CASCA D’ANTA SÃO ROQUE DE MINAS NOVEMBRO, 2.004 SUMÁRIO 1- APRESENTAÇÃO................................................................. 3 2- ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS.......................... 4 3- REGISTROS HISTÓRICOS.................................................. 5 4- CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO......... 7 5- ASPECTOS AGROGEOLÓGICOS DA MICRORREGIÃO... 10 5.1. CARACTERÍSTICAS AGROCLIMÁTICAS.................... 12 5.2. SOLOS........................................................................... 12 5.3. COBERTURA VEGETAL............................................... 15 6- PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO QUEIJO...................... 17 7- CARACTERÍSTICAS DO QUEIJO...................................... 18 8- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................... 19 9- EQUIPE DE ELABORAÇÃO................................................ 19 ANEXOS CARACTERIZAÇÃO DA MICRORREGIÃO DA CANASTRA COMO PRODUTORA TRADICIONAL DO QUEIJO MINAS ARTESANAL 1. APRESENTAÇÃO Dentre as regiões produtoras de queijo artesanal, em Minas Gerais, com certeza a Canastra é a mais conhecida. Esta fama ultrapassa as fronteiras do Estado e, com justiça, existe razão no fato. Além de se produzir um queijo diferenciado, de sabor característico, esta região 2 ainda possui belezas naturais já relatadas por antigos naturalistas que por aqui andaram nos séculos anteriores. Na região da Canastra a produção do queijo artesanal é um fator cultural de significativa importância sócio-econômica para grande parte das famílias rurais. Em toda a região é marcante a presença da agricultura familiar, com sua característica de diversificação de produtos e seu conseqüente envolvimento na atividade leiteira. É principalmente daí que saem as cerca de 4.470 toneladas/ano de Queijo Minas Artesanal Canastra para abastecer os mercados locais, regionais e até de estados vizinhos. Esta produção de queijo, mesmo com o advento de vários processos tecnológicos mais avançados, não cessa porque se trata de uma atividade que tem história, pertence ao “modus vivendi” das famílias locais que desde o início da ocupação destes campos viam na fabricação do queijo uma alternativa segura de renda e de sobrevivência. Este estudo de caracterização tenta mostrar que o processo artesanal de fabricação do queijo é de grande importância sócio-econômica para a agricultura familiar da região da Canastra, pois gera ocupação e renda, permitindo a fixação das famílias no campo. Ao se fazer a delimitação da microrregião produtora de queijo artesanal, descrever as características dos municípios que a compõem, levantar os dados históricos que formaram sua cultura, faz-se também o reconhecimento de uma atividade histórica que valoriza o passado e o presente de um povo. 2. ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS A região da Canastra localiza-se no sudoeste do Estado de Minas Gerais, limitando-se ao norte com a região do Triângulo Mineiro ao sul com a região do Lago de Furnas e a oeste com a região centro-oeste de Minas. Suas coordenadas apontam para 47º 30’ de longitude Oeste, 45º 30’ de longitude Leste, 19º 45’ a 20º 34’ de latitude Sul. 3 Privilegiada pela localização próxima a grandes centros consumidores, pela grande quantidade de água e pelo clima ameno, a região tem na agropecuária uma das principais fontes de riqueza. O início da sua colonização se deu pela procura de minerais raros, fato típico em diversas regiões de Minas Gerais. Os primeiros habitantes descendem dos índios Caiapós e Cataguases, além dos quilombos que foram numerosos por toda a região. Famílias oriundas de São João D’el Rei, Barbacena e do Sul de Minas aqui vieram na busca de diamantes e outras pedras preciosas. Devido a grande parte da região ser caracterizada como área de campo, a agricultura se dava de modo incipiente, produzindo aquilo necessário à subsistência, normalmente aproveitando as terras mais férteis situadas na cabeceira do Rio São Francisco. Aquelas famílias trouxeram com elas o conhecimento da produção do queijo, feito a partir do leite cru e encontraram aqui o ambiente propício para a perpetuação desta arte. O relevo constituído de chapadões de altitude permite o aparecimento de inúmeras nascentes e cachoeiras. Possui exuberante flora e variadas espécies de animais silvestres e o nome Serra da Canastra deve-se à semelhança existente entre o imenso chapadão e um grande baú, que os antigos chamavam de canastra. A formação dos povoados muitas vezes surgia em torno de capelas construídas para a manutenção da crença religiosa, sendo este fato bem caracterizado na formação de cidades como São Roque de Minas e Bambuí. A beleza das serras e a existência de inúmeros mananciais forma um cenário atraente para o turismo ecológico, que se tornou, atualmente, expressivo como uma atividade de renda para as famílias locais. 3. REGISTROS HISTÓRICOS A fabricação e consumo do queijo na região da Canastra se confundem com a história do povoamento local, iniciado com a busca de minerais e pedras preciosas. 4 Relatos de naturalistas, contratados na época do império, são ricos em descrições detalhadas da vegetação, tipo de solo, serras, rios e seus habitantes. Entre os costumes e hábitos alimentares descritos, o queijo, fabricado de forma artesanal, já era incluído. Auguste de Saint-Hilaire, em passagem pela região, imortalizou suas percepções através da obra “Viagem às Nascente do Rio São Francisco”, onde descrevia minuciosamente tudo que encontrava pelo caminho. J. Emanuel Pohl (1818) também descreve a região de Bambuí e a beleza do Rio São Francisco no seu livro “Viagem ao Interior do Brasil”. Ambos, no século XIX, relataram o queijo artesanal como produto de expressão na alimentação e na economia regional. Entrevistando pessoas mais idosas da região, elas dão conta que a fabricação de queijo era uma das atividades de subsistência das fazendas desde a época de seus avós. 5 Outros registros históricos dão conta de que com a formação dos primeiros rebanhos utilizando a pastagem nativa de campo e as pastagens naturais existentes nas áreas desmatadas, surgiu a necessidade da produção do queijo artesanal. O produto era consumido pelas famílias e/ou comercializado junto aos tropeiros que passavam pela região e distribuíam estes produtos para diversas comarcas. O processamento era rudimentar, sendo o coalho natural, obtido da raspagem do estômago seco do tatu, porco ou do bezerro macho. Como fermento láctico, usava-se o “pingo”, ou seja, o soro que escorre do queijo no prazo de 12 a 24 horas, sendo que usualmente este “pingo” era trocado entre os produtores de queijo. A produção era guardada em malas de couro (bruacas ou buracas) e transportada em lombo de muares ou em carros de boi. Naquela época, devido às dificuldades de transporte, o queijo chegava a ser comercializado com 30 a 60 dias de maturação. Alguns moradores relatam com preciosidade o processo de obtenção do coalho e da produção do queijo artesanal. É o caso de João Sinhana, como é conhecido o senhor João Bernardes dos Santos, filho de José Urias dos Santos (Zé Sinhana) e de Maria Aparecidina de Jesus. João Sinhana, hoje com 69 anos, ainda se lembra de quando era criança e morava na fazenda denominada Quenta Sol, naquela época município de São Roque de Minas, hoje pertencente ao município de Vargem Bonita. Ele conta que, nos anos 40, seu pai e outros vizinhos caçavam tatus para fazer uma espécie de coalho, que era usado na coagulação do leite para fazer o já famoso queijo canastra. Segundo João Sinhana, na verdade eles não tiravam um tempo para caçar os tatus, já que saiam normalmente para a lida e sempre aparecia um ou outro tatu pelo caminho, e era esse “transformado” no próximo coalho. Os tatus mais comuns na região eram o tatu galinha, o tatu peba e o tatu veado. Aí é bom perguntar ao senhor João: e o tatu canastra? “Não, esse não era usado para fazer coalho, era um tatu bonito, grande e já quase não se encontrava naquela época e mesmo se encontrasse meu pai não matava”. E o processo para se fazer o coalho, como era? 6 “O coalho era feito do bucho do tatu. Pegava o bucho, lavava muito bem lavado e enchia de sal. Depois ele era empalhado com palha de milho e era colocado dependurado por cima do fogão de lenha, onde ficava por até 6 meses, ficando todo preto de picumã. Para coalhar o leite, meu pai ia lá na trouxinha onde estava o bucho cheio de sal (às vezes o sal já tinha comido todo o bucho), então abria a palha e pegava uma colher daquela mistura de sal e bucho derretido, colocava num copo com água, coava e só no outro dia ele era colocado no leite. O coalho durava muito tempo, por dois motivos: primeiro, fazia pouco queijo e segundo, sempre aparecia um tatu pelo caminho. Com o passar do tempo, começou a fazer coalho com o bucho do porco e foi deixando de lado o bucho do tatu. Mas eu posso garantir, com todo certeza, que o queijo feito com o coalho do bucho de tatu era muito melhor, mais saboroso. É a mesma coisa de comparar hoje o queijo feito no chapadão e o queijo feito na braquiária. Lembro, também, quando chegou um vendedor oferecendo um coalho que vinha numa garrafa de vidro tampada com uma rolha e uma espécie de resina por cima. Para abrir a garrafa gastava um saca-rolha, era um tal de “coalho Friso”. Foi aí que acabou o coalho de bucho de tatu e de porco”. João Sinhana entregou a fazenda para seu genro Reinaldo Faria Costa, que mantém a tradição de fazer o velho e bom queijo canastra e sua fazenda fica na região da Capivara, vizinha da fazenda Quenta Sol. Outros registros relatam, também, que normalmente o leite era produzido em regime de pasto de gramíneas fibrosas das áreas nativas de campo. Era usual, no período seco do ano, fazer queimada das pastagens para forçar a rebrota do capim e assim o rebanho aproveitar o capim novo de melhor qualidade. Esta prática, utilizada ainda atualmente, contribuiu para o empobrecimento do solo e deu origem a vários processos erosivos, que hoje necessitam de correção. Ainda hoje são encontradas, em algumas propriedades, antigas formas de madeira para a produção de queijo. 4. CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA MICRORREGIÃO Na Região da Canastra, a produção de queijo artesanal é feita de modo tradicional nos seguintes municípios: Bambuí, Delfinópolis, Medeiros, Piumhi, São Roque de Minas, Tapiraí 7 e Vargem Bonita. Estes municípios possuem várias particularidades naturais, socioculturais e econômicas em comum, encontradas somente nesta região. Entre elas, o modo de se fazer e consumir o queijo artesanal. As condições físico-ambientais encontradas na área delimitada são favoráveis à produção de queijo, certamente devido a um ambiente propício ao desenvolvimento de bactérias típicas, que promovem o sabor característico do queijo tão apreciado pelos consumidores. Existe uma maneira própria de fazer os queijos que vai desde a ordenha até sua posterior maturação. Economicamente, o queijo desta região tem um significado expressivo, sendo que em alguns municípios estudados é a principal fonte de renda e empregos, notadamente para os agricultores familiares. Deste modo, a unidade ambiental existente em grande parte dos municípios que compõem a região, somados aos aspectos sociais, culturais e econômicos comuns aos produtores de queijo são, desde séculos atrás, elementos marcantes do dia-a-dia dos seus habitantes. Tab. 1- Características gerais dos municípios MUNICÍPIO ÁREA POPULAÇÃO (km²) (nº) Bambui 1.457 21.682 18,5 Delfinópolis 1.171 6.572 29,0 Medeiros 969 3.038 51,6 Piumhi 905 28.757 12,3 2.107 6.326 41,0 434 1.887 40,5 São Roque de Minas Tapiraí % DA POPULAÇÃO RURAL 8 Vargem Bonita TOTAL 409 2.206 46,6 7.452 70.468 21,9 Fonte: IMA/EMATER-MG 2003 / IBGE 2002 A tabela 1 evidencia que a microrregião caracterizada é formada de pequenos municípios, sendo que alguns deles ainda apresentam bom número de pessoas no campo. É o caso, principalmente, de Medeiros e Vargem Bonita. O município que apresenta maior contingente de pessoas no meio urbano é Piumhi, sendo este, também, o município mais populoso. Cerca de 15.400 pessoas vivem no meio rural e, com certeza, a maioria delas são agricultores familiares, que diversificam suas atividades e têm no queijo artesanal a sua principal fonte de renda. Tab. 2 Características Rurais MUNICÍPIO PROP. RURAIS (nº) PASTAGEM REBANHO PROD.LEITE PRODUTOR QUEIJO (ha) (cabeças) ANO (1.000 l) DE QUEIJO PROD. ANO (nº) (ton.) Bambuí Delfinópolis Medeiros Piumhi São Roque de Minas Tapiraí Vargem Bonita 1.438 484 537 956 933 258 207 103.235,0 55.146,0 61.302,0 53.767,0 45.000,0 31.900,0 26.073,0 74.323 80.000 29.971 30.394 18.811 18.320 12.792 36.537 15.000 16.425 21.600 7.560 4.438 2.355 149 25 430 50 852 89 200 576 70 1.600 165 1.537 162 360 TOTAL 4.813 376.423,0 264.611 103.915 1.795 4.470 Fonte: IMA/EMATER-MG 2003 / IBGE 2002 A pecuária de leite, conforme a tabela 2, exerce considerável força na economia regional. Somada a produção anual de todos os municípios, vê-se que a produção de leite, em torno 9 de 104 milhões de litros, é importante no quadro da produção agropecuária total. Estima-se que desta produção, 50% é transformada em queijo pelos 1.795 produtores evidenciados neste levantamento. Grande parte desta produção é comercializada nos mercados de Belo Horizonte e São Paulo. Nos municípios maiores produtores de leite, Bambuí e Piumhi, o volume de leite destinado à produção de queijos artesanais representa apenas 15,7 e 6%, respectivamente. Por outro lado, no município de Medeiros, 85% do leite produzido é transformado em queijo. Tab. 3 – Estrutura Fundiária da Região Caracterizada TAMANHO DA PROPRIEDADE QUANTIDADE % 478 9,7 10 a menos de 50 ha 1.860 38,0 50 a menos de 100 ha 1.026 21,9 100 a menos de 500 ha 1.287 26,5 235 4,8 4.813 100 Menos de 10 ha Acima de 500 ha TOTAL Fonte: IBGE, 2002 Na observação da tabela 3, vê-se que 69.6% das propriedades da região da Canastra possuem área de até 100,0 ha, mostrando uma predominância de agricultores familiares nas atividades da agropecuária. A grande maioria dos produtores de queijo artesanal está dentro deste estrato de propriedade, já que aquelas de maior área se dedicam, com maior freqüência, à pecuária de corte ou ao plantio de grãos, notadamente milho e café. Ressalta- 10 se que existem grandes propriedades na área do Parque Nacional da Canastra com pouco uso produtivo, mas são usadas nas atividades de ecoturismo ou são unidades de preservação ambiental 4.1 – CARACTERIZAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO REBANHO BOVINO Como acontece na região tropical do Brasil, também o rebanho da Região da Canastra é formado por animais mestiços, advindo do cruzamento do Bos taurus com o Bos indicus. A raça Caracu era em maior quantidade no início da colonização, mas ocorreu posteriormente a predominância dos animais zebuínos, principalmente os de sangue Gir, que pastavam o capim meloso e outras gramas nativas dos campos e cerrado. Com o aparecimento das raças européias, principalmente o holandês, tornou-se comum a produção de leite a partir de animais cruzados entre estas raças. A produção média de leite destas matrizes está em torno de 1.400 litros/lactação, com teor de gordura próximo de 3%, o que permite razoável rendimento na produção do queijo artesanal. Na região existem criadores das raças Jérsei, Guzerá e Pardo Suíço, porém em quantidade não expressiva. Com o melhoramento da produção individual das vacas, foi necessária a mudança da alimentação, sendo que hoje está havendo predominância de pastagem formada com gramíneas mais produtivas, dos gêneros Brachiaria e Panicum. A região caracterizada conta com um rebanho de aproximadamente 264 mil cabeças, distribuídas em 4.813 propriedades rurais, onde a média é próxima de 55 cabeças por propriedade. Aqui se observa a produção como sendo tipicamente de agricultores de pequena propriedade, na maioria de economia familiar. 11 FOTO: Alberto Schwaiger Paciulli INTERIOR DA QUEIJARIA DE VALTER CAETANO LEITE – MEDEIROS - MG 5. ASPECTOS AGROGEOLÓGICOS DA MICRORREGIÃO 5.1– CARACTERÍSTICAS AGROCLIMÁTICAS O clima caracterizado na área delimitada é classificado como tropical de altitude, típico do cerrado, com temperatura média anual em torno de 22,2 °C, com a média mínima de 16,7 ºC e a média máxima de 27,6 ºC, com chuvas distribuídas entre os meses de outubro a março, com índice pluviométrico médio em torno de 1.390 mm anuais. A altitude varia de 637 a 1.485 m, tendo um relevo com cerca de 25% de área plana, 40% de área ondulada e 35% de área montanhosa. A umidade do ar é típica de cerrado, com inverno seco e verão úmido, podendo ir de valores inferiores a 40% no inverno e superiores a 85% no verão. 5.2 - SOLOS A região caracteriza-se por possuir uma variação acentuada de tipos de solos, dependendo dos limites geográficos analisados. A classificação das unidades ambientais desta região pode ser apresentada da seguinte forma: 1- Grupo Bauru – Arenito 12 (Superfície tabular – latossolos associados a neossolos quartzarrênico) Localização: extremo oeste do município de São Roque de Minas. Representado pela superfícies tabulares e onduladas, vulgarmente denominadas chapadas, este ecossistema constitui solos profundos, ácidos e de baixa/muito baixa fertilidade natural. A vegetação característica destas unidades é o cerrado latu sensu e os campos cerrados. Associam-se às chapadas rebordos com cobertura superficial de cascalhos e concreções ferruginosas sendo classificados os solos correlacionados como neossolos litólicos - solos rasos, pedregosos e de baixa fertilidade natural com vegetação campestre. As chapadas correspondem a extensas áreas de recarga de aqüíferos nos municípios e região, devido ao relevo plano/suavemente ondulado e profundidade/permeabilidade dos solos predominantes. Portanto, são de fundamental importância para as águas subterrâneas das regiões onde ocorrem. 2- Formação Serra da Saudade – Siltito e Argilito (Vertentes ravinadas – neossolo litólico) Localização: região central do município de São Roque de Minas com maior predominância nos municípios de Piumhi e Bambui. Constituído pelos rebordos das chapadas, caracterizados por vertentes (encostas) íngremes, com predominância de solos rasos e pedregosos de baixa fertilidade. A vegetação nativa constituída por campo cerrado predomina significativamente sobre a vegetação cultivada, face às naturais limitações para uso e ocupação. 3- Formação Serra de Santa Helena – Follelho, Siltito e Marga (Vertentes ravinadas – cambissolos) Localização: extremo leste do município de São Roque de Minas e Região Sudoeste de Bambuí. Trata-se de um ecossistema frágil, constituído por solos de grande erodibilidade (cambissolos) sujeitos a formação de voçorocas. Este ecossistema é expressivo em torno e 13 entre as chapadas, encontrando-se com a cobertura vegetal nativa relativamente preservada. As principais limitações para o uso agropecuário referem-se ao relevo acidentado, baixa fertilidade natural e susceptibilidade à erosão. Recomenda-se rigor na manutenção da cobertura vegetal nativa dada à fragilidade deste ecossistema. A remoção da cobertura vegetal nativa e da camada de cascalho acelera o processo de erosão em voçoroca podendo, inclusive comprometer as chapadas interligadas. 4- Grupo Canastra – Formação de Chapadas e Indiviso Quartzito, Xisto, Filito, Metargilito, Metamarga e Ardósia. (Escarpas Rochosas) Localização: predominância nos municípios de Tapiraí, Medeiros, São Roque de Minas, Vargem Bonita e Delfinópolis. Caracteriza-se pela ocorrência de afloramentos de quartzitos em relevo montanhoso com inclusões de neossolo litólico (solos de baixa fertilidade natural, ácidos e rasos), com vegetação de campos rupestres. Associam-se a estas serras rampas com ocorrência de solos com horizonte superficial orgânico e arenoso, correlacionados com surgência de aqüíferos freáticos propiciando elevada umidade do solo superficial (horizonte A). Integra-se a estas paisagens quedas d’água (cachoeiras), piscinas naturais, grutas de considerável beleza cênica e potencial para o turismo ecológico. Os cursos d’água integrantes deste ecossistema, apresentam visível característica cristalina em decorrência da interação com rochas quartzíticas sendo, portanto, de insignificantes níveis de nutrientes (hipoeutrofisação). Esta condição pode condicionar a respectiva fauna aquática. Por outro lado, a ocorrência de várias quedas d’água proporcionam a oxigenação dos córregos. 5- Subgrupo Paraopeba – Siltito e Argilito Verde (Rampa de Colúvio) 14 Localização: Região Sudeste de Tapiraí, Medeiros, São Roque de Minas, com maior predominância no município de Bambui e algumas ocorrências em Piumhi e Vargem Bonita. As rampas de colúvio apresentam relevo suave, em geral com declividade inferior a 15%, sendo formada por ação da gravidade (processo de coluvinamento), estando sua origem também correlacionada com as unidades litológicas mencionadas no Subgrupo Canastra. Os solos predominantes são os latossolos vermelho-amarelos, que apresentam maior profundidade e, em decorrência da declividade e do comprimento das rampas são mais susceptíveis à erosão laminar. As rampas de colúvio quando sob vegetação nativa são recobertos por formações de cerrado, da qual atualmente existem poucos remanescentes. Os aspectos físicos (relevo e profundidade do solo) e químicos (baixa fertilidade e elevada acidez) desta unidade, condicionam a sua utilização de forma bastante intensiva, representada pela agricultura, com predomínio de cultivos anuais. A região da Serra da Canastra apresenta um grande potencial hidrológico em virtude da sua geomorfologia, principalmente pelo fato da presença de escarpas rochosas. As águas emergentes de formação de rochas quartzíticas apresentam-se, além de cristalinas, oxigenação propiciada por quedas d’água de diferentes dimensões. Portanto, estes ecossistemas apresentam condições favoráveis quanto à qualidade da água, servindo bem na utilização nos processos de produção de queijo. 5.3 - COBERTURA VEGETAL A vegetação original é aquela própria de campos e cerrados, onde a vegetação do tipo florestal, mais exuberante e densa, é encontrada somente junto aos cursos d’água e solos mais ricos e profundos. As espécies forrageiras consideradas nativas mais comuns são o capim meloso ou gordura (Mellinis minutiflora) e jaraguá ou provisório (Hyparrhenia rufa) e a grama nativa conhecida como capim fino ou barba de bode. As espécies forrageiras mais cultivadas são as Brachiaria decumbens e brizantha, os diversos Panicuns e os capins Napier e Cameron. 15 A vegetação arbórea do cerrado da região é marcada por espécies como a lobeira (Solanum lycocarpum), barbatimão (Stryphnodendron adstringens), ipês branco, amarelo e rosa (Tabebuia sp,), quaresmeira (Tibouchina sp), angico (Parapiptadenia rigida), aroeirinha (Lythraea molleoides), marmelada (Alibertia sessilis), embaúba (Cecropia hololeuca), sangra d’água (Croton sp), jacarandazinho (Dalbergia nigra), alecrim (Holocalyx sp), côco macaúba (Acrocomia aculeata), assa-peixe (Vernonia sp), além de mangaba, gabiroba, entre outras. 16 RIO SAMBURÁ – SERRA DA CANASTRA 6. PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO QUEIJO MINAS ARTESANAL CANASTRA Obtenção da matéria prima O leite é obtido através de ordenha manual ou mecânica, em locais apropriados, cobertos ou não Filtragem O processo de filtragem é feito através de filtro ou tecido sintético lavado e desinfetado Elaboração do queijo Adição do pingo Adição do coalho: dissolvido em água, em dosagem recomendada pelo fabricante. Corte da massa A massa é cortada com pá ou régua, em média 40 a 50 minutos após a adição do coalho. Mexedura da massa É feita respeitando pequenos intervalos, para facilitar do dessoramento. Separação do soro Enformagem A massa é colocada em formas com 15 a 17 cm de diâmetro interno revestidas com tecido sintético. 17 Prensagem Processo manual efetuado inicialmente com auxílio do tecido sintético e na fase final com a pressão e calor das mãos Adição do sal A massa enformada recebe o sal grosso ou triturado numa das superfícies. Depois de um período que varia entre 6 a 12 horas, vira-se o queijo e repete-se o processo. Maturação Após 24 horas o queijo é retirado da forma, colocado em prateleiras de madeira, lavado enxuto diariamente, durante 7 a 8 dias 18 7. CARATERÍSTICAS DO QUEIJO Denominação de venda: Queijo Minas Artesanal da Canastra Ingredientes obrigatórios: Leite de vaca cru integral, cultura láctea natural (pingo), coalho e sal. Características físico-químicas e sensoriais: Consistência: semi-dura com tendência a macia, de natureza manteigosa. Textura: compacta Cor: branca-amarelada Crosta: fina, amarelada, sem trincas. Formato: • cilíndrico • Altura: 4 a 6 cm. • Diâmetro: 15 a 17 cm • Peso: 1,0 a 1,2 kg • Odor e sabor: ligeiramente ácido, não picante agradável. Obs: É comum na região, principalmente em São Roque de Minas, Medeiros e Vargem Bonita, a produção de um queijo diferenciado, de formato cilíndrico, com altura entre 7 a 8 cm, diâmetro de 26 a 30 cm, peso entre 5 a 7 kg, com a denominação de queijo Canastra Real ou Canastrão. Segundo consta, este tipo de queijo era produzido antigamente em ocasiões especiais, como visitas do Bispo Católico ou de autoridades do império ou da capitania. 19 7 . BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Abreu, L. R. Tecnologia de Leite e Derivados: UFLA/FAEPE, 2000, 205p EMATER-MG, Informação tecnológica – fabricação de queijos, 1998 EMATER-MG, Relatório de realidade municipal, 2002 IBGE, Censo 2002 IMA, Regulamento do processo de produção do queijo minas artesanal, 2002 Pohl, J. E. Viagem ao interior do Brasil, 1818 Saint-Hilaire, A. Viagem às Nascentes do Rio São Francisco. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975. (Reconquista do Brasil, 7). 8- EQUIPE DE ELABORAÇÃO Elmer Ferreira Luiz de Almeida Maurício Roberto Fernandes Coordenadores Técnicos da EMATER-MG Colaboração: Coordenadora Técnica Estadual Marinalva Olívia Martins Soares Equipes Locais da EMATER-MG de: Bambuí Delfinópolis Medeiros Piumhi São Roque de Minas Tapiraí Vargem Bonita 20