MINAS K www.revistaviverbrasil.com.br ŁŤŢţŦŁşťũ Sul de Minas Com potencial econômico diversificado, empresários se unem para fortalecer segmento industrial. Setor alimentício e turismo religioso mostram força Cafeicultura Café produzido em Carmo de Minas ostenta o título de melhor do mundo Avicultura Granja Mantiqueira é responsável por 6% dos ovos produzidos no país O Sistema FIEMG é SESI e SENAI, é FIEMG, CIEMG e IEL. São cinco organizações privadas que atuam ao lado dos empresários mineiros para que a indústria produza mais e melhor. O Sistema FIEMG é segurança e saúde no trabalho. É tecnologia e inovação. É educação e formação profissional. O Sistema FIEMG é mais desenvolvimento para todos. Para a indústria. E para você. www. fiemg.com.br Editorial MUITAS APTIDÕES E EMPREENDEDORISMO Localizada em meio ao maior PIB nacional, cercada por São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto e o Centro-Oeste Mineiro, a região Sul tem 156 municípios com múltiplas vocações e tem nas águas medicinais e nas estâncias hidrotermais uma vocação turística, fonte econômica e de geração de empregos. Que o diga José Sacido Barcia Neto, prefeito de São Lourenço, cidade cuja economia é regida pelo comércio, com aproximadamente 1.600 pontos que contribuem com 60% da receita do município. É a segunda cidade em Minas Gerais em número de leitos, perdendo apenas para a capital, com 70 unidades hoteleiras que representam 40% da receita do município. Em Carmo de Minas, fomos conhecer de perto a joia da Mantiqueira, o café especial considerado o melhor do mundo desde 2005, segundo o Cup of Excellence, o mais renomado concurso de cafés especiais. Quem produz esse tesouro é o Grupo Sertão através de uma tradição que remonta a 1912, quando a Fazenda do Sertão plantava suas primeiras lavouras de café. Percebendo a excelência do grão, jovens empreendedores da Carmocoffes criaram, entre 1999 e 2000, um programa pioneiro de direct trade que garimpa compradores de café em todo o mundo e apresenta a eles o grão produzido na região, valorizando a produção e permitindo que cafés singulares cheguem sem intermediários a clientes e empresas estrangeiras, com benefícios para todos os envolvidos O Sul de Minas abriga gigantes como a Granja Mantiqueira, a maior produtora de ovos da América Latina, e décima do mundo, que exibe números superlativos: quase 11 milhões de galinhas que botam perto de 2 bilhões unidades ao ano. Isso sem falar na Higident do Brasil, empresa que gera 1.200 empregos diretos e 6.000 indiretos, tem capacidade de produção de 720 milhões de sabonetes por ano, o que significa quase dois milhões de sabonetes por dia. Na contramão da crise financeira, as empresas que compõem o Vale da Eletrônica, localizado em Santa Rita do Sapucaí, apostam em expansão de plantas, lançamentos de produtos, novas fábricas e estão investindo cerca de 100 milhões de reais este ano. São 153 empresas que fabricam mais de 13.700 itens e empregam cerca de 10 mil pessoas. E, para adoçar a vida, não poderíamos deixar de falar sobre os famosos doces fabricados em São Lourenço. Para aguçar os paladares, mostramos a alquimia de sabores da chef Cristina Craik (Kika) que preparou divinamente uma truta criada em Aiuruoca e defumada artesanalmente pelo marido Kieran Craik (Kiko) e servida com o pinhão da Mantiqueira. Ana Elizabeth Diniz, repórter [email protected] Diretor-geral Paulo Cesar de Oliveira Secretária de redação Tamara de Jesus Diretor licenciado Gustavo Cesar de Oliveira Editor de arte Renato Luiz Diretora Executiva Eliana Paula Equipe de arte Adroaldo Leal, Gilberto Silva e Diretor de redação Homero Dolabella Luciano Cabral Diretora de arte Oriádina Panicali Machado Fotografia Agência i7 Chefe de redação Maria Eugênia Lages Gerente de marketing Larissa Lopes Editora-executiva Silvânia Arriel Gerente de eventos Gustavo Serpa Subeditora Luciana Avelino Gerente financeira Marcela Galan Editora-adjunta Cláudia Rezende Assistente comercial Sumaya Mayrink Departamento comercial (31) 3503-8888 Repórter Ana Elizabeth Diniz Andrea Monteiro, Dária Mineiro, José Lopes, Revisão Maria Ignez Villela Viver Minas é uma publicação da VB Editora e Comunicação Ltda. Karine Scofield, Márcia Perígolo, Marco Adail e Sônia Beatriz [email protected] Assinaturas (31) 3503-8860 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. 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ARY NOVAES: momento de reflexão e intercâmbio 6 Divulgação VIVER Setembro - 2014 Para isso, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), regional Sul, realiza anualmente a Semana do Gerente Empresarial que este ano completou a décima edição. “O momento é de intercâmbio e reflexão sobre interesses e dificuldades do setor. Para isso, criamos o Conselho Estratégico das Indústrias do Sul de Minas que reúne seis empresas que são responsáveis pela geração de 7.900 postos de trabalho”, explica Ary Novaes, presidente regional da entidade. Um dos setores que se destaca economicamente na região é o alimentício. “É incrível uma cidade do tamanho de Extrema, com 28.599 habitantes, ter um segmento que emprega 25% da mão de obra local através de empresas como Barry, Bauducco, Kopenhagen e Laticínio Serra Dourada, sendo que, dentro de 90 dias, uma empresa de sorvetes deverá se instalar na cidade”, anuncia o dirigente. O setor é fundamental no desenvolvimento e arrecadação e exige mão de obra de altíssima qualidade. Para atender a essa demanda crescente e específica, o Senai-MG junto com o Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (Ciemg), presidido pelo empresário Sílvio Cesarino, está criando um centro especializado em alimentos. Apesar de ser uma região com diversidade de opções turísticas, o sul carece de mais atenção e cuidado por parte do governo do estado, diz Novaes. “A região é conhecida e famosa pela qualidade de suas águas e pelas estâncias hidrominerais. O Parque das Águas de Caxambu e seu balneário de hidroterapia VIVER Setembro - 2014 RADIOGRAFIA 156 municípios 2.731.946 habitantes (IBGE/2013) 49,530 foi o PIB regional (bilhões de reais) em 2011, o que representa 12,83% do PIB de MG 11,139 foi o valor agregado da indústria (bilhões de reais) em 2011 1,130 (bilhão de reais) foi o ICMS da indústria em 2013, o que representa 7,76% do ICMS de MG 3,164 foi o volume das exportações (bilhões de dólares) em 2013, o que representa 10,2% das exportações de MG 2,457 foi o volume das importações (bilhões de dólares em 2013 18.900,78 foi o PIB per capita (reais) em 2011 398 empresas, com 5.631 empregos e 12.496,60 foi o ICMS (R$ 1.000,00) das atividades extrativas 7.032 empresas, com 147.242 empregos e 987.470,67 foi o ICMS (R$ 1.000,00) da indústria de transformação 3.354 empresas, com 22.982 empregos e 907,87 foi o ICMS (R$ 1.000,00) da construção civil foram reformados, São Lourenço e Lambari também investem em seus parques, mas falta um apoio mais forte do governo estadual no sentido de divulgar mais esses roteiros turísticos que têm pouca repercussão. É necessário retornarmos aos velhos tempos onde o Circuito das Águas Mineiras era respeitado no Brasil e fora dele, sendo um polo turístico”. Novaes cita também o crescente setor de turismo religioso que tem em Nhá Chica sua maior representante. “O sucesso desses roteiros também depende de organização. Temos peregrinações e grupos de romeiros em Baependi, onde está o santuário de Nhá Chica e a proximidade com Aparecida do Norte tem um peso muito grande, mas falta maior apoio financeiro por parte da Secretaria de Turismo Estadual”. Entretanto, a Fiemg regional tem criado oportunidades de cursos e negócios da região. Trinta profissionais de empresas de Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe estiveram na sede da entidade em Poços de Caldas onde participaram de um curso de capacitação e transferência de tecnologia na cultura do algodão oferecido pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE), Instituto Brasileiro de Algodão (IBA) e Fundação Desenvolvimento Científico e Cultural. “O treinamento visa oferecer conhecimento e ampliar a qualidade e produtividade na cadeia produtiva dos países envolvidos. Leva em conta a experiência brasileira no desenvolvimento e disseminação de tecnologia para a cultura do algodão”, finaliza Novaes. 7 Igor Coelho/Agência i7 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS ENTREVISTA Qualidade de vida SÃO LOURENÇO EXIBE NÚMEROS SATISFATÓRIOS E TEM NA SAÚDE SEU MAIOR DESAFIO ANA ELIZABETH DINIZ J osé Sacido Barcia Neto (PSDB), 57, casado, um filho, está em seu segundo mandato à frente de São Lourenço, cidade com 41.657 habitantes e conhecida pelas propriedades medicinais de suas águas, seu parque e qualidade de vida. Reeleito ainda no primeiro turno com 10.900 votos (44,09%), o empresário e prefeito comenta sobre os bons números que atestam o desenvolvimento econômico da cidade e o nó da saúde que tem exigido jogo de cintura. Gostaria que o senhor apresentasse a cidade. São Lourenço é uma cidade de comércio, turismo e serviços, com mais de 1.600 pontos comerciais que contribuem com 60% de nossa arrecadação. Por outro lado, temos 70 unidades de hotelaria e somos a segunda cidade em Minas Gerais em número de leitos, perdendo apenas para a capital, um setor que representa 40% da receita do município. No período de alta temporada, férias, feriados e finais de semana temos 100% de ocupação, mas durante a semana o movimento cai muito o que nos levou a criar outra vocação, o turismo de negócios, com a realização de congressos e feiras. Quais os atrativos turísticos? São Lourenço é muito procurada pelas águas minerais, mas também pelo turismo ecológico com passeios pelas cachoeiras, fazendas de café e montanhas. O mote hoje do nosso Arranjo Produtivo Local é café, água e montanha. O turismo religioso e esotérico vem crescendo de uns anos para cá, principalmente com a beatificação de Nhá Chica. Há também muitos grupos de romeiros que peregrinam até Aparecida do Norte. Essas manifestações religiosas vêm se encaixando no leito já pavi8 VIVER Setembro - 2014 mentando do turismo regional. Tudo isso está amarrado dentro do nosso APL com foco na Estrada Real. O que a Nestlé, proprietária do Parque das Águas, representa para São Lourenço? Muito, na medida em que a empresa conserva no coração da cidade nosso maior ponto turístico, o Parque das Águas, sua propriedade mediante um contrato de lavra de 1935, anterior ao Código de Águas Minerais de 1941, situação muito peculiar porque a empresa é dona da lavra e do parque. Quando ela conserva e investe nesse bem valiosíssimo para o turismo, é a maior contribuição dela para a cidade, muito maior que os impostos. Lá há o balneário, centro turístico e programas de esporte e de interação com a cidade. O mais curioso é que a relação com a Nestlé é feita através de um sistema que tem sido modelo em todo o mundo. Esse canal se dá através de uma ONG informal chamada Amigos do Parque, que analisa e vota em um fórum todas as demandas da comunidade com o parque. É a ONG que define o que a Nestlé tem que fazer, o papel da comunidade, quais as prioridades de investimento. Como anda a educação? Hoje, é uma das melhores do estado de Minas Gerais. Temos perto de 5.000 alunos no município em doze unidades e 500 funcionários (160 professores). Introduzimos aqui a meritocracia, professores e funcionários são gratificados, ao final do ano, de acordo com o desempenho que a escola obtém no Programa de Avaliação de Educação Básica (Proeb) e Programa de Avaliação da Alfabetização (Proalfa). Já cumprimos a meta Brasil 2020 de alcançar 100% de ingresso das crianças na escola pública. Um problema comum às prefeituras tem sido a saúde. Como o município VIVER Setembro - 2014 NÚMEROS 0, 759 é o Índice de Desenvolvimento Humano de São Lourenço, o terceiro melhor de Minas em cidades com menos de 50 mil habitantes 26º lugar ocupa São Lourenço entre os 853 municípios mineiros, sendo que 785 municípios (92%) têm população abaixo de 50 mil habitantes 489.007 mil reais é o PIB a preços correntes (2011) 11.637,21 reais é o PIB per capita a preços correntes (2011) tem enfrentado esse desafio? São Lourenço é referência de saúde para 22 cidades, o que dá um contingente de 300 mil pessoas que são atendidas na cidade. O Hospital da Fundação Casa de Caridade de São Lourenço, filantrópico, é o único da cidade e conta com pronto socorro, unidades de tratamento intensivo, inclusive neonatal. Temos também as unidades de saúde que oferecem tratamento odontológico, saúde mental, farmácia, de referência da mulher. O repasse do governo federal é sempre insuficiente e a prefeitura dedica 21% do seu orçamento, mais que os 15% previstos na Constituição, para dar conta de atender essa demanda. E o que tem sido feito na área social? Termos todas as referências do Sistema Único de Referência Social que trabalha com a criança, a família e o idoso, como o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) e o Bolsa Família, mas essas áreas não são sobrecarre- gadas porque São Lourenço tem um nível de renda muito bom, devido ao comércio e à indústria. O que é desastroso é a saúde porque temos que cuidar do nosso povo e do povo da região. Com isso pode-se dizer que a cidade tem sido menos impactada com a violência? Sim, São Lourenço é a melhor cidade de Minas Gerais em segurança pública e tem o menor índice de violência do estado. Mesmo assim, temos problemas de drogas, mas não temos violência. Qual o principal gargalo? Meu principal desafio é desatar o nó da saúde regional. São Lourenço paga o preço por ser referência regional em saúde. Queremos aumentar a capacidade de leitos do Hospital Regional para atender uma demanda maior, inaugurar em 2016 o novo pronto socorro, que está em construção, uma obra de 6 milhões de reais em parceria do município com o governo de estado. Não tenho problemas em investimentos na saúde, mas de custeio. E a questão do aterro sanitário, foi resolvida? Temos hoje um aterro controlado, mas não tínhamos uma área que atendesse às exigências ambientais. Para isso tivemos que nos consorciar com o município de Cristina, que obteve, recentemente, autorização da Superintendência de Planejamento para licenciar a tecnologia para a usina de compostagem. Em 2015, teremos a transferência definitiva do aterro de 9 cidades da região para lá. A verba de 12 milhões de reais do governo federal foi alocada para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana para instalar essa usina, eliminando de vez o problema de resíduos nas cidades consorciadas. 9 ALI E ACOLÁ POR ANA ELIZABETH DINIZ Rogai por nós Em plena rodovia Fernão Dias, no km 746, em direção a São Paulo, está a capela de Santa Rita, no município de Três Corações. Datada de 1918, a capela ficava dentro da fazenda do Mato Virgem de propriedade de Geraldo Leite. Há 22 anos, o casal 10 Judy e Ricardo Paez compraram a fazenda e, há cinco anos, decidiram reconstruir a capela preservando o que havia sobrado dela. Um casal de amigos de Belo Horizonte doou a imagem da santa. “Quis criar aqui um ponto de oração e de conforto. As pessoas entram, fazem suas preces, deixam pedidos e agradecimentos e seguem a viagem mais aliviadas”, diz Judy que, uma vez por semana, leva os pedidos para uma novena na cidade. Uma vez por mês é realizada missa na capela. VIVER Setembro - 2014 Casa do rei Inaugurada em 2012, em Três Corações, a Casa do Pelé (Edson Arantes do Nascimento) abre suas portas para quem se interessa em conhecer onde o jogador viveu até os três anos e meio. A casa foi demolida na década de 1970 e reconstruída em 2012. Ela pertenceu ao avô materno, seu Jorge Lino Arantes, casado com Maria Naves que lá viveram até 1976, quando ele morreu. A mãe do craque, dona Celeste, e mais Fotos: Igor Coelho/Agência i7 92, descreveu os detalhes da casa para a construção do museu, como os móveis e objetos existentes, que foram adquiridos em fazendas, brechós e antiquários e são fiéis à década de 40. O rádio, tocando músicas da época, o fogão à lenha e as lâmpadas de baixa voltagem remetem ao passado. A Casa do Pelé fica na rua Edson Arantes do Nascimento, 1000 e funciona todos os dias, das 8h às 18h. Corredeira de Itaoca Bem pertinho do centro da pacata Alagoa, a apenas quatro quilômetros, está a corredeira de Itaoca, na serra dos Borges, com 400 metros de quedas em sequência que fazem a alegria dos praticantes de boiacross e rafting. Todo dia 28 de dezembro acontece a descida de boias que atrai entre 300 e 400 participantes. VIVER Setembro - 2014 Promessa da princesa Lá no alto do morro, em Caxambu, se vê a igreja de Santa Isabel da Hungria, uma promessa feita pela princesa Isabel. Sua construção teve início em novembro de 1868, mas a consagração do templo só aconteceu em 1897, quando o Brasil já era República, e a família real se encontrava no exílio. Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico em 1978, tem estilo neogótico com arcos de ogiva e vitrais de rosácea. O interior é singelo, no altar-mor está um grande crucifixo e em um altar lateral, a imagem da padroeira em madeira. Um dos acessos para a igreja é feito por uma escadaria de 126 degraus. Ao longo do caminho, estão passos da Via Sacra, iluminados por lanternas e, no topo, há um cruzeiro com cinco metros de altura. 11 ALI E ACOLÁ Acupuntura da terra e mais Fotos: Igor Coelho/Agência i7 O artista plástico esloveno Marko Pogacnik iniciou nos anos 1980 um trabalho de cura da terra em várias regiões da Europa marcadas por tragédias, guerras e nos campos de concentração. No Circuito das Águas, ele instalou vários totens de litopuntura para conectar a força e as qualidades originais das nascentes do Matutu com as fontes minerais. O projeto foi realizado em 1998 e um dos pontos está dentro do Parque das Águas em Caxambu. Viagem pela história São apenas 10 quilômetros de trilhos que margeiam o rio Verde, ligando São Lourenço a Baependi em um passeio memorável em uma autêntica Maria Fumaça de 1927. O Trem das Águas só funciona nos finais de semana e feriados e a viagem leva duas horas, sendo 40 minutos na 12 viagem de ida, 40 minutos de parada em Soledade de Minas e 40 minutos na viagem de retorno. O trajeto é animado com a cantoria de violeiros com músicas populares. Em Soledade, há uma feira de artesanato com bolsas de palha de arroz, doces cristalizados, compotas e geleias. Nas terras altas da Mantiqueira Não é nada fácil o acesso até a Cachoeira dos Garcias, encravada dentro de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), em Aiuruoca. Ela nasce da própria serra dos Garcias e faz divisa com o Parque Estadual do Papagaio. É uma das mais belas e procuradas da região, com 25 metros de queda e uma piscina natural perfeita para banhos. O acesso exige vinte minutos de caminhada por trilha íngreme e é necessário o acompanhamento de guia. VIVER Setembro - 2014 Fotos: Igor Coelho/Agência i7 tenho dito... ... o melhor e o pior da minha cidade “São Lourenço é uma cidade com muitos privilégios, está na serra da Mantiqueira, tem microclima regional, abundância de recursos hídricos, além da qualidade de sua água mineral. Mas há um descuido com o meio ambiente em relação à preservação desse grande potencial hidrotermal nas cidades do Circuito das Águas que compõem a bacia hidrográfica do rio Verde”. Sidney Villamarin Cabizuca, 61, médico e empresário Sou nascido e criado em Alagoa, nunca saí daqui e não troco essa cidade por nenhuma outra. A vida aqui é tranquila, a água é boa, faz frio pra valer. A reforma da estrada, que vem de Itamonte até aqui, vai melhorar a vida. A violência tem aumentado, mas a polícia está brava”. Francisco Jovino, 85, roçador de pasto Eu gosto muito de Caxambu, cidade em que trabalhei muito. Aqui, temos tranquilidade, pessoas boas e amigas. É um lugar muito frio. Mas hoje as oportunidades de emprego diminuíram e a vida tem ficado mais difícil”. Ana Júlia da Silva, 64, doméstica VIVER Setembro - 2014 Baependi é uma cidade com 20 mil habitantes, hospitaleira, com mais de 100 cachoeiras e boas opções de turismo religioso, como o santuário de Nhá Chica, que foi beatificada e é a primeira leiga do Brasil, exemplo de vida para todos nós da cidade. A serva de Deus tem atraído muitos turistas e devotos, mas falta infraestrutura para atender a tantos peregrinos”. José Leônidas Turri Serva, 66, engenheiro 13 Victor Schwaner VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS INVESTIMENTO Boom EMPRESAS DA REGIÃO oferecem soluções tecnológicas para vários setores tecnológico VALE DA ELETRÔNICA APLICA 100 MILHÕES DE REAIS EM LANÇAMENTOS E FÁBRICAS ANA ELIZABETH DINIZ N a contramão da crise financeira que assola grande parte dos mercados do Brasil e do mundo, as empresas que compõem o Vale da Eletrônica, localizado em Santa Rita do Sapucaí, apostam em expansão de plantas, lançamentos de produtos, novas fábricas e estão investindo cerca de 100 milhões de reais esse ano. O Vale da Eletrônica reúne 153 empresas que fabricam mais de 13.700 itens e emprega cerca de 10 mil pessoas. As empresas do complexo exportam para 41 países, tendo como principais consumidores os mercados europeu e asiático. 14 Os produtos e soluções tecnológicas estão voltados, principalmente, para os setores de eletroeletrônicos, telecomunicações, segurança, eletrônica, informática, produtos para radiodifusão, automação industrial, predial e comercial, tecnologia da informação, eletromédicos, insumos e prestação de serviços. Formado por gigantes do mercado de eletroeletrônico e empresas líderes, o Vale se destaca pelo fato de ser um berço da tecnologia de ponta no país, sendo muitas vezes comparado com o Vale do Silício, nos Estados Unidos. De acordo com Roberto de Souza Pinto, presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel), verticais como telecomunicações, segurança eletrônica e automação industrial são as referências no mercado nacional e internacional. “Temos uma empresa líder do setor de segurança, que detém 45% desse mercado, outra que está sendo sondada para fornecer produtos para as Forças Armadas Brasileiras e lançará um produto inovador”. O Brasil é líder em exportação de tecnologia rádio difusora, o setor de maior peso no polo, com nove indústrias nesse segmento. Além VIVER Setembro - 2014 Bernardo Salce/Agência i7 EVOLUÇÃO DO POLO 17 empresas na década de 1980 47 empresas entre 1990 e 2000 67 empresas entre 2000 e 2005 disso, a região responde pela produção do melhor modelo de transmissão de TV digital no mundo. A cidade foi palco da 13º Feira Industrial do Vale da Eletrônica (Fivel), promovida pelo Sindvel, no início desse mês, evento que ainda não tinha fechado seu balanço, mas cuja estimativa era de um volume de negócios em torno de 30% do faturamento anual, que no último ano atingiu 2,7 bilhões de reais, das empresas sindicalizadas. “Nossa expectativa era gerar cerca de 800 milhões de reais em novos negócios nesse ano”, anunciou o dirigente. Com o tema “Viajando pelo mundo da inovação, focado no mercado”, a feira funciona como uma vitrine de produtos, tendências de mercado e inovações desenvolvidos no Arranjo Produtivo Local para fomentar negócios com empresas do país e do exterior e esse ano recebeu cerca de 12 mil visitanVIVER Setembro - 2014 500 milhões de reais foi o faturamento em 2006 1,14 bilhão de reais foi o faturamento em 2010 2,7 bilhões de reais é o faturamento estimado para 2014 153 13.700 10 mil 41 países empresas hoje itens fabricados trabalhadores compram produtos do Vale Shutterstock tes, sendo que 800 empresários do setor de distribuição de eletrônicos, gente em busca de lançamentos e inovações para um mercado cada vez mais competitivo e exigente. “Reconhecido nacional e internacionalmente pela alta qualidade dos produtos, pela capacitação dos colaboradores e pelo sistema de cooperação entre as empresas, o APL de Santa Rita do Sapucaí é considerado o mais funcional do país, uma vez que as indústrias se desenvolvem em função também do negócio de outras empresas que trabalham de forma cooperada”, comenta o presidente. Vale lembrar que a história de desenvolvimento do Vale da Eletrônica começou em 1959, quando foi criada a primeira Escola Técnica em Eletrônica (ETE) da América Latina. Alguns anos depois, nasciam também duas instituições que foram fundamentais para o desenvolvimento de Santa Rita, o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e a Faculdade de Administração e Informática, hoje Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação. “Santa Rita tem por vocação ser um polo tecnológico, e aqui mesmo conseguimos a melhor mão de obra e, assim, produzirmos matérias de excelente qualidade”, esclarece o presidente. 15 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS INDÚSTRIA Clientela vip HIGIDENT DO BRASIL PRODUZ QUASE DOIS MILHÕES DE SABONETES POR DIA E SEU PRESIDENTE ANTÔNIO JOSÉ VIEIRA FOI ELEITO O INDUSTRIAL DO ANO ANA ELIZABETH DINIZ T udo começou com uma pequena empresa familiar fundada em São Paulo, em 1976, com oito funcionários para fabricar escova dental descartável. Pouco tempo depois, ela passou a fabricar pequenos sabonetes para hotéis, hospitais, companhias aéreas e brindes. Passados 38 anos, ela se tornaria a gigante Higident Brasil, empresa que gera aproximadamente 1.200 empregos diretos e 6.000 indiretos, tem capacidade de produção de 720 milhões de sabonetes por ano, o que significa quase dois milhões de sabonetes por dia, e atende aos maiores clientes de todo o Brasil como Avon, Bombril, Bril Cosméticos, Carrefour, Disney Com- 16 pany, Dia Brasil, Extra, Hipermarcas, Jequiti, Natura, Nivea, Pão de Açúcar e Walmart. Uma trajetória de trabalho reconhecida. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) conferiu o título “Industrial do ano 2014” ao diretor presidente da empresa, Antônio José Vieira. O critério da entidade é avaliar ações de empreendedorismo e sustentabilidade. “Me senti extremamente honrado com esse título, ainda mais sendo de iniciativa da Fiemg. Confesso que nunca imaginei que um dia poderia receber tamanha honraria. Essa homenagem vem confirmar todas as minhas convicções quando escolhi Itajubá, há 31 anos, para ins- talar a Higident do Brasil. Esse título serve de motivação e incentivo para me manter digno da classe empresarial mineira e poder contribuir, com renovado empenho para o progresso e o engrandecimento de Minas Gerais e do Brasil”, diz o executivo. A transferência das atividades da empresa de São Paulo para Itajubá aconteceu em 1983 “motivada pelos incentivos oferecidos pelo governo de Minas, pela mão de obra qualificada disponível no município, pela localização geográfica próxima dos maiores centros consumidores do país, pelo polo de ensino superior de excelência que existe na cidade e pela qualidade de vida. Em Itajubá, encontramos um VIVER Setembro - 2014 Fotos: Higident/Divulgação ANTÕNIO JOSÉ VIEIRA e a fábrica: trajetória reconhecida porto seguro”, comenta o presidente. Ele lembra que a inauguração da Higident em Itajubá aconteceu no dia 19 de março e teve a presença do então governador de Minas Gerais, Tancredo de Almeida Neves. “Iniciamos as atividades com 60 funcionários em um pequeno imóvel cedido pela prefeitura municipal. Em 1985, demos início à construção das instalações próprias no distrito industrial, com o apoio BDMG e das instituições financeiras parceiras. Hoje a empresa ocupa uma área de 76 mil metros quadrados, sendo 40 mil metros quadrados de área construída”. A Higident é hoje uma das maiores empresas do Brasil na terceirização de sabonetes em barra e a qualidade de seus produtos é atestada pelas principais empresas de cosméticos do Brasil. “Entregamos o produto pronto para ser comercializado. Cem por cento da nossa produção de sabonetes em barra visa atender aos nossos clientes cujas empresas estão instaladas no Brasil, mas estimamos que 9% dessa produção é destinada ao mercado externo porque alguns clientes exportam para a América do VIVER Setembro - 2014 Sul, América do Norte e Europa”, observa o executivo. A empresa atribui a qualidade de seus produtos à mão de obra farta em Itajubá e região. “Apoiamos cursos técnicos, de graduação e de pós-graduação nas diversas áreas da empresa, para capacitação de nossos colaboradores. Estamos implantando um grande projeto com a Fiemg para a criação da Universidade Higident, parceria que envolverá o Senai, Senac e Sesi. No momento, estamos levantando as reais necessidades de qualificação de nossos profissionais para definir quais cursos serão ministrados pelos professores do Sistema Fiemg. O mercado de sabonetes é muito dinâmico, inovador, crescente e com níveis de qualidade cada vez mais perceptíveis aos consumidores”, diz o empresário. A Higident tem investido em projetos de sustentabilidade ambiental e social como a produção de óleo vegetal visando a substituição do óleo animal (sebo). Através de sua coligada Fazendas AJV, já iniciou o plantio de 30 hectares de abacate e, no momento, estão sendo analisadas algumas variedades, principalmente no que se refere a adaptação, rusticidade, produção e tratos culturais. “A meta é a formação de pomares de abacate e, a partir daí, vamos desenvolver projetos de fomento com micro e pequenos produtores rurais. Com isso, vamos promover melhorias na qualidade de vida dos agricultores e evitar o êxodo rural”, observa. Atualmente, a empresa produz energia com a utilização de óleo BPF em suas caldeiras. “Em 2011, iniciamos a implantação de florestas plantadas de eucalipto para produção de biomassa. Com isso, estaremos eliminando em 100% o uso de óleo BPF e, por tabela, a produção de gases de efeito estufa, colaborando com um ambiente equilibrado e ecologicamente correto”, finaliza o presidente. 17 Fotos: Igor Coelho/Agência i7 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS CAFEICULTURA MICRORREGIÃO ABRANGE 25 MUNICÍPIOS QUE SOMAM 7.000 PRODUTORES E VOLUME ESTIMADO DE 1 MILHÃO DE SACAS Joia da Mantiqueira 18 VIVER Setembro - 2014 ANA ELIZABETH DINIZ É em Carmo de Minas, pacata cidade de 13.752 habitantes, que é produzido o melhor café do mundo desde 2005, segundo o Cup of Excellence, o mais renomado concurso de cafés especiais. Quem produz esse tesouro é o Grupo Sertão através de uma tradição que remonta a 1912, quando a Fazenda do Sertão plantava suas primeiras lavouras de café. “Em 2001, o Grupo Sertão ficou bem posicionado no concurso, mas em 2005 produzimos na Fazenda Santa Inês um café que detém até hoje o recorde mundial, alcançando a nota 95,85, a mais alta dada no mundo. Esse café foi vendido em um leilão a 15 mil reais a saca, 60 vezes mais que o preço convencional de mercado. Ele foi arrematado pelo Japão e Canadá. Desde então, sempre ficamos com cinco ou seis cafés entre os campeões”, orgulha-se Hélcio Júnior, 32, diretor executivo da Unique Cafés e membro da nova geração da família Sertão. Há todo um cuidado na produção do grão que é plantado a partir de mudas produzidas em viveiros através de uma cuidadosa seleção das melhores, daquelas que podem gerar árvores sadias e resistentes. O plantio é feito em espaços projetados para permitir um bom crescimento e o trabalho de manutenção das árvores, do solo e da colheita. As áreas destinadas à lavoura são sempre as mais nobres durante todo o ano. Dois anos após o plantio, o cafezal já produz frutos e podem durar décadas. Sempre foi assim, um processo cuidadoso e um café excelente, no entanto, quem produzia desconhecia a qualidade do grão. “Somos a quarta geração produtora de café, mas até a década de 1990 o grão produzido em Carmo de Minas era VIVER Setembro - 2014 FAZENDA SANTA INÊS produz o café que detém o título de melhor do mundo desde 2005 Hoje o importante, o que conta, é o perfil sensorial adquirido por uma série de fatores, como clima, altitude, colheita manual” Hélcio Júnior vendido por atravessadores que o levavam embora. Não sabíamos nem quanto ele valia, mas descobrimos que ele era tão especial que, na década de 1950, foi muito procurado pelo Vaticano. Entendemos que nosso café era diferente”, relembra Hélcio. Segundo ele, antigamente o grão era comercializado pela sua aparência. “Hoje o importante, o que conta, é o perfil sensorial adquirido por uma série de fatores como clima, altitude elevada (na região variam entre 900 e 1.500 metros), o terroir e a colheita manual e seletiva. O grão não amadurece após colhido e, por isso, ele tem que ser retirado no ponto máximo de maturação (entre maio a começo de outubro). Os cafés plantados em áreas mais altas têm maturação mais lenta”. A Unique Cafés tem um show-room em São Lourenço onde oferece ao público os cafés que produz: cítrico, frutado, blend, orgânico e descafeinado, todos do tipo arábica, cujas características são a alta acidez (suavidade), doçura, corpo (aveludado) e a finalização (aftertaste) de caramelo. “Produzimos 19 CA F E I C U LT U R A O showroom em São Lourenço oferece cafés para degustação: cítrico, frutado, blend, orgânico e descafeinado 20 mil sacas de café verde por ano, sendo que 80% da produção é exportada para a Europa, Estados Unidos e Ásia e 20% fica no mercado interno. Quarenta por cento da produção é de café blend. Hoje, já exportamos café torrado para a China, mas não é o nosso foco”, diz Hélcio. A Unique Cafés pertence ao grupo Sertão que tem várias fazendas produtoras na região. Acreditando no potencial da qualidade dos cafés ali plantados e na valorização da história por trás dessa produção, Jacques Carneiro e Luís Paulo Pereira Dias fundaram, em 2005, a Carmocoffees. “A empresa tem um modelo de negócio inovador, baseado na paixão pelo café e no profundo conhecimento do setor. O grande diferencial é que a empresa busca grãos especiais diretamente na origem, através de um relacionamento de longo prazo com dezenas de pequenos produtores locais. Isso permitiu que cafés especialíssimos, de atributos extraordinários, pudessem chegar a clientes em todo o mundo. Hoje 2.000 produtores rurais são parceiros da Carmocoffees, empresa que mudou a mentalidade local no trato com o café porque conhecemos quem compra, torra e serve nosso café nas xícaras”, ressalta o executivo. 20 Esses jovens empreendedores da Carmocoffees criaram entre 1999 e 2000 um programa pioneiro de direct trade que garimpa compradores de café em todo o mundo e apresenta a eles o grão produzido na região, valorizando a produção e permitindo que cafés singulares cheguem sem intermediários a clientes e empresas estrangeiras, com benefícios para todos os envolvidos. “O direct trade já conta com uma rede de mais de 80 produtores/colaboradores e clientes-chave de diversos países. Por meio dela, cafés excepcionais da região de Carmo de Minas ganharam o paladar e os corações de apreciadores de qualidade ao redor do mundo. A Carmocoffees faz a ponte comercial entre a origem e o comprador e apoia o produtor, provendo assistência técnica agronômica e comercial para que ele produza com mais eficiência, agregue valor a seu produto e depois possa receber melhores diferenciais no momento da comercialização”, comenta Hélcio. A Unique Cafés criou a Rota do Café Especial (rotadocafeespecial. com.br) um roteiro que permite conheçer as lavouras, contemplar a fazenda em um mirante à sombra de um jatobá centenário e com vista para o que parece ser a Toscana do Sul de Minas. A visita é monitorada com explicações sobre a cadeia produtiva do grão especial, desde o pé até a xícara e termina, é claro, com a degustação desse néctar. Carmo de Minas faz parte da microrregião da Serra da Mantiqueira, que tem 25 municípios, reúne mais de 7.000 produtores que produzem 1 milhão de sacas por ano. Em 2011, a região foi a primeira do Brasil a obter o selo de Indicação de Procedência Mantiqueira de Minas, que indica que os cafés produzidos nessa região possuem qualidades e atributos únicos, atribuídos essencialmente à sua origem. Segundo Flávio Meira Borém, professor do departamento de engenharia da Universidade Federal de Lavras, o processo de solicitação de denominação de origem Mantiqueira de Minas, pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) está em andamento. “Esse selo certifica que o produto é produzido naquela determinada região e que existe uma relação direta entre sua qualidade e o ambiente no qual está inserido – clima, altitude, terroir – que conferem um diferencial, uma distinção ao café em relação aos demais”. Antônio José Junqueira VilleVIVER Setembro - 2014 Fotos: Igor Coelho/Agência i7 CUP OF EXCELLENCE 2013 TIPOS DE CAFÉ DA UNIQUE Dos 32 cafés finalistas, 25 são do terroir cafés da Serra da Mantiqueira. Desses, 17 são de Carmo de Minas e três da Unique Cafés Especiais. Orgânico - Café cereja descascado e origem única, aroma de erva-cidreira e sabor com notas de erva-cidreira, acidez média e finalização limpa com notas de caramelo. Blend - Blend entre o frutado e o cítrico. Uma mistura entre café natural e cereja descascado. Sabor e aroma com notas de chocolate e frutas. Suave, encorpado, acidez média e sabor residual que lembra caramelo. la, presidente da Associação dos Produtores de Café da Mantiqueira (Aprocam) conta que a entidade reúne três cooperativas de 25 municípios, 7.800 produtores de cafés especiais, sendo 89% de pequenos produtores rurais. “Em 2013 a área plantada de café era de 70 mil ha e uma produção de 1,3 milhão de sacas, sendo que 90% da produção de cafés especiais foi exportada para Estados Unidos Japão, Europa, Austrália, Ásia. A atividade gera na VIVER Setembro - 2014 Descafeinado - Café de alta qualidade onde se extrai a cafeína por um processo à base de água e sem produtos químicos. Tem como principais diferenciais a ausência de amargor e o corpo. Bebida encorpada, sabor e aroma suave e equilibrado, acidez baixa e finalização com notas de chocolate escuro. Frutado - Café natural e origem única, tendo como principais diferenciais o corpo e a doçura. Sabor e aroma de frutas vermelhas, encorpado, acidez média com sabor residual longo e intenso que lembra amora e chocolate. região 150 mil empregos diretos e indiretos”, finaliza. Premiação Cup of Excellence é o mais renomado concurso de cafés especiais realizado anualmente, reunindo produtores de cafés especiais de todo o mundo e conta com mais de 30 juízes de 15 países. No Brasil, o concurso é realizado em parceria com a Associação Brasileira de Cafés Especiais. A mesma comissão Cítrico - Café cereja descascado. A acidez é a principal responsável pela neutralização do amargor proveniente da cafeína. Café suave e sem amargor. Bebida exótica, sabor e aroma com notas cítricas que lembram tangerina, equilibrado, encorpado, acidez média/alta e sabor residual longo e intenso de caramelo. de juízes internacionais (Alliance for Coffee Excellence) é responsável por julgar com os mesmos critérios os cafés de todo planeta. Até o momento, a Unique Cafés Especiais possui o recorde mundial em pontuação com 95.85 pontos em uma escala de 0 a 100. Esse recorde tecnicamente comprovado desmente o boato de que os melhores cafés do mundo não estariam no Brasil e sim em países como Colômbia e Guatemala. 21 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS GALPÓES de alta tecnologia garantem maior produtividade AVICULTURA Gigante da América Latina GRANJA MANTIQUEIRA TEM QUASE 11 MILHÕES DE GALINHAS QUE BOTAM QUASE 2 BILHÕES DE OVOS POR ANO ANA ELIZABETH DINIZ N ada foi premeditado, as coisas foram acontecendo naturalmente. Há 27 anos, o mineiro Leandro Pinto era proprietário de uma revenda de máquinas agrícolas. O negócio não deu certo, ele quebrou. Tinha 50 mil reais, pensou bem e resolveu comprar 30 mil galinhas e arrendou a granja de um amigo em Itamonte. Deu certo. Hoje, a Granja Mantiqueira é uma gigante, a maior produtora de ovos da América Latina e décima do mundo e exibe números superlativos: são quase 11 milhões de galinhas que botam perto de 2 bilhões de unidades ao ano. Isso representa 6% do total de ovos 22 produzidos no país. Só para se ter uma ideia desse volume, saem diariamente da empresa, para diversos pontos do país, 15 mil caixas de 30 dúzias de ovos, o que equivale a 5,4 milhões de ovos. “Em 1996, a empresa deu um passo importante. Após uma viagem para a Europa, visitei algumas granjas e decidi importar galpões de alta tecnologia de uma empresa espanhola. Com isso, a Mantiqueira se tornou a primeira granja totalmente automatizada do pais e referência na avicultura brasileira. Em 2000, me associei a Carlos Cunha, nosso cliente, vindo de uma família com forte tradição no varejo do Rio de Janeiro e com uma rede de supermercados que foi vendida a um grupo estrangeiro. Foi quando propus a parceria e, com isso, nossas vendas se expandiram no mercado fluminense”, relembra Leandro. Hoje a Mantiqueira possui três unidades produtoras de ovos, duas em Minas Gerais, nas cidades de Itanhandu e Passa Quatro, e outra na cidade de Primavera do Leste, em Mato Grosso. A empresa atua também nos setores de pecuária, agricultura, fertilizante e armazenagem. O grupo gera 2.100 empregos diretos, sendo 1.700 somente nas VIVER Setembro - 2014 Fotos: Igor Coelho/Agência i7 EMPESA PROCESSA 15 mil caixas de ovos por dia UNIDADE EM ITANHANDU: preocupação com a questão ambiental granjas e mais 8.400 indiretos. Cinco por cento de sua produção é exportada para Emirados Árabes, África do Sul e Japão. “O segredo para chegarmos até aqui foi trabalhar incansavelmente com muita disposição e honestidade”, ressalta Leandro. A empresa investe em projetos sociais, colaborando com duas escolas municipais próximas às unidades do grupo de Itanhandu e Guaicuí, com a doação de uniformes e materiais escolares, além de patrocinar aulas de judô para crianças do bairro onde a granja de Itanhandu se encontra e distribuir ovos em algumas instituições. Além disso, na questão ambiental, a Mantiqueira é a única empresa parceira do instituto Chico Mendes e trata todo o seu resíduo internamente. “Temos um sistema de gestão ambiental que protege as áreas de proteção permanente dentro de todas as plantas da empresa. Na Fazenda Paraíso, temos uma reserva do patrimônio natural de 258,59 ha dentro da Área de Proteção Ambiental Mantiqueira, que abriga várias nascentes e garante a preservação permanente do recurso ambiental VIVER Setembro- 2014 NÚMEROS 5,2 bilhões de unidades produzidas por dia 3 granjas 11 milhões de galinhas poedeiras 40 mil toneladas de ração por mês dentro do município. Ajudamos na manutenção da Floresta Nacional de Passa Quatro, com 335 ha onde acontecem atividades de pesquisa, manejo ambiental e uso sustentável desse rico ecossistema”, comenta o executivo. Na granja localizada em Itanhandu, os efluentes líquidos resultantes dos processos de produção e limpeza passam por uma estação de tratamento de esgoto, garantindo o retorno da água ao rio Verde com qualidade e pureza superior à do próprio rio. “Aí temos um cinturão verde com mais de 5.000 árvores plantadas e cuidadas como um jardim. Nosso resíduo de maior importância é o esterco das aves, matéria-prima para os processos de compostagem realizados na Fazenda Horizonte. Atualmente, 100% do esterco produzido nas granjas de Minas Gerais e Mato Grosso é reaproveitado através do uso da técnica de compostagem com bagaço de cana, transformando em um fertilizante de alto valor agronômico que, além disso, promove uma recuperação das condições agroecológicas do solo”, finaliza Leandro. 23 Fotos: Igor Coelho/Agência i7 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS EMPREENDEDORISMO Mineiro vende queijo pela internet ANA ELIZABETH DINIZ JOVEM INOVA E DIVULGA PARA O MUNDO A QUALIDADE DO PARMESÃO DA MANTIQUEIRA 24 A tradição do queijo é coisa antiga na pacata cidade de Alagoa, com 2.768 habitantes (IBGE-2013), a mais alta das terras altas da Mantiqueira (acima de 1.200 m). Tudo começou há 100 anos com o italiano Paschoal Poppa e sua esposa Luiza Altomare Poppa que, por ali, se instalaram e começaram a fabricar queijo. Conheciam a técnica de fabricação, mas o sabor especial era conferido pelo terroir, um conjunto de peculiaridades como altitude, pastagem nativa, clima frio, solo, raça das vacas (holandês e mestiço) que tornam o queijo, lá produzido, único. O sabor inigualável ganhou fama. Com o passar dos anos, o processo de fabricação foi adaptando-se ao gosto local. Hoje ele é definido como queijo Alagoa, artesanal de leite integral (fresco e cru) também conhecido como parmesão de Alagoa ou parmesão da Mantiqueira. Percebendo que a cidade tinha um produto abençoado pela natureza e de alta qualidade, o jovem Osvaldo Martins de Barros Filho, 29, apostou em uma empresa virtual a Queijo D’Alagoa, criada em 2009 para comercializar o produto com compradores e adoradores de todo o Brasil. De quebra tem dado visibilidade à sua cidade e atraído turistas interessados não apenas no queijo, mas nas belezas naturais. “Meu negócio vai bem e vem ganhando cada vez mais espaço. Por mês, comercializo 100 kg no varejo e entre 200kg e 300 kg no atacado. Trabalho com dois produtores rurais que fabricam queijos realmente especiais. Já tenho clientes cativos como Ronaldo Fraga, Lulu Santos e Marcelo Tas e comercializo com o Rio de Janeiro e Vale do Paraíba. Em Belo Horizonte ele é vendido em alguns locais (ver serviço)”, comemora. Um dos produtores, a que se refere Osvaldo, é Renê Pinto de Andrade, 58, queijeiro há 32 anos. Enquanto mexe o leite com pingo, ele conVIVER Setembro - 2014 OSVALDO FILHO: produzido com leite “bão” e carinho ta que são necessários 1.000 litros para fabricar 100 queijos por dia. Com simplicidade, Renê revela a arte de fabricar um queijo com sabor tão característico. “Ele é produzido com leite bão e carinho. O que conserva o queijo é a salmoura que exige uma quantidade certa de sal e atenção com o tempo, senão ele embolora”. Osvaldo aproveita a explicação e destila sabedoria popular: “A vida é que nem queijo, quanto mais maturada melhor”. Haroldo Quirino de Almeida é produtor rural, proprietário do sítio Cachoeira em Alagoa e, diariamente, entrega 200 litros de leite. “Tenho apenas 20 vacas, mas vendendo o litro de leito a 1 real, consigo um dinheiro que dá pra viver dignamente”, revela. O queijo Alagoa foi declarado patrimônio imaterial e seu modo de fazer está registrado no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) desde 2011. A Emater-MG elaborou junto aos parceiros locais, produtores rurais, prefeitura municipal e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) a caracterização do produto como queijo artesanal especial. “Ele é fabricado, há décadas, nessa região da serra da Mantiqueira e possui ótima aceitação nos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro. A publicação da lei que cria oficialmente o “Queijo Alagoa” deverá ser publicada este mês”, diz Júlio César Fleming Seabra, engenheiro agrônomo da Emater. Segundo ele, está sendo realizado um trabalho junto ao Ministério da Agricultura, com apoio da Embrapa, para a concessão do registro e emissão do certificado de Indicação de Procedência e Denominação de Origem. “Foi enviado um projeto ao CNPQ para financiamento das análises e pesquisas necessárias para obtenção do selo de Indicação Geográfica. Espera-se que até o final do ano o projeto seja aprovado e os trabalhos iniciados”, ressalta o engenheiro. VIVER Setembro - 2014 TIPOS DE QUEIJO Artesanal Alagoa - peça pequena fresca (média de 1kg) QQueijo Artesanal - peça grande (média de 5kg) QFaixa dourada – queijo curado – 40 dias de maturação QMantiqueira real – com azeite de oliva – 60 dias de maturação QDo Coronel – 6 meses a 1 ano de maturação Q Onde encontrar em BH QNéctar do Cerrado - Rua Ouro Fino, 452, mercado distrital do Cruzeiro QProdutos De-lá - Rua Santa Rita Durão, 919, Savassi. QPão de Queijaria - Rua Antônio de Albuquerque, 856, Savassi Divulgação QUEIJO passa por 6 meses a 1 ano de maturação A região tem aproximadamente 80 produtores de queijo que produzem 310 mil kg por ano comercializados principalmente no Vale do Paraíba Paulista, região Sul Fluminense, Rio de Janeiro e São Paulo. “A cadeia produtiva do leite e do queijo é o maior empregador municipal e maior gerador de renda. Incluindo o próprio produtor, beneficiadores, transportadores e comerciantes, o queijo emprega diretamente e indiretamente mais de 250 pessoas”, finaliza Júlio. O queijo Alagoa é feito com leite cru que após atingir a temperatura de 32ºC recebe o fermento (ou pingo) na proporção de 5%. Logo depois adiciona-se o coalho na proporção de 0,2%. Espera-se o leite repousar por 40 minutos e, após esse tempo, a massa deve ser quebrada ou triturada para depois ser cozida por mais 40 minutos a 50ºC até formar a liga ideal, quando a massa descansa e é retirado o soro. A massa é cortada em pedaços que são enformados em moldes de 1 kg, 3kg ou 5 kg. As formas com a massa são prensadas. Os queijos são desenformados no dia seguinte e colocados para descanso em prateleiras. Após essa fase, os queijos são colocados na salmoura onde permanecem durante um dia para cada quilo de peso, de acordo com a forma utilizada, 1 kg, 3 kg ou 5 kg. Depois de retirado da salmoura, o queijo vai para a salga seca durante quatro a seis dias, dependendo do tamanho da forma. A última etapa é a lavagem para retirada do sal e a cura que varia de 1 a 20 dias dependendo do produtor. O queijo de Alagoa é considerado fino, feito com massa cozida, temperado na salmoura e curado em ambiente próprio. Tem excelente paladar e pode ser consumido puro, acompanhado com vinho tinto, ou ainda em lanches ou pratos especiais Para comprar: www.queijodalagoa. com.br ou queijodalagoamg@gmail. com. 25 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS TRADIÇÃO Adoçando a vida SÃO LOURENÇO CONCENTRA FÁBRICAS DE DOCES QUE GANHARAM FAMA PELA QUALIDADE ANA ELIZABETH DINIZ S ão 32 anos de atuação na cidade de São Lourenço e uma história de persistência, erros e acertos. A Doces São Lourenço surgiu pela observação e perfeccionismo de seu proprietário Wagner João Soares Mancilha que tinha experiência em áreas distintas como fábrica de ração, pedreira e gerente de hotel. “Perto de onde eu morava, tinha uma fábrica de doces que me chamava a atenção pela desorganização. Aquilo me incomodava. Resolvi entrar nesse negócio, comprei alguns equipamentos e eu mesmo fazia os doces. Comecei com os de frutas, goiabada, pessegada, marmelada. Algumas receitas eram da minha mãe. Errei muito, mas fui adequando as receitas. Testei muito até acertar a mão”, relembra o empresário. O tempo foi passando, a em- 26 presa foi crescendo e hoje, além da fábrica que ocupa uma área de 700 m2, a Doces São Lourenço tem uma fazenda com área de 75 ha, sendo 40 ha plantados com as frutas que são utilizadas nos doces e geleias, como figo (15 mil pés), pêssego (2.500 pés), goiaba e laranja da terra. “Essa foi a forma que encontramos de garantir a qualidade das frutas que são colhidas e processadas na própria fazenda, sendo que a finalização e envaze acontece na fábrica em São Lourenço. Além da fazenda, trabalhamos em parceria com 30 pequenos produtores rurais do bairro São José da Mantiqueira, em Virgínia, e usamos, em nossas caldeiras como fonte de energia, lenha de eucalipto plantado em nossas fazendas”, comenta Wagner. O empresário ressalta que a matéria-prima é de alta qualidade e as receitas vêm da tradicional culinária mineira. “Optamos por não usar corantes artificiais em nossos produtos, preocupados com a saúde e o bem-estar dos nossos consumidores. Isso faz com que nossos doces tenham um grande diferencial em sabor e segurança alimentar. Temos um laboratório com modernos equipamentos para o controle de qualidade, onde é feita a avaliação antes, durante a produção e após o acabamento. O rigor da qualidade nos processos de fabricação nos permite fornecer produtos mais seguros para a saúde do consumidor”. A empresa tem 70 funcionários e oferece mais de 200 produtos em sete linhas (tradicional, diet, light, funcional, institucional, kids, premium) de doces, geleias, tabletes, cremosos e o lançamento, há dois VIVER Setembro - 2014 ARY DO NASCIMENTO: aposta na linha diet Fotos: Igor Coelho/Agência i7 meses do doce de nata. “Nossa produção é de 10 mil kg por mês, sendo que, para o doce de leite, consumimos 4 mil litros por dia, o que representa 2 mil kg de doce de leite por dia. Os mais vendidos são o doce de leite e leite condensado diet. Vendemos para todo o Brasil e começamos, recentemente, a exportar para os Estados Unidos”, contabiliza Wagner. Por tudo isso, a fábrica se tornou pequena para atender à demanda do mercado. Por isso, a empresa já tem um projeto aprovado para construir uma nova fábrica, também em São Lourenço, que vai ter uma área de 1.000 m2 e previsão de inauguração em 2016. “Desde o último ano, estamos investindo em WAGNER MANCILHA: fazenda própria e parceria com produtores VIVER Setembro - 2014 capacitação da mão de obra e maquinário mais moderno, a fim de melhorar nossa infraestrutura”, finaliza o empresário. Já a empresa Hué Alimentos, também familiar, tem uma história diferente. Tudo começou de forma caseira, com Ary do Nascimento, que fazia balas de caramelo em casa em uma pequena indústria de fundo de quintal. Depois, enveredou para o doce de leite. Isso foi há 36 anos. Ary do Nascimento Filho explica que a empresa foi criada em 1986 fabricando doces tradicionais. Mas, apostando no mercado diet, introduziram, em 1996, uma linha diversificada para atender essa demanda. “Nossa produção é de 93 toneladas por mês, sendo 98% da linha diet e, desse percentual, 40% é de leite condensado diet, um campeão de preferência pelo modo como é fabricado, 7% de caramelo, 6% de goiabada e 5% de doce de leite de tablete. Toda a linha diet é feita com sucralose, derivada da cana-de-açúcar e os produtos têm o selo da Associação Nacional de Assistência do Diabético. Vendemos para todo o Brasil do Acre a Porto Alegre, temos 70 funcionários e mais de 100 produtos entre geleias, doces, pão de mel diet, leite condensado diet, caramelos, cookies de 9 sabores, bolos recheados”. 27 VIVE R M I NAS SU L DE M I NAS RELIGIOSIDADE Os caminhos da fé VÁRIAS SÃO AS PEREGRINAÇÕES QUE ACONTECEM NO SUL DE MINAS COM CARÁTER RELIGIOSO OU ESOTÉRICO Luciana Alt/Divulgação 28 VIVER Setembro - 2014 Rodrigo de Paula Costa/Divulgação CAMINHO DE APARECIDA: 265 km por trilhas e estradas ANA ELIZABETH DINIZ T odos os caminhos do Sul de Minas levam a um lugar de fé. São muitos os roteiros de peregrinação por essas terras de santos e de pessoas fervorosas. Um deles, o Caminho de Aparecida foi oficializado este ano após dez anos de existência. Nele passam centenas de pessoas de todas as idades e de diferentes regiões e que têm em comum a devoção a Nossa Senhora Aparecida. A pé, de bicicleta, moto, jipe, no lombo de cavalo, não importa, os peregrinos desafiam o tempo, a chuva, as dificuldades naturais das trilhas e estradas e caminham 265 km, saindo de Alfenas, até o Santuário Nacional Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida do Norte, São Paulo. Segundo o idealizador dessa rota de peregrinação, Rodrigo de Paula Costa, 35, a melhor época do ano para percorrer os 265 km é entre maio e outubro, por causa do clima menos chuvoso. O percurso está sinalizado com setas em formato de peixe e foi criado um livro guia com todas as informações sobre o trajeto, fotos, dicas de hospedagem. Um caminho de peregrinação é muito mais que uma estrada com plaquinhas, é um caminho de fé, silêncio, aproximação com Deus” Rodrigo Costa Fotos: Igor Coelho/Agência i7 MADALENA MATOSO e Alexandre Gaspar: renascimento VIVER Setembro - 2014 “Um caminho de peregrinação é muito mais que uma estrada com plaquinhas, é um caminho de reflexão, fé, silêncio, descoberta dos limites, de aproximação com a natureza, com o próximo e com Deus. É uma opção pela simplicidade, de viver com pouco. Ao fazer de sua mochila a sua casa, o peregrino se torna mais sensível porque percebe a importância das pequenas coisas do dia a dia”, comenta Rodrigo. Após a oficialização do caminho, os peregrinos saíram do anonimato, pois passaram a contar com guia, credenciais, pousadas e pessoas que adaptaram suas casas para acolher os peregrinos. Em cada cidade, a credencial será carimbada e em Aparecida o peregrino poderá retirar seu certificado de conclusão do caminho. Outra rota de peregrinação é o Caminho dos Anjos, um percurso de 231 km que abrange as cidades de Passa Quatro, Itamonte, Alagoa, Aiuruoca, Baependi, Caxambu, São Lourenço e Virgínia, margeando belezas naturais, cachoeiras, montanhas, picos, parques e vales que fazem parte dos circuitos Terras Altas da Mantiqueira e das Águas. “Costumo dizer que a fênix, um 29 R E L I G I OS I DA D E PARA SABER MAIS Caminho de Aparecida www.caminhodeaparecida.com.br Caminho de Nhá Chica Todo dia 1º de maio Caminhos dos Anjos www.caminhodosanjos.org dos símbolos do caminho, é uma imagem que representa o que acontece com o peregrino: renascimento e crescimento pessoal. Os dias de caminhada são um tempo em que a natureza trabalha com a gente. Esse caminho foi idealizado para difundir e incentivar a compreensão da sustentabilidade contemplada através da exuberante natureza que, aos poucos, se mistura com a natureza interior, a essência individual que vai desadormecendo em contato com a simplicidade. As pessoas se transformam durante a caminhada e voltam diferentes”, comenta Alexandre Gaspar idealizador do caminho junto com Madalena Matoso. Segundo ele, no início, a intenção era unicamente ter a natureza exuberante e a vida simples da região como meio de possibilitar mudanças nas pessoas. “Logo percebi que o Caminho dos Anjos era mais que isso, Transformava-se em um roteiro de ecoturismo e religioso, pois passa por Baependi, onde fica o santuário de Nhá Chica e também roteiro de peregrinação”, ressalta Alexandre. O caminho está todo sinalizado com setas verdes e amarelas e todo o trajeto pode ser feito a pé em dez dias, de bike em cinco dias, e de carro(4x4) ou moto em dois ou três dias. Outro diferencial é que o caminhante começa e termina o caminho no mesmo ponto e pode optar por onde desejar iniciar o trajeto. Em todos os locais foram criados abrigos para os caminhantes. 30 Fotos: Igor Coelho/Agência i7 CASA (ACIMA) capela e, na página ao lado, o santuário de Nhá Chica: caminho cada vez mais estruturado VIVER Setembro - 2014 DEPOIMENTO ANA ELIZABETH DINIZ Quatro e meia da manhã e lá estava eu, pela segunda vez, na capelinha de Nhá Chica, ajoelhada aos pés da imagem da venerável, pedindo força para caminhar os 33 quilômetros que separam São Lourenço de Baependi, passando por Soledade de Minas e Caxambu, em uma peregrinação religiosa, o Caminho de Nhá Chica, criado em 1998 e que acontece anualmente no dia 1º de maio. A capela construída pelo artista plástico Marco Aurélio Rodrigues Dias, em São Lourenço, tem significado de fé, devoção e agradecimento. Casado, com dois filhos ainda pequenos, recém-chegado do Rio de Janeiro a São Lourenço, ele pediu à santa ajuda para viver da sua arte e sustentar a família e, se isso acontecesse, ele construiria uma gruta em sua homenagem. Graça atendida. A gruta foi crescendo e virou uma capelinha com esculturas, quadros e pinturas nos tetos e paredes, todas feitas por ele. Cacos de azulejos formam mosaicos e cobrem a área externa. “Comecei a construção em 1992, mas sempre estou incluindo um novo detalhe”, diz o artista que lançou o livro “Biografia de Nhá Chica”. A capela é o ponto de partida, o primeiro refúgio dos peregrinos devotos ou curiosos que entram, contemplam a arte religiosa de Marco Aurélio, proseiam rapidamente com ele e se apressam rumo à estrada de terra que vai cortando fazendas, margeando a antiga linha de trem até chegar a Baependi. É imperativo caminhar. O céu está cheio de estrelas capitaneadas por Vênus, intensa, e, aos poucos, os primeiros raios de sol tingem o horizonte de um laranja desconcertante. O empresário João Gorgulho, um dos idealizadores do caminho, é companheiro de caminhada, contaVIVER Setembro - 2014 dor de causos e revela histórias sobre esse percurso que está em sua 17ª edição e que, a cada dia, atrai mais peregrinos. “A cada ano cresce o número de pessoas que fazem esse percurso criado para mostrar a fé e devoção em Nhá Chica. Por aqui passam ricos e pobres, jovens, idosos, gente que caminha, pedala e cavalga”. O caminho, que a cada ano que passa fica mais estruturado, tem placas feitas manualmente com o colorido das chitas que emolduram uma informação básica para os peregrinos: o número de quilômetros percorridos. Tem o carinho e simpatia da dona Maria da Conceição Maciel, 74, que desde as dez da noite do dia anterior, servia café quentinho, leite, canjica e bolo de fubá para os caminhantes. “Quanto custa dona Maria?”, “a ajuda que você quiser”, respondeu ela que havia ficado a madrugada toda sem dormir, resistindo ao frio intenso e ainda tinha energia para acolher a todos que por ali passavam. Equipes do Exército distribuíam água ao longo do caminho e ambulâncias davam suporte. No caminho foi construída a praça dos Peregrinos com direito à capela com uma linda imagem de Nhá Chica, esculpida em cedro, doação de Ve- rônica, outra moradora. Hora de dar uma parada ligeira e constatar a expressão da fé que se revelou silenciosa pelo olhar sincero e gesto espontâneo de Gorgulho diante da mulher negra, filha de escravos e que deverá ser a primeira santa nascida no Brasil. Sem palavras. Paisagens exuberantes, neblina, cheiro de grama molhada e curral, da lenha queimando para coar o primeiro café do dia, o frio da manhã que mais tarde cederia espaço a um sol muito quente, subidas, descidas, lama, pedregulhos, até que ladeira acima, em Baependi, se avista o Santuário de Nossa Senhora da Conceição. Três missas, às 9, 11 e 13h são celebradas para os peregrinos e os devotos que não conseguem caminhar. Ao lado do santuário está a casa simples, porém reformada, onde viveu Nhá Chica, um memorial onde se pode ver o seu terço, a imagem da Sinhá Maria, como ela chamava Nossa Senhora da Conceição, a sombrinha que a acompanhava em suas andanças, vários objetos pessoais e uma loja com lembrancinhas, orações, terços que remetem à trajetória monástica da Serva de Deus dedicada a ajudar a todos aqueles que a procuravam. 31 VIVER MINAS SUL DE MINAS PERFIL Em imagens Igor Coelho/Agência i7 32 VIVER Setembro - 2014 RAIO-X DA REGIÃO CIDADES Aiuruoca Alagoa Albertina Alfenas Alpinópolis Alterosa Andradas Andrelândia Arantina Arceburgo Areado Baependi Bandeira do Sul Boa Esperança Bocaina de Minas Bom Jesus da Penha Bom Repouso Borda da Mata Botelhos Brasópolis Bueno Brandão Cabo Verde Cachoeira de Minas Caldas Camanducaia Cambuí Cambuquira Campanha Campestre Campo do Meio Campos Gerais Capetinga Capitólio Careaçu Carmo da Cachoeira Carmo de Minas Carmo do Rio Claro Carrancas Carvalhópolis Carvalhos Cássia Caxambu Claraval VIVER Setembro - 2014 Conceição da Aparecida Conceição das Pedras Conceição do Rio Verde Conceição dos Ouros Congonhal Consolação Coqueiral Cordislândia Córrego do Bom Jesus Cristina Cruzília Delfim Moreira Delfinópolis Divisa Nova Dom Viçoso Elói Mendes Espírito Santo do Dourado Estiva Extrema Fama Fortaleza de Minas Gonçalves Guapé Guaranésia Guaxupé Heliodora Ibiraci Ibitiúra de Minas Ibituruna Ijaci Ilicínea Inconfidentes Ingaí Ipuiúna Itajubá Itamogi Itamonte Itanhandu Itapeva Itaú de Minas Itumirim Itutinga Jacuí Jacutinga Jesuânia Juruaia Lambari Lavras Liberdade Luminárias Machado Maria da Fé Marmelópolis Minduri Monsenhor Paulo Monte Belo Monte Santo de Minas Monte Sião Munhoz Muzambinho Natércia Nepomuceno Nova Resende Olímpio Noronha Ouro Fino Paraguaçu Paraisópolis Passa Quatro Passa Vinte Passos Pedralva Perdões Piranguçu Piranguinho Poço Fundo Poços de Caldas Pouso Alegre Pouso Alto Pratápolis Ribeirão Vermelho Santa Rita de Caldas Santa Rita do Sapucaí Santana da Vargem São Bento Abade São Gonçalo do Sapucaí São João Batista do Glória São João da Mata São José da Barra São José do Alegre São Lourenço São Pedro da União São Sebastião da Bela Vista São Sebastião do Paraíso São Sebastião do Rio Verde São Tomás de Aquino São Tomé das Letras São Vicente de Minas Sapucaí-Mirim Senador Amaral Senador José Bento Seritinga Serrania Serranos Silvianópolis Soledade de Minas Tocos do Moji Toledo Três Corações Três Pontas Turvolândia Varginha Virgínia Wenceslau Braz 33 VIVE R M I NAS S U L D E M I NAS CULINÁRIA Alquimia Fotos: Igor Coelho/Agência i7 de sabores TRUTA CRIADA EM AIURUOCA É DEFUMADA ARTESANALMENTE E SERVIDA COM O PINHÃO DA MANTIQUEIRA RECEITA *PARA UMA PESSOA TRUTA ESPANHOLA INGREDIENTES z1 truta defumada z 1 colher de sopa de manteiga z 1 boa colher (chá) de pinhão picado z 1 colher (chá) de amêndoas z 1 colher (chá) de castanha de caju z ½ colher (café) de páprica picante, açafrão e urucum 34 MODO DE FAZER Esquentar rapidamente a truta em fogo baixo, abafada na manteiga, sem ficar virando o peixe. Tirar com todo cuidado e colocar no prato. Na manteiga que sobrou na panela, jogue as castanhas, amêndoas, páprica e, assim que levantar espuma, retirar e jogar em cima da truta. Servir com salada, arroz de passas e batata cozida, ou com o que lhe vier à cabeça. N em carecia do aviso no cardápio “na nossa casa come-se com a visão, o olfato, o tato e o paladar, com um pano de fundo para a audição” porque, quando se coloca os pés dentro do Kiko e Kika Restô, em Aiuruoca, os sentidos se exacerbam. Os janelões de vidro escancaram a bela vista de montanhas e araucárias e o casal Cristina Craik (Kika) e Kieran Craik (Kiko) dá as boas vindas e dicas sobre as opções do cardápio e vinhos. O prato eleito recebe o nome de truta espanhola, pelo fato de levar páprica picante, mas é feito com a truta produzida em criatórios na região e defumada artesanalmente pelo Kiko. O apuro da técnica confere um sabor inigualável ao peixe. Kika criou uma receita que utiliza o pinhão, fruto típico da Mantiqueira, verduras e condimentos colhidos ali, fresquinhos, no seu quintal. Assim os pratos saem delicadamente decorados com rosas, capuchinhas, erva doce, gengibre. Kika adora a alquimia do que a terra dá para fazer molhos, chutneys, confiture, usados nas soberbas sobremesas. Há 18 anos em Aiuruoca, Kika, que além de chef é veterinária, confessa que há 13 anos não sabia nem fazer arroz. “Lancei mão das múltiplas coisas que fiz na vida para fazer uma comida mais agradável possível. A alquimia da comida é o meu vício”, entrega. KIKO E KIKA RESTÔ Estrada Aiuruoca/Alagoa, km 2 Sítio Canto da Pedra Abre de quinta a domingo (35) 9927-4853 VIVER Setembro - 2014 Looks, dicas e todas as novidades do mundo fashion. Assine: ! ! vbcomunicacao.com.br