CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru CAPÍTULO 7 DISTÂNCIAS E ÂNGULOS 1 DISTÂNCIAS Todos os conceitos vetoriais que são necessários para o cálculo de distâncias e ângulos, de certa forma, já foram estudados nos capítulos anteriores. Apenas vamos utilizá-los demonstradas são para desenvolver consequências este da capítulo. aplicação As destes fórmulas que conceitos. serão Portanto, acreditamos que a memorização de tais fórmulas não seja necessária, mas sim a compreensão dos conceitos aplicados. É importante lembrar que, considera-se como sendo a distância entre dois objetos quaisquer a menor distância entre eles e, geometricamente, a menor distância entre dois objetos é sempre a perpendicular. 1.1 Distância entre dois pontos Sejam A(x1, y1, z1) e B(x2 , y2 , z2 ) dois pontos quaisquer do ℜ3. A distância dAB , entre os pontos A e B, coincide com o módulo do vetor AB , ou seja: dAB =| AB | . Assim: AB = B − A = (x2 − x1, y2 − y1, z2 − z1) . Portanto: dAB =| AB | = (x2 − x1)2 + (y2 − y1)2 + (z2 − z1)2 A dAB = | AB | B 1.2 Distância de um ponto a uma reta r Sejam P um ponto e (r) : X = A + tv uma reta qualquer no ℜ3. A distância do ponto P a reta (r) coincide com a altura relativa ao vértice P do triângulo r determinado pelos vetores AP e v . Então dP(r) = h . Vamos determinar esta altura h da seguinte forma. Da geometria plana a área do triângulo é dada por r base ⋅ altura | v | ⋅h AT = = . Do cálculo vetorial a área do triângulo é dada por 2 2 r r r r | v | ⋅h | AP × v | | AP × v | | AP × v | AT = ⇒ = . Portanto: dP(r) = r 2 2 2 |v| P AP (r) A dP(r) = h r v CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru 1.3 Distância de um ponto a um plano Sejam P(xo , yo , zo ) um ponto não contido no plano (π) : ax + by + cz + d = 0 , r cujo vetor normal é n = (a, b, c) . Pela figura abaixo, a distância do ponto P ao plano (π), denotada por DP(π) , coincide com a distância entre os pontos P e Q, que é igual ao módulo do vetor QP , onde Q é a projeção ortogonal do ponto P sobre o plano (π) e, portanto, Q ∈ (π) . Seja Q(x,y,z), então: QP = (xo − x, yo − y, zo − z) . Os r vetores QP e n são paralelos, logo o ângulo entre eles é 0o. Então: r r QP ⋅ n = | QP | ⋅ | n | ⋅ cos 0o DP(π) = ⇒ (xo − x, yo − y, zo − z) ⋅ (a, b, c) = DP(π) ⋅ a2 + b2 + c2 axo + byo + czo − (ax + by + cz) (*). a2 + b2 + c2 Da equação do plano vem ⇒ que ax + by + cz = −d . Substituindo a expressão (*) e tomando seu módulo (distância não pode ser negativa) tem-se: DP(π) = | axo + byo + czo + d | a2 + b2 + c2 r n P QP = DP(π) (π) Q 1.4 Distância entre duas retas r r Sejam duas retas (r) : X = A1 + tv1 e (s) : X = A2 + tv2 . Se as retas forem coincidentes, concorrentes ou perpendiculares a distância entre elas será adotada com sendo igual a zero. a) Reta Paralelas: A distância entre duas retas paralelas é constante e pode ser determinada calculando-se a distância de um ponto qualquer de uma delas a outra, como foi feito no item (1.2) para calcular a distância de um ponto a uma reta. r | A 2 A1 × v 2 | drs = r A1 (r) | v2 | A 2 A1 A2 drs r v2 (s) CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru b) Reta Reversas ou Ortogonais: A distância entre as retas (r) e (s) reversas ou ortogonais, coincide com a altura do paralelepípedo determinado pelos vetores r r diretores v1 e v2 e pelo vetor A1 A 2 . Na figura abaixo temos: (r) A1 r v1 r drs = h v1 ⊡ r v2 A2 (s) Da geometria espacial, o volume do paralelepípedo é igual a VP = Ab ⋅ h e do cálculo r r vetorial: VP =|[A1A2 , v1, v2 ]| . A r determinado pelos vetores v1 e área da base Ab é a área de um paralelogramo r v2 e a altura h = drs . Então: r r r r r r Ab ⋅ h =|[A1A2 , v1, v2 ]| ⇒ | v1 × v2 | ⋅drs =|[A1A2 , v1, v2 ]| ⇒ drs = r r |[A1A2 , v1, v2 ]| r r | v1 × v2 | 1.5 Distância entre dois planos Sejam (π1 ) e (π1 ) dois planos de equações (π1 ) : a1 x + b1 y + c1z + d1 = 0 e (π 2 ) : a2 x + b 2 y + c 2 z + d2 = 0 . Se os planos forem coincidentes, concorrentes ou perpendiculares a distância entre eles será adotada com sendo igual a zero. No caso em que eles forem paralelos, a distância entre eles é a distância de qualquer ponto de um deles ao outro. Assim: Dπ1π2 = | axo + byo + czo + d | (π 1 ) a2 + b2 + c2 P D π1π2 (π 2 ) 1.6 Distância entre uma reta e um plano r Sejam (r) : X = A + tv uma reta e (π) : ax + by + cz + d = 0 um plano. Caso a reta esteja contida no plano, ou for concorrente ou perpendicular ao plano a distância entre eles e adotada como sendo zero. No caso em que a reta é paralela ao plano, a distância entre eles é a distância de qualquer ponto da reta (r) ao plano ( π ). Assim: A (r) drπ drπ = | axo + byo + czo + d | 2 2 2 a +b +c (π) CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Exemplo (1): (r) : x − 3 = y +1 z −2 x −1 z −1 = e (s) : = y −1 = , ao plano (π) : 2x − y + 2z − 3 = 0 . 3 −2 3 −1 Determine a distância do ponto P, interseção das retas Solução: Fazendo P=(r)∩(s), temos: de y +1 x − 3 = 3 ⇒ y = 3x − 10 (*) . (r) : x − 3 = z − 2 ⇒ z = −2x + 8 (**) −2 Substituindo (*) e (**) em (s), tem-se: x −1 = 3x − 10 − 1 ⇒ x = 4 . Portanto, 3 P(4,2,0). Usando a fórmula da distância de um ponto a um plano tem-se: DP(π) = | axo + byo + czo + d | a2 + b2 + c2 r , onde o vetor normal n = (a, b, c) = (2,−1,2) e o ponto P(xo , yo , zo ) = (4,2,0) . Então: DP(π) = |2 ⋅ 4 − 2 + 2 ⋅ 0 − 3| 22 + (−1)2 + 22 = |8 − 2 − 3| 9 ⇒ DP(π) = 1 u.c. (u.c. = unidades de comprimento). Exemplo (2): Determine a distância entre as retas (r) : (s) : x y −1 z + 2 = = 3 2 −1 e x −1 y z +1 = = . −6 −4 2 A (0,1,−2) Solução: Note que as retas (r) e (s) são paralelas e de (r) : r 1 e de v1 = (3,2,−1) A (1,0,−1) (s) : r 2 . Vamos calcular a distância do ponto A1 à reta (s) usando a v2 = (−6,−4,2) r r r i j k r r r r r | A1 A 2 × v 2 | expressão drs = . Então: A1 A 2 × v 2 = − 1 1 − 1 = −2 i + 8 j + 10k ⇒ r | v2 | −6 −4 2 r 2 42 | A 2 A1 | = 2 42 e | v2 | = 2 14 . Voltando a expressão: drs = ⇒ drs = 3 u.c. 2 14 2 ÂNGULOS 2.1 Ângulo entre dois vetores: r r O ângulo entre dois vetores u = AB e v = CD , não nulos, é o ângulo ) r r θ = ang(u, v) = BPD entre os segmentos orientados que representam os vetores, com a restrição 0o ≤ θ ≤ 180o , quando os vetores são transportados para um mesmo ponto de origem P. CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru D A B r u D r v C r v A ≡C θ r u B Através da expressão do produto escalar entre dois vetores, podemos determinar o ângulo θ entre eles em função do valor do cosθ. Assim, sempre usaremos a expressão abaixo para determinar o ângulo entre dois vetores. r r r r r r u⋅v Portanto, u ⋅ v = | u | ⋅ | v | ⋅ cos θ ⇒ cos θ = r r . Como 0o ≤ θ ≤ 180o , neste |u|⋅| v | intervalo temos que cos θ = − cos(180 o − θ) ⇒ cos θ =| cos θ |=| cos(180 o − θ) |. 2.2 Ângulo entre duas retas r r Sejam duas retas (r) : X = A1 + tv1 e (s) : X = A2 + tv2 . O ângulo α entre as duas retas é sempre o menor ângulo formado por elas, donde podemos concluir que 0 o ≤ α ≤ 90 o . Se as retas forem coincidentes ou paralelas o ângulo entre elas é adotado com sendo 0o. Se as retas forem perpendiculares ou ortogonais, por definição, o ângulo entre elas já está definido e é igual a 90o. No caso em que as retas são concorrentes ou reversas, podemos determinar o ângulo entre elas através do ângulo entre seus vetores diretores. Assim, seja α o ângulo entre as retas (r) e (s) e seja θ o ângulo entre seus vetores diretores. r r v1 ⋅ v 2 Como vimos anteriormente temos que cos θ = r . Então: r | v1 | ⋅ | v 2 | a) se 0 o ≤ θ ≤ 90 o ⇒ α = θ b) se 90o < θ ≤ 180o ⇒ α = 180o − θ (s) r v2 θ=α r v1 (r) r v1 θ r v2 α (s) (r) CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Portanto, em ambos os casos a) e b) temos que: cos α =| cos θ |=| cos(180 o − θ) | ⇒ r r v1 ⋅ v 2 . cos α = r r | v1 | ⋅ | v 2 | 2.3 Ângulo entre dois planos Considere dois planos de equações gerais (π1 ) : a1 x + b1 y + c1z + d1 = 0 e r r (π 2 ) : a2 x + b 2 y + c 2 z + d2 = 0 com seus respectivos vetores normais n1 e n2 . O ângulo α entre os dois planos é sempre o menor ângulo formado por eles e 0 o ≤ α ≤ 90 o . Se os planos forem coincidentes ou paralelos o ângulo entre eles é adotado com sendo 0o. Se os planos forem perpendiculares, por definição, o ângulo entre eles já está definido e é igual a 90o. No caso em que os planos são concorrentes, podemos determinar o ângulo entre eles através do ângulo entre seus vetores normais. Assim, seja α o ângulo entre os planos (π1) e (π2) e seja θ o ângulo entre seus vetores normais. Então: a) se 0 o ≤ θ ≤ 90 o ⇒ α = θ b) se r 90o < θ ≤ 180o ⇒ α = 180 n2o −αθ= θ r n1 r n1 r n2 α r n1 r n2 θ (π 2 ) α r n1 (π 2 ) α (π1 ) r n2 (π1 ) Portanto, em ambos os casos a) e b) temos que: cos α =| cos θ |=| cos(180 o − θ) | ⇒ r r n1 ⋅ n2 . cos α = r r | n1 | ⋅ | n2 | 2.4 Ângulo entre uma reta e um plano r r Considere uma reta de equação vetorial (r) : X = A + tv , cujo vetor diretor é v r e um plano de equação geral (π) : ax + by + cz + d = 0 , cujo vetor normal é n . O ângulo α entre a reta e o plano e o menor ângulo formado por eles e 0 o ≤ α ≤ 90 o . CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru Caso a reta seja paralela ao plano, em particular, se ela estiver contida no plano o ângulo entre eles é adotado como sendo 0o. Se a reta for perpendicular ao plano, por definição, o ângulo entre eles já está definido e é igual a 90o. No caso em que a reta é concorrente ao plano, podemos determinar o ângulo entre eles através do ângulo entre o vetor diretor da reta e o vetor normal ao plano. Assim, seja α o ângulo entre a reta (r) e o plano (π) e seja θ o ângulo entre o vetor diretor da reta e o vetor normal ao plano. Então: a) se 0o ≤ θ ≤ 90o ⇒ α = 90o − θ r n (r) r θ v α (π) b) se 90o < θ ≤ 180o ⇒ α = θ − 90o (r) r v α (π) θ r n Nestes casos devemos determinar o ângulo θ entre o vetor diretor da reta e o r r v ⋅n e, vetor normal ao plano entre através do valor de cos θ = r r | v|⋅|n| posteriormente, determinar o ângulo α, uma vez que: a) se 0o ≤ θ ≤ 90o ⇒ α = 90o − θ e b) se 90o < θ ≤ 180o ⇒ α = θ − 90o . Exemplo (3): Determine o ângulo entre os planos (π1) : 2x + y − z + 3 = 0 e (π2 ) : x + y − 4 = 0 . Solução: Estamos interessados em determinar o ângulo α entre os planos, em r r função do ângulo θ entre os vetores normais que são n1 = (2,1,−1) e n2 = (1,1,0) . r r r r Note que: como {n1, n2} LI e n1 ⋅ n2 ≠ 0 , logo os planos são concorrentes. Então: cos α =| cos θ |= cos α = r r n1 ⋅ n2 r r n1 ⋅ n2 ⇒ cos α = 2 ⋅ 1 + 1 ⋅ 1 + (−1) ⋅ 0 2 2 + 12 + (−1)2 ⋅ 12 + 12 + 02 = 3 6⋅ 2 ⇒ 3 . Portanto, α = 30o . 2 Exemplo (4): Sejam a reta (r) : x = y −1 z −2 = e o plano (π) : x − y + 5z + 3 = 0 . −2 3 Qual é o ângulo entre eles? Solução: Queremos determinar o ângulo α entre a reta e o plano em função do r ângulo θ entre o vetor diretor da reta v = (1,−2,3) e o vetor normal ao plano CÁLCULO VETORIAL E GEOMETRIA ANALÍTICA Luiz Francisco da Cruz – Departamento de Matemática – Unesp/Bauru r n = (1,−1,5) . Note que a reta é concorrente ao plano. Vamos determinar θ usando a r r 1 ⋅ 1 + (−2) ⋅ (−1) + 3 ⋅ 5 v ⋅n ⇒ expressão cos θ = r r . Então: cos α = | v|⋅|n| 12 + (−2)2 + 32 ⋅ 12 + (−1)2 + 52 cos θ = 42 . 7 cos θ > 0 Como ⇒ 0 o ≤ θ ≤ 90 o ⇒ α = 90o − θ . Portanto, 42 . α = 90 o − arccos 7 Exercícios Propostos 1) Sejam o plano (π) : 3x + 5y + 5z − 15 = 0 . Ao "passar" pelo ℜ3 ele deixa traços e intercepta os eixos coordenados em pontos P, Q e R, cujo esboço do plano (π) é o triângulo PQR. Determine o ângulo do vértice R do triângulo PQR. 3 17 Resp: θ = α = arccos 34 r 2) Determine o ângulo entre as retas, cujos vetores diretores são v1 = (f1, g1, h1) e r r r r r v2 = (f2 , g2 ,2h1) , sabendo-se que AB = v1 + v2 , com A(2,3,-1) e B(4,-3,5), v1 ⋅ i = 1 r r r r e v2 × k = −8 i − j . Resp: 7 θ = arccos 27 3) Sejam A(2,3,0), B(2,1,4) e C(4,1,4) vértices de um triângulo ABC. Sejam M e N pontos médios dos lados AC e BC, respectivamente. Determine o ângulo entre as 30 Resp: θ = arccos 6 retas suportes do lado AC e do segmento MN. 4) Determine (s) : x −1 y −2 = e z = 2. 4 2 5) Determine a distância a (π) : x + 2y − 5z − 30 = 0 . distância entre as retas (r) : x −1 = y − 2 e z = −1 2 e Resp: d = 3 u.c. da reta (r) : x = y −5 = z −2 3 ao plano Resp: d = 30 u.c.