DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Revista
Revista IPD-Farma • Ano IV • Edição 9 / 2013
Setor produtivo participa de
diálogo sobre os rumos do
Complexo Industrial da Saúde
Edição Especial
7
Experiência americana
pode ser referência
para o desenvolvimento
da biotecnologia no País
pág.
pág. 06
06
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
Editorial
Índice
Foto: Divulgação/IPD-Farma
04
POLÍTICA INDUSTRIAL
Formação de parcerias entre a cadeia produtiva, ampliação
dos investimentos e definição de tecnologias prioritárias
para o desenvolvimento tecnológico são os desafios
do CIS para os próximos anos
06
BIOTECNOLOGIA
Experiência do terceiro maior cluster de biotecnologia
dos Estados Unidos pode ser referência para o
desenvolvimento do setor no Brasil
PREMIAÇÃO RECONHECIMENTO TÉCNICO
08
Prêmio contempla seis trabalhos relacionados à inovação
tecnológica na indústria de fármacos e medicamentos
produzidos por pesquisadores e estudantes
13
FITOTERÁPICOS
Apesar dos avanços alcançados pelo segmento, indústria
sofre com alto padrão regulatório de novos produtos e
baixa fiscalização do mercado
14
BIODIVERSIDADE
Setor produtivo aguarda aprovação das mudanças na
Medida Provisória 2.186-16, de 2001, que poderá conferir
segurança jurídica às atividades de P,D&I feitas a partir
da fauna e da flora brasileiras
Expediente
Revista IPD-Farma • Ano IV • Edição 9
Diretor Geral: Roberto Nicolsky
.
Coordenadora: Mariana Sandroni
Acesse: www.ipd-farma.org.br
Gerente de Marketing e Eventos:
Alexandre Nicolsky
.
Tiragem: 2.500 exemplares
.
Edição: Contextual Comunicação
Reportagem: Jessica Gama - MTB 34995 RJ
Coordenação: Mariana Sandroni
Webmaster: Ukla Fernandes
.
Diretor de Arte: Ricardo Meirelles
.
Assistente de Arte: Jessica Gama
.
Comunicação: Jessica Gama
.
Diagramação: Jessica Gama
Estagiária: Raphaela Nogared
A Revista IPD-Farma é uma publicação da
Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica
Uma nova fase na política industrial
Esta edição da revista IPD-Farma tem
como tema central os debates ocorridos na
sétima edição do Encontro Nacional de
Inovação em Fármacos e Medicamentos
(ENIFarMed), nos dias 20 e 21 de agosto. Com
o tema “Rumos e desafios para a década”, o
encontro reuniu soluções para o Complexo
Industrial da Saúde (CIS), com foco no setor de
fármacos e medicamentos.
Para a nona edição da revista, selecionamos temas-chave para o desenvolvimento
tecnológico da cadeia produtiva da saúde. A
reportagem sobre a plenária “Definição dos
rumos da saúde” apresenta o redirecionamento das políticas públicas, como a segunda
geração de Parcerias para o Desenvolvimento
Produtivo (PDPs) e o projeto que vai identificar
as tecnologias relevantes para a competitividade do País nos próximos anos.
Já a matéria sobre formação de recursos
humanos em biotecnologia apresenta os
fatores que levam à escassez de profissionais
qualificados para atuar na área. Em contrapartida, a experiência do North Carolina Biotec
Center, o terceiro maior cluster de biotecnologia dos Estados Unidos, mostra como parte
desses obstáculos podem ser superados.
A revista traz ainda perspectivas sobre
mudanças na Medida Provisória 2.186-16, que
regula a inovação com materiais da biodiversidade brasileira. Ainda, a reportagem sobre o
segmento de fitoterápicos mostra que o setor
tem novos desafios para superar.
Além disso, com o objetivo de aproximar a
academia do setor produtivo, a edição traz o
resumo dos seis trabalhos vencedores da
Premiação Reconhecimento Técnico, que
apresentam soluções inovadoras em diversos
segmentos da saúde.
Boa leitura.
Roberto Nicolsky,
Diretor Geral do IPD-Farma
3
“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”
política industrial
Foto: Divulgação/IPD-Farma
Desafios da
Desafios
dasaúde
saúde
para aadécada
para
década
Formar parcerias entre a cadeia produtiva, ampliar investimentos
e assumir o risco da inovação são os obstáculos que o
Complexo Industrial da Saúde precisa superar
A
pesar dos bons resultados obtidos
até agora com as Parcerias para o
Desenvolvimento Produtivo (PDPs)
na saúde, ainda há muito por fazer para
que a indústria local alcance um nível de
competitividade suficiente para reduzir o
déficit comercial do setor. Para isto, o
Governo está desenvolvendo novas
ações, em conjunto com o setor produtivo, como foi mostrado na sétima edição
do Encontro Nacional de Inovação em
Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed),
durante a plenária “Definição dos rumos
da saúde”. Entre as iniciativas, estão um
novo impulso às PDPs e um projeto que
define seis agendas estratégicas na área
4
da saúde para serem alvos de investimentos públicos com vistas ao desenvolvimento tecnológico.
O Ministério da Saúde (MS) prevê
investimentos de R$ 1 bilhão até 2015
para promover as PDPs, em especial no
que é considerada a segunda geração de
parcerias, voltadas para a biotecnologia.
“O MS triplicou os investimentos em
incorporação tecnológica nos últimos dois
anos em relação à média anual. Queremos
priorizar o que é estratégico para o
Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou o
secretário de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos do Ministério da
Saúde (SCTIE/MS), Carlos Gadelha.
Segundo ele, o desenvolvimento de
novas tecnologias pela indústria da saúde
colocou a área em uma posição prioritária
na política econômica e industrial do País,
contribuindo ainda para o desenvolvimento social.
A margem de preferência de até 25%
para produtos desenvolvidos no Brasil e a
nova lei de compras (Lei 12.715) – que
possibilita a encomenda tecnológica via
dispensa de licitação – reforçam a
importância do uso do poder de compras
do Governo, que hoje tem um gasto médio
anual de R$ 7,8 bilhões na área da
saúde. “É o que os EUA fazem na área de
defesa, dispensando a licitação. Essas
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
Política industrial
Se não
conseguirmos
desenvolver a face
produtiva e inovadora
da saúde, não adianta
ter 35% da produção
científica brasileira
concentrada na área,
pois ela não será
transformada em
produto, nem irá se
refletir em maior
acesso pela
população
parcerias entre institutos de ciência e
tecnologia, start ups e empresas líderes se
mostram como ferramentas fundamentais
para alcançar o domínio de novas tecnologias e chegar a um alto nível de capacitação para desenvolver inovações radicais.
Para o presidente da EMS, Carlos
Sanchez, a indústria passou por várias
fases e agora deve investir na inovação
incremental para, depois, conseguir fazer
inovação radical. Além disso, o País
precisa ter instituições de pesquisa fortes
e se abrir mais para o estudo clínico,
especialmente o de fase 3, que é menor
que na Argentina. “Estamos indo na
direção certa, mas é preciso dar um passo
mais largo. Não é falta de dinheiro, é
preciso se adequar a modelos internacionais”, afirmou.
Segundo o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), Jorge Bermudez, o
diálogo entre Governo e setor privado tem
resultado no desenvolvimento de produtos
estratégicos e em plataformas que
capacitam o País a produzir equipamentos
e medicamentos.
“Na área da saúde, o Governo tem
buscado um equilíbrio entre o acesso aos
medicamentos e os direitos de propriedade
intelectual. Então, precisamos equilibrar o
acesso a produtos novos com a necessidade de investimento, para fomentar a
inovação de produtos estratégicos para o
Sistema Único de Saúde”, defendeu.
Carlos Gadelha,
Ministério da Saúde/SCTIE
Setor produtivo
A indústria tem visto as ações
governamentais como iniciativas
p o s i t i v a s p a r a a l av a n c a r o
desenvolvimento da área, mas
ainda percebe a necessidade de
se ampliar os investimentos e
integrar a cadeia produtiva.
Assumir o risco de inovar e formar
Foto: Divulgação/IPD-Farma
Outras ações também vêm ganhando
destaque, buscando elevar a competitividade da indústria da saúde nacional, que
hoje ocupa o sexto lugar no ranking
mundial do mercado farmacêutico. Uma
das iniciativas é o projeto do MS, com
apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), para mapear
as tecnologias existentes no País que
sejam viáveis do ponto de vista científico,
tenham viabilidade comercial e potencial
de difusão tecnológica num horizonte de
15 a 20 anos.
Segundo a diretora da ABDI, Maria
Luisa Leal, a partir da identificação das
tecnologias, o projeto irá avaliar se o País
tem estrutura produtiva capaz de desenvolvê-las. “Quando existe estrutura e
competência, costumamos dizer que
essas tecnologias, além de relevantes, são
prioritárias”, disse.
Em fase inicial, o projeto já definiu
seis agendas estratégicas que serão
trabalhadas na área da saúde: órteses e
próteses, biofármacos com foco em
monoclonais, nanotecnologias, equipamentos para diagnóstico de imagem in
vitro no local, medicina regenerativa,
terapia celular higiênica e telemedicina.
“As áreas que não tiverem competências tecnológicas ou não tiverem estrutura produtiva para apreender essa
agenda, serão consideradas críticas e o
Governo terá que fazer um esforço para
atrair investimentos, joint ventures
tecnológicos ou, até, chegar à conclusão
de que será preciso importar alguns
produtos”, explicou.
De acordo com Maria Luisa, as áreas
foram definidas com foco nas que mais
têm impacto no déficit comercial. Ainda
para fortalecer as indústrias, reduzir a
importação e promover a capacitação dos
setores, a agência prevê um esforço com
relação aos financiamentos.
política industrial
encomendas são feitas dentro de toda a
legalidade e transparência possível”,
defendeu o secretário.
Primordial para o avanço do setor, o
domínio de novas tecnologias e processos
de fabricação é apontado por unanimidade entre o setor produtivo como o único
caminho para que o País alcance a
capacidade de desenvolvimento de
inovações nacionais. “Se não conseguirmos desenvolver a face produtiva e
inovadora da saúde, não adianta ter 35%
da produção científica brasileira concentrada na área, pois ela não será transformada em produto, nem irá se refletir em
maior acesso pela população. É preciso ter
bases fortes para conseguir avançar em
novas tecnologias”, declarou Gadelha.
A prioridade do domínio tecnológico
reflete as diretrizes do Plano Nacional de
Saúde, criado em 2011. O documento
tem entre suas cinco prioridades a
ciência, a tecnologia e a inovação, através
de uma articulação setorial que envolve
14 entidades representativas. “Regulação, compra, política tecnológica e financiamento são as principais áreas de
acesso à produção e inovação em saúde,
e também as que mais articulam as
instituições”, explicou.
Desde a criação do modelo de PDPs
até agosto de 2013, foram formalizadas
88 parcerias para fabricação de 64
medicamentos, sete vacinas e quatro
artigos para saúde. Desses, 14 produtos já
possuem registro e há previsão de que o
número suba para 20 até o fim do ano.
5
“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”
Para não perder o
bonde da biotecnologia
Foto: Divulgação/IPD-Farma
biotecnologia
Diretor do North Carolina Biotec Center mostra experiências
bem-sucedidas, que podem ajudar o Brasil a pensar soluções
para os problemas como a escassez de profissionais qualificados
A
expiração de patentes de biofármacos consumidos no Brasil
equivale a um mercado de US$ 45
bilhões, uma oportunidade que o País
pode perder caso não consiga se capacitar
para acompanhar a evolução tecnológica e
competir no mercado global. Para que
agentes da indústria, da academia e do
Governo estudassem alternativas para a
área, a plenária internacional da sétima
edição do Encontro Nacional de Inovação
em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed) mostrou a experiência do terceiro
maior cluster de biotecnologia dos Estados
Unidos, o North Carolina Biotec Center.
Fundado há 30 anos por uma iniciativa governamental, o Centro abriga cerca
de 600 empresas que geram aproximadamente US$ 2 bilhões por ano. De acordo
com o diretor do Programa de Desenvolvimento Industrial de Biotecnologia do
centro, Mark Lombard, o sucesso não foi
6
repentino. A cultura empresarial no estado
levou 50 anos para se transformar em
uma economia orientada para a ciência,
tecnologia e inovação. “A indústria de
tecnologia criou riquezas para a Carolina
do Norte, que antes tinha a economia
baseada na agricultura”, disse.
Para atingir esse nível de maturidade,
Lombard explicou que o North Carolina
Biotec Center se fundamentou em uma
liderança política favorável à valorização
da educação, ao desenvolvimento da força
de trabalho e à articulação entre os
agentes envolvidos. O Centro oferece
bolsas de pesquisa para capacitar e
promover o conhecimento científico na
região, além de realizar empréstimos para
a estruturação de laboratórios.
Articulação institucional
Apesar da oferta significativa de
recursos, o diretor acredita que o cresci-
mento do North Carolina Biotec Center se
deve à articulação promovida entre
escolas técnicas, universidades e empresas. “Não é só dinheiro. São as conexões, os contatos e a articulação entre as
empresas que fazem a nossa experiência
dar certo”, afirmou.
Como outros pontos fundamentais
para o sucesso, Lombard considera a
prática da inovação aberta e a aposta no
capital de risco como alavancadores do
setor de biotecnologia. Neste sentido, o
North Carolina Biotec Center incentiva a
formação de parcerias e fusões entre
pequenas e grandes empresas. Além disso,
o Centro apoia a criação de empresas e já
emprestou cerca de US$ 22 milhões para
145 companhias. “Ajudamos essas
empresas a chegar onde estão, muitas
vezes por capital colaborativo, antes
mesmo de serem fundadas”, explicou.
Porém, Lombard apontou que o
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
A primeira barreira que tem impedido
o avanço da biotecnologia para a saúde no
Brasil é a escassez de profissionais qualificados para atuarem na pesquisa clínica.
Além disso, há a necessidade de formação
de recursos humanos para a produção de
biológicos, que é totalmente distinta dos
produtos de origem química.
Criada há poucos anos no Brasil, a
formação na área de biotecnologia engloba
desde a biologia geral, molecular e celular,
até a tecnologia da informação, robótica,
O bom profissional
não deve apenas ter
uma boa formação
acadêmica. Precisa
colocar a mão na
massa, viver a
rotina da indústria
e pesquisar
João Massud,
SBMF
biodireito e estatística. E é justamente em torno do caráter multidisciplinar necessário à formação dos
novos profissionais que está o problema, já que cada instituição de ensino
adota um direcionamento diferente.
De acordo com o presidente da
Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica (SBMF), João Massud Filho, falta
um referencial para estabelecer o
conteúdo programático e avaliar a quali-
Não é só
dinheiro. São as
conexões, os
contatos e a
articulação entre
as empresas que
fazem a nossa
experiência
dar certo
Mark Lombard,
North Carolina Biotec Center
dade dos cursos de graduação e
especialização na área. “Não
adianta apenas oferecer um grande
laboratório, com uma boa infraestrutura. É preciso preparar o
pesquisador para desenvolver
pesquisas, com base em conhecimento científico”, defendeu.
Perspectiva da indústria
Com as políticas públicas e os
incentivos de fomento à inovação voltados
para a produção de alta tecnologia no
País, a demanda por profissionais qualificados deve aumentar significativamente nos próximos anos. Apesar dessa
projeção, a interação com a indústria tem
sido deixada de lado pela academia.
Para o coordenador clínico do Instituto
Butantan, Ricardo Palacios, a falta de
articulação entre as atividades acadêmicas - como a não inserção de médicos nos
estudos clínicos - prejudica a formação
profissional e se reflete na burocratização
da pesquisa. A falta de uma agenda
comum entre Governo, indústria e universidade também se constitui em barreira
à biotecnologia. “É preciso treinar todos os
envolvidos na cadeia produtiva para não
criar restrições à criatividade no desenvolvimento clínico”, declarou.
Em busca da superação das dificuldades, Massud acredita que é preciso
desburocratizar toda a cadeia da pesquisa
acadêmica e clínica, além de criar uma
referência de qualidade para as instituições de ensino. Ele destaca ainda a
importância de trazer profissionais qualificados para trabalharem no Brasil e
trocarem experiências com pesquisadores
brasileiros, em vez de somente enviar
estudantes para o exterior. “O bom profissional não deve apenas ter uma boa
formação acadêmica. Precisa colocar a
mão na massa, viver a rotina da indústria e
pesquisar”, opinou.
Foto: Divulgação/IPD-Farma
7
biotecnologia
Apagão profissional
Foto: Divulgação/IPD-Farma
Centro também encontra desafios, como
tantas outras instituições de pesquisa,
inclusive as do Brasil. Segundo ele, o
acesso ao capital de risco é a maior
dificuldade para se manter o ecossistema
e, para isso, a formação e retenção de
talentos são requisitos primordiais.
“Trabalhamos com pessoas saindo das
faculdades e com profissionais já empregados, para que possam se desenvolver
continuamente”, completou.
Na visão de Bruno Moreira, sóciodiretor da Inventta, a experiência do North
Carolina pode ajudar o Brasil no desenvolvimento da biotecnologia por meio do
modelo de inovação aberta e da superação de fatores como a falta de liderança
política e de colaboração entre os agentes.
“O Brasil precisa saber onde quer ser forte.
Sem uma estratégia clara e objetivos
definidos se gastará energia sem retorno.
É preciso trabalhar com elementos que
promovam esse desenvolvimento”, opinou.
“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”
premiação
7º ENIFarMed aproxima
indústria e academia
A
sétima edição do Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed) realizou, pelo terceiro ano consecutivo,
a Premiação Reconhecimento Técnico, nos dias 20 e
21 de agosto, em São Paulo. O prêmio contemplou
seis dos 15 trabalhos produzidos por pesquisadores e
estudantes exibidos na Sessão de Pôsteres do evento,
um ambiente exclusivamente destinado à exibição
das pesquisas selecionadas pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em Fármacos e Produtos Farmacêuticos (IPD-Farma).
Os premiados receberam certificação do Prêmio
e foram contemplados com uma apresentação oral
para os participantes do evento. Esse momento único
reuniu representantes de empresas, universidades,
8
centros de pesquisa e órgãos de governo, que
puderam conhecer as propostas promissoras dos
pesquisadores vencedores.
Os trabalhos selecionados incluíram tanto
pesquisas “de bancada” como de gestão, e estão
diretamente relacionados à inovação tecnológica na
indústria de fármacos e medicamentos. A escolha foi
realizada pelo Comitê Científico-Tecnológico do
evento e teve como objetivo promover o intercâmbio
de conhecimentos e estimular a formação de
parcerias para o desenvolvimento de novas
tecnologias com foco no mercado e relevância social.
Os trabalhos vencedores da Premiação podem ser
visualizados na íntegra no site do IPD-Farma.
Conheça os trabalhos e autores premiados a seguir.
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
Fotos: Divulgação/IPD-Farma
Síntese do sunitinibe
Autores: Angelo C. Pinto e Bárbara V. Silva
Prêmio
RT
O sunitinibe pertence à classe dos oxindóis e atua inibindo as proteínas tirosina quinase. Em
janeiro de 2006, o FDA aprovou o malato de sunitinibe (Sutent®) da Pfizer para o tratamento de L
U G A R
carcinoma de células renais e de tumores do estroma gastrointestinal. Em 2011, também foi aprovado
para o tratamento de câncer pancreático raro. O sunitinibe é um medicamento de alto custo. Uma caixa
com 28 comprimidos, contendo 50 mg do princípio ativo, pode custar até R$ 18 mil. Embora esteja
registrado perante a Anvisa, não está padronizado em nenhum protocolo do SUS. Por este motivo, é alvo
constante de ações judiciais.
Este trabalho teve como objetivo a preparação do sunitinibe, empregando rota sintética eficiente e de baixo custo. O
primeiro passo foi a preparação do núcleo pirrol do sunitinibe, ou seja, o 2-terc-butil-4-etil-3,5-dimetil-1H-pirrol-2,4dicarboxilato, reagindo o acetatoacetato de terc-butila com nitrito de sódio em ácido acético, e em seguida, com hidrogênio 50 psi, Pd/C 10 % e acetoacetado de etila, formando o produto em 79 % de rendimento.
O 2-terc-butil-4-etil-3,5-dimetil-1H-pirrol-2,4-dicarboxilato foi o material de partida para a preparação do etil-5-formil2,4-dimetil-1H-pirrol-3-carboxilato em 82 % de rendimento, empregando TFA e TOF. A
hidrólise do grupo éster do etil-5-formil-2,4-dimetil-1H-pirrol-3-carboxilato foi efetuada na
presença de LiOH ou de KOH, levando ao ácido 5-formil-2,4-dimetil-1H-pirrol-3-carboxilíco
em 87 % ou 92 % de rendimento, respectivamente.
O passo seguinte foi a obtenção da N-(2-(dietilamino)etil)-5-formil-2,4-dimetil-1H-pirrol3-carboxamida a partir do ácido 5-formil-2,4-dimetil-1H-pirrol-3-carboxilíco em 92 % de
rendimento. Para a ativação da carbonila foi usado o sistema HOBt/EDC e, após a ativação,
foi feito o acoplamento com o N, N-dietiletano-1,2-diamino. Em paralelo com a obtenção da
N-(2-(dietilamino)etil)-5-formil-2,4-dimetil-1H-pirrol-3-carboxamida, foi realizada a preparação do 5-fluoro-2-oxindol, utilizando o método de Wolff-Kishner, que consistiu no tratamento
da 5-fluoro-isatina com hidrazina hidratada, gerando a respectiva hidrazona, que por sua vez
reagiu com KOH em etilenoglicol fornecendo o oxindol em 67 % de rendimento.
A última etapa foi a condensação do 5-fluoro-2-oxindol e a N-(2-(dietilamino)etil)-5Bárbara Vasconcellos
formil-2,4-dimetil-1H-pirrol-3-carboxamida para a obtenção do sunitinibe. A reação passouse na presença das bases pirrolidina ou KOH, gerando o sunitinibe em 93 % de rendimento.
Nesta rota sintética, foram feitas substituições de reagentes e modificações das condições de algumas reações, de
modo que os intermediários e produto final foram obtidos em rendimentos iguais ou superiores ao descrito na patente e
na literatura científica. O rendimento global da reação descrito na patente, considerando apenas as etapas de preparação
do 2-terc-butil-4-etil-3,5-dimetil-1H-pirrol-2,4-dicarboxilato até o sunitinibe, foi de 49,3 %1, enquanto, neste trabalho, o
rendimento global foi de 51,6 %.
premiação
1º
Foto: Divulgação/IPD-Farma
9
“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”
Prêmio
RT
L
Entraves regulatórios na estruturação da cadeia
produtiva de biofármacos no Brasil
Autores: Suellen de Carvalho Mendoça; Vinícius Loureiro Casciano
2º
U G A R
Síntese total do cloridrato de fluoxetina
Autores: Adriano S. Vieira; Eliezer J. Barreiro; Luiz C. Dias
Prêmio
RT
A fluoxetina é um medicamento antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação da
serotonina. Suas principais indicações são para uso em depressão moderada a grave, transtorno L U
G A R
obsessivo-compulsivo (TOC) e bulimia nervosa. É comercializada e utilizada como mistura racêmica na
forma de cloridrato de fluoxetina, podendo ser administrado em cápsulas ou em solução oral.
A patente do medicamento expirou em agosto de 2001, abrindo caminho para produção de
genéricos. Atualmente é comercializado no Brasil por vários laboratórios como medicamento genérico. A
fluoxetina integra a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e é disponibilizada pelo Programa
Farmácia Popular. Considerado o medicamento controlado com mais alta demanda na rede pública de saúde, a maior
parte da fluoxetina consumida no Brasil é importada de mercados distantes como China e Índia.
A pesquisa em questão reduziu etapas da rota de síntese total do cloridrato de fluoxetina,
tornando-a mais eficiente quando comparada à rota original descrita na patente da Eli Lilly. O
objetivo inicial era reproduzir as condições reacionais e rendimentos descritos na literatura de
patentes para a obtenção do cloridrato de fluoxetina ao mesmo tempo em que objetivamos,
subsequentemente, introduzir inovações importantes ao processo, tais como a racionalização do uso de solventes, visando a remoção ou substituição de solventes tóxicos e potencialmente inflamáveis derivados do petróleo por solventes provenientes de fontes renováveis.
Por fim, o cloridrato de fluoxetina foi obtido em apenas quatro etapas a partir da
acetofenona com um rendimento global de 51,5 % após recristalização de acetonitrila a, ao
passo que o processo da Eli Lilly emprega seis etapas com um rendimento global de 33%. A
rota de síntese original da Eli Lilly emprega reagentes de custo elevado e de maior toxicidade,
gerando portanto maior impacto ambiental. Cabe aqui ressaltar que as inovações produzidas, bem como a nova rota sintética desenvolvida, tem grande potencial para a implementaAdriano Siqueira Vieira
ção em escala de produção industrial.
premiação
3º
Foto: Divulgação/IPD-Farma
10
Foto: Divulgação/IPD-Farma
Com o advento da biotecnologia moderna, o crescente desenvolvimento de biofármacos
permitiu encontrar novas opções de tratamento para algumas das doenças mais complexas e de
grande incidência na população mundial, como a esclerose múltipla, doença de Alzheimer, entre
muitas outras.
Uma vez que os biofármacos chegam ao mercado a um custo muito alto, e hoje comprometem 43% do
orçamento do Ministério da Saúde, a internalização da produção apresenta-se como fundamental para a política de
saúde brasileira, pois ajudaria a reduzir os excessivos gastos com tais produtos e, por conseguinte, ampliaria o poder de
compra governamental para atender às demandas do SUS, facilitando o acesso da população a esses produtos.
A atual e intensa discussão encontra-se em torno dos conceitos de biossimilaridade e
intercambialidade dos biomedicamentos, questões que impactam diretamente na obtenção
de registro de produtos biológicos não inovadores. No Brasil, esse termo ainda não é reconhecido, assim como não existem provisões específicas para intercambialidade e denominação/rotulagem de tais produtos. Ainda assim, apresenta-se como uma janela de oportunidades para que as indústrias nacionais invistam na produção de biológicos não inovadores.
Em relação às inovações, a regulação de preços é apontada como um fator inibidor de
investimentos, pois não existem garantias de que os elevados gastos com P&D neste setor
sejam ressarcidos após a avaliação da CMED, fazendo com que muitos produtores nacionais
não arrisquem com investimentos em produtos inovadores.
Sendo assim, conclui-se que a revisão das legislações vigentes com a inclusão da
definição de biossimilares, a criação de normas claras e concisas a respeito de intercambialidade e a revisão das legislações da CMED apresentam-se como meios cabíveis para
Suellen Mendonça
aumentar a internalização da produção de biomedicamentos.
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
Prêmio
RT
4º
Autores: Isabelle K. da C. Nunes, Everton T. de Souza, Marco A. Martins, Patrícia M. R. Silva,
Eliezer J. Barreiro, Lidia M. Lima
U G A R
Desafios do big data para gestão em doenças
negligenciadas: um estudo de dengue na
rede social twitter pela abordagem 2.0
Autores: Jorge Lima de Magalhães, Luc Quoniam e Núbia Boechat
Foto: Divulgação/IPD-Farma
Fármacos inibidores das fosfodiesterases (iPDEs) são utilizados para o tratamento da doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e da asma, entre outras. Na busca por novos candidatos a protótipos
de fármacos iPDE4 seletivos, descrevemos a descoberta do protótipo antiasmático LASSBio-448, que
apresenta ação anti-inflamatória em modelo de asma murina e baixa afinidade pela PDE4. O estudo teve como
objetivo descrever o desenho, a síntese e a avaliação do perfil anti-PDE4, e estudar a estabilidade química de uma série de
derivados sulfonilidrazônicos funcionalizados, elegendo o composto de melhor potência anti-PDE4 para estudos de
metabolismo microssomal hepático comparativo com seu protótipo LASSBio-448.
Como resultados, pode-se afirmar que os derivados foram racionalmente planejados a
partir da aplicação da estratégia de restrição conformacional seguida de bioisosterismo não
clássico e de simplificação molecular sobre a estrutura do protótipo LASSBio-448. Os dez
derivados sintetizados em rota linear foram ensaiados quanto à capacidade de inibir as quatro
isoformas de PDE4 (A, B, C e B) mostrando percentual de inibição com variação de 31,5-90,4% a
10μM, comparável àquele encontrado para o padrão Cilomilaste. Dos quatro derivados ativos,
LASSBio-1632 foi selecionado para estudo de determinação da curva concentração resposta,
apresentando potência inibitória de CI50=477,2 nM frente à enzima PDE4A. Nos estudos de
estabilidade química (pH 2 e pH 7.4) e plasmática, os derivados LASSBio-448 e LASSBio-1632
se mostraram estáveis, enquanto LASSBio-1632 apresentou solubilidade aquosa inferior
(0,2.10-3 g/L) a LASSBio-448 (9,5.10-3 g/L). Por isso, foi estudado o perfil metabólico
comparativo de LASSBio-448 e LASSBio-1632 frente às enzimas microssomais hepáticas de
ratos, mostrando baixa meia-vida microssomal hepática dos compostos estudados que
comprovaram a participação das enzimas do sistema CYP450 no metabolismo destes
Isabelle Karine Nunes
protótipos. LASSBio-1632 foi avaliado em modelo murino de inflamação pulmonar aguda
induzida por LPS, mostrando-se ativo por via oral.
Prêmio
RT
L
5º
premiação
L
LASSBio-1632: Novo protótipo inibidor
da fosfodiesterase PDE4
U G A R
Foto: Divulgação/IPD-Farma
A velocidade da geração de dados no século 21 é imensa e praticamente instantânea. Isso em função
do big data e web profunda. A grande questão é ter habilidade em extrair, analisar e converter 2,5
quintilhões (2.5×1018) de dados que são gerados diariamente. Assim, é premente adaptar-se ao novo
contexto mundial e ter perspectiva aplicável a melhores condições de vida e ações de saúde pública. Agrava-se devido à
80% da população mundial ser negligenciada.
Ao aplicar ferramentas da web 2.0 ao big data em dengue, é possível obter dados precisos e prospectivos para
auxiliar os gestores públicos na decisão eficaz. Há 55.700 'core' documentos sobre doença
negligenciada + dengue. Um gestor não tem tempo hábil para analisar todos os dados. Após
'filtro', restou 150, com 37 clusters coloridos, sendo 17 com 'impacto', 14 associados à
dengue, cinco em câncer etc. Havendo necessidade de aprofundar a leitura, o gestor poderá
clicar e resgatar qualquer documento. O big data relaciona-se com 'saúde' em 43% dos
dados na internet. De tal forma, a rede social Twitter está inserida. De acordo com o Twitter
Statistics, há 550 milhões de usuários nessa rede e com média de 58 milhões de tweets/dia,
sendo TOP 5 os países: EUA, Brasil, Japão, UK e Indonésia. Observou-se uma rede de
pessoas 'twitando' dengue em março de 2013 no Rio de Janeiro. Graficamente, puderam-se
notar vários 'nós', intensos ou não, e suas interligações ao redor (retweets). Com o software
foi possível identificar os comentários e região. Esse cenário indicaria um possível surto de
casos de dengue.
Gestão do big data não é trivial. Um observatório pode contribuir para a vigilância
Luc Quoniam
epidemiológica. Há necessidade de aliar ferramentas 2.0 o big data na saúde.
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“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”
Prêmio
RT
L
6º
Sistemas Nacionais como dispositivo para
promoção de inovações e externalidades positivas:
o caso das REDESFITO
U G A R
Autores: Thiago Mendes, Rosane Abreu e Glauco Villas Bôas
premiação
Como participar
A Premiação Reconhecimento Técnico é realizada
anualmente nas edições do ENIFarMed. Durante o ano
corrente do evento, o IPD-Farma publica em seu site as
condições, formatos e regras para envio dos trabalhos.
A partir disso, um Comitê de Seleção formado por
profissionais reconhecidos na área da saúde avalia as
pesquisas sem acesso à identificação de autoria e
filiação institucional para garantir maior imparcialidade
nos resultados.
A submissão de trabalhos para a próxima edição da
Premiação ficará aberta até o dia 11 de julho de 2014.
Os trabalhos vencedores serão apresentados
oralmente durante o 8º ENIFarMed, que acontecerá nos
dias 26 e 27 de agosto, em São Paulo. Para participar,
fique atento ao calendário do evento e às regras de
envio dos trabalhos no site: www.ipd-farma.org.br.
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Foto: Divulgação/IPD-Farma
O trabalho destaca os Sistemas Nacionais de Inovação em redes como caminho possível para a
sustentabilidade socioeconômica e ambiental das ações relacionadas à inovação, fugindo da visão
verticalizada, restrita à inovação tecnológica e extremamente concentrada em poucos atores. Esse caminho
abre a possibilidade de agregar diversos atores relacionados ao setor de fitomedicamentos em um sistema horizontalizado, promovendo a inovação a partir de múltiplos conhecimentos.
Frente ao múltiplo potencial genético da biodiversidade brasileira, às políticas de promoção da saúde e à possibilidade de variadas formas de retorno econômico, instituições públicas e privadas se debruçam na
busca pela inovação em fitomedicamentos. É nesse sentido que se dá a ação dos diversos
atores ligados ao Sistema Nacional de REDESFITO, um projeto do Núcleo de Gestão em
Biodiversidade e Saúde Farmanguinhos/Fiocruz voltado para o desenvolvimento de um
dispositivo da sociedade voltado para a inovação em fitomedicamentos.
O objetivo deste sistema é promover a inovação tecnológica em fitomedicamentos,
contando com a participação fundamental da indústria, vista aqui como o “motor da
inovação”. Nesse caminho, algumas externalidades positivas estão sendo alcançadas, como
consequência do trabalho em rede, gerando retornos socioeconômicos e políticos para os
atores e comunidades relacionadas aos territórios das REDESFITO. Tais ações estruturam o
próprio sistema de inovação, ao promoverem o desenvolvimento produtivo dos territórios
envolvidos e dos circuitos econômicos locais.
Assim, considerar as ações estruturantes dos sistemas de promoção de inovações, como
as REDESFITO, significa reconhecer que estas ocorrem a partir de práticas cotidianas, sendo
Thiago Monteiro Mendes
fundamentais para o desenvolvimento tecnológico, socioambiental e competitivo do País.
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
Fitoterápicos precisam
de maior fiscalização
A
resposta negativa a quase 60%
dos pedidos de registro de novos
fitoterápicos pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos últimos
anos sinaliza a necessidade de o órgão
rever seu padrão regulatório. Esse foi o
principal ponto da mesa sobre fitoterápicos
na sétima edição do Encontro Nacional de
Inovação em Fármacos e Medicamentos
(ENIFarMed). Para Luis Carlos Marques,
pesquisador e coordenador do mestrado
profissional em Farmácia da Universidade
Bandeirante de São Paulo (Uniban), o tema
- já debatido em outras edições do evento precisa ser tratado com seriedade, pois
impacta diretamente no desenvolvimento
da indústria farmacêutica.
“A racionalização extrema do fitoterápico prejudica todo o seu potencial de
utilização no Brasil, demandando custos
altos, prazos dilatados e alto risco na execução de seu desenvolvimento”, declarou.
O rigoroso
controle de
qualidade feito
no registro de
fitoterápicos
praticamente se
perde ao longo
dos anos de
comercialização,
não se constituindo
de fato em
segurança para
os usuários
Luis Carlos Marques,
Uniban
Em oposição ao alto padrão
regulatório, na fase de pósregistro praticamente não há
acompanhamento e controle da
qualidade exigida. A precariedade
na fiscalização dá brecha para
que, por vezes, os fitoterápicos
sejam fabricados com insumos
mais baratos e de qualidade
inferior aos apresentados no
processo de registro.
“Todo o rigor no controle de
qualidade exigido no registro
praticamente se perde ao longo
dos anos de comercialização, não
se constituindo de fato numa
segurança aos usuários e pacientes”, explicou Marques.
Foto: Divulgação/IPD-Farma
Mudar a regra
Entre as soluções para superar a questão, o pesquisador vê o
ajuste da legislação nos aspectos
de controle de qualidade de
fitoterápicos. A adequação das normas
regulatórias para o estabelecimento de um
padrão médio possibilitaria a execução e
manutenção da qualidade a todas as
empresas, mesmo as nacionais de menor
capacidade técnica.
“É preciso buscar esforços de modo a
obter-se um padrão médio suficiente para
expressar a qualidade dos produtos e em
paralelo se estabelecer um plano efetivo de
acompanhamento desse padrão técnico
em todos os cenários comerciais de fitoterápicos no País”, opinou.
Apesar das dificuldades, o desenvolvimento de novos fitoterápicos tem
mobilizado investimentos da indústria. A
RDC 10, de 2010, flexibilizou a produção de
certos medicamentos ao estabelecer
requisitos para o registro simplificado,
estimulando que produtos com o mesmo
princípio ativo fossem fabricados por
diferentes laboratórios.
Com isso, a representatividade do
segmento aumentou, mas provocou nas
indústrias a necessidade de inovar para
garantir sua competitividade, como apontou a gerente de P&D da Apis Flora,
Andresa Berretta.
Aproximação
Além das questões regulatórias,
outros entraves são responsáveis por
prejudicar o desenvolvimento do setor. A
falta de integração entre academia e
indústria impede a formação de parcerias
para a realização de projetos de inovação.
Segundo Marques, as universidades têm
diversos projetos de interesse clínicoterapêutico e de saúde pública que merecem maior divulgação para o aproveitamento industrial e o desenvolvimento de
fitoterápicos nacionais.
Para preencher essa lacuna, Marques
enxerga a necessidade de criação de um
mecanismo institucionalizado para abrir
oportunidades para o mercado. “É preciso
tentar aproximar o mercado de projetos
que estão em nível avançado nas instituições de pesquisa”, afirmou.
13
13
fitoterápicos
Com acompanhamento precário dos produtos na prateleira,
há indústrias que reduzem o excessivo padrão de qualidade exigido no registro
“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”
Ministério do Meio Ambiente
aceita sugestões da indústria
para acesso à biodiversidade
Mas projeto de revisão da Medida Provisória 2.186-16 ainda não tem previsão
de quando poderá se tornar uma realidade para a cadeia produtiva
biodiversidade
A
14
Modelo flexível
A proposta ainda prevê que o marco
regulatório garanta à indústria diferentes
modelos para o cálculo do valor pago às
comunidades, de forma que possam
atender a diferentes atividades econômicas. Para Vânia Rudge, gerente jurídica de
Botânica & Sustentabilidade do Grupo
Centroflora e diretora de Biodiversidade da
Abifina, o novo marco legal é primordial
Enquanto
o acesso à
biodiversidade não
for avaliado com
seriedade, existe
o risco de todo
recurso que está
sendo investido em
inovação ir
para o ralo
processos efetuados pelas instituições e
criar regras de transição favoráveis para o
futuro. “O projeto prevê que a repartição de
benefícios seja realizada diretamente pela
empresa com a comunidade”, afirmou.
Apesar das perspectivas positivas,
Maria Celeste Emerick, socióloga e coordenadora do Sistema de Gestão Tecnológica e
Inovação (Gestec) da Fiocruz, acredita que
a questão ainda levará muito tempo para
ser solucionada em razão da burocracia e
interesses relacionados aos processos
políticos envolvidos na validação da proposta. O texto deve passar por diferentes
instâncias e ser votado pelo Poder
Legislativo para se transformar em um
Projeto de Lei.
Até isso acontecer, na visão de Celeste
a cadeia produtiva continuará a perder
oportunidades em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, o que
conflita com os incentivos à produção
nacional feitos pelo Governo. “Enquanto o
tema não for avaliado com seriedade,
existe o risco de todo recurso que está
sendo investido em inovação ir para o
ralo”, alertou.
Maria Celeste Emerick,
Fiocruz
para garantir a atratividade dos
produtos oriundos da biodiversidade brasileira. “É fundamental
tornar a biodiversidade um
substrato de competitividade
para a indústria nacional”,
destacou Vânia.
Sobre a questão, Dolabella
acredita que o intuito do novo
marco legal é facilitar os
Foto: Divulgação/IPD-Farma
s propostas da indústria para a
revisão do marco legal do acesso
ao patrimônio genético e ao
conhecimento tradicional associado
devem ser encaminhadas para a Casa Civil
até o fim deste ano. As sugestões foram
reunidas em um documento pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), que
recebeu ainda colaborações de outros
setores da sociedade civil. O andamento
da proposta no Governo foi debatido na
sessão temática “Acesso à biodiversidade
e o novo marco legal”, na sétima edição do
Encontro Nacional de Inovação em
Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed),
em São Paulo.
Entre as sugestões, está a substituição da autorização prévia no Conselho de
Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) por
um cadastro para toda atividade que
envolva o acesso à biodiversidade. A ideia
foi encaminhada pela Coalizão pela
Biodiversidade – que reúne empresas e
associações da indústria.
Além disso, o grupo propôs a redução
dos custos de transação e a alteração do
formato da repartição dos benefícios com
as comunidades tradicionais. Também
está no documento a possibilidade de
regularizar o passivo das empresas que
foram multadas devido a entendimentos
diferentes sobre a Medida Provisória
2.186-16, de 2001. Esta norma atualmente regula o acesso à biodiversidade e deixa
brechas em sua interpretação.
De acordo com o especialista em
Políticas Públicas e Gestão Governamental
do MMA, Henrique Dolabella, o texto
apresenta avanços e se diferencia por
tentar expressar um consenso entre os
atores impactados pela insegurança
jurídica. “Os conflitos estão identificados e
hoje os debates são mais frutíferos para a
construção de uma proposta que abranja o
interesse de todos os envolvidos”, declarou.
A saúde da inovação está lançada!
Centro de
Convenções Rebouças,
São Paulo - SP
Acontecerá nos
dias 26 e 27 de
agosto de 2014
Realização
8º
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
ENCONTRO NACIONAL DE
INOVAÇÃO EM
FÁRMACOS E MEDICAMENTOS
Superando desafios
para elevar a
competitividade nacional
E
m continuidade ao compromisso de aprimorar e diversificar as políticas públicas para o desenvolvimento da indústria
brasileira, a 11ª edição do Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec) mobilizou as lideranças do setor
produtivo para apresentar um novo mecanismo de apoio à inovação: a Sociedade em Conta de Participação (SCP).
Apresentado nos dias 22 e 23 de outubro, o modelo de parceria pretende promover o compartilhamento do risco
tecnológico em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de inovações tecnológicas. A proposta tem o objetivo de
transformar o perfil da indústria e estimular a prática da inovação continuada como uma ferramenta estratégica no
desenvolvimento industrial, principalmente, nas pequenas e médias empresas que não possuem capital e garantias
disponíveis para realizar investimentos próprios em P&D.
Em razão da importância desta iniciativa, o Sebrae, representando o segmento de pequenos negócios, apoiou o encontro
como patrocinador e participante do evento. Agora, o próximo passo da Protec será levar a proposta ao Governo Federal e
demais instituições dos setores público e privado para que essa ideia se transforme em uma realidade e possa contribuir
para elevar a competitividade do País.
Patrocínio
Apoio
Nossos associados
Realização
Associação Brasileira da Indústria Química
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
de Fármacos e Produtos Farmacêuticos
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Revista IPD