Cursos (este foi realizado em maio) são freqüentes para os associados
União faz resultados
Com estímulo e apoio técnico, um grupo de 28 pequenos proprietários rurais
de São Pedro, SP, fundou a associação que deu origem à atual cooperativa local.
S
J. M. Nogueira de Campos
e a Cooperativa dos Produtores
Agropecuários de São Pedro
(Coopamsp), da cidade com esse
nome, no km 8 da rodovia São PedroBrotas, a cerca de 40 km de
Piracicaba, SP, decidir, no futuro,
inaugurar uma estátua para
homenagear alguém, ela será
certamente do médico veterinário
Ademir de Lucas. Extensionista do
Departamento de Economia,
Administração e Sociologia, da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq), de Piracicaba, foi ele,
efetivamente, a mola propulsora do
movimento que desembocou na criação
da cooperativa que, também, contou
com muito esforço de um grupo de
pequenos produtores do bairro Santo
Antônio, no Alto da Serra, um dos mais
aprazíveis locais da cidade turística de
São Pedro.
Ademir de Lucas e 28 pequenos
proprietários da região tiveram de dar
duro para chegar à cooperativa de hoje.
E essa não é uma força de expressão:
sem dinheiro, muito do que se construiu
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exigiu trabalho pessoal dos
Agropecuários do Município de São
interessados, eles próprios se juntando Pedro (Apamsp), em 1989, exatamente
em mutirão para realizar o necessário.
em 13 de abril. Era constituída de 38
Recursos foram levantados em
pequenos proprietários no Alto da
quermesses e festas de fim de semana, Serra, que obtiveram da Legião
as prendas para os habituais leilões
Brasileira de Assistência (LBA) um
desses eventos buscadas de casa em
financiamento para ser devolvido,
casa, quase sempre dos próprios
depois, a entidades assistenciais locais.
interessados.
Faltava, porém, maior suporte técnico
Hoje, a Coopamsp exibe um
ao grupo, que foi buscá-lo na Esalq, em
patrimônio na casa de R$ 1
Piracicaba, sem saber
milhão, conta com um
Bons resultados exatamente o quê fazer.
laticínio que processa 8.000
Acabaram encontrando o
animaram outros veterinário Ademir de Lucas,
litros de leite diários, mas
tem capacidade para 15.000, interessados: hoje, que propôs um projeto
e produz leite dos tipos B e
completo, no que se
corpo social já é denominou Grupo de
C, envasados em plástico, e
integrado por Extensão de São Pedro
iogurtes nas embalagens de
200 e 1.000 gramas, nos
91 produtores. (Gesp).
sabores morango, laranja,
Esse esquema de
pêssego, coco, abacaxi e
trabalho é realizado pelo
kiwi, colocados na região. O número de Departamento de Economia,
cooperado já soma 91, falta pouco para Administração e Sociologia da Esalq,
reunir todos os que, no Alto da Serra,
com apoio de professores de várias
têm seus sítios.
disciplinas e trabalho organizado de
alunos dos cursos da Escola. No Gesp,
Ademir é ainda hoje o coordenador, e
O COMEÇO
conta com nove estudantes, alguns
A cooperativa de hoje nasceu como
bolsistas e outros voluntários, mas
Associação dos Produtores
DBO MUNDO DO LEITE
Leite ainda chega
em latões ao
local do
processamento,
mas já se
tem tudo
planejado para
iniciar a coleta
granelizada.
todos com obrigações definidas de uma
visita semanal à cooperativa, para
atender às necessidades dos
cooperados.
Feito o levantamento das condições
locais, Ademir propôs estruturar a
associação e aproveitar os recursos da
LBA para dar mais consistência à
produção leiteira, por meio da
associação, mas só 28 quiseram
"correr o risco". E alguns desistiram no
meio do caminho, porque a batalha foi
mesmo dura: tudo tinha de ser feito
com o esforço e trabalho pessoal dos
interessados, não havia sequer um
local fixo para o pessoal se encontrar.
Lembra Ademir que, tendo sempre
presentes os objetivos fixados desenvolver o espírito cooperativista,
agir em conjunto e contribuir para a
melhoria das condições sociais,
econômicas e culturais do
local - a Apamsp não ficou
só no seu estrito âmbito de
ação: conseguiu uma
escola para o bairro, trouxe
o posto de saúde para a
comunidade e, nas épocas
de campanha política, até
sabatina candidatos e
promove debates com os
cooperados, mesmo sem
indicar nomes para votação.
e iniciou a construção de seu laticínio.
A obra só foi concluída três anos e
meio depois, pois não se fez qualquer
empréstimo ou buscou ajuda externa:
tudo foi feito com o trabalho e recursos
dos associados. Apenas no final da
construção, um dos produtores
emprestou R$ 70.000, "já pagos com
juros e correção monetária, conforme
combinado", como lembra Ademir. O
início das operações foi feito com a
coleta de 5.000 litros/dia, volume que,
após um ano e meio, já subia para
8.000 litros e obrigou à primeira
ampliação das instalações.
Paralelamente ao laticínio, construiu-se
o barracão para facilitar aos
cooperados a compra em conjunto de
medicamentos, vacinas, rações,
adubos, sementes e inseticidas para as
lavouras.
VALE A PENA
A COOPERATIVA
Em 1994, reduzida a 19
produtores, a associação se
transformou em cooperativa
12
Atualmente, o laticínio envasa leite
do tipo B e C em sacos plásticos e,
desde o início do ano, também produz
iogurte em seis sabores, que coloca no
mercado em embalagens cartonadas.
Por enquanto, a produção é distribuída
nas cidades de São Pedro, Piracicaba,
Santa Bárbara e Águas de São Pedro,
de forma terceirizada, em padarias,
bares e supermercados.
A coleta do leite ainda é feita em
latões, em três linhas, também por
caminhões contratados, que operam
num raio de 10 km do laticínio em sua
maioria. Os produtores recebem por
litro R$ 0,55, livres de carreto, sem
diferença entre o produto B e C, "dadas
as condições do mercado", segundo
revela Antônio Aristeu Soares,
presidente da Coopamsp desde 1997.
No varejo, o leite é entregue ao preço
médio de R$ 0,88 por litro.
Quanto ao iogurte, a fase
ainda é de promoção e
busca de maior visibilidade
do produto, mas "vai ganhar
valor agregado, com
maiores benefícios para os
cooperados", garante.
Ademir de Lucas foi o grande incentivador
DBO MUNDO DO LEITE
Antônio Aristeu Soares
considera que, mesmo
tendo na região laticínio
que pague mais pelo leite,
hoje, do que a cooperativa,
vale a pena permanecer no
projeto. Ele próprio serve
Produtos da cooperativa têm boa
colocação em municípios da
região, e gozam de prestígio.
limitando-se a entregar o leite
produzido e conhecer, no mês seguinte,
o preço que lhes seria pago. Agora, a
cooperativa é deles, e vai ser possível
"agregar valor à produção, com a
venda de iogurte", em cuja produção a
cooperativa põe muita esperança, por
"sua qualidade".
ADMINISTRAÇÃO ENXUTA
de exemplo. Dono do Sítio Pequena
Holanda, de apenas 7,2 hectares,
mantém ali um plantel de 30 vacas
Holandesas, 25 das quais, em média,
em lactação, do total de 55 cabeças.
Em 1990, lembra-se bem, possuía 10
vacas e não obtinha mais de 40 litros
de leite diários. Hoje, a média não
baixa de 480 litros.
Diz ele que pôde crescer graças à
assistência técnica que recebeu do
Gesp, pelas mãos de Ademir de Lucas
e "seus meninos", além de professores
da Esalq. Foi sob orientação deles, por
exemplo, que os 5 hectares sempre
utilizados para a produção de milho
para ensilar, de 70 toneladas/ano de
volumoso conservado, passaram a
render as atuais 250 toneladas/ano.
Mas não foi só a comida que
melhorou, enfatiza: a sanidade dos
animais e seu potencial genético
também ganharam com o apoio
técnico, facilitando-lhe a vida e
promovendo a melhoria da produção.
Seu companheiro de diretoria
Maurício Rodrigues Alves, também
Só agora
Milene Ângela
Veroneze ganhou
uma auxiliar
para trabalhar no
escritório.
Desde 1997, ela
responde,
sozinha,
pela parte
administrativa
da Coopamsp.
14
Ademir de Lucas elogia a disposição
dos produtores do Alto da Serra e,
conforme fez constar do folder de
apresentação da cooperativa, enfatiza
que "o trabalho vem dando certo
porque temos acreditado em nós e em
nossos companheiro, trabalhado de
forma organizada e contado com o
associado da primeira hora e eleito
apoio da Esalq, bem como do da
diretor administrativo na mesma chapa, comunidade e de outras entidades".
completa o raciocínio do presidente e
Mas não são apenas esses os fatores
garante que, agora, os produtores do
dos bons resultados alcançados. O
Alto da Serra já não dependem mais
aprimoramento técnico dos produtores
dos laticínios que vinham buscar leite
não é descurado, e a Coopamsp dá os
na região.
passos que lhes permitem as pernas,
Embora tenha como negócio
sem avançar o sinal.
principal a exploração do turismo rural
Uma das boas coisas que
na Pousada Recanto das Seriemas, no acontecem regularmente na
Alto da Serra, Maurício mantém, pelas
cooperativa são os cursos de formação
mãos do filho Márcio, um
realizados com apoio do
pequeno plantel de oito vacas
do Senar e da
Administração Sebrae,
Holandesas puras de origem,
Esalq. No início de maio,
do laticínio é
que lhe dão para entrega
por exemplo, promoveu, na
diária à cooperativa pelo
enxuta e seus três escola estadual que fica ao
menos 200 litros de leite,
lado do laticínio e obtida
diretores abrem por pressão dos
mantendo a boa média de 25
litros/cabeça/dia. No total,
mão de qualquer cooperados, mais um
são 15 os animais da raça na
remuneração deles, com 22 inscritos. O
propriedade, que tem área
objetivo era capacitar os
total de 24 hectares.
produtores nas áreas de
Antes da cooperativa, lembra
organização, custos de produção,
Maurício, a Nestlé e um laticínio de Rio comercialização e administração de
Claro coletavam o leite na região, mas
seu negócio. Para facilitar a freqüência,
os produtores não tinham qualquer
o curso foi dividido em quatro módulos,
chance de interferir no processo,
com reuniões por dois dias em
cada módulo.
Outra característica da Coopamsp é
não inchar sua administração. Além dos
diretores - que não recebem qualquer
remuneração ou ajuda de custo, tendo
pagas apenas as despesas de viagem
necessárias ao mandato -, há sete
funcionários efetivos, incluindo os vigias,
mais um que responde pelo barracão de
insumos. Na parte administrativa, até
pouco tempo, só atuava Milene Ângela
Veroneze, admitida em 1997, que só
agora, dada a carga de trabalho, está
ganhando uma auxiliar, Teresa Cristina
Lopes Moreira.
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