UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS O TEOREMA DE STOKES MARCELO DOS SANTOS Ilhéus-Bahia Novembro-2010 MARCELO DOS SANTOS O TEOREMA DE STOKES Trabalho de conclusão de curso elaborado junto ao Colegiado do Curso de Graduação em Matemática da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), sob orientação do Prof. Darlan Ferreira de Oliveira, como requisito parcial para obtenção do tı́tulo de Bacharel em Matemática. Ilhéus-Bahia 2010 BANCA EXAMINADORA Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e cientı́ficos, a reprodução total ou parcial deste Trabalho de Conclusão de Curso por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: Local e Data: , DEDICATÓRIA A minha mãe Doralice Dos Santos ”Se não está em nosso poder o discernir as melhores opiniões, devemos seguir as mais prováveis”.(René Descartes) AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por ter me dado a coragem necessária para enfrentar os momentos difı́ceis. A minha amada famı́lia: minha mãe Doralice dos Santos, meu pai José Augusto dos Santos , meus irmãos João José e Rogério Augusto por sempre acreditarem em mim e pela força ao longo de todos estes anos de minha graduação. Ao professor Darlan Ferreira de Oliveira, meu orientador, pelas conversas matemáticas, incentivos, ensinamentos, amizade escolha do tema e toda sua dedicação durante todo o perı́odo de elaboração deste trabalho. Aos meus colegas de turma: Tábita Thalita e Robson Cajueiro pelas conversas, crı́ticas construtivas e amizade. A professora Eurivalda Ribeiro dos Santos Santana pelas sugestões nas correções desse trabalho, pelo incentivo que me deu para estudar mais e por ser uma professora esclarecedora dos meus questionamentos. Aos professores Nestor Felipe, Afonso Henriques, André Nagamine, José Reis Damaceno, Sérgio Álvarez, José Carlos Chagas, Erinalva Calasans, que contribuiram, de forma significativa, na minha formação acadêmica com conversas matemáticas e não-matemáticas. Aos meus amigos da UESC, pelas várias conversas, especialmente Thiago Campos, Mayve Lima, Willian Monteiro e João Lúcio. A todos que compõem o colegiado do curso de matemática em especial a nossa secretária Ana Carolina da Mata Virgem Lemos pela simpatia e atenção aos nossos pedidos. Na tentativa de não omitir nenhum nome: a todos os amigos do Salobrinho, do colégio CEAMEV e da UESC, pelo apoio, compreensão e carinho, pelas piadas e pela força. RESUMO A Análise Vetorial clássica gira em torno dos chamados Teoremas Integrais, associados aos nomes ilustres de Green, Gauss e Stokes. Com o uso das formas diferenciais, especialmente da diferenciação exterior e do operador pull-back, todos esses teoremas se reduzem a um único, conhecidoR como Teorema de Stokes, o qual se exprime de maneira R concisa e elegante sob a forma C dw = ∂C w. Explicar e demonstrar a igualdade acima, esclarecendo cada conceito nela envolvido e ilustrar sua utilidade na redemonstração dos Teoremas Integrais é o principal objetivo deste trabalho. O primeiro capı́tulo procura dar um tratamento elementar e conciso aos conceitos de formas diferenciais, produto exterior, diferencial exterior e operador pull-back. No capı́tulo dois inicia-se o estudo dos teoremas da análise vetorial do tipo Stokes, a saber: o teorema de Green, Gauss e Stokes. Antes de demonstrar tais teoremas, são introduzidos alguns conceitos tais como, curva suave, curva fechada, região simples, o operador (∇) e o (rot) de um campo vetorial. Por fim, finalizamos o capı́tulo com as demonstrações dos teoremas integrais. No capı́tulo três é definida a noção de cubos singulares, cadeias, faces e fronteira. É definido ainda, o conceito de integração em cadeias e o elemento de volume dV. Em seguida é apresentada a demonstração do teorema de Stokes em cadeias. O capı́tulo é finalizado redemonstrando os teoremas clássicos do cálculo utilizando o teorema de Stokes. Palavras-chave: Formas Diferenciais; Teorema de Stokes; Teoremas clássicos da análise vetorial; operador diferencial; operador pull-back; n-cadeias. Abstract The Vector Analysis classic revolves around so-called Integral Theorems, associated with the illustrious names of Green, Gauss and Stokes. With the use of differential forms, especially the exterior differentiation operator and the pull-back, all these theorems are reduced known as Stokes’ theorem, which is expressed in a concise and elegant R to a single, R form C dw = ∂C w. Explain and demonstrate the equality above, explaining each concept involved in it and illustrate its usefulness in redemonstração Theorems of Integral is the main objective of this work. The first chapter seeks to provide a concise treatment and elementary concepts of differential forms, exterior product, exterior differential operator and pull-back. In Chapter Two begins the study of the theorems of vector analysis of the Stokes type, namely the theorem of Green, Gauss and Stokes. Before demonstrating these theorems are introduced concepts such as gentle curve, closed curve, simple region, the operator del (∇) and rot of a vector field. Finally, we’ve closed the chapter with the full proofs of the theorems. In chapter three is defined the notion of natural hubs, chains, and boundary faces. It also defined the concept of integration in chains and volume element dV. Next is presented a demonstration of Stokes’ theorem in chains. The chapter ends redemonstrando the theorems of calculation using Stokes’ theorem. Keywords: Differential Forms; Stokes’theorem; classical theorems of vector analysis, differential operator, operator pull-back, n-chains. Sumário Introdução Este trabalho trata do Teorema de Stokes em cadeias. George Stokes, matemático e fı́sico britânico nascido em Skreen, Sligo, Irlanda, 13 de agosto de 1819, faleceu em Cambridge, Inglaterra, 1o de fevereiro de 1903. No capı́tulo 1, estão as noções preliminares, que envolve os conceitos de formas diferenciais, campos vetoriais, diferencial exterior e operador pull-back. Enquanto no capı́tulo 2 apresentamos o Teorema de Stokes na versão do Cálculo Vetorial , ao lado dos inseparáveis companheiros, o Teorema de Green e o da Divergência. No capı́tulo 3, apresentaremos o tema central de nosso trabalho que é o Teorema de Stokes em cadeias, abrindo uma breve introdução sobre k−cubos, cadeias, integração em cadeias e o elemento de volume. A história desse resultado, o Teorema de Stokes, tem aspectos curiosos, e o próprio teorema tem passado por metamorfoses que impressionam. Foi ele mencionado pela primeira vez em 2 de julho de 1850, num adendo a uma carta de Sir Willian Thomson (Lord Kelvin) a Stokes. Ele se torna de domı́nio público como a questão número 8 do Smith’s Prize Examination, ano de 1854. Esse exame era parte de uma competição anual a qual concorriam os melhores alunos da Universidade de Cambridge. Stokes organizou-a de 1849 a 1882 e, na ocasião de seu falecimento, esse resultado já era conhecido por toda a comunidade como ”O Teorema de Stokes”’. 11 Capı́tulo 1 Formas Diferenciais Este capı́tulo visa dar uma noção de alguns dos principais conceitos e resultados da Geometria Diferencial, necessários para compreensão dos resultados que pretendemos demonstrar. 1.1 Formas Diferenciais em Rn A noção de formas diferenciais engloba idéias tais como elementos de área e de volume de uma superfı́cie, o trabalho exercido por uma força, o fluxo de um fluido, a curvatura de uma superfı́cie no espaço, etc. Uma importante operação sobre formas diferenciais é a derivação exterior, a qual generaliza os operadores divergente, gradiente e rotacional do cálculo vetorial. O estudo de formas diferenciais, o qual foi iniciado por E. Cartan por volta do ano 1900, é as vezes denominado de Cálculo diferencial exterior. Um estudo matematicamente rigoroso de formas diferenciais requer o conhecimento das ferramentas de álgebra multilinear. Felizmente, é perfeitamente possı́vel adquirir um conhecimento sólido de formas diferenciais, sem entrar neste formalismo. Esse é o objetivo deste capı́tulo. Para fixarmos ideias, vamos inicialmente introduzir as definições em R3 . Seja p um ponto do R3 . O conjunto de vetores aplicados em p, chama-se espaço tangente de R3 em p, e será denotado por Tp R3 . Com as operações usuais Tp R3 é um espaço vetorial. Definição 1.1.1 Um campo de vetores em R3 é uma aplicação v : R3 → Tp R3 que a cada ponto p ∈ R3 associa v(p) ∈ Tp R3 onde v(p) pode ser escrito na forma v(p) = a1 (p)e1 + a2 (p)e2 + a3 (p)e3 , 12 sendo {e1 , e2 , e3 } a base canônica do R3 . O campo de vetores v diz-se diferenciável quando as funções ai : R3 → R para 1 ≤ i ≤ 3, são diferenciáveis. Para cada espaço tangente Tp R3 , consideremos o espaço dual (Tp R3 )∗ , que é o conjunto dos funcionais lineares f : Tp R3 → R. Uma base para (Tp R3 )∗ , é obtida tomando dxi (p), 1 ≤ i ≤ 3, onde xi : R3 → R é a projeção na i-ésima coordenada. De fato, o conjunto dxi (p), 1 ≤ i ≤ 3, forma uma base, pois dxi (p) ∈ (Tp R3 )∗ , e ∂xi (p) = dxi (p)(ej ) = ∂xj 0, se i 6= j 1, se i = j isto é, {dx1 (p), dx2 (p), dx3 (p)} é a base de (Tp R3 )∗ dual da base {e1 (p), e2 (p), e3 (p)} de Tp R3 . Definição 1.1.2 Um campo de formas lineares ou forma exterior de grau 1 em R3 é uma aplicação w que a cada p ∈ R3 associa w(p) ∈ (Tp R3 )∗ . w pode ser escrita na forma w(p) = a1 (p)dx1 (p) + a2 (p)dx2 (p) + a3 (p)dx3 (p), onde ai são funções definidas em R3 e tomando valores em R. w chama-se forma exterior continua quando as funções ai são continuas. Se as funções ai forem diferenciáveis, w passa a ser chamada de forma diferencial de grau 1. Seja ∧2 (Tp R3 )∗ o conjunto das aplicações ϕ : Tp R3 ×Tp R3 → R bilineares (isto é, linear em cada variável) e alternadas (isto é, ϕ(u, v) = −ϕ(v, u)). Com as definições usuais de soma e produto por escalar ∧2 (Tp R3 )∗ se torna um espaço vetorial. Definição 1.1.3 Sejam ϕ1 , ϕ2 ∈ (Tp R3 )∗ funcionais lineares. Podemos obter um elemento ϕ1 ∧ ϕ2 ∈ ∧2 (Tp R3 )∗ definindo ϕ (v ) ϕ1 (v2 ) ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , v2 ) = det(ϕi (vj )) = 1 1 ϕ2 (v1 ) ϕ2 (v2 ) . Como o determinante de uma matriz 2x2 é uma função bilinear de suas linhas e colunas, ou seja, ϕ1 (v1 + u) ϕ1 (v2 ) ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 + u, v2 ) = ϕ2 (v1 + u) ϕ2 (v2 ) = ϕ1 (v1 + u)ϕ2 (v2 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 + u) = ϕ1 (v1 )ϕ2 (v2 ) + ϕ1 (u)ϕ2 (v2 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (u) = ϕ1 (v1 )ϕ2 (v2 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 ) + ϕ1 (u)ϕ2 (v2 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (u) 13 ϕ1 (v1 ) ϕ1 (v2 ) ϕ1 (u) ϕ1 (v2 ) + = ϕ2 (v1 ) ϕ2 (v2 ) ϕ2 (u) ϕ2 (v2 ) = ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , v2 ) + ϕ1 ∧ ϕ2 (u, v2 ) Analogamente, ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , v2 + u) = ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , v2 ) + ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , u) e ϕ1 (v1 ) ϕ1 (λv2 ) ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , λv2 ) = ϕ2 (v1 ) ϕ2 (λv2 ) = ϕ1 (v1 )ϕ2 (λv2 ) − ϕ1 (λv2 )ϕ2 (v1 ) = λϕ1 (v1 )ϕ2 (v2 ) − λϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 ) = λ(ϕ1 (v1 )ϕ2 (v2 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 )) ϕ1 (v1 ) ϕ1 (v2 ) = λϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , v2 ), = λ ϕ2 (v1 ) ϕ2 (v2 ) quaisquer que sejam v1 , v2 , u ∈ Tp R3 e λ ∈ R. E alternada, ϕ1 ∧ ϕ2 (v1 , v2 ) = ϕ1 (v1 )ϕ2 (v2 ) − ϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 ) = −(ϕ1 (v2 )ϕ2 (v1 ) − ϕ1 (v1 )ϕ2 (v2 )) = −ϕ1 ∧ ϕ2 (v2 , v1 ), segue-se que ϕ1 ∧ ϕ2 ∈ ∧2 (Tp R3 )∗ . Segue da definição acima que: dxi (p) ∧ dxj (p) = −dxj (p) ∧ dxi (p) e dxi (p) ∧ dxi (p) = 0. Mostraremos na proposição ??, de uma maneira mais geral, que o conjunto {dxi (p) ∧ dxj (p), i < j} forma uma base para o espaço ∧2 (Tp R3 )∗ . Definição 1.1.4 Um campo de formas bilineares alternadas ou forma exterior de grau 2 em R3 é uma aplicação w que a cada p ∈ R3 associa w(p) ∈ ∧2 (Tp R3 )∗ ; w pode ser escrito na forma w(p) = a12 (p)dx1 (p) ∧ dx2 (p) + a13 (p)dx1 (p) ∧ dx3 (p) + a23 (p)dx2 (p) ∧ dx3 (p). As funções aij : Rn → R, cujos valores em cada ponto p ∈ Rn são as coordenadas do funcional w(p). Se as funções coordenadas aij forem diferenciáveis, w é chamada uma forma diferencial de grau 2 . Passamos agora a generalizar a noção de formas diferenciais a Rn . Sejam p ∈ Rn , Tp Rn o espaço tangente de Rn em p, (Tp Rn )∗ o seu espaço dual. Com as operações usuais (Tp Rn )∗ é um espaço vetorial. 14 Definição 1.1.5 Seja ∧k (Tp Rn )∗ o conjunto das aplicaçõe ϕ : Tp Rn × · · · × Tp Rn → R k{z } | k−vezes lineares, isto é, seus valores ϕ(v1 , · · · , vk ) dependem linearmente de cada uma das variáveis (v1 , · · · , vk ) ∈ Tp Rn , ou seja, ϕ(v1 , v2 · · · , vi + ui , · · · , vk ) = ϕ(v1 , v2 · · · , vi , · · · , vk ) + ϕ(v1 , v2 · · · , ui , · · · , vk ) e ϕ(v1 , v2 · · · , λvi , · · · , vk ) = λϕ(v1 , v2 · · · , vi , · · · , vk ) quaisquer que sejam (v1 , · · · , vk ) ∈ Tp Rn e λ ∈ R. As operações usuais de soma de aplicações e produto de um aplicação por uma escalar fazem do conjunto ∧k (Tp Rn )∗ um espaço vetorial. Diremos que uma aplicação ϕ ∈ ∧k (Tp Rn )∗ é alternada se ϕ(v1 , v2 , · · · , vk ) = 0 sempre que a sequência (v1 , v2 , · · · , vk ) possuir repetições, ou seja, se existirem i 6= j com vi = vj e diremos que é anti-simétrica se ϕ(v1 , v2 , · · · , vi , · · · , vj , · · · , vk ) = −ϕ(v1 , v2 , · · · , vj , · · · , vi , · · · , vk ) para quaisquer (v1 , v2 , · · · , vk ) ∈ Tp Rn . Se ϕ1 , · · · , ϕk são funcionais lineares, podemos obter um elemento ϕ1 ∧ · · · ∧ ϕk ∈ ∧k (Tp Rn )∗ definido por: ϕ1 ∧ · · · ∧ ϕk (v1 , · · · , vk ) = det(ϕi (vj )). Decorre das propriedades de determinantes que ϕ1 ∧ · · · ∧ ϕk é de fato k-linear e alternada. Em particular, dxi1 (p) ∧ · · · ∧ dxik (p) ∈ ∧k (Tp Rn )∗ . Proposição 1.1.6 O conjunto {dxi1 (p) ∧ · · · ∧ dxik (p)}, i1 ij ∈ {1, · · · , n}, forma uma base para (Tp Rn )∗ . < ... < ik , onde Demonstração . Mostremos que os elementos do conjunto são LI e geram (Tp Rn )∗ . De fato, se X ai1 ···ik dxi1 ∧ · · · ∧ dxik = 0, ij ∈ {1, · · · , n} i1 <···<ik então aplicando a (ej1 , · · · , ejk ), j1 < · · · < jk e jl ∈ {1, ..., n} obteremos: aj1 ···jk = X ai1 ···ik dxi1 ∧ · · · ∧ dxik (ej1 , · · · , ejk ) = X ai1 ···ik det(dxik (ejn )) = 0, {z } | =0 15 para todo j1 , · · · , jk . Logo os coeficientes aj1 ···jk são nulos e {dxi1 ∧ · · · ∧ dxik } são LI. Vamos agora mostrar que se f ∈ ∧k (Tp Rn )∗ , então f é uma combinação linear da forma X ai1 ···ik dxi1 ∧ · · · ∧ dxik . f= i1 <···<ik Tomemos g= X f (ei1 , · · · , eik )dxi1 ∧ · · · ∧ dxik i1 <···<ik um elemento de ∧k (Tp Rn )∗ temos, g(ei1 , · · · , eik ) = f (ei1 , · · · , eik ) para todo i1 , · · · , ik segue que f = g. Com efeito, provemos por indução sobre k, sejam f, g : Tp Rn → R, funcionais lineares. P n Dado u ∈ T R arbitrário, logo podemos escrever u = aik eik . Então f (u) = p P P aik f (eik ) = aik g(eik ) = g(u), portanto f = g. Supondo agora que a igualdade seja válida para aplicações k−lineares , e provemos que vale para aplicações (k + 1)−lineares. Sejam f, g ∈ ∧k+1 (Tp Rn )∗ , tais que g(ei1 , · · · , eik+1 ) = f (ei1 , · · · , eik+1 ) Para cada u ∈ Tp Rn , definamos as aplicações k−lineares fu , gu ∈ ∧k (Tp Rn )∗ pondo fu (ei1 , · · · , eik ) = f (ei1 , · · · , eik , u) e gu (ei1 , · · · , eik ) = g(ei1 , · · · , eik , u). Então, para todo ∈ G (onde G é o conjunto de geradores de Tp Rn ), temos fu = gu . Obsevando que u 7−→ fu , u 7−→ gu são funcionais lineares de Tp Rn em ∧k (Tp Rn )∗ , pela primeira parte temos f = g. Fazendo f (ei1 , · · · , eik ) = ai1 ···ik obtemos, X f (ei1 , · · · , eik ) ∧ · · · ∧ dxik = i1 <···<ik X ai1 ···ik dxi1 ∧ · · · ∧ dxik = f. i1 <···<ik Portanto o conjunto {dxi1 ∧ · · · ∧ dxik } forma uma base para (Tp Rn )∗ . Definição 1.1.7 Uma k-forma exterior em Rn , (k ≥ 1) é uma aplicação w que a cada p ∈ Rn associa w(p) ∈ ∧k (Tp Rn )∗ . Assim w pode ser escrito como: X w(p) = ai1 ···ik (p)dxi1 (p) ∧ · · · ∧ dxik (p), ij ∈ {1, · · · , n}. i1 <···<ik ai1 ···ik são aplicações de Rn em R. Se as funções ai1 ···ik forem diferenciáveis, w é chamada uma k-forma diferencial. 16 Indiquemos por I a k-upla (i1 , · · · , ik ), i1 < · · · < ik , ij ∈ {1, · · · , n} e tomemos para w a notaçao X w= aI dxI I ⇒ w(p) = X aI (p)dxI (p). I Convencionaremos que uma 0-forma diferencial em Rn é uma aplicação diferenciável f : Rn → R . Exemplo 1.1.8 Em R4 temos os seguintes tipos de formas diferenciais, onde ai são funções diferenciáveis em R4 . 1 − f ormas : a1 dx1 + a2 dx2 + a3 dx3 + a4 dx4 ; 2 − f ormas : a12 dx1 ∧ dx2 + a13 dx1 ∧ dx3 + a14 dx1 ∧ dx4 + a23 dx2 ∧ dx3 + a24 dx2 ∧ dx4 + a34 dx3 ∧ dx4 ; 3 − f ormas : a123 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 + a124 dx1 ∧ dx2 ∧ dx4 + a134 dx1 ∧ dx3 ∧ dx4 + a234 dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 ; 4 − f ormas : a1234 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 ; De agora em diante só trataremos de formas diferenciais. Se w e ϕ são duas k-formas: w= X I aI dxI , ϕ = X bI dxI I = (i1 , ..., ik ), i1 < ... < ik I podemos definir a soma w+ϕ = X = X aI dxI + I X bI dxI I (aI + bI )dxI . I Na definição ?? vimos o produto de funcionais em (Tp Rn )∗ . Agora vamos definir o que seja o produto de uma k−forma por uma s−forma. Se w é uma k-forma e ϕ uma s-forma é possı́vel definir uma operação, chamada produto exterior w ∧ ϕ obtendo uma ( k + s )-forma definida como segue: 17 X Definição 1.1.9 Sejam w = aI dxI , I = (i1 , · · · , ik ), i1 < · · · < ik e I X ϕ= bJ dxJ , J = (j1 , · · · , js ), j1 < · · · < js . Por definição J w∧ϕ= X aI bJ dxI ∧ dxJ . I,J A operação de produto exterior goza das seguintes propriedades : Proposição 1.1.10 Se w é uma k - forma, ϕ uma s-forma e θ uma r-forma temos: (i) (w ∧ ϕ) ∧ θ = w ∧ (ϕ ∧ θ) (ii) w ∧ ϕ = (−1)ks ϕ ∧ w (iii) w ∧ (ϕ + θ) = w ∧ ϕ + w ∧ θ Demonstração . (i) Seja w = X aI dxI , ϕ = X X aI dxI ) ∧ ( X X = X = X cH dxH , temos que X cH dxH ) bJ dxJ )] ∧ ( aI bJ dxI ∧ dxJ ) ∧ I,J X H H J I = ( bJ dxJ e θ = J I (w ∧ ϕ) ∧ θ = [( quando r = s X cH dxH H aI bJ cH dxI ∧ dxJ ∧ dxH I,J,H X bJ cH dxJ ∧ dxH ) aI dxI ∧ ( J,H I = w ∧ (ϕ ∧ θ) (ii) Seja w = X aI dxI e ϕ = I w∧ϕ = X X bJ dxJ , onde I = (i1 , · · · , ik ) e J = (j1 , · · · , js ) J aI bJ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik ∧ dxj1 ∧ · · · ∧ dxjs I,J = X bJ aI (−1)dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 ∧ dxj1 ∧ dxik dxj2 ∧ · · · ∧ dxjs I,J = X bJ aI (−1)k dxj1 ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik−1 ∧ dxik ∧ dxj2 ∧ · · · ∧ dxjs I,J 18 Repetindo o mesmo raciocı́nio para cada dxjl , jl ∈ J, e como J tem s elementos obtemos X w∧ϕ= bJ aI (−1)ks dxj1 ∧ · · · ∧ dxjs ∧ dxi1 ∧ · · · ∧ dxik . I,J Portanto w ∧ ϕ = (−1)ks ϕ ∧ w. (iii) Seja w = X aI dxI , ϕ = I X bJ dxJ e θ = J X cH dxH , como ϕ e θ são r− formas H podemos tomar J = H. Então w ∧ (ϕ + θ) = X X X aI dxI ∧ ( bJ dxJ + cJ dxJ ) = X I J = X aI (bJ + cJ )dxI ∧ dxJ I J J X aI dxI ∧ ( (bJ + cJ )dxJ ) I,J = X = X (aI bJ + aI cJ )dxI ∧ dxJ I,J aI bJ dxI ∧ dxJ + I,J X aI cJ dxI ∧ dxJ I,J = w ∧ ϕ + w ∧ θ. Em geral, o produto exterior de uma k-forma e uma s-forma é uma (k+s)-forma. Visto que uma 0-forma é meramente uma função diferenciável, a multiplicação por uma 0-forma não afeta o grau de uma forma. O produto exterior de uma k-forma e uma s-forma será zero em Rn se k + s é maior que n, visto que existirão repetições. Exemplo 1.1.11 Para as formas diferenciais no R3 com (x1 , x2 , x3 ) = (x, y, z) α = xdx − ydy e β = xdx − zdy + y 2 dz, temos: dx ∧ dx = dy ∧ dy = 0 , dy ∧ dx = −dx ∧ dy e dx ∧ dz = −dz ∧ dx, logo α ∧ β = (xdx − ydy) ∧ (xdx − zdy + y 2 dz) = x2 dx ∧ dx − xydy ∧ dx − xzdx ∧ dy + yzdy ∧ dy + xy 2 dx ∧ dz − y 3 dy ∧ dz = x(y − z)dx ∧ dy − y 3 dy ∧ dz − xy 2 dz ∧ dx. 19 Embora dxi ∧ dxi = 0, pode ocorrer que para alguma forma diferencial w tenhamos w ∧ w 6= 0. Por exemplo, se w = x1 dx1 ∧ dx2 + x2 dx3 ∧ dx4 , é um 2−forma no R4 teremos w ∧ w = (x1 dx1 ∧ dx2 + x2 dx3 ∧ dx4 ) ∧ (x1 dx1 ∧ dx2 + x2 dx3 ∧ dx4 ) = x1 2 dx1 ∧ dx2 ∧ dx1 ∧ dx2 + x1 x2 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 + + x2 x1 dx3 ∧ dx4 ∧ dx1 ∧ dx2 + x2 2 dx3 ∧ dx4 ∧ dx3 ∧ dx4 = x1 x2 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 + x1 x2 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 = 2x1 x2 dx1 ∧ dx2 ∧ dx3 ∧ dx4 6= 0 1.2 A Diferencial Exterior A diferencial exterior de uma forma w é definida de tal modo que os vários teoremas do Cálculo, conhecidos sob os nomes de Green, Gauss, Stokes e até mesmo o Teorema fundamental do Cálculo Z b df = f (b) − f (a), a sejam resumidos numa única fórmula, que se escreve Z Z dw = w S ∂S a qual é conhecida como Teorema de Stokes. Nosso próximo passo, a caminho desta fórmula, será a definição e o estabelecimento de propriedades básicas sobre dw. Definição 1.2.1 Seja w = X wI dxI uma k-forma diferencial. Definimos uma (k + I 1)-forma diferencial dw que chamaremos a diferencial exterior de w, como sendo X dw = dwI ∧ dxI I = X ∂wI I,j ∂xj dxj ∧ dxI . Teorema 1.2.2 Sejam w, η formas diferencias de classe C 2 definidas em Rm . Então: (1) d(w + η) = dw + dη , onde w, η são k−formas (2) Sendo w, η formas diferenciais de ordem k, l, respectivamente. Tem-se: d(w ∧ η) = dw ∧ η + (−1)k w ∧ dη 20 (3) d(dw) = 0, ou seja, d2 = 0. Demonstração . (1) Sejam w = X wI dxI e η = X I ηI dxI duas k-formas. Então I X w+η = (wI + ηI )dxI I e d(w + η) = X = X = X d(wI + ηI ) ∧ dxI I (dwI + dηI ) ∧ dxI I dwI ∧ dxI + I X dηI ∧ dxI I = dw + dη X X (2) Seja w = wI dxI uma k-forma e η = ηJ dxJ uma s-forma. Então I J w∧η = X wI ηJ dxI ∧ dxJ I,J Portanto, d(w ∧ η) = X = X d(wI ηJ ) ∧ dxI ∧ dxJ I,J (dwI ηJ + wI dηJ ) ∧ dxI ∧ dxJ I,J = dw ∧ η + (−1)k w ∧ dη Observemos que se w, η são 0−formas (aplicações difenciáveis), então d(wη) = wdη +dwη, ou seja, basta aplicar a regra do produto para funções diferenciáveis. (3) Seja w = X wI dxI , então dw = I X ∂wI I,j ∂xj dxj ∧ dxI . Daı́ X ∂wI X ∂ 2 wI d(dw) = d( dxj ∧ dxI ) = dxk ∧ (dxj ∧ dxI ) ∂xj ∂xk ∂xj I,j k,I,j " # X X ∂ 2 wI = dxk ∧ dxj ∧ dxI ∂x k ∂xj I k,j # " X X ∂ 2 wI ∂ 2 wI = − dxk ∧ dxj ∧ dxI ∂xk ∂xj ∂xj ∂xk I k<j = 0, pelo teorema de Schwarz. 21 1.3 O Operador Pull-Back Passaremos agora a definir um aplicação que leva k-formas sobre o espaço Rm em k-formas sobre o espaço Rn . Definição 1.3.1 Seja f : Rn → Rm uma função diferenciável. A aplicação linear df (p) : Tp Rn → Tf (p) Rm induz uma transformação linear fp∗ : ∧k (Tf (p) Rm )∗ → ∧k (Tp Rn )∗ que para cada ϕf (p) ∈ ∧k (Tf (p) Rm )∗ associa fp∗ (ϕf (p) ), definida da seguinte maneira fp∗ (ϕf (p) )(v1 , · · · , vk ) = ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · vk ), v1 , · · · , vk ∈ Tp Rn . Aqui, a transformação linear df (p) : Tp Rn → Tf (p) Rm é a derivada de f no ponto p. Fazendo o ponto p variar em Rn , obteremos uma aplicação f ∗ que leva k-formas de Rm em k-formas de Rn , denoninada Pull-Back . ϕ 7→ f ∗ ϕ define uma transformação linear, isto é, f ∗ (a · ϕ + b · ω) = a · f ∗ ϕ + b · f ∗ ω se a, b ∈ R. Observemos que fp∗ (ϕf (p) ) assim definida é um elemento de ∧k (Tp Rn )∗ . Com efeito, fp∗ (ϕf (p) )(v1 , · · · , vi + ui , · · · , vk ) = = = + = ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · (vi + ui ), · · · , df (p) · vk ) ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · vi + df (p) · ui , · · · , df (p) · vk ) ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · vi , · · · , df (p) · vk ) ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · ui , · · · , df (p) · vk ) fp∗ (ϕf (p) )(v1 , · · · , vi , · · · , vk ) + fp∗ (ϕf (p) )(v1 , · · · , ui , · · · , vk ) e fp∗ (ϕf (p) )(v1 , · · · , λvi , · · · , vk ) = = = = ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · (λvi ), · · · , df (p) · vk ) ϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , λdf (p) · vi , · · · , df (p) · vk ) λϕf (p) (df (p) · v1 , · · · , df (p) · vi , · · · , df (p) · vk ) λfp∗ (ϕf (p) )(v1 , · · · , vi , · · · , vk ), logo, fp∗ (ϕf (p) ) é k− linear. Convenciona-se que f ∗ (g) = g ◦ f se g é uma 0-forma. Por simplicidade de notação, ao longo deste texto, usaremos f ∗ ao invés de fp∗ . Proposição 1.3.2 Se f : Rn → Rm é diferenciável então: (i) f ∗ (ω1 + ω2 ) = f ∗ (ω1 ) + f ∗ (ω2 ), onde ω1 e ω2 são k-formas sobre Rm . (ii) f ∗ (gω) = f ∗ (g)f ∗ (ω), onde g é uma 0-forma e ω uma k-forma sobre Rm . (iii) f ∗ (ω1 ∧ ω2 ) = f ∗ (ω1 ) ∧ f ∗ (ω2 ), onde ω1 e ω2 são 1-formas sobre Rm . 22 Demonstração . (i) Seja p ∈ Rn e v1 , v2 , · · · , vk ∈ Tp Rn . Então f ∗ (ω1 + ω2 )(v1 , · · · , vk ) = = = = (ω1 + ω2 )(df (p) · v1 , · · · , df (p) · vk ) ω1 (df (p) · v1 , · · · , df (p) · vk ) + ω2 (df (p) · (v1 ), · · · , df (p) · (vk )) f ∗ (ω1 )(v1 , · · · , vk ) + f ∗ (ω2 )(v1 , · · · , vk ) (f ∗ (ω1 ) + f ∗ (ω2 ))(v1 , · · · , vk ) (ii) f ∗ (gω)(v1 , · · · , vk ) = = = = = (gω)(df (p) · v1 , · · · , df (p) · vk ) g ◦ ω(df (p) · v1 , · · · , df (p) · vk ) g(ω(df (p) · v1 , · · · , df (p) · vk )) g ◦ f ∗ω f ∗ (g)f ∗ (ω) (iii) f ∗ (ω1 ∧ ω2 )(v1 , v2 ) = (ω1 ∧ ω2 )(df (v1 ), df (v2 )) ω (df (v1 )) ω1 (df (v2 )) = 1 ω2 (df (v1 )) ω2 (df (v2 )) ∗ f ω1 (v1 ) f ∗ ω1 (v2 ) = ∗ f ω2 (v1 ) f ∗ ω2 (v2 ) = (f ∗ ω1 ) ∧ (f ∗ ω2 )(v1 , v2 ) O item (iii) vale para formas w1 e w2 quaisquer e será provado mais adiante. A operação f ∗ equivale, na verdade, a uma substituição de variáveis. Com efeito, seja f : Rn → Rm uma aplicação diferenciável que a cada (x1 , · · · , xn ) ∈ Rn associa (y1 , · · · , ym ) ∈ Rm da forma y1 = f1 (x1 , · · · , xn ) .. .. (1.1) . . y m = fm (x1 , · · · , xn ) Se w = X aI dyI é uma k-forma em Rm , usando as propriedades de f ∗ , temos que I f ∗w = X f ∗ (aI )f ∗ (dyi1 ) ∧ · · · ∧ f ∗ (dyik ). I Como pela regra da cadeia dyi (f (p))df (p) = d(yi ◦ f )(p). Então f ∗ (dyi )(v) = dyi (df (p) · v) = d(yi ◦ f )(p) · v = dfi (p) · v 23 obteremos f ∗w = X aI (f1 (x1 , · · · , xn ), · · · , fm (x1 , · · · , xn ))dfi1 ∧ · · · ∧ dfik I onde fi e dfi são funções de xj . Portanto aplicar f ∗ a w, equivale a substituir em w as variáveis yi e suas diferenciais dyi pelas funções de xk e dxk obtidas em ??. Proposição 1.3.3 Seja f : Rn → Rm uma aplicação diferenciável que a cada (x1 , · · · , xn ) ∈ Rn associa (y1 , · · · , ym ) = (f1 (x1 , · · · , xn ), · · · , fm (x1 , · · · , xn )) ∈ Rm . Então: (i) f ∗ (w ∧ ϕ) = f ∗ w ∧ f ∗ ϕ, onde w e ϕ são formas diferenciais em Rm . (ii) (f ◦ g)∗ w = g ∗ (f ∗ w), onde g : Rp → Rn é um aplicação diferenciável. Demonstração . (i) Se w = X aI dyI e ϕ = I X bJ dyJ J então w∧ϕ= X aI bJ dyI ∧ dyJ . I,J Assim, X f ∗ (w ∧ ϕ) = aI (f1 , · · · , fm )bJ (f1 , · · · , fm )dfI ∧ dfJ I,J = ( X X aI (f1 , · · · , fm )dfI ) ∧ ( bJ (f1 , · · · , fm )dfJ ) I J = f ∗ w ∧ f ∗ ϕ. (ii) (f ◦ g)∗ w = X = X aI ((f ◦ g)1 , · · · , (f ◦ g)m )d(f ◦ g)I I aI (f1 (g1 , · · · , gn ), · · · , fm (g1 , · · · , gn ))dfI (dg1 , · · · , dgn ) I = g ∗ (f ∗ (w)). Teorema 1.3.4 Seja f : Rn → Rm uma aplicação diferenciável. Então para uma k-forma w sobre o Rm temos f ∗ (dw) = d(f ∗ w). Demonstração . Seja, inicialmente, g : Rm → R uma 0 - forma que a cada (y1 , · · · , ym ) ∈ Rm associa g(y1 , · · · , ym ). Então, m m X X ∂g ∗ ∂g dyi ) = f ∗( )f (dyi ) f ∗ (dg) = f ∗ ( ∂y ∂y i i i=1 i=1 24 = m X ∂g (f )dfi ∂y i i=1 m n n X X X ∂g ∂fi ∂(g ◦ f ) = (f ) dxj = dxj ∂y ∂x ∂x i j j i=1 j=1 j=1 = d(g ◦ f ) = d(f ∗ g). Suponhamos agora que d(f ∗ w) = f ∗ (dw) para uma k-forma w. Para mostrarmos a validade deste resultado para uma (k+1)-forma basta tomarmos uma (k+1)-forma do tipo w ∧ dxi visto que qualquer (k+1)-forma é uma soma finita de formas deste tipo. Sendo assim temos: f ∗ (d(w ∧ dxi )) = f ∗ (dw ∧ dxi + (−1)k w ∧ d(dxi )) = f ∗ (dw ∧ dxi ) = f ∗ (dw) ∧ f ∗ (dxi ). Por hipótese f ∗ (dw) = d(f ∗ w), portanto f ∗ (d(w ∧ dxi )) = d(f ∗ (w) ∧ f ∗ (dxi ) = d(f ∗ w ∧ f ∗ (dxi )) = d(f ∗ (w ∧ dxi )). 25 Capı́tulo 2 Os Teoremas Clássicos Neste capitulo iremos apresentar os teoremas clássicos do cáculo vetorial: o teorema de Green, o teorema de Gauss e o teorema de Stokes. 2.1 Teorema de Green O teorema de Green pode ser usado para calcular áreas de figuras planas limitadas e fechadas, trabalho de um campo de forças bidimensional, dentre outras aplicações. Além disso seu principio é utilizado para formulação de outros teoremas como por exemplo o teorema de Stokes e o teorema de Gauss. Suas aplicações se estendem para áreas da Fı́sica, quı́mica, engenharias, geologia, etc.. Antes de enunciar e demonstrar o teorema de Green precisamos de alguns conceitos com respeito a Campos vetoriais e integrais de linha. Definição 2.1.1 Seja Ω um aberto de R2 e γ : [a, b] → Ω ⊆ R2 uma curva suave (isto é, γ 0 (t) é continua e γ 0 (t) 6= 0, ∀t ∈ [a, b]). Seja ainda f : Ω ⊆ R2 → R Tomemos A = γ(a), B = γ(b). Seja a = t0 < t1 < · · · < tn = b uma partição de [a, b]. Consideremos ∆i = ti − ti−1 , d em arcos P\ i = 1, · · · , n. Esta partição em [a, b] determina uma partição do arco AB i−1 Pi , onde Pi = γ(ti ). Sejam ∆Si = comprimento do arco P\ i−1 Pi e ||∆|| = max ∆Si . Em cada arco P\ i−1 Pi tomemos (ui , vi ) e formamos a soma X f (ui , vi )∆Si i 26 Definimos a integral curvilı́nea (de linha) de f sobre γ de A até B como sendo Z X f (x, y)ds = lim f (ui , vi )∆Si γ ||∆||→0 i desde que o limite exista independentemente da escolha (ui , vi ) ∈ P\ i−1 Pi . Definição 2.1.2 Uma curva γ : [a, b] → Ω ⊆ Rn é dita fechada quando γ(a) = γ(b). Se γ não possui autointerseção é chamada de simples. Definição 2.1.3 Uma curva γ : [a, b] → R2 é dita suave se possue derivadas contı́nuas de todas as ordens. Definição 2.1.4 Uma curva γ : [a, b] → R2 é dita suave por partes se existe uma partição finita de [a, b] em subintervalos tal que a restrição de γ a cada subintervalo seja suave. Definição 2.1.5 Uma região Ω ⊂ R2 é dita uma região simples se toda reta paralela a um dos eixos coordenados corta a fronteira de Ω em um segmento ou, no máximo, em dois pontos. Teorema 2.1.6 (Green) Seja Ω uma região simples plana e simplesmente conexa, cuja fronteira é uma curva C suave por partes, fechada, simples e orientada no sentido antihorário. Se f e g forem contı́nuas e tiverem derivadas parciais de primeira ordem continuas em algum conjunto aberto de R, então Z ZZ ∂g ∂f − )dxdy f (x, y)dx + g(x, y)dy = ( ∂y ∂Ω Ω ∂x Demonstração . Como Ω é simplesmente conexa existem funções contı́nuas y1 (x), y2 (x), e x1 (y), x2 (y) nos intervalos a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d respecitivamente, tais que (x, y) ∈ Ω̄ ⇔ a ≤ x ≤ b, y1 (x) ≤ y ≤ y2 (x) e (x, y) ∈ Ω̄ ⇔ c ≤ y ≤ d, x1 (y) ≤ x ≤ x2 (y) onde Ω̄ = Ω ∪ ∂Ω Sendo f, g contı́nuas com derivadas parciais contı́nuas no fecho Ω̄ de Ω , então ! ZZ Z b Z y2 (x) ∂f (x, y) ∂f (x, y) dxdy = dy dx ∂y ∂y Ω a y1 (x) 27 b Z y (x) (f (x, y) |y21 (x) )dx = a b Z (f (x, y2 (x)) − f (x, y1 (x)))dx Z a Z b f (x, y2 (x))dx f (x, y1 (x))dx − = − = a b a A primeira integral é sobre a parte inferior C1 da fronteira de Ω, orientada da esquerda para direita e a segunda sobre C2 da mesma fronteira ∂Ω, agora orientada da direita para esquerda. Assim podemos escrever ZZ Z ∂f dxdy = − f (x, y)dx, Ω ∂y ∂Ω pois a integral de f dx sobre algum possı́vel trecho na vertical do contorno ∂Ω será zero , visto ser dx = 0 em tal trecho. De modo análogo temos que ! ZZ Z d Z x2 (y) ∂g(x, y) ∂g(x, y) dxdy = dx dy ∂x ∂x Ω c x1 (y) Z d (g(x2 (y), y) − g(x1 (y), y))dy = c Z d Z c = (g(x2 (y), y)dy + g(x1 (y), y))dy c d logo podemos escrever ZZ Ω ∂g dxdy = ∂x Z gdy ∂Ω portanto, Z ZZ f (x, y)dx + g(x, y)dy = ∂Ω 2.2 ( Ω ∂g ∂f − )dxdy ∂x ∂y Teorema da Divergência O teorema da Divergência é também conhecido como teorema de Gauss e desempenha um papel semelhante ao do Teorema de Green para integrais curvilı́neas. O teorema de Gauss nos dá uma alternativa interessante para o cálculo do fluxo de um campo de velocidades no plano ou espaço. Para entender os teoremas de Gauss e mais adiante o teorema de Stokes, precisamos definir dois operadores para campos vetoriais que são básicos nas aplicações do cálculo vetorial. Cada operador lembra uma diferenciação, mas um produz um campo escalar enquanto que outro produz um campo vetorial. 28 Definiremos o operador diferencial vetorial ∇ como sendo: ∇f = ∂f ∂f ∂f i+ j+ k ∂x ∂y ∂z onde f : R3 → R. Seja F (x, y, z) = A1 (x, y, z)i + A2 (x, y, z)j + A3 (x, y, z)k um campo de vetores onde A1 , A2 , A3 são funções diferenciáveis. Definição 2.2.1 A divergência de F denotada por divF , é definida por : divF = ∂A1 ∂A2 ∂A3 + + . ∂x ∂y ∂z Definição 2.2.2 O rotacional de F , denotado por rotF , é definido por : rotF = ( ∂A1 ∂A3 ∂A2 ∂A1 ∂A3 ∂A2 − )i + ( − )j + ( − )k. ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y Definição 2.2.3 Uma superficie S é dita suave se o seu vetor normal unitário η varia continuamente através de S. Definição 2.2.4 Consideremos uma superficie S, que tem como vetor unitário normal η = cos α + cos β + cos γ. Sejam A1 (x, y, z), A2 (x, y, z), A3 (x, y, z) funções contı́nuas defenidas em S. Definimos, ZZ ZZ A1 dydz = A1 cos αdS S S ZZ ZZ A2 dydz = A2 cos βdS S S ZZ ZZ A3 dydz = S A3 cos γdS S Teorema 2.2.5 (Gauss) Seja Ω um sólido limitado por uma superficie fechada S, formada por um número finito de superfı́cies suaves, e η a normal externa unitária. Se as componentes F (x, y, z) tem derivadas parciais continuas num aberto contendo Ω, então : ZZ ZZZ F · ηdS = divF dxdydz S Ω Demonstração . A equação acima pode ser reescrita em termos de suas componentes como 29 ZZZ ZZ (A1 dydz + A2 dzdx + A3 dxdy) dS = S Ω ∂A1 (x, y, z) ∂A2 (x, y, z) ∂A3 (x, y, z) + + ∂x ∂y ∂z É suficiente, então, estabelecer as três equações: ZZZ ZZ ∂A3 A3 dxdy = dxdydz S Ω ∂z As demonstrações da equações ZZ ZZZ ∂A1 dxdydz S Ω ∂x ZZ ZZZ ∂A2 A2 dzdx = dxdydz S Ω ∂y A1 dydz = seguem o mesmo raciocı́nio. Suponhamos que Ω pode ser representada sob a forma f1 (x, y) ≤ z ≤ f2 (x, y), (x, y) ∈ Rxy onde Rxy é uma região fechada limitada no plano xy, limitada por uma curva simples fechada suave C. Então a superfı́cie S é composta por três partes: S1 : z = f1 (x, y), (x, y) ∈ Rxy S2 : z = f2 (x, y), (x, y) ∈ Rxy S3 : f1 (x, y) ≤ z ≤ f2 (x, y), para (x, y) sobre C Pela definição ?? RR A dydz = S 3 RR S A3 cos γdS. A parte S2 forma a tampa de S, S1 o fundo de S e S3 nos dá a lateral de S. Temos ! ZZZ ZZ Z f2 (x,y) ∂A3 ∂A3 dxdydz = dz dxdy ∂z Ω ∂z Rxy f1 (x,y) ZZ = (A3 (x, y, f2 (x, y)) − A3 (x, y, f1 (x, y))) dxdy. Rxy Por outro lado, para a integral de superfı́cie, temos ZZ ZZ ZZ A3 cos γdS = S ZZ A3 cos γdS + S1 A3 cos γdS + S2 30 A3 cos γdS. S3 dxdydz Sobre S3 temos γ = π2 , logo cos γ = 0 onde a integral sobre S3 é nula. Sejam P1 (x, y) = xi + yj + f1 (x, y)k e P2 (x, y) = xi + yj + f2 (x, y)k as representações de ∂P1 ∂P1 S1 e S2 , respectivamente. Em S1 a normal η tem sentido oposto ao de × , assim ∂x ∂y podemos escrever ZZ ZZ A3 cos γdS = − A3 dxdy S1 S1 ZZ = − A3 (x, y, f1 (x, y))dxdy. Rxy Em S2 a normal η tem mesmo sentido de ZZ ∂P2 ∂P2 × , assim podemos escrever ∂x ∂y ZZ A3 cos γdS = A3 dxdy S2 S2 ZZ = A3 (x, y, f2 (x, y))dxdy. Rxy Então, ZZ ZZ (A3 (x, y, f2 (x, y)) − A3 (x, y, f1 (x, y)))dxdy, A3 cos γdS = Rxy S e ZZZ Ω ∂A3 dxdydz = ∂z ZZ A3 cos γdS. S como querı́amos. 2.3 Teorema de Stokes O teorema de Stokes pode ser olhado como uma versão em dimensão maior do Teorema de Green. Enquanto o Teorema de Green relaciona uma integral dupla sobre uma região plana Ω com uma integral de linha ao redor de sua curva fronteira, o Teorema de Stokes relaciona uma integral de superfı́cie sobre uma superfı́cie S com uma integral ao redor da fronteira de S. Teorema 2.3.1 (Stokes) Sejam A1 , A2 , A3 : U ⊂ R3 → R com primeiras derivadas parciais contı́nuas em U. Seja S ⊂ U uma superfı́cie suave por partes e seja C = ∂S uma curva simples fechada e suave por partes. Sendo o campo vetorial F (x, y, z) = A1 (x, y, z)i + A2 (x, y, z)j + A3 (x, y, z)k 31 sobre S temos Z ZZ F · dr = C rotF · ηdS. S Demonstração . Sabemos da Geometria Diferencial que se S é uma superfı́cie regular então para cada ponto p ∈ S existe uma vizinhança V de p em S tal que V é o gráfico de uma função diferenciável sobre um dos três planos coordenados, ou seja, toda superfı́cie regular S é localmente o gráfico de uma função diferenciável f. Baseado neste teorema e na possibilidade de podermos decompor a superfı́cie S em várias superfı́cies St que tem em comum apenas partes de suas fronteiras nos limitaremos ao caso em que S pode ser representada pelo gráfico de z = f (x, y) para (x, y) ∈ D onde D é a projeção de S sobre o plano xy. A curva C tem por projeção em xy a curva C̄. Lembremos que F · dr pode ser escrito como A1 dx + A2 dy + A3 dz e ∂A3 ∂A2 ∂A1 ∂A3 ∂A2 ∂A1 − , − , − · ηdS rotF · ηdS = ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y ∂A3 ∂A2 ∂A1 ∂A3 ∂A2 ∂A1 = − , − , − · (η1 , η2 , η3 )dS ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y ∂A1 ∂A3 ∂A2 ∂A1 ∂A3 ∂A2 − − − = η1 dS + η2 dS + η3 dS ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y e sendo r(x, y) = (x, y, f (x, y)) a parametrização de S em D temos ∂r ∂r × η3 dS = hη, ki ∂x ∂y dxdy ∂r ∂r = × , k dxdy ∂x ∂y = dxdy. Analogamente, obtemos η1 dS = dydz e η2 dS = dzdx. Desta forma precisamos mostrar que Z ZZ ∂A3 ∂A2 ∂A1 ∂A3 ∂A2 ∂A1 A1 dx+A2 dy+A3 dz = − dydz+ − dzdx+ − dxdy. ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y C S Pelo teorema de Green temos, Z Z A1 (x, y, z)dx = C A1 (x, y, f (x, y))dx ZZ ∂A1 ∂A1 ∂f = − + dxdy. ∂y ∂z ∂y D C̄ 32 Por outro lado ZZ S ∂A1 ∂A1 dzdx − dxdy = − ∂z ∂y ZZ D ∂A1 ∂f ∂A1 + ∂z ∂y ∂y dxdy onde Z ZZ A1 (x, y, z)dx = C S ∂A1 ∂A1 dzdx − dxdy. ∂z ∂y Analogamente obtemos Z ZZ ∂A2 ∂A2 dxdy − dydz ∂z C S ∂x Z ZZ ∂A3 ∂A3 A3 (x, y, z)dz = dydz − dzdx. ∂x C S ∂y A2 (x, y, z)dy = Somando as equações acima obtemos obtemos a identidade desejada. 33 Capı́tulo 3 O Teorema de Stokes 3.1 n-Cadeias Definição 3.1.1 Seja [0, 1]n = [0, 1] × · · · × [0, 1] e A ⊂ Rn . Dizemos que uma função | {z } n−vezes contı́nua f : [0, 1]n → A define um cubo singular de dimensão n em A. Sendo I n : [0, 1]n → Rn a função identidade, esta define o cubo singular de dimensão n conhecido como cubo unitário n-dimensional. Definição 3.1.2 Sejam C1 , · · · , Ck : [0, 1]n → A, cubos singulares n-dimensionais. Para α1 , · · · , αk ∈ Z a soma α1 C1 + · · · + αk Ck é chamada uma n-cadeia em A. Em particular o cubo singular C de dimensão n é considerado como sendo a n-cadeia 1·C. n n Definição 3.1.3 Para cada i, 1 ≤ i ≤ n, definimos os cubos singulares I(i,0) e I(i,1) , ambos n−1 de dimensão n − 1 pondo para cada x ∈ [0, 1] n I(i,0) (x) = = n I(i,1) (x) = = I n (x1 , · · · , xi−1 , 0, xi , · · · , xn−1 ) (x1 , · · · , xi−1 , 0, xi , · · · , xn−1 ) e I n (x1 , · · · , xi−1 , 1, xi , · · · , xn−1 ) (x1 , · · · , xi−1 , 1, xi , · · · , xn−1 ). n n I(i,0) e I(i,1) são chamados, respectivamente, de faces (i, 0) e (i, 1) do cubo I n . Por exemplo, para n = 3 as faces do cubo I 3 é dada por : 3 I(1,0) (x, y) = (0, x, y) 34 3 I(1,1) (x, y) = (1, x, y) 3 (x, y) = (x, 0, y) I(2,0) 3 I(2,1) (x, y) = (x, 1, y) 3 I(3,0) (x, y) = (x, y, 0) 3 I(3,1) (x, y) = (x, y, 1) onde (x1 , x2 ) = (x, y). Definição 3.1.4 Definimos a fronteira de um cubo unitário n-dimensional por ∂I n = n X X n . (−1)i+α I(i,α) i=1 α=0,1 Por exemplo, a fronteira de I 2 pode ser definida como a soma de quatro cubos singulares unidimensionais, ordenados ao redor da fronteira de [0, 1]2 no sentido anti-horário, ou seja, 2 X X 2 2 2 2 2 2 ∂I = I(2,0) + I(1,1) − I(2,1) − I(1,0) = (−1)i+α I(i,α) . i=1 α=0,1 Definição 3.1.5 Para um cubo singular de dimensão n qualquer C : [0, 1]n → A, definimos a face (i, α) de C por n C(i,α) = C ◦ (I(i,α) ) e ∂C = n X X (−1)i+α C(i,α) . i=1 α=0,1 P Finalmente, definimos a fronteira de uma n-cadeia ai Ci por X X ∂( ai C i ) = ai ∂(Ci ) Teorema 3.1.6 Para qualquer n-cadeia C = ∂(∂C) = 0, ou seja, ∂ 2 C = 0. P ak Ck em A, se verifica a identidade n Demonstração . Consideremos (I(i,α) )(j,β) , para i ≤ j. Sendo x ∈ [0, 1]n−2 temos n−1 n n (I(i,α) )(j,β) (x) = I(i,α) (I(j,β) (x)) n = I(i,α) (x1 , · · · , xj−1 , β, xj+1 , · · · , xn−2 ) = I n (x1 , · · · , xi−1 , α, xi+1 , · · · , xj−1 , β, xj+1 , · · · , xn−2 ). De forma análoga, temos 35 n−1 n n (I(j+1,β) )(i,α) (x) = I(j+1,β) (I(i,α) (x)) n = I(j+1,β) (x1 , · · · , xi−1 , α, xi+1 , · · · , xn−2 ) n = I (x1 , · · · , xi−1 , α, xi+1 , · · · , xj−1 , β, xj+1 , · · · , xn−2 ). n n )(i,α) , para i ≤ j. )(j,β) = (I(j+1,β) Onde concluimos que (I(i,α) n Desde que para qualquer cubo n-dimensional C(i,α) = C ◦ (I(i,α) ), temos também n−1 (C(i,α) )(j,β) = C(i,α) ◦ I(j,β) n−1 n = (C ◦ (I(i,α) )) ◦ (I(j,β) ) n−1 n = C ◦ (I(i,α) (I(j,β) )) n = C ◦ (I(i,α) )(j,β) n = C ◦ (I(j+1,β) )(i,α) n−1 n = C ◦ (I(j+1,β) (I(i,α) )) n−1 n = (C ◦ (I(j+1,β) )) ◦ (I(i,α) ) n−1 = (C(j+1,β) ) ◦ (I(i,α) ) = (C(j+1,β) )(i,α) para i ≤ j. Segue-se que " n # XX ∂ 2C = ∂ (−1)i+α C(i,α) i=1 α=0,1 = n X n−1 X XX (−1)i+α+β+j (C(i,α) )(j,β) i=1 α=0,1 j=1 β=0,1 = n X n−1 X (−1)i+j (C(i,0) )(j,0) − (C(i,0) )(j,1) − (C(i,1) )(j,0) + (C(i,1) )(j,1) i=1 j=1 e fazendo σij = (−1)i+j (C(i,0) )(j,0) − (C(i,0) )(j,1) − (C(i,1) )(j,0) + (C(i,1) )(j,1) temos para i ≤ j. σ(j+1)i = (−1)i+j+1 (C(j+1,0) )(i,0) − (C(j+1,0) )(i,1) − (C(j+1,1) )(i,0) + (C(j+1,1) )(i,1) = (−1)i+j+1 (C(i,0) )(j,0) − (C(i,1) )(j,0) − (C(i,0) )(j,1) + (C(i,1) )(j,1) = −σij . 36 Sendo assim 2 ∂ C= n X n−1 X σij i=1 j=1 = " n−1 X σ1j + j=1 " = − n−1 X j=1 n X # σi1 + i=2 σ(j+1)1 + " n−1 X σ2j + j=2 n X n X # " σi2 + · · · + i=3 # " σi1 + − i=2 n−1 X n−1 X σ(n−1)j + j=n−1 σ(j+1)2 + j=2 n X # # σi(n−1) i=n " n−1 X σi2 +· · ·+ − i=3 n X σ(j+1)(n−1) + j=n−1 n X i=n =0 Sendo o teorema válido para qualquer cubo singular n-dimensional, ele é válido para qualquer n-cadeia singular. 3.2 Integração em cadeias O fato de termos tanto d2 = 0 como ∂ 2 = 0, além da semelhança simbólica, determina uma conexão entre cadeias e formas. Tal conexão se estabelece ao integrarmos formas sobre cadeias. No que segue consideraremos apenas cubos n-dimensionais singulares diferenciáveis. Definição 3.2.1 Seja w uma forma k-dimensional em [0, 1]k , representada por w = f dx1 ∧ · · · ∧ dxk . Definimos Z Z w= f (x1 , · · · , xk )dx1 . · · · .dxk . [0,1]k [0,1]k Definição 3.2.2 Sendo w uma forma k-dimensional sobre A e C um cubo singular k-dimensional, em A, definimos Z Z w= C ∗ w. C [0,1]k Lembre-se que C ∗ w é uma k−forma diferencial definida em ??. Definição 3.2.3 Sendo w uma forma k-dimensional sobre A e C = singular k-dimensional, em A, definimos Z X Z w= ai w. C Ci 37 P ai Ci uma cadeia # σi(n−1) 3.3 O elemento de volume Definição 3.3.1 Um Homeomorfismo do aberto U ⊂ Rn no espaço Rm é uma aplicação f : U → Rm contı́nua com inversa contı́nua. Definição 3.3.2 Uma Imersão do aberto U ⊂ Rn no espaço Rm é uma aplicação diferenciável f : U → Rm tal que, para todo x ∈ U , a derivada df (x) : Rn → Rm é uma transformação linear injetiva. Definição 3.3.3 Uma parametrizão de classe C ∞ e dimensão n de um conjunto V ⊂ Rm é uma imersão f : V0 → V de classe C ∞ que é um homeomorfismo do aberto V0 ⊂ Rn no V. Definição 3.3.4 Um conjunto M ⊂ Rn chama-se uma superficie de dimensão k e classe C ∞ quando todo p ∈ M está contido em algum aberto U ⊂ Rn tal que V = U ∩ M é a imagem de uma parametrização f : V0 → V, de dimensão k e classe C ∞ . O conjunto V é um aberto em M , chamado uma vizinhança paramtrizada do ponto p. Definição 3.3.5 Seja M uma superfı́cie no Rn , com fronteira, k-dimensinal, munida da orientação η. O elemento de volume de M é a forma diferencial w de grau k − 1, definida pondo-se para cada x ∈ M , w(x) ∈ ∧k (Tx M )∗ denotado por dV. Aqui Tx M ⊂ Rn é o espaço vetorial tangente a M no ponto x. Um atlas numa superficie M é um conjunto de parametrizações f : V0 → V cujas imagens V cobrem M. Duas parametrizações f : V0 → V, g : W0 → W, dizem compatı́veis quando V ∩ W = ou quando V ∩ W 6= e g −1 ◦ f : f −1 (V ∩ W ) → g −1 (V ∩ W ) tem determinante jacobiano positivo em todos os pontos x ∈ f −1 (V ∩ W ). Um atlas A na superficie M chama-se coerente quando duas parametrizações f, g ∈ A são compativeis. Uma superfı́cie M chama-se Orientável quando admite um atlas coerente. Definição 3.3.6 Sendo M compacta no Rn definimos o volume de M como sendo Z dV. M Para superfı́cies unidimensionais ou bidimensionais, o termo volume é geralmente substituido por comprimento ou área, empregando no lugar de dV , ds para o elemento de comprimento e dA ou dS para o elemento de área. Definição 3.3.7 Seja M uma superfı́cie no R3 , e seja η(x) a normal exterior unitária em x ∈ M . Definimos w ∈ ∧2 Tx M por v1 v2 v3 u2 u3 = hv × u, η(x)i = dA(v, u) w(v, u) = u1 η1 (x) η2 (x) η3 (x) 38 Em particular, w(v, u) = 1 quando v, u compuserem uma base ortonormal de Tx M . Se v × u for um múltiplo de η(x) teremos dA(v, u) = |v × u| Teorema 3.3.8 Seja M uma superfı́cie orientada com ou sem fronteira, no R3 . Sendo η a sua normal unitária exterior, temos que dA = η1 dy ∧ dz + η2 dz ∧ dx + η3 dx ∧ dy (1) Além disto, são válidos em M as relações η1 dA = dy ∧ dz (2) η2 dA = dz ∧ dx (3) η3 dA = dx ∧ dy (4). Demonstração . Sendo η = (η1 , η2 , η3 ), v = (v1 , v2 , v3 ) e u = (u1 , u2 , u3 ) temos que relação (1) equivale a v1 v2 v3 dA(v, u) = u1 u2 u3 η1 η2 η3 = η1 (v2 u3 − u2 v3 ) + η2 (u1 v3 − u3 v1 ) + η3 (v1 u2 − v2 u1 ) v1 u1 v3 u3 v2 u2 + η2 = η1 v1 u1 + η3 v2 u2 v3 u3 dz(v) dz(u) dx(v) dx(u) dy(v) dy(u) + η2 = η1 dx(v) dx(u) + η3 dy(v) dy(u) dz(v) dz(u) = η1 dy ∧ dz + η2 dz ∧ dx + η3 dx ∧ dy Para demonstrarmos as outras relações, tomemos z ∈ Tx R3 . Sendo v × u = αη(x) para algum α ∈ R, temos então hz, η(x)i · hv × u, η(x)i = hz, η(x)i α = hz, αη(x)i = hz, v × ui Tomando agora sucessivamente z = e1 , e2 , e3 obtemos he1 , η(x)i · hv × u, η(x)i = he1 , v × ui então η1 dA(v, u) = he1 , v × ui = v2 u3 − u2 v3 39 por outro lado dy ∧ dz(v, u) = = dy(v) dy(u) dz(v) dz(u) v2 u2 v3 u3 = v2 u3 − u2 v3 comparando com η1 dA(v, u) obtemos η1 dA = dy ∧ dz de forma análoga, fazendo z = e2 , e3 obtemos η2 dA = dz ∧ dx η3 dA = dx ∧ dy respectivamente. 3.4 O teorema de Stokes Finalmente estamos em condições de sintetizar a relação entre formas, cadeias, d e ∂. Esta relação fica bem determinada no enunciado do teorema a seguir conhecido como teorema de Stokes: Teorema 3.4.1 (Stokes) Dado um aberto A de Rn , sejam w uma forma de dimensão k − 1 e C uma cadeia k-dimensional, ambas sobre A. Temos Z Z dw = w C ∂C Demonstração . Pela definição de integral e pelo teorema ?? temos Z Z Z ∗ dw = c dw = dc∗ w c [0,1]k [0,1]k Uma vez que c∗ w é uma k − 1-forma em [0, 1]k pode ser escrita como ∗ cw= k X ˆ i · · · dtk gi dt1 dt2 · · · dt i=1 ˆ i significa que estamos Para determinadas funções g1 , g2 , · · · , gk definidas em [0, 1]k , onde dt omitindo a entrada de ordem i. Por isso Z Z k Z k X X ∂gi i+1 ˆ dw = d(gi dt1 dt2 · · · dti · · · dtk ) = (−1) dt1 dt2 · · · dtk . k k ∂ti c [0,1] [0,1] i=1 i=1 40 Alterando a ordem de integração, temos Z [0,1]k Z Z ∂gi ˆ i · · · dtk dti dt1 dt2 · · · dt ∂t k i [0,1] Z Z ∂gi ˆ dti = dt1 dt2 · · · dti · · · dtk [0,1]k−1 [0,1]k ∂ti ∂gi dt1 dt2 · · · dtk = ∂ti ˆ i · · · dtk (gi (t1 , · · · , ti−1 , 1, ti+1 , · · · , tk )−gi (t1 , · · · , ti−1 , 0, ti+1 , · · · , tk ))dt1 dt2 · · · dt = [0,1]k−1 as fórmulas ˆ i · · · dtk gi (t1 , · · · , ti−1 , 1, ti+1 , · · · , tk )dt1 dt2 · · · dt e ˆ i · · · dtk gi (t1 , · · · , ti−1 , 0, ti+1 , · · · , tk )dt1 dt2 · · · dt nada mais são que c∗(i,1) w , c∗(i,0) w respectivamente. Assim, Z Z k X i+1 dw = (−1) c = = [0,1]k i=1 k X i+1 Z (−1) i=1 k X [0,1]k−1 X (−1) i+ρ k X X (−1) (c∗(i,1) w − c∗(i,0) w) Z [0,1]k−1 i=1 ρ=0,1 = ∂gi ˆ i · · · dtk dti dt1 dt2 · · · dt ∂ti i+ρ c∗(i,ρ) w Z w= c(i,ρ) i=1 ρ=0,1 Z w, ∂c o que comprova o resultado. 3.4.1 Os Teoremas Clássicos a partir de Stokes Temos agora a disposição todo o instrumento necessário para enuncinar e demonstrar os teoremas clássicos do tipo Stokes. Teorema 3.4.2 (Green) Seja A um aberto do R2 com fronteira. Para quaisquer funções diferenciáveis f, g : A → R se tem Z Z Z ∂g(x, y) ∂f (x, y) − )dxdy f (x, y)dx + g(x, y)dy = ( ∂x ∂y ∂A A 41 Demonstração . Observemos que d(f (x, y)dx + g(x, y)dy) = d(f dx) + d(gdy) ∂f ∂f ∂g ∂g dy) ∧ dx + ( dx + dy) ∧ dy = ( dx + ∂x y ∂x ∂y ∂f ∂g = dy ∧ dx + dx ∧ dy ∂y ∂x ∂g ∂f = ( − )dx ∧ dy ∂x ∂y Aplicando o teorema ?? temos Z Z Z ∂g(x, y) ∂f (x, y) ( f (x, y)dx + g(x, y)dy − )dxdy = ∂x ∂y A ∂A Teorema 3.4.3 (Gauss) Seja S uma superficie do R3 com fronteira, e seja η a normal unitária exterior a ∂S. Para um campo vetorial F (x, y, z) definido em S, temos: Z Z divF dxdydz F · ηdS = ∂S S Demonstração . Pelo teorema ?? observamos que a igualdade acima pode ser expressa como: Z Z ∂F1 ∂F2 ∂F3 F1 dydz + F2 dzdx + F3 dxdy = ( + + )dxdydz ∂y ∂z ∂S S ∂x então definimos em S, w = F1 dydz + F2 dzdx + F3 dxdy e calculemos d(w) d(w) = d(F1 dydz + F2 dzdx + F3 dxdy) = d(F1 )dydz + d(F2 )dzdx + d(F3 )dxdy ∂F1 ∂F1 ∂F1 ∂F2 ∂F2 ∂F2 = ( dx + dy + dz)dydz + ( dx + dy + dz)dzdx ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z ∂F3 ∂F3 ∂F3 + ( dx + dy + dz)dxdy ∂x ∂y ∂z ∂F1 ∂F2 ∂F3 = dxdydz + dydzdx + dzdxdy ∂x ∂y ∂z ∂F1 ∂F2 ∂F3 + + )dxdydz = ( ∂x ∂y ∂z aqui utilizamos o fato de que dxi ∧ dxj = −dxj ∧ dxi e dxi ∧ dxi = 0. Asssim basta aplicar o teorema ?? concluimos que Z Z Z F1 dydz + F2 dzdx + F3 dxdy = dw = w ∂S ∂S ZS ∂F1 ∂F2 ∂F3 = ( + + )dxdydz ∂y ∂z S ∂x Portanto segue o resultado. 42 Teorema 3.4.4 (Stokes) Seja M uma superfı́cie do R3 , seja η a normal unitária exterior a M . Dado um campo vetorial T em ∂M para o qual ds(T ) = 1 e um campo vetorial arbitrário em um aberto que contém M , se tem Z Z rotF · ηdA = F · T ds M ∂M Demonstração . Definimos w em M por w = F1 dx + F2 dy + F3 dz. Como as componentes de rotF são ∂F3 ∂F2 ∂F1 ∂F3 ∂F2 ∂F1 − , − , − ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y utilizando os mesmos passos na demonstração do teorema ??, deduz ser válida em M ∂F3 ∂F2 − )dy ∧ dz ∂y ∂z ∂F1 ∂F3 + ( − )dz ∧ dx ∂z ∂x ∂F2 ∂F1 + ( − )dx ∧ dy ∂x ∂y = dw rotF · ηdA = ( Por outro, uma vez que ds(T ) = 1, são válidas em ∂M T1 ds = dx T2 ds = dy T3 ds = dz então se verifica em ∂M que F · T ds = F1 T1 ds + F2 T2 ds + F3 T3 ds = F1 dx + F2 dy + F3 dz = w Logo aplicando o teorema ?? concluimos que Z Z rotF · ηdA = dw M M Z = w ∂M Z = F · T ds ∂M 43 Considerações Finais Esse trabalho apresentou o conceito de formas diferenciais, diferencial exterior e operador pull-back. Ficou claro que a sua aplicação facilita sobremaneira a interpretação e representação de certos fenômenos que são dificilmente compreendidos e representados usando-se a abordagem vetorial clássica. Apresentou de forma detalhada os teoremas integrais, através de demonstrações adaptadas de livros da análise vetorial, observando que o teorema de Stokes pode ser visto como uma versão em dimensão maior do teorema de Green. Enquanto o teorema de Green relaciona uma integral dupla sobre uma região plana com uma integral de linha ao redor de sua curva fronteira, o teorema de Stokes relaciona uma integral de superfı́cie sobre uma superfı́cie S com uma integral ao redor da fronteira de S. Finalmente apresentou-se uma aplicação do teorema de Stokes, para redemonstrar os teoremas clássicos de uma forma mais precisa e elegante. 44 Referências Bibliográficas [1] SPIVAK, Michael. Cálculo em Variedades. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2003 [2] LIMA, Elon Lages. 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