PROBIÓTICOS: enfoque na tecnologia de produção dos leites fermentados Anna Carolina Silva Messeder1 Felipe Keltke2 Sabrina Meire Alves3 Maria de Lourdes Mohallem4 RESUMO: Este artigo tem como finalidade discorrer, através de uma revisão bibliográfica, sobre a veiculação de probióticos em leites fermentados, os atributos necessários para que estes atendam os aspectos de funcionalidade e sua adequação para sua produção. Nos últimos anos, as pesquisas voltadas para a manutenção dos produtos lácteos cresceram e são os laticínios que registram maior número de pesquisas. A discussão concentrou-se não só na compreensão do processo de fermentação de lácteos, mas também no estudo dos critérios para a seleção dos probióticos. Verificou-se, então, que as bactérias probióticas utilizadas na produção em escala industrial e de processamento devem ser bem caracterizadas, apropriadas para cada tipo de produto e manter-se com boa viabilidade durante o seu armazenamento. PALAVRAS-CHAVE: Probióticos. Leite fermentado. Aspectos tecnológicos. Micro-organismos. 1 INTRODUÇÃO redução do risco de doenças (STANTON et al. 2005; Com o aumento na expectativa de vida da população, alia- ROBERFROID, 2005, p. 520). do ao crescimento exponencial dos custos médico-hospitalares, a sociedade necessita vencer novos desafios, com o desenvol- Para Sanders (1998), o potencial desse tipo de alimento é vimento de conhecimentos científicos e de tecnologias, os quais importante para promoção da saúde. No entanto, é necessário resultem em modificações importantes no estilo de vida. Nesse ressaltar que seu efeito não é de cura, ou seja, eles se limitam a contexto, Roberfroid, no livro de Saad (2002), afirma que a nu- promoção da saúde e não a cura de doenças. trição precisa se adaptar a esses novos desafios. Hoje se fala A demanda do mercado consumidor levou a elaboração em nutrição otimizada, ciência que visa dar mais importância às pela indústria, de produtos funcionais. Dentre eles des- funções fisiológicas de cada indivíduo, de maneira a assegurar tacam-se os probióticos, definidos internacionalmente tanto o bem-estar e a saúde, quanto minimizar o risco de de- como micro-organismos vivos, administrados em quan- senvolvimento de doenças ao longo da vida. Dessa forma, os tidades adequadas, que conferem benefícios à saúde alimentos funcionais e, especialmente, os probióticos são con- do hospedeiro (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZA- ceitos novos e estimulantes. TION OF UNITED NATIONS; WORLD HEALTH ORGANI- Para a indústria de alimentos, o desenvolvimento de novos ZATION, 2001; SANDERS, 2003, p. 96). produtos alimentícios é desafiador, pois procura atender à demanda dos consumidores por produtos que, concomitantemente, sejam saudáveis e atrativos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) também propõe uma definição para os probióticos. De acordo com Alimentos funcionais são aqueles que, além de contri- a ANVISA (2010), probióticos são micro-organismos vivos capa- buírem com a nutrição em termos de macro e micronu- zes de melhorar o equilíbrio microbiano intestinal, produzindo trientes, contêm substâncias que podem ser conside- efeitos benéficos á saúde do indivíduo. Apesar das culturas de radas biologicamente ativas, produtoras de benefícios probióticos serem encontradas, tradicionalmente, em formula- clínicos ou de saúde. A definição aceita descreve os ções farmacêuticas, atualmente, pode-se encontrá-las em varia- alimentos funcionais como aqueles que afetam benefi- dos produtos alimentícios fermentados. camente uma ou mais funções do organismo, além de A introdução de culturas probióticas em alimentos está de garantirem efeitos nutricionais adequados, conduzindo encontro com o esforço da tecnologia para acompanhar os no- melhorias do estado geral de saúde e bem-estar e/ou vos conceitos de nutrição otimizada. Cada dia mais,há no merPÓS EM REVISTA l 307 cado novos produtos alimentícios, que além de elevada qualida- te previamente pasteurizado ou esterilizado por fermentos lácticos de nutricional, possuem alegações funcionais, e, em especial, próprios, cuja fermentação se realiza com um ou vários dos seguin- veiculados com probióticos. Dados de Gomes & Malcata (2002) tes cultivos: Lactobacillus acidophilus; Lactobacillus casei; Bifi- apontam que há, aproximadamente, oitenta produtos comer- dobacterium sp; Streptococus salivarius subsp; thermophilus e/ ciais com micro-organismos probióticos disponíveis no mercado ou outras bactérias ácido láticas que por sua atividade contribuem mundial, os quais são produzidos principalmente no Japão, na para a determinação das características do produto final. Comunidade Europeia e nos EUA. O Japão é o líder do mercado, com cerca de cinquenta produtos diferentes. A bioquímica da fermentação é descrita por Van de Walter (2003) da seguinte maneira: a produção de ácido láctico no leite Stanton (2003) afirma que os alimentos mais comuns vei- é consequência do metabolismo das bactérias láticas e a intera- culados com probióticos são os leites fermentados e os produ- ção entre as cepas selecionadas. Assim, o aumento da acidez tos infantis. Araújo (2007) cita, ainda, que os produtos lácteos leva as micelas de caseína se desestabilizarem. A coagulação probióticos são a alternativa tecnológica que melhor atende ao se completa quando o pH original do leite atingir o valor 4,6, consumidor, já que estes buscam produtos inovadores, diferen- quando a fermentação é interrompida. ciados e benéficos para a promoção da saúde e bem estar. A coagulação da caseína é responsável pela alteração da Segundo Roberfroid (2002) outro fator importante para a consistência original do leite e durante o metabolismo bacteria- tecnologia de produção de derivados lácteos com probióticos no há produção de outros compostos, tais como, acetaldeído, é a seleção de cepas que desempenhe um bom funcionamento diacetil, CO2, etanol. em humanos e simultaneamente sejam tecnologicamente adequadas. “A fermentação ocorre, em geral, em um tempo inferior a 4 a 5 horas e na temperatura de 40 a 44°C. A temperatura da Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o fermentação afeta, primariamente, a multiplicação bacteriana e, uso de probióticos em leites fermentados, com enfoque tecno- consequentemente, a estrutura e o sabor do produto.” (KRISTO; lógico. O objetivo do presente trabalho, portanto, é discutir os BILIADERIS; TZANETAKIS; 2003, p.1). atributos necessários para que os probióticos atendam, conco- Há ainda outros micro-organismos probióticos possíveis de mitantemente, os aspectos de funcionalidade e da adequação serem utilizados nos leites fermentados, como por exemplo, as para a produção de leites fermentados. bactérias pertencentes ao gênero Bifidobacterium, cujas principais espécies são: B. bifidum, B. brevis, B. infantis, B. lactis, B. 2 METODOLOGIA Foi realizada uma pesquisa na base de dados Scielo (Scientific Eletronic Library On line), a partir das seguintes palavras-chaves: probióticos, tecnologia de produção de leites fermentados, leite fermentado. O material coletado, que constou vinte e três artigos, todos animalis, B. longum e B. thermophilum. Klaenhammer (2001) ainda cita as bactérias que pertencem ao gênero Lactobacillus e as espécies que se destacam são: L. acidophilus, L. helveticus, L. casei - subsp. paracasei e subsp.tolerans, L. paracasei, L. delbrueckii, L. fermentum, L. reuteri, L. johnsonii, L. plantarum, L. rhamnosus e L. salivarius. indexados na base de dados do Scielo, foi analisado e avaliado quanto a sua contribuição para o objetivo do trabalho. Os artigos 3.2 CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE PROBIÓTICOS publicados anteriormente ao ano de 1997, bem como os que USADOS NOS LEITES FERMENTADOS não citavam as palavras chaves, foram eliminados. No entanto, Para a utilização em leites fermentados, os probióticos de- artigos de 1997 foram utilizados, pois houve contribuição para o vem atender requisitos mínimos de seguridade e funcionalidade desenvolvimento da pesquisa. para humanos, além de atender a critérios relacionados com a Também, foram utilizadas publicações de órgãos oficiais, li- tecnologia de produção. vros acadêmicos da área de Nutrição e Tecnologia de Alimentos e pesquisa on-line. 3.2.1 ASPECTOS RELACIONADOS COM A SEGURIDADE PARA HUMANOS 3 DESENVOLVIMENTO De acordo com Saarela et al. (2000), para serem seguras, as cepas probióticas devem: ser de origem humana, a fim de 3.1 BIOQUÍMICA DA FERMENTAÇÃO DO LEITE Leite fermentado é o produto resultante da fermentação do lei308 | PÓS EM REVISTA permitir segurança no manuseio e ingestão destes micro-organismos. Bieleck et al. (2002) confirmam que os lactobacilos e as bifidobactérias atendem estes requisitos, pois colonizam, preferencialmente, o íleo terminal e o cólon. De acordo com os ponante e o pH do alimento são fatores relevantes para manter viabilidade durante a passagem pelo TGI. mesmos autores, elas necessitam ser isoladas do trato gastroin- Ainda, segundo Saarela et al. (2000), os micro-organismos testinal (TGI) saudável, portanto não devem ter capacidade de eleitos devem ter capacidade de aderir à superfície epitelial do desencadear doenças e não estar associadas com doenças. TGI e persistir viável, pois de outra maneira, poderiam ser expul- Nem todos os lactobacilos são benéficos ou podem ser usa- sos pelos fluidos intestinais ou pelos movimentos peristálticos. dos como probióticos veiculados pelos alimentos. Rautio et al. A capacidade de adesão se deve à presença de estruturas mi- (1999) cita que os L. rhamnosus são responsáveis por endo- crobianas denominadas “fatores de aderência” ou “fatores de cardite em homens idosos e abscessos no fígado de mulheres colonização” ou “adesinas” ou “antígenos de aderência”. também idosas com histórico de hipertensão e diabetes; De acordo com Kopp-Hoolihan (2001) e Van de Walter Muitos autores, dentre eles Salminen (1998), O’brien (1999) (2003), as cepas probióticas devem ser capazes de estimular e Saarela (2000), sustentam que o probiótico não deve possuir a imunidade do hospedeiro através do aumento dos níveis de resistência aos antibióticos, a fim de evitar a transmissão dos anticorpos e atividade dos macrófagos. fatores de resistência para bactérias patogênicas, dificultando, Um pool de bactérias probióticas no intestino é essencial assim, a cura de infecções. No entanto, algumas cepas de bac- para proteção contra patógenos, por isso os probióticos esco- térias láticas, especificamente as de Lactobacillus spp. são re- lhidos necessitam ter atividade antagonista aos patógenos. De sistentes a certos antibióticos. Essa resistência geralmente não acordo com Saavedra et al (2004), isso acontece porque, quan- é mediada por plasmídeos, logo não é transmissível horizon- do há a predominância de probióticos, no intestino o antagonis- talmente. Contudo, há descrição de cepas portadoras de plas- mo microbiano é formado, criando uma concorrência com as mídeos de resistência, particularmente cepas de Enterococcus bactérias patogênicas. Experiências in vivo comprovaram que resistentes à vancomicina. fórmulas suplementadas com probióticos auxiliam na diminuição de cólicas e irritabilidade intestinal em crianças e consequente- 3.2.2 ASPECTOS RELACIONADOS COM A FUNCIONALIDADE PARA HUMANOS Ainda de acordo com Saarela et al. (2000), a seleção de cepas probióticas deve atender critérios de funcionalidade para humanos, tais como: possuir tolerância aos ácidos estomacais; aos sucos gástricos e a bile, com o objetivo de atingir altos níveis no intestino. Segundo Holzapfel & Schillinger (2002) a ação antimicrobiana da pepsina, assim como a acidez do estômago (pH entre 2,5 e 3,5) são importantes para proporcionar um efeito barreira contra a entrada de bactérias no TGI. Esses conhecimentos são determinantes na escolha da consistência dos alimentos veiculadores de probióticos, pois se sabe que, quanto menor o tempo de permanência do alimento no estômago, maior será a sobrevivência microbiana. Como sustenta Charteris (1998), os alimentos líquidos têm trânsito mais rápido que os sólidos, logo eles são os mais adequados para veicular os probióticos. Produtos alimentícios com pH entre 3,5 a 4,5, tais como leites fermentados, têm alta capacidade tamponante, pois após a metabolização, produzem resíduos alcalinos, responsáveis pelo aumento do pH do TGI. O aumento do pH confere efeito protetor à viabilidade de Lactobacillus e Bifidobacterium sensíveis aos ácidos do TGI. Para Charteris et al. (1998), a capacidade tam- mente reduzem o uso de antibióticos no tratamento destas. Segundo Kopp-Hoolihan (2001), é necessário que os probióticos possuam atividades antimutagênicas e anticarcinogênicas, já que o metabolismo de algumas bactérias intestinais se relaciona com a síntese de compostos carcinogênicos. O autor, ainda, afirma que as bactérias probióticas ajudam na degradação de alguns dos compostos citados, pois reduzem ou eliminam a atividade das enzimas B-glicuronidase, nitrorredutase, azorredutase, responsáveis pela produção desses compostos. Ling (2008) afirma, no livro de Bedani e Rossi (2008), que o probiótico não deve destruir sais biliares, já que esta metabolização é negativa para o intestino delgado. Para a digestão das gorduras, ácidos biliares combinados a moléculas de taurina ou glicina são liberados e reabsorvidos no intestino, embora uma parte, ainda possa passar para o cólon e ser metabolizado por bactérias. Na metabolização, os ácidos biliares são, primeiramente, separados dos aminoácidos e sofrem reações subsequentes, com formação dos ácidos desoxicólico e litocólico. O autor afirma que as bactérias probióticas não devem fazer a metabolização dos sais biliares, já que estes podem exercer efeito citotóxico sobre as células epiteliais, e assim conduzir ao desenvolvimento do câncer de cólon. Os probióticos devem possuir enzimas com capacidade de degradar a lactose presente no leite em níveis satisfatórios, já que, este é um carboidrato nem sempre bem metabolizado por humanos. A reação de degradaPÓS EM REVISTA l 309 ção da lactose encontra-se na Figura 1. probióticas e desenvolver a textura dos produtos. Já Svensson (1999), Lourens-Hattingh & Vilipen (2001) e FIGURA1: Reação de degradação da lactose Oliveira et al. (2002) demonstram que a adição de proteínas resulta no aumento da capacidade tamponante do leite fermentado e pode retardar a queda de pH durante o armazenamento do produto, permitindo, assim, maior sobrevivência das cepas probióticas. Conforme Oliveira (2002), existe, ainda, a possibilidade de adição complementar de bactérias do iogurte, L delbrueckii ssp. Bulgaricus e Streptococcus thermophilus, para melhorar o processo de fermentação durante a fabricação de leites fermentados contendo probióticos. Dave & Shah (1998), Almeida, Bonassi e Roça (2001) e FONTE: Google Imagens Os probióticos devem, ainda, aumentar a absorção e a biodisponibilidade de determinados micronutrientes. As bifdobactérias, que tem o crescimento estimulado pelos frutooligosacarídeos (FOS), são capazes de produzir vitaminas B1, B2, B6, B12, ácidos nicotínico e fólico, como cita Saarela et al. (2000). 3.2.3 ASPECTOS RELACIONADOS COM A TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DOS LEITES FERMENTADOS A escolha dos micro-organismos probióticos veiculados pelos leites fermentados deve ser pautada também nos aspectos tecnológicos e sensoriais. Há de se considerar que o alimento é um ambiente complexo, que pode ou não permitir a sobrevivência microbiana, aspecto fundamental para a funcionalidade de um probiótico. Saarela et al. (2000) discutem os aspectos de produção relacionados com as cepas probióticas. Segundo os autores os probióticos devem conferir boas propriedades sensoriais aos alimentos veiculados. Para os leites fermentados, os probióticos são constantemente misturados ao S. thermophilus, e ao L. delbrueckii, responsáveis pela promoção de sabor e textura agradável. Muitos consumidores acham os produtos fermentados com o L. delbrueckii exageradamente ácidos e com sabor forte de acetoaldeído. O acetaldeído é responsável pelo sabor e aroma característicos de iogurte e é produzido por diferentes vias metabólicas pelas bactérias lácticas. Ainda de acordo com o autor supracitado, os probióticos devem ser resistentes ao processamento, ou seja, manter-se com boa viabilidade durante a produção. Svensson (1999), em seus estudos, concluiu que a adição de hidrolisados protéicos de caseína ou de soro, extrato de levedura, glicose, vitaminas e minerais (sempre em proporções compatíveis com a legislação) pode estimular a multiplicação e a sobrevivência das culturas 310 | PÓS EM REVISTA Donkor (2006) verificaram um índice de proteólise mais elevado em bebidas lácteas fermentadas fabricadas com cultura mista, composta de L delbrueckii ssp. bulgaricus, thermophilus, Bifidobacterium e L. acidophilus, em comparação às bebidas fabricadas apenas com a adição dos micro-organismos tradicionais do iogurte. Segundo alguns autores, esse aumento na proteólise do produto pode resultar em uma melhor sobrevivência dos micro-organismos probióticos, decorrente da produção de aminoácidos essenciais por L. delbrueckii ss. bulgaricus. Outros autores, dentre eles Lourens-Hattingh & Viljoen, sugerem a adição de suco de tomate, hidrolisado de caseína, caseinato, proteína de soro de leite, polpa de mamão e açúcares simples fermentáveis, para promoverem a multiplicação de lactobacilos. Kalantzopoulos (1997), em seu experimento, verificou que é importante escolher a cepa mais adequada para cada tipo de produto, já que muitas cepas de L. acidophilus não são capazes de se multiplicar no leite e sua sobrevivência em produtos fermentados é pouco provável. Em concordância com o autor citado, Dave & Shah (1998) e Stanton (2003) afirmam que as bifidobactérias não se adaptam bem ao leite fermentado e sofrem com a presença de oxigênio. Dessa forma, Kalantzopoulos (1997), conclui que um critério de seleção importante para cepas é a multiplicação e a sobrevivência sob condições de acidificação e aerobiose. Tamine; Marshall e Robinson (1995) sugerem o aumento da multiplicação dessas bactérias em leites com a adição de fatores bifidogênicos ou prebióticos. Segundo Thamer & Penna é necessário que os probióticos permaneçam viáveis durante a vida de prateleira do alimento. Sabe-se que, durante a estocagem refrigerada, há metabolismo microbiano, com decréscimo do valor de pH do produto, o que leva a redução na contagem de viáveis de L. acidophilus e Bifidobacterium. Portanto a viabilidade pode ser baixa, o que é con- tornado com a redução de vida de prateleira destes produtos. viabilidade das bactérias do iogurte e probióticas foram investi- Preocupa-se muito com a manutenção da viabilidade dos gadas por Shah e Ravula (2000). Os autores concluíram que a probióticos, pois é necessária, segundo Antunes et al. (2007), a adição de açúcar pode ser deletéria ao crescimento dos micro- ingestão diária de populações acima de 106 UFC/mL por grama -organismos, pois altas concentrações do mesmo adicionadas para que haja importância fisiológica. Ou 109 a 1010 UFC/100g, de ao leite antes da fermentação podem inibir as bactérias levando acordo com Rybka & Fleet (1997), Vinderola & Reinheimer (2000). a longos tempos de fermentação e a um baixo desenvolvimento Os estudos sobre a viabilidade das culturas probióticas – durante a produção e armazenamento – e a passagem desse da acidez. Assim não haverá boa multiplicação das bactérias probióticas no produto. produto pelo TGI, afirmam que as culturas podem ser protegidas através da técnica de microencapsulação e imobilização em uma série de substratos, como as proteínas do leite e carboidratos complexos. Krasaekoopt, Bhabdari e Deeth (2003) afirmam que essa técnica de microencapsulação ou imobilização, além de proteger as bifidobactérias sensíveis ao pH ácido, também, aumentam sua sobrevivência durante a vida-de-prateleira do leite fermentado, assim como durante a sua passagem pelo TGI. O método da imobilização mais utilizado envolve o preparo de cápsulas com hidrocolóide, que consiste na preparação de uma solução de hidrocolóides, estáveis sob condições de pH baixo, onde são adicionados os micro-organismos. Da mesma forma, Capela, Hay e Shah (2006) observaram melhor sobrevivência de probióticos microencapsulados. De acordo com Oliveira et al. (2002), as cepas probióticas devem ser apropriadas para a produção industrial em larga escala, resistindo a condições de processamento como a liofilização ou secagem por spray drying. Para Barreto et al. (2003) e Shah et al. (2007), a viabilidade dos probióticos no leite fermentado pode ser, ainda, afetada pela produção de peróxido de hidrogênio pelas bactérias lácticas. O peróxido de hidrogênio tem atividade antimicrobiana e são prejudiciais para as bifidobactérias, as quais são estritamente anaeróbias. Assim, altas concentrações de oxigênio afetam seu crescimento e sua viabilidade. Os mesmos autores citam, também, que o emprego de culturas probióticas associado com culturas de suporte compostas, preferencialmente, S. thermophilus ou culturas mesofílicas com diferentes combinações de cepas de Lactococcus, é aconselhável, pois o emprego dessas bactérias tem como finalidade resolver problemas de sabor, textura e aroma; aumentar a taxa 4 CONCLUSÃO As cepas probióticas, além de seguras, devem ser veiculadas no leite, pois este permite a sobrevivência dos probióticos ao passar pelo TGI. Outra possibilidade seria utilizar a técnica de microencapsulação, já que as cepas são sensíveis aos ácidos e peróxido de hidrogênio produzidos durante a fermentação. A adição de outros nutrientes, nos leites fermentados, também promove o aumento da população de probióticos, fundamental para a sua funcionalidade em humanos. A associação de cepas, de acordo com os trabalhos usados, sempre é desejável, pois algumas geram metabolitos, que são nutrientes para outras, além de resolver problemas sensoriais. Contudo, percebeu-se, ainda, que mais estudos devem ser realizados, visto que, de acordo com Svensson (1999), a adição de glicose estimula a multiplicação e sobrevivência microbiana no armazenamento. Dados não ratificados com os obtidos por Shah e Ravula (2000), que observaram a ação deletéria da adição de açúcares na manutenção de viabilidade dos probióticos. Através da pesquisa bibliográfica, observou-se que o estudo de técnicas que possam assegurar a viabilidade dos probióticos, nos leites fermentados, é importante para o desenvolvimento de produtos mais adequados aos propósitos esperados de funcionalidade. Dessa forma, verificou-se que esses pré-requisitos representam desafios tecnológicos significativos e bastante promissores, tendo em vista que os consumidores mais conscientes e com estilo de vida equilibrado optam, cada vez mais, por produtos que, ao mesmo tempo, resultem em benefícios à saúde e sejam sensorialmente atrativos, aspecto que não pode ser minimizado na tecnologia de produção dos leites fermentados. de crescimento e diminuir o tempo de fermentação, além de garantir o processo fermentativo evitando problemas de contaminação. Esse fato demonstra que é fundamental a seleção de uma cultura de suporte apropriada para cada cultura probiótica, a fim de se obter produtos fermentados com boa sobrevivência REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA: proteção da saúde da população. Brasília, 2005-2009. Disponível em: <http://portal.anvisa. gov.br> Acesso em: 20 de maio 2011. de culturas probióticas durante sua vida de prateleira. A influência da atividade de água, em função da adição de açúcar, no tempo de acidificação e consequentemente na ALMEIDA, K.E.; BONASSI, I.A.; ROÇA, R.O. Características físicas e químicas de bebidas lácteas fermentadas e preparadas com soro de queijo PÓS EM REVISTA l 311 minasfrescal. Ciência e Tecnologia de Alimentos, São Paulo, v.21, p.187192, 2001. ANTUNES, A. E. C.; MARASCA, E. T. G.; MORENO, I. Desenvolvimento de buttermilkprobiótico. Ciência e Tecnologia de Alimentos, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 83-90, 2007. ARAÚJO, E. A. 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