HIPOCALCEMIA EM OVINOS Prof.Adelmo Ferreira de Santana–Caprinocultura e Ovinocultura E-mail [email protected] Departamento de Produção Animal Escola de Medicina Veterinária Universidade Federal da Bahia CEP- 40.170-110 Salvador-Bahia Iuri Oliveira Andrade – Acadêmico de Medicina Veterinária Monografia apresentada como parte de conclusão do curso de Medicina Veterinária-Julho/1998 RESUMO A hipocalcemia é uma doença economicamente importante, comum e às vezes fatal em ovelhas adultas no final da gestação e início da lactação. Contudo, a privação do alimento, o exercício forçado, o estresse do transporte e a ingestação de plantas contendo oxalato, também provocam a enfermidade. Via de regra, a hipocalcemia está associada a uma queda do cálcio plasmático e as ovelhas com idade avançada são mais severamente afetadas, devido a uma menor condição de trocar rapidamente o Ca, e são menos hábeis para mobilizar Ca ósseo durante o período de dietas escassas. O metabolismo do cálcio é influenciado pelo hormônio da paratireóide (PTH), calcitonina(CT) e pela vitamina D. O mecanismo homeostático do cálcio é estimulado pela hipocalcemia, que melhora a eficiência da absorção deste mineral e aumenta a reabsorção óssea. O cálcio entra no sangue a partir dos ossos e do intestino e, quando o nível sério aumenta acima do normal, o PTH é inibido e a secreção de CT é estimulada. O aumento da concentração de CT bloqueia a reabsorção óssea e a diminuição da concentração do PTH deprime a absorção de Ca. A depressão dos níveis séricos de cálcio em ovelhas não ocorre no parto e a intervenção de um fator precipitante parece ser necessária para a posterior redução do nível sérico de Ca. Dentre os sintomas da hipocalcemia, podemos citar a dificuldade na locomoção e tremores musculares, paresia, timpanismo, dentre outros. A hipocalcemia em ovinos é clinicamente difícil de ser distinguida da toxemia da gestação. Confirma-se o diagnóstico pela resposta favorável ao tratamento com injeções parenterais de soluções de cálcio e pelo exame bioquímico do sangue. O tratamento de casos clínicos envolve injeção de borogluconato de cálcio por via subcutânea ou intravenosa. Unitermos: Hipocalcemia, ovelha, cálcio 1.INTRODUÇÃO A hipocalcemia é uma doença economicamente importante, comum e as vezes fatal em ovelhas adultas durante o final da gestação e início da lactação (COCKCROFT, WHITELEY 1999). Hipocalcemia é uma síndrome que ocorre com uma incidência variável em ovelhas, sendo influenciada tanto por fatores ambientais quanto por predisposição genética e que está associada a uma queda do cálcio plasmático. Ocorre mais comumente em ovelhas no final da gestação (sendo uma gestação subsequente à primeira), sendo que o incidência em gestações avançadas pode afetar 25% do rebanho(YATE, HUNT 1986) e no início da lactação(JENSEN 1975; LINDSAY, PETHICK 1983). ELIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM(1990) afirmam que a etiologia da doença não está completemente entendida, mas a condição parece começar devido requerimento fetal de Ca adicionados com fatores limitantes de suplemento de Ca. ao YATES, HUNT (1986) citam que as ovelhas têm uma demanda de cálcio relativamente elevada para o feto em desenvolvimento, embora a demanda lactacional de cálcio de ovelha seja relativamente pequena. Mesmo assim, as ovelhas sofrem mais de hipocalcemia durante as últimas quatro a seis semanas de gestação e durante as primeiras seis semanas de lactação. Porém a privação do alimento, o exercício forçado e o estresse do transporte(tetania do transporte) podem precipitar a enfermidade(LARSEN et al.1985;YATES, HUNT 1986).LINDSAY, PETHICK (1983) citam também casos de hipocalcemia em animais que ingeriram plantas contendo oxalato. BLOOD (1991) afirma que os níveis séricos de cálcio total não atingem valores abaixo do normal na ocasião do parto em ovelhas. Já ELIAS, SHAINKINKESTENBAUM (1990), afirmam que em ovelhas gestantes ocorre uma discreta diminuição nos níveis de cálcio nas últimas 6 semanas de gestação. LINDSAY, PETHICK(1983) relatam que existem numerosos aspectos do mecanismo da doença que não estão bem entendidos, tais como a natureza do envolvimento do pâncreas, adrenais e paratireóide. Apesar de o paratormônio e a calcitonina estarem envolvidos, nenhum hormônio tem apresentado papel predominante. Hiperproteinemia pode resultar numa modesta hipocalcemia, enquanto que hipoproteinemia, especialmente hipoalbuminemia, regularmente resulta numa hipocalcemia moderada pois 40 a 50% do cálcio está ligado a proteínas e, em grande parte, à albumina (CARLSON 1986). As ovelhas com idade avançadas são mais severamente afetadas pela hipocalcemia, devido a uma menor condição de trocar rapidamente o Ca, e são menos hábeis para mobilizar Ca ósseo durante o período de dietas escassas (LARSEN et al. 1985; ELIAS, SHAINKINKESTENBAUM 1990). O objetivo do presente trabalho é alertar, tanto o profissional de Medicina Veterinária, quanto o produtor, da importância econômica e seus conseqüêntes prejuízos da hipocalcemia na ovinocultura de um estudo mais aprofundado sobre o assunto. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. ETIOLOGIA E METABOLISMO DO CÁLCIO O metabolismo do cálcio e do fósforo é influenciado pelo hormônio da paratireóide (PTH), calcitonina (CT), e pela vitamina D. O PTH é secretado em resposta à hipocalcemia e estimula a conversão de 25-diidroxicolecalciferol em 1-25 diidroxicolecalciferol (1,25-DHCC). O PTH e o 1,25-DHCC estimulam, juntos a reabsorção óssea e o 1,25-DHCC sozinho estimula a absorção intestinal de cálcio. O cálcio entra no sangue a partir dos ossos e do intestino e, quando o nível sérico aumenta acima do normal, o PTH é inibido e a secreção de CT, estimulada. O aumento da concentração de CT bloqueia a reabsorção óssea e a diminuição da concentração de PTH deprime a absorção de cálcio (BLOOD 1991). A demanda de cálcio é relativamente baixa durante o período seco, fazendo com que a absorção intestinal e a reabsorção do cálcio torne-se mecanismos relativamente inativos (YATES, HUNT 1986). O mecanismo homeostático do cálcio é estimulado pela hipocalcemia, que melhora a eficiência da absorção deste mineral e aumenta a reabsorção óssea. Cerca de 24 horas de estimulação por níveis elevados de 1,25 diidroxivitamina D(1,25- [OH] D) são necessárias para que seja incrementado o transporte intestinal do cálcio. 2 O aumento na velocidade de reabsorção óssea exige 48 horas de estimulação pelo hormônio da paratireóide (PTH). Se estas adaptações ao aumento na demanda de cálcio são prolongadas, poderá ocorrer hipocalcemia clínica (YATES, HUNT 1986). Segundo BLOOD (1991), a depressão nos níveis séricos de cálcio e fósforo em ovelhas não ocorre no parto e a intervenção de um fator precipitante parece ser necessária para a posterior redução do nível sérico de cálcio. Como exemplo, ele cita o exercício forçado ou a privação súbita do alimento que podem causar depressão acentuada nos níveis séricos de cálcio. As ovelhas estão em um estado suscetível no início da lactação, em virtude de estarem em um equilíbrio negativo de cálcio. Um estado de equilíbrio positivo aparece, no final da lactação, devido a uma baixa de reabsorção óssea (BRAITHWAITE 1969). 2.1.1. OS HORMÔNIOS ENVOLVIDOS O efeito do hormônio da paratireóide(PTH) é aumentar as concentrações de cálcio. Promove também a transferência de Ca sobre o osso e medeia a absorção de Ca do intestino indiretamente, através do seu efeito sobre a vitamina D. Sua secreção é controlada pelas concentrações de Ca livre(ionizado) no sangue; diminuições no cálcio estimulam a secreção de PTH e aumentos no Ca a impedem (STABENFELDT 1992). A calcitonina (CT) é formada na tireóide e é antagonista da ação do PTH. Inibe a reabsorção osteoclástica óssea e assim tenta baixar a concentração plasmática de Ca (REECE), 1996). O controle da secreção de CT é feito pelo cálcio; concentrações aumentadas levam, ao aumento de secreção de CT (STABENFELDT 1992). ELIIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM (1990) afirmam que o PTH aumentou significativamente em todos os casos de hipocalcemia. Após a administração de Ca, PTH diminuiu de 142,6+/-9,1% pmol/L antes do tratamento para 100,7 +/-8,4% pmol/L. A concentração sérica de PTH elevou-se em conjunto com a diminuição brusca dos níveis séricos de Ca. Níveis séricos de CT foram significativamente diminuídos antes do tratamento e aumentaram para valores normais após a infusão de Ca. A vitamina D deveria ser classificada como hormônio pois é produzida num tecido e transportada pelo sangue para um local de ação distante. Diminuições nas concentrações de Ca estimulam a secreção intestinal de Ca. A vitamina D tem efeitos também sobre o osso, promovendo o movimento de íons cálcio do reservatório lábil nos líquidos extracelulares e a reabsorção óssea, bem como a aumento dos efeitos do PTH sobre o metabolismo ósseo de cálcio(STABENFELDT 1992). 2.1.2 ABSORÇÃO INTESTINAL O cálcio dietético é absorvido pelo intestino delgado em ruminantes, de acordo com as necessidades do organismo. A absorção de cálcio está aumentada em animais adultos durante período de alta demanda, como a gestação e a lactação, ou após um período de deficiência de cálcio, mas parece ser necessária uma perda substancial dos estoques de cálcio do organismo antes que ocorra este aumento (BLOOD 1991). A quantidade de Ca absorvido pelo intestino aumenta constantemente durante a gestação nas ovelhas e atinge um pico no final da lactação e depois declina lentamente (ELIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM 1990) 2.1.3 A REABSORÇÃO ÓSSEA AROEIRA (1998) cita que o esqueleto contém 99% do cálcio total do corpo no ruminante e que este cálcio é liberado no sangue durante a reabsorção óssea. A reabsorção das reservas esqueléticas ocorre em uma taxa máxima em ovelhas por três semanas antes e depois do parto (ELIAS,SHAINKINN-KESTENBAUM 1990). Segundo LARSEN et al (1985), a ovelha é dependente de um consumo constante diário de Ca na gestação avançada devido à contínua perda de Ca para o feto. As ovelhas adaptam-se a uma brusca queda no consumo de Ca na dieta, devido a mobilização das reservas esqueléticas de Ca. SUTTLE,FIELD citados por LARSEN et al (1985), observaram em um experimento que infusão intraruminal de água em ovelhas que estavam sendo alimentos por concentrado, reduz a retenção de Ca por um período de 10 dias. Isto indica que em uma mudança brusca na alimentação para um pasto suculento, pode ser esperando uma redução na reabsorção de Ca. 2.2. SINTOMATOLOGIA O primeiro sintoma da hipocalcemia é a paralisia flácida, mas a tetania ocorre com certa frequência (YATES, HUNT 1986). Como sintomas iniciais, BLOOD, (1991) DANIEL(1980) citam um andar característico saltitante e tremor, em particular nos músculos da escápula. Em seguida vem o decúbito, às vezes com tetania dos membros. LINDSAY,PETHICK (1983)afirmam que as ovelhas apresentam-se com uma marcha cambaleante ou dificuldade na locomoção, composição e/ou sinais débeis de trabalho de parto. Afirma ainda que colapso e posterior convalescença são menos comum. SIMMONS (1975) relata instabilidade nervosa quando os valores de cálcio sérico estão menores que 7mg/100ml. BLOOD(1991) relata que a doença em ovinos se manifesta por paresia; entretanto no resto do rebanho, podem-se detectar atraso no crescimento, laminite e fragilidade óssea. Acrescenta ainda que os músculos liso e esqueléticos sofrem uma atonia e é considerado um efeito fisiológico da hipocalcemia. A postura característica é o decúbito esternal, com os membros esticados para trás ou sob o corpo. Os movimentos ruminais inexistem, a cabeça está apoiada no chão, podendo acumular exsudato mucoso nas narinas, e a frequência respiratória apresenta-se aumentada. Encontra-se baixa a pressão sanguínea venosa e o pulso impalpável. Evidencia-se a depressão mental pela aparência sonolenta e pela depressão do reflexo da córnea. È comum a constipação(BLOOD 1991). ELIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM (1990) relatam tremores musculares, principalmente da cabeça e membros, e a extenção da cabeça para frente foram sinais comuns de hipocalcemia. Constipação era evidante e timpanismo desenvolveuse em 43,7% dos casos. A velocidade dos batimentos cardíacos estava diminuída e a respiração estava superficial e lenta em todos os casos examinados. O autor confirma relatos que a hipocalcemia diminui a motilidade ruminal e do abomaso em ovelhas pelo decréscimo da concentração na musculatura lisa. Isto explica o timpanismo ruminal, a constipação e as fezes secas nas ovelhas examinadas com hipocalcemia. BARZANJL, DANIEL (1986), comparando ovinos hipocalcêmicos e normocalcêmicos, mostraram que a hipocalcemia foi associada com reduções médias no fluxo de sangue em torno de 58% em todos os órgãos e tecidos exceto no coração, rins, pulmões e bexiga. Os resultados sugerem que durante a hipocalcemia há uma adaptação na distribuição do serviço cardíaco para a manutenção do fluxo de sangue para órgãos mais vitais como rins, coração e pulmão. COCKCROFT e WHITELEY (1999) estudaram 23 ovelhas com ataxia aguda ou em decúbito no final da gestação ou inicio da lactação. Foram notificadas a presença ou ausência de 15 sinais clínicos. Treze das ovelhas (57%) estavam hipocalcêmicas e dez (43%) estavam normocalcêmicas. No grupo hipocalcêmico, perda do reflexo anal, constipação, hiposensibilidade, estase ruminal, timpanismo ruminal, salivação e taquipnéia representavam mais de 50% dos casos. No grupo normocalcêmico, tarquicardia, taquipnéia e ataxia foram notados em mais de 50% dos casos (TABELA 1). Tabela 1: Sinais clínicos observados em 13 ovelhas hipocalcêmicos e 10 ovelhas normocalcêmicas, apresentando ataxia e/ou decúbito. SINAL CLÍNICO Nº(%)HIPOCALCÊMICOS Nº(%) NORMOCALCÊMICOS Estase 12(92) 2(20) Hiposensibilidade 12(92) 3(30) Salivação 10(77) 2(20) Taquipnéia(>40/min.) 10(77) 7(70) Taquicardia(>100/min.) 09(69) 6(60) Constipação 09(69) 1(10) Timpanismo ruminal 07(54) 2(20) Perda do refluxo anal 07(54) 2(20) Decúbito(incapaz de levantar) 06(46) 3(30) Decúbito(capaz de levantar) 04(31) 2(20) Ataxia 03(23) 5(50) Tremores 02(15) 1(10) Regurgitação 01(08) 1(10) Pirexia 01(08) 2(10) Mucosa seca 01(08) 2(20) Fonte:Cockeroft,P.D., Whiteley, P (1999). 2.3. PARESIA HIPOCALCÊMICA EM OVELHAS BLOOD(1991) define paresia puerperal como uma doença metabólica que ocorre comumente no período do parto(seis semanas antes e dez semanas após o parto) em ovelhas adultas e se caracteriza por hipocalcemia, fraqueza muscular generalizaada, colapso circulatório e depressão na consciência. 2.3.1. ETIOLOGIA O defeito bioquímico básico na paresia puerperal tem como conceito geral, uma depressão dos níveis de cálcio ionizados nos líquidos teciduais (BLOOD 1991).BLOOD apud MOSDOL,WAAGE (1991)cita que embora os níveis séricos de cálcio sejam utilizados para expressar o estado do animal em relação ao cálcio, é possível que diferenças entre os compartimentos ionizados e não-ionizado do cálcio possam ser mais importantes do que o nível total. Em estudos feitos por ELIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM (1990), foi concluído que dietas deficientes em cálcio no último mês de gestação causou hipocalcemia severa em 75% dos casos examinados, e foi mais acentuado nos casos de gestação gemelares. De acordo com BLOOD (1991), existem três fatores que afetam a homeostasia do cálcio e a alteração de um ou mais deles pode ser suficiente para causar a doença em qualquer indivíduo. O primeiro é a perda excessiva de cálcio no colostro, além da capacidade de absorção pelos intestinos e mobilização dos ossos para a reposição. O segundo fator é que pode existir uma diminuição da absorção de cálcio pelo intestino no momento do parto e há evidências sugestivas de que isto realmente ocorra. O terceiro e o mais importante é que a mobilização do cálcio do seu estoque no esqueleto pode não ser suficientemente rápida para manter os níveis séricos normais. Uma dieta com excesso diário de magnésio pode ser responsável por casos de hipocalcemia em ovelhas, apesar desta não ser a causa mais comum (KEMP 1985; PICKARD 1987). 2.4. HIPOCALCEMIA EM CARNEIROS SHANNON(1991) cita que encontrou um carneiro adulto castrado e que era incapaz de montar. Relata também ter encontrado um outro macho adulto em situação similar. Amostra de sangue dos dois animais revelaram significativa diminuição na taxa de cálcio sérico. Injeção intravenosa de borogluconato de cálcio surtiu um efeito quase que imediato e uma resposta dramática nos dois animais. 2.5. TETANIA DO TRANSPORTE (HIPOCALCEMIA) O estresse decorrente do transporte pode ocasionar hipocalcemia em ovelhas gestantes (SIMMONS 1975; PATTERSON 1992). Um grupo de ovelhas gestantes viajaram a uma distância de 456 Km, sendo que, ao final da mesma, alguns animais estavam mortos (2,52%) e outras ovelhas eram incapazes de se levantar (14,76%) com os sintomas de membros rígidos e tremores no pescoço. A análise do soro demonstrou uma média de cálcio sérico de 3,56 mg/100 mL sendo que o normal para ovinos é de 11-13 mg/100 mL. As ovelhas hipocalcêmicas foram tratadas com gluconato de cálcio e solução eletrolíticas intrravenosamente (SIMMONS, 1975). 2.6.HIPOCALCEMIA CAUSADA POR PLANTAS QUE CONTÊM OXALATOS As plantas que contêm oxalatos solúveis são potencialmente tóxicas quando contêm mais de 9% de oxalato. Os oxalatos mais importantes são os de sódio e potássio, sendo os solúveis mais tóxicos porque apresentam forte afinidade com o cálcio. Quando as plantas que contêm oxalatos são consumidas, estes se combinam com o cálcio que os tornam insolúveis. No rúmen são degradados pelos microrganismo, transformam-se em oxalato livre e passam ao sangue, onde exercem o efeito tóxico (ROSA 1996). ANDRIGUETTO(1983) acrescenta que, no rúmen os oxalatos solúveis podem ser convertidos em carbonatos sem apresentar problemas. Entretanto, quando a ingestão é alta e ultrapassa a capacidade de conversão, os oxalatos solúveis podem ser absorvidos, podendo induzir a uma hipocalcemia aguda que conduz à morte. No entanto, como as doses absorvidas não são grandes, podem levar a uma alteração do metabolismo do cálcio. A literatura cita certas plantas, como as couves, nabos e certos tubérculos, como ricas em oxalatos. 2.7. HIPOCALCEMIA EM OVINOS DEPOIS DA SECA Um acentuado aumento na incidência de hipocalcemia em ovelhas antes do parto foi observado após um severo intervalo de seca. Estudos revelam que as ovelhas acometidas estavam se alimentando em pastos que continham pouca concentração de cálcio, comparando com anos normais. A hipocalcemia é mais provável de ocorrer em ovelhas nas estações após a seca, e as que tem maiores chances de serem acometidas são aquelas com gestações gemelares, que estão no último mês de gestação ou mesmo as que tem mais de quatro anos de idade (LARSEN, 1985). BLOOD(1991) acrescenta que no final da seca quando o pasto está crescido e exuberante e possui um conteúdo de cálcio muito baixo, as ovelhas enfrentam outra situação de hipocalcemia, podendo a incidência chegar a 10% e a taxa de fatalidade 20% em rebanhos de ovelhas no final da gestação ou início de lactação 2.8. DIAGNÓSTICOS 2.8.1 DIAGNÓSTICO CLÍNICO Em geral, um diagnóstico de paresia puerperal baseia-se na ocorrência de depressão da consciência e de paresia em animais que pariam recentemente. Confirma-se o diagnóstico pela resposta favorável ao tratamento com injeções parenterais de soluções de cálcio e pelo exame bioquímico do sangue. Esforço físico recente geralmente faz parte do histórico e a doença é muito comum no período precedente ao parto(BLOOOD 1991). A hipocalcemia pode ser associada ao processo de prolapso vaginal no pré parto (HOSIE et al 1991), STUBBINGS apud HOSIE et al 1991 considerou que a hipocalcemia sub-clínica contribuiu com prolapso vaginal, e SOBIRAJ apud HOSIE et al 1991 e outros (1986) encontraram ovelhas com prolapso vaginal que constantemente mostraram depressão nos níveis de cálcio quando comparadas a ovelhas sem prolapso (HOSIE et al 1991). No entanto, YATTES, HUNT (1986) afirmam que a hipocalcemia está associada a outras condições como, por exemplo, o prolapso de útero e que a presença desta condição poderá sugerir hipocalcemia concomitante, mas o prolapso por si só não deverá ser considerado diagnóstico. TYNDALL(1986) relatou que dentre 40 ovelhas hipocalcêmicas, ocorreu uma elevada incidência de prolapso com gravidade variável. Destas, 12 morreram, porém nem todas tinham prolapso de útero e intestino. 2.8.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O valor médio para o nível sérico de cálcio nas ovelhas é de 4,6+/-1,5 mg/dl (BLOOD 1991). Quando a concentração plasmática de cálcio vai de 812mg/100mL para 3-6 mg/100mL, o animal desenvolve manifestações clínica de hipocalcemia (SIMMONS 1975). Hipocalcemia em ovelhas (induzida por infusão de Na EDTA) resulta em 2 significante aumento da concentração de hemoglobina(Hb) sanguínea, pH, Pressão de Gás Carbônico(PCO2)Sanguíneo, Bicarbonato e excesso de base, tanto no sangue arterial quanto venoso. Ocorre uma diminuição da Pressão de oxigênio(PO ), no 2 sangue arterial, associado ao aumento da mesma no sangue venoso. Este resultado sugere que durante a hipocalcemia, existe uma dificuldade na oxigenação sanguínea a nível do pulmão, bem como nas trocas gasosas à nível do tecido periférico (BARZANJI,DANIEL 1988). 2.8.3 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:TOXEMIA DA GESTAÇÃO A toxemia da gestação é uma doença metabólica que acomete as ovelhas no terço final da prenhez, em gestações com dois ou três fetos, determinada por uma nutrição inadequada durante o período gestacional provocando hipoglicemia, acetonemia e acidose sistêmica e manifestada clinicamente por anorexia, depressão nervosa, prostação e morte. Também é conhecida como doença dos cordeiros duplos (ORTOLANI 1985). O’NEILL(1977) afirma que hipocalcemia em ovinos é uma condição freqüêntemente observada em pré-parturiente e clínicamente difícil de ser distinguida da toxemia da gestação. Recomenda a administração intravenosa de gluconato de cálcio. Caso responda ao tratamento, é uma hipoglicemia. O inverso acontecendo, ou seja, não respondendo ao tratamento, é uma toxemia da gestação. Segundo YATES,HUNT (1986), a hipocalcemia e a toxemia da gestação podem ser de diferenciação muito difícil, com base nos sintomas clínicos. Para firmar um diagnóstico, utiliza-se a urinálise, para detecção dos corpos cetônicos. Na toxemia da gestação existe um acúmulo de corpos cetônicos no sangue (acetonemia) provenientes de queima de gordura pelo animal como mecanismo metabólico compensador da deficiência de glicose (ORTOLANI 1985). A hipocalcemia é mais grave em ovelhas gestante do que em lactação, provavelmente devido à ocorrência simultânea da toxemia da gestação (BLOOD 1991). A toxemia da gestação é o principal diagnóstico diferencial da hipocalcemia. Nos casos avançados, essa diferenciação foi muito difícil, mas as baixas concentrações séricas de cálcio e a rápida e completa resposta ao tratamento com cálcio promoveram um diagnóstico preciso. Casos nos estágios iniciais foram diferenciados pelos sinais clínicos(LARSEN et al. 1985). ELIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM(1990) afirmam também que a hipocalcemia assemelha-se clinicamente à toxemia da gestação, porém níveis normais de glicose sanguínea, níveis de Ca abaixo de 5% e rápida resposta ao tratamento com borogluconato de cálcio, confirmam o diagnóstico de hipocalcemia. 2.8.4.DIAGNÓSTICO POST-MORTEM 2.8.4.1 ACHADOS DE NECRÓPSIA A necrópsia não revelou nenhuma lesão significante, apenas o fígado e os rins estavam ligeiramente congestos (SIMMONS 1975). Segundo YATES, HUNT (1986), não existe lesões patognomônicas causadas pela hipocalcemia. Foi sugerida uma flacidez da musculatura cardíaca, mas tal indicador é de avaliação muito difícil. BLOOD 1991 conclui também que não há alterações macroscópicas ou histológicas, a menos que alguma doença concomitante esteja presente. FENWICK e DANIEL (1992b) submeteram à necrópsia uma ovelha hipocalcêmica que morreu entre 3 a 8 horas após o fim da infusão de Na EDTA. Está 2 necrópsia revelou uma coloração escura dos lobos cardíaco e apical do pulmão direito, com fluido assemelhando um conteúdo ruminal aguado no brônquio direito e traquéia. No músculo adutor da coxa direita foi dicernida macroscopicamente uma àrea demarcada de tecido pálido do músculo medindo aproximadamente 10X7cm. 2.9. PREVENÇÃO E TRATAMENTO As ovelhas em lactação não devem ser submetidas a exercícios ou excitação desnecessários. As mudanças para pastos suculentos, devem ser feitos gradualmente, e os ovinos transportados dos pastos sombreados para os campos abertos com pouco abrigo natural devem receber alguma proteção contra o tempo (BLOOD 1991). No rebanho, uma dieta com grande quantidades de cálcio e fósforo por várias semanas anteriores ao parto é uma efetiva medida preventiva. Em relação a isto, rações adequadas são essenciais para suprir as necessidades de animais de alta produção e a introdução de suplementos de grãos um mês anterior ao parto é recomendado. Injeções de vitamina D3 tem sido usado preventivamente em animais propenso à doença, mas o tempo de uso da injeção é controverso (LINDAY, PETHICK 1983). No entanto, BLOOD (1991) afirma que a paresia pode ser evitada por meio do fornecimento de uma ração com alta quantidade de fósforo e baixa quantidade de cálcio, durante o final da gestação. Tal ração estimularia a atividade da paratireóide durante o período seco e condicionaria a glândula para uma atividade maior, necessária no momento do parto. Segundo DRYERRE e GREIG, a incapacidade de mobilizar o cálcio do esqueleto pode aparecer devido à insuficiência da paratireóide. Ambos postularam que a glândula estava relativamente quiescente devido a diminuição do metabolismo de cálcio e fósforo, no período seco. Como prevenção contra as plantas que contém oxalatos, ROSA (1996) recomenda suplementar os animais com quantidades adequadas de cálcio para tornar os oxalatos insolúveis no rúmen e, desta forma, causar sua precipitação e evitar o efeito tóxico. A administração de soluções intravenosa de cálcio (1g Ca/45 Kg) resulta em rápida recuperação. Nas últimas 6 semanas de gestação, a ovelha deverá ser submetida a um plano continuamente ascendente de nutrição (YATES, HUNT 1986). BLOOD (1991) afirma que a resposta ao tratamento parenteral com sais de cálcio é rápida e a ovelha apresenta-se normal 30 minutos após uma injeção subcutânea. A morte freqüêntemente ocorre dentro de seis a 12 horas se o tratamento não for administrado. O tratamento de casos clínicos envolve injeção de borogluconato de cálcio (50 a 100 mL de uma solução a 25%) por via subcutânea ou intravenosa. Relata ainda que o tratamento requer uma monitorização cuidadosa dos movimentos cardíacos pois é essencial para evitar uma superdosagem e complicações séricas. Afirma que uma resposta dramática é usualmente vista a este tratamento(LINDSAY, PATHICK 1983, KEMP 1985). Cada ovelha com hipocalcemia (abaixo de 9%(w/w),sendo que os valores normais são 10,04 +/- 0,22%(w/w), segundo NRC, 1985) foi tratada com infusão intravenosa de uma solução de 30-100 mL de borogluconato de cálcio. A infusão durou entre 4,5-6,5 min. Ovelhas com uma diminuição moderada dos níveis séricos de Ca(6,5-8,9%(w/w) receberam 30-50 mL de infusão, enquanto ovelhas com grande diminuição dos níveis séricos de Ca (abaixo de 4,5 (w/w)) receberam 60-100 mL de borogluconato de cálcio (ELIAS,SHAINKINKESTENBAUM 1990). É razoável se assumir que diferentes graus de hipocalcemia em ovelhas, requer diferentes níveis de Ca. O uso da mesma dose de borogluconato de Ca em todas ovelhas acometidas pode resultar em uma severa arritmia cardíaca e morte. Hipocalcemia severa por níveis séricos de Ca, em ovelhas gestantes devem ser tratadas com 80-100 mL de solução de borogluconato de Ca a 20% por via intravenosa; para ovelhas com hipocalcermia moderada, 30-40 mL é suficiente. Depois de 20 minutos, todas as ovelhas tratadas receberam 120 mL de solução de borogluconato de Ca pela via subcutânea (ELIAS, SHAINKIN-KESTENBAUM 1990). È importante resaltar, que a fluidoterapia de reposição suplementada com sódio e potássio pode ser valiosa e incrementar os estudos do tratamento das complicações na hipocalcemia prolongadas que afeta ruminantes. Após induzirem hipocalcemia em ovelhas usando infusão de Na EDTA (4h/ dia por três dias 2 consecutivos), passaram a valorizar está fluidoterapia de reposição com sódio e potássio, pois alguns efeitos fisiopatológicos encontrados na hipocalcemia era a diminuição de Na e K plasmáticos (FENWICK, DANIEL 1992a). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A causa da doença não está bem entendida, mas parece começar devido ao requerimento fetal de cálcio adicionado com dietas deficientes deste mineral. Dietas com fatores limitantes de suplemento de Ca no último mês de gestação, causou hipocalcemia severa devido a continua perda de Ca para o feto em desenvolvimento, apesar disto, as ovelhas adaptam-se a brusca queda no consumo deste mineral na dieta, mobilizando as reservas energéticas. A depressão nos níveis séricos do Ca não ocorre no período do parto. É necessário um fator predisponente para causar hipocalcemia, tal como o exercício forçado e/ou a privação do alimento. Devido aos altos índices de hipocalcemia ocorrida pelo estresse do transporte, recomenda-se que não se faça deslocamento por longas distâncias com ovelhas prenhas, principalmente na gestação gemelar. Confirma-se o diagnóstico pela resposta favorável ao tratamento com injeções parenterais de solução de Ca e por exame bioquímico do sangue. Diferentes graus de hipocalcemia em ovelhas requer diferentes níveis de Ca.