Da folha à obtenção de embriões somáticos de Coffea Julieta Figura 1. Explante foliar de Coffea em meio de cultura. A Fisiologia e a Genética Vegetal contribuem amplamente com a Biotecnologia Vegetal, ambas embasadas em princípios do Desenvolvimento Vegetal que se refere às mudanças ocorridas ao longo do ciclo de vida das plantas, envolvendo os eventos de divisão, expansão e diferenciação celular. Dentre os diferentes métodos aplicados pela Biotecnologia Vegetal está a Cultura de Tecidos Vegetais a qual é amplamente utilizado para a multiplicação de plantas. No Instituto Agronômico (IAC), o programa de melhoramento de Coffea conta com contribuições da Cultura de Tecido desde 1970, as quais, notoriamente, devem-se aos estudos e ao dinamismo do pesquisador Dr. Maro Sondhal. Nesse A Cultura de Tecidos ou o cultivo in vitro visa à obtenção de uma nova planta a partir de fragmentos de tecido, operação que também é chamada de clonagem. O Agronômico, Campinas, 59(1), 2007 As civilizações vêm realizando atividades de Biotecnologia desde aproximadamente 1.800 AC, as quais consistem da obtenção de processos e produtos oriundos da ação direta ou indireta de seres vivos. A Biotecnologia compreende tecnologias antigas e modernas, provenientes de conhecimento do cotidiano indígena e ou da comunidade científica visando à manipulação de (partes de) microrganismos ou de células e tecidos de organismos, para benefíciar o homem. Esses conhecimentos podem ser bastante diversificados desde a tradicional tecnologia da fermentação para a produção de pães até as mais específicas e modernas como a produção de transgênicos. período, ele estabeleceu um centro didático de pesquisa em cultura de tecido de Coffea, o qual vem contribuindo com a formação e treinamento de pesquisadores tanto brasileiros, quanto de outras nacionalidades. Ressalta-se ainda que, dentre as inúmeras contribuições do Dr. Sondhal, está o estabelecimento de um protocolo de regeneração in vitro de embriões de Coffea a partir de explante foliar, em meados de 1970. Esse protocolo é utilizado amplamente para a multiplicação das diferentes variedades de Coffea, em diversas partes do mundo, o qual também tem sido adaptado para outras espécies de plantas. A Cultura de Tecidos ou o cultivo in vitro visa à obtenção de uma nova planta a partir de fragmentos de tecido, operação que também é chamada de clonagem. O princípio básico deste processo é o isolamento de qualquer parte da planta, a qual é chamada explante, podendo ser desde uma célula individual até órgãos como anteras, nucelo, gemas axilares e ou apicais, fragmentos de hipocótilo, caule, folhas, raízes, órgãos de armazenamento e até segmentos de frutos. O explante será cultivado sobre um substrato gelatinoso contendo nutrientes, denomindo meio de cultura, e mantido num frasco fechado de vidro (Figura 1). Nesse sistema, o explante poderá apresentar a regeneração de uma planta semelhante à planta mãe doadora do explante. O tempo de formação da nova planta dependerá da espécie, porém, em geral, este será menor que o seu ciclo de vida na natureza. Nota-se ainda que um único explante de Coffea poderá gerar até dezenas de embriões. Desta forma, a regeneração de uma nova planta a partir de qualquer tipo de explante deve-se à capacidade de totipotência, isto é, qualquer célula vegetal contém toda a informação genética necessária para gerar uma nova planta. Na natureza, o café é propagado via sementes ou estacas. Quando por sementes, pode ser influenciada pela variação genética, taxa lenta de multiplicação e curto período de viabilidade devido à recalcitrância das sementes. Por outro lado, a propagação do cafeeiro via estaca garante uniformidade genética, porém este método apresenta taxas baixas de multiplicação e também alguma dificuldade para o enraizamento. Portanto, multiplicação via Cultura de Tecido é uma alternativa viável para estes métodos tradicionais de propagação do cafeeiro, permitindo a produção de plantas geneticamente uniformes numa escala massiva e num período de tempo mais curto. 63 Dessa forma, o processo de Cultura de Tecidos apresenta-se muito útil para programas de melhoramento genético, auxiliando na multiplicação de genótipos especiais, contribuindo, portanto, com a geração de novas variedades. O programa de melhoramento do cafeeiro no IAC iniciou-se a partir de 1933 e vem contribuindo com a produção de variedades as quais vem sendo cultivadas na maioria das regiões brasileiras produtoras de café. A multiplicação de plantas via Cultura de Tecido Vegetal pode ser obtida por meio de diferentes processos, dentre estes a organogênese de gemas axilar e apical, a indução e o desenvolvimento de gemas adventícias, a cultura de embrião zigótico; a cultura de pólen e de antera, a suspensão celular, a cultura de protoplasto e a embriogênese somática. Na natureza, a maioria das espécies reproduz-se via embriogênese zigótica que se inicia na divisão assimétrica do zigoto, dando origem a uma célula apical e a outra basal, o embrião globular, o qual posteriormente passará para o estádio cotiledonar, com a iniciação do primórdio radicular, seguido pelo caule, no caso de dicotiledôneas. Estabelecendo-se uma comparação entre a embriogênese somática e a zigótica verifica-se para a primeira que, após a diferenciação do embrião, este não apresenta qualquer ligação com o explante mãe, isto é, uma vez formado, esse dependerá dos nutrientes do meio de cultura enquanto a sobrevivência do embrião zigótico dependerá da planta mãe. Dessa forma, a embriogênese somática é o processo no qual células somáticas do explante diferenciam-se em embriões somáticos, os quais são estruturas bipolares, que passam por diferentes estádios de desenvolvimento semelhantes àqueles verificados para a embriogênese zigótica. A embriogênese somática pode ocorrer por via direta, ou protoplastos isolados, micrósporos ou ainda indiretamente a partir de calos ou suspensão celular. Na via direta, determinadas células do explante já são pré-embriogênicas, tendo-se assim a formação de embriões diretamente na borda do explante. Por outro lado, na embriogênese somática indireta, inicialmente, há a formação de um calo (Figura 2), o qual corresponde a uma massa de células indiferenciadas, e que posteriormente se diferenciarão em embriões somáticos. A ocorrência da embriogênese somática direta em Coffea, em geral, está associada ao tipo de genótipo, isto é, nem todos os genótipos possuem essa capacidade. Por outro lado, a via indireta é amplamente verificada para a maioria dos genótipos de Coffea. 64 Figura 2. Calo formado a partir de explante foliar de Coffea A embriogênese somática pode ocorrer por via direta, ou protoplastos isolados, micrósporos ou ainda indiretamente a partir de calos ou suspensão celular. Na via direta, determinadas células do explante já são pré-embriogênicas, tendo-se assim a formação de embriões diretamente na borda do explante. Por outro lado, na embriogênese somática indireta, inicialmente, há a formação de um calo (Figura 2), o qual corresponde a uma massa de células indiferenciadas, e que posteriormente se diferenciarão em embriões somáticos. De acordo com o protocolo do Dr. Sondhal, na via indireta, a auxina 2,4-D (ácido 2,4 diclorofenoxiacético), usada em alta concentração, participa fortemente do controle da indução e da iniciação do calo a partir do explante foliar. As células do explante foliar expostas ao meio de cultura com adição de 2,4-D passarão por situação de estresse e, em resposta, estas apresentarão alterações metabólicas, que induzirão a intensa divisão celular, levando à formação do calo. Posteriormente, haverá a diferenciação de embriões a partir de alguns nichos de células do calo. Mas, a ocorrência da embriogênese somática a partir de explante foliar de Coffea pode ser influenciada por diversos fatores como: o estádio de desenvolvimento da planta mãe doadora de explante, as condições do meio de cultura, o tipo de hormônio vegetal e as condições de iluminação e temperatura em que o sistema in vitro será mantido. Assim, a embriogênese somática constitui-se em base para o sistema in viro de multiplicação vegetativa e pode ser utilizada para propagação em massa, para programa de melhoramento de plantas e ainda como modelo de estudo para diferenciação celular em plantas e biologia molecular visando a obtenção de plantas transformadas. Julieta Andrea Silva de Almeida Centro de Café “Alcides Carvalho” ( (19) 3241-5188 ramal * [email protected] O Agronômico, Campinas, 59(1), 2007