“ entrevista
QUEITEQ
Cooperativa dos Produtores de Leite
de Ovinos da Terra Quente, CRL
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Ficha Informativa
Nome
QUEITEQ - Cooperativa dos Produtores
de leite de ovinos da Terra Quente, CRL
Contactos
Quinta Branca - Torre de Moncorvo
516-114 LARINHO
(Tel) 279 258 090
(Fax) 279 258 098
(Email) [email protected]
Fundação 1994
“A Cooperativa permite o desenvolvimento
e a dinamização da actividade na região”
Dinis Alves Cordeiro, Presidente da Cooperativa
animal. O queijo que não pode ser certificado porque não obedece às normas exigidas
pela certificação é vendido com a denominação de “Queijo Curado de Ovelha”. Neste
momento a cooperativa tem também o licenciamento para a produção do requeijão,
um dos produtos mais procurados e apreciados na região.
A Queitec desempenha um papel essencial
de apoio à actividade agrícola na região. Como descreve e avalia o papel desempenhado
pela Cooperativa?
A Queitec surgiu porque sentimos necessidade
de intervir no mercado do leite, de modo a podermos proporcionar melhores condições aos produtores da região.
Antigamente, vinham recolher o leite alguns indivíduos da zona de Celorico da Beira, que o aproveitavam para fazer queijo da serra, pagando o leite
a um preço inferior ao seu valor. Na altura criámos
a Queitec e entrámos no mercado. Logo no início
começámos a pagar o leite a um preço superior
ao que os produtores recebiam anteriormente. Os
sócios, inicialmente, mostraram algumas dúvidas
em aderirem, porque já estavam habituados a uma
certa rotina, mas, aos poucos, começaram a aderir e tivemos de facto um grande crescimento no
número de sócios.
Com esta iniciativa, conseguimos gerar mais-valias superiores para o produto que o agricultor tinha, para além de garantirmos a continuidade da
actividade e da raça.
O papel da Cooperativa é, essencialmente, permitir que as pessoas mantenham os seus rebanhos e as suas ovelhas, proporcionando-lhes condições que permitam dinamizar e desenvolver a
actividade na região.
Como avalia o estado actual das actividades
que a Cooperativa representa?
Todos sabemos que neste momento o sector do
leite não atravessa um momento fácil. Existe muita oferta, chegando ao mercado queijos mais baratos, mas que, não têm a qualidade desejada, o
que dificulta muito uma concorrência leal.
Julgo que se não fosse a Cooperativa a receber o
leite e a fazer este trabalho de produção de queijo,
os nossos sócios provavelmente só teriam metade do efectivo que têm neste momento e, provavelmente, muitos deles deixariam de apostar nesta actividade ou na Raça Churra da Terra Quente,
que, em meu entender, faz parte da cultura e
identidade da região. Para além disso, perderíamos também um importante capital económico que são os produtos tradicionais certificados,
neste caso o queijo.
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Dinis Alves Cordeiro
- Presidente da Cooperativa
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A
QUEITEQ - Cooperativa dos Produtores de Leite de Ovinos da Terra
Quente, C.R.L., foi constituída no dia
24 de Novembro de mil novecentos
e noventa e quatro e tem a sua sede na Quinta Branca- Larinho –Torre de Moncorvo.
Esta Cooperativa tem a sua zona geográfica
de produção em 4 concelhos: Torre de Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro
e Vila Nova de Foz Côa.
A Queiteq foi criada para responder às dificuldades dos sócios da Ancoteq (Associação
Nacional de Criadores de Ovinos da Churra
da Terra Quente) uma vez que se deparavam com muitas dificuldades em escoar os
produtos derivados de ovelha, ou seja o leite a lã e a carne.
Assim, a Queiteq recolhe diariamente o leite
de todos os sócios dos 4 concelhos e transforma-o na queijaria situada na Quinta Branca - Torre de Moncorvo. Neste momento tem
duas denominações de origem protegida o
Queijo Terrincho e o Queijo Terrincho Velho. Estes queijos são produzidos pelo método tradicional com o leite cru das ovelhas
da raça churra da Terra Quente e com coalho
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É importante referir que a pastorícia foi uma das actividades mais importantes da Terra Quente e Vale
do Douro Superior. Os rebanhos de ovinos da Raça
Churra da Terra Quente, aqui explorados e com atributos zootécnicos bem ajustados a esta zona, representam a principal actividade pecuária. A raça ovelha Churra da Terra Quente distingue-se de todas
as outras raças existentes pelos chifres e lã extensa e que as protege do clima agreste transmontano. Importante para a qualidade do leite, com características únicas, é a alimentação natural desta raça.
As características geográficas (montes, planaltos secos, relevo ondulado e encostas escarpadas) e climatéricas (uma estação fria e chuvosa outra quente e
seca) influenciam o tipo de alimentação, sendo que
o seu principal recurso são as pastagens espontâneas. As ovelhas alimentam-se essencialmente de
giestas, urzes, estevas, silvas, ervas, trevos, folhas
de oliveira, folhas de amendoeira, freixo, carvalho e
vinha. É esta alimentação rica e variada, associada
a um maneio tradicional, que contribui para que a raça Churra da Terra Quente, produza um leite com características únicas, que se reflecte na qualidade final do nosso Queijo.
Nestes últimos tempos quais os projectos realizados pela Cooperativa que mais gostaria
de destacar?
Sempre procurámos estar actualizados em termos
de instalações e equipamento, procurando acompanhar as evoluções que vão surgindo neste âmbito.
Podemos dizer que esta é uma preocupação constante nossa, porque as nossas condições de trabalho e produção reflectem-se na qualidade do produto
final. Para além disso, implementámos uma rede que
permite que ande sempre alguém da Cooperativa a
efectuar recolhas de leite, de modo a podermos precisamente controlar a qualidade do produto.
Procuramos também apoiar e acompanhar sempre
os nossos sócios quando estes sentem necessidade de apresentar projectos. Nesse sentido, já foram
efectuados projectos para alguns melhoramentos
de estábulos, para melhoramento das salas de ordenha, entre outros.
Interessa no entanto sublinhar que tudo isto é feito,
sempre a pensar na qualidade do produto final.
Como caracteriza a linha de Produtos de qualidade que a Cooperativa coloca ao dispor do consumidor.
Actualmente temos o Queijo Terrincho e Queijo Terrincho Velho, ambos certificados, o que nos permite gerar mais valias superiores para os nossos associados. Para ser certificado tem que obedecer a
algumas normas de produção de acordo com o caderno de encargos.
O queijo Terrincho é um queijo curado, resultante do
esgotamento lento da coalhada após a coagulação
do leite de ovelha cru extreme, com coalho de origem
animal e de fabrico artesanal. O queijo Terrincho Velho é o queijo Terrincho curado com 90 dias e untado com colorau (ou massa de pimentão).
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Actualmente estamos a produzir o Queijo
Terrincho com cerca de 800 g. Como para alguns consumidores poderia ser muito, lançámos no mercado as metades de Queijo Terrincho e, desta forma, temos conseguido chegar
a mais consumidores.
Neste momento, estamos a tentar regularizar
os cadernos de encargos para podermos fazer
o queijo em azeite, para vender em frascos.
Todo o queijo que não é certificado é vendido
sob a denominação de “ Queijo Curado de Ovelha” com a marca Quinta Branca curado e não
curado, feito com o mesmo leite e que chega
ao mercado um pouco mais barato.
Neste momento a Cooperativa tem também
o licenciamento para a produção do requei-
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O nosso lema tem sido a qualidade
do produto acima de tudo, o que se
tem reflectido nas mais-valias que
temos conseguido.
1 › Linha de produtos
da Cooperativa
2 › Loja da Cooperativa
3 › Ovinos da Região
4 › Queijaria
a Cooperativa também é dele e que
está lá para os ajudar, é meio caminho andado.
Qual tem sido a estratégia de comercialização seguida?
A Queiteq é responsável pela comercialização dos
seus produtos. O mercado de destino do Queijo
Terrincho é essencialmente para as grandes superfícies nacionais e lojas de produtos regionais. O
queijo Quinta Branca Curado é vendido 25% para
o comércio tradicional, 12% directamente ao consumidor e 69% para empresas transformadoras e
embaladoras (inclui cadeias de supermercados).
Quais são os objectivos/ projectos que a Cooperativa gostaria de alcançar no futuro?
Para mim o mais importante e o nosso maior mérito
é o de conseguirmos que a Cooperativa consiga, no
futuro, como o tem feito até hoje, continuar a garantir a manutenção dos associados na actividade. Que
os associados mantenham as suas ovelhas e que
não deixem acabar nem a actividade, nem as raças,
que são tão nossas e que constituem um elemento
cultural da região. Se não fossem as Cooperativas
estou convencido que mais ano menos ano a actividade ia desaparecendo gradualmente.
Qual a avaliação que faz da Aplicação do Proder em termos nacionais e regionais?
Acho que tem sido um programa com pouca efectividade no terreno. Não tem constituído uma boa
ajuda para a agricultura porque é demasiado burocrático e todos os procedimentos são demasiado
complicados. A agricultura precisava de um programa que simplificasse e não complicasse, que
fosse eficiente e que disponibilizasse em tempo
útil e de forma célere os apoios que o sector tanto precisa. Era necessário simplificar os projectos
e todos os procedimentos envolvidos.
Como avalia a actual situação do Cooperativismo agrícola ?
Para ser franco penso que o sector melhorou. Actualmente noto que as pessoas estão mais conscientes daquilo que é uma Cooperativa. Penso que
a consciência de cada um mudou um pouco e já
encaram a Cooperativa de uma maneira diferente. Já aderem mais às Cooperativas e já as entendem. Já as vêem como parceiros e reconhecem o
trabalho feito em prol dos sócios. Isto já é muito
positivo. Sabendo o que é uma Cooperativa, que
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Que mensagem gostaria de deixar a todos os
associados, clientes e potenciais clientes e população de uma maneira geral?
Aos sócios gostaria de dizer que continuem com a
Cooperativa, pois nós estaremos sempre com eles.
Aos que ainda não são sócios, que adiram, porque
a Cooperativa está aqui para desenvolver um trabalho em prol de todos eles e da actividade que representam.
Aos consumidores gostaria de pedir que consumam
o produto nacional porque, são produtos de uma
qualidade inequívoca.
Para a sociedade em geral gostaria que olhassem
para os agricultores e para a agricultura de uma maneira diferente, sem desprezo. A meu ver até vamos
necessitar que a agricultura seja valorizada, porque
com a crise em que estamos mergulhados, a agricultura pode vir a desempenhar um papel fundamental. A meu ver, aqui o exemplo veio de cima,
porque os próprios poderes políticos nunca valorizaram a agricultura como deveriam e nunca se definiu uma estratégia para o sector.
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jão, um dos produtos mais procurados e apreciados na região.
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A Cooperativa tem conseguido bons
resultados e tem conseguido a dinamização da actividade na região,
qual tem sido a estratégia?
Os resultados são fruto de um trabalho árduo e de qualidade que se reflecte no produto final. Fazemos um bom produto, de
qualidade inequívoca, com um sistema tradicional e
nunca adulterando a sua qualidade, como é feito em
alguns sítios, através da mistura de leites.
Fazer um bom produto custa, mas estragá-lo é fácil. O nosso lema tem sido a qualidade do produto
acima de tudo o que se tem reflectido nas mais-valias que temos conseguido.
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