UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO – USF CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS ENGENHARIA CIVIL PAULO CESAR BONON ESTUDO ANALÍTICO DA REDUÇÃO DE PERDAS DE ÁGUA VIA TECNOLOGIA DE AUTOMAÇÃO E CONTROLE Dezembro de 2006 PAULO CESAR BONON Monografia apresentada junto à Universidade São Francisco – USF como parte dos requisitos para a aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Área de concentração: Saneamento Orientador: Prof. Dr. ALBERTO FRANCATO Itatiba SP, Brasil Dezembro de 2006 ii “Um pouco de ciência afasta-nos de Deus; muita ciência nos leva a Ele”. Joubert iii A minha mãe Euza. iv AGRADECIMENTOS Ao concluir este trabalho, meus agradecimentos aos professores Júlio Soriano e Alberto Francato pela orientação, compreensão e respeito aos meus limites. Em especial, a Luciana Arantes de Andrade pelo incentivo e motivo maior pelo meu retorno a universidade. v SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... vii LISTA DE TABELA............................................................................................ viii LISTA DE FORMULAS...................................................................................... ix LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS....................................................... x RESUMO............................................................................................................ xi PALAVRAS-CHAVE........................................................................................... xi 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 1 1.1 Objetivo........................................................................................................ 2 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................... 3 2.1 Avaliação de perdas................................................................................... 3 2.1.1 Perdas por parte do processo................................................................ 4 2.1.2 Subdivisão do sistema de abastecimento de água.............................. 4 2.1.3 Origem e magnitude das perdas físicas por subsistema..................... 5 2.1.4 Perdas na captação/adução de água bruta........................................... 5 2.1.5 Perdas no tratamento.............................................................................. 6 2.1.6 Perdas na reservação.............................................................................. 7 2.1.7 Perdas na adução de água tratada......................................................... 7 2.1.8 Perdas na distribuição............................................................................. 8 2.2 Indicadores básicos de desempenho....................................................... 13 2.2.1Índice de perda na distribuição (IPD) ou água não contabilizada (ACN).................................................................................................................. 13 2.2.2 Índice de perda de faturamento (ipf) ou água não faturada (anf)........ 14 2.2.3 Índice linear bruto de perda (ibl)............................................................ 14 2.2.4 Índice de perde por ligação (ipl)............................................................. 15 2.2.5 A vazão mínima noturna.......................................................................... 18 3 METODOLOGIA.............................................................................................. 20 vi 4 RESULTADOS................................................................................................ 25 4.1 Diminuição das perdas no sistema de abastecimento............................ 30 5 CONCLUSÕES................................................................................................ 35 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 36 vii LISTA DE FIGURAS 2.1 Vazamentos na rede de distribuição....................................................... 10 2.2 Vazamentos na ligação predial................................................................ 11 2.3 Relação do índice de vazamento com a pressão................................... 18 2.4 Componentes de vazão mínima noturna................................................. 19 3.1 Esquema simplificado do sistema de recalque de água....................... 21 3.2 Características de controle do sistema hidráulico................................. 22 3.3 Válvula tipo “anti-slam” instalada junto ao by-pass do reservatório... 23 3.4 Sensor de pressão instalado na saída do reservatório......................... 23 3.5 Indicador e transmissor de sinal 4-20mA proporcional a pessão........ 24 3.6 Inversor de freqüência para acionamento do motor da bomba de recalque............................................................................................................. 24 4.1 Comparação do consumo de energia elétrica da ETA........................... 26 4.2 Características da bomba de recalque KSB ETA 150-50....................... 28 4.3 Vazão aduzida pelo “by-pass” antes (28/02/2000) e depois (25/02/2002) da setorização da rede de distribuição de água...................... 29 4.4 Pressão no “by-pass” antes (28/02/2000) e depois (25/02/2002) da setorização da rede de distribuição de água................................................. 30 4.5 Gráfico de pressão..................................................................................... 31 4.6 Gráfico de pressão e vazão....................................................................... 32 4.7 Gráfico de volumes.................................................................................... 33 4.8 Gráfico de volumes 2................................................................................. 33 viii LISTA DE TABELAS 2.1 Perdas física por subsistema, origem e magnitude............................... 5 4.1 Comparação do consumo de energia elétrica da ETA........................... 26 ix LISTA DE FÓRMULAS 2.1 Índices de perdas na distribuição............................................................ 14 2.2 Índices de perdas de faturamento........................................................... 14 2.3 Índice linear bruto de perdas.................................................................... 15 2.4 Índices de perdas por ligação.................................................................. 15 2.5 Relação entre pressão e vazão................................................................ 17 4.1 Altura manométrica................................................................................... 27 4.2 Potencia requerida.................................................................................... 28 4.3 Número de habitantes atendidos............................................................. 34 x LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS Letras romanas: W: Watt Hz: Hertz Abreviaturas: mca: Metro de coluna d’água cv: Cavalo vapor ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas ETA: Estação de tratamento de Água IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística RPM: Rotação por minuto xi RESUMO Este trabalho visa o estudo da redução de perdas físicas de água em um sistema de distribuição localizado na cidade de Valinhos-SP. Para diminuição de tais perdas utilizou-se um sistema de bombeamento para controle de pressão na rede de abastecimento equipado com um inversor de freqüência, um manômetro digital e um controlador lógico programável com referência horária. No estudo, o inversor foi programado com dois pontos de referência: um para 30 mca e outro para 15 mca. Estes dois pontos foram acionados pelo programador horário, que das 11:00h as 5:00h assumia a referência de 15 mca e das 5:00 as 22:00h a referência era de 30 mca. O controle da pressão foi feito pelo manômetro digital que enviava sinal de 4 a 20 mA para o inversor e este diminuía ou aumentava a rotação da bomba procurando sempre o ponto de operação, variando a vazão e mantendo a pressão constante. Dos resultados, conclui-se que o controle de pressão na rede de distribuição, principalmente nos horários de baixo consumo, é bastante eficaz na diminuição das perdas físicas em sistemas de abastecimento de água. Demonstrou-se neste trabalho que com uma redução de pressão da ordem de 15 mca, no período de baixo consumo, obteve-se uma redução de perdas da ordem de 6,16%. PALAVRAS-CHAVE: Redução de perdas físicas, Instalação de bombeamento, Distribuição de água. 1 1 INTRODUÇÃO Através dos séculos, os diferentes usos da água pelo homem aumentaram excessivamente, resultando em degradação ambiental e poluição. A deterioração das fontes de água está relacionada com o crescimento e a diversificação de atividades agrícolas, aumento da urbanização e intensificação de atividades humanas nas bacias hidrográficas. O uso intenso sem os devidos cuidados, coloca em risco a disponibilidade deste precioso recurso e gera problemas de escassez em muitas regiões do país e no mundo. A água existe, porém encontra-se cada vez mais comprometida em função do mau uso e da gestão inadequada deste recurso. O Brasil concentra em torno de 12% da água doce do planeta, Essa água, no entanto, encontra-se distribuída de forma irregular em nosso território e as grandes reservas não coincidem geograficamente com as grandes cidades onde se concentra grande parte da população. Aliam-se a este fato, as formas de utilização e má gestão da água, em especial nas regiões densamente urbanizadas, com conseqüências graves sobre a qualidade e que resulta em perda de disponibilidade deste recurso em condições adequadas para o abastecimento a população. Comparando os dados de 1989 com os de 2000 do INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -IBGE, é possível verificar que o volume de água distribuída aumentou, passando de 200 litros para 260 litros habitantes/dia. O numero de estações de tratamento de água também aumentou, porém não em suficiente para atender a toda população. Este dado pode ser verificado pelo aumento de água distribuída sem tratamento, que passou de 3,9% em 1989, para 7,2% em 2000. Esse aumento aconteceu em todas as regiões do país, com exceção do Centro-Oeste, e foi mais acentuada na região Norte. A ampliação do acesso à água devidamente tratada deve ser vista como prioridade e sempre acompanhadas de programas de redução de perdas nas redes. Estima-se que o desperdício de água nos sistemas públicos de abastecimento seja em média 40% do volume ofertado. (SNIS, 2004) Para a redução dessas perdas são necessários programas que envolvam fiscalização de ligações clandestinas, substituição de redes velhas, manutenção de hidrômetros, pesquisas de 2 vazamentos, redução de pressão nas redes de abastecimento, entre outros inúmeros procedimentos. Além das medidas estruturais para minimizar as perdas nas redes, é necessária a fiscalização de usos e da ocupação nas áreas de mananciais, de forma a evitar a degradação das fontes de água, juntamente com campanhas de esclarecimentos a população sobre o adequado uso deste importante recurso natural. 1.1 Objetivo O presente trabalho terá como objetivo o estudo de redução de perdas físicas de água em um sistema de abastecimento com a implementação de tecnologia de controle e automação. Em segundo plano apresentam-se os conceitos fundamentais sobre perdas em um sistema de abastecimento público de água, com ênfase na redução de pressão. 3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Avaliação das Perdas A estimativa das perdas de água em um sistema de abastecimento de acordo com a COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO SABESP (1999), se dá por meio da comparação entre o volume de água transferido de um ponto do sistema e o volume de água recebido em um ou mais pontos do sistema, situados na área de influência do ponto de transferência. As perdas físicas são representadas pelas águas que efetivamente não chegam ao consumidor, em função de vazamentos nos ramais prediais, nas redes de distribuição e nos reservatórios e etc., os vazamentos podem ser visíveis ou não visíveis. As perdas não físicas são aquelas decorrentes de imprecisão da medição nos hidrômetros, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastramento da companhia. Nestes casos, de alguma forma a água é consumida, mas não é medida, acarretando perda de faturamento. A identificação e separação das perdas físicas de água das não físicas são tecnicamente possíveis mediante pesquisa de campo, utilizando a metodologia da análise de histograma de consumo das vazões macromedidas. Nesse caso, a oferta noturna estabilizada durante a madrugada, abatendo-se os consumos noturnos contínuos por parte de determinados tipos de usuários do serviço como fábricas, hospitais e outros, representa em sua quase totalidade a perda física no período pesquisado, decorrente de vazamentos na rede ou ramais prediais. A perda não física será a diferença entre a perda total de água na distribuição, isto é água não contabilizada e a perda física levantada. Em sistemas de abastecimento de água em que o índice de micromedição aproximese de 100%, as ligações clandestinas tenham pouca importância, exista eficaz programação permanente de adequação e manutenção preventiva de hidrômetros e combate às fraudes nos micromedidores e ramais clandestinos, as perdas mensuráveis tendem a refletir as perdas físicas de água. Em relação às perdas físicas na rede distribuidora, nos ramais prediais registra-se a maior quantidade de ocorrências de vazamentos. Isso nem sempre significa, porém, 4 que esta seja a maior perda em termos de volume. As maiores perdas físicas na distribuição, em volume, ocorrem por extravasamento de reservatórios ou em vazamentos nas adutoras de água tratada e nas tubulações da rede de distribuição. 2.1.1 Perdas por Parte do Processo No sistema de abastecimento, segundo o relatório do PROGRAMA NACINAL DE COMBATE AO DESPEDICIO DE ÁGUA - PNCDA (1999), as perdas de água deverão ser avaliadas levando-se em consideração os subsistemas integrantes do processo de produção, no que se refere à comparação das quantidades de matériaprima, neste caso água bruta com o produto final, e distribuição, no que tange ao produto água tratada ofertada. A redução das perdas físicas permite diminuir os custos de operação e manutenção do sistema, e aperfeiçoar a utilização das instalações existentes, propiciando o aumento da oferta de água tratada sem que haja expansão do sistema produtor. 2.1.2 Subdivisão do sistema de abastecimento de água As causas e a magnitude das perdas, assim como a natureza das ações para seu controle, podem ser sensivelmente diferentes nos diversos componentes de um sistema de abastecimento de água. É desejável que o controle de perdas seja feito por subsistema. Pode-se dividir o programa de controle nos seguintes subsistemas; Adução de Água Bruta que compreende a captação e adução de água bruta; Tratamento ou unidade de tratamento simplificado; Reservação; Adução de Água Tratada que consiste nas adutoras e subadutoras de água tratada e instalações de recalque; e distribuição que consiste na rede de distribuição de água tratada e ramais prediais. Essa subdivisão facilita o diagnóstico das perdas no sistema de abastecimento e a orientação para ações preventivas e corretivas. Por exemplo, as perdas nas ETA ocorrem de forma concentrada e, mesmo que sejam pequenas percentualmente, em termos de vazão podem ser significativas, podendo propiciar retornos rápidos com simples melhorias operacionais ou reparos estruturais. No caso das perdas no subsistema de reservação, o mesmo fato pode ocorrer, implicando também em ações corretivas de caráter localizado. Já no caso da distribuição, que inclui os ramais prediais, as perdas, muitas vezes elevadas, estão dispersas. 5 2.1.3 Origem e Magnitude das Perdas Físicas por Subsistema As origens e magnitudes das perdas físicas por subsistema podem ser representadas esquematicamente, conforme Tab. 2.1. TABELA 2.1 - Perdas Físicas por Subsistema: Origem e Magnitude SUBSISTEMA PERDAS FÍSICAS Adução de Água Bruta Tratamento Reservação ORIGEM Vazamentos nas tubulações Limpeza do poço de sucção Vazamentos estruturais Lavagem de filtros Descarga de lodo Vazamentos estruturais Extravasamentos Limpeza Vazamentos nas tubulações Adução de Água Tratada Limpeza do poço de sucção Descargas Vazamentos na rede Distribuição Vazamentos em ramais MAGNITUDE Variável função do estado das tubulações e da eficiência operacional Significativa função do estado das instalações e da eficiência operacional Variável função do estado das instalações e da eficiência operacional Variável função do estado das tubulações e da eficiência operacional Significativa função do estado das tubulações e principalmente das pressões Descargas FONTE – PNCDA (1999) 2.1.4 Perdas na captação/adução de água bruta As perdas físicas na captação e na adução de água bruta correspondem à água utilizada para a limpeza geral, incluindo o poço de sucção, sendo em geral pequena em função das características hidráulicas do projeto e da qualidade da água bruta. Os componentes que merecem mais atenção são os vazamentos na adução, função do estado da tubulação e do material utilizado; sua idade; pressão; adequada execução da obra; elementos de proteção contra golpes e conseqüentes rompimentos em casos de interrupção do fornecimento de energia. 6 Trata-se de um componente crítico do sistema de abastecimento, merecendo especial atenção no que diz respeito à manutenção sistemática de caráter preventivo. Ressalte-se que as manutenções preventivas, elétricas ou hidráulicas, como o conserto da tubulação obstruída por incrustações ou reparos de vazamentos, muitas vezes não são feitas ou são adiadas para se evitar o desgaste político junto à população, pois paradas no sistema produtor provocam interrupções no fornecimento de água por muitas horas. Tal procedimento, no entanto, acaba comprometendo o funcionamento do sistema, aumentando muitas vezes as perdas de carga e o consumo de energia, bem como as perdas e os riscos de interrupções mais demoradas por falhas e rompimentos. A magnitude das perdas na adução de água bruta é variável, função do estado das instalações e das práticas operacionais e de manutenção preventiva, sendo normalmente pouco expressivas no contexto geral, a não ser em adutoras de grande extensão e/ou deterioradas. 2.1.5 Perdas no tratamento A principal característica segundo PNCDA (1999) das perdas físicas nas ETA é que, mesmo que sejam percentualmente pequenas, em termos de vazão são significativas. Deve-se lembrar que partes das vazões retidas nas ETA são inerentes ao processo de tratamento, não sendo possível eliminá-las totalmente, mas sim reduzi-las até o ponto em que se eliminem os desperdícios. A recuperação da qualidade da água de lavagem mediante tratamento de lodo é benéfica ao meio ambiente e indiretamente à conservação da água, mesmo que não haja reciclagem para abastecimento público. O lançamento de efluentes tratados representa do ponto de vista dos recursos hídricos, uma ação conservacionista, no que diz respeito às disponibilidades de água bruta no sistema hídrico. As perdas na ETA podem estar associadas ao processo ou a vazamentos. As perdas por vazamentos podem se dar, entre outros motivos, por falhas na estrutura, trincas etc., na impermeabilização e na estanqueidade insuficiente de comportas. 7 As perdas de processo correspondem às águas descartadas na lavagem e limpeza de floculadores, decantadores, filtros e nas descargas de lodo, em quantidade excedente à estritamente necessária para a correta operação da ETA. A magnitude das perdas é significativa, podendo variar entre 2% e 10%, função do estado das instalações e da eficiência operacional. Assim sendo, melhorias operacionais ou reparos estruturais podem propiciar retornos rápidos em termos de redução de perdas e de custos de produção. 2.1.6 Perdas na reservação Podem ter origem em procedimentos operacionais, por exemplo, na limpeza programada de reservatórios; em operações inadequadas, erro na determinação do volume dos reservatórios provocando extravasamentos; ou, ainda, em deficiências estruturais da obra, como trincas ou impermeabilização mal-feita. No caso de extravasamentos, a introdução de alarmes ou controle automático de níveis e vazões pode corrigir esse problema operacional, desligando os sistemas de recalque. No caso de deficiências estruturais, a correção do problema passa pela avaliação econômica e de retorno do investimento. A magnitude das perdas em reservatórios é variável, função do estado das instalações e da eficiência operacional, mas, em geral, tem pouca importância no contexto geral do sistema. No entanto, sob o aspecto de recuperação de perdas, não se deve menosprezá-las, devendo-se ter a perspectiva de que se trata de um trabalho permanente, no qual os resultados positivos são frutos da somatória de pequenos sucessos. 2.1.7 Perdas na adução de água tratada São as perdas por vazamentos e rompimentos nas tubulações das adutoras e subadutoras, que transportam vazões elevadas para serem distribuídas pela rede de distribuição. Outra forma de perda física segundo PNCDA (1999) na adução de água tratada é o caso das descargas, seja para esvaziar a tubulação para reparos, seja para melhorar a qualidade da água. Nesses casos, apenas serão consideradas perdidas 8 em sentido estrito as vazões excedentes ao necessário para a correta operação do sistema. No caso de vazamentos e pelo fato das vazões veiculadas serem elevadas, estes são geralmente localizados e prontamente reparados. Ressalta-se que se tais rompimentos não forem detectados e controlados em curto prazo, grandes danos materiais podem ocorrer decorrentes de seu alto poder erosivo e destrutivo. A manutenção preventiva e a adoção de procedimentos operacionais e treinamento de pessoal para a realização de manobras adequadas é vital para que se evitem rompimentos causados por aumentos súbitos de pressão, que podem ocorrer em cascata, refletindo-se por meio de múltiplos rompimentos, principalmente nas redes de distribuição. A falta de instalação ou manutenção de ventosas pode ser um importante fator que propicia a ocorrência de transientes de pressão e conseqüente rompimento de adutoras, devendo merecer especial atenção. Em sistemas pressurizados por bombeamento, também se deve prestar especial atenção à instalação de elementos aliviadores de pressões, em casos de paradas de funcionamento da bomba. A magnitude das perdas pode variar significativamente, função do estado das tubulações, das pressões e da eficiência operacional. 2.1.8 Perdas na distribuição São as perdas decorrentes de vazamentos na rede de distribuição e nos ramais prediais e de descargas. As perdas físicas que ocorrem nas redes de distribuição, incluindo os ramais prediais, são muitas vezes elevadas, mas estão dispersas, fazendo com que as ações corretivas sejam complexas, onerosas e de retorno duvidoso, se não forem realizadas com critérios e controles técnicos rígidos. Nesse sentido, é necessário que operações de controle de perdas sejam precedidas por criteriosa análise técnica e econômica. Nesse caso também, se encaixam as perdas decorrentes de descargas para melhoria da qualidade da água ou esvaziamento da tubulação para reparos. 9 A magnitude das perdas será tanto mais significativa quanto pior for o estado das tubulações, principalmente nos casos de pressões elevadas. As experiências de técnicos do ramo indicam que a maior quantidade de ocorrências de vazamentos está nos ramais prediais. Em termos de volume perdido, a maior incidência é nas tubulações da rede distribuidora. As figs 2.1 e 2.2 a seguir, ilustram os pontos onde geralmente ocorrem vazamentos nas redes e ramais prediais, respectivamente. O uso de materiais adequados, associados à execução da obra com pessoal treinado e equipado com ferramentas compatíveis com os materiais utilizados, incluindo a realização de testes de estanqueidade, são pré-requisitos para a existência de baixos níveis de perdas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSAIOS NÃO DESTRUTÍVEIS-ABENDE (2002). 10 Registro s 0,2% Tubos rachados 2,3% Tubos partidos 13,6% Anéis Tubos perfurados 12,9% 1,1% União simples 1,1% Juntas 0,9 % Hidrante s 1,7% 12,90% 13,60% 2,30% s re gi st ro ra ch ad os s t. ar tid o t.p fu ra do s pe r 0,20% t. hi d ra nt e s 0,90% 1,70% ju nt as un iã o 1,10% 1,10% an éi s 16,00% 14,00% 12,00% 10,00% 8,00% 6,00% 4,00% 2,00% 0,00% FIGURA 2.1 – Vazamentos na rede de distribuição. FONTE – ABENDE (2002, p.22) 11 Rosca quebrada Rosca folgada Ferrule defeituoso 0,8% Colar de tomada folgado 4,1% Rosca partida 19,2% Tubo perfurado Registro defeituoso Niple quebrado 0,4% fe rru le co la r r ô t. pe sca rfu ra d ni o pl e q ni . pl e rô f. sc a rô q. sc a d. rô sc a re f. gi st ro 30,00% 24,70% 25,00% 19,20% 20,00% 12,90% 15,00% 7,20% 10,00% 4,10% 2,10% 5,00% 0,80% 1,20% 1,00% 0,40% 0,00% FIGURA 2.2 - Vazamentos na ligação predial. FONTE – ABENDE (2002, p.23) 12 Segundo BÁGGIO (2001) na formação de um indicador de desempenho, são consideradas informações-chave aquelas que compõem diretamente o indicador, sem as quais este não pode ser definido. São considerados indicadores de controle ou confiabilidade aqueles que permitem avaliar a confiabilidade das informaçõeschave, mas que não figuram diretamente na composição do indicador estudado. As informações-chave que como o volume utilizado envolve múltiplos indicadores de controle e confiabilidade, dificilmente serão, na prática, correspondidas por todos os controles indicados. Mas a existência ou não desses controles, e em que nível de conhecimento, dará subsídios para aferir a confiabilidade da informação-chave, em uma escala objetiva. Nesta seção são sugeridas, respectivamente, as informações - chave e os indicadores de controle e confiabilidade que compõem o elenco mínimo de informações técnicas e gerenciais necessárias para se obter indicadores básicos de perdas nos sistemas de abastecimento de água. São informações-chave: Volume disponibilizado (VD) soma algébrica dos volumes produzidos, exportado e importado, disponibilizados para distribuição no sistema de abastecimento considerado; Volume produzido (VP) volumes efluentes da(s) ETA ou unidade(s) de tratamento simplificado no sistema de abastecimento considerado; Volume importado (VIm) volumes de água potável, com qualidade para pronta distribuição, recebidos de outras áreas de serviço e/ou de outros agentes produtores; e Volume exportado (VEx) volumes de água potável, com qualidade para pronta distribuição, transferidos para outras áreas de serviço e/ou para outros agentes distribuidores; Volume utilizado (VU) soma dos volumes micromedido, estimado, recuperado, operacional e especial: Volume micromedido (Vm) volumes registrados nas ligações providas de medidores; Volume estimado (VE) correspondente à projeção de consumo a partir dos volumes micromedidos em áreas com as mesmas características da estimada, para as mesmas categorias de usuários; Volume recuperado (VR) correspondente à neutralização de ligações clandestinas e fraudes; Volume operacional (VO) volumes utilizados em testes de estanqueidade e desinfecção das redes (adutoras, subadutoras e distribuição); e Volume especial (VEs) volumes (preferencialmente medidos) destinados para corpo de bombeiros, caminhões-pipa, suprimentos sociais (favelas, chafarizes) e uso próprio nas edificações do prestador de serviços; Volume faturado (VF) todos os 13 volumes de água medida, presumida, estimada, contratada, mínima ou informada, faturados pelo sistema comercial do prestador de serviços; Número de ligações ativas (LA) providas ou não de hidrômetro, correspondem à quantidade de ligações que contribuem para o faturamento mensal; Número de ligações ativas micromedidas (Lm) ligações ativas providas de medidores; Extensão parcial da rede (EP) extensão de adutoras, subadutoras e redes de distribuição, não contabilizados os ramais prediais; Extensão total da rede (ET) extensão total de adutoras, subadutoras, redes de distribuição e ramais prediais; e Número de dias (ND) quantidade de dias correspondente aos volumes trabalhados. Volume faturado (VF) todos os volumes de água medida, presumida, estimada, contratada, mínima ou informada, faturados pelo sistema comercial do prestador de serviços; Número de ligações ativas (LA) providas ou não de hidrômetro, correspondem à quantidade de ligações que contribuem para o faturamento mensal; Número de ligações ativas micromedidas (Lm) ligações ativas providas de medidores; Extensão parcial da rede (EP) extensão de adutoras, subadutoras e redes de distribuição, não contabilizados os ramais prediais; Extensão total da rede (ET) extensão total de adutoras, subadutoras, redes de distribuição e ramais prediais; e Número de dias (ND) quantidade de dias correspondentes aos volumes trabalhados. 2.2 Indicadores básicos de desempenho No relatório PNCDA-A2 (1999) são determinados em diferentes níveis os seguintes indicadores básicos: Índice de Perda na Distribuição (IPD) ou Água Não Contabilizada (ANC); Índice de Perda de Faturamento (IPF) ou Água Não Faturada (ANF); Índice Linear Bruto de Perda (ILB); e Índice de Perda por Ligação (IPL). 2.2.1 Índice de Perda na Distribuição (IPD) ou Água Não Contabilizada (ANC) Relaciona o volume disponibilizado ao volume utilizado. A água que é disponibilizada e não utilizada constitui umas parcelas não contabilizadas, que incorpora o conjunto das perdas físicas e não físicas no subsistema. Enquanto isso não acontece, os valores obtidos mesmo para os casos de serviços com 100% de macro e micromedição incorporam-se perdas não físicas, diferentemente de alguns indicadores análogos estrangeiros, que só consideram as perdas físicas mostradas na Eq. 2.1. 14 IPD = (VD – VU / VD) x 100 (2.1) Onde: VD é o volume disponível. VU é o volume utilizado 2.2.2 Índice de perda de faturamento (ipf) ou água não faturada (anf) Expressa a relação entre volume disponibilizado e volume faturado. É claramente uma composição de perdas físicas e não físicas que, além daquelas atribuídas a desvios de medição, incorporam volumes utilizados não cobrados, como o volume especial e o volume operacional, este indicador sempre estará expressando uma parcela de volumes que não são fisicamente perdidos representada na Eq. 2.2 IPF = (VD - VF / VD) x 100 (2.2) Onde: VD é o volume disponível. VF é o volume faturado. 2.2.3 Índice linear bruto de perda (ilb) Relaciona a diferença entre volume disponibilizado e volume utilizado à extensão parcial da rede. É um indicador válido para a comparação de desempenho entre serviços, desde que envolva fatores de confiabilidade compatíveis. A perda expressa nesse indicador incorpora perdas físicas e não físicas, uma vez que não se controlam os desvios sistemáticos de medição. Ao se aplicar como denominador a extensão parcial das redes de adução, subadução e distribuição - pois não foram incluídos os ramais prediais -, obtém-se um valor mais conservador do que o índice linear de perdas geralmente calculado no exterior, que incorpora as extensões de ramais prediais à rede. As diferenças tendem a ser muito grande, uma vez que as extensões dos ramais prediais, somadas, podem ser maiores que a magnitude da soma das adutoras, subadutoras e rede de distribuição. Outro agravante com respeito aos indicadores estrangeiros deve-se à incorporação de perdas não físicas no numerador. Por isso, recomenda-se extrema cautela na divulgação desse indicador, com expressa advertência quanto a não ser comparável aos índices lineares de perdas físicas estrangeiras, representada na Eq. 2.3. 15 ILB = VD – VU / EP x ND (2.3) onde: VD é o volume disponível, VU é volume utilizado, EP é a extensão parcial de rede ND é o numero de dias. 2.2.4 Índice de perda por ligação (ipl) Como o anterior, é também um indicador volumétrico de desempenho, mais preciso que os percentuais. Relaciona a diferença entre volume disponibilizado e volume utilizado ao número de ligações ativas. As magnitudes obtidas na apuração desse indicador serão próximas às que seriam obtidas em indicadores análogos usados no exterior, a não ser pelo fato de que a diferença entre volume disponibilizado e volume utilizado expressa ainda uma parcela não desprezível de perdas não físicas. Por isso, ainda que com menos distorções que o Índice Linear Bruto de Perda (ILB), este também não deve ser utilizado na comparação com serviços estrangeiros sobre os quais se expressam apenas as perdas físicas representada na Eq.2.4. IPL = VD – VU / LA x ND (2.4) onde: VD é o volume disponível, VU é o volume utilizado, ND é o numero de dias, LA é o numero de ligações ativas. Segundo PNCDA-D1 (2000) a diminuição das perdas físicas segundo de água com a redução das pressões de operação da rede de distribuição é um fenômeno conhecido há muito tempo pelas companhias de saneamento e distribuição de água. O efetivo controle de perdas físicas é feito através de quatro atividades complementares, gerenciamento de pressão; controle ativo de vazamentos; velocidade e qualidade dos reparos; e gerenciamento da infra-estrutura. O gerenciamento de pressões procura minimizar as pressões do sistema e a faixa de duração de pressões máximas, enquanto assegura os padrões mínimos de 16 serviço para os consumidores. Estes objetivos duais são atingidos pelo projeto específico e setorização dos sistemas de distribuição, pelo controle de bombeamento direto na rede ou pela introdução de válvulas redutoras de pressão. O controle ativo de vazamentos se opõe ao controle passivo, que é, basicamente, a atividade de reparar os vazamentos apenas quando se tornam visíveis. A metodologia mais utilizada no controle ativo de vazamentos é a pesquisa de vazamentos não visíveis, realizada através da escuta dos vazamentos por geofones mecânicos ou eletrônicos e correlacionadores. Essa atividade reduz o tempo de vazamento, ou seja, quanto maior for a freqüência da pesquisa, maior será a taxa de vazão anual recuperada. Uma análise de custo-benefício pode definir a melhor freqüência de pesquisa a ser realizada em cada área. Desde o conhecimento da existência de um vazamento, o tempo gasto para sua efetiva localização e seu estancamento é um ponto chave do gerenciamento de perdas físicas. Entretanto é importante assegurar que o reparo seja bem realizado. Uma qualidade ruim do serviço irá fazer com que haja uma reincidência do vazamento horas ou dias após a repressurização da rede de distribuição. A prática das três atividades mencionadas anteriormente já traz melhorias à infraestrutura. Portanto, a substituição de trechos de rede só deve ser realizada quando, após a realização das outras atividades, ainda se detectar índices de perdas elevados na área, pois o custo da substituição é muito oneroso. O controle de pressão possibilita reduzir o volume perdido em vazamentos economizando recursos de água e custos associados; reduz a freqüência de arrebentamentos de tubulações e conseqüentes danos que têm reparos onerosos, minimiza também as interrupções de fornecimento e os perigos causados ao público usuário de ruas e estradas; distribuição de água com pressões mais estabilizadas ao consumidor diminui as ocorrências de danos às instalações internas dos usuários até a caixa d’água, tubulações, registros e bóias; reduz os consumos relacionados com a pressão da rede, como por exemplo, a rega de jardins. Segundo ABENDE (2002) novas pesquisas foram desenvolvidas e novos conceitos empíricos estabelecidos, de modo a tornar mais precisa a estimativa de diminuição ou aumento das vazões noturnas com a pressão, bem como possibilitar uma melhor análise dos benefícios advindos do controle de pressão. 17 Verificou-se que tubos de materiais plásticos têm uma deformação na área de escape do fluído (furo ou trinca), com o aumento da pressão. Havendo aumento da área, conseqüentemente há um aumento do volume do vazamento. Os resultados experimentais têm chegado à relação entre pressão e vazão da na ordem representada na Eq. 2.5. Q2 = Q1 * (P2/P1)n (2.5) onde: Q1 = vazão inicial; Q2 = vazão após redução de pressão; n = 0,5 para furos em tubos rígidos; n = 2,5 para furos em tubos flexíveis; e P2 = pressão após redução; P1 = pressão antes da redução; n = 1,15 na média geral da rede de distribuição. Nas condições gerais da rede de distribuição, então, uma diminuição de 10% na pressão implica em uma redução de 11,5% nas vazões dos vazamentos (aproximadamente pode-se dizer que a vazão aumenta ou diminui linearmente com a pressão). 18 FIGURA 2.3 - Relação do índice de vazamento com a pressão FONTE – PNCDA (1999, p.37) 2.2.5 A Vazão Mínima Noturna A vazão mínima noturna é outro indicador da ocorrência de vazamentos no sistema, pois a proporção dos vazamentos em relação ao consumo legítimo (residenciais e não-residenciais) é maior. Ela geralmente ocorre no período entre 3 e 4 horas da madrugada. Seus componentes estão definidos na Fig. 2.4. 19 FIGURA 2.4 - Componentes da Vazão Mínima Noturna FONTE – PNCDA (1999, p.42) 20 3 METODOLOGIA O reservatório elevado R-5 (Castelo) como é conhecido na cidade de Valinhos, é um marco do desenvolvimento da cidade, foi construído em 1960 como parte da implantação do sistema de abastecimento da água. Atualmente, o bairro onde foi construído tem o nome de Castelo devido ao reservatório, que pode ser visto de diversos locais da cidade. Além da importância histórica, obviamente, é parte fundamental do sistema de distribuição de água para aproximadamente 35.000 pessoas. O reservatório elevado R-5 possui volume útil de 400.000 litros e altura máxima 37 m da laje de cobertura. É abastecido por uma adutora de 250 mm de diâmetro com extensão de 460m. A principal bomba de recalque de água tratada tem potência de 300cv. Inicialmente foram instaladas três válvulas ventosas tipo “anti-slam” sendo uma junto ao reservatório, e duas outras posicionadas estrategicamente em pontos elevados da principal sub-adutora do sistema de distribuição. Em seguida, fez-se o “by-pass” no reservatório, ou seja, interligou-se a tubulação de entrada e saída, mantendo-o fechado. Para instalação destes acessórios hidráulicos, foram utilizadas juntas tripartidas com derivação à flange. A conexão foi feita em carga utilizando-se perfurador com broca de diâmetro compatível com a tubulação existente. Tal procedimento foi de extrema importância, pois, permitiu a execução dos serviços sem interrupção do abastecimento de água. Concluída esta etapa, foi instalado na saída do reservatório, um manômetro eletrônico digital com saída analógica de sinal 4 a 20 mA, proporcional à pressão atuante no sistema, que foi interligado por intermédio de cabo blindado ao indicador e retransmissor de sinal instalado na casa de bombas. A distância entre o reservatório e a casa de bombas é de 460m. Para controle da pressão do sistema de distribuição, foi instalado um inversor de freqüência comandado pelo manômetro digital, para manter a pressão praticamente constante variando-se a rotação da bomba de recalque em função da pressão atuante no sistema de distribuição. 21 A Fig. 3.1 mostra de forma esquemática a concepção dos sistemas de controle proposto. Posteriormente, concluídas as instalações hidráulicas e elétricas, e aberto o “by-pass”, foi necessário apenas uma parada no abastecimento para ajustes e parametrização do inversor de freqüência. Todavia, tal procedimento foi realizado durante a madrugada quando o consumo de água foi baixo, não causando, portanto, transtornos aos consumidores. Foram Procedidos os testes e monitoramento local do desempenho da bomba, e medidos os principais parâmetros tais como tensão de alimentação e corrente do motor, pressão na saída da bomba, no reservatório, nos pontos mais altos e baixos do sistema e vazão de recalque lida por macromedidor. Para segurança da operação, foi instalado um manômetro analógico com pressostato que foi calibrado para atuar desligando o sinal do sensor de pressão quando, por qualquer anomalia na instalação, a pressão atingisse o valor máximo de 37 mca na saída do reservatório, o que corresponderia ao seu nível máximo de operação. Figura 3.1 - Esquema simplificado do sistema de controle de recalque de água 22 A Fig. 3.2 apresenta a conceituação básica do sistema de controle aplicada no presente trabalho. Nota-se que, com o controle de vazão por intermédio da variação da rotação (pela variação da freqüência de alimentação do motor), impõem-se apenas a pressão necessária para escoar a vazão de demanda, ou seja, quando a demanda é máxima, a vazão de recalque da bomba deve ser alta. Por outro lado, quando a demanda é mínima, a vazão deve ser aquela que equivale à demanda. Figura – 3.2 Características de controle do sistema hidráulico FONTE – KSB, manual técnico 1150.OB/3 (1984) Desta forma, fixou-se a pressão em determinado ponto do sistema distribuidor e alterou-se a vazão de recalque da bomba operando, portanto, o sistema à pressão constante. A instalação do macromedidor na adutora de água mostrou-se importante, pois permitiu o monitoramento da vazão de consumo (demanda), auxiliando os operadores na identificação de eventuais vazamentos que podem desequilibrar o sistema de distribuição. 23 Com a utilização do macromedidor foi possível estabelecer o perfil de consumo, e as características operacionais do sistema de recalque, ou seja, durante os períodos de alto e baixo consumo, quais eram a vazão de recalque, a pressão na saída do reservatório, a freqüência de operação da bomba, etc. Para evitar a formação de vácuo durante eventual parada no bombeamento por falta de energia elétrica junto ao “by-pass” foi instalada uma válvula ventosa tipo “antislam” mostrada na Fig. 3.3 Para medição e monitoramento da pressão, foi instalado o sensor com transmissão de sinal analógico 4-20mA no “by-pass” mostrado na Fig. 3.4. Figura 3.3 – Válvula tipo “anti-slam” instalada junto ao “by-pass” do reservatório. Figura 3.4 – Sensor de pressão instalado na saída do reservatório. O indicador de pressão foi instalado na casa de bombas Fig. 3.5 o qual recebia o sinal por intermédio de cabo e o retransmitia para o inversor de freqüência mostrado na Fig. 3.6. 24 Figura 3.5 – Indicador e retransmissor de sinal 4-20mA proporcional à pressão. Figura 3.6 – Inversor de freqüência para acionamento do motor da bomba Tendo em vista o desempenho do sistema controlado por inversor, e pensando em reduzir as perdas no sistema de abastecimento foi implantado mais um controle adicional no sistema. Como a pressão no sistema e proporcional aos vazamentos nas tubulações de abastecimento conforme PNCDA (1999), e a noite a pressão no sistema permanece constante com o sistema de booster e inversor, foi instalado em conjunto com o inversor um Controlador Lógico Programável com referencia horária. A noite em horários pré definidos o programador horário automaticamente acionava no inversor um contato e fazia com que o inversor assumisse outro ponto de referencia , o inversor foi programado com dois pontos de referencia; um para 30 mca e outro para 15 mca. Estes dois pontos foram acionados pelo programador horário, que das 11h00minh as 05h00minh assumia a referencia de 15 mca e das 05h00min as 22h00minh a referencia era de 30 mca. O controle da pressão foi feito pelo manômetro digital que enviava sinal de 4 a 20 mA para o inversor e este diminuía ou aumentava a rotação da bomba procurando sempre o ponto de operação, variando a vazão e matendo a pressão constante. 25 4 RESULTADOS Durante a etapa preliminar, verificou-se que o sistema, operado pelo manômetro digital e inversor de freqüência, permitiu o total controle do desempenho da bomba de recalque, sendo que a mesma passou a operar como booster abastecendo diretamente o sistema de distribuição de água. Durante o horário de alto consumo, a bomba operou na condição nominal, ou seja, a 60 hz e 1765 rpm, e a pressão na saída do reservatório variou de 28 a 35mca. A vazão máxima foi de 187 L/s. A redução de 7 mca durante o período de alto consumo decorreu devido a uma sobrecarga no sistema, que foi corrigida com a transferência de parte do sistema de distribuição para outro existente na cidade (setorização). Durante o período de baixo consumo, e principalmente, de madrugada, a bomba operou na freqüência de 43 Hz, o que correspondeu a aproximadamente 1160 rpm, a pressão na saída do reservatório ficou em torno de 35 mca. A vazão mínima registrada foi 40 L/s. O controle de nível do reservatório, que antes era feito manualmente pelos operadores da ETA, passou a ser totalmente automático. Desta forma, eventuais extravasamentos deixaram de ocorrer, pois, o controle de nível do reservatório dependia inteiramente da atenção do operador, que mantinha o reservatório com nível próximo ao máximo, controlando a vazão de recalque da bomba por intermédio de um registro acionado por atuador elétrico, que restringia a passagem da água aumentando a perda de carga. Como a rotação da bomba era fixa desconsiderando-se o escorregamento do motor, quando se restringia a abertura do registro para redução da vazão, conseqüentemente, havia aumento da pressão na saída da bomba. Além da praticidade no controle, houve a liberação do operador para realização de outras tarefas durante a madrugada, eliminação do risco de extravasamento por falha humana, e ainda, redução no consumo de energia elétrica necessária ao acionamento da bomba de recalque. A Fig.4.1 e a Tab. 4.1 mostram a comparação de consumo de energia elétrica da estação de tratamento de água onde está instalado o sistema de bombeamento. 26 Tabela 4.1 – Comparação dos consumos de energia elétrica ETA-1 MÊS CONSUMO DE ENERGIA CONSUMO DE ENERGIA 1998 (kwh x1000) 1999 (kwh x1000) Fevereiro 108,7 110,3 Março 108,8 118,5 Abril * 111,0 116,2 Maio 106,5 91,5 Junho 110,0 96,5 Julho 105,4 83,4 Agosto 111,7 118,4 Setembro 106,3 120,0 Outubro 119,5 97,7 Novembro 104,5 127,7 Dezembro 114,8 105,5 *início da operação com sistema automático 1 4 0 1 2 0 (kwh x 1000) 1 0 0 8 0 6 0 4 0 2 0 0 fe v m ar ab r m ai ju n ju l ag o s et ou t n ov d ez m e s e s 1 9 9 8 1 9 9 9 Figura – 4.1 Comparação do consumo de energia elétrica FONTE – DAEV (1999) 27 Os períodos comparados referem-se aos anos de 1998 e 1999. O controle foi instalado em abril de 1999. A redução no consumo de energia elétrica pode ser notada nos meses subseqüentes tais como maio, junho e julho, nos quais houve maior utilização do controle, pois são meses geralmente com temperaturas mais baixas do ano, com conseqüente redução do consumo de água. Os dados sugerem que quanto maior for o tempo de utilização do sistema, maior será a redução do consumo de energia elétrica, admitindo-se que seja utilizada a mesma bomba. Com base nos resultados verificados durante a operação do sistema, são apresentados a seguir como se deu a redução do consumo de energia elétrica durante os períodos em a bomba de recalque operou com vazão reduzida, quando comparada com o sistema de recalque antigo. A bomba de recalque utilizada era de fabricação KSB modelo ETA 150-50, 1765rpm, rotor com diâmetro de 480mm, motor de acionamento de 300cv. Para a mesma condição de consumo, ou seja, demanda equivalente a 40 L/s, a bomba operou com rotação de 1165rpm (rotação equivalente à freqüência de 43Hz). A altura manométrica medida para a rotação de 1165 rpm pode ser calculada de acordo com a seguinte eq. 4.1 Hm 1 rpm = rpm 1 0 2 × Hm 0 onde: rpm1 = rotação nominal; rpm2 = rotação variável; Hm0 = altura manométrica à rotação nominal 1765rpm (60Hz) (m); Hm1= altura manométrica à rotação 1165rpm (43Hz) (m). A altura manométrica resultou em: 2 1165 Hm1 = × 115 ⇒ Hm1 = 50 m 1765 (4.1) 28 Com os dados para esta condição operacional, pode-se calcular a potência necessária para acionamento da bomba conforme a seguir de acordo com a eq.4.2 N = 103 x Q x H / 75 x η (4.2) onde: Q = vazão aduzida, H = altura manométrica, η = rendimento da bomba. N = 0,04 x 50 x 1000 / 75 x 0,60 = 45 cv. Figura 4.2 – Curvas características da bomba de recalque KSB ETA 150-50 29 Os dados acima evidenciam o benefício adicional com a implantação do sistema de controle por rotação variável, que, além de ser totalmente automático, permite economizar o consumo de energia elétrica durante os períodos de menor demanda. Foi feita uma adequação na setorização na área abastecida pelo booster com vistas a adequar a vazão aduzida pela bomba de recalque à demanda, principalmente nos horários de alto consumo. A Fig. 4.3 mostra o perfil da demanda de água antes e depois da setorização. Verifica-se que, após a setorização, houve, evidentemente, redução da vazão de demanda, sendo a mesma inferior à vazão de adução da bomba de recalque. Como resultado, a pressão na saída do reservatório, ou seja, no “by-pass”, passou a ser mais estável, como demonstra a Fig. 4.4. Foi possível, ainda, reduzir em 7mca a pressão atuante no sistema distribuidor o que contribuiu para economia adicional no consumo de energia elétrica e reduzir as perdas físicas. VAZÃO HORÁRIA DO BOOSTER (BY-PASS) VAZÃO EM 28/02/2000 VAZÃO EM 25/02/2002 200 VAZÃO DE ADUÇÃO (L/s) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 2 4 6 8 10 12 HORAS 14 16 18 20 22 24 Figura – 4.3 Vazão aduzida pelo “By-pass” antes (28/02/2000) e depois (25/02/2002) da setorização da rede distribuidora de água. FONTE – DAEV (2000) 30 PRESSÃO NO BY-PASS DO RESERVATÓRIO PRESSÃO 28/02/2000 PRESSÃO EM 25/02/2002 PRESSÃO NO "BYPASS" DO RESERVATÓRIO (mca) 40 35 30 25 20 15 10 0 2 4 6 8 10 12 14 HORAS 16 18 20 22 24 Figura – 4.4 Pressão no “By-pass” antes (28/02/2000) e depois (25/02/2002) da setorização. FONTE – DAEV (2000) 4.1 Diminuição das perdas no sistema de abastecimento Analisando o gráfico podemos concluir que, antes da mudança a vazão no sistema era baixa e a pressão era inversamente proporcional e permanecia alta, nos períodos diurnos ocorria no sistema o inverso,a vazão era alta e a pressão permanecia baixa ocasionando problemas de distribuição de água tendo em vista os baixos níveis nos reservatórios,este efeito pode ser visto nas figs 4.5 e 4.6. FONTE - DAEV (2002) FIGURA 4.6 - Gráfico de pressão 31 FONTE - DAEV (2003) FIGURA 4.6 - Gráfico de vazão e pressão 32 33 Realizada a mudança, observou-se a ocorrência do inverso do que ocorria no sistema sem o controle horário, isto e, a pressão nos horários de alto consumo o sistema disponibilizava pressão, e nos horários de baixo consumo o inversor altera o ponto de operação reduzindo a pressão nas redes de abastecimento, com isso verificou-se uma redução no volume distribuído no setor abastecido pelo booster conforme figs 4.7 e 4.8 36,26% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 30,10% 6,16% 2002 2003 Recuperado FIGURA 4.7 – Gráfico de volumes FONTE - DAEV (2003) 4.000.000 3.500.000 3.459.706 3.000.000 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 213.117 0 Distribuido (m3) Recuperado (m3) FIGURA 4.8 – Gráfico de volumes 2 FONTE – DAEV (2003) 34 Os resultados do gráfico 4.8 mostram que a economia de água no sistema de abastecimento em volume foi de 213.117 m3 no ano, tendo em vista que o volume utilizado por uma pessoa em media é de 200 l/dia podemos chegar ao numero de habitantes que o sistema de abastecimento pode atender sem nenhum investimento; N=E/PxD (4.3) Onde: N – numero de habitantes atendidos. P – consumo de um habitante por dia em m3. D – numero de dias utilizado para o calculo em um ano. E – economia em m3 feita em um ano. Com o cálculo chega-se ao numero de pessoas atendidas na ordem de 2.959 sem investimentos. 35 5 CONCLUSÕES O sistema de bombeamento utilizando-se uma tecnologia de controle baseada na instalação de um inversor de freqüência, um manômetro digital e um controlador lógico programável, para controle operacional da pressão na rede de abastecimento mostrou-se eficaz, pois além de atender aos requisitos de pressão requeridos pela norma, trouxe redução expressiva no índice de perdas física. A redução da pressão na área abastecida pelo sistema de bombeamento no período das 11:00h as 5:00h,fez com que os índices de perdas físicas diminuíssem 6,16%. Portanto, conclui-se que a redução de pressão em períodos de baixo consumo de água é altamente eficiente no controle de perdas físicas. 36 6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSAIOS NÃO DESTRUTÍVEIS - ABENDE.Curso de Detecção de Vazamentos Não Visíveis de líquidos Sob Pressão em Tubulação Enterradas Nível 2, São Paulo, 2002. BÁGGIO, Mario Augusto.Curso de Planejamento e Controle da Qualidade da Operação de Sistemas de Abastecimento de água.São Paulo, 2001. DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ESGOTOS DE VALINHOS - DAEV. Seção de MIcomedição, Relatório anual de perdas – ano 2002/2003. KSB. Bombas Hidráulicas S/A, Manual Técnico 1150. OB/3 e Curvas Características de Bombas Centrifugas Horizontais ETA, 1984. PROGRAMA NACIONAL DE COMBATE AO DESPERDÍCIO DE Água - PNDCA – Definições de Perdas nos Sistemas de Abastecimento de água – Relatório A2,1999, Disponível em <www.pncda.gov.br>.acesso outubro de 2006. 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