Processos em Engenharia: Colunas de Destilação Prof. Daniel Coutinho [email protected] Departamento de Automação e Sistemas – DAS Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC DAS 5101 - Aula 11 – p.1/40 Sumário • Introdução • Princípio de Operação • Fundamentos de Destilação • Variáveis Fundamentais • Modelo matemático simplificado • Esquemas típicos de controle DAS 5101 - Aula 11 – p.2/40 Introdução - I • Colunas de destilação são bastantes utilizadas na indústria química e de petróleo para separar componentes químicos em produtos purificados. • A separação é obtida através das diferenças na volatilidade (tendência a se vaporizar) entre os vários componentes químicos da mistura. • Por exemplo, uma mistura de etanol e água pode ser separada por destilação por que o etanol é mais volátil (vaporiza-se a uma temperatura menor) do que a água. DAS 5101 - Aula 11 – p.3/40 Introdução - II • Em uma coluna de destilação, os componentes mais voláteis (leves ou destilado) são removidos na parte superior da coluna, e o componentes menos voláteis (pesados ou resíduo) são removidos a partir da parte mais inferior da coluna. DAS 5101 - Aula 11 – p.4/40 Equilíbrio Líquido/Vapor - I • O mecanismo em que se baseia a separação por Destilação é o do Equilíbrio Líquido/Vapor. • Quando fornecemos calor a uma mistura líquida, promovendo a sua vaporização parcial, estabelece-se um equilíbrio entre as fases líquida e vapor, para uma dada pressão total, e a composição das duas fases será diferente. • Para ilustrar o equilíbrio líquido vapor, considere a vaporização parcial de uma mistura líquida (L0 ) de componentes A e B. • Suponha que L0 é aquecido da temperatura Tinicial até à temperatura Tf inal , de tal modo que ocorre a vaporização parcial de L0 . DAS 5101 - Aula 11 – p.5/40 Equilíbrio Líquido/Vapor - II • Desta forma, produz-se um líquido saturado (L) de composição xL,A e um vapor saturado (V ), em equilíbrio com o líquido, e de composição yV,A . • Em outras palavras, realiza-se a separação parcial dos compostos A e B da mistura líquida L0 . DAS 5101 - Aula 11 – p.6/40 Equilíbrio Líquido/Vapor - III • No gráfico anterior, A designa o componente mais volátil da mistura, x e y as frações molares desse componente, respectivamente nas fases líquida e vapor e B designa o componente menos volátil da mistura. • O vapor produzido é mais rico no componente mais volátil A do que o líquido em equilíbrio com ele à temperatura de saturação Tf inal e também mais rico em A do que a mistura líquida inicial (alimentação). • Assim, por destilação, é possível separar os componentes mais voláteis para a fase vapor enquanto que os menos voláteis ficam, preferencialmente, na fase líquida. DAS 5101 - Aula 11 – p.7/40 Volatilidade Relativa - I • O princípio base da destilação é a diferença de volatilidades dos componentes: vaporizam preferencialmente os componentes mais voláteis, sendo que a separação será tanto mais fácil quanto maior forem as diferenças de volatilidades. • A separação por destilação será tanto mais fácil quanto mais elevada (> 1) for a volatilidade relativa de A em relação a B. • A volatilidade relativa αij do componente i relativamente ao j, define-se como sendo a razão entre as razões de equilíbrio do componente i e do componente de referencia j: Ki yi /xi = αij = yj /xj Kj (1) Ki e Kj são as razões de equilíbrio dos componentes. DAS 5101 - Aula 11 – p.8/40 Volatilidade Relativa - II • O componente de referencia tem de ser sempre um componente pesado (de ponto de ebulição mais elevado), desta forma αij > 1. • Para um sistema binário a pressão total constante, podemos facilmente visualizar se a separação por destilação será fácil ou difícil a partir do diagrama xy: DAS 5101 - Aula 11 – p.9/40 Princípio de Operação - I • O equipamento que promove a transferência de massa e calor entre correntes líquidas e de vapor saturadas é a conhecida Coluna de Destilação (Fracionada). DAS 5101 - Aula 11 – p.10/40 Princípio de Operação - II • A coluna de destilação é constituída por um recipiente cilíndrico dentro do qual se encontra uma série de pratos internos entre os quais circulam vapor e líquido em contracorrente. • As duas fases presentes em cada "andar" sofrem transferência de massa e calor e assume-se que se encontram em equilíbrio ao deixar o "andar". • No topo da coluna existe o condensador que condensa o vapor proveniente da coluna formando o chamado produto de topo. • Parte do produto de topo (condensado), designado por refluxo, é reenviado para o prato superior. DAS 5101 - Aula 11 – p.11/40 Princípio de Operação - III • Na base da coluna encontra-se um revaporizador (ou refervedor) que vaporiza parte da corrente de líquido da base, para o prato inferior, onde entra sob a forma de vapor. • A corrente retirada na base da coluna designa-se por Resíduo (ou produto de fundo). • O vapor reinjetado na coluna tende a subir, mas devido a geometria dos pratos (desenhados para maximizar o contato vapor/líquido) é obrigado a fluir através do líquido que desce. • O vapor em contato com o líquido tem a tendência a condensar (os componentes menos voláteis). DAS 5101 - Aula 11 – p.12/40 Princípio de Operação - IV • O calor liberado permite que os componentes mais voláteis do líquido sejam vaporizados. • Desta forma, a corrente de vapor (que sobe) vai ficando cada vez mais rica no componente mais volátil, enquanto a corrente de líquido vai ficando cada vez mais rica no componente menos volátil. • O refluxo do vapor condensado no topo da coluna define a qualidade de separação das misturas, mas existe um compromisso entre qualidade e produtividade. DAS 5101 - Aula 11 – p.13/40 Dispositivos de Contato - I • O contato entre fases em cada andar em equilíbrio é promovido fisicamente através dos chamados "pratos" da coluna de destilação (coluna de pratos): DAS 5101 - Aula 11 – p.14/40 Dispositivos de Contato - II • Os pratos podem ser de vários tipos: perfurados, de campânula, de válvulas, etc: DAS 5101 - Aula 11 – p.15/40 Modelo Matemático - I • Coluna de Destilação Binária: DAS 5101 - Aula 11 – p.16/40 Modelo Matemático - II • A maioria das colunas de destilação é aplicada em misturas com vários componentes. • Entretanto, um grande número de aplicações pode ser aproximadamente considerada como uma mistura binária (contendo componentes "A" e "B"). • Para a obtenção de um modelo dinâmico para a coluna de destilação será considerado uma coluna binária com várias considerações adicionais para simplificar o modelo. • Portanto, o modelo a ser obtido refletirá a estrutura básica das equações necessária para descrever a dinâmica de uma coluna de destilação DAS 5101 - Aula 11 – p.17/40 Considerações do Modelo - I • Volatilidade relativa constante e "andares" (pratos) teóricos com 100% de rendimento (i.e., o vapor que sai de um prato está em equilíbrio com o líquido no prato). • Está simplificação implica que: αxn yn = 1 + (α − 1)xn (2) onde xn representa a fração molar do líquido (moles componente mais volátil/moles totais) no n-ésimo prato yn representa a fração molar do vapor (componente mais volátil) α é a volatilidade relativa entre os componentes "A" e "B" DAS 5101 - Aula 11 – p.18/40 Considerações do Modelo - II • Um único fluxo de alimentação da mistura é injetado no prato NF onde a mistura (líquida) se encontra na temperatura do ponto de ebulição. • O fluxo de alimentação é F e a sua composição é z (fração molar do componente mais volátil). • O vapor que deixa a coluna pelo topo é totalmente condensado no condensador que flui em direção ao acumulador contendo MD moles do componente mais volátil. • Supõe-se que no acumulador existe uma mistura perfeita com concentração xD . • O líquido se encontra no ponto de ebulição. DAS 5101 - Aula 11 – p.19/40 Considerações do Modelo - III • Parte do líquido no acumulador é bombeado de volta ao topo da coluna no prato NT (refluxo) a uma razão R (em moles/segundo). • O restante do líquido do acumulador (produto destilado) é retirado do processo a uma taxa D. • O atraso existente devido ao deslocamento de vapor dentro da coluna e da linha de refluxo é desprezado (consideração razoável em escala industrial). • Na base da coluna, o líquido acumulado no fundo da coluna é removido a uma taxa B com uma composição xB . • O vapor é produzido no refervedor e é reinjetado no fundo da coluna a uma vazão V . DAS 5101 - Aula 11 – p.20/40 Considerações do Modelo - IV • Note que a concentração de vapor yN T que deixa a coluna não é igual dinamicamente a concentração de líquido no acumulador xD (apenas em regime permanente são iguais). • O líquido no fundo da coluna circula a partir do fundo da coluna pelos tubos existentes no refervedor (trocador de calor vertical) devido a menor densidade da mistura vapor-líquido no refervedor. • Neste caso, supõe-se que o líquido no refervedor e na base da coluna estão perfeitamente misturados e tem a mesma composição de vapor xB e uma acumulação total de MB (moles). • O vapor que sai da base da coluna (prato 1) tem concentração yB e está em equilíbrio com a concentração de líquido xB . DAS 5101 - Aula 11 – p.21/40 Considerações do Modelo - V • A coluna possui um total de NT andares teóricos (pratos). • Cada prato acumula um fluxo Mn (incluindo o fluxo proveniente do prato n + 1). • O líquido em cada prato é suposto perfeitamente misturado com concentração xn . • O vapor acumulado na coluna é desprezível, pois a densidade do vapor é muito menor do que a do líquido (esta suposição é válida em colunas cuja pressão interna não é muito elevada). • Supõe-se que o fluxo é equimolar: se o calor molar de vaporização de dois componentes é o mesmo, a condensação de um mol de vapor é igual a um mol de vaporização do líquido. DAS 5101 - Aula 11 – p.22/40 Considerações do Modelo - VI • As perdas de calor na coluna são desprezíveis e as mudanças de temperatura de prato para prato são também desprezíveis. • O conjunto de hipóteses feitas anteriormente implicam que: A vazão de vapor através de todos os pratos da coluna é igual (dinamicamente e em regime): V (t) = V1 (t) = · · · = Vn (t) = · · · = VNT (t) , ∀ t ≥ 0 • Devido a suposição de fluxo equimolar, não é necessário obter uma equação de energia para cada prato o que simplifica em muito o equacionamento dinâmico da coluna de destilação. • As vazões de líquido pela coluna não são iguais de prato para prato (elas dependem da dinâmica dos fluidos nos pratos). DAS 5101 - Aula 11 – p.23/40 Considerações do Modelo - VII • Para representar a vazão de líquido na coluna, utiliza-se normalmente uma relação de vertedouro para relacionar a acumulação de líquido no prato com a vazão de líquido Ln que deixa o prato. • Por exemplo: FL = 3.33 · l · h3/2 (3) onde FL é a vazão de líquido que deixa o prato, l o comprimento da barragem e h a altura de líquido sobre a barragem. • Relações mais complexas podem ser utilizadas, mas supõe-se a existência de uma função simples relacionando a acumulação de líquido no prato Mn com a vazão de líquido que sai do prato Ln : Mn = f (Ln ) DAS 5101 - Aula 11 – p.24/40 Modelo Matemático - III • Para a obtenção do modelo dinâmico, desprezaremos a dinâmica do refervedor e do condensador (que são basicamente trocadores de calor). • As equações de continuidade a seguir são dadas em moles por unidade de tempo, pois supõe-se que não existem reações químicas no interior da coluna. • Condensador, acumulador e refluxo: dMD =V −D−R dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dMD xD = V yNT − (R + D)xD dt DAS 5101 - Aula 11 – p.25/40 Modelo Matemático - IV • Prato de topo: dMNT = R − LNT dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dMNT xNT = RxD − LNT xNT + V yNT −1 − V yNT dt • Prato anterior ao topo: dMNT −1 = LNT − LNT −1 dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dMNT −1 xNT −1 = LNT xNT −LNT −1 xNT −1 +V yNT −2 −V yNT −1 dt DAS 5101 - Aula 11 – p.26/40 Modelo Matemático - V • n-ésimo prato: dMn = Ln+1 − Ln dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dMn xn = Ln+1 xn+1 − Ln xn + V yn−1 − V yn dt • Prato de alimentação NF : dMNF = LNF +1 − LNF + F dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dMNF xNF = LNF +1 xNF +1 − LNF xNF + V yNF −1 − V yNF + F z dt DAS 5101 - Aula 11 – p.27/40 Modelo Matemático - VI • Primeiro prato n = 1: dM1 = L2 − L1 dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dM1 x1 = L2 x2 − L1 x1 + V yB − V y1 dt • Refervedor e base da coluna: dMB = L1 − V − B dt e considerando as concentrações do componente mais volátil: dMB xB = L1 x1 − V yB − BxB dt DAS 5101 - Aula 11 – p.28/40 Modelo Matemático - VII • Lembre-se que as equações de continuidade do condensador, prato superior, n-ésimo prato, prato de alimentação, prato 1, e refervedor estão sujeitas as relações: α xn yn = e Mn = f (LN ) 1 + (α − 1)xn • Por suposição, existem dois controladores de nível (no acumulador e na base da coluna) que são representados por: D = fD (MD ) e B = fB (MB ) • A partir das equações obtidas podemos fazer um análise dos graus de liberdade do sistema para avaliar as possibilidades de controle. Neste caso, supõe-se que o fluxo de alimentação F e sua concentração z são dados. DAS 5101 - Aula 11 – p.29/40 Número de Variáveis e Equações DAS 5101 - Aula 11 – p.30/40 Modelo Matemático - VIII • Do ponto de vista de controle do sistema, pela análise das variáveis e equações, conclui-se que: existem duas variáveis livres que podem ser controladas • Note que as outras variáveis manipuláveis são utilizadas para manter o nível no acumulador e no fundo da coluna e a pressão no acumulador. • Portanto, as duas variáveis manipuláveis que podem ser utilizadas para controlar outras duas variáveis são a taxa de refluxo R e a vazão de vapor V do refervedor. • Por exemplo, pode-se controlar as composições dos componentes a serem separados (xD e xB ): R = fR (xD ) e V = fV (xB ) DAS 5101 - Aula 11 – p.31/40 Estruturas de Controle • Na obtenção do modelo dinâmico foi utilizado um exemplo, onde as variáveis manipuláveis eram a taxa de refluxo R e a vazão de vapor do refervedor V . • A estrutura de controle apresentada anteriormente é conhecida como R-V. • No entanto, existem outras configurações de controle possíveis que podem ser utilizadas dependendo da aplicação. • A seguir, apresentam-se quatro variações para a estrutura de controle: (a) D–V, (b) RR–V, (c) R–B, e (d) RR – BR. DAS 5101 - Aula 11 – p.32/40 Controle D–V • Destilado é a variável manipulada que controla a composição do destilado. Carga térmica do refervedor controla composição da base da coluna. Nível do tambor de refluxo é controlado pela vazão de refluxo, enquanto o nível da base da coluna é controlado pela vazão de resíduo. DAS 5101 - Aula 11 – p.33/40 Controle RR–V • Razão de refluxo (R/D) é a variável manipulada que controla a composição do destilado. Carga térmica do refervedor controla composição da base da coluna. Introduz ação feedforward na malha de controle da composição do destilado, pois mudanças no refluxo são imediatamente reconhecidas. DAS 5101 - Aula 11 – p.34/40 Controle R–B • Refluxo é a variável manipulada que controla a composição do destilado. Vazão do resíduo controla composição da base da coluna. Deve-se ter cuidado nessa estrutura pois uma resposta inversa pode ocorrer na malha de nível da base da coluna. DAS 5101 - Aula 11 – p.35/40 Controle RR–RB • Razão de refluxo R/D é a variável manipulada que controla a composição do destilado. Razão de vapor V /B controla composição da base da coluna. Introduz ação feedforward nas duas malhas de controle da composição. DAS 5101 - Aula 11 – p.36/40 Modelos Empíricos - I • O modelo matemático que descreve a dinâmica da coluna de destilação, apesar das diversas simplificações, é bastante complexo (não linear, grande escala, múltiplas entradas e saídas). • Uma alternativa para a obtenção de um modelo matemático é considerar aproximações de primeira ou segunda ordem (com ou sem atraso de tempo) cujos parâmetros do modelo (constantes de tempo, amortecimento, etc) são determinados a partir de experimentos práticos no entorno de um ponto de operação. • Por exemplo, no caso da coluna de destilação exemplo, pode-se considerar Y (s) = G(s)U (s) , Y (s) = XD (s) XB (s) , U (s) = R(s) V (s) (4) DAS 5101 - Aula 11 – p.37/40 Modelos Empíricos - II • Em (4), G(s) é uma matriz função de transferência 2 × 2 formada por 4 funções de transferência representando o acoplamento entre o vetor de saída Y (s) e o de entrada U (s), isto é: XD (s) = g11 (s)R(s) + g12 (s)V (s) (5) XB (s) = g21 (s)R(s) + g22 (s)V (s) (6) • As funções de transferência gij (s) podem ser aproximadas por: – Função de primeira ordem com tempo morto: e−τij s gij (s) = Kij Tij s + 1 Parâmetros a determinar experimentalmente: Kij ganho estático, Tij constante de tempo, e τij tempo morto. DAS 5101 - Aula 11 – p.38/40 Modelos Empíricos - III – Função de segunda ordem com tempo morto: e−τij s gij (s) = Kij 2 2 Tij s + 2ξij Tij s + 1 Parâmetros a determinar experimentalmente: Kij , Tij , τij , e ξij fator de amortecimento. – Função com resposta inversa e tempo morto: (aij s + 1)e−τij s gij (s) = Kij 2 2 Tij s + 2ξij Tij s + 1 Parâmetros a determinar experimentalmente: Kij , Tij , τij , ξij , e aij tempo de avanço. DAS 5101 - Aula 11 – p.39/40 Coluna de Destilação - III – Integrador com tempo morto: e−τij s gij (s) = Kij s Parâmetros a determinar experimentalmente: Kij e τij . • Os parâmetros do modelo são obtidos a partir da resposta ao degrau em malha aberta no entorno do ponto de operação. • As aproximações sugeridas são aproximações lineares de ordem reduzida da dinâmica do processo não linear e podem representar adequadamente a dinâmica do processo nas vizinhanças do ponto de operação. DAS 5101 - Aula 11 – p.40/40