forma negativa. Os animais de laboratório geralmente são mortos ao fim do experimento. Desde que conduzido de forma humanitária e eficaz, o sacrifício não é uma questão de bem-estar animal, mas, sim, uma questão ética. Muitos indivíduos criados para experimentos são mortos sem serem usados. O número pode chegar a até 50% dos animais registrados nas estatísticas oficiais. Fontes: a maioria dos animais de laboratório é criada especificamente para uso em experiências. No entanto, alguns são capturados no seu habitat ou vêm de populações na rua. O uso destes animais é proibido no Council of Europe Convention for the Protection of Vertebrate Animals Used for Experimental and Other Scientific Purposes, Article 21 (Convenção Européia para Proteção dos Animais Vertebrados Usados para Experimentação e Outros Fins Científicos, Artigo 21). Partes Interessadas: o público geralmente desconhece que pesquisas com animais são financiadas por diferentes partes interessadas. Empresas comerciais, como Procter &Gamble, Unilever e Colgate-Palmolive, atualmente realizam mais que a metade de todos os experimentos com animais. Muitas instituições médicas filantrópicas de pesquisas, por exemplo, e organizações de pesquisas do câncer e do coração, também financiam pesquisas que utilizam animais. E, sem que o saibam, os contribuintes estão pagando por elas. Muitos governos usam dinheiro que vem de impostos para financiar experimentos em laboratórios nacionais ou departamentos científicos de universidades, como é o caso da União Européia. Transparência: a maior parte das pesquisas é escondida das vistas e do domínio público. A análise das propostas ou dos projetos submetidos aos Comitês de Revisão Ética (ERCs) ocorre atrás de portas fechadas e, embora a quantidade de animais utilizados seja convertida em números, mostrando o objetivo do experimento e as espécies utilizadas, elas não são apresentadas em números para experimentos individuais. Relatórios de inspeção não são abertos ao público e geralmente as fontes e os valores dos financiamentos são desconhecidos. Em outras palavras, não há transparência verdadeira para experimentos com animais. Contribuição da pesquisa com animais para a saúde humana: a maioria dos pesquisadores que utiliza animais verdadeiramente acredita que sua pesquisa contribui com avanços para a saúde humana. Antivivisseccionistas alegam que também querem contribuir para tal, mas não às custas dos animais. Argumentam que o papel da pesquisa com animais para os progressos da saúde humana é exagerado. Não negam o fato que ela contribuiu para grandes descobertas nessa área no passado, mas dizem que os avanços não necessariamente dependeram do uso de animais. A maioria das descobertas baseou-se na observação clínica humana, e só depois foram testadas nos animais nos laboratórios para “validar” os resultados obtidos. O papel da pesquisa clínica, onde drogas são testadas em seres humanos antes de serem lançadas no mercado, é ainda crucial hoje em dia. Validade dos dados de experimentos com animais: a validade dos experimentos com animais está começando a ser questionada. Alguns toxicologistas, por exemplo, admitem que as substâncias ou os produtos químicos afetam os animais diferentemente da forma como afetam os seres humanos. Embora os animais possuam muitas semelhanças com as pessoas em relação, por exemplo, à fisiologia, aos hormônios e à capacidade de sentir dor, existem diferenças importantes no nível do metabolismo celular. 133 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 Por exemplo, a aspirina é tão tóxica para os animais que causa defeitos congênitos em camundongos e ratos, e gatos só podem tomar cerca de 20% da dosagem humana, a cada três dias. Caso contrário, morrerão. Outro analgésico usado por seres humanos, o Ibuprofen, causa insuficiência renal nos cães em doses baixas. Da mesma forma, a penicilina foi inicialmente desconsiderada porque, embora tenha matado bactérias em uma placa de Petri, não funcionou com coelhos. Apenas muitos anos depois, quando, desesperado, Alexander Fleming a aplicou em um paciente humano, foi que descobriu que a penicilina combatia infecções bacterianas nos seres humanos. Atualmente, estudos estão analisando de forma sistemática e crítica a contribuição dos primatas em geral e dos chimpanzés, em particular, para os avanços na pesquisa biomédica. O argumento ético contra o uso deles na pesquisa biomédica deveria ser suficiente. No entanto, dados científicos que põem em dúvida modelos primatas para doenças humanas podem fortalecer o caso. Por exemplo, sabe-se hoje que chimpanzés infectados com o vírus HIV não desenvolvem os sintomas da AIDS como os humanos. A decisão para acabar com o uso dos primatas em pesquisas biomédicas foi assinada pela WSPA e outras 25 organizações de proteção aos animais no 5º Congresso Mundial para Alternativas e Uso de Animais nas Ciências Biológicas, realizado em Berlim, em agosto de 2005. Não há diferenças apenas entre animais e seres humanos, mas também entre espécies diferentes, entre gêneros distintos e entre faixas etárias da mesma espécie. A previsibilidade de dados de animais para seres humanos é questionável. NAS PALAVRAS DO DR. RALPH HEYWOOD, EX-DIRETOR CIENTÍFICO DO CENTRO DE PESQUISAS HUNTINGDON, NO REINO UNIDO (PRINCIPAL USUÁRIO DE ANIMAIS PARA PESQUISAS), “A MELHOR ESTIMATIVA PARA A CORRELAÇÃO ENTRE AS REAÇÕES ADVERSAS NO HOMEM E OS DADOS DE TOXICIDADE NOS ANIMAIS É DE 5% A 25%”. EM OUTRAS PALAVRAS, TESTES COM ANIMAIS, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, REVELARÁ UM DE QUATRO EFEITOS COLATERAIS DE DROGAS NOS HUMANOS. NO ENTANTO, NUNCA SABEREMOS QUAL DOS QUATRO OCORRE EM PESSOAS ATÉ QUE TENHAMOS TESTADO AS DROGAS EM VÁRIAS PESSOAS. Detecção de efeitos colaterais adversos: a cada ano, drogas atestadas como seguras com base em testes com animais são retiradas do mercado após causarem sérios efeitos colaterais, e até mesmo mortes, quando administradas em pessoas. Reações adversas a drogas são a quarta causa de mortes no mundo ocidental, matando mais de 100 mil pessoas todos os anos somente nos EUA. Talidomida, Opren, FIAU e Eraldin foram todas drogas que causaram sérios (muitas vezes fatais) efeitos colaterais nos humanos, não detectadas em experimentos com animais. Em dezembro de 1997, a droga para diabetes troglitazona foi retirada do mercado apenas três meses após seu lançamento. Tinha causado 130 casos de insuficiência hepática e seis mortes, embora tivesse sido aprovada em todos os testes com animais. Além disso, a droga utilizada para problemas como a artrite, Vioxx, causou tantos efeitos colaterais que a empresa farmacêutica (Merck) teve que liquidar acordos judiciais de mais de US$ 250 milhões. No entanto, defensores da pesquisa alegam que os números calculados para as drogas retiradas do mercado e a quantidade de vítimas são exagerados. 134 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 Algumas fontes calculam que apenas 1% das reações adversas causadas por drogas é detectado em testes com animais. Isso se dá, em parte, porque sintomas comuns, como náuseas, tonteiras, dores de cabeça e alterações visuais, são essencialmente impossíveis de serem detectados em animais. Além disso, a expectativa de vida comumente utilizada em laboratórios é até 1/66 do que a de uma pessoa, o que torna difícil prever efeitos colaterais potenciais de longo prazo. 6 ALTERNATIVAS PARA USO DE ANIMAIS – OS 3RS O conceito dos 3Rs foi introduzido por Russell e Burch em 1959 e significa: “Redução, Refinamento e Substituição” (Reduction, Refinement, Replacement). • Redução: do número de testes. • Refinamento: do rigor dos testes e das espécies usadas. • Substituição dos testes em animais: o objetivo maior e final. A abordagem baseada nesse tripé visa à inspeção minuciosa dos experimentos com animais, com o objetivo de reduzir seu impacto e finalmente substituí-los por métodos que não utilizem animais. O conceito dos 3Rs não é explicitamente mencionado na legislação européia, mas seus princípios estão integrados ao Artigo 7o (sétimo), parágrafos 2-4, do Conselho Diretor de 1986 (Council Directive 86/609/EEC). Artigo 7° Parágrafo 2: um experimento não deverá ser conduzido se outro método cientificamente satisfatório para obtenção do resultado procurado, que não acarrete em uso de um animal, puder ser razoavelmente e praticamente empregado. Parágrafo 3: quando um experimento tiver de ser realizado, a escolha das espécies deverá ser cuidadosamente considerada e, quando necessário, explicada aos responsáveis. Se houver opção de experimentos, deverão ser preferidos aqueles que utilizam o menor número de animais, que envolvam animais com o nível mais baixo de sensibilidade neurofisiológica, que causem o mínimo de dor, sofrimento, desgaste ou dano permanente e que tenham maior chance de fornecer resultados satisfatórios. Experimentos com indivíduos tirados de seu habitat não podem ser realizados, a não ser que experiências com outros animais não atendam aos objetivos do estudo. Parágrafo 4: Todos os experimentos deverão ser planejados de forma a evitar desgaste, dor e sofrimento desnecessário aos animais envolvidos. O desenvolvimento e a implementação de alternativas para o uso de animais são o objetivo maior e final. Estratégias de redução podem ser aplicadas em situações onde animais ainda são usados, visando ao menor número de animais necessário para resultados científicos. Finalmente, alternativas de refinamento podem não levar diretamente à redução; no entanto, as conseqüências de procedimentos mais refinados podem ter impacto positivo nos indivíduos. a) Substituição A seguir, exemplos de alternativas para substituição: 135 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Medicina preventiva: o melhor método alternativo é a medicina preventiva, o que previne doenças e promove a saúde. Estritamente falando, significa vacinações contra moléstias e, como vimos anteriormente, para a produção de vacinas, precisa-se de animais para testes de segurança e potência. No entanto, a definição mais ampla de medicina preventiva inclui um estilo de vida saudável. Bancos de dados e simulações em computador: bancos de dados armazenam informações sobre produtos químicos existentes, incluindo os efeitos de certas drogas, pesquisas clínicas realizadas com seres humanos e dados epidemiológicos. Se os bancos de dados fossem compartilhados, muitos testes repetidos poderiam ser evitados. Os computadores também têm contribuído para descobertas por simulação e pesquisas por realidade virtual. Esse processo, chamado de pesquisa in silico (em computadores), opõe-se à pesquisa in vivo (no organismo vivo) e à pesquisa in vitro (por cultura de células e tecidos). Células, tecidos e órgãos inteiros são simulados diretamente em programas de computador (como programas de dissecação virtual) ou na forma de manequins (modelos físicos). Por exemplo, um modelo gastrintestinal desenvolvido simula estômago, intestino delgado e cólon, e pode ser usados para testes de drogas, interações entre medicamentos e alimentos e estudos microbiológicos. Manequins sintéticos não dependem necessariamente de computadores. Um exemplo é um modelo de pele sintética, “Corrositex”, que pode ser usado no lugar de animais para testar se uma substância corrói ou queima a pele. Essa alternativa tem sido aceita no lugar dos testes com pele verdadeira realizados nos animais. Pesquisa in vitro envolve o estudo de células, tecidos e órgãos, que são isolados do corpo do animal ou indivíduo e que são estudados em meio artificial (por exemplo, em um tubo de ensaio). Linhagens de células estabelecidas se originaram de animais do passado, então, o uso de animais em estágios posteriores não é mais necessário, enquanto órgãos ou tecidos primários vêm de indivíduos mortos especialmente por esses itens. Bancos de tecidos humanos estão se desenvolvendo em alguns países, mas há muitos obstáculos éticos e legais que impedem sua instalação natural. Doadores humanos ainda são uma minoria e mais doadores são precisos. Cada vez mais os cientistas acreditam que o futuro dos testes de substâncias é in vitro. Produtos químicos (como ingredientes de cosméticos ou produtos domésticos) são testados para avaliar a irritação nos olhos. Métodos alternativos para esse teste tradicional (Draize test) estão sendo desenvolvidos, usando olhos de galinhas e coelhos. Isso significa que os animais são mortos por um órgão primário (olhos) e não precisam sofrer com os testes em si. Células, tecidos e órgãos são testados em tubos de ensaio, ou placas de Petri, que contêm um “meio”, uma mistura de substâncias na qual as células podem crescer. Freqüentemente esse “meio” contém Soro Bovino Fetal (Foetal Bovine Serum – FBS), obtido a partir de bezerros ainda no útero da vaca. Esse soro sanguíneo favorece o crescimento das células. Alguns especialistas dizem que a retirada de sangue causa algum sofrimento ao feto, embora o professor David Mellor alegue que fetos (animais e humanos) não sentem dor antes do nascimento e que seu nível de consciência é muito baixo. A solução mais ética para a pesquisa in vitro seria usar um meio livre de soro e testar células, tecidos e órgãos humanos. Se substituição é definida como uma “técnica para qualquer método científico que empregue material não-senciente”, então células animais primárias e linhagens de célula 136 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 para pesquisa in vitro, ao mesmo tempo, substituem e reduzem o número de animais. Autópsias e patologia: enquanto o papel dos experimentos com animais no progresso da medicina humana é superestimado, as autópsias (pesquisa em cadáveres humanos) têm contribuído tremendamente para descobertas médicas importantes. Por exemplo, a circulação sangüínea humana é diferente da dos animais. Em 1628, as autópsias realizadas pelo médico William Harvey provaram que a circulação do sangue se originava no lado direito do coração, passava pelos pulmões e voltava pelo lado esquerdo, através das artérias e veias, o que difere da explicação baseada na dissecação animal. Epidemiologia é o estudo da incidência elevada de doenças e distúrbios em uma população. Todos os fatores são considerados, como estilo de vida, meio ambiente, ocupação, gênero, idade, doenças relacionadas à família etc. Dados obtidos de milhares de pacientes em uma determinada área podem ser comparados com dados de outra região e as incidências elevadas de doenças podem ser detectadas. Por exemplo, pessoas que fumam têm cinco vezes mais chances de desenvolver câncer. Pessoas que vivem perto de uma fábrica de resíduos químicos têm cinco vezes mais chances de desenvolver um câncer e, se essas pessoas também fumarem, a interação entre o meio ambiente e o hábito de fumar os faz 30 vezes mais vulneráveis para desenvolver um câncer. Há também os modelos epidemiológicos, baseados em cálculos matemáticos, que explicam por que certas doenças se desenvolvem em um lugar e não em outro. Essa ferramenta pode ser usada como parte da medicina preventiva, mas infelizmente é subutilizada por pesquisadores. Testes clínicos em seres humanos: quando os resultados dos testes já podem fornecer uma estimativa razoável acerca da segurança das substâncias ou dos dispositivos, testes clínicos são marcados nos quais voluntários humanos (pagos) se submetem a um tratamentoprotocolo durante dias, semanas ou, às vezes, até meses. De acordo com o Código de Nuremberg, estabelecido após a Segunda Guerra Mundial em decorrência das atrocidades nazistas, qualquer experiência com seres humanos “deve ser concebida com base nos resultados dos experimentos com animais”. A Convenção de Helsinque, adotada pela 18ª Assembléia Médica Mundial em 1964 e revista em 1975, também declara que pesquisas médicas com seres humanos “devem ser baseadas em experimentos com animais feitos adequadamente em laboratórios”. Testes em pessoas devem ser conduzidos para aprovação legal de novos dispositivos, drogas ou procedimentos. Antivivisseccionistas gostariam de ver mais testes clínicos com seres humanos depois que as substâncias tenham sido minuciosamente testadas in vitro ou por simulação em computadores. Testes clínicos com gente nunca deverão ser feitos indiscriminadamente, usar pessoas sem o consentimento das mesmas ou sem justificação ética apropriada – como propõem alguns extremistas que acham justo usar presidiários para esse propósito. Pesquisa clínica: a pesquisa clínica está ligada à epidemiologia e aos testes clínicos com seres humanos. Pacientes doentes são observados de perto e todos os dados relevantes são coletados para se ter uma melhor noção do desenvolvimento de uma doença. Quando grupos grandes de pacientes com a mesma doença são estudados, os resultados podem ser significativos. Embora haja diferenças entre indivíduos, as diferenças entre animais e seres humanos são ainda maiores e, assim, faz mais sentido estudar pacientes existentes do que induzir doenças em animais para criar um modelo animal para doenças humanas. Vigilância/supervisão após o lançamento da droga no mercado: depois que uma droga é 137 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 lançada no mercado, médicos são convidados a participar de um levantamento que visa a estudar possíveis efeitos colaterais da mesma. Esse tipo de análise é muito importante porque certos efeitos colaterais podem ser raros, mas sérios, e quanto mais informações a empresa farmacêutica receber, melhor a droga pode ser classificada. Algumas vezes, os resultados da vigilância levam à retirada do medicamento do mercado, uma vez que pode causar mais danos do que benefícios. Outros avanços tecnológicos e biomédicos: um avanço recente na área de pesquisas biomédicas inclui o uso de células-tronco, células precursoras ou células-mães, que têm a capacidade de reprodução (cópia) e diferenciação e de produzir vários precursores morfologicamente reconhecíveis de diferentes linhagens de células sangüíneas. A pesquisa com células-tronco humanas é muito promissora, uma vez que não necessita de animais e têm potencial para diferentes aplicações. O problema com o desenvolvimento de métodos alternativos é que leva muito tempo, principalmente a fase de “validação”, que requer novos métodos para serem testados, em laboratórios diferentes e em circunstâncias diferentes. E, também, dados gerados por métodos alternativos são comparados aos antigos em seres humanos ou os obtidos por meio de pesquisas com animais. O desenvolvimento e a aceitação de métodos alternativos podem levar anos e, enquanto isso, esse tipo de pesquisa recebe muito pouco financiamento, ao contrário das feitas com animais, que recebem muitas verbas. Muitos grupos de proteção dos animais alegam que o dinheiro gasto com pesquisas que utilizam animais poderia ser empregado de forma muito melhor em cuidados preventivos de saúde. Proporcionar um estilo de vida saudável economizaria bilhões de dólares gastos atualmente com pesquisas, tratamento e cuidados com pacientes. b) Redução A seguir, exemplos de alternativas para “Redução”: • Redução do excedente de animais criados para diminuir o número total de indivíduos para experimentação. • Aplicação do projeto experimental adequado para garantir que o menor número possível de animais seja usado. • Aplicação das estatísticas apropriadas, para que menos animais sejam usados ou que, se o mesmo número for utilizado, mais dados sejam coletados. • Divisão e harmonização entre países diferentes, visando à regulamentação dos testes para que não sejam repetidos. • Envolvimento dos Comitês de Revisão Ética para aconselhamento técnico sobre como usar menos animais do que o proposto. • Condução de pesquisa bibliográfica para revisão de métodos alternativos existentes para evitar protocolos repetidos. • Revisão das diretrizes e regulamentos para testes, de forma habitual, para implementação de novos métodos que utilizem menos animais ou que tornem seu uso obsoleto. c) Refinamento A seguir, exemplos de alternativas para “Refinamento”: • Aplicação de anestesia, analgesia ou término do experimento em estágio preliminar para acabar com o sofrimento. • Promoção de bem-estar por meio de: - Aprimoramento do ambiente: socialmente, alojando animais em grupos. Fisicamente, fornecendo material para melhorar sua acomodação nas gaiolas ou oferecendo locais 138 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 1 para esconderijos ou tocas. Ou por meio da melhor forma de alimentação – por exemplo, ao se espalhar a comida pela gaiola ou colocá-la em cima da gaiola e, assim, torná-la menos acessível, o que estimula comportamentos mais naturais. - Oferecimento de recompensas depois que o animal tenha desempenhado uma tarefa ou cooperado com procedimentos científicos (por exemplo, dar o braço para retirada de sangue). • Educação e treinamento, o que é muito importante não só para aumentar a conscientização sobre os 3Rs, de uma maneira geral, mas também para treinar pessoal especificamente para princípios e técnicas humanitárias, incluindo manuseio de animais e procedimentos básicos. Em alguns países, um nível básico de treinamento é exigido antes que os cientistas possam executar os procedimentos. 7 ESTRATÉGIAS DE PROTEÇÃO ANIMAL O movimento de proteção dos animais já adotou várias estratégias na luta contra a experimentação com animais. Abaixo apenas alguns exemplos do que já foi e pode ser feito: a) Campanhas e lobby • Condução de campanhas de grande visibilidade, como eventos na mídia, manifestações etc., principalmente pela proibição dos piores excessos, como testes em primatas, testes de cosméticos, procedimentos cruéis etc. • Investigações – a maioria feita secretamente, com posterior exposição na mídia – produzindo documentários televisivos para impacto máximo da campanha. • Implementação e cumprimento de legislação de proteção dos animais para proibir os piores excessos, aumentar o controle e impor condições em situações que (ainda) não podem ser proibidas. • Lobby junto a políticos e autoridades governamentais. • Julgamento de casos em tribunais para testar a legislação existente. • Campanhas conjuntas (entre grupos de bem-estar animal e antivivisseccionistas) de instigação para questões ligadas à engenharia genética. • Condução de campanhas visando aos piores agressores e partes interessadas ligadas a eles, como acionistas, patrocinadores, fornecedores etc. • Campanhas pela soltura e adoção dos animais usados nos experimentos. • Condução de pesquisa bibliográfica para analisar sistematicamente as informações existentes e a utilidade do modelo animal para a saúde humana. Os resultados podem ser publicados em jornais científicos e usados em campanhas. b) Educação do consumidor • Implementação e apoio a esquemas de rotulação de produtos “sem crueldade”, como cosméticos, produtos domésticos e ração de animais de estimação. • Comparação e divulgação das credenciais de bem-estar de diferentes rótulos “sem crueldade” e divulgação das etiquetas “sem crueldade” enganosas. • Comparação e divulgação das credenciais “sem crueldade” de diferentes pontos de venda, como supermercados, cadeias farmacêuticas etc. • Trabalho junto à mídia, principalmente por meio de documentários, para exposição de questões e práticas de empresas diferentes. • Divulgação de informações em publicações específicas – por exemplo, artigos em revistas sobre estilo de vida, animais de estimação etc. 139 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 “PARAÍSO PERDIDO” - UMA CAMPANHA BUAV Todos os anos e em todo o mundo, dezenas de milhares de primatas são capturados no seu habitat natural ou criados em cativeiro e então transportados para laboratórios de todo o mundo, na maioria das vezes como carga em aviões de passageiros, para serem usados em experimentos. Vários fatores podem contribuir para seu sofrimento e sua morte, entre eles: condições de superlotação, ventilação inadequada, barulho e flutuações extremas de temperatura. As jornadas podem levar até três dias e incluir no mínimo dois vôos internacionais e escalas adicionais. Em 1991, a UNIÃO BRITÂNICA PARA A SUSPENSÃO DA VIVISSECÇÃO (BRITISH UNION FOR THE ABOLITION OF VIVISECTION – BUAV) decidiu embarcar numa investigação ousada e, por muitas vezes, perigosa para seguir a rota do fornecimento, das florestas tropicais da Indonésia e Filipinas e da vegetação rasteira exuberante das Ilhas Maurício para as gaiolas de metal cruas e frias dos laboratórios de pesquisas. Um funcionário da BUAV disfarçado foi infiltrado na Shamrock (GB) Ltd, a maior empresa de suprimento de primatas da Europa (antes de seu fechamento em junho de 2000) e no Hazleton, um laboratório de testes líder no Reino Unido, enquanto outros investigadores viajaram para os principais países exportadores para se infiltrar na rede de captura. Em 1993, a BUAV também conduziu investigações no comércio de primatas do Caribe, incluindo St. Kitts e Barbados. Eles documentaram todo o cenário trágico, incluindo: • • • • • Captura cruel por armadilhas. Cercados inóspitos. Gaiolas e caixas superlotadas. Jornadas de “pesadelo”. Condições laboratoriais no final. Em 1992, a BUAV lançou sua campanha poderosa “Paraíso perdido”, para dar um fim ao comércio internacional de primatas para pesquisas. A campanha cobriu três áreas importantes: • Captura de animais selvagens. • Campanhas junto às empresas aéreas. • Investigações secretas. A combinação entre exibições chocantes, trabalhos na mídia de alta visibilidade e campanhas conjuntas por toda a Europa obtiveram efeitos de longo alcance. Desde o lançamento da campanha da BUAV junto às empresas aéreas, em 1993, mais de cem delas já se recusaram a transportar primatas para pesquisas, incluindo transportadoras importantes que antes eram responsáveis pelo transporte de milhares de primatas para laboratórios de pesquisas todos os anos. Alguns grandes fornecedores pararam de importar e vender macacos selvagens (capturados na natureza) e certos países estão proibindo a exportação desses animais. Em março de 1995, o Governo Britânico anunciou a proibição do uso de macacos selvagens para pesquisas, a não ser que haja “justificativa específica e excepcional”, e implementou outros controles administrativos para o uso de primatas. 140 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 c) Educação formal • Cobertura de questões sobre experimentação com animais (incluindo métodos alternativos e éticos) em material educacional e programas escolares. • Cobertura de questões sobre experimentação com animais nas Faculdades de Veterinária e em outros programas curriculares científicos e disponibilização de recursos como o recurso da WSPA “Conceitos em Bem-Estar animal”. • Inclusão de educação para o bem-estar animal em todos os programas vocacionais, abrangendo experimentação com animais e comércios afins, como instalações para criação de animais. 8 RECURSOS ADICIONAIS Websites Organizações antivivisseccionistas American Anti-Vivisection Society (AAVS) www.aavs.org Animal Aid www.animalaid.org.uk/viv/index.htm British Union for the Abolition of Vivisection (BUAV) www.buav.org European Coalition to End Animal Experiments www.eceae.org/english Japan Anti-Vivisection Association (JAVA) https://www.java-animal.org/eng/index.htm National Anti-Vivisection Society (NAVS) www.navs.org.uk New England Anti-Vivisection Society (NEAVS) www.neavs.org Uncaged Campaigns www.uncaged.co.uk Alternativas em educação Association of Veterinarians for Animal Rights (AVAR) www.avar.org European Resource Centre for Alternatives in Higher Education (EURCA) www.eurca.org International Network for Humane Education (InterNICHE) www.interniche.org 141 1 Learning Without Killing – comprehensive information for students www.learningwithoutkilling.info EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Norwegian Reference Centre for Laboratory Animal Science & Alternatives http://oslovet.veths.no/dokument.aspx?dokument=80&mnu=about_us Organizações que Apóiam os 3Rs Alternatives to Animal Testing (ALTEX) www.altex.ch/hauptseite_e.htm The Alternatives to Animal Testing Web Site (Altweb) http://altweb.jhsph.edu Animal Protection Institute www.api4animals.org Animal Welfare Institute www.awionline.org Australian and New Zealand Council for the Care of Animals in Research and Teaching www.adelaide.edu.au/ANZCCART Dr. Hadwen Trust www.drhadwentrust.f2s.com Eurogroup for Animal Welfare www.eurogroupanimalwelfare.org Europeans for Medical Progress (EfMP) www.curedisease.net Fund for the Replacement of Animals in Medical Experiments www.frame.org.uk Humane Society of the United States (HSUS) www.hsus.org/animals_in_research Japanese Society for Alternatives to Animal Experiments wwwsoc.nii.ac.jp/jsaae/index-e.html Lord Dowding Fund www.ldf.org.uk National Centre for the Replacement, Refinement and Reduction of Animals in Research www.nc3rs.org.uk Netherlands Centre for Alternatives to Animal Use (NCA) www.nca-nl.org 142 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Physicians Committee for Responsible Medicine (PCRM) www.pcrm.org 5th World Congress on Alternatives & Animal Use in the Life Sciences, Berlin, 21-25 August 2005 www.ctw-congress.de/act2005 Organizações que defendem experimentos com animais Research Defence Society (RDS) www.rds-online.org.uk Seriously Ill for Medical Research (SIMR) www.simr.org.uk/pages/avmyths/consensus.html Periódicos Alternatives to Laboratory Animals (ATLA) www.frame.org.uk/atlafn/atlaintro.htm ALTEX – Alternatives to Animal Experiments www.altex.ch/hauptseite_e.htm Animal Welfare – the Journal www.ufaw.org.uk/journal/Animal%20welfare.htm Good Medicine (by PCRM) www.pcrm.org/magazine Laboratory Animals: The International Journal of Laboratory Animal Science and Welfare www.lal.org.uk Netherlands Centre for Alternatives to Animal Use (NCA) Newsletter www.nca-nl.org/English/Newsletters/newsletters.html Livros Animal Experiments: the Moral Issues R. M. Baird, S. E. Rosenbaum Editora: Prometheus Books ISBN: 978-0879756673 Animal Experimentation: The Consensus Changes Gill Langley Editora:: Chapman & Hall ISBN: 978-0412024115 Animal Experimentation: A Guide to the Issues V. Monamy Editora: Cambridge University Press ISBN: 978-0412024115 143 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Campaigning Against Cruelty: Hundred Year History of the British Union for the Abolition of Vivisection Emma Hopley Editora: BUAV ISBN: 978-1870356169 The Cruel Deception: Use of Animals in Medical Research Robert Sharpe Editora: HarperCollins ISBN: 978-0722515938 Handbook of Laboratory Animal Management and Welfare S. Wolfensohn, M. Lloyd Editora: Blackwell Science ISBN: 978-0632050529 In the Name of Science: Issues in Responsible Animal Experimentation F. B. Orlans Editora: Oxford University Press ISBN: 978-0195108712 Lethal Laws: Animal Testing, Environmental Policy and Human Health Alix Fano Editora: Zed Books ISBN: 978-1856494977 The Principles of Humane Experimental Technique W.M. Russell, R.L. Burch, C.W. Humo Editora: Universities Federation for Animal Welfare ISBN: 978-0900767784 Sacred Cows and Golden Geese C. Ray Greek, Jean Swingle Greek Editora: Continuum International Publishing Group ISBN: 978-0826412263 UFAW Handbook on the Care and Management of Laboratory Animals T. Poole Editora: Blackwell Science ISBN: 978-0632051335 The Use of Animals in Higher Education: Problems, Alternatives, and Recommendations Jonathan Balcombe Editora: Humane Society Press ISBN: 978-0965894210 Victims of Science: The Use of Animals in Research Richard D. Ryder Editora: Open Gate Press ISBN: 978-0905225050 144 1 EXPERIMENTOS COM ANIMAIS CAPÍTULO 6 Vivisection or Science? An Investigation into Testing Drugs and Safeguarding Health Pietro Croce Editora: Zed Books ISBN: 978-1856497329 Vivisection Unveiled: An Exposé of the Medical Futility of Animal Experimentation Tony Page Editora: Jon Carpenter Publishing ISBN: 978-1897766316 Why Animal Experiments Must Stop: And How You Can Help Stop Them Vernon Coleman Editora: Green Print ISBN: 978-1854250605 145