VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II-035 - AÇÕES METODOLÓGICAS DO PROGRAMA UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA – UNISOL – NA SOLUÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO EM BAIRROS PERIFÉRICOS DO MUNICÍPIO DE ARARUAMA – RJ Dario de Andrade Prata Filho (1) Engenheiro, MSc Engenharia de Drenagem (UFV); Esp. em Engenharia Sanitária e Ambiental; e, Ap. em Saúde e Meio Ambiente (FIOCRUZ); At. em Tratamento de Esgotos por Processos Anaeróbios e Disposição Controlada no Solo (FINEP/ASSEMAE). At. em Análise de Projetos para Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (MS/FUNASA).Professor do Dep. Engenharia Civil e Dep.de Urbanismo - UFF. Sergio Rodrigues Bahia Arquiteto e Urbanista, 1985, (UFF); MSc Em Controle da Poluição Ambiental, 1995 (University of Leeds); Professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense; Consultor do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM. Fabiana Monteiro Morgado Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, 8º período, Escola de Arquitetura e Urbanismo; Centro Tecnológico; Universidade Federal Fluminense. (1) Endereço: Universidade Federal Fluminense/UFF.Centro Tecnológico/CTC – Campus Praia Vermelha. Rua Passo da Pátria, 156 sala 218 – São Domingos – Niterói/RJ - CEP 24210-240 – BRASIL.CEL:(21)9679-7538.Tel.:+55 (0xx21)2717-9487–FAX.:+55 (0xx21)2717-4446–E-mail: [email protected] RESUMO O município de Araruama está situado em uma região com importância turística, sendo a Lagoa de Araruama o atrativo principal, porém em razão de se encontrar, nos últimos anos, ameaçada por um crescente processo de degradação ambiental, tem sido abandonada por veranistas e outros visitantes. O rápido crescimento populacional e ocupação desordenada destas áreas, não foi devidamente acompanhado pela implantação de infra-estrutura urbana, especialmente de sistemas de esgotamento compatíveis. Em função disso o município foi incluído no Programa Comunidade Ativa/Comunidade Solidária, que resultou em um projeto de extensão financiado pela SESu/MEC a ser executado pelo Programa Universidade Solidária – UniSol, em parceria com o Departamento de Urbanismo/Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, cujo objetivo foi o estabelecimento de diretrizes para a implantação de um sistema de esgotamento em uma área periférica denominada Bairro Lagoinha. O trabalho em questão tem seu foco orientado para o processo de condução das atividades que integram a proposta de esgotamento sanitário em bairros periféricos do município de Araruama, no âmbito do programa UniSol. Além de se colocar como um instrumento para o melhor ecaminhamento da proposta de esgotamento sanitário no caso específico de Araruama, o presente trabalho abre espaço para a plicação de metodologia similar em projetos de mesma natureza. Dessa forma, longe de querer apresentar um modelo de encaminhamento de ações para a execução de projetos de saneamento entre comunidade carente e poder público local, cria-se um espaço propício de reflexão sobre os elementos que devem ser considerados quando da elaboração de um roteiro de ações no desenvolvimento de projetos afins. PALAVRAS-CHAVE: Ações metodológicas, Articulações institucionais, Diretrizes para o esgotamento. INTRODUÇÃO O Programa UNISOL foi criado pelo Conselho da Comunidade Solidária em 1995 e tem como objetivos o incentivo do trabalho de extensão das universidades em sua própria região e a consolidação do compromisso da instituição com o desenvolvimento sustentável da comunidade onde atua. Este Programa faz parte do Programa Comunidade Solidária que por sua vez integra o Programa Comunidade Ativa. Buscando dar sua contribuição na solução de demandas do Programa UNISOL, em municípios do Estado do Rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense, através das Escolas de Arquitetura e Urbanismo, e, de Engenharia, apresentou um projeto a ser desenvolvido no município de Araruama. O acelerado crescimento do município de Araruama mostra precariedades no abastecimento de água, no sistema de esgotos e na limpeza urbana, o que tem ocasionado uma maior degradação do Sistema Lagunar que banha o município, bem como levando ao aparecimento de doenças ligadas à falta de saneamento, principalmente nas comunidades de baixa renda, situadas no entorno dos rios do Limão, do Salgado, Mataruna ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental e na Comunidade do Buraco do Pau. Procurar maneiras justas e factíveis de universalizar o saneamento básico é uma prioridade ambiental pelo que direta ou indiretamente pode trazer para o meio ambiente, como benefícios ou como prejuízos. As ações do Programa Comunidade Ativa no município de Araruama, estabeleceram alguns “Temas” prioritários para o seu desenvolvimento sócio-econômico e ambiental, como fruto de reivindicações de diversos segmentos municipais. Para cada “Tema” estabeleceu-se algumas “Ações Prioritárias”, e para cada “Ação Prioritária”, diversas “Ações Pactuadas” com a participação de organismos federais, estaduais e municipais. No “Tema“ “Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente, Saúde e Transporte”, a “Ação Prioritária” em que se insere o objetivo deste trabalho, resume-se no atendimento a uma reivindicação que visa a “Instalação de Fossas Sépticas, Filtros Anaeróbios e Sumidouros”, para melhoria das condições de esgotamento sanitário nestas comunidades de baixa renda. Sendo que neste caso as “Ações Pactuadas” da Oferta Federal seria a viabilização de investimentos de recursos da Fundação Nacional de Saúde; da Oferta Estadual seria a negociação com a Concessionária Águas de Juturnaíba para revisão do contrato de Concessão e da Oferta Municipal a disponibilização de uma Fábrica de Artefatos de Concreto para construção das Fossas e Filtros. Estas reivindicações revelam uma tomada de consciência ambiental dos integrantes destas Comunidades, a respeito dos problemas derivados da falta de infra-estrutura sanitária, que foram sistematizadas pelo Programa Comunidade Ativa. Os rios em questão, ao receberem esgotos sem tratamento, estão contribuindo para uma aceleração no processo de degradação das condições de vida nas áreas habitadas em suas margens, bem como para o aumento da poluição na Lagoa de Araruama. O presente trabalho pauta-se na complexidade do desenvolvimento de projetos de saneamento básico, sobretudo neste tipo de comunidades carentes, onde a articulação entre os aspectos técnicos, financeiros, políticos e de gestão, é fundamental para o sucesso da ação pretendida. Objetivo geral A presente proposta tem por objetivo geral definir e sistematizar ações metodológicas no âmbito da parceria UFF/UniSol/SESU-MEC, e suas interações com as demais entidades envolvidas no processo, visando o desenvolvimento de uma solução para o esgotamento sanitário em bairros populares às margens dos rios do Limão, Salgado, Mataruna e Buraco do Pau, no Município de Araruama – RJ. Objetivos específicos a) Identificar os interlocutores, as expectativas e os níveis de participação dos vários atores envolvidos no processo de solução do problema da falta de esgotamento sanitário na localidade. Apresentam-se como atores desse processo o Governo Federal (através da FUNASA), o Governo do Estado do Rio de Janeiro, a Prefeitura Municipal, o Fórum Municipal de Entidades Ambientais, a Concessionária Águas de Juturnaíba, as Comunidades da Área de Estudo e a Universidade Federal Fluminense; b) Mobilizar diversos setores da Sociedade Civil e do Estado para trabalhar com as Comunidades de Baixa Renda da Área de Estudo, visando superar suas dificuldades de informação, articulação e organização, através do programa Universidade Solidária – UniSol. c) Aprimorar o processo de formação profissional e de pesquisa universitária através da participação de alunos do curso de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense – UFF no desenvolvimento do projeto. METODOLOGIA UTILIZADA Pelo fato do projeto proposto estar inserido nas ações do Programa UniSol, conta, por isso, com diretrizes preliminares pré-definidas. Assim, demandas básicas já foram apontadas, bem como a oferta, em termos de contribuição, dos diferentes níveis de Governo e demais entidades envolvidas. Para a definição e sistematização das ações metodológicas que conduzirão o encaminhamento da proposta técnica (solução de esgotamento sanitário para a localidade), partir-se-á de um detalhado levantamento em campo para reconhecimento da realidade local. Nesta etapa, entrevistas com os agentes envolvidos serão promovidas a fim de identificar a atuação de cada parte interessada. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Fundamental para a definição das ações metodológicas será ratificar a proposta técnica previamente indicada para a comunidade. No tema “Desenvolvimento Urbano, Meio Ambiente, Saúde e Transporte”, o Programa Comunidade Ativa, do qual o Município de Araruama é membro integrante, apontou como projeto prioritário a “Construção de fossas e filtros anaeróbicos para os bairros populares situados às margens dos rios do Limão, Salgado, Mataruna e Buraco do Pau”. À análise dessa solução técnica serão cruzadas as interferências no campo da gestão, assim como aquelas referentes às ações de uma política ambiental municipal, a fim de identificar cenários prováveis de agentes envolvidos. Num segundo momento, buscar-se-á definir um cenário único, construído com a participação dos vários agentes envolvidos e definindo responsabilidades específicas e formas de atuação para cada parte integrante do processo. Esse cenário, uma vez aprovado pelos integrantes do projeto, subsidiará, então, o desenvolvimento e a implementação da solução de esgotamento sanitário para a área em questão, principalmente pela mobilização da população interessada como reportam SILVA, R.N.M., et allii. (1999) e ANDRADE NETO (1999) RESULTADOS OBTIDOS Em visita à comunidade do Rio do Limão, em setembro de 2001, e em contato travado com a Prefeitura Municipal de Araruama, com o Fórum Municipal de Entidades Ambientais e a SESU-MEC, foi possível estabelecer um cenário preliminar do projeto em questão, onde, no nível local, desponta a atuação do Fórum na defesa da solução técnica de esgotamento sanitário “fossa/filtro” para a área. Foi possível identificar a existência de uma rede de esgotos implantada na margem oposta do Rio do Limão, porém sem nenhuma ligação de esgotos a ela, bem como um Sistema de Lagoas de Estabilização, sub-utilizado, situado à cerca de dez quilômetros destas áreas. Numa análise da técnica e da gestão, esse dado pode colocar em dúvida a proposta previamente definida para a área. Na esfera da gestão, há que se avaliar o papel da Concessionária “Águas de Juturnaíba” e a competência da Prefeitura Municipal de Araruama. Segundo o estabelecido no contrato de concessão dos serviços de saneamento entre a Concessionária e a Prefeitura Municipal, não está prevista a participação da Concessionária em ações relacionadas a esgotamento sanitário até o ano de 2005. Até esse ano, a Concessionária atuará somente com o abastecimento de água, o que interfere sensivelmente na análise da solução definida pelo Programa Comunidade Ativa para as Comunidades em Estudo. A julgar a solução do esgotamento sanitário somente pelo viés técnico, optar-se-ia pela solução isolada, resolvendo de imediato os problemas da comunidade. Analisando-a com o olhar da gestão, seria impossível não pensar numa solução que incorporasse o uso efetivo da rede existente, bem como do sistema de Lagoas de Estabilização, o que demandaria uma possível alteração no contrato entre Prefeitura e Concessionária, a fim de solucionar a questão do esgotamento sanitário da comunidade do Limão em curto prazo. Associado a este último aspecto há de se considerar ainda a escala das soluções de saneamento pensadas pelo município. Se como pano de fundo encontra-se a despoluição da Lagoa de Araruama (lagoa para a qual contribui o Rio do Limão e outros cursos d’água igualmente poluídos), ou se o desejado é a solução independente para os vários focos de poluição por esgotos existentes na região, com uma solução aparentemente desarticula e descomprometida com a qualidade ambiental do Município num espectro mais amplo. Como reportam SILVA et allii (1997), as propostas de intervenção, não podem ser pensadas apenas no problema, mas nas causas que o criam, bem como na multiplicidade de suas interações. O que se reconhece com clareza até a presente fase do trabalho é a grande necessidade que existe de se criar uma matriz onde as informações levantadas e devidamente cruzadas com as expectativas dos vários agentes envolvidos, poderão apontar ações para a implementação do projeto técnico. CONCLUSÃO É notório o peso político que envolve um projeto de saneamento dessa natureza. As ações metodológicas a serem identificadas e sistematizadas devem responder a cada uma das demandas apresentadas no processo de encaminhamento do projeto técnico, sejam elas políticas, econômicas, técnicas e de gestão. Para isso, deverá ser incorporada ao processo a participação de todos os agentes envolvidos, com destaque à população diretamente envolvida ou representada pelos munícipes, uma vez entendendo-se tratar de uma ação com forte influência na imagem e na qualidade de vida do Município. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, J. B. (org.) A cidade e o urbano: temas e debates. Fortaleza: EUFC, 1997. 318p. ANDRADE NETO, C. O Participação da comunidade na implantação e na operação de sistemas de esgotos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,20., Rio de Janeiro, RJ, 55-64, set.., 1999. Programa & Resumos. Rio de Janeiro, ABES, Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 20., 1999. CD-ROM. SILVA, R.N.M.; GARCEZ, R. M. e ARAÚJO, C.R.S. Controle social no saneamento ambiental: uma experiência de iniciativa popular em São Luís. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,20., Rio de Janeiro, RJ, 2665-2670, set.., 1999. Programa & Resumos. Rio de Janeiro, ABES, Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 20., 1999. CD-ROM. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4