O futuro das cidades Wilson Benício Siqueira - Presidente do CORECON-MG Artigo publicado no jornal Estado de Minas em 12/11/08 Os prefeitos que vão tomar posse em 1º de janeiro certamente vão trabalhar com o orçamento reduzido. Com a disseminação dos efeitos da crise econômica mundial e a provável desaceleração da economia brasileira, o grande desafio dos novos chefes dos executivos municipais será equacionar a provável queda da arrecadação com os compromissos assumidos nas campanhas e as necessidades de investimento em infra-estrutura, saúde, educação, transporte coletivo, saneamento básico e lazer. As alternativas que se apresentam não são animadoras para os gestores recém-eleitos – a maioria dos 5.564 municípios depende das receitas de transferência dos repasses constitucionais, à frente as fatias do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), da União, e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), dos estados. O estudo “As finanças municipais em 2007”, da organização não-governamental Transparência Municipal, mostrou que boa parte da receita orçamentária das cidades (67%) é composta por transferências constitucionais e voluntárias, 17,1% de receitas tributárias e 15,9% de outras fontes. A União, que centraliza grande parte do bolo tributário – estima-se que, de cada R$ 100 que o cidadão paga em tributos, R$ 64 vão para o governo federal, R$ 23 para os estados e R$ 13 para os municípios –, já começa a calcular a queda na arrecadação para o próximo ano. Estudos do Ministério do Planejamento apontam para uma redução de R$ 15 bilhões, sendo R$ 10 bilhões na arrecadação de tributos e R$ 5 bilhões em royalties de petróleo. Soma-se a isto o fato de o governo federal já ter reduzido a previsão inicial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2009 de 6% para algo em torno dos 3,8%. Esta situação configura uma dificuldade enorme para os novos prefeitos e o Brasil precisa caminhar para uma reforma tributária que busque repactuar a divisão dos recursos tributários, levando os municípios a aumentar sua participação. Solução que, infelizmente, não está contemplada no Projeto de Emenda à Constituição 233/08, que tramita lentamente no Congresso Nacional. Por outro lado, os municípios precisam investir no aumento da receita própria, proveniente da arrecadação dos tributos municipais, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN), Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e as taxas. Atualmente, somente em dois municípios brasileiros (São Paulo e Rio de Janeiro), de acordo com estudo da Transparência, a receita própria supera, e por pouco, as transferências constitucionais. Há ainda o quadro de concentração de recursos que tende a se perpetuar, tanto nas regiões geográficas brasileiras quanto dentro dos próprios estados. As regiões que mais produzem são conseqüentemente as que mais arrecadam e as que recebem maior cota de repasses. Em Minas Gerais, metade do PIB é concentrado em apenas 16 das 853 cidades do estado. Só Belo Horizonte e Betim respondem por 25% do PIB mineiro. No caso específico da capital mineira, a crise pode obrigar a prefeitura a reduzir o Orçamento de cerca de R$ 6,1 bilhões para 2009, e as autoridades da área financeira já admitem que, num cenário de crise, os primeiros recursos a serem comprometidos são os de investimentos, algo em torno de R$ 500 milhões. É justamente nesta rubrica que estão inseridas obras de infraestrutura reivindicadas pela comunidade e aprovada no Orçamento Participativo (OP), um dos grandes trunfos das administrações petistas. A maior ousadia da administração do prefeito eleito, Márcio Lacerda, seria a remodelação das comunidades carentes do entorno de BH, com a continuidade e ampliação de obras semelhantes às do Programa Vila Viva e o aumento de recursos para as obras do OP, grande avanço da participação popular na administração da cidade, pois é a voz da comunidade apontando as intervenções necessárias. Se a cidade melhora, seguem atrás o estado e o país, pois é na cidade que o cidadão vive.