APLICAÇÃO DE MODELO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE
ANATOMIA VEGETAL
Cristiano Biscubi da Silva; Danusa Cézar Alves; Luma Mulinari Fernandes
Acadêmico de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal Farroupilha – Câmpus
Alegrete
Introdução
O ensino de Ciências, assim como outras disciplinas experimentais, possui um
amplo campo de trabalho, mas repleto de dificuldades e críticas.
Segundo Henning (1994), as principais causas apontadas pelas falhas do
Ensino de Ciências são: o deficiente preparo profissional do professor, a falta de
oportunidade e meios para o professor atualizar-se, e a deficiência das condições
materiais da maioria das escolas.
Além disso, há o aparente estado de passividade dos alunos, realidade escolar
que
é
apontada
como
um
dos
fatores
que
influem
negativamente
no
desenvolvimento de atividades práticas no Curso de Biologia no ensino médio
(Pereira, 2000). Por isso, a necessidade do professor buscar sua constante
atualização, evitando manter bibliografias e conceitos ultrapassados. Sendo a
educação um processo dinâmico, exige que as práticas educativas também se
modifiquem e se inovem.
Nesse sentido, idealizou-se o projeto “Práticas sobre aprendizagem de tecidos
em anatomia vegetal”, com o objetivo de oportunizar uma melhor compreensão dos
alunos, a partir dos conhecimentos estudados na disciplina de Anatomia Vegetal.
Através da utilização de um modelo didático de tecidos vegetais, buscou-se
perceber a eficácia (ou não) desse recurso na interação dos alunos com o professor
no processo ensino e aprendizagem, com uma participação abrangente e
motivadora.
As práticas sobre aprendizagem de tecidos em anatomia vegetal
Talvez um dos recursos que possa ser utilizado para se conseguir envolver os
alunos e tornar a aprendizagem mais significativa pode ser a elaboração de modelos
didáticos de Botânica, que auxiliem o professor na organização dos conhecimentos
relativos a esta temática de forma mais articulada, onde os alunos possam construir
seus saberes agregando teoria e prática. Justina et al. (apud ROCHA; DE MELLO;
BURITY, 2010, p. 30), ratifica a importância do uso de outros materiais didáticos na
atividade docente, no caso, o uso de modelos didáticos, pois segundo a autora:
o modelo é um sistema figurativo que reproduz de forma esquematizada e
concreta a realidade, o que torna mais compreensível ao aluno o objetivo do
ensino proposto ao representar uma estrutura que pode ser utilizada como
referência, ou seja, a materialização de uma imagem, ideia ou conceito,
tornando tudo isso assimilável. Esses modelos simbolizando um conjunto de
fatos, através de uma estrutura explicativa podem ser confrontados com a
realidade e servirem de apoio e estímulo ao ensino.
O modelo didático para o ensino de Anatomia Vegetal, mais especificamente
sobre tecidos vegetais, foi confeccionado com placas de isopor em formato circular,
do maior tamanho possível, onde cada uma apresenta, com evidência, um tipo de
tecido vegetal (tecidos condutores, de sustentação, de preenchimento). Os
diferentes
tecidos
foram
desenhados
nas
placas
em
formato
triangular
(desconsiderando-se a escala microscópica) e pintados em cores fantasia para
diferenciação dos demais. As placas foram fixadas umas às outras com alfinetes,
montando-se um bloco em formato de caule vegetal, com a parte exterior do caule
pintada na cor marrom (Figura 1).
Figura 01. Modelo Didático para o ensino de Anatomia Vegetal. Em evidência, a visão interna
(microscópica da casca) com as camadas de células mortas.
Fonte: Arquivo pessoal.
A aplicação do modelo didático de tecidos vegetais em sala de aula foi
realizada na Escola Estadual de Ensino Médio Emílio Zuñeda, no mês de dezembro
no ano de dois mil e doze. Escolheram-se duas turmas de Ensino Médio, uma do
primeiro e outra do terceiro ano, comum total de 47 alunos, onde apenas a segunda
possuía conhecimentos sobre o conteúdo de Botânica. Foram utilizados dois
períodos de 45 (quarenta e cinco) minutos em cada turma e os professores da
disciplina de Biologia estiveram presentes durante a aplicação do modelo didático. A
metodologia aplicada foi a mesma nas duas turmas, apenas com a diferença que na
turma do terceiro ano foi-lhes entregue uma avaliação, com imagens de tecidos
vegetais de livro atual (RAVEN, 2010), onde os alunos puderam relacionar as
imagens ao modelo didático, identificando o tecido correspondente.
Nas duas turmas, o trabalho iniciou-se com a verificação dos conhecimentos
prévios dos alunos sobre o assunto, questionando-se sobre o desenvolvimento das
angiospermas, desde a polinização até o crescimento. Foi postado no quadro um
esquema com todo o processo de crescimento da planta, desde o embrião até o
tamanho médio de uma árvore (Figura 02).
Figura 02. Esquema de crescimento de uma angiosperma, com os principais tecidos.
Fonte: Arquivo pessoal.
Num segundo momento, os alunos foram convidados a aproximarem-se do
modelo didático (em pequenos grupos), onde receberam explicação sobre o mesmo
e cada um retirou uma placa triangular do modelo e visualizaram as estruturas
presentes. Os alunos se reuniram em grupos, com o objetivo de desenhar no
caderno a placa escolhida e anotar em que região da planta se encontra aquele
tecido (central, mediana, externa), qual a forma e a cor artificial das células. Após a
realização dos desenhos, alguns pediram ajuda para fazer a identificação, utilizando
as anotações que estavam no quadro negro e em seus cadernos. Notaram
estruturas diferentes nas partes do modelo didático e, com auxílio, conseguiram
identificar a estrutura esclereíde.
A avaliação foi realizada de forma oral, onde o modelo didático foi colocado em
corte transversal (separando-se as peças unidas por alfinete), para que os alunos
visualizassem as seções do caule, questionando-lhes qual tecido apresentava-se
naquela posição, qual sua função e quais permaneciam na raiz e nos ramos da
planta. A maioria dos alunos respondeu as perguntas, sendo depois distribuída a
eles uma ficha de avaliação do projeto para ser analisada se a utilização do modelo
didático auxiliou (ou não) na aprendizagem dos alunos.
Figura 03. Avaliação do projeto.
Considerações finais
Durante a aplicação do projeto, verificou-se que a maioria dos alunos prestou
atenção nas explicações, sem conversas, talvez pela interação com o modelo
didático.
Observou-se, também, que os alunos conseguem fazer associações através
das perguntas realizadas com o esquema desenhado no quadro. As diferenças entre
os desenhos das placas estimularam o raciocínio dos alunos, onde os mesmos
puderam perceber que existem diferentes tecidos em uma planta e que esses
possuem diferentes funções, ao contrário do concebido com a tradicional figura da
célula vegetal genérica. Na turma do primeiro ano, conforme mencionado, os alunos
identificaram com facilidade apenas as estruturas principais, tendo dificuldade de
identificar células de preenchimento e algumas estruturas como a esclereíde, talvez
devido a turma ainda não ter trabalhado esse assunto.
Outro ponto positivo, foi a realização do trabalho em duplas na turma do
terceiro ano, onde as mesmas puderam discutir entre si as possíveis respostas, com
ajuda mútua. A maioria dos alunos precisou de ajuda dos acadêmicos para realizar a
avaliação, com pelo menos um questionamento sobre o tema, conseguindo
posteriormente realizá-la. Apenas uma dupla teve maior dificuldade precisando de
várias intervenções dos acadêmicos.
A avaliação positiva por parte dos alunos em relação ao projeto desenvolvido
denota a relevância da aplicação de novas metodologias, o que pode ser ratificado a
partir de um comentário de um aluno do primeiro ano com um colega: “Todas as
aulas deveriam ser desta forma”. Ouvir um comentário desta natureza motiva o
professor a diversificar sua prática, sendo ainda uma recompensa para os
professores que inovam em sala de aula.
A utilização do modelo didático no meio educacional torna-se importante por
facilitar a comunicação entre o professor e o aluno na construção do conhecimento,
com uma participação abrangente e motivadora, resultando numa melhor
compreensão do conteúdo a ser trabalhado.
Referências
HENNING, Georg J. Metodologia do Ensino de Ciências. 2 ed. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1994.
PEREIRA, M. G. Uma experiência em Instrumentação para o Ensino de Biologia
levada a efeito no Departamento de Metodologia da Educação (DME) da
Universidade Federal da Paraíba. In: Coletânea do 7º Encontro Perspectivas do
Ensino de Biologia. São Paulo, 2 a 4 fev. 2000.
RAVEN, Peter; EVERT, Ray; EICHHORN, Susan. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010.
ROCHA, Allan Ribeiro; DE MELLO, Wildon Novais; BURITY, Carlos Henrique de
Freitas. A utilização de modelos didáticos no ensino médio: uma abordagem em
artrópodes. Saúde & Ambiente em Revista. v. 5, n.1, p.15-20, Duque de Caxias,
2010.
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