2 # 11 o Ed iç ã Oásis O QUE É MEDITAÇÃO O EXÉRCITO DOS CARACÓIS GIGANTES Vieram da África para invadir as Américas LEITOR DE SONHOS Ele visita o seu cérebro enquanto você dorme INTELIGÊNCIA ERÓTICA O segredo de um relacionamento duradouro Relaxamento ou despertar espiritual? a meditação funciona como um caminho que leva ao contato com nossa essência interior, aquilo que os esotéricos chamam de “eu impessoal” e os psicólogos modernos chamam simplesmente de “Self” por Luis Pellegrini Editor O que é meditação? Relaxamento ou busca espiritual”, nossa matéria de capa, mostra os dois enfoques principais dessa técnica multimilenar de autoconhecimento. Praticada desde a mais remota antiguidade, e por todas as culturas e em todos os países, a meditação é geralmente considerada uma das práticas mais eficazes para restabelecer a harmonia das relações entre o corpo, a mente e a alma. Mas não apenas: mais que uma ferramenta terapêutica, a meditação funciona como um caminho que leva ao contato com nossa essência interior, aquilo que os esotéricos chamam de “eu impessoal” e os psicólogos modernos chamam simplesmente de “Self ”. Ao final da matéria, um vídeo muito interessante mostra oásis . Editorial 2/26 como a simples contemplação de uma obra e arte pode ser uma forma de meditação. por Luis Pellegrini Editor A matéria “Inteligência erótica”, por seu lado, aborda uma das questões mais frequentes nos divãs dos psicoterapeutas: como manter acesa a chama da libido e do sexo nas uniões amorosas prolongadas, como no caso dos casamentos – inclusive os mais bem sucedidos - que duram muitas décadas? Indo para a área ambiental, a reportagem “O exército dos caracóis gigantes” fala de uma invasão inusitada: a dos caramujos gigantes africanos em nossos jardins, pomares e florestas. Eles chegaram ao Brasil ao redor de 1988, pelas mãos de criadores interessados nas possibilidades de comercializar sua carne, por muitos considerada uma iguaria. Mas o brasileiro em geral tem preconceito para comer esses moluscos. Assim, a ideia comercialmente não deu certo. As matrizes então foram soltas na natureza e... deu no que deu. Hoje, milhões e milhões de caracóis formam um exército devastador para plantas e hortaliças. Como resolver o problema? Finalmente, no setor da tecnologia, um invento ao mesmo tempo positivo e assustador: o “leitor de sonhos”, que acaba de ser inventado por cientistas japoneses. Uma máquina capaz de adivinhar com o que estamos sonhando, e inclusive proporcionar uma imagem dos nossos devaneios noturnos. Como dizemos na matéria, não estamos seguros e a salvos nem sequer quando sonhamos... oásis . Editorial 3/26 MEDITAÇÃO Relaxamento ou despertar espiritual? oásis . ESPIRITUAL ESPIRITUAL O QUE É 4/26 O médico Elliott Dacher alerta: meditação não é apenas uma técnica de relaxamento. Muito mais que isso, ela é uma verdadeira ferramenta para a realização integral do nosso Ser F texto: Elliott Dacher lorescimento humano, para mim, significa a realização do nosso potencial inato para alcançar uma felicidade duradoura, um estado geral de bem-estar, uma consciência sempre em expansão, uma serenidade obtida sem esforço. Uso a palavra realização porque essas qualidades são, e sempre foram, parte inata da nossa natureza essencial. Trata-se, portanto, mais de uma lembrança do que da criação de algo novo. Embora essa qualidade ideal de existência seja ineren- oásis . ESPIRITUAL te ao nosso ser, ela costuma permanecer obscurecida por hábitos mentais disfuncionais adquiridos, por pensamentos e emoções aflitivas, pelo estresse e angústia gerados por uma mente hiperativa. Métodos e ferramentas Para descobrir e dissolver os véus que escondem o nosso próprio Ser interior, o nosso Self, necessitamos de métodos e de ferramentas. Da mesma forma como, por exemplo, para explorar a nossa biologia, usamos o microscópio e suas versões mais modernas e sofisticadas, como a ressonância magnética ou tomografia computadorizada. Tais ferramentas permitem-nos penetrar mais fundo, ir mais além das aparências superficiais, possibilitando-nos obter uma compreensão mais detalhada e precisa da nossa ecologia física interna. De modo análogo, quando se estuda a mente, podemos usar a ferramenta conhecida como meditação. A meditação permite-nos ir mais além das experiências superficiais da mente, para ganhar uma compreensão mais detalhada do seu funcionamento e da sua natureza essencial. Essa compreensão nos permite remover os véus que obscurecem nossa natureza autêntica, revelando as qualidades inerentes ao florescimento humano. 4/26 Nos tempos modernos, no entanto, o uso da meditação se afastou muito da sua intenção e uso original: o despertar a mente para que ela alcance o seu pleno potencial. A meditação, hoje, é mais usada para acalmar a mente e aliviar o estresse e angústia. Tais resultados são conseguidos quando se concentra temporariamente a mente em um “objeto”, que pode ser um som, uma palavra, ou a simples respiração. Isso diminui a distração mental e acalma a mente hiperativa - temporariamente! Dessa forma, a meditação tem sido reduzida a uma simples técnica de relaxamento, a um remédio. Tornou-se uma solução rápida para acalmar a mente por alguns momentos. Infelizmente, como um remédio que alivia os sintomas da dor, mas não soluciona as suas causas, seu efeito dura apenas enquanto a usamos. Quando a meditação é usada apenas como uma técnica de relaxamento, ela não consegue chegar à raiz do problema, à fonte geradora de estresse, à angústia, a aflição emocional e a mente hiperativa. Um instrumento de investigação O uso correto da meditação era chamado na tradição ocidental da Grécia Antiga de “incubação”. Nesta acepção, a meditação se torna um instrumento de investigação, deixando de ser apenas um remédio temporário. Ela se torna capaz de cortar a raiz-fonte dos mal-entendidos cognitivos e das aflições mentais que obscurecem o nosso Ser Profundo, o nosso Self natural. A meditação faz isso operando por níveis de penetração da superfície da consciência, indo cada vez mais fundo, observando diretaoásis . espiritual mente e trazendo à consciência os hábitos mentais defeituosos e revelando a não-substancialidade de pensamentos e emoções aflitivas. Dessa forma, as fontes mentais da insatisfação, da angústia e do sofrimento progressivamente são dissipadas, como o orvalho da manhã é dissipado quando sobre ele bate a luz do Sol. Quando isso ocorre, o nosso Ser Profundo e as qualidades de uma consciência em expansão são revelados. Como resultado desse processo, passamos a viver, cada vez mais, uma vida desperta e completa, ao invés de obter apenas rela- xamento e pacificação temporários. Para que isso ocorra, a meditação deve ser ensinada e praticada em toda envergadura do seu alcance, e de acordo com os seus objetivos tradicionais. Esse processo inclui três fases progressivas: 1. domar a tagarelice mental incessante; 2. treinar a mente para que permaneça o mais possível num estado tranquilo, como uma clareira em meio à floresta, como um oásis de calma e claridade em meio ao deserto; 3. aprender a deixar que a mente descanse com facilidade e naturalmente quando o Ser interno entrar num estado de expansão da consciência. Resultados logo começam a aparecer Assim sendo, o esforço inicial em termos de prática meditativa pode continuar por um ano ou mais, e é dirigido a domar a mente e fazer com que ela alcance uma condição de quietude e clareza. A partir daí, prossegue-se nas técnicas de exploração da mente, no aprofundamento do trabalho de enfraquecimento e eliminação das suas tendências defeituosas e disfuncionais, até se chegar a construir uma ponte que nos conecte à nossa consciência expansiva natural. Quando ensinada de acordo com a suas finalidades tradicionais, os resultados da meditação começam a ser vistos dentro de poucas semanas. É comum as pessoas relatarem a conquista de um maior estado de calma mental capaz de persistir para além da sessão de treinamento; costuma-se relatar também, oásis . espiritual 7/26 como primeiros efeitos sentidos, uma diminuição da reatividade psicoemocional e uma melhora das reações pessoais. Com a prática continuada da meditação, novas perspectivas, capacidades e habilidades são desenvolvidas, estabilizadas e integradas na vida diária. A vida começa a mudar, de dentro para fora. Meditação, ensinada e praticada dessa forma, faz parte de um processo maior de estudo, reflexão, prática e mudança de estilo de vida. Essas mudanças de estilo de vida podem incluir: 1. afastar-se da noção equivocada de que os objetos exteriores, tanto em termos de pessoas ou de experiências, resultarão em felicidade duradoura; 2. voltar-se para o desenvolvimento interior; 3. cultivar a bondade, a amorosidade e outras qualidades que apoiem o desenvolvimento interior; 4. alcançar uma compreensão mais detalhada da natureza do sofrimento, das aflições mentais e das qualidades do florescimento humano. Ferramenta para o despertar da consciência Esse processo holístico de treinamento mental e mudança de estilo de vida é bastante tradicional e seus resultados - uma vida plena e vital - têm sido bem conhecidos por homens e mulheres sábios ao longo do tempo e nas mais diversas culturas. Vista dessa perspectiva, a meditação, quando usada apenas como ferramenta de relaxamento temporário, pode inclusive ser danosa para o florescimento do praticante. Ao proporcionar um alívio momentâneo, ela apoia a ilusão de que estamos realmente criando em nós uma mudança substancial e permanente. Pode nos distrair, desviando nossa atenção da verdadeira tarefa que temos pela frente. No entanto, quando usamos corretamente a meditação como uma ferramenta para o despertar da consciência, já estamos nos colocando no caminho da realização das preciosas qualidade do florescimento humano. oásis . espiritual 8/26 (*) O médico americano Elliott S. Dacher é um dos pioneiros da medicina do futuro, um novo paradigma da saúde e da cura que emerge na atualidade. É autor de vários livros, entre os quais Integral Health: The Path to Human Flourishing (Saúde Integral: o caminho para o florescimento humano) publicado em 2006. Seu último livro, Awake, Awake, Alive: A Contemporary Guide to the Ancient Science of Integral Health and Human Flourishing (Acorde, acorde, viva: Um guia para a antiga ciência da saúde integral e o florescimento humano), foi publicado em 2011. Site: http://www.elliottdacher.org/ Vídeo: Usando animação, projeções de imagens e sua própria sombra em movimento, a artista multimídia Miwa Matreyek faz uma bela e meditativa apresentação, sobre descobertas interiores e exteriores. Tire uns minutos de silêncio e mergulhe nos movimentos de Miwa. Com música de Anna Oxygen, Mirah, Caroline Lufkin e Mileece. http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/miwa_ matreyek_s_glorious_visions.html oásis . espiritual Vieram da África para invadir as Américas oásis . animal animal O EXÉRCITO DOS CARACÓIS GIGANTES 10/26 Grandes regiões do continente americano, notadamente o Brasil, a América Central e a Flórida, tornaram-se terreno privilegiado para a reprodução do caramujo gigante africano. Mais uma consequência da irresponsabilidade ecológica H texto: Equipe Oásis á pouco, visitando Ângelo e Thaís, amigos que moram em Ilhabela, litoral de São Paulo, levei um susto: o jardim da casa tinha sido literalmente invadido por um exército de caracóis gigantes, alguns maiores que a palma da minha mão! “Eles são uma verdadeira praga, Ilhabela está infestada. Comem tudo que encontram e o pior é que não oásis . animal tem inimigos naturais por aqui”, disseram os moradores. O caramujo-gigante-africano (de nome científico Achatina fulica) é um molusco da classe Gastropoda, de concha cônica marrom ou mosqueada de tons claros. Nativo no leste-nordeste da África, primo distante dos escargots franceses, foi introduzido no Brasil em 1988 visando ao cultivo e comercialização no mercado de iguarias comestíveis. Os adultos da espécie atingem até 18 centímetros de comprimento de concha e pesam até 500 gramas. É uma espécie extremamente prolífica, alcançando a maturidade sexual aos 4 ou 5 meses. Como se não bastasse, a fecundação de dois indivíduos é mútua, pois esses caramujos são hermafroditas e podem realizar até cinco posturas por ano, podendo atingir de 50 a 400 ovos por postura. São ativos em todas as estações, resistentes ao frio invernal e à seca. 11/26 Introdução no Brasil Presente hoje em diversas partes do planeta, o caracol Achatina fulica foi, ao que tudo indica, introduzido ilegalmente no Brasil inicialmente no estado do Paraná na década de 1980 como alternativa econômica ao escargot (Helix aspersa) por um servidor da Secretaria de Agricultura. A segunda introdução teria ocorrido no Porto de Santos por um servidor público em meados da década de 90, que montou um heliciário na Praia Grande, no qual promovia cursos de final de semana. O fracasso das tentativas de comercialização levou os criadores, por desinformação, a soltar os caracóis nas matas. Como se reproduz rapidamente e não possui predadores naturais no Brasil, tornou-se uma praga agrícola e pode ser encontrado em praticamente todo o país, inclusive nas regiões litorâneas. Achatina e a saúde pública Esse caracol pode transmitir ao ser humano o verme Angiostrongylus cantonensis causador de meningite, por ser o hospedeiro natural dele. Esse tipo de meningite ocorre principalmente na Ásia, porém, há notificação de casos em Cuba, Porto Rico e Estados Unidos. Apesar disso, são baixas as chances de essa doença se instalar no país. O Achatina também transmite o parasita Angiostrongylus costaricensis, causador de uma moléstia chamada angiostrongilose abdominal, que ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. O caracol africaoásis . animal "Caracóis gigantes africanos passeiam sobre um cipó da nossa Mata Atlântica" no também é responsável indireto pela potencial transmissão da febre amarela e, potencialmente, da dengue. Foi constatado inicialmente na Tanzânia que as conchas de Achatinas mortos podiam encher-se d’água e tornar-se um potencial ponto para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor dessas doenças. Em 2001, esse mosquito também foi encontrado em conchas de Achatina fulica no estado de São Paulo. Apesar de ser potencial transmissor de moléstias, o Achatina fulica é comestível – alguns o consideram uma iguaria de sabor ainda mais refinado que o escargot francês. Bastam que sejam cozidos durante 30 a 40 minutos e qualquer risco de doença será eliminado. O único problema que dificulta o seu consumo é de tipo cultural: no Brasil, muitas pessoas sentem asco ante a simples ideia de comer um caracol. 12/26 A criação é ilegal Devido ao seu sucesso reprodutivo, ele tornou-se uma terrível praga agrícola, alimentando-se vorazmente de diversos vegetais de consumo humano, e por isso um parecer técnico 003/03 publicado pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura em 2003, que considera ilegal a criação de caracóis africanos no país, determina a erradicação da espécie e prevê a notificação dos produtores sobre a ilegalidade da atividade. Este parecer vem reforçar a Portaria 102/98 do Ibama, de 1998, que regulamenta os criadouros de fauna exótica para fins comerciais com o estabelecimento de modelos de criação e a exigência de registro dos criadouros junto ao Ibama. O combate ao caracol africano Para combater o Achatina fulica, inicialmente é necessário identificar corretamente o caracol africano para que não haja qualquer confusão com as espécies nativas. Identificados, os especialistas recomendam que os exemplares sejam pegos com luva ou saco plástico para evitar o contato direto, e deve ser colocado sal ou cloro sobre os animais; também pode-se esmagá-lo, e não se deve esquecer de destruir seus ovos no solo com uma vassoura de grama. Quando chove muito numa região infestada, é comum observarmos os caracóis subindo as paredes, sendo, então, uma boa oportunidade para destruí-los. É preciso observar o local que foi infestado por eles por pelo menos três meses para verioásis . animal ficação das reinfestações. O combate químico com o uso de pesticidas não é indicado, pois o produto pode contaminar o solo, a água e até o lençol freático, podendo, assim, levar a intoxicação dos animais e do ser humano, além disso, o molusco pode ser resistente a vários pesticidas. A melhor solução é a incineração - que pode ser realizada dentro de qualquer recipiente metálico - o que evita a postura dos ovos. Info: http://projetocaramujoafricano.blogspot. com/ 13/26 psico LEITOR DE SONHOS Ele visita o seu cérebro enquanto você dorme oásis . psico Nova tecnologia consegue “ler” o conteúdo dos sonhos das pessoas. Dentro em breve não estaremos a sós e a salvo nem quando dormimos. Cientistas japoneses inventaram técnica de visualização das imagens que aparecem nos nossos sonhos P texto: Equipe Oásis arece um sonho (ou não será, mais propriamente, um pesadelo?) diretamente saído dos filmes da série Matrix, mas existe de fato: trata-se de um dispositivo capaz de compreender, com um bom grau de exatidão, com o que estamos sonhando. O aparato foi criado por pesquisadores da Universidade de Kyoto, no Japão. Baseado numa máquina de ressonância magnética oásis . psico funcional (fMRI), um algoritmo matemático e milhares de imagens coletadas na web, o modelo experimental desse aparelho conseguiu compreender um grande número de padrões de ativação cerebral de três voluntários adormecidos e adivinhou, em 60% dos casos, o conteúdo dos sonhos deles. O estudo foi publicado na prestigiosa revista Science, e se baseia em algo que se conhece há bastante tempo: nosso cérebro segue padrões de ativação previsíveis quando reage a diversos estímulos visuais. Um algoritmo capaz de memorizar esses esquemas pode aprender a associar cada modelo de ativação a uma classe precisa de imagens. Alucinações, o alvo primordial Cada um dos três participantes envolvidos na pesquisa dormiu no interior de uma máquina para ressonância magnética funcional durante períodos de 3 horas, no giro de 10 dias. Um eletroencefalograma (EEG) monitorava, enquanto isso, os níveis de atividade cerebral dos voluntários, revelando aos pesquisadores em qual fase do sono eles se encontravam. Os sonhos mais longos e complexos acontecem geralmente durante a fase chamada REM, um momento do sono que tem início várias horas depois do adormecimento. 15/26 Mas já durante a fase 1 do sono não-REM, que começa poucos minutos depois que a pessoa fecha os olhos, estamos sujeitos a ter rápidas e esporádicas alucinações. São exatamente essas alucinações o alvo primordial dos pesquisadores: cada voluntário adormeceu enquanto o o fMRI media os fluxos de sangue no seu cérebro; assim que o eletroencefalograma confirmava que o voluntários estava na fase 1 não-REM, os pesquisadores o despertavam e perguntavam com o que estava sonhando. Essa operação foi repetida cerca de 200 vezes para cada pessoa. Análise científica A esse ponto, os cientistas tomaram nota das 20 classes mais comuns de objetos sonhadas por cada um deles (por exemplo: “cartas”, “edifícios”, “pessoas”) e buscaram online imagens o mais parecidas possíveis às descritas pelos “sonhadores”. A seguir, mostraram as fotos aos voluntários submetidos ao fMRI, mas desta vez despertos, confrontando os padrões de ativação cerebral registrados com aqueles surgidos enquanto o voluntário estava sonhando. Essa operação possibilitou isolar os modelos de ativação relativos a uma classe específica de objetos (por exemplo, “edifícios”) independentemente do fato de que o voluntário estivesse olhando para ele ou sonhando. oásis . psico Todos esses dados foram inseridos em um software para a análise dos dados que, quando os voluntários adormecidos retornaram ao fMRI, foram capazes de elaborar vídeos como o que mostramos a seguir, e prever com o que o voluntário estava sonhando (as palavras que de vez em quando aumentam de tamanho no quadro abaixo) com base no padrão de ativação cerebral obtido. O algoritmo conseguiu adivinhar corretamente em 60% por casos, uma porcentagem muito significativa. Em particular, ele demonstrou ser mais hábil para distinguir o tipo de sonho (por exemplo, uma cena, ou uma pessoa) do que um objeto específico do sonho (uma casa, uma rua). A pesquisa pode lançar as bases para uma análise científica de sonhos mais profundos, como aqueles que surgem durante a fase REM. Video: http://youtu.be/MElU0UW0V3Q oásis . psico comportamento oásis INTELIGÊNCIA ERÓTICA . comportamento O segredo de um relacionamento duradouro Terapeuta familiar e escritora, a norte-americana Esther Perel ajuda casais a encontrar o necessário equilíbrio entre o “conforto” de uma relação matrimonial feliz porém acomodada e a desafiadora incerteza da atração sexual sempre renovada N Vídeo: TED-Ideas Worth Spreading Tradução para o português: Gislene Kucker Arantes. Revisão: Rafael Portezan os relacionamentos duradouros, frequentemente esperamos que a pessoa amada seja também nossa melhor amiga e parceira erótica. Porém, como argumenta a psicoterapeuta Esther Perel, o sexo bom e duradouro baseia-se em duas necessidades conflitantes: nossa necessidade por segurança e nossa necessidade por surpresa. Então, como manter o desejo? oásis . comportamento Com inteligência e eloquência, Perel nos leva ao mistério da inteligência erótica. Esther Perel é autora do bestseller Mating in Captivity: Reconciling the Erotic and the Domestic (Sexo no cativeiro: Reconciliando o erótico e o doméstico), editado no Brasil com o título Sexo no Cativeiro, pela Editora Ponto de Leitura. 19/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel oásis . video 21/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel “Por que o bom sexo geralmente desaparece, mesmo em casais que continuam a se amar tanto? E por que uma boa intimidade não é garantia de um bom sexo, ao contrário do que a maioria acredita? Ou a próxima pergunta seria podemos querer o que já temos? É uma pergunta difícil, não? E por que o proibido é tão erótico? O que tem a transgressão que torna o desejo tão potente? Por que o sexo faz bebês, e bebês significam um desastre erótico para os casais? É um golpe mortal no erotismo, não é? E quando se ama, como é o sentimento? E quando se deseja, qual é a diferença? Essas são algumas perguntas que estão no centro da minha exploração sobre a natureza do desejo erótico e seus constantes dilemas no amor moderno. Eu viajo pelo mundo, e o que noto é que em todo lugar onde o romantismo entrou, parece existir uma crise do desejo. Uma crise do desejo, de já se possuir o que se quer - desejo como uma expressão da nossa individualidade, nossa escolha, preferências, identidade - desejo que se tornou um conceito central como parte do amor moderno e de sociedades individualistas. Bem, esta é a primeira vez na história da humanidade que tentamos experimentar a sexualidade por um longo período, não porque queiramos 14 filhos - para isso precisaríamos ter ainda mais, porque muitos deles não sobreviveriam -, e não porque é exclusivamente um dever conjugal da mulher. Esta é a primeira vez que queremos sexo que no passar do tempo ainda tenha prazer e conexão baseados no desejo. O que mantém o desejo, e por que isso é tão difícil? No centro da sustentação do desejo, em um relacionamento a longo prazo, penso que esteja a conciliação de duas necessidades humanas fundamentais. De um lado, nosoásis . comportamento sa necessidade de segurança, previsibilidade, proteção, dependência, confiança, permanência, todas essas experiências fundamentais das nossas vidas que chamamos de lar. Porém temos também uma necessidade igualmente forte, homens e mulheres, de aventura, mistério, desconhecido, inesperado, surpresa - já entenderam - viagens. Conciliar nossa necessidade por segurança com a nossa necessidade por aventura em um relacionamento, ou o que chamamos hoje de um casamento apaixonante, costumava ser uma contradição. Matrimônio era uma instituição econômica em que havia uma parceria por toda vida em relação aos filhos, “status” social, sucessão e companhia. Hoje em dia queremos que nosso parceiro continue a nos dar tudo isso, e além disso quero que seja meu melhor A psicoterapeuta Esther Perel 21/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel amigo e meu confidente, meu amante apaixonado, e vivemos o dobro do tempo. Então nós basicamente pedimos a uma pessoa que nos dê o que antes um vilarejo inteiro nos fornecia. Dê-me merecimento, identidade, continuidade, mas também transcendência e mistério e admiração, tudo junto. Dê-me conforto, limite. Dê-me novidade, familiaridade. Dê-me previsibilidade, surpresa. E achamos que acordos, brinquedos e lingerie irão nos salvar. Agora chegamos à realidade existencial da história, certo? Porque acho que, por um lado - e vou voltar a isso a crise do desejo é geralmente uma crise da imaginação. Então, por que o bom sexo geralmente desaparece? Qual a relação entre amor e desejo? Como se relacionam e como se chocam? Porque aí mora o mistério do erotismo. Para mim, se há um verbo que vem junto com amor é “ter”. E um verbo que vem junto com desejo é “querer”. No amor, nós queremos ter, queremos conhecer o amado. Queremos minimizar a distância. Queremos diminuir o espaço. Queremos neutralizar as tensões. Queremos proximidade. Mas no desejo, temos a tendência de não querer voltar aos lugares em que já estivemos. Conclusões precipitadas não mantêm nosso interesse. No desejo, queremos um Outro, alguém do outro lado que podemos visitar, com quem podemos passar um tempo juntos, a quem podemos ir para saber o que está acontecendo na “praia” dele. No desejo, queremos uma ponte para atravessar. Ou seja, eu algumas vezes digo que o fogo precisa do ar. O desejo precisa de espaço. Dizendo assim, soa quase sempre abstrato. Fiquei com essa questão na cabeça e fui a mais de 20 países nos últimos anos com “Sexo em Cativeiro”, e peroásis . comportamento guntei às pessoas, quando você sente mais atração pelo seu parceiro? Não sexualmente atraído, mas atraído em geral. Independente da cultura, religião e gênero, todos apresentam algumas respostas semelhantes. O primeiro grupo é: sinto mais atração pelo meu parceiro quando estamos longe, separados e nos reencontramos. Em suma, quando eu volto a ter contato com a minha habilidade de me imaginar com meu parceiro, quando minha imaginação começa a visualizar, e quando posso juntar a isso ausência e saudade, que é o maior componente do desejo. Mas o segundo grupo é ainda mais interessante: Eu me sinto mais atraída pelo meu parceiro quando o vejo no estúdio, no palco, quando ele está em seu mundo, ou faz algo pelo qual é 22/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel apaixonado, quando o vejo numa festa e outras pessoas se sentem atraídas por ele, quando é o centro das atenções. Em suma, quando olho para o meu parceiro sendo radiante e confiante, é provavelmente o maior estímulo de todos. Radiante, como em autossustentável. Eu olho para essa pessoa, a propósito, no desejo as pessoas raramente falam disso, quando estão grudados, cinco centímetros um do outro. Mas também não falam sobre quando a outra pessoa está tão longe que você não pode vê-la mais. Quando olho para meu parceiro a uma distância confortável, em que essa pessoa é tão familiar, tão conhecida, é por um momento novamente um tanto misteriosa, um tanto elusiva. E nesse espaço entre eu e o outro, encontra-se o impulso erótico, encontra-se o movimento em direção ao outro. Porque algumas vezes, como disse Proust, “a verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em possuir novos olhos”. Quando vejo meu parceiro por si mesmo, envolvendo-se em algo, olho para essa pessoa e por um momento tenho uma mudança de percepção, e fico aberta para mistérios que ainda vivem em mim. E o mais importante na descrição sobre o outro ou sobre si mesmo - é a mesma coisa - o que mais interessa é que não há carência no desejo. Ninguém precisa de ninguém. Não há zelo no desejo. Zelo é amar grandiosamente. É um antiafrodisíaco poderoso. Eu ainda quero encontrar uma pessoa que esteja excitada por alguém que precisa dela. Desejá-la é uma coisa. Precisar dele é desestimulante, e as mulheres sabem disso há muito tempo, porque qualquer semelhança com algo paternal provavelmente diminuirá a carga erótica. Por boas razões, certo? O terceiro grupo de respostas seria quando estou suroásis . comportamento preso, quando rimos juntos, ou como disse para mim mesma hoje, quando ele veste smoking, e eu disse, tanto faz smoking ou botas de cowboy. Basicamente quando há alguma novidade. Novidade não tem nada a ver com novas posições. Não é um repertório de técnicas. Novidade é, quais partes suas você valoriza? Que partes suas são vistas? Porque de algum modo alguém pode dizer que sexo não é algo que você faz, hein? Sexo é um lugar para onde você vai. É um espaço em que você entra dentro de você e com o outro, ou outros. Aonde você vai no sexo? Com que partes suas você se conecta? O que você deseja expressar? É um lugar de transcendência e união espiritual? É 23/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel um lugar para travessuras ou um lugar para agressividade segura? É um lugar onde você pode finalmente se render e não ter responsabilidade de nada? É um lugar onde você pode expressar seus desejos infantis? O que isso revela? É uma linguagem. Não é apenas um comportamento. É pela linguagem poética que me interesso e foi por isso que comecei a explorar o conceito de inteligência erótica. Vocês sabem, os animais fazem sexo. É o ponto central é biologia, é o instinto natural. Somos os únicos que têm uma vida erótica, o que significa que a sexualidade foi transformada pela imaginação humana. Somos os únicos que podem fazer amor durante horas, ter momentos de pura alegria, orgasmos múltiplos, e sem tocar em ninguém, apenas com a imaginação. Nós podemos insinuar. Não precisamos fazer. Podemos experimentar algo poderoso chamado antecipação, que é a cereja do bolo do desejo, a habilidade de imaginar as coisas como se estivessem acontecendo, experimentar como se estivesse acontecendo, quando nada está acontecendo e tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Quando penso em erotismo, penso em um sexo poético, e se o vejo como uma inteligência, então é algo que você cultiva. Quais são os ingredientes? Imaginação, jovialidade, novidade, curiosidade, mistério. Mas o agente central é aquela peça chamada imaginação. O mais importante: para que eu entenda quem são os casais que possuem uma faísca erótica, que sustentam o desejo, tive que voltar à definição original de erotismo, a definição mística, e eu tomei uma derivação, vendo realmente o trauma, que é o outro lado, e eu voltava o olhar para a comunidade onde nasci, uma comunidade na Bélgica, todos sobreviventes do Holocausto, e na oásis . comportamento minha comunidade haviam dois grupos: aqueles que não morreram e aqueles que retornaram à vida. Aqueles que não morreram, viveram muito amarrados ao chão, não conseguiam experimentar prazer, confiança, porque quando você é vigilante, preocupado, angustiado e inseguro, você não consegue erguer a cabeça e se soltar, ser brincalhão, seguro e criativo. Aqueles que retornaram à vida vêem o erótico como um antídoto para a morte. Eles sabem se manter vivos. Quando comecei a escutar sobre a falta de sexo em casais com quem trabalhei, eu os ouvia dizer, “quero mais sexo”, mas geralmente as pessoas querem um sexo melhor, e melhor quer dizer se reconectar com a qualidade de estar vivo, de vibração, renovação, vitalidade, Eros, energia que o sexo costuma dar ou que eles esperam que seja dado. Então comecei a fazer uma pergunta diferente. “Eu 24/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel me fecho quando?” - assim começava a pergunta. “Eu abafo meus desejos quando..” que não é a mesma pergunta que “o que me desestimula..”e “você me desestimula quando..” As pessoas diziam, “eu me fecho quando eu me sinto morto por dentro, quando não gosto do meu corpo, quando me sinto velho, quando não tenho tempo para mim, quando não tenho a chance de saber como você está, quando não me saio bem no trabalho, quando minha auto estima está baixa, quando não me dou valor, quando não sinto que tenho o direito de querer, de dar, e receber prazer.” Então comecei a fazer a pergunta ao contrário. “Eu me fecho quando...” Porque geralmente as pessoas gostam de perguntar, “você me excita, o que me excita’, e eu fugi da questão, entendem? Bem, se você está morto por dentro, a outra pessoa pode fazer tudo no dia dos namorados. Não vai causar efeito algum. Não há ninguém lá para responder. (Risos) Eu me excito quando, quando me conecto com meus desejos, eu acordo quando... Neste paradoxo entre amor e desejo, o que parece ser desconcertante é que os ingredientes que nutrem o amor - interdependência, reciprocidade, proteção, preocupação, responsabilidade pelo outro - são os mesmos que podem sufocar o desejo. Porque o desejo vem com uma série de sentimentos que nem sempre são os favoritos do amor: ciúmes, possessão, agressão, poder, domínio, safadeza, ofensa. Basicamente muitos de nós se excitam a noite pelas mesmas coisas a que se manifestam contrários durante o dia. Bem, a mente erótica não é muito politicamente correta. Se todos tivessem fantasias com uma cama coberta de rosas, não teríamos essa conversa. Mas não, em nossa mente existe uma série de oásis . comportamento coisas acontecendo que nem sempre nos damos conta, como dizer à pessoa que amamos, porque acham que amor vem com abnegação e na verdade o desejo vem com uma dose de egoísmo no melhor sentido da palavra: a habilidade de estar conectado consigo mesmo na presença do outro. Quero formar uma imagem para vocês, porque essa necessidade de reconciliação, esses dois conjuntos de necessidades, vem do nosso nascimento. Nossa necessidade de conexão, nossa necessidade de separação, nossa necessidade de segurança e aventura, ou nossa necessidade de estar juntos e de autonomia, e se pensar na criança que senta no seu colo e que está aconchegada, segura e confortável, e num certo momento precisa sair pelo mundo para fazer descobertas e explorar. Aí está o começo do desejo, essa exploração precisa de curiosidade, descoberta. Em algum momento elas viram e olham para você, e se você disser a elas, “ei querido, o mundo é um lugar bem legal. Vai nessa. Divirta-se por aí,” então eles podem ir e experimentar a conexão e a separação ao mesmo tempo. Eles podem partir em sua imaginação, em seu corpo, em sua travessura, sabendo que há alguém quando eles voltarem. Mas se desse lado tem alguém que diz, “Estou preocupado. Estou angustiado. Estou com depressão. Faz tempo que meu parceiro não cuida de mim. O que está acontecendo? Não temos tudo que precisamos juntos, você e eu?” e daí surgem algumas reações que todos nós conhecemos. Alguns retornam, depois de um longo tempo, e a criança que volta é aquela que renuncia a uma parte de si 25/26 Tradução integral da palestra de Esther Perel mesma para não perder o outro. Perco minha liberdade para não perder a conexão. Vou aprender a amar de um modo sobrecarregado de preocupação extra e responsabilidade e proteção extras, e não sei como vou deixá-lo a fim de sair para jogar, experimentar o prazer, descobrir, entrar dentro de mim mesmo.Traduzindo isso para uma linguagem adulta. Começa-se bem jovem. Continua por nossas vidas sexuais até o fim. A criança número 2 volta, mas fica vigiando o tempo todo. “Você estará aqui? Você vai me xingar? Vai me repreender? Vai ficar bravo comigo?” Eles podem ter ido embora, mas nunca estão longe, e essas pessoas geralmente dirão a você, que no começo foi tudo muito quente. Porque no começo, a intimidade que crescia ainda não era tão forte, e na verdade levou a um declínio do desejo. Quanto mais conectado eu fico, mais responsável eu me sinto, menos me solto em sua presença. A terceira criança não retorna. O que acontece se você quiser sustentar o desejo, aí está a verdadeira peça dialética. Por um lado você quer segurança para ir. Por outro lado você não pode ir, não tem prazer, você não consegue atingir, não tem orgasmo, você não fica excitado porque perde seu tempo no corpo e na cabeça do outro e não consegue mesmo. Neste dilema sobre reconciliação, nesses dois conjuntos de necessidades fundamentais, existem algumas coisas que percebi nos casais eróticos. Primeiro, eles têm muita privacidade sexual. Eles entendem que existe um espaço erótico que pertence a cada um deles. Eles também entendem que as preliminares não começam apenas cinco minutos antes da relação sexual. As preliminares começam no fim do último orgasmo. Eles também entendem que o espaço erótico não é começar a acarioásis . comportamento ciar o outro. É criar um espaço onde você deixa de lado a Gestão Ltda, você deixa de lado o trabalho, e você entra naquele espaço em que você para de ser o bom cidadão que cuida de tudo e é responsável. Responsabilidade e desejo são idiotas. Eles não se dão bem. Os casais eróticos entendem que a paixão vai e volta. Como a Lua. Tem eclipses de vez em quando. Eles sabem que conseguem ressuscitá-la. Eles sabem como trazê-la de volta, e sabem como trazê-la de volta porque eles desmistificaram o grande mito, que é o mito da espontaneidade, aquele que vai cair do céu enquanto você limpa a casa assim inesperadamente, e eles entendem bem que o que tiver que acontecer em uma relação duradoura, ela já a tem. Sexo com compromisso é sexo premeditado. É determinado. É intencional É foco e é presença.” 26/26