A Economia P ar anaense nos Anos 90: Par aranaense um modelo de inter pr etação interpr pretação De Gilmar Mendes LOURENÇO. Curitiba: Ed. do autor, 2000. 99p. Por Luiz Eduardo da Veiga Sebastiani, economista e Conselheiro do Conselho Federal de Economia. Luiz Eduardo da Veiga Sebastiani O livro A economia paranaense nos anos 90: um modelo de interpretação, de Gilmar Mendes Lourenço, é uma espécie de iniciação a uma compreensão mais organizada das transformações econômicas verificadas na economia paranaense nos anos recentes. Embora Lourenço venha prosseguindo na arregimentação de informações quantitativas e qualitativas e na incorporação de novos conceitos e variáveis ao tema, a abordagem permanece extremamente atual. No livro, o autor procura sublinhar que o estado do Paraná está atravessando uma fase importante de adensamento de sua matriz industrial, composta essencialmente pela concretização de investimentos voltados à alteração radical do perfil produtivo e tecnológico de sua base econômica. No entanto, ao lado das expressivas transformações econômicas vêm surgindo algumas ameaças e persistindo outras distorções ao crescimento mais equilibrado do Estado, questões destacadas pelo autor. Resenha O estado do Paraná está atravessando uma fase importante de adensamento de sua matriz industrial, composta essencialmente pela concretização de investimentos voltados à alteração radical do perfil produtivo e tecnológico de sua base econômica Na verdade, Lourenço acopla as mudanças verificadas na economia paranaense ao Novo Marco Institucional da Economia brasileira, desenhado no final da década de 1980 e no começo dos anos 90. De fato, a aceitação passiva das regras neoliberais ditadas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, a partir do Consenso de Washington, abriu flancos para a abertura econômica e financeira, as privatizações e a desregulamentação dos mercados no país. 54 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n . 3, set. 200 2 Esse grupo de reformas “pró-mercado”, somado à maior autonomia fiscal dos estados, conferida pela Constituição de 1988 por meio da transferência de mais recursos do que encargos, ocasionou uma guinada nos determinantes da movimen-tação espacial das atividades econômicas. Isso se deu por meio da diminuição do peso do governo federal e das empresas estatais e da ampliação da interferência dos componentes de mercado e das forças políticas subnacionais, materializadas na guerra fiscal e na concessão (ao empreendimento privado) de infra-estrutura, fracionando o arcabouço do automobilístico; a modernização do agronegócio (com forte presença das cooperativas); a ampliação quantitativa e desenvolvimento regional. As implicações regionais do conjunto de mudanças qualitativa do complexo madeireiro e papeleiro; a expansão foram bastante restritas no começo da década em razão da fronteira internacional, incluindo o Mercosul; o melhor da própria natureza defensiva dos planos de inves-timentos aproveitamento das vocações e o desenvolvimento das privados, privilegiando os ajustes modernizadores nos aptidões regionais; e a retaguarda infra-estrutural, sobretudo métodos de produção e gestão para cumprimento das na área de ciência e tecnologia, e ainda na otimização do exigências de aumento dos níveis de eficiência e tripé transportes, energia e telecomunicações. No entanto, o autor reconhece que a consolidação do competividade em face do maior grau de exposição à concorrência, imposto pela abertura e pela recessão do atual ciclo de investimentos e de diversificação da economia do Paraná depende de ações sincronizadas dos agentes intervalo 1990-1992. Contudo, desde a segunda metade da década de 1990 públicos e privados, atuantes no Estado, na direção do o Brasil passou a observar o resgate de um movimento de enfrentamento de um conjunto apreciável de desafios ao desconcentração industrial em seu território. A combinação desenvolvimento econômico e social, daqui para diante. entre o advento da estabilidade monetária, a partir do Para tanto, parece crucial, como se ressalta no livro, a intensificação de atitudes políticas em lançamento do Real em julho de 1994, e o algumas direções convergentes. Por surgimento do mencionado novo marco A consolidação do atual exemplo, as lideranças públicas e institucional da economia, ditado pelo ciclo de investimentos empresariais do Estado devem rechear o aprofundamento da abertura comercial e da e de diversificação da rol de preocupações com os efeitos da forte desregulamentação, provocou a elevação da economia do Paraná depende de ações concentração industrial no espaço taxa de investimento agregada, por meio da sincronizadas dos polarizado pela Região Metropolitana de redescoberta do país por parte de agentes públicos e Curitiba (RMC), particularmente no eixo empreendedores internos e externos. privados, na direção Paranaguá-Curitiba-Ponta Grossa, Tal processo foi materializado com a do enfrentamento de decisão privada de construção de novas um conjunto de desafios examinando as possibilidades de aproveitamento da infra-estrutura física e plantas produtivas para além do eixo ao desenvolvimento científica e tecnológica de uma rede de saturado, formado por Rio e São Paulo, com econômico e social cidades de porte médio no interior do opção geográfica por centros de porte médio e grande, dotados de infra-estrutura (física e científica e Estado – que dispõe de nível de qualidade de vida bastante tecnológica) adequada, e situados estrategicamente dentro acima da maioria dos municípios do Sudeste brasileiro – do um grande e novo mercado, polarizado por São Paulo para a descoberta de oportunidades de investimentos associadas às vocações e aptidões regionais. e por Buenos Aires (Mercosul). Mostra-se relevante também a procura intransigente do Evidentemente, o Centro-Sul brasileiro, e particularmente o Paraná, encaixou-se como uma “luva” resgate de uma identidade empresarial regional, minimizando no check-list exibido pelas empresas, por já estar as chances de prosseguimento da marcha de incorporação razoavelmente aparelhado em estoque de infra-estrutura de grupos domésticos por corporações estrangeiras e e mecanismos institucionais necessários para a viabilização revisando criteriosamente o programa de privatizações da área de infra-estrutura, que por sorte murchou com o da atração de novos investimentos. Concretamente, de acordo com Lourenço, a presente malogro da intenção oficial da venda da Copel. Por esse prisma, convém ter em conta a limitação guinada na base da economia paranaense está ancorada em seis vetores estreitamente articulados: o pólo imposta pelo esfacelamento da retaguarda financeira do ... 55 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .3, set. 200 2 Soa relevante a procura desenvolvimento econômico constituída comprometimento de parcela expressiva intransigente do resgate de uma por ativos públicos construídos e/ou das receitas com dispêndios pouco identidade empresarial consolidados durante pelo menos quarenta comprimíveis como folha de salários e regional, minimizando anos e que representaram bases de serviço da dívida, e da manutenção do a marcha de parcela apreciável dos investimentos e do modelo de gestão de contas públicas incorporação de giro dos negócios do Estado nesse prevalecente na época hiperinflacionária, grupos domésticos prolongado período. que propiciava o equilíbrio de caixa via por corporações No Estado, a tentativa de montagem de indexação de receitas e postergação de estrangeiras e revisando o programa alguns canais opcionais direta e despesas. Resta a análise do intenso de privatizações da indiretamente associados ao fomento aumento de outras despesas correntes área de infra-estrutura econômico, com destaque para as empresas (serviços terceirizados, em especial) Paraná Desenvolvimento S.A. e Paraná observado a partir deste período. Investimentos, criadas por Leis Estaduais, em 1997 e 1998, Apesar de não ter deixado explícito, a obra de Lourenço respectivamente, não surtiram os efeitos desejados. Tais permite reconhecer que os múltiplos instrumentos do instituições foram malsucedidas, tanto nas tentativas de planejamento podem exercem funções marcantes na captação de recursos para garantir a contrapartida estadual correção das distorções provocadas pelo livre jogo das nos financiamentos de infra-estrutura, quanto na viabilização forças de mercado no funcionamento do sistema de participação acionária minoritária do Estado em econômico. O adequado redesenho das funções do empreendimentos industriais estratégicos. planejamento num contexto democrático requer a Lourenço insiste no caráter imperioso da busca de formulação de planos e programas e a execução de restauração do equilíbrio das contas públicas, recuperando políticas com plena influência das instâncias subnacionais os níveis de eficiência da máquina pública e o “poder de e com o resgate do papel das instituições regionais de fogo” das inversões em capital social básico, notadamente desenvolvimento, na perseguição da otimização das na área de educação, essencial para a qualificação de mãovantagens competitivas, da desconcentração industrial e de-obra dirigida ao atendimento dos requisitos implícitos no da minimização da exclusão social. novo paradigma. É descabido ignorar a existência de uma Na falta disso, os estados ficam impossibilitados de enorme carga de incentivos fiscais nos projetos industriais recentemente atraídos e em fase de maturação no Estado. montar e praticar programas de investimentos setoriais e Ainda, a propósito das contas do Estado, enfatiza-se que caminham afoitamente (com ônus social) no sentido da o Tesouro Estadual vem registrando crescentes déficits concessão de benesses fiscais, físicas e financeiras de financeiros desde 1995, reflexos das perdas líquidas de maneira generalizada. E é isso que Lourenço deixa Resenha arrecadação decorrentes da vigência da Lei Kandir e do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) – instituído ainda em 1994 como Fundo Social de Emergência (FSE) –, do 56 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n . 3, set. 200 2 transparecer no capítulo sobre a Guerra Fiscal, que completa de forma tão articulada esta marcante obra de história (recente) da economia do Paraná.