AMAMENTAÇÃO E OS SEUS MITOS
Passar pela experiência da maternidade é maravilhoso. Durante a gravidez todo o
corpo da futura mãe prepara-se para uma nova função – a amamentação. Há várias
questões a que os pais que esperam um filho devem responder antes do parto. Uma
delas é decidir como o bebé vai ser alimentado logo após o nascimento. Apesar de a
amamentação ser um processo natural, já não é o que era, uma vez que os
conhecimentos sobre a amamentação raramente passam de geração em geração. Além
disso, existem muitos mitos ou histórias que afastam as mães da amamentação, em vez
de as encorajar.
Desde que as mães o desejem, quase todas podem amamentar sem dificuldade. O
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica poderá
fornecer informação correta sobre a forma de o fazer, assim como ajudá-la na
eventualidade de surgir um problema. Quanto mais informação obtiver sobre a
amamentação antes do parto, maior será a probabilidade de sucesso com a amamentação
e seu prolongamento. Um pai bem informado, com uma atitude positiva face à
amamentação pode ajudar muito a sua companheira.
Leite materno é “ouro líquido” – O leite materno é o melhor alimento para o bebé e o
contato da pele com o corpo, durante a amamentação, resulta numa relação íntima de
cumplicidade entre a mãe e o bebé. A amamentação beneficia o bebé, a mãe e toda a
família. Corresponde exatamente às necessidades do bebé e adapta-se a elas,
repetidamente, uma vez que estas alteram-se ao longo do tempo. A produção de leite
materno adapta-se automaticamente à procura e o esvaziamento frequente e completo da
mama estimula a sua produção.
O leite materno está disponível rapidamente, sempre à temperatura correta, é
perfeitamente higiénico, além de aliviar a pressão no orçamento familiar. Protege o bebé
contra infeções e outras doenças como gastroenterites e alergias. A longo prazo, evita
doenças crónicas como a diabetes e obesidade.
A amamentação também beneficia a mãe, ajudando o útero a regressar ao tamanho
normal, protege-a contra vários tipos de cancro e reduz o risco de osteoporose.
Por todos estes motivos é que a Organização Mundial de Saúde e a UNICEF
recomendam a amamentação exclusiva até aos seis meses de idade seguida de
amamentação parcial até aos dois anos de idade.
O primeiro contato visual com o bebé é, normalmente mágico. Desde o início, o
bebé tem uma personalidade própria, incluindo a forma como mama. É a partir desta
fase que os pais se vêem confrontados com um misto de sentimentos e experiências.
Normalmente a insegurança está sempre associada ao cocktail de emoções. Inicia-se,
muitas vezes, a partilha de conselhos e sugestões por parte de familiares e visitantes. E
surgem os mitos…subjacentes a experiências pessoais, vivências e também a aspetos
culturais.
Mitos mais frequentes, sobre a amamentação, na nossa sociedade:
 A maioria das mulheres não produz leite suficiente. Na verdade, a maioria
das mulheres produz leite em superabundância. O problema não é a quantidade
de leite que a mãe produz, mas sim, a quantidade de leite que o bebé consegue
receber da mãe. Por isso, é extremamente importante haver uma pega adequada
(forma como o bebé abocanha a mama da mãe), um início precoce do
aleitamento materno (na primeira hora após o nascimento) de modo a que haja
uma estimulação precoce da produção de leite materno e não oferecer biberão ou
chupetas ao recém-nascido enquanto a amamentação não estiver bem
estabelecida (4 a 6 semanas após o nascimento).
 O leite de algumas mães é fraco: Não há leite materno fraco ou forte. Pode
acontecer que o bebé não esteja a receber o leite materno em quantidade
suficiente. Daí a importância de uma pega adequada. É também comum
comparar-se o leite materno com o de vaca. Naturalmente, são alimentos
completamente diferentes, pois provêm de mamíferos distintos. O leite materno
é preparado para bebés, cuja cor, textura e consistência vão-se modificando
consoante as necessidades específicas do bebé e não é branco como o leite de
vaca.
 A mãe que amamenta não deve consumir café, chocolate, bebidas
gaseificadas, feijão, grão, couve verde escura, laranja, etc. Na verdade, não
fará mal se as mães se absterem de café, chocolate e bebidas gaseificadas, pois
não têm qualquer valor nutricional. Os restantes alimentos não deverão ser
restringidos porque são importantes nutricionalmente. Além disso, a sua
restrição reduz a experiência de sabores ao latente com potencial prejuízo na
diversificação alimentar. É importante que a dieta materna seja variada e
equilibrada. Nenhum alimento saudável deve ser evitado, a não ser que a mãe
identifique claramente que o seu bebé reagiu mal a determinado alimento
potencialmente alergénico.
 É normal a amamentação ser dolorosa. A sensibilidade nos mamilos é
frequente nos primeiros dias. Qualquer dor nos mamilos que ultrapasse o 4º ou
6º dia, não deve ser ignorada. Frequentemente, a causa desta dor é a pega
incorreta por parte do bebé, que faz com que o mamilo da mãe seja pressionado
e ferido contra o palato duro do bebé. A pega ineficaz também impede que o
bebé esvazie a mama corretamente, recebendo uma quantidade de leite materno
menor e comprometendo o processo da lactação. Pode acontecer que a dor
apareça mesmo com a amamentação bem estabelecida, enquanto a mãe
amamenta. Esta dor pode ser causada por uma infeção em que a mãe deverá ser
tratada (aréola) assim como o bebé (sapinhos e eventual eritema nas nádegas),
de forma a normalizar a situação.
 É importante oferecer água ao bebé, especialmente em dias de calor. Se a
amamentação for exclusiva (alimentação só com leite materno), a quantidade de
água necessária para o bebé é obtida através do leite materno. Deve permitir que
o bebé mame quantas vezes quiser – amamentação com horário livre. Nos dias
de calor ou se o bebé tiver sede, deve oferecer leite materno.
 Tirar leite com extrator manual ou elétrico é uma boa maneira de controlar
o leite que o bebé ingere. A ocitocina é uma das hormonas importantes na
lactação e é estimulada através do toque, do olhar e de ouvir o bebé, também
conhecida pela “hormona do amor” e é bloqueada pela preocupação,
insegurança, dor e stress. Consegue imaginar o afeto de uma mãe por uma
bomba extratora? Um bebé que faz uma pega adequada consegue tirar mais leite
diretamente da mama do que a mãe através do extrator. Extrair o leite só
demonstra a quantidade que a mãe consegue tirar naquele momento. No entanto,
a extração é útil, mas deve ser reservada para ocasiões em que a mãe não pode
amamentar.
 Quando as mamas estão moles, é sinal de pouco leite ou que o leite secou. É
uma preocupação comum quando a amamentação não está bem estabelecida.
Acontece que deixa de haver aquela sensação de mamas cheias ou vazias porque
a amamentação está regulada de acordo com as necessidades do bebé, bem como
a disponibilidade da mãe. Sabe-se que, pela anatomia e fisiologia da mama, esta
não funciona como um depósito. O leite é produzido logo após o bebé ter
esvaziado a mama em resposta a mecanismos hormonais.
Existem muitos mais mitos, na nossa sociedade, sobre a amamentação, que este
jornal inteiro não seria suficiente para desvendar. Aqui fica um conselho para as
mães que querem amamentar: desde cedo, durante a vigilância pré-natal procurem
esclarecer todas as vossas dúvidas junto do Enfermeiro Especialista em Enfermagem
de Saúde Materna e Obstétrica, de modo a que, desde o nascimento dos vossos
filhos se minimize a ocorrência de problemas e se consiga manter a amamentação
pelo menos no tempo recomendado.
Dídia Campos
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica
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